N.º 1 – Jan-Dez 2012 Ano XXV, Vol. XXV Foto de José C arlos Lima
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N.º 1 – Jan-Dez 2012 Ano XXV, Vol. XXV Foto de José C arlos Lima
Foto de José Carlos Lima, Gab. de Comunicação e Relações Públicas do CHLN N.º 1 – Jan-Dez 2012 Ano XXV, Vol. XXV Sumário Sumário EDITORIAL In Memoriam - Manuel Francisco de Freitas e Costa (1928 – 2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 DPOC - ENFISEMA Introdução: DPOC. Estratégia para uma Abordagem Integrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 A Reabilitação Respiratória no Doente com DPOC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Exercício Físico e Reabilitação Respiratória. Intervenção na URR CHLN-HPV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Terapia Nutricional na DPOC.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar. História, Critérios e Resultados. A Redução de Volume Pulmonar como Ponte para a Transplantação Pulmonar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar - NORMAS NETT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 TEXTO ORIGINAL Síndrome de Apneia do Sono e Risco Cardiovascular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Seguimento de um Doente com Insuficiência Cardíaca – o Papel de uma Clínica de Insuficiência Cardíaca. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 NÚCLEOS DE EXCELÊNCIA NO HOSPITAL Projeto TELEMOLD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Projeto TELEMOLD - Slides. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 ESPAÇO DO TÉCNICO Reabilitação da Marcha no Idoso: da Avaliação à Intervenção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 Geriatria Entrevista com o Professor Gorjão Clara à “News” da FMUL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 ESPAÇO DO ENFERMEIRO O Protocolo da Alimentação Entérica na UCIR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 Monitorização da VNI nos anos 2009/10 na UCIR (PN II). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 Flictenas e as boas Práticas de Enfermagem no seu Tratamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66 PROJETO QUALIDADE Serviços Certificados/Acreditados no CHLN. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 Notícias I Jornadas de Senologia do Hospital Pulido Valente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Segurança do Doente: da Qualidade e Segurança à Excelência Clínica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77 N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 3 Ficha técnica Ficha tÉcnica Propriedade e Redação Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE Hospital Pulido Valente, EPE Alameda das Linhas de Torres, 117 1769-001 LISBOA Tel.: 217 548 236 Fax: 217 548 215 E-mail: [email protected] Design Gráfico e Paginação Círculo Médico - Comunicação e Design Periodicidade Publicação Trimestral Depósito legal Nº 15193/37 ISSN 0870-8363 Registo de Imprensa Nº 208416 Referenciada na “Embase Excerpta Medica” (DBASE) e na “PR Newswire Europe” Av. Prof. Dr. Fernando da Conceição Fonseca, nº 41-A Massamá - 2745-767 QUELUZ - PORTUGAL Tel.:+351 214 307 830 a 8 Fax: 214 307 839 [email protected] - www.circulomedico.com O Boletim do HPV está acessível no site www.chln.min-saude.pt no atalho “Gabinete de Comunicação” 4 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Diretora Maria Teresa Magalhães Godinho [[email protected]] Editora Cristina Bárbara [[email protected]] Conselho Redatorial Eduarda Pestana Fátima Rodrigues Filipe Froes Glória Silva Lourdes Moura Nuno Meireles Paula Pinto Paula Raposo Secretária Maria Manuela Martins [[email protected]] Conselho Científico António Diniz A. Carvalheira Santos A. Marques Pereira A. Menezes da Silva Beatriz Neves Catarina Batuca Cristina Bárbara H. Bicha Castelo Henrique Bento J. Correia da Cunha J. Gorjão Clara J. Pereira Albino J. Pontes da Mata João Cravino Luís Carreiro Luís Telo Madalena Ramos Maria Carmo Gouveia Paulo Costa R. Palma dos Reis Sandra Miguel Teresa Magalhães Godinho Editorial Editorial Professora Doutora Maria Teresa Magalhães Godinho Directora do Departamento do Tórax - Centro Hospitalar Lisboa Norte In Memoriam - Manuel Francisco de Freitas e Costa (1928 - 2011) Em 31/12/2012, fará um ano que faleceu, na UCIR do Hospital de Santa Maria, o Professor Manuel Francisco de Freitas e Costa. O Professor Freitas e Costa nasceu em Lourenço Marques em 1928. Licenciou-se na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1955 e fez os Internatos Geral, Complementar e Graduado de Pneumologia, no Hospital de Santa Maria. Foi Assistente de Pneumologia da FML de 1964 a 1972, ano em que se Doutorou, apresentando uma Tese intitulada Broncarteriografia selectiva. Aplicações clínicas. Professor Extraordinário da FML desde 1974, foi Professor Catedrático de Pneumologia a partir de 1979. Discípulo do Professor Thomé Villar, sucedeu-lhe como Director do Serviço de Pneumologia do HSM, em 1980. Foram anos de grande actividade e qualidade assistencial e científica, em que o Professor Freitas e Costa formou numerosos discípulos e colaboradores e aumentou a projecção do seu Serviço, considerado um dos primeiros do país, pioneiro em muitas técnicas e terapêuticas. O Professor Freitas e Costa foi autor de múltiplos trabalhos, conferências, comunicações, artigos e livros, de grande nível científico. Continuou os Cursos Pós-graduados de Pneumologia, iniciados em 1967 pelo Professor Thomé Villar, primeiros do género no nosso País e sempre muito concorridos, que foi moldando à sua maneira de ser, criando sessões de Controvérsias e de Terapêutica em Diálogo, por exemplo, ou ampliando a apresentação e discussão de casos clínicos. Teve papel relevante em diversas Sociedades, em particular na SPPR/SPP, de que foi Sócio Fundador, e onde ocupou os cargos de Secretário-Geral (1977-79), Presidente (1980-82 e 198385), Presidente da Assembleia Geral (1986-88 e 1989-91), tendo sido feito Membro Honorário em 1998. Recebeu em 1998 a Medalha de Ouro da Sociedade. Foi sócio fundador e delegado de Portugal na SEP, delegado de Portugal na ERS, sócio fundador e membro do Conselho Científico da WASOG, sócio fundador da WAB, Governador para Portugal do CHEST (1981-85) e Regente para Portugal em 1985. Foi Presidente em 1984 do V Congresso Europeu do CHEST realizado em Lisboa. Desde muito jovem que pintava aguarelas, mas foi sobretudo a partir dos 65 anos que se dedicou mais seriamente à pintura, tendo optado pelo abstraccionismo geométrico com cores fortes (acrílico ou óleo), tendo participado em diversas exposições colectivas. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 5 Editorial Conheci o Professor Freitas e Costa no meu 6º ano da Faculdade, como assistente de Pneumologia e no Internato Geral pedi para ficar ligada à Broncologia, que ele dirigia. Freitas e Costa fazia parte do primeiro grupo de colaboradores do Professor Tomé Villar, juntamente com Maria de Lurdes Fonseca Santos, José Maçanita, Marília Branco, Camila Canteiro, e foi o único a seguir uma carreira académica. Responsável pela Broncologia, realizou inúmeras broncoscopias rígidas diagnósticas e terapêuticas (era chamado a qualquer hora), iniciou a fibrobroncoscopia e desenvolveu ou introduziu técnicas de biopsia pleural e transtorácica. Nos anos 70, era ele que cateterizava as artérias brônquicas para embolização ou injecção de pituitrina nas hemoptises, procedimentos em que o ajudei algumas vezes a altas horas da madrugada. Participei também em alguns passos da experimentação animal para visualização das artérias brônquicas, destinada à sua Dissertação de Doutoramento. A colaboração entre o Professor Freitas e Costa e a Cirurgia Torácica (Luiz Leite de Noronha e eu própria) foi sempre muito próxima e profícua, com o sentimento de que todos fazíamos parte de uma mesma equipe. Essa colaboração estendia-se às diversas reuniões promovidas pelo Serviço de Doenças Pulmonares, Reuniões do Hospital, reuniões patrocinadas pela Boehringer e organizadas pelo Professor Thomé Villar, cursos para pós-graduados, etc. e mais tarde à participação nas actividades da SPPR/SPP e em publicações científicas ou didácticas. Deste convívio diário e apreciação mútua, nasceu uma grande amizade, que perdurou mesmo depois da nossa transferência para o Hospital de Pulido Valente, e nos aproximava nas diversas reuniões em que nos encontrávamos, tanto em Portugal como no estrangeiro. A nossa viagem a Florença e Veneza, para o Congresso da ERS, ficará sempre na nossa memória. Indiscutivelmente uma das grandes figuras da Pneumologia Portuguesa, foi um Profissional de grande qualidade, Professor e Director de reconhecido mérito, Autor de importantes trabalhos, pioneiro entre nós de várias técnicas de diagnóstico. Mas a sua frontalidade, calor humano e emotividade, a sua boa disposição, a sua alegria de viver e o prazer que tinha em apreciar as coisas boas da vida ficarão também sempre associados à recordação que dele conservam os seus numerosos Colaboradores e Amigos entre os quais tenho o privilégio de me incluir. “A Autora não adopta o novo “Acordo Ortográfico” 6 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 DPOC - Estratégia para uma Abordagem Integrada INTRODUÇÃO DPOC - Estratégia para uma Abordagem Integrada Teresa Magalhães Godinho A DPOC é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade a nível mundial. Segundo dados recentes, a DPOC é considerada como a 1ª causa de mortalidade por doença respiratória e a 4ª globalmente (era a 5ª em 2002), prevendo-se que ocupe o terceiro lugar nas próximas décadas (2020-2030). Intimamente ligada ao consumo de cigarros, caracterizada por uma limitação progressiva do fluxo aéreo parcialmente reversível, mas tratável e prevenível, a DPOC permanece subdiagnosticada e subtratada, tanto no seu estádio precoce como tardio e associa-se a múltiplas co-morbilidades. As repercussões a nível de Saúde Pública são extensas, os encargos sociais, por incapacidade grave, são pesados, e o peso financeiro acentuado, rondando na Europa os 102 milhões de euros. Durante muito tempo, os esforços dirigiram-se para o tratamento dos episódios agudos numa visão a curto prazo, mas nos últimos anos a estratégia modificou-se e o foco foi posto na abordagem da doença crónica, na prevenção das complicações e na melhoria da qualidade de vida desses doentes. A preocupação dos profissionais tem-se traduzido de vários modos: criação de programas de diagnóstico e tratamento, publicação de guidelines por iniciativa conjunta das Sociedades Científicas (ACP, ACCP, ATS, ERS), desenvolvimento da investigação, incentivos das Revistas de Especialidade à publicação de artigos sobre o tema. Assim, por exemplo, o American Journal of Respiratory Care Medicine publicou em 2010 um Editorial intitulado: «What the Journal would like to publish on COPD» e, em 2011, uma breve actualização do tema, com referência aos artigos publicados em 2010, sobre susceptibilidade do hospedeiro (factores genómicos), resposta inflamatória à DPOC (imunopatogénese), mecanismos de terapêutica existentes, importância dos biomarcadores, co-morbilidades (insuficiência ventricular E, apneia do sono), exacerbações, etc. Num Editorial de 2011, do European Respiratory Journal, referem-se como áreas de especial interesse para investigação da DPOC (e publicação no Jornal), o diagnóstico, a epidemiologia, investigação básica (estudos sobre mecanismos responsáveis pela lesão pulmonar, susceptibilidade a infecções, etc.), tratamento e drogas. A evolução tem-se feito particularmente sentir numa abordagem terapêutica integrada, com destaque para a reabilitação e melhoria da qualidade de vida, a informação aos doentes, à família e aos prestadores de cuidados, na prevenção e sensibilização para os perigos do fumo do cigarro, na implementação de leis para a redução da poluição do ar interior e exterior. Mas muito ainda resta por fazer e, o acesso a um melhor tratamento é limitado pelas políticas de comparticipação e pela burocracia. O Centro Hospitalar de Lisboa Norte dispõe do maior conjunto de meios para diagnosticar e tratar esta doença, com profissionais altamente preparados e motivados, técnicas de ponta para diagnóstico e terapêutica (função respiratória, broncologia, reabilitação, etc.), acompanhamento das doenças associadas (insuficiência cardíaca, apneia do sono, má nutrição, osteoporose ), cirurgia (apenas a Transplantação Pulmonar não se realiza, mas existem outras hipóteses como a Redução de Volume Pulmonar que a podem protelar), etc. Seria, pois, do máximo interesse criar um plano de abordagem integrada, uma “via” da DPOC, iniciativa que tentamos patrocinar com este número do nosso Boletim, em que são apresentados alguns dos aspectos focados neste Editorial. “A Autora não adopta o novo “Acordo Ortográfico” N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 7 DPOC - ENFISEMA Comunicação Apresentada no VI Encontro de Nutrição “Patologia Respiratória e Nutrição”, em 21 de Outubro de 2011, no Anfiteatro do Hospital Pulido Valente do CHLN A Reabilitação Respiratória no Doente com DPOC Pulmonary Rehabilitation in COPD Patients Fátima Rodrigues1 Resumo A DPOC é uma doença crónica e incapacitante de elevada prevalência, a que se associam múltiplas comorbilidades que contribuem para agravar o estado de saúde e o prognóstico e com elevados custos, relacionados sobretudo com as exacerbações, internamentos e mortalidade. A Reabilitação Respiratória é uma intervenção multidisciplinar baseada na evidência, de baixo custo e elevada eficácia. Tem por objetivos a redução dos sintomas, a melhoria da capacidade funcional, da autonomia na participação das atividades diárias e da qualidade de vida, a reversão das manifestações sistémicas da doença e a redução dos custos em recursos de saúde. A autora faz uma revisão sobre o impacto dos programas de Reabilitação Respiratória nos doentes com DPOC, os programas e a equipa de Reabilitação, indicações e quando referenciar, a avaliação dos programas e a relação custo-benefício. A maior acessibilidade e uma ampla e precoce referenciação dos doentes com DPOC para a Reabilitação, a disseminação dos programas na comunidade e a identificação e anulação das barreiras à atividade física regular, contribuirão para um melhor prognóstico destes doentes, com redução simultânea dos custos para os serviços de saúde. Palavras-chave: DPOC, Reabilitação Respiratória, Treino de Exercício. Abstract COPD is a disabling chronic disease of high prevalence and multiple comorbidities that contribute to decrease health status and prognosis and with high costs, mainly related with severe exacerbations, hospitalizations and mortality. Pulmonary Rehabilitation (PR) is a multidisciplinary approach, evidence-based, with low cost and high efficacy. Its main goals are symptom relief, improvement of functional capacity, daily living activities participation, and health status, minimizing systemic manifestations and reducing health-care resources utilization. The author reviews the impact of Pulmonary Rehabilitation in COPD patients, PR programs and team, indications and timing to refer patients to PR, program evaluation and cost-benefit ratio. Improving access to PR, earlier and larger referrals to PR programs, PR dissemination to community, identification and resolution of regular activity barriers will contribute to improve COPD patient’s prognosis, reducing at the same time the costs of health-care services. Key-words: COPD, Pulmonary Rehabilitation, Exercise Training. 1 8 Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia, Coordenadora da Unidade de Reabilitação Respiratória do CHLN - Hospital Pulido Valente, Assistente Convidada de Pneumologia da Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa, Investigadora do CEDOC, Fundação para as Ciências e Tecnologia boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 A Reabilitação Respiratória no Doente com DPOC ıı Introdução Um terço da população europeia, cerca de cem milhões de cidadãos, é portadora de doenças crónicas, responsáveis por 86% de mortalidade e 28% de incapacidade. Na Europa, as doenças respiratórias como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), a asma, o cancro do pulmão, a pneumonia e a tuberculose condicionam elevados custos na prestação em recursos de saúde (cerca de 100 biliões de euros por ano) e em dias de trabalho perdidos.1 O aumento de esperança de vida tem contribuído para uma maior prevalência de doenças crónicas. Em Portugal, a esperança de vida aumentou dez anos desde 1960. Estima-se que em 2050, 32% da população portuguesa tenha mais do que 65 anos. Desta forma, nas próximas décadas aumentarão substancialmente as necessidades de prestação de cuidados de saúde a populações mais idosas e com elevada prevalência de doenças crónicas e incapacitantes.2 A DPOC, um dos paradigmas de doença crónica e incapacitante, é uma doença com elevada prevalência (14,2% na população portuguesa a partir dos 40 anos de idade)3, a que se associam múltiplas comorbilidades (exemplo, cardiovasculares, cancro do pulmão, osteoporose, diabetes, infeções respiratórias, ansiedade/ depressão) que contribuem para agravar a incapacidade, a qualidade de vida e o prognóstico, e com elevados custos relacionados sobretudo com múltiplas exacerbações, internamentos e elevada mortalidade (atual 4ª principal causa de mortalidade em todo o mundo).4,5,6 É uma doença que envolve o pulmão e os brônquios, com limitação dos débitos aéreos, dispneia, tosse e expetoração. O facto de os doentes terem cada vez maior dificuldade respiratória, condiciona a realização de tarefas diárias como sair de casa, fazer compras, carregar pesos ou subir escadas. Gradualmente, o doente evita fazer esforços devido à dispneia e torna-se cada vez mais sedentário. Esta “fuga” aos esforços físicos acaba por levar a descondicionamento multissistémico - cardiovascular, respiratório e muscular - e os doentes vão agravando a sua incapacidade, tornando-se progressivamente dependentes de familiares para tarefas tão simples como a higiene pessoal, vestir-se ou alimentar-se. Nesta fase da doença, são múltiplos os internamentos por agravamento clínico e a evolução faz-se no sentido da insuficiência respiratória, com necessidade de oxigénio suplementar e a elevados custos em recursos de saúde. ıı Reabilitação Respiratória A Reabilitação Respiratória é uma intervenção multidisciplinar, abrangente, baseada na evidência, dirigida aos doentes com patologia respiratória crónica sintomáticos e com limitação nas atividades da vida diária. Tem por objetivos a redução dos sintomas, a melhoria da capacidade funcional e da autonomia na participação nas atividades da vida diária, melhor qualidade de vida, a redução dos custos em recursos de saúde para os doentes, famílias e sociedade e ainda estabilizar ou reverter as manifestações sistémicas da doença (ex., a disfunção musculoesquelética e a desnutrição).7 ııEquipa de Reabilitação Respiratória A equipa técnica envolvida nos programas de Reabilitação Respiratória deve ser multidisciplinar: pneumologista, fisioterapeuta, enfermeiro, assistente social, psicólogo, terapeuta ocupacional, nutricionista, especialista em exercício, entre outros. O doente e o seu prestador direto de cuidados fazem parte da equipa e devem ser envolvidos nas decisões terapêuticas. Após a fase de Reabilitação em ambiente hospitalar (durante o internamento e posteriormente em ambulatório), o especialista em Medicina Geral e Familiar deve idealmente proporcionar ao doente a continuidade da Reabilitação e incentivar à manutenção de hábitos de vida saudáveis: evicção tabágica e atividade física regular. ııProgramas de Reabilitação Respiratória Os programas de Reabilitação Respiratória incluem vários componentes, de que são exemplo: 1.Educação do doente e seus prestadores diretos de cuidados, no conhecimento da doença e na prevenção, identificação e atitude a tomar face às exacerbações. Mais do que ensinar aspetos teóricos sobre a doença, importa educar para a autogestão da doença, com progressiva autonomia e maior participação na vida social e profissional; 2.Otimização da terapêutica farmacológica e não farmacológica, o que inclui treino de uma correta técnica inalatória, ensino do uso da oxigenoterapia de longa duração e da ventiloterapia domiciliária; 3.Suporte nutricional; 4.Intervenção psicológica e social; 5.Treino de exercício. Treino de atividades da vida diária. Ensino de técnicas de conservação de energia; 6.Técnicas de fisioterapia respiratória, de que são exemplo, o ensino de tosse eficaz, técnicas de higiene brônquica; técnicas de controlo ventilatório em repouso e no esforço; técnicas de expansão pulmonar; treino dos músculos inspiratórios. Embora os programas de Reabilitação Respiratória sejam desenhados para cada doente individualmente, eles podem ser administrados em grupos de doentes com patologias e limitações semelhantes, beneficiando do suporte do grupo, com ganhos na motivação, autoconfiança e criação de rotinas de exercício. ııImportância do exercício físico São hoje conhecidas várias doenças que se associam ao sedentarismo: doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose, obesidade e alguns tipos de cancro (cólon, mama).8 N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 9 DPOC - ENFISEMA Na sociedade atual, as novas tecnologias e os incentivos económicos tendem a desencorajar a atividade física: as novas tecnologias, porque reduzem a energia necessária para realizar as atividades da vida diária; os incentivos económicos, porque se paga habitualmente mais pelo trabalho sedentário do que pelo trabalho ativo. Em contrapartida, existe uma evidência inquestionável dos benefícios para a saúde, obtidos com a prática regular de atividade física: redução da mortalidade global, redução da mortalidade cardiovascular, redução da mortalidade associada a cancro do cólon, da próstata ou da mama, prevenção de doença coronária, hipertensão arterial, obesidade, diabetes mellitus e osteoporose.9 As sociedades científicas publicam regularmente as atividades físicas aconselhadas para todas as idades, com vista à promoção da saúde e prevenção das doenças.10 No âmbito da Reabilitação Respiratória, o treino de exercício é um componente essencial, com benefícios comprovados na melhoria da tolerância ao esforço, com maior autonomia nas atividades da vida diária, maior participação socioprofissional, redução da dispneia, redução da ansiedade e depressão, melhoria da qualidade de vida, redução do número de internamentos e da mortalidade.11,12,13 O treino de exercício aeróbio (exemplo, em bicicleta ou tapete rolante) (Figura 1) permite um ganho de endurance, ou seja, uma maior resistência à fadiga, nas atividades que envolvem exercícios mais prolongados, como por exemplo, fazer uma caminhada. O treino de força dos membros superiores e inferiores (Figura 2) permite obter benefícios nas atividades diárias que requerem o uso da força (exemplo, ir às compras, carregar pesos). ıı Quando referenciar o doente com DPOC para Reabilitação Respiratória? Em todas as fases da doença, o portador de DPOC beneficia dos programas de Reabilitação com treino de exercício. Em geral, os doentes são referenciados em fases avançadas da doença. Sabe-se hoje que o declínio funcional é mais acentuado nas fases precoces da doença, e a elevada prevalência de comorbilidades frequentemente associadas à DPOC desde as suas fases iniciais, tornam importante a intervenção terapêutica mais precoce.14 Segundo as recomendações GOLD, o doente deve ser referenciado à Reabilitação logo que tenha consciência da sua incapacidade, nomeadamente quando refere interromper a marcha no seu passo habitual, devido à dispneia (grau 2 na escala de dispneia modificada do Medical Research Council).5 Na avaliação inicial do candidato ao programa de Reabilitação Respiratória, um aspeto importante a não descurar é a avaliação do risco, sobretudo cardiovascular, para a prática do treino de exercício. Sabemos que os benefícios do exercício ultrapassam os riscos, mas é mandatório identificar os riscos, para que possam ser minimizados. Assim, deve ser feita uma avaliação clínica completa, incluindo a pesquisa de comorbilidades. A 10 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 prova de exercício cardiorrespiratória em tapete rolante ou em bicicleta é um instrumento essencial nesta avaliação, pois permite não só conhecer a capacidade máxima de cada doente para o exercício (importante para uma prescrição individualizada do treino), como também identificar os riscos do exercício, o que confere maior segurança a esta terapêutica. A título de exemplo, poderão ser identificadas durante a prova, alterações eletrocardiográficas compatíveis com doença isquémica coronária, disritmias, alterações da pressão arterial ou dessaturação arterial em oxigénio. Os centros de Reabilitação que possuem meios de avaliação e de monitorização dos doentes sob treino de exercício podem realizar programas mais intensivos, que promovem também maiores benefícios para a saúde.15,16 Contudo, o exercício de moderada intensidade, sendo de menor risco, pode e deve ser realizado em outros contextos, incluindo no domicílio do doente, não exigindo grande complexidade nos métodos de monitorização.17 ııReabilitação Respiratória durante as exacerbações da DPOC As exacerbações graves da DPOC evoluem frequentemente com deterioração significativa do estado de saúde, levando a hospitalizações, com elevados custos em recursos de saúde, constituindo 50 a 75% de todos os custos diretos em saúde com a DPOC18 e elevada mortalidade.19 As exacerbações graves da DPOC que implicam internamento, em particular em unidades de cuidados intensivos, têm habitualmente um impacto sistémico significativo para o doente, com rápido declínio da eficiência muscular para o exercício aeróbio e perda da força muscular que pode atingir 40% na primeira semana de imobilização. O início precoce da Reabilitação adaptada às diferentes fases de maior dependência até à progressiva autonomia do doente, tem por objetivo recuperar a capacidade funcional e reduzir a dependência do ventilador e os riscos da imobilidade no leito.20,21 Pretende-se que o doente recupere a força muscular que permita a realização das atividades diárias (lavar-se, vestir, cozinhar, etc.) e a capacidade de caminhar de forma autónoma. As intervenções multidisciplinares que incluem o exercício, reduzem a duração e o custo dos internamentos e aumentam a proporção de altas para o domicílio, mesmo em doentes idosos.22 ııReabilitação antes e após a terapêutica broncoscópica e a cirurgia torácica O doente com enfisema pulmonar, candidato a terapêutica endobrônquica de redução de volume com válvulas ou com cola biológica, beneficia de um programa de Reabilitação prévio à intervenção, que inclui educação, técnicas de controlo ventilatório, higiene brônquica e treino de exercício.23 A Reabilitação Respiratória no Doente com DPOC O risco de complicações e mortalidade após cirurgia torácica do doente com DPOC obriga a uma correta avaliação do risco operatório, bem como a uma atenção a todos os cuidados prestados no período perioperatório, dos quais a Reabilitação tem um papel importante. Esta inclui a cessação tabágica, técnicas de Fisioterapia Respiratória com os objetivos de ensino de tosse eficaz (com suporte da sutura), higiene brônquica, controlo ventilatório (Figura 3), expansão pulmonar, levante precoce e retorno à vida ativa. A realização de programas de Reabilitação com treino de exercício em doentes com enfisema, candidatos a cirurgia de redução de volume pulmonar, demonstrou melhorar os resultados da cirurgia e ajudou a selecionar os doentes que mais beneficiam desta intervenção (doente com menos de 70 anos, com hiperinsuflação grave, sem componente brônquico significativo, sem comorbilidades importantes, com enfisema heterogéneo predominando nos lobos superiores e com baixa capacidade inicial de exercício).24 Nos programas de Reabilitação perioperatória do doente candidato a transplante pulmonar, é dado ênfase à melhoria prévia da condição física respiratória, cardiovascular e muscular, com treino de exercício aeróbio, fortalecimento dos músculos dos membros e respiratórios, intervenção nutricional e sessões diárias de Fisioterapia Respiratória. O pulmão transplantado pode apresentar redução do reflexo de tosse, limitação na clearance mucociliar, paresia diafragmática parcial/total e redução da capacidade vital até 50 a 60% nas primeiras 24-48h.25 No pós-operatório são importantes as técnicas de controlo respiratório, a promoção de uma extubação precoce, a higiene brônquica, as técnicas de expansão pulmonar (Figura 4), evitando a hipoventilação e formação de atelectasias e a mobilização precoce, seguindo-se o recondicionamento ao exercício.25,26 ıı Como se podem avaliar os efeitos do programa de Reabilitação? Para além da avaliação clínica, existem vários instrumentos de avaliação dos ganhos em Reabilitação que englobam os sintomas, a capacidade para o exercício ou o estado de saúde, entre outros, não devendo assentar em apenas um parâmetro. A melhoria da capacidade para o exercício pode ser avaliada através da repetição, no final do programa, da prova de exercício cardiopulmonar (capacidade máxima), da prova de endurance (capacidade de endurance, ou de resistência à fadiga)27 e prova de marcha (capacidade funcional).28 A dispneia pode ser avaliada com questionários como o índice de dispneia de Mahler29 e a incapacidade associada à dispneia com o Medical Research Council modificado.30 O estado de saúde pode ser avaliado com a aplicação de questionários sobre o estado de saúde geral como o Short-Form 3631 ou os questionários específicos para doentes com DPOC, como o St. George Respiratory Questionnaire32, o COPD Assessment Test33 ou o Chronic Respiratory Questionnaire.34 A evidência científica dos benefícios da Reabilitação Respiratória, seja no domínio dos sintomas (dispneia, estado de saúde), ou na evidência objetiva (ganhos em capacidade para o exercício) é hoje inquestionável, como o demonstraram inúmeros trabalhos compilados em meta-análise.35 ııRelação custo/ benefício da Reabilitação Respiratória Serão os custos associados aos programas de Reabilitação Respiratória compensados pelos benefícios obtidos? A análise de custos deve ser associada à evidência dos benefícios reconhecidos como válidos. A redução do número de internamentos e do nº de idas aos serviços de urgência foram demonstrados em programas de Reabilitação centrados na autogestão da doença.36 Outros autores demonstraram redução do número de dias de internamento37 ou do nº de exacerbações.38 Goldstein e colaboradores avaliaram a relação custo/benefício de um programa de Reabilitação que decorreu durante 2 meses em internamento e 4 meses em ambulatório em 84 doentes e reportaram um acréscimo de 11.597 dólares pelos benefícios significativos obtidos na dispneia, e no estado de saúde, sendo mais de 90% destes custos, atribuíveis à fase inicial em que os doentes estiveram hospitalizados.39 Griffiths e colaboradores analisaram a relação custo/eficácia de um programa de reabilitação respiratória realizado em ambulatório durante 6 semanas em 200 doentes, a maioria com DPOC. Verificaram uma boa relação custo/eficácia, já que o custo associado a cada doente foi de 725 libras por doente, mas o acréscimo de custos da reabilitação em relação ao tratamento usual foi de menos 152 libras por doente. A utilidade de adicionar a reabilitação foi de 0,030 QALY’s por doente (p:0,03) (QALY’s = anos de vida ajustados à qualidade; parâmetro que avalia a quantidade e a qualidade de vida após intervenções em saúde). Este estudo demonstrou que os programas de reabilitação realizados em ambulatório poderão associar-se a benefícios financeiros significativos nos serviços de saúde.40 ııManutenção da atividade física após o programa de Reabilitação Após terminarem os programas de treino de exercício, os doentes devem manter atividade física regular, sob pena de perderem todos os benefícios ganhos com a reabilitação, já que a suspensão do exercício conduz ao descondicionamento físico, com retorno às queixas de fadiga muscular e dispneia de esforço.41 A transferência das competências adquiridas pelo doente para o seu estilo de vida habitual, com manutenção de atividade física regular, vai depender de uma boa motivação do doente, autoconfiança, inexistência de barreiras físicas no domicílio ou na comunidade, N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 11 DPOC - ENFISEMA bem como da organização nas comunidades locais (juntas de freguesia, câmaras municipais) de atividades físicas adequadas à população (exemplo, desporto para idosos, dança, caminhadas).42,43 11.Garcia-Aymerich J, Lange P, Benet M, et al. Regular physical activity reduces hospital admission and mortality in chronic obstructive pulmonary disease: a population based cohort study Thorax 2006;61:772-778 doi:10.1136. Os doentes com menores limitações deverão integrar os ginásios, ou atividades como a hidroginástica ou a natação, de acordo com as suas preferências.44 O mesmo não poderá acontecer com os doentes mais graves, por exemplo, sob oxigenoterapia. Mesmo assim, estes doentes devem manter-se fisicamente ativos, realizando caminhadas diárias, utilizando os dispositivos portáteis de oxigénio, quando indicado. 