consumo de micronutrientes por crianças com
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consumo de micronutrientes por crianças com
CONSUMO DE MICRONUTRIENTES POR CRIANÇAS COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA CONSUMO DE MICRONUTRIENTES POR NIÑOS CON TRASTORNOS DEL ESPECTRO AUTISTA CONSUMPTION OF MICRONUTRIENTS IN CHILDREN WITH AUTISM SPECTRUM DISORDERS SUZANA MARQUES DA SILVEIRA (1) ADRIANA SALUM (2) MELISSA WATZKO ESKELSEN (3) (1) Acadêmica do curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, Brasil, [email protected]. (2) Mestre. Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, Brasil. Orientadora do conteúdo. [email protected]. (3) Mestre. Docente do curso de Nutrição do Centro Universitário Estácio de Sá de Santa Catarina, Brasil. Orientadora de metodologia. [email protected]. RESUMO O Autismo é considerado um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por alterações significativas na comunicação, interação social e no comportamento do indivíduo. Sua etiopatogenia não esta claramente identificada, porém a multifatoriedade, atualmente, é a causa mais plausível. Sua prevalência vem crescendo nos últimos anos acometendo mais crianças do sexo masculino. O objetivo do estudo foi identificar o consumo alimentar e verificar os principais desequilíbrios nutricionais relacionados à ingestão de micronutrientes (B1, B3, B5, B6, B9, B12, A, Zn, Se e Mg) por crianças com TEA. Trata-se de uma pesquisa de caráter transversal, composta por 30 crianças de ambos os sexos, com idade entre dois a 12 anos, tendo diagnostico de autismo fechado. O instrumento de coleta foi uma Anamnese Clínico Nutricional, aplicada aos pais das crianças. Foi realizada uma média de consumo alimentar de três dias somada à suplementação, quando utilizada, e observou-se um consumo possivelmente adequado de Zn, Se, B1, B5, B6 e B12; possivelmente inadequado de vitamina A e B9 e com possível risco de efeitos adversos diante a elevada ingestão de Mg e B3. A condição do autismo é complexa, no qual a nutrição e os fatores ambientais desempenham papéis primordiais para qualidade de vida do indivíduo RESUMEM El Autismo es un Trastorno Global del Desarrollo, caracterizado por alteraciones significativas en la comunicación, en la socialización y en el comportamiento del individuo. Las causas todavía no están claramente identificadas, sin embargo un componente multifactorial parece ser la mejor etiopatogenia. Es más común en niños del sexo masculino, independiente de la etnia, origen geográfico o situación socio- económica. Su prevalencia, así como su reconocimiento, ha crecido en los últimos años. El objetivo del presente estudio ha sido identificar el consumo alimentar y verificar los principales desequilibrios nutricionales relacionados a la ingestión de micronutrientes por niños con TEA. Se trata de un estudio transversal, compuesto por 30 niños de ambos sexos, edades entre 2 y 12 años y con diagnóstico de autismo. El instrumento de colecta fue una Anamnesis Nutricional, aplicado a los padres de los niños. Se ha realizado una media de consumo alimentar y se ha observado que la mayoría de ellos poseía un consumo adecuado de micronutrientes. Sin embargo, además del consumo alimentar es necesario llevar en consideración otros factores que también aparecen en desequilibrio en los niños con trastorno del espectro autista y muchas veces dificultan la absorción e ingestión de estos micronutrientes. ABSTRACT Autism is a Globally Pervasive Developmental Disorder, characterized by significant alterations in communication, social interaction and behavior of the individual. The causes are not clearly identified, but the multitude of factorialetiology seems to be the best pathogenesis. It is more common in male children, regardless of the ethnicity,geographical origin or socioeconomic status. Its prevalence has increased in recent years, as well as their closed diagnosis. The objective of this study was to identify the food intake and check the main nutritional imbalancesrelated to the intake of the micronutrient by children with ASD. This survey was composed of 30 children, both sexes, between two and 12 years of age with a confirmed diagnosis of autism. The instrument was one AnamneseClinical Nutrition administered by parents of children. the average food consumption was observed and documented, the conclusion was that most of the children had an adequate intake of micronutrients. But beyond the food intake isnecessary to take into account other factors that also appear in imbalance in children with autism spectrum disorderand often hinder the digestion and absorption of these micronutrients. DESCRITORES: Autismo, Micronutrientes, Nutrição, Consumo