12.Garcia-Aymerich J, Benet M, Schnohr P, et al. Regular Physical Activity Modifies Smoking-related Lung Function Decline and Reduces Risk of Chronic Obstructive Pulmonary Disease: A Population-based Cohort Study. Am J Respir Crit Care Med 2007;175:458-463. A mudança de estilo de vida deve ser uma decisão para toda a vida: deixar de fumar e manter-se fisicamente ativo a maior parte dos dias da semana, são atitudes com grandes benefícios na história natural da DPOC.11,12 O futuro desejável para a Reabilitação Respiratória inclui: ampliar a referenciação a todos os doentes que dela necessitam, melhorar a acessibilidade, disseminar os programas na comunidade, identificar as barreiras à atividade física regular, monitorizar à distância com recurso à telemedicina, iniciar os programas mais cedo na evolução natural da doença, incluindo durante as exacerbações e investigar métodos que possam amplificar os efeitos da reabilitação (exemplo, o recurso a fármacos, suplementos nutricionais, estimulação elétrica muscular, oxigenoterapia ou ventilação não invasiva). ıı Referências 1. European Respiratory Society and European Lung Foundation. European Lung White Book. 2003. 2. 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Pausa entre as sequências de exercícios de extensão dos joelhos. Unidade de Reabilitação Respiratória do CHLN – HPV. Figura 4 - Técnica de expansão pulmonar com abertura costal. Unidade de Reabilitação Respiratória do CHLN – HPV. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 13 DPOC - ENFISEMA Comunicação Apresentada no VI Encontro de Nutrição “Patologia Respiratória e Nutrição”, em 21 de Outubro de 2011, no Anfiteatro do Hospital Pulido Valente do CHLN Exercício Físico e Reabilitação Respiratória. Intervenção na Unidade de Reabilitação Respiratória do CHLN Hospital Pulido Valente Luísa Morais1 Resumo A inatividade física contribui para o agravamento da condição clínica da população com DPOC. O Treino Físico, é hoje, um componente essencial dos programas de Reabilitação Respiratória. A evidência científica aponta o Exercício Físico como uma estratégia terapêutica segura e eficaz para melhorar a capacidade física e a qualidade de vida dos indivíduos com DPOC. O exercício aeróbico (ex. andar de bicicleta ou a pé) e o exercício resistido (ex. levantar um peso com os membros superiores ou inferiores) podem ajudar a restaurar e manter a independência funcional nestes doentes. Os programas devem visar uma prática continuada, favorecendo mudanças no estilo de vida. Palavras-chave: Exercício Físico, Treino Aeróbio, Treino de Força, Implementação de Treino, Monitorização. Abstract Physical inactivity in COPD patients contributes to the worsening of their clinical condition. Physical Training is now an essential component of pulmonary rehabilitation programs. Scientific evidence points to Exercise as a safe and effective therapeutic strategy to improve physical capacity and health status of these patients. Aerobic exercise (ex. cycling or walking) and resistance exercise (ex. lifting a weight with arms or legs) can help to restore and maintain functional independence. Rehabilitation programs should aim changes in lifestyle, encouraging patients to become more active. Key-words: Exercise, Aerobic Training, Strength Training, Implementation Training, Monitoring. ıı Introdução A prática de exercício físico (atividade física estruturada) e a adoção de um estilo de vida mais ativo são recomendações que devem ser consideradas para a quase totalidade dos utentes com Patologia Respiratória, existindo atualmente evidência científica que suporta este facto.1,2,3 Existem várias abordagens (modalidades) no que diz respeito ao treino de exercício (exposição sistemática a um estímulo) e que visam a melhoria de diferentes componentes da condição física nestes utentes – resistência aeróbia (endurance), força muscular, flexibilidade, coordenação motora, equilíbrio, composição corporal e força dos músculos respiratórios.4,5,6 O treino baseia-se em quatro princípios gerais da fisiologia: sobrecarga, especificidade, reversibilidade e individualização.4 Para respeitar estes princípios, ter sucesso, ser seguro e promover a adesão do utente, um programa de exercício deve ser delineado e implementado, tendo em conta uma avaliação que permitirá conhecer:5 Fisioterapeuta de 1ª classe. Licenciada em Educação Especial e Reabilitação pela Faculdade de Motricidade Humana Serviço de Pneumologia 2, CHLN – Hospital Pulido Valente 1 14 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Exercício Físico e Reabilitação Respiratória • A gravidade da doença; • As comorbilidades e limitações do foro ortopédico; • O nível inicial de condição física do utente – o que permitirá estabelecer o tipo, a intensidade e a duração dos exercícios que constituirão as sessões de treino; • Os interesses, a motivação, o seu passado relativamente à prática de atividade física, recursos e envolvimento social do indivíduo; • Eventuais momentos críticos (p. ex. exacerbações). De uma forma geral poder-se-á afirmar que o programa deve utilizar técnicas simples, pouco onerosas e, acima de tudo, seguras. Tal como para a população saudável, os benefícios do exercício são específicos da tarefa (tipo/intensidade/duração/musculatura envolvida no exercício) efetuada durante o treino, sendo expectável que os indivíduos melhorem a sua capacidade funcional e o nível de capacidade para as atividades do dia-a-dia (AVD’s). Relativamente às sessões de treino propriamente ditas, serão abordadas as linhas orientadoras para o treino de endurance, força e flexibilidade e que seguem as normas da American College of Sports Medicine e American Association of Cardiovascular and Pulmonary Rehabilitation.4,5,6,7,8 Figura 1 - Treino aeróbio em cicloergómetro. Unidade de Reabilitação Respiratória (URR) do CHLN - Hospital Pulido Valente (HPV). ıı Treino aeróbio Estes treinos visam a melhoria da resistência aeróbia geral (capacidade de resistir à fadiga em esforços que englobam o envolvimento de mais de dois terços da massa muscular, de longa duração - 20 a 30 minutos - e de intensidade submáxima – entre 60 e 80% do consumo de oxigénio ou da carga máxima obtida no teste de esforço inicial). Esta capacidade pode ser treinada de duas formas: em regime de treino contínuo ou em regime de treino intervalado. O tipo de exercício preferencial para este treino são a marcha, o pedalar, a corrida, o nadar, entre outros, dado que podem ser efetuados a uma taxa metabólica constante. Na prática, mediante uma prescrição que nos dá a intensidade-alvo para tapete rolante, bicicleta ou caminhada, o doente vai sendo exposto ao exercício escolhido com uma intensidade específica. Treinos de baixa intensidade permitem obter resultados satisfatórios, no entanto, exercícios com maior sobrecarga induzem maior resposta adaptativa.7,9 A exposição vai sendo balizada pela perceção de esforço e dispneia reportadas pelo doente. Pretende-se que o doente efetue o exercício com uma sensação de dispneia que tolere (e que o próprio aceite), entre 4-6 na escala de Borg modificada, e que vá, progressivamente, conseguindo tolerar cada vez mais tempo nessa mesma atividade (até atingir os 30 minutos) (Figuras 1 e 2). Figura 2 - Treino aeróbio/Treino funcional. URR do CHLN - HPV. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 15 DPOC - ENFISEMA Nos doentes com maior limitação ventilatória em que a dispneia aumenta muito rapidamente para níveis intoleráveis, a estratégia que poderá viabilizar a intervenção é a do treino intervalado. Vão sendo intercalados pequenos períodos de exercício na intensidade-alvo (30 segundos a 2-3 minutos) com períodos em que o exercício é efetuado com uma intensidade muito baixa (em relação à intensidade-alvo), também de curta duração (preferencialmente com menor duração que o período com carga-alvo).10,11,12,13 Pode ser realizado recorrendo a máquinas de musculação, halteres, bandas elásticas ou utilizando o próprio peso corporal (Figuras 4 e 5). A dispneia é um sintoma limitador. A exposição a níveis de dispneia superiores ao habitual, em ambiente seguro, aumenta teoricamente a autoeficácia para lidar com o sintoma, bem como o seu limiar de perceção5,14 (Figura 3). Figura 4 - Treino de força. URR do CHLN – HPV. Figura 3 - Escala de Borg Modificada (Borg G, 1985). A frequência mínima recomendada destes treinos é de 3 vezes por semana, podendo ser realizados em diferentes contextos (exemplo: hospitalar, domiciliar, comunidade). Durante o treino é desejável que os doentes mantenham a saturação periférica de O2 acima dos 90%, que seja identificada uma frequência cardíaca e uma perceção de esforço ótimas de treino. Para além de se controlarem os parâmetros anteriores, monitorizam-se ainda a pressão arterial antes e após o esforço, glicemias nos diabéticos antes e após esforço. São monitorizados, igualmente, sinais e sintomas de eventual exacerbação, pequenas variações na sensação de dispneia e frequência cardíaca (em doentes bem instruídos relativamente à escala de Borg), podem permitir a identificação precoce de um agravamento da situação clínica o que se revela precioso no controlo/autogestão da doença. A prescrição do treino de força implica que se avalie o nível inicial da força dos vários grupos musculares. Uma das formas mais fidedignas será através da avaliação da 1 RM (uma repetição máxima). Estes treinos visam a melhoria da capacidade para desenvolver tensões musculares e através delas opor-se ou vencer resistências. No âmbito da Reabilitação Respiratória os treinos são desenhados visando objetivos específicos.15,16 Para tal manipulam-se as cargas, selecionando-se uma percentagem específica da 1 RM e o volume (nº de repetições/nº de séries/tempo de pausa entre séries) de treino de forma diversa. É um treino efetuado através de contrações musculares dinâmicas localizadas e que incidem sobre vários grupos musculares, podendo promover a hipertrofia e/ou a melhoria da endurance muscular local. No quadro seguinte poder-se-á fazer uma consulta rápida sobre as linhas orientadoras desses treinos e respetivos benefícios obtidos (Quadro 1). ıı Treino de força 16 Figura 5 - Treino de força. URR do CHLN – HPV. boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Exercício Físico e Reabilitação Respiratória Quadro 1 - Linhas orientadoras do treino de força. Adaptado de Donner CF. Pulmonary Rehabilitation 2005. Dado que se trata de um trabalho físico em que a quantidade de massa muscular envolvida é pequena, as implicações sistémicas deste tipo de exercício são menores. Habitualmente, este tipo de exercício é melhor tolerado pelos doentes, já que induz menor hiperventilação, logo, menos dispneia. Contudo, isso nem sempre se verifica porque o treino dos membros superiores exige maior trabalho cardiovascular, e do ponto de vista biomecânico pode promover maior desvantagem e sobrecarga ao trabalho do diafragma. Os movimentos acima da linha da cintura escapular podem aplanar ainda mais um diafragma já aplanado e a musculatura acessória respiratória vai ser recrutada para uma função motora, deixando de assistir o trabalho respiratório.17 Torna-se necessário modificar e adaptar os exercícios estandardizados para que o doente possa beneficiar deles, dado ser consensual que este tipo de treino tem eficácia comprovada na redução da dispneia durante as AVD’s.18,19 ııTreino de flexibilidade Visa promover a obtenção de amplitudes articulares fisiológicas ao nível de uma ou mais articulações no decurso de ações motoras. Os exercícios efetuados têm como objetivo diminuir tensões, aumentar a consciência corporal, restaurar a mobilidade e otimizar o funcionamento muscular. Este treino é feito através de alongamentos estáticos e execução de movimentos lentos (os movimentos balísticos deverão ser evitados, dada a idade avançada da maioria dos doentes).8 Normalmente estes exercícios são feitos no início e no final de todas as sessões de treino (Figura 6). A frequência mínima recomendada destes treinos é de 2 vezes por semana. Na prática diária devem monitorizar-se os mesmos parâmetros fisiológicos referidos em relação ao treino aeróbio. No entanto, dever-se-á dar maior importância à monitorização da pressão arterial na fase de recuperação, por forma a identificar resposta hipertensiva tardia indesejável (sobretudo se se treinar com vista à hipertrofia muscular). É indispensável um ensino correto dos movimentos a executar, o que aumentará o reportório motor dos indivíduos e evitará eventuais lesões musculoesqueléticas. Durante a execução dos exercícios de força é igualmente treinado o controlo respiratório, associando a expiração às fases do exercício em que há maior produção de força e evitando as manobras de Valsalva. Figura 6 - Exercícios de flexibilidade. URR do CHLN – HPV. Está comprovada a eficácia do treino combinado (força e endurance).2,3,20,21 N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 17 DPOC - ENFISEMA ıı Organização geral de uma sessão de treino • Frequência: 2 a 5 vezes por semana. • Duração: 60 a 90 minutos por sessão. • Preparação para a sessão: verificar se o doente se encontra apto para a sessão de treino ou se necessita de efetuar algum procedimento prévio (exemplo: fazer higiene brônquica). De início esta verificação poderá estar mais dependente do fisioterapeuta, mas à medida que se vai evoluindo no programa, o doente deve ser responsabilizado e ficar apto para executar essa tarefa. • Iniciar com exercícios de aquecimento e alongamento. • Treino propriamente dito: respeitar o desenho de treino previamente estabelecido e com limites e metas bem definidas. Também neste caso, o doente deve ficar progressivamente autónomo na monitorização do treino. • Terminar a sessão de treino com retorno à calma, exercícios de alongamento e os respetivos registos. De realçar que deverá haver espaço para o ensino, esclarecimento de dúvidas e reflexão sempre que necessário. A educação dos doentes assume um papel importante para garantir o sucesso da reabilitação respiratória e a manutenção dos benefícios da mesma a longo prazo.4,5,6,7 A forma como o doente consegue ser proativo expondo as suas dúvidas, é determinante na adesão aos tratamentos e nas modificações que lhe vão sendo propostas. Os conteúdos programáticos das sessões estão atualmente bem delineados e são muito abrangentes. É, por isso, um trabalho complexo que deve ser partilhado por uma equipa onde o fisioterapeuta tem um papel nuclear e bastante dinâmico2 (Figura 7). Figura 7 - Dinamização em grupo no Ginásio/Trabalho de equipa. URR do CHLN – HPV. ıı Conclusão ııREFERÊNCIAS A prática de exercício providencia uma melhoria da capacidade funcional e uma oportunidade ideal para os utentes redescobrirem as suas capacidades para o trabalho físico e utilização de métodos práticos de controlo da dispneia, daí ser considerada pedra basilar dos programas de reabilitação. 1. Celli, B. (2005) Pathophysiological basis of pulmonary rehabilitation In chronic pulmonary disease. Pulmonary Rehabilitation. Ed. Donner, C., Ambrosino, N., Goldstein, R. Os programas de exercício devem decorrer numa 1ª fase em contexto hospitalar, em centros especializados, integrados em programas de reabilitação e apoiados por equipas multidisciplinares. Devem visar desde cedo uma prática continuada para o resto da vida. Desta forma, torna-se necessário apetrechar os utentes com um programa a ser seguido no domicílio ou, sempre que possível, integrado num grupo com prática de atividade física regular na comunidade. 2. Gosselink R, Langer D, Burtin C, Probst V, et al. (2008) KNGF Clinical Practice Guideline for Physical therapy in Patients With COPD – Practice Guidelines. Supplement to the Dutch Journal of Physical Therapy English version-Volume 118, issue. 3. Bott J, Blumenthal M, et al. (2009) Guidelines for the physiotherapy management of the adult, medical, spontaneously breathing patient. Thorax; 64(spplI):s1-s51. 4. American College of Sports Medicine (1998) Position Stand. 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Casaburi R, Patessio A, Ioli F, Zanaboni S, Donner CF, Wasserman K. (1991) Reductions in exercise lactic acidosis and ventilation as a result of exercise training in patients with obstructive lung disease. Am Rev Respir Dis; 143: 9-18. 10. Puhan MA, Busching G, Schunemann HJ, VanOort E, Zaugg C, Frey M. (2006) Interval versus continuous high intensity exercise in chronic obstructive pulmonary disease - A randomized trial. Ann Intern Med; 145:816-25. 11. Coppoolse R, Schols AMWJ, Baarends EM et al. (1999) Interval versus continuous training in patients with severe COPD: a randomized clinical trial. Eur Respir J; 14:258-63. 12. Vogiatzis I, Nanas S, Roussos C. (2002) Interval training as an alternative modality to continuous exercise in patients with COPD. Eur Respir J; 20:12-19. 13. Vogiatzis I, Terzis G, Nanas S et al. (2005) Skeletal muscle adaptations to interval training in patients with advanced COPD. Chest; 128:3838-45. 14. Booker HA. 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(2004) Does unsupported upper limb exercise training improve symptoms and quality of life for patients with chronic obstructive pulmonary disease? J Cardiopulm Rehabil; 24:422-27. 20. Spruit M, Gosselink R, Troosters T, De Paepe K, Decramer M. (2002) Resistance vs. endurance training in patients with COPD and peripheral muscle weakness. Eur Respir J; 19:1072-78. 21. Ortega F, Toral J, Cejudo P et al. (2002) Comparison of effects of strength and endurance training in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Am J Respir Crit Care Med; 166:669-74. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 19 DPOC - ENFISEMA Comunicação Apresentada no VI Encontro de Nutrição “Patologia Respiratória e Nutrição”, em 21 de Outubro de 2011, no Anfiteatro do Hospital Pulido Valente do CHLN Terapia Nutricional na DPOC Nutritional Therapy in COPD Maria Guiomar Ferreira1 Resumo A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é um problema de Saúde Global com graves repercussões económicas, sociais e manifestações sistémicas que afetam de forma severa a qualidade de vida dos doentes. Uma das consequências sistémicas é a depleção nutricional, situação comum mesmo entre os normoponderais, a qual se traduz não só em perda de peso per se, mas especialmente em diminuição da massa muscular. De acordo com dados recentes, estima-se que atinja 15% dos doentes em estádio ligeiro a moderado da doença e 50% em estádio avançado. A etiologia da desnutrição é multifatorial e complexa, mas a ingestão inadequada de alimentos e o gasto energético aumentado são os dois principais mecanismos envolvidos na sua génese. A avaliação do estado nutricional é um importante instrumento para analisar o grau de depleção do estado nutricional, devendo ser feita o mais precocemente possível. A intervenção nutricional nos doentes com DPOC tem por objetivos, propiciar um bom estado nutricional, promover a manutenção da força, massa e função muscular respiratória, manter uma relação adequada de massa magra/tecido adiposo, corrigir o desequilíbrio hídrico, controlar as interações drogas/nutrientes e melhorar a qualidade de vida. Palavras-chave: DPOC, Estado Nutricional, Desnutrição. Abstract Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is a global health problem with serious economical, social and systemic consequences on the patients, affecting their quality of life. Nutritional depletion is a systemic consequence even common on normal weighted patients, which not only is expressed in weight loss, but especially in muscular mass decrease. According to recent data, it is estimated to reach 15% of patients on mild to moderate stage of the disease and 50% on advanced stage. The malnutrition etiology is multifactorial and complex. The inadequate food intake and the increase on energy expenditure represent the two main mechanisms involved in malnutrition genesis. An important tool to analyze the degree of nutritional depletion is the assessment of nutritional status that should be made as early as possible. Nutritional intervention in patients with COPD aims to provide a good nutritional status, to promote the maintenance of force, mass and respiratory muscle function, to maintain an appropriate relationship of lean body mass/fat tissue, to correct the water imbalance, to control the drug/ nutrients interactions and to improve the quality of life. Key-words: COPD, Nutritional Status, Malnutrition. 1 20 Assessor Superior de Saúde; Mestre em Nutrição Clínica Coordenadora do Serviço de Dietética e Nutrição do CHLN - Unidade Hospital Pulido Valente boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Terapia Nutricional na DPOC A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é um problema de Saúde Global com graves repercussões económicas e sociais, cujas manifestações sistémicas afetam seriamente a qualidade de vida dos doentes. Uma das consequências sistémicas é a depleção nutricional, situação comum mesmo entre os normoponderais, a qual se traduz não só em perda de peso per se, mas especialmente em diminuição da massa muscular. De acordo com dados recentes, estima-se que a desnutrição atinja 10 a 15% dos doentes em estádio ligeiro a moderado de DPOC e 50% em estádio avançado.1 A etiologia da desnutrição é multifatorial e complexa, mas a ingestão inadequada de alimentos e o gasto energético aumentado, são os dois mecanismos principais envolvidos na sua génese. A ingestão inadequada pode advir de dificuldades na mastigação e deglutição, em consequência da dispneia, tosse e fadiga. O aumento do gasto energético pode ser atribuído ao hipermetabolismo, decorrente do aumento do trabalho dos músculos respiratórios.2 O aumento do trabalho ventilatório e dos mediadores inflamatórios, assim como a influência da medicação, contribuem para um aumento de 15 a 17% do metabolismo basal. Por outro lado, níveis elevados de citoquinas desempenham um efeito inflamatório importante na massa isenta de gordura, assim como a hipoxia crónica, podendo os corticosteroides influenciar a composição corporal.3 As exacerbações infecciosas também podem potenciar anorexia e aumento do catabolismo proteico, resultando em depleção de massa muscular, sendo esta, o principal fator responsável pelos efeitos negativos atribuídos à desnutrição.3 Quando se avalia a desnutrição nestes doentes, recomenda-se que o ponto de corte do Índice de Massa Corporal (IMC) seja inferior a 21Kg/m2 (Índice de Bode, preditor de mortalidade da DPOC), já que valores inferiores encontram-se associados a um aumento da mortalidade.4 Apesar de ser um bom indicador, não retrata as diferenças individuais da composição corporal, pelo que não deve ser usado como único parâmetro no diagnóstico do estado nutricional. A depleção de massa muscular é o melhor preditor de mortalidade nos doentes com DPOC, particularmente nos normoponderais ou obesos. 5 São várias as complicações relacionadas com esta perda de massa magra, nomeadamente, ao nível do sistema imunitário, da diminuição da capacidade de cicatrização e da mobilidade, mas quando esta atinge 40% torna-se incompatível com a vida. Contrariamente ao IMC, o índice de Massa Magra Corporal (IMMC) preditor independente de mortalidade, reflete o estádio da doença. J Bras Pneumol 2006 Quadro 1 - Algoritmo para manejo sistémico da DPOC levando em consideração o IMC* e o IMMC*. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 21 DPOC - ENFISEMA A avaliação do estado nutricional permite estimar o grau de depleção do estado nutricional, devendo ser feita o mais precocemente possível, de forma contínua, de maneira a possibilitar uma intervenção nutricional atempada. Uma avaliação criteriosa pressupõe a análise da composição corporal, a qual permite diferenciar a massa magra do tecido adiposo e o edema da desidratação. Nos doentes com cor pulmonale, resultante da retenção hídrica, a manutenção ou ganho de peso, pode camuflar a real perda de massa magra.6 Existem vários métodos de avaliação da composição corporal, dos quais se destaca a bioimpedância elétrica. É uma técnica não invasiva, que se encontra validada para os doentes com DPOC. Possibilita identificar quais os fatores subjacentes à perda de peso e a sua patogénese.6 A intervenção nutricional nos doentes com DPOC tem por objetivos, propiciar um bom estado nutricional, promover a manutenção da força, massa e função muscular respiratória, manter uma relação adequada de massa magra/tecido adiposo, corrigir o desequilíbrio hídrico, controlar as interações drogas/nutrientes e melhorar a qualidade de vida. Os balanços energético e azotado encontram-se inter-relacionados. É fundamental que as necessidades energéticas sejam atingidas, de forma a preservar as proteínas viscerais e somáticas. Nos doentes estáveis, as necessidades em água e macronutrientes, dependem da doença pulmonar de base, da terapia com oxigénio, do peso, da medicação e da existência de eventual edema/desidratação. As necessidades em micronutrientes são influenciadas pela doença pulmonar subjacente, comorbilidades, tratamentos clínicos, peso e densidade mineral óssea.6,7 O stress oxidativo, assim como a inflamação crónica encontram-se implicados no mecanismo gerador das manifestações sistémicas da DPOC. Nestes doentes, os neutrófilos periféricos libertam mais espécies reativas de oxigénio (ROS) do que os dos indivíduos normais, não fumadores. Produtos de peroxidação lipídica também estão aumentados no plasma de fumadores com DPOC, particularmente durante os períodos de exacerbação.8 Vários estudos têm demonstrado o interesse da inclusão de alimentos ricos em ácidos gordos ómega-3 devido aos seus efeitos anti-inflamatórios e de melhoria da capacidade de exercício.9 Relativamente à ingestão de alimentos ricos em vitaminas C, D, E, A, beta e alfa caroteno, comprovou-se a sua associação com a melhoria de sintomas, exacerbações e função pulmonar.6 A prevalência da deficiência em vitamina D é elevada, encontra-se fortemente associada à prevalência da osteoporose e aumenta com a severidade da DPOC. Uma ingestão adequada de cálcio e suplementação em vitamina D reduz o risco de fraturas, podendo diminuir, indiretamente, a morbilidade e prevenir potencialmente a deterioração da função pulmonar. Pode ainda intervir noutras comorbilidades da DPOC, como a doença cardiovascular e o cancro.10 Para além da suplementação, a dieta deve ser adaptada às condições fisiológicas individuais (anorexia, saciedade, dispneia, fadiga, obstipação, flatulência, problemas dentários), para assegurar um aporte nutricional adequado.6 22 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 ııREFERÊNCIAS 1. Posluszna D, Doboszunska A. Assessment of nutritional status of patients with chronic obstructive pulmonary disease (COPD) and the impact of diet on COPD risk. Pneumonol Alergol Pol 2011;79(2):109-115. 2. Dourado VZ. Systemic manifestations in chronic obstructive pulmonary disease. J Bras Pneumol 2006;32(2):161-171. 3. Ferreira IM. Chronic obstructive pulmonary disease and malnutrition: why are we not winning this battle? J Pneumol 2003;29(2):107-115. 4. Celli BR et al. The body-mass index, airflow obstruction, dyspnea, and exercise capacity index in chronic obstructive pulmonary disease. N Engl J Med 2004;350(10):1005-1012. 5. Soler-Cataluna JJ et al. Mid-arm muscle area is a better predictor of mortality than body mass index in COPD. Chest 2005;128(4):2108-2115. 6. Donna H. Mueller; PhD, RD, FADA, LDN. Terapia clínica nutricional para doenças pulmonares. In: Elsevier Editora LTDA. Krause Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. Rio de Janeiro 2010. 35:907-909. 7. Berry JK, Baum CL. Malnutrition in chronic obstructive pulmonary disease: adding insult to injury. AACN Clin Issues 2001;12:210-219. 8. Cavalcante A, Bruin P. O papel do stress oxidativo na DPOC: conceitos actuais e perspectivas. J Bras Pneumol 2009;35 (12). 9. Matsuyama W, MD et al. Effects of omega-3 polyunsaturated fatty acids on Inflammatory Markers in CPOD. CHEST 2005;128(6):3817-3827. 10. J anssens W, Mathieu C, Boonen S. Vitamin D deficiency and chronic obstructive pulmonary disease: a vicious circle. Vitam Horm 2011;86:379-99. CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR História, Critérios e Resultados. A Redução de Volume Pulmonar como Ponte para a Transplantação Pulmonar Lung Volume Reduction Surgery (LVRS) Maria Teresa Magalhães Godinho1 Resumo A Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar (LVRS) no tratamento do Enfisema foi reintroduzida por Cooper em 1993. A maior parte dos nossos actuais conhecimentos sobre a LVRS deriva do NETT (National Emphysema Treatment Trial), ensaio prospectivo, randomizado controlado e multicêntrico iniciado em 1997-98, nos EUA. Este ensaio permitiu identificar, por um lado, um subgrupo de doentes que devem ser excluídos desta terapêutica por mortalidade demasiado elevada, e por outro lado determinar o subgrupo de doentes que mais beneficiam deste tratamento. Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão de candidatos à LVRS, comparadas as indicações de LVRS e Transplantação Pulmonar, custos respectivos, etc. Resolvemos rever neste artigo todos estes aspectos. Apesar de menos difundida do que provavelmente se justifica, a LVRS oferece a um grupo de doentes com enfisema seleccionado, a possibilidade de melhoria da função respiratória, da tolerância ao exercício e da qualidade de vida acrescida de aumento da sobrevivência no grupo de doentes com enfisema predominante dos lobos superiores e baixa capacidade de exercício. Mais fácil e mais barata do que a Transplantação Pulmonar é uma terapêutica a ter em conta no tratamento do Enfisema grave, tanto mais que não impede uma transplantação ulterior, mas pode adiar a sua necessidade por alguns anos. Palavras-chave: Enfisema, DPOC, Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar, LVRS, Transplantação Pulmonar. Abstract Lung Volume Reduction Surgery (LVRS) for emphysema treatment was reintroduced by Cooper in 1993. Much of the information we have now emanates from the National Emphysema Treatment Trial (NETT). NETT is a multicenter prospective randomized controlled trial that compares optimal medical treatment including rehabilitation with optimal medical treatment followed by LVRS. NETT identified a subgroup of patients defined by FEV1 less than or equal to 20% and either a diffusing capacity for carbon monoxide less than or equal to predicted or homogeneous emphysema in whom thirty-days mortality was 16% and improvements in lung function, exercise tolerance or quality of life were limited. Because of that, those patients considered with high-risk characteristics were excluded from LVRS candidates. Long-term follow-up analysis, on the basis of chest CT emphysema pattern and maximal wattage during lower extremity ergometry divided the patients in 4 subgroups, with different risks and benefits in LVRS. The subgroup of patients with upper-lobe predominant emphysema and low exercise capacity was identified as having a substantial advantage in survival and improvement in exercise capacity and quality of life when compared to medical therapy. Although LVRS seems to be not yet widely applied, LVRS is recognized as one of few therapies that improve survival in a severe group of patients with severe emphysema. In addition, LVRS doesn’t preclude and can even act as a bridge to transplantation. Key-words: Emphysema, COPD, LVRS, Lung Transplantation. “A Autora não adopta o novo “Acordo Ortográfico” 1 Diretora do Departamento do Tórax do CHLN Professora Associada com Agregação, Convidada da FCM da UNL N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 23 DPOC - ENFISEMA ıı Introdução Apesar de Laennec ter sistematizado a descrição clínica e patológica do enfisema há perto de 2 séculos (1817), a fisiopatologia da DPOC e do enfisema só começou a ser entendida na segunda metade do século passado. Mas as tentativas de executar diversos tipos de intervenções cirúrgicas, com o objectivo de corrigir as consequências do enfisema, já tinham começado no início desse século. Operações na parede torácica e diafragma destinavam-se a comprimir os pulmões distendidos (toracoplastia e frenicectomia) ou pelo contrário arranjar mais espaço para o pulmão (costocondrectomia), mas pioravam a dispneia. Também foi tentada a correcção da configuração diafragmática com cintas ou por pneumoperitoneu. Outro procedimento consistiu em reforçar a parede posterior da traqueia com enxerto ósseo ou fascia lata ou utilizar uma prótese de polietileno para impedir o colapso das vias aéreas durante a expiração. A pleurectomia parietal e a talcagem, para aumentarem a vascularização do parênquima enfisematoso, também não tiveram sucesso. Foram propostas diversas intervenções sobre o sistema nervoso autónomo do pulmão, que culminaram na glomectomia (excisão do corpo carotídeo) inicialmente proposta por Nakayama no Japão e retomada por Richard Overholt, muito em voga para o enfisema e a asma nos anos 60, mas que não tinha qualquer base fisiológica. As únicas operações que durante muitos anos tiveram algum êxito foram as ressecções de bolhas gigantes1 que comprimiam o restante pulmão ou a sua aspiração intracavitária (utilizando a técnica de Monaldi para as cavidades tuberculosas). A transplantação pulmonar realizada num homem pela primeira vez por James Hardy em 1963, falhou durante muitos anos devido a complicações e, só na década de 80 se começou a desenvolver. Além da ressecção de bolhas e da transplantação pulmonar, surgiu um terceiro procedimento com sucesso, a Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar. ıı A CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR (LVRS) A Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar teve o seu início há muito mais tempo do que se supõe. Com efeito em 1950, em Baltimore, Brantigan começou a operar doentes incapacitados por enfisema bolhoso difuso bilateral. Fundamentava-se na ideia de que os bronquíolos, devido à distensão periférica, colapsavam na expiração. Sugeria que reduzindo o volume pulmonar, a tracção elástica nas pequenas vias aéreas seria restabelecida e a obstrução durante a expiração reduzida. Tratava-se de uma operação destinada a restaurar um princípio fisiológico e não a ressecar todo o parênquima doente, como o seu autor frisou. Brantigan e col. avaliaram 89 doentes, dos quais operaram 56, 14 dos dois lados, por toracotomia. Em 19572, foram publicados os resultados de 33 doentes e em 1961, de mais 56: melhoria clínica significativa em 75% dos doentes, com duração superior a 5 anos em alguns 24 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 doentes. Mas, a mortalidade era de 16%. Quando Brantigan fez a sua apresentação em Junho de 1958, em Aspen, Colorado, foi vivamente criticado, especialmente por Gaensler, na altura considerado uma autoridade em fisiologia pulmonar, que comentou ser “difícil acreditar que uma doença caracterizada por perda difusa de parênquima pulmonar pudesse efectivamente ser tratada por ressecção de pulmão funcionante”. E, assim, o procedimento nunca se expandiu até ser retomado por Cooper3, em 1993. Cooper, pioneiro da transplantação pulmonar na insuficiência respiratória terminal, teve conhecimento dos trabalhos de Brantigan através de Jean Deslauriers, e algumas constatações que fez nos seus doentes de transplantação sugeriram-lhe que a hipótese de Brantigan podia ser útil como alternativa ou como ponte para a transplantação pulmonar. Cooper4 transformou um procedimento essencialmente experimental numa abordagem baseada numa selecção criteriosa de doentes, preparação pré-operatória cuidadosa, excelente técnica cirúrgica e vigilância pós-operatória sistemática. Modificou a abordagem, passando a usar a esternotomia mediana, fez ressecções bilaterais e usou suturas mecânicas protegidas. Os resultados pareciam muito animadores (82% de aumento inicial do FEV1 nos primeiros 20 doentes operados3; 51% aos 6 meses com resultados mantidos aos 1 e 2 anos na série de 150 casos publicados em 964) e a sua proposta foi aceite com entusiasmo. Tanto nos EUA como na Europa, diversos centros iniciaram este tipo de Cirurgia e apareceram vários artigos relatando os resultados obtidos: em 1999, foi feita uma revisão sistemática desses trabalhos por Young5 e em 2001, outra actualizada por Stirling GR e col.6 Mas, nesse entusiasmo inicial que rodeia frequentemente o lançar de um procedimento novo, alguns pontos foram esquecidos ou descurados como a necessidade de uma curva de aprendizagem e a exigência de grande dedicação e disponibilidade por parte das equipes que tratam estes doentes. Muitos centros nos EUA lançaram-se freneticamente neste tipo de cirurgia, tentando captar doentes antes que fossem tratados por outros e desprezando a possibilidade de fazer um estudo sério sobre as vantagens do método. Foi então resolvido realizar um ensaio clínico multicêntrico randomizado para determinar os benefícios do procedimento (o National Emphysema Treatment Trial ou NETT). Este ensaio foi suportado pelo National Heart Lung and Blood Institute e pela Health Care Financing Administration (posteriormente Center for Medicare and Medicaid Services) e teve como objectivos principais comparar a sobrevivência e a capacidade de exercício 2 anos após a cirurgia de redução de volume com os resultados obtidos após o tratamento médico. Outro aspecto importante era o de identificar os critérios de selecção dos doentes que beneficiavam da Cirurgia de redução de volume.a a O NETT desenvolveu um vasto leque de trabalhos de investigação e deu origem a numerosas publicações. Uma lista destes artigos – até 2007 – veio publicada em “The role of NETT in Emphysema Research” de Robert Wise e M. Bradley Drummond, Proc Am Thorac Soc 2008;5:385-392. CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR ıı O NETT Pretendia-se incluir 2.500 doentes no ensaio, 6% com origem em minorias, 30% do sexo feminino. O estudo deveria durar 4 anos e meio, com um período de encerramento de 6 meses.7 Colaboraram no Ensaio 17 centros clínicos; o protocolo do estudo e os procedimentos foram estabelecidos em 1997-98. O “screening” foi iniciado em 1997 e a randomização começou em Janeiro de 1998. Uma primeira avaliação foi publicada em Outubro de 2001.8 De Janeiro 98 a Junho 2001, foram randomizados 1.033 doentes. Foi desde então possível identificar um grupo de doentes com alto risco de morte; estes doentes tinham um FEV1 inferior a 20% do seu valor preditivo e uma distribuição homogénea do enfisema em TC ou uma capacidade de difusão de monóxido de carbono inferior a 20% do seu valor preditivo. Este grupo comportava 140 doentes, dos quais 70 tinham sido randomizados para tratamento médico e os outros (69 porque um recusou a cirurgia) para cirurgia. A mortalidade por cirurgia foi nestes doentes de 16% aos 30 dias contra 0% para o grupo médico. Estes resultados permitiram excluir este grupo de doentes dos candidatos à Cirurgia. Resultados Em 20039 foram publicados os resultados do NETT, apresentando os efeitos da LVRS na sobrevida e capacidade máxima de exercício, em doentes com enfisema, randomizados para LVRS ou tratamento médico entre Janeiro de 1998 e Julho de 2002 e seguidos durante 2,4 anos. Foram igualmente fornecidos os dados dos efeitos da LVRS na função pulmonar, necessidade em O2, prova de marcha de 6 minutos, qualidade de vida, sintomas respiratórios e utilização de cuidados de saúde. Em 2006, foi publicada uma atualização das análises de sobrevida e medidas funcionais com uma mediana de follow-up de 4,3 anos.10 Em 2011, Gerard Criner11 publica uma revisão dos resultados do NETT e faz referência às várias técnicas de redução broncoscópica. Entre Janeiro 1998 e Julho 2001, foram observados 3.777 doentes para o NETT, dos quais foram randomizados 1.218: 608 para LVRS e 610 para tratamento médico, com características basais semelhantes. Dos 608 doentes destinados a LVRS, 580 (95,4%) foram de facto submetidos a LVRS, 406 (70%) por esternotomia mediana e 174 (30%) por cirurgia toracoscópica videoassistida; 21 (3,5%) recusaram cirurgia e 7 (1,2%) foram considerados inaptos pelo cirurgião. Nos doentes submetidos a LVRS, houve melhoria da capacidade de exercício aos 6, 12 e 24 meses, em comparação com o grupo médico. Esses doentes apresentaram ainda melhores resultados na prova dos 6 minutos marcha, % do valor previsto de FEV1, gravidade da dispneia e qualidade de vida. Antes do início do NETT, fora estabelecido que uma mortalidade aos 30 dias superior a 8% constituía causa de interrupção do ensaio. Em Maio de 2001, foi definido como já dissemos, um subgrupo de doentes com FEV1 ≤20% do previsto e/ou uma capacidade de difusão de monóxido de carbono (DLCO) ≤20% do previsto ou enfisema homogéneo (na TC torácica), em que a mortalidade aos 30 dias era de 16% no grupo da LVRS contra 0 mortes no grupo médico. Além disso, nos operados que sobreviveram aos 6 meses após a randomização, não havia melhoria significativa na função pulmonar, tolerância ao exercício ou qualidade de vida em comparação com o grupo médico. Em consequência, este subgrupo de doentes de alto risco deixou de ser aprovado para entrar no NETT. Nos 1.078 doentes considerados de não alto risco, a mortalidade aos 30 dias após LVRS foi de 2,2 % e de 0,2% após tratamento médico (p<0,001) e aos 90 dias respectivamente de 5,2% e 1,5%. Aos 29,2 meses de follow-up após randomização, não havia no grupo da LVRS benefício na sobrevivência em relação ao grupo médico (mesmo com exclusão dos doentes de alto risco cirúrgico). Mas esses doentes tinham mais probabilidades de melhoria da prova de marcha de 6 min., capacidade de exercício máxima, FEV1 % previsto e qualidade de vida comparado com o grupo médico (p<0,001 para cada comparação). Fatores preditivos de resultados da LVRS em doentes não alto risco Os fatores associados às diferenças na mortalidade, resultados funcionais e qualidade de vida encontrados foram: a distribuição craniocaudal do enfisema na TC do tórax (presença ou ausência de predomínio do enfisema nos lobos superiores, com p=0,02) e os resultados dos testes pós-reabilitação. Os doentes foram divididos em 4 grupos de acordo com estes factores. Nos 290 doentes com enfisema predominante dos lobos superiores e baixa capacidade para o exercício, a LVRS tinha um risco de mortalidade inferior ao do tratamento médico (RR 0,47; p=0,005). Em 419 doentes com enfisema predominante dos lobos superiores e alta capacidade de exercício, a LVRS não tinha impacto na sobrevida (RR 0,98; p=0,70). No entanto, esses doentes tinham melhores resultados funcionais e de qualidade de vida que os submetidos só a tratamento médico. Em 149 doentes sem predomínio de enfisema lobar superior e baixa capacidade de exercício, a LVRS não tinha impacto na mortalidade (RR 0,81; p=0,49) nem na capacidade máxima de exercício aos 24 meses, mas havia mais probabilidade de melhoria de SGRQ aos 24 meses (37% vs. 7%; p=0,001). Finalmente, em 220 doentes com enfisema não predominante dos lobos superiores e alta capacidade de exercício, a LVRS aumentava o risco de morte (RR 2,06; p=0,02) e não tinha efeito na capacidade de exercício aos 24 meses (p=1,0) ou na SGRQ (15% vs. 12%; p=0,61). NETT: Follow-up prolongado Na altura em que foram publicados os primeiros resultados do NETT, o follow-up mediano era apenas de 2,4 anos. Em avaliação posterior (follow-up mediano de 4,3 anos)12 destinada a estabelecer a durabilidade dos benefícios da LVRS do ponto de vista funcional e fisiológico e também os efeitos na sobrevida a longo prazo, no conjunto dos 1.218 doentes, a sobrevida tinha melhorado com a LVRS em relação ao tratamento médico, apesar da mortalidade pós-operatória precoce. A capacidade de exercício aumentou ≥10 W em 23%, 15% e 9% nos doentes submetidos a LVRS em comparação com os 5%, 3% e 1% dos doentes médicos a 1, 2 e 3 anos (p<0,001). A SGRQ diminuiu após LVRS >8 unidades em 40%, 32%, 20% 10% e 13% em comparação com 9%, 8%, 8%, 4% e7% após tratamento médico a 1-5 anos de follow-up (p<0,001 anos 1-3; p=0,005, ano 4; p=0,12, ano 5). N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 25 DPOC - ENFISEMA Análises ulteriores utilizando o padrão de enfisema na TC torácica e a carga máxima (em watts) atingida nos testes de exercício após reabilitação respiratória demonstraram que a LVRS nos doentes com predomínio do enfisema nos lobos superiores e baixa capacidade de exercício melhorava substancialmente a sobrevida em comparação com o tratamento médico, além de melhorar a sua capacidade de exercício e qualidade de vida. Mortalidade operatória e morbilidade cardiopulmonar após LVRS O NETT teve ainda por objectivo definir factores preditivos da mortalidade e morbilidade por LVRS. EM 511 doentes não alto risco submetidos a LVRS, foram analizados os seguintes possíveis fatores: características demográficas, função pulmonar, extensão e padrão do enfisema na TC torácica, carga máxima atingida durante o exercício, dispneia, qualidade de vida. Na morbilidade pulmonar major, foram incluídas a traqueostomia, a falência no desmame da ventilação, pneumonia, reintubação ou ventilação mecânica superior a 3 dias (nos 30 dias pós-cirurgia). Por morbilidade cardiopulmonar major entendeu-se infarto do miocárdio, embolia pulmonar ou arritmia cardíaca. A existência de predomínio fora dos lobos superiores foi o único fator preditivo de mortalidade. A morbilidade pulmonar foi mais elevada nos doentes mais velhos, e nos que tinham um FEV1 ou uma DLCO mais baixos. A morbilidade cardiopulmonar foi mais alta nos idosos, nos que usavam corticóides orais ou que tinham enfisema predominante não dos lobos superiores. Abordagem cirúrgica Apesar de se terem obtido alguns bons resultados com a redução de volume unilateral, o procedimento bilateral é encarado como a escolha acertada, dando melhores resultados funcionais sem aumento da mortalidade ou da morbilidade.13 Na comparação entre as duas vias mais utilizadas – esternotomia mediana e cirurgia toracoscópica videoassistida (VATS) não foram encontradas diferenças na mortalidade, morbilidade ou resultados funcionais14, assim como nas perdas sanguíneas intraoperatórias. A via escolhida também não influenciou a maior ou menor persistência de “leaks” (frequente como se sabe neste tipo de Cirurgia), nem aliás curiosamente o tipo de reforço da sutura utilizado. A persistência de “leaks” por mais de 7 dias foi aliás a complicação mais frequente da LVRS, essencialmente ligada ao padrão (enfisema dos lobos superiores) e gravidade da doença, à existência de aderências pleurais extensas, e ao uso prolongado de corticóides inalados.15 Os doentes operados por esternotomia, tiveram um tempo operatório inferior, menos frequentemente hipoxemia e menos complicações intraoperatórias. Em compensação, a demora média foi inferior na VATS (mas não significativa) e os custos relacionados com intervenção e internamento inferiores na VATS. 26 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Custos O NETT compreendia uma análise económica prospectiva paralela. Os primeiros resultados foram publicados em 2003, com base nos resultados de 1.218 participantes com 2,4 anos de follow-up médio.16 O custo total por doente só era mais elevado na LVRS do que no grupo tratado medicamente no primeiro ano após a Cirurgia, devido essencialmente aos custos da intervenção e ao internamento pós-operatório. Os custos-benefícios da LVRS em comparação com a terapêutica médica eram de $190,000 por QALY (Quality-adjusted life year) ganho aos 3 anos e foram estimados em $53,000 por QALY no total e $21,000 no subgrupo mais favorável (enfisema do lobo superior com baixa capacidade de exercício). Foram estes resultados que levaram à aprovação nos EUA pela CMS (Serviços da Medicare e Medicaid) da cobertura da LVRS por estas entidades. Em 2007, foi publicada uma actualização com avaliação dos custos incluindo os resultados aos 5 anos de follow-up e novas projecções para os 10 anos. Aos 5 anos, os custos-benefícios em relação à terapêutica médica eram de $140,000 por QALY ganho ($77,000 no grupo mais favorável da LVRS). A projecção para os 10 anos foi corrigida para $54,000 QUALY, com base em novas extrapolações para a sobrevivência e custos.17 As avaliações realizadas durante o ensaio sugerem que o custo-benefício da LVRS é menos elevado quando comparado com o de outras terapêuticas utilizadas em doentes do mesmo grupo etário. ııLVRS E TRANSPLANTAÇÃO PULMONAR Dada a escassez de dadores de órgãos e o tempo de espera para o transplante pulmonar de doentes com enfisema em estádio avançado, e como até certo ponto as indicações para LVRS e transplantação se sobrepõem, a LVRS tem sido utilizada como alternativa ou ponte para a transplantação.18 Um dos aspectos a ser considerado é a hipótese de a LVRS aumentar a morbilidade numa transplantação ulterior. Em 2002, foi publicado um estudo retrospectivo19 de 15 doentes em que não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos comparados (transplantação e LVRS seguida de transplantação), no que respeita a gastos em sangue, duração da intubação, estadia na UCI e internamento. Também não houve diferenças significativas na função respiratória, nem na sobrevida a longo prazo (sobrevida média de 31,8 meses na conclusão do estudo). A LVRS adiou o momento da transplantação em média por 28,1+/- 17,2 meses sem aumento de morbilidade ou mortalidade. A LVRS bilateral foi ainda mais eficaz permitindo adiar o transplante por 34,9 +/- 29,8 meses. Noutro estudo, este prospectivo, realizado em Zurique e apresentado em 2005 no 41º Annual Meeting of the Society of Thoracic Surgeons e publicado em 2006, Walter Weder e col. com base em 216 procedimentos executados entre 1994 e 2005, os autores concluem que em doentes seleccionados com Enfisema pulmonar, em estádio terminal, candidatos a transplantação, a cirurgia de redução de volume pode aliviar os sintomas e melhorar a função CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR pulmonar e qualidade de vida a ponto de permitir adiar a transplantação por 4 a 5 anos. Acrescentam que a redução de volume primária não tem impacto adverso nos resultados da transplantação e não influencia a candidatura dos doentes à transplantação.20 A Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar também foi utilizada após transplantação pulmonar unilateral por enfisema em casos em que se desenvolveu uma hiperexpansão do pulmão nativo com compressão do pulmão transplantado, tendo-se obtido deste modo uma melhoria significativa da função pulmonar e da sintomatologia.21 Alguns casos, associando transplantação pulmonar unilateral e cirurgia de redução de volume do pulmão nativo contralateral simultânea, foram praticados no Canadá, de modo electivo22, para melhorar a função do pulmão restante e com resultados intermédios entre a transplantação pulmonar unilateral isolada e a bilateral. Tratava-se de compensar a escassez de dadores para transplante bilateral e não de corrigir as consequências da hiperinsuflação do pulmão nativo, mas não é um procedimento de escolha estabelecido. ııNÓDULO SOLITÁRIO DO PULMÃO, CANCRO DO PULMÃO E CIRURGIA DE REDUÇÃO DE VOLUME PULMONAR Cancro do Pulmão, DPOC e Enfisema pulmonar estão todos relacionados com o consumo de tabaco, não sendo pois de espantar que possam coexistir num número importante de doentes. As alterações da função respiratória na DPOC e no Enfisema pulmonar excluíram, durante muito tempo, esses doentes de uma solução cirúrgica curativa, mas os estudos efectuados a propósito da Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar e os resultados obtidos em certos grupos de doentes vieram lançar a hipótese de uma ressecção pulmonar num doente com Enfisema e um Cancro do Pulmão localizado (sob a forma de nódulo solitário, por exemplo) poder tratar simultaneamente as duas doenças. Os melhores resultados serão evidentemente alcançados nos casos em que o nódulo pulmonar foi detetado durante o estudo para a LVRS, e desde que o nódulo esteja localizado no parênquima a ressecar na redução de volume (de preferência um lobo superior).23 ıı CONCLUSÕES Desde há muito que se procurou um papel para a Cirurgia no tratamento da DPOC/Enfisema pulmonar. Das várias intervenções tentadas apenas 3 tiveram impacto: a ressecção de bolhas gigantes nos casos de enfisema bolhoso gigante localizado, a transplantação pulmonar e a Cirurgia de Redução e Volume Pulmonar (LVRS). Esta última, inicialmente proposta por Brantigan sem grande sucesso, foi retomada por Cooper a partir de 1993, que lhe deu a sua forma moderna. A LVRS, para além do seu papel terapêutico no Enfisema pulmonar grave, contribuiu para a acumulação de informação sobre a DPOC, do ponto de vista patogénico e da caracterização imagiológica de diversos fenotipos, e desenvolveu os cuidados anestésicos e cirúrgicos dos doentes com enfisema assim como a sua reabilitação. Grande parte dos nossos conhecimentos actuais sobre os efeitos da LVRS deriva do NETT, ensaio prospectivo, randomizado controlado e multicêntrico, realizado nos EUA e iniciado em 1997-98. O NETT, pelas suas características, número de doentes recrutados, desenho de ensaio, repercussão na comunidade médica americana e consequências nos sistemas de saúde, domina o tema da Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar. Registe-se no entanto, que este tipo de Cirurgia também tem sido realizado desde os anos 90, após ter sido reavivado por Cooper, fora dos EUA, na Europa24, no Canadá25,26, etc. onde foram publicados diversos estudos, alguns prospectivos, ou até randomizados, se bem que de facto nenhum tenha as características e a extensão do NETT. Os critérios de selecção preconizados pelo NETT têm aliás continuado a ser utilizados para estudos ulteriores e independentes.27 O NETT tinha por objectivo principal a comparação entre o tratamento médico optimizado, incluindo a reabilitação pulmonar e o tratamento médico optimizado, acrescido da cirurgia de redução de volume. Os resultados obtidos após randomização de 1.218 doentes, mostraram uma melhoria global da sobrevivência para o grupo da LVRS (com taxa de risco de mortalidade aos 5 anos de 0,86), melhoria dos valores de exercício máximo durante 3 anos e da qualidade de vida durante 4 anos. Uma avaliação precoce dos resultados (publicada em 2001), identificou um grupo de alto risco de mortalidade, constituída pelos doentes que tinham um FEV1 inferior a 20% do seu valor preditivo e uma distribuição homogénea do enfisema em TC ou uma capacidade de difusão de monóxido de carbono inferior a 20% do seu valor preditivo; estes doentes devem desde logo ser excluídos da cirurgia. Em análises posteriores, o ensaio permitiu distinguir 4 subgrupos, e estabelecer que o subgrupo que mais beneficiava da LVRS era o dos doentes com enfisema predominante dos lobos superiores e baixa capacidade de exercício. Os resultados são melhores com a ressecção bilateral, a via de abordagem (esternotomia mediana ou VATS bilateral) parece ser indiferente assim como os meios utilizados para diminuir os “leaks” pulmonares. Chegou-se também à conclusão que a LVRS não impede a realização ulterior de uma transplantação, não originando mais ou mais graves complicações, que pode servir de “ponte” para esta, adiando-a por alguns anos, e ainda que a ressecção de volume do pulmão nativo restante pode ser associada à transplantação pulmonar, melhorando a ventilação. O NETT demonstrou que a LVRS, ao tratar a hiperinsuflação no enfisema e assim modificando a forma da doença, oferece a um grupo de doentes com enfisema, uma melhoria significativa da tolerância ao exercício, função pulmonar e qualidade de vida, assim como da sobrevida nos doentes com predomínio de enfisema nos lobos superiores e baixa capacidade de exercício. Mais recentemente, têm sido desenvolvidas diversas técnicas invasivas N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 27 DPOC - ENFISEMA broncoscópicas que poderão tratar um grupo mais alargado de doentes com enfisema grave e hiperinsuflação.28 Um condensado da informação, colhida pela realização do NETT e dos resultados obtidos, foi publicado em 2011 no American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine.29,30 Apesar destes resultados encorajadores, a LVRS não tem sido uma prática muito difundida. Mesmo nos EUA, o número de doentes submetidos a Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar tem sido limitado, pensa-se que, em parte, devido às restrições introduzidas pelos sistemas de saúde e ao número limitado de centros aprovados. Entre nós, trata-se mais provavelmente de muitos médicos ainda desconhecerem as vantagens da LVRS e não estarem familiarizados com os critérios de avaliação e selecção dos candidatosb. Parece-nos contudo que existe suficiente evidência para incluir a LVRS no armamentário da terapêutica do Enfisema pulmonar grave/DPOC, quando a terapêutica médica se tornou insuficiente e antes de optar pela Transplantação Pulmonar. b Nos Proceedings of the American Thoracic Society vol 5 pg 461-467, de 2008, vêm publicados os resultados de um encontro do Steering Comittee do NETT, em Outubro de 2006, em que foram discutidas diversas questões relacionadas com os aspectos clínicos, a avaliação, selecção, resultados dos doentes com Enfisema submetidos a LVRS. Essas questões, apresentadas sob a forma: «Porque recomendaria a LVRS a um doente seu?», «Quando deve considerar a hipótese de LVRS para um doente?», etc. e constituem um interessante resumo do que os clínicos devem saber em matéria de Cirurgia de Redução de Volume Pulmonar, no tratamento do enfisema. ıı REFERÊNCIAS 1. Snider GL. Reduction pneumoplasty for giant bullous emphysema. Chest 1996;109:540-48. 2. Brantigan O, Mueller E. 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National Emphysema Treatment Trial Research Group. Patients at high risk of death after lung-volume-reduction surgery. N Engl J Med 2001;345:1075-1083. 9. National Emphysema Treatment Trial Research Group. A randomized trial comparing lung-volume-reduction surgery with medical therapy for severe emphysema. N Engl J Med 2003;348:2059-73. 