alimentar. DESCRIPTORES: Autismo, Micronutrientes, Nutrición, Consumo alimentar. DESCRIPTORS: Autistic, Micronutrients, Nutrition, Food consumption. INTRODUÇÃO A história oficial do Autismo teve início em 1943, com a publicação de um artigo, pelo Doutor Leo Kanner sobre os “Distúrbios Autísticos de Contato Afetivo”. Este descreveu o caso de 11 crianças que possuíam as seguintes características incomuns: prejuízo nos comportamentos não-verbais, incapacidade do desenvolvimento e profundo déficit de relacionamento interpessoal, sendo vistas como retardadas ou esquizofrênicas1. Kanner acreditava que o autismo tinha uma causa neuropsicológica2. Nos dias atuais o autismo esta começando a ser visto como uma desordem imune e neuro-inflamatória - um distúrbio multifatorial, 50% genético e 50% ambiental. Compreende-se que a genética não se faz por si só, há uma vulnerabilidade de genes e gatilhos ambientais, logo, a exposição de doses baixas e contínuas de múltiplas toxinas e infecções ambientais podem modular fatores genéticos preexistentes responsáveis pela manifestação das desordens de espectro autista em crianças3. As atuais estimativas de prevalência sugerem que cerca de três a cinco crianças em cada mil são afetadas pelo Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)4. De acordo com o censo escolar do INEP/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira do Ministério da Educação – realizado anualmente em âmbito nacional, nos anos de 2005 e 2006 foram catalogadas 7.123 escolas e 7.513 classes especiais com atendimento de alunos autistas. A partir de 2007, com a mudança de terminologia de autismo para Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID), incluindo outros transtornos na categoria como: Rett, Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância (TDI), esse número aumentou, passando para 25.050 e 26.189 em 20085. Segundo a Cartilha dos Direitos das Pessoas com Autismo6: O Autismo é um Transtorno Global do Desenvolvimento (também chamado de Transtorno do Espectro Autista - TEA), caracterizado por alterações significativas na comunicação, na interação social e no comportamento da criança. Essas alterações levam as importantes dificuldades adaptativas e aparecem antes dos 03 anos de idade, podendo ser percebidas, em alguns casos, já nos primeiros meses de vida. As causas ainda não estão claramente identificadas, porém já se sabe que o autismo é mais comum em crianças do sexo masculino, independente da etnia, origem geográfica ou situação socioeconômica. O TEA é dividido em três grandes grupos: autismo clássico - criança desde o nascimento apresenta sintomas, porém seu desenvolvimento é uniforme durante a infância; autismo regressivo – apresenta sintomas ou atraso nos marcos do desenvolvimento, mas consegue ter aquisições de habilidades, porém em um determinado momento perde as habilidades adquiridas; e o autismo súbito – não apresenta nenhum sintoma ou atraso no desenvolvimento e de repente, em um curto espaço de tempo começa a apresentar os sintomas3. Além das características mais marcantes percebidas nos portadores do transtorno, há uma série de desordens no trato gastrointestinais (TGI) como: diminuição na produção de enzimas digestivas e detoxificantes, inflamações crônica da parede intestinal e alteração na permeabilidade intestinal, ocasionando deficiências nutricionais, disbiose intestinal, alteração das repostas imunes, alergias alimentares, entre outras, agravando os sintomas dos portadores da doença3-4. Os nutrientes são substâncias ingeridas nos alimentos que possuem funções variadas no organismo, são denominados de micro e macronutrientes. Os micronutrientes são componentes estruturais que exercem funções específicas, incluindo ação hormonal, co-fatores enzimáticos e estabilizadores de reações químicas. São divididos em: vitaminas (substâncias orgânicas) e os minerais (compostos inorgânicos), sendo necessários para o crescimento e manutenção da normalidade metabólica e funcionamento adequado das células7. Através das Dietary Reference Intakes (DRIs) é possível avaliar a adequação da ingestão alimentar. As DRIs são valores de referência de ingestão de nutrientes que incluem tanto as recomendações de ingestão como os limites superiores. Refere-se ao metabolismo em diversas faixas etárias e sexo, levando em consideração variações individuais nas necessidades de cada nutriente, sua biodisponibilidade e os erros associados aos métodos de avaliação do consumo dietético8. É muito comum as crianças autistas possuírem deficiências nutricionais, pois a maioria apresenta uma alimentação limitada, porém mesmo que a criança possua uma dieta variada e adequada nutricionalmente, ela precisa ser capaz de executar