28 12. Naunheim KS, Wood DE, Krasna MJ, DeCamp MM Jr, Ginsburg ME, MCKenna RJ Jr, Criner GJ, Hoffman EA, Sternberg AL, Deschamps C et al. (NETT). Predictors of operative mortality and cardiopulmonary morbidity in the national Emphysema Treatment Trial. J Thorac Cardiovasc Surg 2006;131:43-53. 13. McKenna RJ Jr, Brenner M, Fischel RJ, Gelb AF. Should lung volume reduction surgery for emphysema be unilateral ou bilateral? J Thorac Cardiovasc Surg 1996;112:1331-1339. 14. National Emphysema Treatment Trial Research Group (McKenna RJ Jr, Benditt JO, DeCamp M, Deschamps C…, Ramsey S, Reilly J.). Safety and efficacy of median sternotomy versus video-asisted thoracic surgery for lung volume reduction surgery. J Thorac Cardiovasc Surg 2004;127:1350-60. 15. DeCamp MM, Blackstone EH, Naunheim KS et al. Patient and surgical factors influencing air leak after lung volume reduction surgery: lessons learned from the National Emphysema Treatment Trial. Ann Thorac Surg 2006;82:197-207. 16. Ramsey SD, Berry K, Etzioni R, Hutchinson F, …Wood DE. (NETT). Cost effectiveness of Lung-Volume-Reduction-Surgery for patients with severe Emphysema. N Engl J Med 2003;348:2092-102. 17. Ramsey SD, Shroyer AL, Sullivam SD, Wood DE. Updated evaluation of the cost-effectiveness of Lung Volume reduction surgery. Chest 2007;131:823-832. 18. Zenati M, Keenan RJ, …Landreneau RJ, Griffith BP. Role of lung reduction surgery in lung transplant candidates with pulmonary emphysema. Ann Thorac Surg 1996;62:994-9. 19. Burns KEA, Keenan RJ, …Zenati MA. Outcomes of lung volume reduction surgery followed by lung transplantation: a matched cohort study. Ann Thorac Surg 2002;73:1587-93. 20. T utic M, Lardinois D, Korom S,…, Russi EW, Weder W. Lung Volume Reduction Surgery as an alternative or bridging procedure to lung Transplantation. Ann Thorac Surg 2006; 82:208-213. 21. Kroshus TJ, Morton Bolman III R, Kshettry VR. Unilateral volume reduction after single-lung transplantation for emphysema. Ann Thorac Surg 1996;62:363-8. 22. Todd TH RJ, Perron J et al. Simultaneous single-lung transplantation and lung volume reduction (Case report). Ann Thorac Surg 1997;63:1468-70. 23. Criner GJ. Endoscopic interventions in severe emphysema. Am J Respir Crit Care Med 2009;180-684. 24. Hillerdal G, Lofdal CG, Strom K, …, Gyllsdedt E. Comparison of Lung Volume Reduction Surgery and physical training on health status and physiologic outcomes: a randomized controlled clinical trial. Chest 2005;128:3489-99. 25. Miller JD, Malthaner Goldsmith CH, …, McDonald E. Lung volume reduction for emphysema and the Canadian Lung volume Reduction Surgery (CLVR) Project. Can Respir J 1999;6(1):26-32. 26. M iller JD, Berger RL, Malthaner RA, …Wright CD. Lung volume reduction surgery vs. medical treatment: for patients with advanced emphysema. Chest 2005;1166-1177. 27. Ginsburg ME, Thomashow BM, Yip CK, …Sonett JR. Lung Volume Reduction Surgery using the NETT selection criteria. Ann Thorac Surg 2011;91:1556-1561. 28. Berger RL, DeCamp MM, Criner GJ, Celli BR. Lung Volume Reduction Therapies for advanced Emphysema. Chest 2010;138:407-417. 10. N ational Emphysema Treatment Trial Research Group. Long-term follow-up of patients receiving lung-volume-reduction surgery versus medical therapy for severe emphysema by the national Emphysema Treatment Trial Research Group. Ann Thorac Surg 2006;82:431-43. 29. Criner GJ, Cordova F, Sternberg AL, Martinez FJ. The national Emphysema Treatment Trial. Part I: lessons learned about Emphysema. Am J Resp Crit Care Med 2011;184:763-770. 11. Criner GJ. Lung volume reduction as an alternative to transplantation for COPD. Clin Chest Med 2011;32(2):379-397. 30. Criner GJ, Cordova F, Sternberg AL, Martinez FJ. The National Emphysema Treatment Trial. Part II: lessons learned about Lung Volume Reduction Surgery. Am J Resp Crit Care Med 2011;184:881-893. boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Normas Nett Figura 1 - A lgoritmo das opções cirúrgicas no Enfisema grave; Segundo indicações do NETT. Traduzido de Patel N, DeCamp M e Criner G. Lung Transplantation and Lung Volume Reduction Surgery versus Transplantation in Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Proc Am Thorac Soc 2008;5:447-453. 1 Segundo Celli BR et al. The body mass index, air-flow obstruction, dyspnea and exercise-capacity index in COPD. N Engl J Med 2004;350:1005-1012 Evidência radiográfica de enfisema sobretudo LS Fumadores activos Hiperinsuflação (CPT >100% previsto e VR >150% do previsto) Bronquiectasias FEV1 >20% e <45% previsto (pós-broncodilatação) Nódulo(s) pulmão não esclarecidos DLCO >20% previsto Expectoração excessiva diária Dispneia grave Toracotomia/Esternotomia/Lobectomia prévia Restrição das actividades quotidianas Doença pleural evidente Diminuição da qualidade de vida Isquémia coronária Abstinência do tabaco (ex-fumadores mais de 4 meses) Hipertensão pulmonar Bons candidatos <75 anos de idade Baixa fracção de ejecção do VE Obesidade Esteróides sistémicos >20mg prednisolona/dia Figura 2 - Critérios de Inclusão e de exclusão dos candidatos a LVRS, aplicados pelo National Emphysema Treatment Trial (NETT). N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 29 Texto Original Síndrome de Apneia do Sono e Risco Cardiovascular Sleep Apnea Syndrome and Cardiovascular Risk Paula Pinto1 Resumo A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um distúrbio respiratório com elevada prevalência na população e com enormes consequências a nível socioeconómico, sendo considerado atualmente um problema de Saúde Pública. A associação da SAOS a complicações cardiovasculares, nomeadamente hipertensão arterial, tem sido apontada como responsável pelo aumento da morbilidade e mortalidade observadas nos doentes com SAOS. É consensual que existe uma patogénese multifatorial na associação da SAOS com a patologia cardiovascular, envolvendo vários mecanismos fisiopatológicos, como sejam ativação simpática, inflamação sistémica, disfunção endotelial, stress oxidativo vascular e disfunção metabólica. Este artigo faz uma revisão da literatura sobre a associação entre a SAOS e doença cardiovascular. Palavras-chave: Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono, Doença Cardiovascular. Abstract Obstructive sleep apnea (OSA) is an increasingly recognized public health problem. Considerable evidence supports an independent association between OSA and cardiovascular disease, which is particularly strong for systemic arterial hypertension. The pathogenesis of this association is likely to be multifactorial, involving a diverse range of mechanisms including increased sympathetic activity, systemic inflammation, endothelial dysfunction, oxidative stress and metabolic dysregulation. This paper reviews the literature about the association between OSA and cardiovascular disease. Key-words: Obstructive Sleep Apnea, Cardiovascular Disease. A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um distúrbio respiratório com elevada prevalência na população e com enormes consequências a nível socioeconómico, sendo considerado atualmente um problema de Saúde Pública, na medida em que as suas repercussões neuropsicológicas propiciam a ocorrência de acidentes laborais e de viação. Por outro lado, a associação da SAOS a complicações cardiovasculares, nomeadamente hipertensão arterial, doença coronária e doença cerebrovascular tem sido apontada como responsável pelo aumento da morbilidade e mortalidade observadas nos doentes com SAOS.1 Assistente Hospitalar de Pneumologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital Pulido Valente Unidade de Fisiopatologia Respiratória – Serviço de Pneumologia II Professora Auxiliar da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa 1 30 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Num estudo realizado na consulta de Patologia do Sono do Hospital Pulido Valente, verificou-se que numa amostra de 305 doentes com SAOS, 60% dos mesmos apresentavam hipertensão arterial e 11,8% sofriam de doença coronária. A prevalência de outros fatores de risco cardiovascular foi também elevada, nomeadamente dislipidemia (43,3%) e diabetes (20,3%).2 Existe numerosa literatura recente que relaciona a SAOS com o risco cardiovascular, nomeadamente estudos transversais, epidemiológicos, de intervenção ou com recurso a modelos animais. Síndrome de Apneia do Sono e Risco Cardiovascular Um estudo epidemiológico de referência – Sleep Heart Health Study, envolvendo 6.424 indivíduos, demonstrou que a SAOS está relacionada com um aumento do risco cardiovascular e que este risco é tanto mais elevado quanto maior a gravidade da SAOS.3 Também um outro estudo englobando 14.589 doentes seguidos durante cerca de quatro anos e meio concluiu que o risco de morte súbita de causa cardiovascular aumenta com a gravidade da SAOS.4 Além disso, resultados publicados por Gami revelaram a existência de um padrão circadiário de morte súbita na SAOS, que mostra que os doentes com esta patologia têm um pico de morte de causa cardíaca durante as horas de sono, entre a meia-noite e as seis da manhã, contrariamente aos indivíduos sem SAOS, em que o pico de morte de causa cardíaca ocorre entre as seis da manhã e o meio-dia.5 A terapêutica com CPAP diminui grandemente o risco de eventos cardiovasculares fatais, assim como o número de eventos não fatais, como enfarte, acidente vascular cerebral e eventos coronários requerendo angioplastia ou cirurgia de bypass.6 A associação entre a SAOS e a hipertensão arterial tem sido a que mais estudos tem suscitado, sendo o trabalho mais citado na literatura o estudo Wisconsin que mostrou que a apneia do sono é um fator de risco independente para hipertensão arterial, sendo esse risco tanto maior quanto maior a gravidade da doença e que indivíduos com índice de apneia hipopneia superior a 15 eventos respiratórios/hora têm um risco três vezes superior de sofrer de hipertensão arterial.7 De facto, a SAOS é altamente frequente na população de doentes hipertensos, podendo atingir prevalências de cerca de 47%.8 O padrão de hipertensão arterial destes doentes é totalmente diferente do observado nos indivíduos hipertensos não afetados pela SAOS, pois naqueles os valores tensionais não diminuem durante a noite (tornam-se não dippers)9 e a hipertensão é muito frequentemente refratária à terapêutica. Num estudo em que se pretendia determinar a prevalência de SAOS em doentes com hipertensão refratária à terapêutica medicada com 3 ou mais fármacos encontrou um valor de prevalência de 83% de SAOS nos doentes estudados.10 As últimas normas de abordagem diagnóstica da hipertensão arterial, referenciam a apneia do sono como um fator etiológico a despistar na presença de hipertensão arterial refratária à terapêutica e em doentes com um padrão não dipper nos registos ambulatórios de pressão arterial de 24 horas.11,12 A terapêutica com CPAP reduz a hipertensão arterial associada ao SAOS, um efeito que é notável a curto13 e a longo prazo14 e dose-dependente15 (a pressão do CPAP deve estar ajustada a um nível ótimo), tendo sido provado que uma redução da pressão arterial de cerca de 10mmHg se traduz numa diminuição significativa de eventos coronários (37%) e de acidentes vasculares cerebrais (56%).14 Mesmo em doentes com SAOS e hipertensão arterial refratária à terapêutica, o CPAP diminui significativamente os valores tensionais, particularmente à noite, conseguindo normalizar o padrão circadiário da pressão arterial.16 A SAOS é atualmente considerada um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença coronária, podendo esta estar presente em cerca de 25% dos doentes com SAOS, sendo esse risco reduzido pelo tratamento com CPAP.17 É de salientar que pode existir doença coronária subclínica, (traduzida por calcificações das artérias coronárias que constituem marcadores de aterosclerose) em cerca de 67% de doentes com SAOS.18 Em doentes com eventos coronários agudos, a prevalência de SAOS pode variar entre 56% na fase aguda e 28% cerca de seis semanas após o episódio agudo.19 Deste modo, é fundamental a inclusão da SAOS nos modelos de prevenção primária e secundária da doença coronária. Os doentes com SAOS apresentam um risco duas a quatro vezes superior de desenvolverem arritmias, sendo a fibrilhação auricular e a taquicardia ventricular as mais frequentes.20 A prevalência de SAOS em doentes com fibrilhação auricular pode variar entre 32 a 49% nos diversos estudos.21 De referir que a obesidade e o grau de dessaturação noturna constituem fatores de risco independentes para o desenvolvimento de fibrilhação auricular nos doentes com SAOS de idade inferior a 65 anos.22 A presença de arritmias noturnas em doentes com SAOS pode explicar o aumento da prevalência de morte súbita descrita recentemente neste grupo de doentes.5 Tendo em conta que as arritmias são mais frequentes no período noturno, o registo de Holter pode ajudar na suspeita diagnóstica da SAOS. A literatura disponível em relação à insuficiência cardíaca é significativamente menor, mas os distúrbios respiratórios do sono são comuns em doentes com insuficiência cardíaca, sendo a respiração de Cheyne-Stokes o padrão respiratório mais frequente nestes doentes. A presença de síndrome de apneia obstrutiva do sono associa-se a um risco duplo de desenvolvimento de insuficiência cardíaca.3 Nos doentes com esta patologia, a prevalência de apneias obstrutivas pode variar entre 11 a 38% e a de apneias centrais entre 33 e 42% de acordo com os diversos trabalhos publicados.23 Num estudo envolvendo 203 doentes com insuficiência cardíaca, a prevalência de SAOS foi de 71%, estando as apneias obstrutivas presentes em 43% e a respiração de Cheyne-Stokes presente em 28% dos doentes.24 Tendo em conta o impacto negativo da SAOS no prognóstico dos doentes com esta patologia associada, os autores sugerem que todos os doentes com insuficiência cardíaca e uma fração de ejeção <40% devem ser investigados com estudos do sono para despiste de SAOS. É ainda referido que esta abordagem diagnóstica deve ser adotada independentemente da presença ou não de sintomas sugestivos de patologia do sono. Relativamente aos efeitos da terapêutica com CPAP, os resultados não têm sido consensuais nos vários estudos, devido a diferenças metodológicas entre os mesmos. Assim, um dos estudos mais referenciados na literatura nesta área, o CANPAP (Canadian Continuous Positive Airway Pressure for Patients with Central Sleep Apnea and Heart Failure Trial) que envolveu 258 doentes com insuficiência cardíaca e apneias centrais seguidos durante dois anos, apesar de ter havido uma melhoria da fração de ejeção, uma diminuição da atividade simpática e um aumento da tolerância ao esforço, não se verificou uma melhoria da sobrevida dos doentes tratados com CPAP, tendo inclusivamente o estudo sido interrompido precocemente devido a uma mortalidade superior no grupo N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 31 Texto Original tratado com CPAP.25 Desta forma, os autores alertaram para a não recomendação do CPAP na presença de insuficiência cardíaca e apneias centrais. Num estudo englobando cerca de 164 doentes com insuficiência cardíaca e SAOS sem evidência de apneias centrais, seguidos por um período médio de 3 anos, verificou-se uma tendência para um benefício na sobrevida no grupo de doentes tratados com CPAP comparativamente ao grupo que apenas fazia terapêutica farmacológica. No entanto, os resultados não foram conclusivos, devido às diferenças atingidas não terem sido estatisticamente significativas.26 Um estudo com 88 doentes com insuficiência cardíaca e síndrome de apneia obstrutiva do sono, demonstrou que a terapêutica com CPAP durante um período médio de dois anos se associou a uma melhoria na mortalidade e a uma redução do número de internamentos hospitalares.27 Deste modo, apesar de haver evidência de que o tratamento das apneias centrais e obstrutivas nos doentes com insuficiência cardíaca melhora a função cardíaca, são necessários estudos com um maior número de doentes e com várias intervenções terapêuticas para além do CPAP, para avaliar os benefícios do tratamento dos distúrbios respiratórios do sono a nível da mortalidade destes doentes. A prevalência de distúrbios respiratórios do sono entre os doentes que já tiveram acidentes vasculares cerebrais é elevada, podendo variar entre 44 a 74% consoante os diversos estudos publicados.28 A presença de SAOS nos doentes com acidentes vasculares cerebrais confere um maior risco de mortalidade prematura.29 Embora os acidentes vasculares cerebrais possam originar apneias centrais, a maioria dos doentes têm síndrome de apneia obstrutiva do sono que antecede o evento cerebrovascular. É de salientar que a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais nos doentes com SAOS pode ser precedida por doença cerebrovascular subclínica, frequentemente designada como enfarte cerebral silencioso, que pode ser detetável através de ressonância magnética cerebral.30 Os doentes com SAOS apresentam também níveis elevados de duas proteínas associadas com a ativação das plaquetas que atuam como percursoras de aterosclerose que são a sCD40L e a sP-selectina, cujos níveis são reduzidos com o tratamento com CPAP.30 Embora o mecanismo fisiopatológico que está na base da associação entre estas duas patologias seja ainda desconhecido, é possível que se deva a uma redução da resposta vascular cerebral à hipoxia nos doentes com síndrome obstrutiva do sono. A terapêutica com CPAP aumenta esta reatividade vascular cerebral para níveis normais.31 O CPAP reduz a pressão arterial, diminui as alterações de coagulação, a sonolência diurna, a disfunção cognitiva, a duração do internamento e diminui a recorrência de novos eventos cerebrovasculares, melhorando a qualidade de vida destes doentes.32 Deste modo, o tratamento da SAOS é fundamental para a prevenção secundária dos acidentes vasculares cerebrais. 32 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 A associação entre SAOS e diabetes mellitus tem sido descrita mais recentemente, parecendo a SAOS constituir um fator de risco para o desenvolvimento de resistência à insulina, independentemente da obesidade.33,34,35 A SAOS está ainda implicada no desenvolvimento de síndrome metabólica.36 A disfunção metabólica, presente na SAOS, resulta de numerosos eventos fisiopatológicos. A SAOS condiciona hipoxemia intermitente e despertares frequentes com fragmentação do sono que levam a uma privação crónica de sono, que por sua vez origina ativação simpática com aumento do cortisol e resistência à insulina, que se traduz numa maior incidência de diabetes e de aumento do peso corporal. Relativamente aos efeitos da terapêutica com CPAP na melhoria do controlo da glicemia, os resultados dos vários estudos não têm sido consensuais, derivados em parte da escassez de estudos controlados.37,38,39 É consensual que existe uma patogénese multifatorial na associação da SAOS com a patologia cardiovascular. Os fenómenos noturnos da SAOS incluem hipoxemia intermitente, reoxigenação, hipercapnia, alterações da pressão intratorácica, despertares frequentes e fragmentação do sono, que vão desencadear fenómenos de ativação simpática, stress oxidativo vascular, disfunção endotelial, inflamação, alterações da coagulação e disfunção metabólica.40 No que concerne à hipoxemia, este fenómeno é, por si só, um fator de ativação do sistema nervoso simpático. O tratamento com CPAP tem a capacidade de reverter os fenómenos de ativação simpática, e este efeito é visível a longo prazo. A SAOS implica um aumento da produção de radicais livres e uma diminuição da capacidade de produção de antioxidantes, originando stress oxidativo vascular, tendo sido estabelecido que o CPAP reverte os efeitos desta agressão oxidativa. Também a disfunção endotelial é revertida pela terapêutica com CPAP. Os episódios de hipoxia intermitente/reoxigenação que ocorrem durante a noite nos doentes com SAOS induzem uma resposta adaptativa do organismo, com aumento dos níveis de marcadores de inflamação, tendo sido verificado que o CPAP reverte os níveis de marcadores inflamatórios. Os doentes com SAOS apresentam também níveis elevados de agregação plaquetária e elevado risco de trombose, conseguindo o CPAP reduzir a agregação plaquetária e normalizar a coagulação.41 Tendo em conta estes factos, é fundamental a prevenção, uma vez que os fenómenos fisiopatológicos que estão na origem da SAOS, nomeadamente o stress oxidativo vascular, a disfunção endotelial e a aterogénese podem aparecer em idades precoces. De facto, há evidência recente destes fenómenos em crianças com SAOS.42,43,44,45 Os desafios futuros incluem a determinação da relação da carga genética com a morbilidade e mortalidade cardiovascular e a investigação de outras estratégias terapêuticas que não o CPAP, que permitam também reduzir o risco cardiovascular. Síndrome de Apneia do Sono e Risco Cardiovascular ıı REFERÊNCIAS 1. Somers VK. Sleep – A new cardiovascular frontier. N Engl J Med 2005;353:2070-2073. 2. José Pedro Boléo-Tomé, Sara Salgado, Ana Sofia Oliveira, Paula Pinto, António Bugalho, Amélia Feliciano, Cristina Canhão, Joana Teixeira, Ana Rita Dias, Cristina Bárbara. Prevalência de doença cardiovascular numa população de doentes com síndrome de apneia obstrutiva do sono. Revista Portuguesa de Clínica Geral 2008;24:1-7. 3. Shahar E, Whitney CW, Redline S, Lee ET, Newman AB, Nieto FJ, O’connor GT, Boland LL, Schwartz JE, Samet JM. Am J Respir Crit Care Med 2001;163:19-25. 4. Lavie P, Lavie L, Herer P. 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N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 33 Texto Original 36. Kono M, Tatsumi K, Saibara T, Nakamura A, Tanabe N, Takiguchi Y, Kuryiama T. Obstructive sleep apnea syndrome is associated with some components of metabolic syndrome. Chest 2007;131:1387-1392. 37. Babu AR, Herdegen J, Fogelfeld L, Shott S, Mazzone T. Type 2 diabetes, glycemic control and continuous positive airway pressure in obstructive sleep apnea. Arch Intern Med 2005;165:447-452. 38. H arsch IA, Schahin SP, Radespiel-Troger M et al. Continuous positive airway pressure treatment rapidly improves insulin sensitivity in patients with obstructive sleep apnea syndrome. Am J Respir Crit Care Med 2004;169:156-162. 39. W est SD, Nicoll DJ, Wallace TM, Matthews DR, Stradling JR. Effect of CPAP on insulin resistance and HbA1c in men with obstructive sleep apnea and type 2 diabetes. Thorax 2007;62:969-974. 40. Lopez-Jimenez F, Kuniyoshi FHS, Gami A, Somers VK. 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É uma situação com uma elevada prevalência, estimada em Portugal por Fátima Ceia e colaboradores em cerca de 4% em adultos com mais de 25 anos1, com tendência para aumentar face a uma cada vez mais eficaz terapêutica para a insuficiência cardíaca, a um aumento da esperança média de vida e ao desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes na doença coronária. Esta prevalência que em termos globais foi estimada por Mosterd2 em 1-2% podendo atingir valores acima dos 10% em pessoas com pelo menos 70 anos. A introdução de novos fármacos, a perspetiva da revascularização coronária e transplante cardíaco cada vez com melhores resultados, a reabilitação cardíaca, bem como a introdução de devices cardíacos de ressincronização e assistência ventricular, têm dado ao clínico instrumentos que possibilitam a melhoria da qualidade de vida destes doentes, bem como a sua sobrevida. No entanto, muitas vezes a abordagem destes doentes é fragmentada e quase sempre acompanhada de múltiplos internamentos e associada a um prognóstico reservado. A noção de orientação integrada e multidisciplinar surge transversalmente nas várias publicações associadas ao tema e nas últimas orientações da Sociedade Europeia de Cardiologia sobre o tratamento da insuficiência cardíaca publicadas; este ano surge a recomendação que todos os doentes com insuficiência cardíaca deverão ser seguidos em programas multidisciplinares de forma a reduzir o risco de hospitalizações por insuficiência cardíaca3 (Classe I e nível de evidência A). Palavras-chave: Insuficiência Cardíaca, Disfunção Ventricular, Doença Coronária, Centros Especializados em IC. Abstract Heart failure syndrome results from left and/or right heart dysfunction. It’s a highly prevalent condition, estimated in Portugal to be around 4% in patients over 25 years old according to Fatima Ceia and colleagues1, with a trend to increase regardless of a more effective therapy, an increase in life span, the development of more effective therapeutic strategies in coronary artery disease. The global prevalence was estimated by Mosterd2 in 1-2% and can be as high as 10% in people over 70 years old. The introduction of new drugs, the improvement of coronary revascularization and the possibility of cardiac transplant with better and better results, cardiac rehabilitation as well as cardiac devices of ressinchronization and ventricular assist devices have given the clinician the possibility to improve the quality of life and survival in these patients. Nevertheless, the medical approach of these patients is fragmented and frequently associated to multiple hospital admissions and a dismal prognosis. The perspective of an integrated and multidisciplinary approach is referred in several publications and is part of the European Society of Cardiology guidelines for treatment of patients with heart failure that all patients with heart failure should be regularly followed in multidisciplinary programs in order to decrease the risk of hospital admissions (class I, level of evidence A). Key-words: Heart Failure Syndrome, Heart Dysfunction, Coronary Artery Disease. 1 Hospital de Dia de Insuficiência Cardíaca – Serviço de Cardiologia – Centro Hospitalar Lisboa Norte N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 35 Texto Original ıı Programas de Seguimento de Doentes com Insuficiência Cardíaca ııHospital de Dia de Insuficiência Cardíaca do Hospital Pulido Valente Múltiplos estudos mostraram a superioridade e custo-benefício de centros especializados no tratamento da insuficiência cardíaca.4 O Hospital de Dia de Insuficiência Cardíaca (HDIC) do Centro Hospitalar Lisboa Norte encontra-se localizado no piso 2 do Hospital Pulido Valente, inserido no Serviço de Cardiologia, ocupando duas salas e tem capacidade para avaliação simultânea de cinco doentes, com equipamento próprio. Estes programas devem ser multidisciplinares, com envolvimento de médicos, enfermeiros, técnicos e do próprio doente e família. Deve haver uma forte componente educativa a par de monitorização clínica e laboratorial. A ligação durante o primeiro internamento e orientação precoce após a alta hospitalar, a identificação de doentes de elevado risco e sintomáticos, a facilitação de acesso aos prestadores de cuidados em especial em períodos de descompensação, o ensino do doente relativamente aos sintomas e adesão à medicação e o apoio psicossocial dado a este e à família, são alguns dos componentes essenciais nestes programas. Do núcleo central fazem parte quatro cardiologistas residentes e três enfermeiras especialistas, que comunicam com outras valências (Figura 1). ıı Componentes de uma Clínica de Insuficiência Cardíaca Uma clínica de insuficiência cardíaca deve estar organizada de forma a permitir um canal direto dos doentes aos cuidados de saúde mais diferenciados. Os enfermeiros de insuficiência cardíaca funcionam como elo de ligação entre os vários elementos da unidade – médicos (como o cardiologista subespecialista em insuficiência cardíaca, o internista, o psiquiatra, o diabetologista, o fisiatra, etc.); técnicos (como cardiopneumologistas, nutricionistas ou fisioterapeutas), o serviço social e a farmácia. Torna-se também fundamental haver disponibilidade de recursos que permitam a realização de exames complementares de diagnóstico cardiológicos como a ecocardiografia, prova de esforço cardiopulmonar, laboratório de pacing, eletrofisiologia e hemodinâmica e também não cardiológicos como exames inerentes a outras especialidades (a gastroenterologia, pneumologia ou imagiologia geral). Figura 1 - Estrutura organizativa do HDIC. ııCasuística do HDIC São seguidos no HDIC cerca de 400 doentes, que têm processo próprio para além do processo hospitalar, preenchido de forma protocolada pelos médicos e enfermeiras (Gráfico 1). A complexidade no tratamento destes doentes com polimedicação e necessidade recorrente de ajuste, recurso a intervenção coronária, implantação de devices cardíacos, cirurgia valvular ou indicação para transplante implicam a presença de um cardiologista com especialidade nesta área. PAPEL DO ENFERMEIRO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O enfermeiro tem um papel relevante nesta estrutura já que deverá estar envolvido em programas de educação do doente e família, em assegurar a adesão do doente à terapêutica, na deteção precoce de descompensação e, como já foi referido anteriormente, na ligação entre os vários profissionais ligados ao seguimento destes doentes. 36 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Gráfico 1 - Número total de doentes seguidos no Hospital de Dia de Insuficiência Cardíaca nos últimos 3 anos. Seguimento de um Doente com Insuficiência Cardíaca A referenciação destes doentes é feita por médicos de Cardiologia ou Medicina Interna à equipa médica, através da consulta externa ou internamento. Nesta unidade são avaliados doentes com insuficiência cardíaca, a grande maioria, no contexto de miocardiopatia dilatada de etiologia variada (isquémica e não isquémica, valvular, hipertensiva, pós-quimioterapia, etanólica, viral). Existe, igualmente, um grupo importante de doentes com hipertensão pulmonar que são avaliados em colaboração com a consulta de Hipertensão Pulmonar do Serviço de Pneumologia. ııREFERÊNCIAS 1. Ceia F, Fonseca C, Mota T - Grupo de Investigação EPICA. Epidemiology of heart failure in mainland Portugal: new data from the EPICA study. Rev Port Cardiol. 2004 Sep;23 Suppl 3:III15-22. 2. Mosterd A, Hoes AW. Clinical epidemiology of heart failure. Heart 2007;93:1137-1146 3. McMurray, J, Adamopoulos, S, Anker, S, et al. 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A par da consulta existe o apoio do laboratório de ecocardiografia e provas de esforço cardiopulmonares, um laboratório de pacing e eletrofisiologia e um laboratório de hemodinâmica. Há ainda a possibilidade de internar doentes descompensados numa unidade de cuidados intermédios com capacidade para 4 camas ou numa enfermaria com capacidade para 16 camas. ıı Conclusão A insuficiência cardíaca é uma doença que leva a limitações não só a nível físico mas também social e familiar. O seu seguimento em unidades estruturadas, com o apoio de vários profissionais de saúde, permite um melhor acompanhamento destes doentes com impacto significativo na necessidade de hospitalização e mortalidade. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 37 Núcleos de Excelência no hospital Comunicação oral apresentada por Inês Faria, Carina Gaspar, Manuela Zamith, Isabel Matias, Rui César das Neves, Fátima Rodrigues e Cristina Bárbara no XXVIII Congresso de Pneumologia, realizado em Troia em Novembro de 2012 PROJETO TELEMOLD: SISTEMA DE TELEMONITORIZAÇÃO QUE COMBINA OXIMETRIA E QUANTIFICAÇÃO DA ATIVIDADE FÍSICA PARA UMA MELHOR ADEQUAÇÃO DA OXIGENOTERAPIA DE LONGA DURAÇÃO DOMICILIÁRIA TELEMOLD PROJECT: A TELEMONITORING SYSTEM THAT COMBINES OXIMETRY AND PHYSICAL ACTIVITY QUANTIFICATION TO IMPROVE LONG TERM OXYGEN THERAPY I Faria1, C Gaspar1, M Zamith1, I Matias1, RC Neves2, F Rodrigues1, C Bárbara1 Resumo Introdução: Atualmente, a prescrição de oxigenoterapia de longa duração domiciliária (OLD) baseia-se nos resultados obtidos em exames clínicos periódicos (gasometria arterial, prova de marcha de seis minutos e oximetria noturna), realizados em meio hospitalar. No entanto, há alguma evidência científica que as necessidades de oxigénio durante as atividades de vida diária podem não ser corretamente estimadas por estes exames, quando comparadas com a avaliação realizada com a oximetria ambulatória contínua. Objetivo: Avaliar o interesse clínico de um sistema de telemonitorização na otimização da OLD. Métodos: Foram monitorizados, em tempo real, 35 doentes com insuficiência respiratória (29 sob OLD, 6 em avaliação para OLD), seguidos num hospital universitário, com oxímetro digital (nonin Avant 4000) e acelerómetro (BioPlux motion). Os dados recolhidos foram enviados para um telemóvel por via Bluetooth e, posteriormente, para um servidor central através de tecnologia 3G ou GPRS. O acesso aos dados é restrito e é feito através da ligação à internet. Resultados: Cada doente foi monitorizado, em média, 7,6 ± 4,5 dias (variação entre 2-19), num total de 83,0±66,9 horas (4,8-228,8). A percentagem de registos válidos foi, em média, 65,4 ± 24,1% (0-100%). A percentagem de registos de repouso, exercício e sono por doente foram, em média, 28,4±21,3%, 6,5±5,5% e 59,3±24,6%, respetivamente. Dessaturação significativa durante os períodos de repouso, atividade e sono foi observada em 2, 26 e 9 doentes, respetivamente. A facilidade de utilização foi bastante boa (75,8% dos doentes consideraram ter sido fácil/muito fácil). Conclusão: Este estudo sugere que um sistema de telemonitorização que combine oximetria e quantificação da atividade física pode melhorar a prescrição da OLD nomeadamente em relação às atividades de vida diária. O projeto foi financiado pela Fundação Vodafone Portugal. Palavras-chave: Oximetria Ambulatória, Insuficiência Respiratória, Atividade Física. 1 2 38 Serviço de Pneumologia II; Hospital Pulido Valente – Centro Hospitalar Lisboa Norte EPE, Lisboa, Portugal Cast - Consultadoria e aplicações em Sistemas e Tecnologia, Lda., Lisboa, Portugal boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 PROJETO TELEMOLD Abstract Background: Standard assessment to long term oxygen therapy (LTOT) prescription involves periodic clinical tests (arterial blood gas, 6-min walk test and nocturnal oximetry) carried out in several hospital visits. However, there is some evidence that oxygen demand during daily activities may not be correctly estimated by such tests, when compared to continuous ambulatory oximetry. Aim: To evaluate the clinical usefulness of a home telemonitoring system in LTOT optimization. Methods: Thirty five respiratory failure patients (29 with LTOT, 6 under evaluation for LTOT) followed in an Universitary Hospital were real-time monitored with an oximeter sensor (Nonin Avant 4000 system) and an accelerometer (BioPlux motion). Signals were sent via Bluetooth to a mobile phone and then via 3G or GPRS to a server. Continuous and secure access to data through an Internet site was established. Results: Each patient was monitored in average 7.6±4.5 days (range 2-19), in a total of 83.0±66.9 hours (4.8-228.8). Percentage of valid records was in average 65.4± 24.1% (0-100%). Percentages of rest, activity and sleep records per patient were, in average, 28.4±21.3%, 6.5±5.5% and 59.3±24.6%, respectively. Significative desaturation during rest, activity and sleep was found on 2, 26 and 9 patients, respectively. Patient´s user-friendliness was fairly good (75.8% reported it as easy/very easy). Conclusion: Our study suggests that a telemonitoring system combining oximetry and physical activity evaluation may improve LTOT through a more adequate oxygen flow prescription, namely during daily activities. This project was funded with a grant by Fundação Vodafone Portugal. Key-words: Ambulatory Oximetry, Respiratory Failure, Physical Activity. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 39 Núcleos de Excelência no hospital 40 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 PROJETO TELEMOLD N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 41 Núcleos de Excelência no hospital 42 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 PROJETO TELEMOLD N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 43 Espaço Técnico Reabilitação da Marcha no Idoso: da Avaliação à Intervenção Elderly Gait Rehabilitation Ana Rita Amaro1; Marta Ramalhinho2; Natalina Alegria3; Sandra Miguel4; João Gorjão Clara5 O envelhecimento provoca diversas alterações fisiológicas que contribuem para a diminuição da capacidade funcional e da capacidade para a marcha. A avaliação da marcha e do equilíbrio ao longo das diversas fases do processo de envelhecimento é extremamente importante, pois permite a deteção precoce dessas alterações possibilitando a adoção de estratégias adequadas para a sua manutenção ou para a reabilitação. Os instrumentos utilizados na Avaliação Geriátrica Global da marcha são a Classificação Funcional da Marcha de Holden (1986), a Escala de Tinetti (1988) que também avalia o equilíbrio e o Timed Up and Go que avalia a mobilidade funcional. O exercício físico é determinante para um envelhecimento ativo e saudável e contribui para a manutenção da capacidade para a marcha e para as atividades de vida diária. Mesmo os idosos sedentários poderão iniciar a prática de exercício físico adequado à sua condição física, com benefícios para a sua saúde a vários níveis (físico, psíquico, metabólico, etc.). Em situações particulares deverá ser traçado um plano de reabilitação individualizado que compreenda as dimensões: Treino de Equilíbrio, Treino de Força, Treino Sensório-Motor, Treino de Atividade e Treino de Endurance. Palavras-chave: Envelhecimento, Avaliação Marcha, Exercício Físico, Reabilitação da Marcha. Abstract The aging process implies a number of physiological changes that lead to the decrease in functional ability and mobility impairment. A thorough examination of both gait pattern and balance prove to be very important in order to find the impairment levels and begin an early adoption of rehabilitation strategies. In the Comprehensive Geriatric Assessment we use the Holden’s Functional Ambulation Classification Test (1986), the Tinetti Scale (1998) that also focuses the balance and the Timed Up and Go Test directed towards the functional mobility. Physical activity and exercise programs are determinant to a healthy aging process as they help keeping good levels of gait capacity as well as prevent restrictions in activities of daily living. It is well established that all old adults even those with a sedentary life-style can start a physical exercise program with plenty of benefits, either metabolic, physiological, psychological, etc. In very specific conditions the physiotherapist should draw an individualized program that comprehends all the important dimensions of training: Balance, Strength, Sensitive and Motor, Activity and Endurance. Key-words: Aging, Gait Evaluation, Exercise, Gait Rehabilitation. Fisioterapeuta, Mestre em Saúde e Envelhecimento, MFR II CHLN – HPV, colaboradora da consulta de Geriatria da Unidade Universitária de Geriatria Fisioterapeuta MFR II CHLN – HPV, colaboradora da consulta de Geriatria da Unidade Universitária de Geriatria Fisioterapeuta MFR II CHLN – HPV, colaboradora da consulta de Geriatria da Unidade Universitária de Geriatria 4 Médica, Coordenadora do Serviço de MFR II CHLN – HPV 5 Professor da FML, Coordenador da consulta de Geriatria da Unidade Universitária de Geriatria 1 2 3 44 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Reabilitação da Marcha no Idoso ıı Introdução Marcha O Envelhecimento traduz um “processo dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas como funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, e ocasionam maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte”.1 O homo sapiens é o género de primata antropoide que deu origem à raça humana, sábio, provido de força evolutiva, de capacidade de raciocínio e de aprendizagem, e que se distingue pela marcha bípede. A locomoção bípede ou marcha é uma tarefa funcional que envolve interações complexas e coordenação entre o sistema nervoso central, o sistema nervoso periférico e todo o sistema musculoesquelético, envolvendo muitas das articulações do corpo, especialmente as dos membros inferiores.2 Este artigo pretende rever as alterações mais frequentes da marcha no idoso, a sua avaliação dentro do protocolo de Avaliação Geriátrica Global e as guidelines para a reabilitação. Fase de Apoio A marcha normal é uma sucessão de desequilíbrios controlados pelo corpo que resultam numa progressão cujo objetivo é deslocar-se de um ponto para o outro em segurança e com o menor dispêndio de energia.3 A realização da marcha depende da geração de comando pelo sistema nervoso central, da informação sensorial periférica e do controlo postural – equilíbrio. Ciclo de marcha Conjunto de eventos que sucedem desde o contacto do pé de um dos membros inferiores com o solo até ao contacto seguinte do mesmo pé com o solo. A fase de apoio corresponde a cerca de 60% do ciclo de marcha, iniciando-se com o contacto do calcâneo com o solo, passando pelo apoio plantar total, seguida pela elevação do calcâneo do solo e termina com a impulsão dos dedos (Figura 1). A fase oscilante diz respeito aos restantes 40% do ciclo de marcha, iniciando-se com a oscilação inicial, correspondendo a uma fase de aceleração, passando pela oscilação média, terminando com a desaceleração – oscilação terminal (Figura 1). Fase Oscilante Figura 1 - Fases do ciclo de marcha. Durante o ciclo de marcha é importante considerar também o comprimento do passo, o comprimento da passada, a largura do passo, a cadência da marcha e a velocidade da marcha (Figura 2). Alterações da marcha decorrentes do envelhecimento O controlo postural envolve a manutenção da posição do corpo no espaço, com o objetivo duplo da estabilidade e orientação, sendo que esta última é definida como a capacidade de manter uma relação adequada entre os vários segmentos do corpo, bem como entre o corpo e o meio envolvente, para a realização de uma determinada tarefa. Este facto, só pode ser conseguido através de uma interação eficaz entre os Sistemas Percetivos – informações somatossensitivas e sensoriais – e os Sistemas de Ação – responsáveis pela produção de força que controla os sistemas de posicionamento do corpo (Esquema 1). Figura 2 - Ciclo de marcha. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 45 Espaço Técnico Ao nível do osso observa-se uma diminuição do colagénio, uma diminuição da atividade dos osteoblastos relativamente aos osteoclastos, o que conduz a uma osteopenia e poderá levar a atrofia do tecido ósseo ou a osteoporose. Os ossos tornam-se mais frágeis, porosos e quebradiços, exceto os do crânio, que ficam mais espessos. A cartilagem perde a capacidade de adaptação ao stress repetido, o que pode dever-se às alterações do osso subjacente e à diminuição da produção de mucopolissacáridos e de condroitina sulfato, o que provoca perda de água, calcificação e fragmentação. As articulações podem sofrer diminuição do aporte circulatório, alterações degenerativas e espessamento do líquido sinovial.7 Esquema 1 - Componentes do controlo postural. Com o envelhecimento e a senescência celular associada verifica-se um conjunto de alterações nos diferentes sistemas sensoriais. No que toca ao movimento ocular, este passa a ser produzido pelo movimento da cabeça. Com a diminuição do controlo da cabeça, há uma diminuição do controlo visual, da qualidade dos inputs vestibulares e diminuição do reflexo oculovestibular. Para além disto, a patologia degenerativa da cervical leva a uma disfunção dos mecanorrecetores das articulações intervertebrais, o que conduz a uma diminuição da sensibilidade postural estática bem como dos movimentos da cabeça e pescoço, provocando distúrbios no controlo postural. De acordo com Anderson e Palmore (1974)4 entre os 60 e os 80 anos de idade verifica-se um rápido declínio da acuidade visual e perceção em profundidade. Este facto traduz uma diminuição da acomodação visual e da capacidade de perseguir objetos bem como da adaptação ao escuro designada por diminuição da sensibilidade do contraste visual. Muitas vezes estas alterações “normais” vêm acompanhadas por alterações patológicas como sejam o glaucoma, as cataratas e a degeneração macular. Também o sistema vestibular sofre um envelhecimento. A perda das células ciliadas pode ser de 40% aos 70 anos.5 Os deficits do sistema vestibular associados ao envelhecimento levam a que as respostas de ajustes posturais, quando existe um desequilíbrio, sejam reduzidas, mais tardias e consequentemente menos eficientes. A diminuição do reflexo oculovestibular em idosos, condiciona uma diminuição da estabilidade do olhar promovendo uma desfocagem no campo visual durante os movimentos da cabeça.6 Também as alterações do sistema musculoesquelético são muito evidentes. Por um lado, o músculo estriado sofre um processo de fibrose das suas fibras e consequente atrofia, o que leva a uma diminuição da massa muscular e à perda de força muscular, ou seja, verifica-se uma perda de capacidade contrátil com consequente diminuição da eficiência energética do músculo.7 46 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Analisando a marcha mais pormenorizadamente, com o envelhecimento ocorre uma diminuição da capacidade de geração e de absorção de força das articulações, uma diminuição das amplitudes articulares, assim como da força muscular8, contribuindo para deterioração do controlo motor e para a diminuição da mobilidade do tronco9,10, determinando uma diminuição da seletividade de movimento ao nível das extremidades. Estas alterações são acompanhadas de adaptações compensatórias do sistema neuromuscular com o objetivo de manter a marcha funcional.3 Verifica-se então um aumento da fase de duplo apoio, uma diminuição do apoio unipodal, uma diminuição da fase oscilante e um alargamento da base de sustentação (Esquema 2).8,11 Esquema 2 - Comparação entre as fases do ciclo de marcha do adulto jovem e do idoso. Por outro lado, verifica-se uma diminuição da velocidade da marcha, do comprimento do passo e da passada e um aumento da cadência (Figura 3).11,12,13 Desta forma, as alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento contribuem para a diminuição da capacidade de desempenho das atividades de vida diária (AVD), aumentando o risco de queda, o dispêndio energético necessário para a sua realização, o que se repercute na participação em atividades na comunidade e mesmo na sobrevida.9,10,12,13 Quando existe um défice multissensorial, é difícil recorrer a mecanismos de compensação, devido a alterações/défices em todos os sistemas sensoriais importantes para o controlo postural. Avaliação da marcha É importante que o protocolo de avaliação da marcha seja capaz de abranger a diversidade de parâmetros em que esta pode variar.9,11 Na AGG utilizamos, para avaliar a marcha, a classificação funcional da marcha de Holden (1986) que apresentamos no quadro 1. Reabilitação da Marcha no Idoso Figura 3 - Comparação entre o ciclo de marcha do adulto jovem e do idoso. Marcha ineficaz Marcha dependente (grande ajuda) Marcha dependente (ajuda mínima) Marcha dependente (supervisão) Marcha independente (superfícies planas) Marcha independente O idoso não pode caminhar ou caminha entre barras paralelas, ou requer ajuda física ou supervisão de mais de uma pessoa para caminhar de forma segura. Necessita de grande ajuda de uma pessoa para caminhar em plano sem cair. As ajudas são constantes, contínuas e necessárias para suportar o peso do corpo ou para manter o equilíbrio ou a coordenação. O idoso requer ajuda de uma pessoa para não cair na marcha em plano. As ajudas consistem em toques suaves, contínuos ou intermitentes para o ajudar a manter o equilíbrio e a coordenação. O idoso pode caminhar de forma independente em superfícies planas sem ajuda, mas por segurança necessita de supervisão de uma pessoa. O idoso pode caminhar de forma independente em superfícies planas sem ajuda, mas requer supervisão ou ajuda física para ultrapassar qualquer dos seguintes obstáculos: escadas, superfícies inclinadas ou percursos não planos. O idoso pode caminhar de forma independente em terrenos planos, não planos, superfícies inclinadas ou escadas. 0 1 2 3 4 5 Quadro 1 - Classificação funcional da marcha. Por outro lado, aplicamos a escala de Tinetti (1988) para avaliar o equilíbrio e a marcha (Quadro 2). Avaliação do equilíbrio – 16 pontos Avaliação marcha – 12 pontos • Sentar-se • Início da marcha • Equilíbrio sentado • Passos (comprimento e altura) • Tentativa de levantar-se • Simetria do passo • Levantar-se • Continuidade dos passos • Equilíbrio após levantar-se • Lineariedade do trajeto • Equilíbrio na posição de pé • Alinhamento do tronco • Reações de equilíbrio • Postura na marcha • Equilíbrio de olhos fechados • Rodar 360º Total – 28 pontos <19 Elevado risco de queda; 19-24 risco moderado de queda; >24 baixo risco de queda Quadro 2 - Componentes da Escala de Tinetti. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 47 Espaço Técnico Para complementar a nossa avaliação utilizamos ainda o Timed up and Go Test (TUG) que mede a mobilidade básica/habilidade para a realização das manobras funcionais. Consideramos ser uma ferramenta mais sensível, tendo sido escolhida após concluirmos que em determinados utentes com aparente risco elevado de queda não tinham scores compatíveis com tal avaliação. Consiste em cronometrar o tempo que um indivíduo leva desde que se levanta de uma cadeira com 46cm altura do assento e 65cm de braço até que ande 3 metros, e volte à cadeira para se sentar novamente. Os participantes que levam menos de 10 segundos para completar o teste são considerados normais, os que levam menos de 20 segundos têm boa mobilidade e podem sair sozinhos sem auxiliares de marcha e os que levam menos 30 segundos não podem sair sozinhos e requerem auxiliares de marcha. Os indivíduos que demorem 30 segundos ou mais a cumprirem as tarefas consideram-se dependentes, e com elevado risco de queda.14,15,16 a aumentar a sua atividade física e consequentemente contribui para a melhoria da capacidade funcional. Os resultados deste estudo demonstraram que o exercício físico é uma estratégia efetiva para reduzir os sintomas de síndrome geriátrica, e o aumento da capacidade na marcha pode contribuir para reduzir esses mesmos sintomas presentes nesta população. Manutenção da marcha vs. exercício físico No desenho de um programa de exercícios deste tipo, as estratégias gerais passam pelo ensino e progressão nas diferentes vertentes, sendo que esta última é estabelecida mediante as variáveis duração, intensidade e frequência. Segue abaixo um esquema dos fatores que podem ser considerados na execução de um programa de reabilitação da marcha. Existem diversos fatores que influenciam as alterações degenerativas musculoesqueléticas do envelhecimento, tais como: a atividade física, a alimentação, as alterações vasculares, as alterações neurológicas e as alterações hormonais.17,18 A prática regular de atividade física é essencial para um envelhecimento saudável. Os adultos com 65 ou mais anos obtêm benefícios da prática regular de atividade física e estes benefícios mantêm-se ao longo das suas vidas. Promover a atividade física nesta faixa etária é especialmente importante porque esta população tende a ser a menos ativa fisicamente de entre todos os grupos etários e também revelando-se igualmente um grupo muito heterogéneo devido às doenças crónicas e à sua severidade.17 Os adultos com 65 ou mais anos devem fazer pelo menos 150 minutos por semana de atividade física de moderada intensidade ou 75 minutos de intensidade vigorosa. A prática de atividade física pelo menos 3 dias por semana reduz o risco de doença e de fadiga excessiva17, tendo demonstrado também um aumento da esperança de vida, contribuindo para a restauração da capacidade funcional em adultos com 65 ou mais anos previamente sedentários.18 A prática regular de atividade física, na idade avançada, reduz a morbilidade e a mortalidade, adia a doença e prolonga a independência. Por outro lado, preserva a massa muscular, previne a sarcopenia e desacelera o processo de redução da taxa metabólica própria do envelhecimento. Há também evidência de que a atividade física aumenta a resistência cardiovascular, reduz o risco de diabetes e de alguns tipos de cancro, ajuda na prevenção de quedas e na manutenção da massa óssea.19 Kim et al. (2007)20, realizaram um programa de exercícios multidimensionais, no qual o grupo de intervenção apresentou uma diminuição significativa dos sintomas de síndrome geriátrica comparativamente ao grupo de controlo (p<0,001). Dos sujeitos que apresentaram melhoria dos mesmos, a maior parte aumentou a sua velocidade máxima de marcha. Este facto leva os indivíduos 48 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Reabilitação da marcha De uma forma geral, um programa de reabilitação da marcha deve ser multimodal, isto é, visar as seguintes dimensões: Treino de Equilíbrio, Treino de Força, Treino Sensório-Motor, Treino de Atividade e Treino de Endurance. Efetivamente, a intervenção multimodal provou, em cinco estudos randomizados e controlados (RCT’s), estar diretamente relacionada com uma melhoria no equilíbrio em 20%. Noutros dois RCT’s um programa multimodal de home based exercises provou diminuir até 35% a incidência de quedas.21 Numerosos estudos têm demonstrado que, com estímulos adequados de força, idosos de ambos os sexos apresentam ganhos na força muscular semelhantes, ou até relativamente superiores, àqueles encontrados nos jovens22, os quais se traduzem na reversão de fenómenos como a sarcopenia, hipertensão arterial, aumento da resistência à insulina, tal como em indivíduos jovens. Deve-se preferencialmente trabalhar na faixa aproximada de 5060% da FCM (frequência cardíaca máxima de acordo com a fórmula de Karvonen), e da faixa de 12-13 na Escala de Borg (perceção de esforço subjetivo)18. Em geral, podem alcançar-se maiores ganhos com um programa de treino de resistência com duração de 45 minutos, praticado 3 vezes por semana23. Os exercícios devem visar os principais grupos musculares e ser preferencialmente do tipo isotónicos. Deve-se atentar à respiração do utente, não permitindo apneias, e neste sentido o Teste da Conversa poderá ser uma ferramenta útil. Por outro lado, os momentos de descanso no fim de cada série (1 a 4 minutos controlados pela escala de Borg), devem ser tão importantes como a realização do exercício em si, uma vez que caso se atinja a exaustão, surgem fases isométricas que não possuem efeitos nocivos para pessoas saudáveis, mas induzem sobrecargas que devem ser evitadas em situações de risco. Não deverão ser esquecidos os alongamentos finais para a manutenção dos comprimentos musculares.23,24 Tem-se observado um crescendo de trabalhos desenvolvidos no âmbito do potencial de treino de idosos, nomeadamente na vertente de Endurance. Que os idosos são treináveis já é ponto assente24. O cerne agora é perceber o impacto dos diferentes tipos de treino. Três RCT’s, cuja metodologia consistia num programa de exercícios na vertente endurance, resultou num aumento da função até 15% após 8-12 semanas de prática, em sujeitos com uma média de idades de 70 anos. Outros autores referem que o Reabilitação da Marcha no Idoso ııREFERÊNCIAS aumento da capacidade aeróbia na população geriátrica encontra-se associado a uma diminuição da oscilação e da instabilidade na marcha, resultando numa melhoria do equilíbrio em 20%, numa população com uma média de idades de 70 anos.25,26,27 1. Carvalho Filho, Thomaz, E. (2002) Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. In: Netto, Matheus Papaléo. São Paulo, Atheneu edts, p. 60. Em condições específicas como no pós-AVC, pós internamento, pós-queda ou fratura, a intervenção é direcionada à condição específica e é estabelecido um plano de reabilitação individualizado. 2. Barr, A. E.; Backus, S. I. (2003). Biomecânica da Marcha. In: Nordin, M.; Frankel, Victor H. (Org.). Biomecânica do Sistema Músculo-Esquelético. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 379-396. 3. McGibbon, C.A. (2006). Toward a better understanding of gait changes with age and disablement: neuromuscular adaptation. Exercise and Sport Sciences Reviews, 31, 102-108. 4. Anderson, B. & Palmore, E. (1974). Longitudinal evaluation of ocular function. In: E. Palmore (Ed.), Normal aging II. Durham, NC: Duke University Press. (pp. 24-32). 5. Shummay-Cook, A., Woollacott, M. (2003) Controle Motor: Teoria e Aplicações Práticas. 2ª Ed. São Paulo: Manole Edts. 6. Hourigan SR, Nitz JC, Brauer SG, O’Neill S, Wong J, Richardson CA (2008) Positive effects of exercise on falls and fracture risk in osteopenic women. Osteoporosis Int.;19 (7):1077-86. 7. Mota Pinto A. & Botelho M.A. (2007). Fisiopatologia do Envelhecimento. In: Mota Pinto A. “Fisiopatologia. Fundamentos e Aplicações”, p. 493-514. 8. Kang, H.G. & Dingwell, J.B. (2008). Separating the effects of age and walking speed on gait variability. Gait & Posture, 27, 572-577. 9. Callisaya, M. L.; Blizzard, L.; Schmidt, M.D.; Mcginley, J. L.; Srikanth, V. K. (2010). Ageing and gait variability-a population-based study of older people. Age and Ageing, 39, 191-197. Quadro 3 - Componentes do treino de idosos. ıı Conclusão O envelhecimento reveste-se de diversas alterações que podem contribuir para a perda de capacidade para a marcha e consequentemente para a realização de tarefas funcionais. Efetivamente, a avaliação da marcha durante esta fase é fundamental para a deteção precoce das alterações que contribuem para as referidas perdas permitindo consequentemente traçar planos de intervenção que visem a sua minimização. A prática de exercício físico é uma ferramenta muito útil para a manutenção da capacidade para a marcha, permitindo também a recuperação após um evento adverso e o controlo de diversas doenças crónicas. O Treino de Equilíbrio, Treino de Força, Treino Sensório-Motor, Treino de Atividade e Treino de Endurance constituem a base de qualquer programa de treino, reforçando o princípio de que não só os idosos são treináveis como os ganhos obtidos no treino com idosos são tão grandes ou superiores aqueles obtidos em populações mais jovens, incluindo a mudança no perfil lipídico e na vascularização cerebral. Mais uma vez, a avaliação individual e o aconselhamento são fulcrais no desenho do programa adequado para cada indivíduo. 10. Kimura, T.; Kobayashi, H.; Nakayama, E.; Hanaoka, M. (2007). Effects of aging on gait patterns in the healthy elderly. Anthropological Science. 115, 67-72. 11. Paterson, K. L.; Lythgo; N. D.; Hill, K. D. (2009). Gait variability in younger and older adult women is altered by overground walking protocol. Age and Ageing, 38, 745-748. 12. Shumway-Cook, A. & Woollacott, M. (2001). Motor Control: Theory and Practical Applications, Baltimore, Maryland, Lippincott Williams & Wilkins. 13. Studenski, S.; Perera, S.; Patel, K.; Rosano, C.; Faulkner, K.; Inzirati, M.; Brach, j.; Chandler, J.; Cawthon, P.; Connor, E.B.; Nevitt, M.; Visser, M.; Kritchevsky, S.; Badinelli, S.; Harris, T.; Newman, A.B.; Cauley, J.; Ferrucci, L.; Guralnik, J. (2011). Gait Speed and Survival in Older Adults. Journal of American Medical Association. 305 (1), 51-58. 14. Psodsiadlo, D.; Richardson, S. (1991). The timed “Up & go”: A test basic functional mobility for frail persons. 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Kim, H.; Yoshida, H.; Suzuki, T. (2011). The effects of multidimensional exercise on functional decline, urinary incontinence and fear of falling in community-dwelling elderly women with multiple symptoms of geriatric syndrome: a randomized controlled and 6 month follow-up. Archives of Gerontology and Geriatrics. 52, 99-105. 21. G illespie, L. et al. (2007) Interventions for preventing falls in elderly people (Review). The Cochrane Collaboration. Published by John Wiley & Sons, Ltd issue 4. 22. J ubrias, S. et al. (2000) Large energetic adaptations of elderly muscle to resistance and endurance training. Journal of Applied Physiology. 90 (5): 1663-1670. 23. L ovell, D., Cuneo, R., Gass, G. (2010). The effect of strength training and short-term detraining on maximum force and the rate of force development of older men. Europ Journ App Physio, 109 (3), 429-435. 50 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 24. Belman, M., Gaesser, G. (1991). 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A saber que foram os idosos quem lhes permitiu estarem ali, quem ajudou que os pais os criassem, são a referência da cultura da família. Não devem ser esquecidos, não devem ser humilhados, não devem ser maltratados, não devem ser objeto de violência. Talvez começar a ensinar de novo isto às nossas crianças seja o primeiro passo.» A Equipa Editorial da Newsletter foi entrevistar o Coordenador da recém-criada Unidade Universitária de Geriatria. Numa entrevista informal falou-nos da Ciência Geriátrica do ponto de vista Académico, Assistencial e Social. Newsletter: Sabendo nós que a população portuguesa está a envelhecer, como de um modo geral a europeia, seguindo uma tendência contrária à de outros continentes, isso quererá dizer que vão ser precisos mais especialistas para fazer face às necessidades de uma população envelhecida, nomeadamente ao nível da Geriatria? Quer comentar esta situação? Professor Gorjão Clara: O envelhecimento da população mundial, nos países civilizados, veio modificar o panorama da assistência médica. Não é só um problema social (os encargos com as novas reformas, a menor produtividade dessa população, etc.), mas é também um problema muito particular na assistência médica. As patologias, as doenças prevalentes nos indivíduos idosos, são diferentes das patologias prevalentes nos indivíduos jovens. As manifestações das doenças são diferentes num e noutro grupo. As abordagens terapêuticas são diferentes. Os exames complementares de diagnóstico e as opções de encaminhamento desses doentes estão condicionados pela situação que cada idoso apresenta. Não há muitos anos, quando eu era assistente graduado de cardiologia, aqui no HSM, trabalhava na Unidade de Cuidados Intensivos que tem hoje o nome do seu fundador, Arsénio Cordeiro. Um dos constrangimentos que eu tinha era não receber doentes que tivessem mais de 65-70 anos, porque se considerava que a unidade era dirigida a grupos etários mais jovens, em que valia a pena investir porque a esperança de vida era grande. Esses constrangimentos, que se foram esbatendo com o envelhecimento da população, condicionam as opções de internamento e posterior alta hospitalar, o tipo de exames que é preciso realizar, se devemos ou não recorrer ao topo da investigação, ao topo da terapêutica, quando se trata de um indivíduo idoso. Houve, portanto, um conjunto de situações muito práticas e também éticas que se modificaram e resultaram do envelhecimento da população. E é preciso preparar os novos médicos para estas realidades. E, por isso, a Faculdade de Medicina de Lisboa em boa hora entendeu que os médicos não deviam acabar o curso de medicina sem terem contacto com a realidade do envelhecimento, sem terem contacto com a Gerontologia e a Geriatria, aliás cumprindo as determinações da Organização Mundial de Saúde que há uns anos vem dizendo isto mesmo. A própria OMS teve o cuidado de N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 51 Geriatria publicar aquilo que ela entende ser fundamental, nesta área, para o conhecimento de qualquer aluno de medicina, antes de se tornar médico. Digamos que se trata de formação pré-graduada em Geriatria. Portanto, a minha resposta é, obviamente, que é preciso que os novos médicos estejam preparados para atender o idoso. E isso implica que haja quem os ensine, que haja quem os forme, daí a necessidade de haver Geriatras, de haver Geriatria. Os médicos não têm que ser, todos eles, Geriatras, mas têm que saber cuidar dos idosos. Por isso tem que haver formadores Geriatras. Newsletter: A Consulta de Geriatria foi criada muito recentemente, em Março deste ano. Qual a particularidade desta consulta? Professor Gorjão Clara: Para ser preciso, a Consulta de Geriatria começou no dia 3 de março. Para mim, é uma data histórica, porque representa o esforço de muitos anos, em que foi preciso mobilizar muitas pessoas, escrever muitas coisas, falar com muita gente, alertando para a necessidade de que Portugal se equipare aos outros países da Europa. Nós estávamos e, em certa medida ainda estamos, na cauda da Europa, em termos de Geriatria, porque só sete países europeus não têm Geriatria, apenas em sete países não existem Consultas de Geriatria organizadas de acordo com os moldes internacionais em que montámos a nossa consulta. A nossa consulta tem a particularidade de, como todas as Consultas de Geriatria do mundo, ser uma consulta multidisciplinar. O idoso não é visto apenas em função da sua patologia de órgão ou sistema. Por exemplo, quando uma pessoa vai ao oftalmologista, este avalia a sua capacidade de visão, a eventual patologia ocular, verifica o que se passa com o sistema da visão. Todo o doente idoso, seja qual for o sintoma dominante ou queixa que apresenta, tem que ser visto na sua globalidade, sob todos os ângulos. Isso significa que tem que ser visto sob o ponto de vista físico, sob o ponto de vista psicológico, incluindo o emocional e o intelectual, sob o ponto de vista social, sob o ponto de vista da autonomia motora, sob o ponto de vista nutricional. A equipa da consulta faz a sua avaliação nutricional, para saber se o doente está ou não bem nutrido, se eventualmente tem excesso de peso, se faz uma alimentação correta. Faz avaliação do seu estado emocional, se está deprimido, como sabem a depressão é muito frequente no idoso, e tem terapêutica e deve ser tratada sob o ponto de vista cognitivo, avalia a inteligência, a atenção, a concentração, a memória, o raciocínio. A fisioterapeuta avalia a autonomia motora e o equilíbrio. Como sabem, um dos grandes perigos desta população são as quedas, todos os anos em todo o mundo ocorrem milhares de acidentes por quedas, quer na rua quer em casa, e isso tem que ver com a capacidade de autonomia motora, velocidade na marcha, autonomia na marcha, equilíbrio; isso é avaliado na nossa consulta. Fazemos também uma avaliação social. Naturalmente que ver o doente, diagnosticar as suas doenças, escolher a terapêutica apropriada e depois ele não ter dinheiro, não ter condições em casa, quer para comprar fármacos, quer para viver em condições mínimas de salubridade que o ponham ao abrigo de riscos, como por exemplo a chuva, o vento, o frio, falta de cuidados de higiene, uma iluminação deficiente, etc. A nossa consulta tem mais uma particularidade. Uma das minhas preocupações prende-se com a inapropriação da medicação. É preocupante saber que um estudo realizado na população de 52 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Lisboa revela que 38% dos idosos que compram medicamentos nas farmácias, compra pelo menos um que não deveria tomar porque lhes faz mal. Quer dizer que está contraindicado. Contraindicação absoluta ou relativa, mas que está contraindicado. Isso alertou-me para o facto de que na minha consulta eu tenho que ter sempre um parecer e o aviso do farmacêutico. E, na consulta, está sempre sentada uma farmacêutica que colabora comigo na opção terapêutica, na escolha do fármaco e que me avisa para as interações, para as contraindicações, para que eu não corra o risco de fazer uma terapêutica inapropriada. Em síntese, na nossa Consulta de Geriatria aplicamos o modelo da Avaliação Geriátrica Global (Comprehensive Geriatric Assessment). Esta é a Consulta de Geriatria e como ela funciona. Newsletter: Em que consiste a Unidade Universitária de Geriatria? Professor Gorjão Clara: Quis organizar a Unidade Universitária de Geriatria numa unidade que fizesse parcerias com outras entidades que em Portugal e no estrangeiro se dedicassem à investigação, ao ensino e à assistência ao idoso. Fiz parcerias com o Centro Equestre João Cardiga; poderá parecer motivo de riso ou pelo menos de sorriso, porquê uma parceria com um centro equestre? Nós, estamos a desenvolver nesse centro um plano de hipoterapia nos idosos. À semelhança do que se faz nas crianças com deficiência, nós, nos idosos sem deficiência, queremos verificar em que medida é que a hipoterapia (andar a cavalo sob vigilância e com acompanhamento), revela melhoria ou não, nalguns parâmetros que nós avaliamos antes e depois, sob o ponto de vista cognitivo, sob o ponto de vista emocional, sob o ponto de vista físico, da marcha e do equilíbrio e sob o ponto de vista do bem-estar. Esta foi uma das parcerias que fizemos. Fizemos parcerias com a Associação Portuguesa de Psicogerontologia (APP) e com um conjunto de psicólogas que trabalham na APP, para estudar vários problemas a nível da população nacional que não estão estudados, como, por exemplo, falei há pouco na depressão, que é muito frequente no idoso. Nós não sabemos quais são os números da depressão na população portuguesa idosa, sabemos os da população não idosa, há um trabalho do Prof. Caldas de Almeida sobre isso, sabemos os da população idosa noutros países do mundo e da Europa, mas não em Portugal, e era uma das coisas que gostaríamos de investigar. Assim como a qualidade de vida do idoso, que também não está investigada. Estamos a estabelecer parcerias também com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, no sentido de investigar a já citada inapropriação da medicação e o comportamento do idoso em relação à doença. Procuramos parceria com o Instituto de Envelhecimento da Gulbenkian, tive 2 ou 3 reuniões com o Prof. Villaverde Cabral, com o Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva, com o Prof. Paulo Vitória e a Dra. Joana de Ávila, para estudarmos o tabagismo e a avaliação nutricional. Tudo isto são situações dinâmicas que se vão concretizando aos poucos. Criámos a Consulta de Geriatria e a Assistência Domiciliária ao Idoso. Complementamos a consulta com uma equipa móvel que vai visitar os idosos que têm determinadas particularidades, que precisam ser visitados, por enfermeiras, pela assistente social, eventualmente pelo médico. Neste momento, a equipa da Consulta de Geriatria é constituída por voluntários, portanto a nossa consulta não tem ninguém que obrigatoriamente UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE GERIATRIA CHLN/FMUL/IMM tenha de estar lá. Os que nela colaboram fazem-no por gosto em aprender a otimizar a assistência ao doente idoso e participam na consulta porque querem. O único médico que o faz por obrigação sou eu, o resto são voluntários. Quando tivermos uma unidade de internamento de Geriatria, com um quadro médico e de enfermagem próprio, poderemos rendibilizar a Consulta e a equipa da visita domiciliária poderá ter sempre um médico, como acontece, por exemplo, aqui ao lado em Espanha, em que a equipa domiciliária tem Enfermeiros, tem Assistente Social, e sempre um Geriatra. Há muitos doentes idosos que vêm ao hospital passado um curto espaço de tempo após a alta, porque em casa deixaram de cumprir o que lhes foi aconselhado ou porque não perceberam as normas de como deviam comportar-se em casa, ou porque a doença se agravou. Portanto, esses reinternamentos podem ser reduzidos se a equipa domiciliária fizer o levantamento precoce de uma determinada situação evitando que o doente seja de novo reinternado, ajudando-o a viver o melhor possível com as suas comorbilidades. Newsletter: De que forma é que esta unidade poderá ter intervenção na assistência ao idoso? Professor Gorjão Clara: Creio ter respondido parcialmente na resposta anterior. Fundamentalmente otimizando a assistência ao idoso através da consulta, do apoio domiciliário, evitando reinternamentos precoces, otimizando a assistência no internamento, reduzindo custos, reduzindo a demora média, conseguindo menor mortalidade, menor deterioração cognitiva, menor perda de autonomia motora, aumentando o número de idosos que regressam a casa, como muitos estudos internacionais demonstraram. Ensinando a prática da Geriatria aos alunos da nossa Faculdade e aos alunos das Escolas de Enfermagem que o desejarem. Newsletter: Nesse sentido, eu perguntava também, quais são os constrangimentos atuais? Professor Gorjão Clara: Como referi, não tenho equipa médica, senão de voluntários, e eu preciso ter, como em muitos países em todo o Mundo (e por isso é que eu digo que ainda não estamos bem a par dos outros), um espaço de internamento privilegiado para doentes idosos. É necessário criar uma Unidade de Geriatria com camas de internamento. Quero dizer-vos que isso existe, por exemplo em Espanha há 27 anos. No Hospital de San Carlos em Madrid, há 2 anos, foram comemorados os 25 anos de existência da Unidade de Geriatria; há 20 e muitos anos também existe, no Hospital Ramon Cajal, uma unidade semelhante, e muitos hospitais em Madrid e fora de Madrid têm unidades de internamento de Geriatria. Em todo o Mundo, para não falar só da Europa, no Brasil existem hospitais e Unidades de Geriatria, na América existem hospitais e Unidades de Geriatria, em cerca de 60 países existem unidades de internamento de Geriatria. Entendo que é importante definir qual é o doente que deve ser assistido pelo Geriatra. Uma vez, num Congresso de Medicina Interna, foi-me perguntado, “se tendo a população dos doentes atualmente internados nos serviços de medicina a idade média de 76 anos, não eram por esse motivo, esses Serviços de Medicina, verdadeiros Serviços de Geriatria”. A resposta é não. Não é a idade que define qual o doente que deve ser preferencialmente internado numa Unidade de Geriatria. Passo a explicar, quando se começaram a organizar as especialidades médicas, uma das primeiras foi a especialidade de pediatria. Foi definido que eram da pediatria as crianças com idade até aos 10 anos (posteriormente alargada aos 18 anos). Nesses tempos, em que a idade média dos doentes internados nos hospitais rondava os 50 anos, e em que a esperança de vida era de 50-55 anos, definiu-se que eram doentes da Geriatria (criada por Marjory Warren em 1948 no reino Unido), os doentes com idade igual ou superior a 65 anos. Hoje, a idade não define os doentes que devem ser assistidos pelos Geriatras. Na verdade são idosos e muito idosos a maioria dos doentes geriátricos, mas nem todos os idosos o são. Vou dar um exemplo: se eu tiver 80 anos e uma pneumonia, não sou um doente para a Unidade de Geriatria, tenho uma patologia única, não tenho nenhuma doença crónica, não tomo nenhum tipo de medicação, não tenho nenhum compromisso orgânico, além da situação aguda que é a pneumonia. Eu não sou um doente para a Geriatria. Mas suponhamos que eu tenho doença coronária, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, gastrite hemorrágica, osteoartrite, diabetes, insuficiência renal crónica, delirium e pneumonia, nestas circunstâncias eu posso ser internado numa Unidade de Geriatria. Quem é que define então qual é o doente que deve ir para a Unidade de Geriatria ou para o serviço de Medicina convencional? Quem o define é o bom senso, é a troca de informação entre o Internista e o Geriatra, é do encontro entre os dois, que se conclui das vantagens e desvantagens do doente ficar no serviço de Medicina ou numa Unidade de Geriatria. Com algum treino não é muito difícil perceber quais são os doentes que devem ser direcionados para uma ou outra área do internamento. É assim que se faz em todo o mundo, a baliza etária acabou, já não define qual é o doente geriátrico. O problema da Geriatria em Portugal não é só nosso. Um dos últimos países da Europa em que Geriatria se implementou, e já há mais de 10 anos, foi em França. Aqui o problema era idêntico. Havia uma grande resistência por parte dos Internistas e dos médicos de Clínica Geral em reconhecer a Geriatria. Num Editorial, no British Medical Journal, sobre esta realidade, referia-se que estes médicos franceses tinham receio de perder os doentes idosos a favor dos geriatras. No entanto, isto não se verificou, foi um falso problema. A Medicina Interna tem uma importância imensa, um papel importantíssimo. A Geriatria não substitui a Medicina Interna, ela complementa-a, otimiza a assistência ao idoso. A ideia é otimizar a assistência ao doente idoso, não substituir o Internista ou o Clínico Geral. A Geriatria pode ser comparada nalguns aspetos, à Pediatria. Eu consigo, enquanto internista, diagnosticar e tratar uma pneumonia numa criança, mas tenho plena consciência que nalgumas situações de grande complexidade, o pediatra otimizará essa assistência, pois se preparou durante anos para o fazer. Hoje em dia, em França, existe a Unidade de Geriatria melhor apetrechada da Europa, no Hôpital Georges Pompidou, dirigida por Olivier Saint Jean. Conheci-o através da European Academy for Medicine of Ageing de que somos membros. Pedi-lhe, há pouco tempo, para receber uma das minhas voluntárias, a Dra. Lia Marques, para que ela possa ir estagiar nessa Unidade durante 3 meses, e possa trazer informação e vir integrar, posteriormente, a Unidade de Geriatria aqui em Portugal. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 53 Geriatria Newsletter: Sabemos que um projeto da Unidade Universitária de Geriatria ganhou um prémio no concurso «Um Hospital do Futuro», em que consistiu esse projeto? Professor Gorjão Clara: O Projeto tem a ver com quase tudo aquilo que eu disse; nesse projeto eu escrevi quais eram os objetivos da Unidade de Geriatria, fazer parcerias com outras entidades que se interessam pela investigação, pelo ensino, pela assistência; otimizar a assistência em consulta apropriada, promover a visita domiciliária; escrevi da necessidade de reformular a formação dos médicos, não deixando que nenhum médico em nenhuma escola universitária médica de Portugal acabe o curso sem ter formação nesta área. Escrevi que era preciso modificar os nossos hospitais e lembrar que os novos hospitais não estão adaptados à realidade do envelhecimento da população que assiste. Os novos hospitais não devem receber doentes com autonomia motora e lúcidos e depois dar-lhes alta em cadeira de rodas ou em maca, e alguns deles em delirium. A atrofia muscular que acontece no acamamento por 8 dias, muitas vezes mais, condiciona perda da autonomia motora. As condições ambientais especiais que o doente idoso encontra no hospital, muito diferentes das que tinha em casa, condicionam desorganização temporal, espacial, cognitiva, aguda, que tem riscos. Ela própria causa de morbilidade e de mortalidade. Os encargos acrescidos na recuperação destes doentes e o sofrimento para eles e familiares deveriam ser prevenidos com a reestruturação dos hospitais. Isto também lá está escrito e, por outro lado, justificando com os argumentos que eu disse há pouco, defendo que a Geriatria deve desenvolver-se quer através de consultas especializadas quer através da criação, em todos os hospitais, de unidades específicas para os doentes com muitas patologias, muito complexos, de abordagem terapêutica difícil, os doentes geriátricos. Escrevi que isto tem de ser implementado, porque foi demonstrado que essas unidades não só tinham fundamento científico, como também eficácia indiscutível sob o ponto de vista económico e sob o ponto de vista de resultados, e é também por isso que assim se faz em toda a parte, com raras exceções, onde nós ainda estamos incluídos. É menor a mortalidade dos doentes internados nas Unidades de Geriatria do que nas unidades convencionais, o tempo de internamento é menor, os gastos com a saúde, quer durante o internamento quer depois, são menores. Sob o ponto de vista económico, quando tanto nos preocupamos hoje, e muito justificadamente, com a economia na saúde, criar Unidades de Geriatria é uma maneira de rendibilizar os serviços e tornar a assistência aos doentes idosos menos cara. Escrevi da utilidade das Unidades de Geriatria na formação e na investigação universitárias, no apoio à criação da rede geriátrica nacional que urge organizar. Foi, em síntese, o projeto que ganhou o prémio que referiu. Newsletter: Como vê a investigação na área da Geriatria? Professor Gorjão Clara: Nos últimos anos, a investigação tem privilegiado grupos etários não idosos. De facto, a investigação em Geriatria é difícil, pois é difícil encontrar amostras de indivíduos com 80 anos. No entanto, essa investigação começa a surgir. É preciso saber cada vez melhor, com cada vez maior apoio científico, 54 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 como tratar o doente geriátrico. Contudo, podemos dizer que a investigação em Geriatria ainda está pouco mais que no início e que é necessário investir muito mais no futuro. A investigação é um dos objetivos da Unidade Universitária de Geriatria, que agora teve reconhecimento académico pelo Conselho Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa da UL. Queremos colaborar no aprofundar do conhecimento das doenças (fisiopatologia, tratamento, prevenção), do estado emocional, do estado psicológico, da situação social dos nossos idosos. Na investigação dirigida à pergunta, porque envelhecemos? Cuja resposta talvez nos ajude a retardar o envelhecimento ou a controlá-lo para que a nossa espécie possa viver mais anos com qualidade. Newsletter: A população idosa tem sido notícia pelas piores razões: idosos votados ao abandono, morrendo sozinhos em casa, casos de maus tratos, exclusão social, etc. A nossa sociedade parece pouco preparada para fazer face a estas questões. Qual a sua interpretação, crê que deveriam ser tomadas medidas para prevenir este tipo de situações? Professor Gorjão Clara: Seguramente é a resposta mais difícil. Basta ouvir as notícias e lermos os jornais para sabermos que os idosos são excluídos, vivem sozinhos, muitas vezes a família sente-os como um peso, muitas vezes a atitude tomada em relação ao idoso, quando não é segregado dentro do próprio ambiente familiar, é envido para um lar onde perde o contacto com a família, onde fica praticamente abandonado, “sozinho” no meio de muitas outras pessoas. É uma realidade chocante e dramática da nossa vida social, penso que é necessário mudar. É necessário recuperar valores que se foram esboroando, a pouco e pouco, na sociedade. Quando eu era garoto, um velho que tinha filhos era um velho seguro. Os filhos representavam o apoio na velhice, a segurança. Hoje, ter filhos já não representa nada disso, pode até contribuir para que se fique mais sozinho. Penso que temos que reformular as mentalidades. Perdemos valores, noções de ética e de comportamento social. Tem que haver um esforço que começa logo nos bancos da escola. As crianças, assim como são ensinadas a não fumar, a não comer guloseimas, a relacionarem-se sem violência… devem ser ensinadas a respeitar os idosos. Devemos ensinar-lhes que foram os idosos quem lhes permitiu estarem ali, quem ajudou a que os pais os criassem, são a referência da cultura da família, não devem ser esquecidos, não devem ser humilhados, não devem ser maltratados, não devem ser objeto de violência. Talvez começar a ensinar de novo isto às nossas crianças seja o primeiro passo. Newsletter: Caro Professor, agradecemos a amável colaboração, se quiser deixar alguma mensagem aos leitores da nossa Newsletter, pode fazê-lo. Professor Gorjão Clara: Gostaria de fazer um apelo a todos os que se interessam pela Geriatria. Estou a falar em particular dos médicos e enfermeiros, que me procurem, que se encontrem comigo, para que possamos desenvolver a Geriatria, para que esta se implante definitivamente, com progressiva capacidade de intervenção no nosso país. Espaço do enfermeiro O PROTOCOLO DA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA NA UCIR Protocol of Enteral Nutrition in UCIR Catarina Marques1, Vítor Vaz Pinto1 Resumo Os doentes críticos, hemodinamicamente estáveis e com trato gastrointestinal funcional, devem ser alimentados precocemente, sendo a via entérica o método de alimentação de eleição nestes doentes. Tendo por base o protocolo da alimentação entérica (AE) artificial na UCIR, foi realizada uma consulta dos processos de todos os doentes admitidos na UCIR entre 01 de janeiro de 2007 e 30 de junho de 2008, com o intuito de: constatar a introdução precoce de AE, conhecer as principais complicações relacionadas com a AE, durante e após conclusão do protocolo. Foram consultados 165 processos, dos quais 85 realizaram alimentação entérica de acordo com os critérios previamente estabelecidos. Estes apresentam uma média de idades de 66,3 anos e como principal diagnóstico de internamento destaca-se a pneumonia e DPOC agudizada. Verifica-se após consulta dos processos, que 72,9% dos doentes tinham já iniciado AE às 12h de internamento e 91,8% às 24h. A duração do protocolo de progressão da AE, variou entre 18 e 55h, destacando-se que 40,2% dos doentes não apresentaram complicações durante o protocolo. Constata-se que o protocolo da AE da UCIR se encontra adequado às características dos doentes admitidos. Sobressai, no entanto, a importância do desenvolvimento de estudos posteriores que contemplem a diferença entre o volume de AE prescrito e o administrado, assim como, relacionar as complicações com o índice de gravidade dos doentes e a medicação prescrita. Palavras-chave: Alimentação Entérica, Protocolo, Complicações, UCIR. Abstract The critical patient hemodynamically stable and with functional gastrointestinal tract, must be early fed and is the enteral nutrition (EN) the method of choice in these patients. Based on the protocol of enteral artificial nutrition in UCIR, were analysed the files of all patients admitted in UCIR between 01 January 2007 and June 30, 2008, to: see the early introduction of EN, know the major complications related to the EN during and after the protocol. We analysed 165 files, gathering 85 patients who had enteral feeding conducted in accordance with the previously established criteria. They have an average age of 66.3 years and the principal internment diagnosis is pneumonia and exacerbated COPD. After these files analyses, 72.9% of patients had already begun EN during the first 12h of hospitalization and 91.8% at 24h. The time to conclude the EN protocol was between 18 and 55h. 40.2% of patients had no complications during the protocol. It seems that the protocol of the EN in UCIR is appropriate to the features of admitted patients, however, is important developing further studies to compare the volume of EN prescribed and administered, as well as linking complications with the severity of patients, as well as some medications. Key-words: Enteral Nutrition, Protocol, Complications, UCIR. Enfermeiros do CHLN, HPV 1 N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 55 Espaço do enfermeiro ıı INTRODUÇÃO A alimentação entérica artificial é atualmente a forma de eleição para a supressão das necessidades nutricionais em doentes críticos, como forma de superar o estado catabólico induzido pela doença grave, uma vez que a alimentação parentérica (AP) deverá ser considerada como ferramenta secundária, com indicação para pacientes cuja via entérica não se revela suficiente ou está contraindicada para a supressão das necessidades energéticas destes doentes.1,2 Considera-se como alimentação entérica: um método de alimentação que implica a introdução de nutrientes através de uma sonda inserida no trato gastrointestinal, desde o nariz ou boca até ao estômago. Em alternativa, a sonda pode ser colocada diretamente no estômago, jejuno ou duodeno por meio de um estoma.3,4 A AE tem como objetivos: - Completar total ou parcialmente as necessidades nutritivas, quando a ingestão oral é impossível ou inadequada, de acordo com a condição clínica, com o estado de nutrição e com o metabolismo do doente; - Manter ou restabelecer o equilíbrio nutricional e hidroeletrolítico; - Preservar a integridade da mucosa intestinal e das defesas imunitárias.3,4 Os doentes admitidos em Cuidados Intensivos têm uma natureza heterogénea, no entanto, salienta-se que a má nutrição nos doentes críticos é frequente (cerca de 40% dos doentes admitidos em UCI) e está associada a um aumento da morbilidade e mortalidade destes doentes.1,2 A Unidade Cuidados Intensivos Respiratórios (UCIR) encontra-se direcionada, sobretudo, para doentes do foro respiratório; nestes doentes é particularmente importante manter o equilíbrio nutricional, visto que a malnutrição tem efeitos adversos na função respiratória, dando origem a uma diminuição da produção de surfatante e da capacidade vital. Os indivíduos cujo peso diminui, perdem proporcionalmente mais massa diafragmática, que massa corporal total, o que prejudica a ventilação.5 Assim, na intervenção nutricional aos doentes do foro respiratório, é fulcral a correção, mas sobretudo a prevenção de défices nutricionais, tendo em consideração que em doentes com alterações respiratórias graves e/ou conetados a prótese ventilatória, dietas ricas em hidratados de carbono, quando administrados como a principal fonte energética, provocam um aumento da produção de CO2, podendo elevar a PaCO2, o suficiente para atrasar o desmame ventilatório e/ou agravar a dificuldade respiratória.5 Nestes doentes é também importante evitar uma excessiva administração de lípidos, porque apesar de não provocar um aumento da produção de PaCO2 e diminuição da PaO2, pode prejudicar as trocas gasosas ao nível dos capilares.5 Considera-se que todos os doentes admitidos em cuidados intensivos, aos quais não se prevê o início de dieta oral adequada dentro de um período de 3 dias, têm indicação para início da AE.1,2 56 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Por outro lado, doentes críticos mas hemodinamicamente estáveis e com trato gastrointestinal funcionante, devem ser alimentados precocemente, ou seja, num espaço temporal inferior a 24 horas após admissão na UCI, uma vez que a introdução precoce da AE diminui as complicações infecciosas e o tempo de internamento em cuidados intensivos.1,2 No que diz respeito ao ritmo de início da AE, este deve ser ajustado ao estado clínico do doente e ao nível de tolerância gastrointestinal. Na UCIR, o protocolo de AE processa-se conforme indicado no Esquema 1, sendo este adaptável às necessidades e à tolerância do doente. A evolução nas diversas fases do protocolo pressupõe sempre que o doente tenha tolerado a alimentação na fase anterior. Considera-se conteúdos máximos de 100ml devido ao elevado risco de aspiração destes doentes, assim como às pressões positivas utilizadas na ventilação mecânica invasiva ou não invasiva e suas complicações, devido às alterações do estado de consciência induzidas ou não, comprometendo o reflexo da tosse e ainda devido a presença da sonda de administração de alimentação entérica, que diminui a eficácia do esfíncter esofágico. Não havendo intolerância da parte do doente a progressão no protocolo de AE, demora cerca de 18h até se atingir o ritmo desejável para cada doente. No final do protocolo, a AE poderá ficar prescrita de forma intermitente ou contínua, sendo que esta última está aconselhada em doentes críticos, na medida em que proporciona uma melhor absorção e acarreta menos efeitos secundários associados à AE.4 Conforme as necessidades e a situação clínica do doente, qualquer tipo de AE disponível na instituição pode ser adaptada ao esquema do protocolo. O PROTOCOLO DA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA NA UCIR Soro Polieletrolítico com ou sem glucose a 30ml/h durante 3 horas Tolerou Não Tolerou Tem mais de metade do conteúdo administrado nas 3h. Faz pausa, reavalia-se após 1h e quando possível inicia o esquema, no mesmo ritmo AE a 50% a 30ml/h durante 3 horas Não Tolerou Tolerou AE a 100% a 30ml/h durante 3 horas Tolerou Mantém Intolerância Tem conteúdo gástrico >100cc após 3h. Faz pausa, reavalia-se após 1h e quando possível inicia a AE no mesmo ritmo Faz pausa, reavalia-se após 1h e quando possível inicia a AE no passo anterior (diminui débito e se necessário a concentração). Administrar procinéticos conforme prescrição AE a 100% a 50ml/h durante 3 horas Não Tolerou Tolerou AE a 100% a 75ml/h durante 3 horas Tolerou AE a 100% a 100ml/h durante 3 horas Tolerou AE 100% contínuo de acordo com prescrição AE a 100% Conforme prescrição, 5xdia, durante +/- 2 horas Esquema 1 - Protocolo de AE na UCIR. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 57 Espaço do enfermeiro ıı METODOLOGIA: Partindo do protocolo da AE instituído na UCIR e de todas as novas guidelines relativas à temática, foi levantado, como situação problema, a “Adequação do protocolo de Alimentação Entérica da Unidade de Cuidados Intensivos Respiratórios às necessidades dos doentes”. Para tal, foi monitorizado o protocolo de AE, assim como a alimentação entérica pós-protocolo na UCIR, nos doentes admitidos na unidade no período compreendido entre 01 de janeiro de 2007 a 30 de junho de 2008, com o objetivo de: • Constatar a introdução precoce de AE nos doentes admitidos na UCIR; • Determinar o tempo médio necessário para cumprir todas as etapas até ao final do protocolo; • Determinar as principais complicações relacionadas com AE durante o protocolo; • Conhecer as complicações relacionadas com a AE que os doentes apresentam após finalizarem o protocolo. (VNI) por longos períodos e com intolerância à remoção do interface que permitisse uma alimentação oral adequada, e em 4 doentes (4,7%) por ingestão oral insuficiente às suas necessidades proteicoenergéticas. Em relação ao tipo de AE com que os doentes iniciaram o protocolo de alimentação e, considerando que no Hospital Pulido Valente, se encontram disponíveis as formas: Standard (1ml/Kcal), Diabética (1ml/Kcal), Fibras (1ml/Kcal), Alta Energia (1,5ml/Kcal) e Hiperproteica (1ml/Kcal), verifica-se que destes 85 doentes, 84,7% dos doentes iniciou com AE standard, seguido de 12,9% que iniciaram com a forma diabética, quando se deteta logo de início valores de glicemia elevados ou existe antecedentes pessoais conhecidos de Diabetes mellitus, e por último 2,4% dos doentes que iniciaram protocolo de AE com a forma fibras. No que diz respeito ao início da AE constata-se que 45,9% já tinham iniciado AE 6 horas após admissão, 72,9% tinham já iniciado às 12 horas e 91,8% iniciaram protocolo até às 24 horas após o internamento na UCIR, sendo a média de início da AE de 11,5 horas. Foi desenvolvido um estudo de carácter quantitativo, não experimental, descritivo, que consistiu inicialmente na elaboração de uma grelha para recolha de dados para dar resposta às questões levantadas, e posteriormente procedeu-se à consulta de todos os processos dos doentes admitidos na UCIR no período entre 01 de janeiro de 2007 a 30 de junho de 2008, num total de 165 doentes. O tratamento estatístico e análise dos dados obtidos foram realizados recorrendo ao programa informático SPSS 12.0 for Windows. ııAPRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Foi consultado um total de 165 processos, destes foram excluídos da análise: 61 doentes que não realizaram AE durante o seu internamento, 16 doentes que não iniciaram o protocolo na primeira etapa estipulada e 3 doentes submetidos a grandes cirurgias e que apresentaram AP numa fase inicial do seu internamento. Ou seja, o estudo centra-se em 85 doentes que cumpriram o protocolo de AE da UCIR ou seja, 51,5% dos doentes admitidos durante este período. Gráfico 1 - Tempo decorrido da admissão ao início do protocolo de AE. A duração do protocolo, ou seja o tempo necessário para atingir e ultrapassar a última fase do protocolo, variou entre 18 a 55 horas, constituindo a média de horas para realizar o protocolo de 24,6 horas. De referir que dos 85 doentes incluídos na análise, 5 doentes não o concluíram, 3 doentes faleceram e 2 doentes, em que foi removido o tubo endotraqueal e iniciaram dieta oral, não concluindo todas as fases do protocolo. Dos 85 doentes em estudo, verifica-se que 31 (36,5%) são do sexo feminino e 54 (63,5%) são do sexo masculino. A média de idades destes 85 doentes é de 66,3 anos. No que diz respeito aos diagnósticos de internamento destes doentes, é a Pneumonia (Pneumonia nosocomial e Pneumonia Adquirida na Comunidade) e a DPOC agudizada, os diagnósticos mais comuns, representando 56,5% deste grupo de doentes, o que está de acordo com a realidade da UCIR. Em relação ao tempo de internamento, constata-se que a média de dias de internamento foi de 13,5 dias, sendo o internamento mais curto de 1 dia e o mais longo de 77 dias. O principal motivo que induziu o início/manutenção de AE foi em 70 dos doentes (82,4%) a Entubação Endotraqueal Traqueal (EET), em 11 doentes (12,9%) a realização de Ventilação Não Invasiva 58 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Gráfico 2 - Tempo decorrido até à última fase do protocolo de AE. O PROTOCOLO DA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA NA UCIR No que diz respeito às complicações verificadas durante a progressão no protocolo, constata-se que 42,4% dos doentes não apresentaram nenhuma complicação, verifica-se em 26,3% dos doentes, conteúdo gástrico nalguma fase de evolução no protocolo e 25,3% de doentes com valores de glicemia capilar alterados. Gráfico 3 - Complicações ocorridas na evolução do protocolo de AE. Dos 26,3% de doentes que apresentaram conteúdo gástrico durante a evolução do protocolo de AE, constata-se que houve necessidade, em 88,5% destes doentes de se proceder à administração de procinéticos para se progredir no protocolo de AE. Após protocolo verifica-se que 68 (80%) doentes ficam com AE contínua em curso, enquanto que 12 (14,1%) doentes ficaram com AE intermitente, havendo ainda 5 (5,9) doentes que não concluíram o protocolo. Em média, estes doentes ficaram com AE, durante 10 dias, sendo o mínimo observado de 1 dia e o máximo de 76 dias. Durante o período em que foi administrado AE verificou-se que as principais complicações após finalizar protocolo foram: Ainda referente às complicações na fase posterior ao protocolo, de referir que 20,5% (n=17) dos doentes não apresentaram nenhuma complicação durante o tempo de administração de AE, dos 19,7% de doentes que tiveram episódios de dejeções líquidas, houve necessidade em 17 doentes de administrar alimentação entérica fórmula fibras. De referir também que em 18% dos casos de doentes que apresentaram conteúdo gástrico, houve necessidade, num doente, em colocar AP por intolerância gástrica persistente. Relacionando às complicações observadas e à forma de administração da alimentação, podemos constatar que não existe diferenças significativas quando comparamos a percentagem de complicações na AE administrada de forma contínua ou intermitente. No entanto, salienta-se que a alimentação administrada de forma contínua representa 85% da alimentação entérica administrada na UCIR, devido a permitir um ritmo constante de administração e haver disponibilidade de equipamentos e sistemas. Quanto à dieta à saída da UCIR, 47 (55,3%) doentes saíram com dieta oral, 22 (25,9%) faleceram e 16 (18,8%) mantinham AE na altura da transferência. ııCONCLUSÕES Constatamos que, perante os resultados obtidos, a alimentação entérica é introduzida precocemente, iniciando 72,9% dos doentes AE nas primeiras 12h de internamento, sendo a média de 11,5h. De salientar também que com a aplicação deste protocolo de AE, em média, 24,6h após admissão na UCIR, os doentes já se encontram a realizar AE ao ritmo desejado, verificando-se a ausência de complicações durante o protocolo em 42,4% dos doentes, sendo a complicação mais frequente o conteúdo gástrico em 26,3% dos casos, com necessidade de administração de procinéticos em 88,5%. Como complicações há ainda a salientar que 25,3% dos doentes apresentaram alterações das glicemias. Concluímos que este protocolo está adequado aos doentes admitidos na nossa unidade e que a percentagem de complicações é pouco relevante e de fácil resolução. Gráfico 4 - Complicações pós-protocolo. Em 30,4% verificou-se doentes com alterações da glicemia capilar, houve necessidade, em 13 doentes, de alterar a alimentação entérica standard para a fórmula diabética por hiperglicemias e, 2 doentes, em que se trocou a fórmula diabética para standard por hipoglicemias. Foi necessária a instituição de insulina de absorção rápida em perfusão contínua em 7 doentes e administração programada de insulina de absorção lenta em 15 doentes; de salientar que, neste grupo, 20 doentes tinham Diabetes mellitus, dos quais 15 necessitaram de correção insulínica. Após a conclusão do protocolo, 80% dos doentes ficam com AE a ser administrada de forma contínua. No que diz respeito às complicações, após o fim do protocolo, tendo sido analisado um total de 763 dias, verifica-se um aumento da percentagem de complicações, sendo que apenas 20,5% dos doentes nunca apresentaram qualquer tipo de complicação, enquanto 30,3% tiveram alterações da glicemia capilar, 19,7% conteúdo gástrico, 18% dejeções líquidas, havendo em 32 doentes necessidade de alterar o tipo de AE e, num doente, necessidade de iniciar AP. Considera-se como aspeto importante a contemplar numa fase posterior do nosso estudo: a análise e comparação entre o volume de AE administrado e o volume de AE prescrito, assim como relacionar as complicações durante a administração de AE e o índice de gravidade dos doentes admitidos, visto que muitas das complicações que os doentes manifestam não se encontram diretamente relacionadas com a administração da AE, mas sobretudo N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 59 Espaço do enfermeiro com as patologias, índice de gravidade dos doentes e fármacos administrados. No entanto, salienta-se a importância da realização desta análise, que permitiu questionar e verificar se uma prática diária na UCIR está adequada aos seus doentes, à luz das guidelines mais recentes nesta área. ıı REFERÊNCIAS 1. HEYLAND, D. K. et al. - Canadian Clinical Practice Guidelines for Nutrition Support in Mechanically Ventilated, Critically ill Adult Patients: Journal of Parenteral and Enteral Nutrition, vol. 27. 2003. 2. KREYMANN, K. G. et al. - ESPEN Guidelines on Enteral Nutrition: Intensive Care – Clinical Nutrition, 2006. 3. HARRISON et al. - Manual de Medicina. Rio de Janeiro: McGraw Hill, 2002, 15ª edição. Filomena; RODRIGUES, Luiza: Alimentação Parentérica/ 4. MAZZETI, Entérica - Servir, nº 50. Norma de administração da alimentação entérica e parentérica da UCIR; SWEARINGEN, P. KEEN, - Manual de enfermagem de Cuidados Intensivos, Lisboa: Lusociência, 2001. L.; DEVIE, J.; VIDEN, L. - Enfermagem em Cuidados Intensivos, 5. THELAN, Diagnósticos e Intervenção. Lisboa: Mosby, 1993. 60 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Monitorização da VNI nos anos 2009/2010 na UCIR (PN II) Monitorização da VNI nos anos 2009/2010 na UCIR (PN II) Monitoring non-invasive ventilation Catarina Marques1, Pedro Fernandes1, Vítor Pinto1 Resumo A VNI tem-se revelado uma técnica terapêutica cada vez mais utilizada em UCI, tendo a UCIR, pela sua missão e objetivos, uma larga experiência nesta área. Assim, este artigo tem como objetivo principal: dar a conhecer a experiência da equipa de enfermagem da PN II – UCIR (HPV-CHLN) relativamente à VNI, no período de 2009/2010. Constatou-se através da monitorização realizada, que durante o ano de 2009/2010 32,4% (55) dos doentes admitidos na UCIR foram submetidos a VNI. Sendo que 67,3% destes doentes são do sexo masculino, e com uma média de idade de 66,6 anos. No que diz respeito aos diagnósticos principais dos doentes submetidos a VNI, verifica-se uma heterogeneidade destes, sendo os mais relevantes: DPOC agudizada em 25,5% das situações e a Gripe A com 18,2%. No que toca à utilização de interfaces, a máscara oronasal/facial é a mais utilizada (79,2%). Relativo às complicações decorrentes da VNI, realça-se que em 63,6% dos doentes não foram observadas complicações. Nos que apresentaram complicações, 11 doentes desenvolveram/mantiveram UP. No que diz respeito ao sucesso/insucesso da técnica, constatou-se que 33 (60%) dos doentes, foram submetidos a VNI com sucesso. Este artigo vem fundamentar a importância da monitorização da VNI e dos cuidados prestados como base para a melhoria dos mesmos. Palavras-chave: Ventilação Não Invasiva; UCIR; Monitorização. Abstract The NIV has proven to be a therapeutic technique increasingly used in ICU, with UCIR by its mission and objectives, a wide experience in this area. This article’s main goal is: to show the experience of the nursing team of PN II - UCIR (HPV-CHLN) in using NIV, in the period 2009/2010. It was found due to a monitoring during the year 2009/2010 that 32.4% (55) of patients admitted in UCIR, realized NIV. 67.3% of these patients are male, with a mean age of 66.6 years. Regarding the primary diagnosis of patients receiving NIV, the most relevant were: COPD in 25.5% cases, and influenza A in 18.2%. Regarding the use of interfaces, is the oronasal/facial mask the most used (79.2%). Concerning the complications of NIV, 63.6% of patients had no complications observed. In those who had complications, 11 patients developed/maintained pressure ulcer. With regard to the success/failure of the technique, it was found that in 33 (60%) of patients under NIV, were successfull. This article shows the importance of monitoring the NIV and nursing cares, as the basis for improving them. Key-words: Non-Invasive Ventilation; UCIR; Monitoring. 1 Enfermeiros CHLN, PN II - UCIR N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 61 Espaço do enfermeiro ıı INTRODUÇÃO Tendo por base a missão do Serviço de PNII - UCIR: prestação de cuidados de qualidade a doentes críticos, preferencialmente do foro médico e com particular ênfase nos afetados por falência respiratória aguda ou crónica agudizada, num quadro de eficiência e eficácia; a VNI tem-se revelado uma técnica terapêutica fundamental e com um uso cada vez mais efetivo. No entanto, não se poderia afirmar tal certeza se não se efetuasse uma monitorização constante desta técnica. Neste contexto, é realizado este artigo que tem como objetivo geral: • Dar a conhecer a experiência da equipa de enfermagem da PN II – UCIR – HPV - CHLN, relativamente à VNI no período 2009/2010. Gráfico 1 - Distribuição da amostra relativamente aos grupos etários. E como objetivos específicos: • Caracterizar os doentes submetidos a VNI na UCIR; • Identificar as interfaces, ventiladores e modalidades ventilatórias mais utilizados em VNI na UCIR; • Avaliar a utilização da VNI relativamente às complicações associadas; • Avaliar o sucesso/insucesso da VNI na UCIR. ıı FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA No que se refere à duração do internamento (Gráfico 2), a média foi de 17,6 dias (2 a 73 dias), sendo os intervalos mais expressivos, com duração superior a 20 dias com um total de 16 doentes (29,1%), seguindo-se o intervalo [5-10] dias com 12 doentes (21,8%) e o intervalo de [11-15] dias com 10 doentes (20%). Em diversos estudos, o uso de VNI encontra-se associado a um menor tempo de internamento em UCI, sendo de salientar, no entanto, que na UCIR, o intervalo mais representativo é [>20 dias]. De acordo com a amostra estudada neste período, a utilização de VNI não se encontra associada a um menor tempo de internamento em UCI. A VNI é qualquer forma de suporte ventilatório aplicada, sem o recurso a uma via aérea artificial, com a finalidade de aumentar a ventilação alveolar, permitindo uma redução do trabalho respiratório, o repouso dos músculos respiratórios, alívio da dispneia, diminuição da frequência respiratória, recrutamento alveolar e melhoria das trocas gasosas. Esta é uma estratégia de ventilação que em algumas situações pode evitar a entubação endotraqueal e ventilação mecânica invasiva, e noutras situações, prevenir a instalação de quadros de insuficiência respiratória aguda.1,2 Para a instituição/manutenção da VNI é necessário que, para além da seleção adequada do doente, escolha correta de interface e do ventilador/parâmetros, se promova uma formação e motivação permanente de toda a equipa multidisciplinar, na arte de iniciar e acompanhar o doente/família com necessidade em realizar VNI. ıı APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Durante o ano de 2009 e 2010, foram admitidos na UCIR um total de 160 doentes (70 doentes em 2009 e 90 doentes em 2010), dos quais 55 foram submetidos a VNI em algum período do seu internamento, o que corresponde a 32,4% dos doentes. Da análise efetuada, relativamente ao género, 37 indivíduos (67,3%) são do sexo masculino, sendo 18 doentes do sexo feminino (32,7%). A média de idade destes doentes é de 66,6 anos (28 a 90 anos), sendo o intervalo de [71-80 anos] o mais representado com 32,7% dos casos, seguido do intervalo [61-70 anos] com 21,8% dos doentes e [>80 anos] com 18,2% da amostra, como se pode observar no gráfico 1. 62 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Gráfico 2 - Distribuição da amostra relativamente à duração de internamento. Relativamente aos diagnósticos principais (Gráfico 3), verifica-se que os diagnósticos de “DPOC agudizada”, com 14 doentes (25,5%) e de “H1N1”, com 10 doentes (18,2%) e “Pneumonia” com 7 doentes (12,7%), são aqueles que têm maior expressividade, o que está de acordo com as indicações preconizadas para a utilização de VNI em fase aguda em Unidades de Cuidados Intensivos, no que se refere aos doentes com DPOC agudizada e Pneumonia. No que se refere aos doentes com o diagnóstico de H1N1, deve-se ao facto de a UCIR ter sido uma unidade de referência no ano de 2009 e 2010 para estes grupo de doentes, com necessidade de suporte ventilatório invasivo e/ou não invasivo. Monitorização da VNI nos anos 2009/2010 na UCIR (PN II) Gráfico 3 - Distribuição da amostra relativamente aos diagnósticos. Em relação ao motivo de VNI, foram considerados 2 grupos: “Pós-extubação” e “deterioração respiratória”. Dos 55 doentes, 39 doentes (70,9%) foram submetidos a VNI por deterioração respiratória com o intuito de evitar a ventilação mecânica invasiva e correspondente entubação endotraqueal, enquanto em 16 doentes (29,1%) efetuaram VNI no período pós-extubação, para prevenir a evolução/agravamento de um quadro de Insuficiência Respiratória. No que se refere ao intervalo da média de horas diárias de VNI (Gráfico 5), 28 doentes (50,9%) apresentam um intervalo entre “6,1-12 horas” diárias e 17 doentes entre “12,1-18 horas” (30,9%) por dia. Dos restantes 10 doentes, 9 doentes apresentaram média diária entre “1-6 horas” (16,1%) e apenas 1 entre “18,1-24 horas” (1,8%). Relativamente aos dias de utilização de VNI (Gráfico 4), foram contabilizados 335 dias e 3.925 horas de realização de VNI, sendo a média de utilização de 6,1 dias (1 a 21 dias), por intervalos; verifica-se uma grande heterogeneidade em dias de utilização de VNI. Dos 55 doentes, 17 doentes efetuaram VNI durante um período de [2-5] dias (30,9%), 15 doentes por um período [6-8] dias e 10 doentes por um período inferior ou igual a 1dia. Gráfico 5 - Distribuição relativamente ao intervalo da média de horas de VNI. Gráfico 4 - Distribuição relativamente ao intervalo de dias de VNI. Em relação aos ventiladores, foram utilizados 4 ventiladores diferentes, destacando-se com maior número de dias de utilização o ventilador Respironics Vision®, com um total de 244 dias (73,5%), seguido do ventilador Respironics STD-30® com 59 dias de utilização (17,8%), seguido do ventilador Breas Vivo® 30/40 com 25 dias de uso (7,5%) e por fim, o ventilador Viasys Avea® com apenas 4 dias de utilização (1,2%). Estes dados continuam a revelar uma preferência pelo uso do ventilador Respironics Vision® e um decréscimo da utilização do ventilador Viasys Avea®, por provável falta de rotinas da equipa e interfaces pouco adequados em termos de conforto para o doente (pouco maleáveis e com difícil controlo das fugas de ar). N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 63 Espaço do enfermeiro da VNI, ocorrendo complicações em 20 doentes (36,4%). Destas complicações (Gráfico 8), a que se mais destaca são as úlceras de pressão em 11 doentes, ou seja 33,3% das complicações ocorridas, seguida das situações de aerofagia e distensão abdominal em 9 doentes (27,3%). Gráfico 6 - D istribuição relativamente à utilização dos ventiladores em VNI. Relativamente às interfaces utilizadas na UCIR para realização de VNI, a interface mais utilizada foi a máscara oronasal/facial em 259 dias (79,2%) de VNI, seguida da máscara facial total com 62 dias (19%), seguido da máscara nasal utilizada em 5 dias de VNI (1,5%) e por fim o “Helmet” utilizado durante 1 dia. Estes números estão de acordo com o preconizado para utilização dos interfaces e o tipo de doentes admitidos na UCIR, uma vez que em doentes instáveis e com Insuficiência Respiratória aguda ou crónica agudizada está indicado o uso de máscaras faciais, por permitirem a utilização de pressões mais elevadas com menor necessidade de colaboração do doente. Durante este período foi utilizado, pela segunda vez na UCIR, o interface “Helmet”, num doente com o diagnóstico de Insuficiência Respiratória Aguda parcial por infeção a H1N1. Gráfico 8 - Distribuição relativamente às complicações da VNI. Relativamente aos 11 doentes que apresentaram UP (Gráfico 9), de salientar que 7 doentes apresentavam já UP no momento de admissão na UCIR e 4 doentes desenvolveram UP na UCIR. Gráfico 9 - Distribuição relativamente à origem de úlceras de pressão. Gráfico 7 - Distribuição relativamente à utilização dos interfaces. Em relação às modalidades ventilatórias mais utilizadas nos 335 dias de VNI, em 313 dias, ou seja 93,4% do tempo, foi utilizada a PSV/BIPAP e em 22 dias, ou seja 6,6%, foi utilizada a modalidade de CPAP. No que refere às pressões utilizadas na ventilação, os valores de IPAP/PSV oscilaram entre 15-32cmH2O, sendo a média de 22cmH2O e EPAP/PEEP entre 4-12cmH2O, sendo a média de 6,7cmH2O, isto na modalidade ventilatória de PSV/BIPAP. Em CPAP, a pressão oscilou entre 8-14cmH2O, sendo a média de 9cmH2O. No que se refere às complicações relacionadas com a VNI, 35 doentes (63,6%) não apresentaram nenhuma complicação decorrente 64 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Considera-se prevenção local de UP a utilização de apósitos preventivos, a massagem facial com creme hidratante e alívio regular da pressão causada pelos interfaces. Dos 48 doentes que no momento da admissão na UCIR não tinham UP, foram utilizados apósitos preventivos em 33 doentes, não sendo considerado necessária a sua utilização em 15 doentes. De registar no entanto, que em 4 doentes que desenvolveram UP na UCIR, em 3 doentes tinha sido aplicado previamente apósitos preventivos para diminuir a pressão exercida pela máscara que, no entanto, se revelaram insuficientes. Salienta-se o facto destes resultados, referentes ao aparecimento de UP, serem extremamente animadores, representativos do trabalho desenvolvido na área da prevenção das UP na UCIR e da introdução/utilização de interfaces de qualidade superior, tendo Monitorização da VNI nos anos 2009/2010 na UCIR (PN II) em conta as características ideais (material transparente, leve, resistente, hipoalérgico, moldável, atraumático, fácil de colocar/ remover, com baixa resistência ao fluxo de ar e baixo custo). Enquanto no ano de 2008 dos 32 doentes que realizaram VNI, 7 doentes desenvolveram UP, no período de 2009-2010, com um número superior de doentes, 55, apenas 4 doentes desenvolveram UP na UCIR. No que se refere ao sucesso/insucesso da VNI (Gráfico 10), 33 doentes (60%) foram submetidos a VNI com sucesso, enquanto 19 doentes (34,5%) apresentaram insucesso com esta estratégia de suporte ventilatório. Em 3 doentes foi suspensa a VNI por contraindicação absoluta para a sua realização. Dos 33 doentes que foram submetidos a VNI com sucesso, 9 doentes tinham no momento da transferência, apenas necessidade de oxigenoterapia e 24 doentes foram transferidos com indicação para continuar com VNI. Os 19 doentes em que a VNI se revelou insuficiente, foram entubados endotraquealmente e submetidos a VMI. Destes, 13 doentes tiveram alta da UCIR, 1 doente com traqueostomia, e 2 doentes com traqueostomia e submetidos a ventilação mecânica, 6 doentes faleceram. Estes dados de sucesso e insucesso apresentam um acréscimo do êxito na VNI e uma diminuição do número de óbitos dos doentes, após entubação e VMI, em comparação com os anos anteriores de 2007 e 2008. ııCONCLUSÃO A monitorização da VNI no Serviço de Pneumologia II – UCIR, ao longo dos anos, tem-se revelado de extrema importância, na medida em que, para além do conhecimento da evolução da utilização desta técnica, permite fornecer a toda a equipa informações relevantes no que diz respeito aos cuidados prestados, nomeadamente no controlo dos efeitos secundários associados à VNI. Gráfico 10 - Distribuição relativamente ao sucesso/insucesso da VNI. Correlacionando a taxa de êxito com a patologia do doente à entrada, obtemos os seguintes resultados nos grupos mais significativos de doentes submetidos a VNI em 2009-2010; DPOC êxito em 64,3% dos casos; H1N1 êxito em 60% dos casos; Pneumonia êxito em 71,4% dos casos (Tabela 1). A VNI assume-se como uma forma de suporte ventilatório cada vez mais utilizado em UCI. Nos anos de 2009/2010, na UCIR (PN II), 32,3% dos doentes admitidos foram submetidos a VNI, sendo que 63,7% destes doentes são do sexo masculino, com uma média de idade de 66,6 anos. No que diz respeito aos diagnósticos principais dos doentes submetidos a VNI, há a referir a heterogeneidade destes, sendo no entanto os mais relevantes a DPOC Agudizada, com 25,5% dos doentes e a Gripe A, com 18,2% dos casos. Em todos eles, a deterioração respiratória foi o principal motivo de início da VNI. Relacionado com as complicações, realça-se que em 63,6% dos doentes não foram observadas nenhumas complicações decorrentes da VNI. Nos doentes que apresentaram complicações, 11 (33,3% dos doentes com complicações) apresentaram úlceras de pressão, das quais apenas 4 foram desenvolvidas na UCIR. De realçar que nestes últimos, 3 doentes tinham apósitos preventivos para diminuir a pressão do interface, mas que, no entanto, se revelou insuficiente. No que se refere ao sucesso/insucesso da técnica, constatou-se que 33 (60%) dos doentes, foram submetidos a VNI, com sucesso. Este artigo vem fundamentar a importância da monitorização da VNI e dos cuidados de enfermagem prestados como base para a melhoria dos mesmos. ııReferências: 1. FELGUEIRAS, Joana et al. – Ventilação Não Invasiva numa Unidade de Cuidados Intermédios. Medicina Interna. Vol 13, nº2, Abril, Junho 2006. Tabela 1 - D iagnósticos vs. sucesso e insucesso da técnica. 2. FERREIRA, Susana et al. – Ventilação Não Invasiva. Revista Portuguesa de Pneumologia. Vol XV, nº 4, Julho/ Agosto 2009. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 65 Espaço do enfermeiro FLICTENAS E AS BOAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM NO SEU TRATAMENTO The treatment and prevention of blister caused by the pressure Filipa Corrêa d’Almeida1 ; Mónica Pinto2 ; Susana Ferreira3 Será que os conhecimentos dos Enfermeiros no tratamento de úlceras de pressão de categoria II - flictenas - estão de acordo com as boas práticas de enfermagem evidenciadas cientificamente? Resumo O tratamento e a prevenção das flictenas causadas pela pressão, fricção e deslizamento é um assunto complexo. Atualmente ainda existem muitas dúvidas sobre esta temática e as práticas ritualistas continuam a ter uma influência dominante na abordagem do seu tratamento. O método da aspiração da flictena e uso de compressas com álcool ainda se mantêm como práticas comuns, apesar de desadequadas. Atualmente, ainda se verifica uma discrepância entre as guidelines e aquilo que é efetivamente praticado; este artigo visa desmistificar algumas destas práticas, através da evidência científica. É importante referir que, durante a pesquisa bibliográfica, muito pouco foi encontrado sobre os cuidados a ter com uma flictena, havendo ainda um longo caminho a percorrer nesta área de investigação. Palavras-chave: Úlceras de Pressão, Flictenas, Tratamento, Prevenção, Calcâneo. Abstract The treatment and prevention of blister caused by the pressure, friction, and shear is a complex topic of discussion. Currently, there are many questions in this field still to be answered. Ritualistic practices continue to be the main approach to address its treatment. The aspiration method and the use of compresses with alcohol while inadequate are still common and wide used practices. Currently, there is still a gap between the guidelines and current mainstream practices. This paper uses a rational framework to provide scientific evidences that those practices are wrong. However, very little was found in the literature about the treatment of blister. This is a clear sign that a long way awaits scholars and practitioners in this field. Key-words: Pressure Ulcer, Blister, Treatment, Prevention, Heel. 1 2 3 66 Enfermeira, Hospital de Santa Maria, Serviço Medicina II B Enfermeira, Hospital de Pulido Valente, Serviço Pneumologia II Enfermeira, Hospital de Pulido Valente, Serviço Pneumologia II boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 FLICTENAS E AS BOAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM NO SEU TRATAMENTO ıı Introdução A nossa opção por esta temática passa pelo facto de esta ser uma das categorias de úlcera com que nos deparamos com frequência nos nossos locais de trabalho, em serviço de internamento hospitalar. Verificámos que a disparidade de opiniões, conhecimentos e práticas, muitas vezes, assentam em pressupostos que não estão baseados em evidências científicas, o que contribui para que o tratamento não seja o mais adequado, podendo levar a um aumento do tempo de cicatrização ou até mesmo agravamento do grau da úlcera. Também verificámos, de forma informal junto dos nossos colegas de trabalho, que várias são as lacunas de conhecimentos nesta área. Neste contexto, sentimos a necessidade de adquirir e desenvolver conhecimentos no que diz respeito a esta problemática, para desta forma podermos fundamentar a nossa prática e cuidados, contribuindo também, futuramente, como veículos de transmissão de informação e conhecimentos sobre as boas práticas na prevenção e tratamento de úlceras de pressão de categoria II – flictenas. ıı Fundamentação teórica Flictena Categoria II: perda parcial da espessura da pele ou flictena: Perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial (rasa) com leito vermelho rosa sem crosta. Pode também apresentar-se como flictena fechada ou aberta preenchida por líquido seroso ou sero-hemático (EPUAP, 2009). Descrição adicional Apresenta-se como uma úlcera brilhante ou seca, sem crosta ou contusões. Esta categoria não deve ser usada para descrever fissuras da pele, queimaduras por fita adesiva, dermatite associada a incontinência, maceração ou escoriação (EPUAP, 2009). Segundo Knapik et al. (1995), estudos utilizando técnicas em que a pele é sujeita a forças de fricção mostram que as flictenas são resultantes de forças de atrito que separam mecanicamente as células epidérmicas a nível da camada espinhosa. A pressão hidrostática faz com que a área de separação se encha com um líquido que é semelhante na sua composição ao plasma, mas que tem um menor nível de proteínas e um nível eletrolítico semelhante. Para a flictena se formar, a camada superficial da pele - estrato córneo, tem que ser imóvel e bem ancorada por tecido subjacente. Também precisa de ser suficientemente espessa para suportar o atrito da superfície, caso contrário ocorre uma abrasão em vez de uma flictena intacta. Foi colocada a hipótese de a flictena se desenvolver por uma fadiga mecânica das células que provocam prurido, dando lugar a uma fricção repetida. A camada superior da flictena é composta pelo estrato córneo e o estrato granuloso com células normais, necróticas, degenerativas e células princkle nos dois lados da fissura. A fricção aplicada à epiderme causa um desgaste acelerado à camada córnea, resultando na exposição do tecido subjacente. Se o nível de força de fricção for suficientemente elevado irá ocorrer lesão na junção dermoepidermal, resultando na formação de flictena e consequentemente na perda de epiderme (Butcher, 1999). Estudos revelaram que a reparação da flictena “no adulto saudável” se inicia após 6 horas; entre as 24 e as 30 horas ocorre uma alta atividade mitótica nas células senescentes; às 48 horas há uma camada granular e, após 120 horas há uma diminuição da proliferação tecidular e há uma nova camada córnea. A fricção e as forças de deslizamento são fatores chave no desenvolvimento da flictena (Bergman-Evans et al., 1994). A força de deslizamento ocorre quando a pele se mantém fixa e os tecidos subjacentes se movem. A fricção ocorre quando a pele se move sobre uma superfície rija, tal como o lençol da cama (Bergman-Evans et al., 1993). Verifica-se que este tipo de lesões surge com maior prevalência nos calcâneos, devido a vários fatores: é uma área com pouco tecido muscular e tecido adiposo; é uma área com elevada prevalência de problemas circulatórios; existem elevados níveis de pressão entre a pele e a superfície de apoio na maioria dos decúbitos (Bou, 2004). O problema torna-se ainda maior quando consideramos que o doente acamado assume a posição de dorsal e semidorsal, e que ambas causam pressão elevada a nível dos calcâneos. Obstáculos à implementação de Boas Práticas nos cuidados de feridas Existem muitas razões pelas quais a implementação eficaz do tratamento da ferida é tão variável. Historicamente, o conhecimento de enfermagem tem sido associado com o “fazer como” que foi tradicionalmente visto como tendo maior importância que a prática com suporte teórico. Embora a teoria e a prática sejam indissociáveis, são muitas vezes vistos como separados, o que tem importantes consequências para a divulgação e implementação dos resultados da investigação. Há muito que se sabe que a prática baseada no conhecimento é uma importante influência na tomada de decisão clínica na gestão da ferida, sendo a mais indicada para o avanço do corpo de conhecimentos de uma disciplina. A experiência pessoal e a opinião dos colegas continua a ter uma influência dominante nos cuidados com a ferida, muitos cuidadores confiam em apenas uma pequena variedade de abordagens de tratamento com que tenham obtido bons resultados no passado, sendo renitentes à aplicação das novas técnicas, com as quais se sentem inseguros. Atualmente e de forma progressiva, o conhecimento tradicional e prática com sucesso vai sendo menos preponderante, mas na pior das hipóteses isso pode perpetuar pobres práticas e mitos (Guyatt et al., 2000). Na revisão sistemática da Dra. Madeleine Flanagan – “As barreiras para a implementação da melhor prática em tratamento de feridas”, são analisadas as barreiras educacionais e institucionais para a execução das melhores práticas na área do tratamento de feridas. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 67 Espaço do enfermeiro EDUCACIONAL PROFISSIONAL / ORGANIZACIONAIS Conhecimento Tradicional/prática ritualista Formação inadequada Falta de compreensão do processo de investigação Pouca investigação de qualidade Falta de habilidades para avaliação crítica As atitudes negativas à prática baseada em evidências Sobrecarga de informação Tratamento de feridas Falta de consenso e opinião de especialistas Resultados da pesquisa inconsistentes Inexistência de protocolos Rivalidade interprofissional Falta de modelos Instabilidade dos serviços de saúde Falta de recursos Falta de foco em tratamento de feridas Quadro 1 - Barreiras educacionais/profissionais/organizacionais. ıı Tratamento Muito se discute se os enfermeiros devem ou não aspirar uma flictena intacta. Tem sido sugerido que o melhor penso para uma flictena intacta é a sua parte superior. Uma flictena intacta é mais confortável e menos propícia à infeção. Existem poucas pesquisas disponíveis sobre a aspiração de flictenas, no entanto, foi conduzido por Cortese et al., em 1968, um estudo clássico. Neste estudo os investigadores produziram flictenas de fricção nas mãos e pés de voluntários utilizando técnicas de fricção. Cortese chegou à conclusão que se essas flictenas fossem drenadas três vezes nas primeiras 24 horas, ou uma vez entre as 24-36 horas, o topo das flictenas aderia à sua base com maior frequência. Isto não resultava num menor desconforto e aumentava a possibilidade de infecção. Também concluíram que remover o topo da flictena antes de 48 horas resultava num maior desconforto e maior inflamação. No entanto, se uma flictena romper de forma espontânea ou aparentar disformidade, o melhor tratamento é remover o topo da flictena e tratá-la como ferida aberta (Ramsey, 1992). O destacamento da porção superior da flictena só deve ser efetuado em duas situações: em caso de tensão extrema e em caso de não visualização do leito da ferida. Nestes casos deve ser retirada toda a epiderme e tratar como uma ferida aberta. Segundo a pesquisa bibliográfica efetuada, o tratamento ideal a adotar perante uma flictena pode resumir-se à aplicação de película de poliuretano ou espumas de poliuretano. A película de poliuretano elimina as forças de fricção. As espumas de poliuretano eliminam não só as forças de fricção como as forças de pressão, sendo por isso o tratamento mais adequado para uma flictena íntegra. Caso haja rutura da flictena esta deverá ser tratada como uma ferida aberta. O tipo de tratamento deverá ser selecionado de acordo com as características do leito da ferida, tendo em conta os princípios de cicatrização em ambiente húmido. Em consonância com o material de penso ideal não deve ser esquecida a utilização de dispositivos de alívio de pressão e o reposicionamento frequente. 68 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 ııPrevenção O tratamento ideal para flictenas é a prevenção. As guidelines do conselho europeu de úlceras de pressão (2009) sublinham a necessidade de medidas preventivas contra efeitos adversos das forças mecânicas externas de pressão, fricção e desgaste. A prevenção das úlceras de pressão é bem sucedida, essencialmente, através da gestão das cargas tecidulares. As superfícies de apoio têm, assim, sido concebidas para reduzir os efeitos da carga tecidular, controlando a intensidade e duração da pressão, forças de deslizamento e fricção. De acordo com a EPUAP 2009, as recomendações para a prevenção das úlceras de pressão são: • Avaliação de risco; • Avaliação da pele; • Nutrição para a prevenção das úlceras de pressão; • Posicionamento para a prevenção das úlceras de pressão; • Superfícies de apoio; • População especial: doentes no bloco operatório. ııÁcidos gordos hiperoxigenados Os AGHO são um dos produtos de uso tópico que se utilizam para a prevenção de úlceras de pressão e no tratamento de UP de categoria I. Os ácidos gordos apresentam as seguintes propriedades: • Proporcionam proteção da pele perante o efeito de alguns agentes causais mais importantes das UP (pressão e fricção); • Permitem uma melhoria na condição local da pele exposta a isquemia prolongada; • Permitem reverter as lesões iniciais de isquemia (eritema que não empalidece ao tato ou UP estádio I); • Permitem melhorar as condições da pele em pessoas de idade avançada para aumentar a resistência face às lesões da pele. ııMetodologia O estudo efetuado é do âmbito qualitativo e de caráter descritivo e exploratório. Optámos por uma abordagem qualitativa porque quisemos ter noção dos conhecimentos dos Enfermeiros relativamente ao tratamento das úlceras de pressão de categoria II - flictenas. Sendo a questão de investigação: Será que os conhecimentos dos enfermeiros no tratamento de úlceras de pressão categoria II - flictenas estão de acordo com as melhores/boas práticas de Enfermagem evidenciadas cientificamente? O estudo foi realizado em meio natural, no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN): Hospital de Santa Maria e Hospital Pulido FLICTENAS E AS BOAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM NO SEU TRATAMENTO Valente no período compreendido entre outubro de 2009 e julho de 2010, no âmbito do Curso de Pós-Graduação em Gestão de feridas crónicas. O nosso universo foram todos os Enfermeiros que trabalham na prestação de cuidados diretos nos serviços de Medicina II-B e Pneumologia II. A amostra é semelhante à população alvo: o universo da nossa amostra são 23 Enfermeiros. As variáveis independentes neste estudo são atributivas, pois dizem respeito à caracterização dos participantes, sendo as seguintes: idade, género, estado civil, habilitações académicas, categoria profissional, tempo de exercício profissional e tempo de serviço onde exerce atualmente. Escolhemos como instrumento de colheita de dados, o questionário que traduz os objetivos de um estudo com variáveis mensuráveis. É constituído por três grupos: grupo I (corresponde à caracterização da amostra, através da colheita de dados sociodemográficos e profissionais, é constituído por oito questões: quatro abertas e três fechadas), grupo II (corresponde à abordagem da temática Flictenas, sendo constituído por três questões abertas e seis questões fechadas), grupo III (corresponde à identificação das necessidades sentidas, por parte dos enfermeiros, relativas ao tratamento das úlceras de categoria II - flictenas, constituído por uma questão aberta e duas questões mistas). No que diz respeito à classificação da flictena, 74% dos indivíduos respondem corretamente que a flictena é uma UP de categoria II. Relativamente ao local mais frequente para o desenvolvimento de uma flictena, pode constatar-se que 83% dos sujeitos respondem acertadamente, referindo ser no calcâneo. Como se pode visualizar no gráfico, 52% dos sujeitos responde ser a nível da epiderme, sendo a resposta certa. Como causa de aparecimento de uma flictena, constata-se que 57% responde de forma acertada referindo ser em consequência das forças de fricção. Quando se questiona se deve proceder-se à aspiração de uma flictena, apenas 39% respondem acertadamente dizendo que não. Ao passo que, apenas 24% respondem de forma acertada à questão: em que situações se deve proceder ao destacamento da porção superior da flictena, isto é, no caso de não visualização do leito da ferida e/ou flictena sob tensão. Grupo III - Necessidades de formação Estas questões foram validadas por dois peritos, quanto à sua clareza, objetividade, pertinência e relação com os objetos e estudo. Na análise de dados do método quantitativo, utilizámos fórmulas estatísticas de média e mediana, complementadas com a observação direta da quantificação dos dados. Para efetuar a análise qualitativa foi utilizada a análise de conteúdo para as perguntas abertas. ıı Resultados Análise Quantitativa Grupo II - Flictena Gráfico 2 - Aquisição de conhecimentos em relação ao tratamento de Flictenas. Relativamente aos conhecimentos dos indivíduos da amostra em relação ao tratamento das UP - flictenas, verifica-se que a maioria, 87%, adquiriu esses mesmos conhecimentos junto de colegas enfermeiros; 57% adquiriram esses conhecimentos na licenciatura em enfermagem; 30% efetuando leitura espontânea; 22% em cursos de formação; 22% na internet; 9% junto das bases de dados eletrónicas e nenhum dos indivíduos possui pós-graduação na área. Gráfico 1 - C onhecimentos dos Enfermeiros quanto às questões fechadas do questionário - Flictenas. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 69 Espaço do enfermeiro Quadro 2 - F requência de respostas aos temas avaliados. Gráfico 3 - O nde recorrem os sujeitos aquando de questões sobre tratamento de Flictenas. Quando se questiona, sobre onde recorrem quando têm questões relacionadas com o tratamento das UP – flictenas, podemos aferir pelo gráfico, que 91% recorrem aos colegas, 30% à leitura espontânea e à internet e 9% a bases de dados eletrónicas. Relativamente à questão sobre a classificação das flictenas, verificámos que a maioria dos inquiridos responde acertadamente, classificando o tipo de flictenas como serosa ou hemática. Considerámos como medidas preventivas chave a avaliação do risco, a avaliação da pele, a avaliação do estado nutricional, os reposicionamentos e a utilização de superfícies de apoio. No que diz respeito à questão referente ao tratamento considerámos, como conceitos chave, a aplicação de espuma de poliuretano, os reposicionamentos, a utilização de superfícies de apoio e a cicatrização em ambiente húmido, no caso de rutura da flictena. Na questão do grupo III, onde procurámos entender qual o sentimento dos indivíduos relativamente à sua necessidade de formação, verificámos a seguinte frequência de respostas para as várias áreas de formação: Necessidades de Formação Gráfico 4 - N ecessidades de formação por parte dos inquiridos. Como se pode observar no gráfico 4, 91% da amostra sente necessidade de formação relacionada com o tratamento de UP – flictenas. ıı Análise Qualitativa Procedemos à análise qualitativa das respostas, através da sistematização das mesmas. Definimos os temas que considerámos importantes e que deveriam ter sido abordados nas diferentes respostas produzidas, contabilizando assim, o número de vezes que estes temas se verificaram nas respostas dadas por forma a identificarmos a proximidade ou afastamento do respetivo tema. De seguida, apresentamos uma tabela de síntese dos temas definidos para cada questão. A partir desta sistematização de respostas, observámos a seguinte frequência de respostas para cada um dos temas. 70 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Áreas de Formação Frequência de Resposta Tratamento 18 Caracterização 5 Prevenção 3 Não específica 2 Quadro 3 - Necessidades de formação - frequências absolutas. FLICTENAS E AS BOAS PRÁTICAS DE ENFERMAGEM NO SEU TRATAMENTO ıı Conclusão Verificámos que os enfermeiros apresentam um maior défice de conhecimentos ao nível das seguintes áreas: camada de ocorrência da flictena, principal fator de aparecimento, procedimento de aspiração e destacamento da porção superior, destacando-se uma carência bastante acentuada nas duas últimas áreas descritas. 1. C riação de um plano de formação específico para este tema que seja transversal a todos os profissionais; 2. Incentivo à reflexão crítica utilizando hábitos de leitura seletiva; 3. Incentivo à procura de fontes de obtenção de conhecimento baseadas na evidência científica de forma a fundamentar as nossas intervenções com rigor; Em oposição, são verificados resultados satisfatórios nas áreas de classificação da flictena e local mais frequente para o seu desenvolvimento. 4. S ensibilização para a problemática da prevenção das úlceras de pressão, pois consideramos ser um aspeto de primordial importância. Com isto, através da nossa análise qualitativa verificámos a existência dessa consciencialização por parte dos inquiridos, pois a maioria refere o tratamento da flictena como a sua principal necessidade de formação. ııREFERÊNCIAS Um fator importante para a evolução de conhecimentos bem como a sua aplicação no tratamento das flictenas, é a origem da obtenção desse mesmo conhecimento. Ao observar as origens principais de obtenção do conhecimento, identificadas pelo questionário constatámos com algum interesse que apesar de a maioria dos inquiridos possuir a licenciatura, adquirem os conhecimentos necessários para o tratamento das flictenas através dos seus colegas. Podemos concluir que existe um bom nível de conhecimentos relativamente à classificação do tipo de flictenas existentes. No entanto, relativamente às medidas preventivas que consideram mais importantes para evitar o aparecimento de uma flictena e ao modo de tratamento no caso do seu aparecimento denota-se uma grande lacuna nos conhecimentos existentes. Analisando os resultados anteriormente apresentados na tabela sistemática (Quadro 2), verifica-se que a avaliação do grau de risco, a avaliação da pele, a avaliação do estado nutricional e a utilização de superfícies de apoio, apesar de serem os conceitos chave na prevenção do aparecimento de flictenas, são pouco referenciados, dando-lhes assim pouca relevância no processo de prevenção. No que diz respeito à necessidade de alternância de decúbitos podemos constatar o inverso, pois é maioritariamente referida. Podemos verificar que o maior défice de conhecimentos existente reside no tratamento adequado para uma flictena, onde uma percentagem muito significativa dos sujeitos remete para tratamentos inadequados, sendo o mais referido a aplicação de compressas embebidas em álcool. Estes resultados refletem um tratamento inadequado em detrimento do seu tratamento adequado, que deveria incluir, alívio de pressão pela utilização de espumas de poliuretano, reposicionamento, utilização de superfícies de apoio consoante o grau de risco identificado e a eventual gestão do ambiente húmido no caso de rutura de flictena. Concluímos assim, que os conhecimentos dos Enfermeiros no tratamento de úlceras de pressão categoria II – flictenas não estão de acordo com as boas práticas de enfermagem evidenciadas cientificamente. Sendo assim é necessário implementar as respetivas ações que consideramos que passam obrigatoriamente por: 1. Banks, V; Haglestein S; e outros. Comparing hydrocolloid dressing in management of exusting wounds. Nursing Journal, 1999. CINAHL. 2. Baranoski, S; Ayello, EA. O essencial sobre tratamento de feridas. Princípios práticos. Loures, Lusodidacta, 2005. 3. 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PROJETO QUALIDADE - CHLN CENTRO HOSPITALAR LISBOA NORTE, EPE SERVIÇOS CERTIFICADOS/ACREDITADOS Engª Maria das Dores Capucho Coordenadora do Gabinete da Qualidade SERVIÇO/UNIDADE Unidade de Imagiologia Geral – HPV Deixa de estar certificada em dezembro de 2012 ENTIDADE CERTIFICADORA PERÍODO DE VALIDADE DA CERTIFICAÇÃO REFERENCIAL SGS / ICS 12/2009 - 12/2012 (auditorias de acompanhamento anuais) NP EN ISO 9001:2008 Serviço de ImunoHemoterapia – CHLN SGS / ICS Serviço Social e Gabinete do Utente – CHLN EQUASS Serviço Gestão SGS / ICS Tecnicofarmacêutica – CHLN 08/2010 - 08/2013 (auditorias de acompanhamento anuais) - auditoria realizada em 18/20 junho 2012) Primeiro período de certificação 06/2010 - 06/2012 Renovação da Certificação (Quality Assurance) em 8 e 9 outubro 2012 - até 2014 04/2011 - 04/2014 (auditorias de acompanhamento anuais - auditoria agendada para 20/21 dezembro 2012) 05/2011 - 05/2014 (auditorias de acompanhamento anuais - auditoria realizada em 20 março 2012) 06/2011 - 06/2014 (auditorias de acompanhamento anuais - auditoria realizada em abril 2012) 01/2012 - 01/2015 (auditorias de acompanhamento anuais - auditoria agendada para 14 dezembro 2012) NP EN ISO 9001:2008 EQUASS NP EN ISO 9001:2008 Centro de Procriação Medicamente Assistida – CHLN SGS / ICS Unidade de Logística e Stocks – CHLN APCER Serviço Patologia Clínica – CHLN SGS / ICS Serviço de Neurologia – CHLN SGS / ICS 10/2012 - 10/2015 (auditorias de acompanhamento anuais) NP EN ISO 9001:2008 Serviço de Pneumologia I – HSM SGS / ICS 09/2012 - 09/2015 (auditorias de acompanhamento anuais) NP EN ISO 9001:2008 NP EN ISO 9001:2008 NP EN ISO 9001:2008 NP EN ISO 9001:2008 N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 73 PROJETO QUALIDADE - CHLN SERVIÇO/UNIDADE Serviço de Urologia – CHLN EM VIAS DE CERTIFICAÇÃO ENTIDADE CERTIFICADORA SGS / ICS Comité de Serviço de Pediatria Médica Certificação da ACSA Serviço de Neonatologia Comité de Certificação da ACSA Serviço de Cirurgia Pediátrica EM VIAS DE CERTIFICAÇÃO Comité de Certificação da ACSA Dezembro de 2012 74 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 PERÍODO DE VALIDADE DA CERTIFICAÇÃO Auditoria de concessão da certificação: agendado para 19 dezembro 2012 Junho de 2012 - certificação do Serviço de Pediatria Médica, no nível de Bom Visita de seguimento deverá realizar-se em março de 2014 Junho de 2012 - certificação do Serviço de Neonatologia, no nível de Bom Visita de seguimento deverá realizar-se em janeiro de 2014 Início em abril de 2012 REFERENCIAL NP EN ISO 9001:2008 Modelo Nacional de Acreditação - Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía – ACSA/DGS Modelo Nacional de Acreditação - Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía – ACSA/DGS Modelo Nacional de Acreditação - Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía – ACSA/DGS Notícias I Jornadas de Senologia do Hospital Pulido Valente - Mamoplastias na Cirurgia Conservadora - Cirurgia Reconstrutiva com Retalho Miocutâneo com Grande Dorsal - Gânglio Sentinela - Ecografia Mamária e o Cirurgião José Manuel Moisão, Coordenador Núcleo de Senologia (UCG-HPV) Realizaram-se no dia 27 de outubro de 2012, no nosso Anfiteatro, as I Jornadas de Senologia do HPV, presididas pelo Professor Dr. J. Correia da Cunha, Presidente do Conselho de Administração. Tratou-se de um projeto já antigo mas que, por diversas vicissitudes, só agora foi posto em prática. Foi dirigido a todos aqueles que se interessam pela Senologia, com especial enfoque para as especialidades envolvidas, dado os temas abordados. Conseguimos convidar Palestrantes e Moderadores de renome para que a abordagem e a discussão fosse de maior qualidade. Num primeiro painel abordou-se o tema das Mamoplastias usadas atualmente na Cirurgia Conservadora, permitindo, apesar de um tratamento Oncológico correto, melhorar francamente a estética tanto da mama operada como da mama contralateral (simetrização). Contámos com a experiência de colegas tais como a Dra. Maribel Correa do Centro Hospitalar Universitário de Badajoz, o Dr. Vargas Moniz do IPOFG Lisboa, o Dr. Júlio Matias do Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e o Dr. Rogelio Andrés-Luna do Núcleo de Senologia do nosso Hospital, tendo a moderação desta mesa sido levada a cabo pelo Prof. Dr. José Rosa – IPOFG Lisboa e Dr. José Manuel Moisão do Núcleo de Senologia do HPV-CHLN. Como segundo tema foi abordada a Cirurgia Reconstrutiva da Mama: com retalho miocutâneo do grande dorsal, abordando-se a técnica (Dr. Miguel Andrade – Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental), a variante de reconstrução imediata sem uso de prótese (Dr. Jose Luis Amaya – Centro Hospitalar Universitário de Badajoz) e das complicações desta técnica (Prof. Dr. José Rosa – IPOFG Lisboa), sendo este painel moderado pelo Prof. Doutor Manuel Caneira do HSM-CHLN, Dra. Maribel Correa do Centro Hospitalar Universitário de Badajoz. Foi abordado, em palestra da Dra. Susana Santos – Serviço Social do HPV-CHLN, o Papel e a Intervenção do Assistente Social em Mulheres com Cancro da Mama, assunto de relevante importância, sobretudo nos dias que correm. N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 75 Notícias A Biópsia do Gânglio Sentinela é um tema essencial na abordagem de qualquer reunião sobre Senologia, pelo que foi realizado um painel em que se discutiram diversas experiências, tais como a do nosso Núcleo de Senologia do HPV, pelo Dr. José Manuel Moisão, a da Unidade de Senologia do HSM pela Dra. Isidra Cantante, a da Unidade de Senologia do HSFX – CHLO pelo Dr. Vítor Pereira, assim como do papel indispensável da Anatomia Patológica apresentado pela Dra. Analisa Ribeiro do HPV-CHLN. A importância atual da Oncologia nesta temática foi abordada pela Dra. Joana Ribeiro do HSM-CHLN e a abordagem futura sobre a técnica pelo Dr. Rogelio Andrés-Luna do Núcleo de Senologia do HPV-CHLN. Foi tema de discussão sobretudo pelos pressupostos de não abordar a axila em casos selecionados em que o gânglio sentinela é positivo, sendo moderada a mesa pela Dra. Emília Pereira da Unidade de Senologia do Hospital de Setúbal e pelo Dr. Luís Mestre da Unidade de Senologia do Hospital CUF-Infante Santo. Terminaram as Jornadas com um tema também sempre atual, que é o uso da Ecografia Mamária pelo Cirurgião, tanto na realização de Biópsia assistida por Vácuo com Mamótomo (Dr. José Manuel Moisão – HPV-CHLN), como nas vantagens de usar a Ecografia perioperatória nas lesões impalpáveis da mama (Dr. Rogelio Andrés-Luna – HPV-CHLN), sendo estes temas moderados pela Dra. Beatriz Assis – Serviço de Imagiologia do Hospital CUF-Descobertas e pelo Dr. José Carlos Marques do Serviço de Imagiologia do IPOFG-Lisboa. Pensamos que a realização destas Jornadas foram coroadas de êxito dado o número e o interesse dos participantes, a atualidade dos temas discutidos, o entusiasmo da discussão entre Palestrantes, Moderadores e Assistência, o que nos leva a pensar realizar umas segundas Jornadas, motivados pelo ânimo de levantar as mesmas expetativas. Ao terminar não podemos deixar de agradecer a todos que estiveram envolvidos na sua organização, salientando-se o Secretariado, a cargo das Sras. D. Maria Manuela Martins, D. Rute Vasconcelos, D. Lídia Rocha e D. Lucília Figueiredo, sem as quais não teria sido possível esta realização, assim como a todos os Patrocinadores do evento, que possibilitaram a sua realização financeira. Uma palavra de agradecimento pelo estímulo e apoio ao Dr. João Raposo d’Almeida, Diretor do Serviço a que temos a honra de pertencer, sem o qual também teria sido impossível realizar estas jornadas. José Manuel Moisão Dezembro 2012 76 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 Notícias Segurança do Doente: da Qualidade e Segurança à Excelência Clínica Conferência Final No âmbito da Estratégia Nacional para a Qualidade em Saúde, aprovada pelo Despacho Ministerial n.º 14223/2009, de 8 de junho, é operacionalizada nos termos deste pela Direção-Geral da Saúde (DGS), adotando um conjunto de sete prioridades estratégicas, de entre as quais se destaca a segurança do doente, como forma de garantir, progressivamente, aos cidadãos maior confiança no acesso aos serviços prestados pelas unidades de cuidados de saúde do sistema de saúde em Portugal. A DGS em estreita colaboração com a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH) sobre a presente matéria, designadamente no desenvolvimento de ações de formação destinadas a reforçar a qualificação dos profissionais que trabalham/dirigem nas estruturas de qualidade hospitalar e de segurança do doente. Esta colaboração está inserida num quadro mais vasto de trabalho conjunto de avaliação e monitorização da cultura de segurança e de revisão de procedimentos de melhoria da cultura de segurança dos doentes nas unidades prestadoras de cuidados do sistema de saúde. A presente ação de formação resultou do cofinanciamento aprovado pelo POPH, na tipologia 3.6 – Qualificação para os Profissionais de Saúde, ao Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN). É neste contexto que se realizou, no dia 10 de dezembro de 2012, no Anfiteatro do Hospital Pulido Valente, a Conferência Final da Formação Segurança do Doente: da Qualidade e Segurança à Excelência Clínica, organizada pelo Centro de Formação do CHLN e cuja coordenação científica esteve a cargo do Professora Doutora Ana Escoval. Este evento, aberto a todos os profissionais, consistiu na apresentação pelos seus participantes dos projetos desenvolvidos no âmbito da referida formação. Os grupos de trabalho multidisciplinares, constituídos por profissionais do Hospital de Santa Maria e do Hospital Pulido Valente, revelaram um grande envolvimento e motivação desde o início desta ação de formação, tendo apresentado quatro N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012 | boletim Hospital Pulido Valente 77 Notícias projetos que refletiram de modo incisivo as temáticas transmitidas ao longo destes últimos meses. Estes permitiram dar a conhecer e sinalizar as atuais práticas, em alguns serviços do CHLN e identificar um conjunto de pontos fortes e fracos, que possibilitou um interessante momento de reflexão entre os presentes, e que culminou num importante ponto de partida para o aprofundamento destes projetos, através dos elementos dos grupos de trabalho com vista à melhoria e promoção da qualidade e de uma cultura do doente no CHLN. De entre os trabalhos apresentados destacamos as temáticas apresentadas e os seus elementos: Gestão de Espólios Ana Mirco, Carla Melo, Célia Cuco, Fernanda Realista, Isabel Guerreiro Gestão dos Cateteres Venosos Periféricos Cátia Fidalgo, Dilar Costa, Márcio Nascimento, Sandra Lemos, Sónia Frias Organização do Material de Emergência – Carro de Emergência Cecília Gomes, Isabel Dias, Rosa Capelo, Susana Jesus, Vanessa Gouveia Parceiros na Segurança – Doente/Acompanhante na Prevenção da Transmissão Cruzada Aura Lopes, Céu Assis, Fátima Caetano, Gisela Queirós, Lília Coutinho 78 boletim Hospital Pulido Valente | N.º 1 – Janeiro A Dezembro 2012