três funções básicas, que grande parte, infelizmente, é incapaz: digerir e quebrar adequadamente o alimento até uma forma absorvível, absorver os nutrientes através do TGI saudável e converter os nutrientes em uma forma utilizável em nível celular. As deficiências de micronutrientes mais comuns nos TEA são: B1, B3, B5, B6, B9, B12, A, Zinco (Zn), Selênio (Se) e Magnésio (Mg)2. O objetivo deste trabalho exposto foi identificar o consumo alimentar e verificar os principais desequilíbrios nutricionais relacionados à ingestão de micronutrientes por crianças com TEA. MÉTODOS A pesquisa, de caráter transversal, foi realizada no 1º semestre de 2013. Para alcançar os objetivos deste estudo foi necessário o auxílio de três fonoaudiólogas e uma psicóloga, que atuam em Núcleos interdisciplinares filantrópicos e/ou particulares, localizados no centro e continente de Florianópolis, dando ênfase na amostra escolhida. O estudo seguiu as normas reguladoras de pesquisa envolvendo seres humanos do CNS 196/969. A amostra foi composta por 30 crianças, ambos os sexos, entre dois a 12 anos de idade, com diagnostico de autismo fechado. A divisão das crianças em faixa etária seguiu as DRIs10-11. Para a participação do estudo, com cuidados técnicos, antes do início da coleta de dados, todos os pais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), autorizando utilização dos dados coletados para a pesquisa mantendo o sigilo de identificação. Para coleta de dados foi realizada uma Anamnese Clínico Nutricional com os pais das crianças. Para a aplicação da Anamnese, o pesquisador deslocou-se até o local escolhido no horário de consulta da criança com o profissional (fonoaudióloga ou Psicóloga), e executou a pesquisa com os pais, enquanto a criança estava em atendimento. O registro alimentar foi realizado buscando informações de três dias (dois dias aleatório durante a semana e um dia no final de semana). Os dados foram tabulados no Software Avanutri 4.0/200412, onde foram identificados os desequilíbrios nutricionais de micronutrientes. Estes foram armazenados e tabulados com o auxílio do Software Microsoft Office Excel 97-2003® e apresentados em forma de ilustrações (gráficos) e tabelas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na ilustração 1 foram apresentados dados de identificação da amostra estudada, segundo sexo e faixa etária. Identificação 93,3% n=28 100 90 Porcentagem (%) 80 60% n=18 70 60 50 40 26,7% n= 8 30 20 10 13,3% n= 4 6,7% n=2 0 Feminino Masculino 1 a 3 anos Sexo 4 a 8 anos 9 a 13 anos (masculino) Idade Ilustração 1: Distribuição de dados coletados quanto à identificação das crianças com TEA, segundo sexo e faixa etária. Fonte: Dados primários (2013). Segundo Rodrigues2, estudos epidemiológicos apontam maior incidência do autismo no sexo masculino, com média de 3,5 a 4 vezes meninos para cada menina, corroborando com o pensamento de Kortmann13, que elucidou o autismo sendo 4 vezes mais comum em garotos do que em garotas numa escala de 5/10.000. Vindo ao encontro dos achados do presente estudo, que relata que 93,3% (n=28) das crianças pesquisadas fazem parte do sexo masculino e apenas 6,7% (n=2) do sexo feminino. A seguir, na tabela 1, observa-se a média de consumo dos minerais durante o recordatório alimentar de três dias, somada ao suplemento alimentar, quando utilizado pela amostra. Para identificar se o consumo alimentar das crianças autistas estava de acordo com as recomendações, foi realizado uma comparação com as DRIs10. De acordo com a ingestão de Zn, Se e Mg, respectivamente, 23,3 (n=7), 23,3 (n=7) e 13,3% (n=4) das crianças possuem um consumo possivelmente inadequado; 46,6 (n=14), 73,33 (n=22) e 26,66% (n=8) possivelmente adequado e 30 (n=9); 3,33 (n=1) e 60% (n=18) sofrem risco potencial de efeitos adversos. Das 30 crianças estudadas, apenas 6,66% (n=2) fazem uso de suplementação de mineral, prescrita pelo médico, logo, dose medicamentosa não pode ser classificada como um risco potencial de efeitos adversos para criança. Tabela 1. Média de o consumo alimentar de minerais + suplemento de crianças com TEA, e classificação do consumo segundo DRIs. 1 2 3 4 5 6 7 8 Faixa etária 1 a 3 anos Crianças Média alimentar + Suplemento Mg(mg) 77,36 133 116 57,83 88,6 103,13 132,26 34,93 33,63 10 11 12 13 14 15 16 96,9 178,5 94,26 90 121,4 215,83 239,7 4 a 8 anos 9 Zn(mg) 36,26 3,56 6,03 29,1 7,03 6 4,63 3,56 2,36 + 15 4,2 11,16 4,36 6,66 3,36 9,33 11 Se(mcg) 34 33,96 5,53 21,1 53,5 285,63 22,93 21,66 TOTAL Classificação Mg(mg) Zn(mg) Se(mcg) Mg 77 36 34 REA 133 4 34 REA 116 6 5 REA 58 29 21 PA 87 7 53 REA 103 6 286 REA 132 20 23 REA 35 4 22 PA Zn REA PA PA REA PA PA REA PA Se PA PA PI PA PA REA PA PA 13,26 34 17 13 PA REA PI 32,96 51,83 40,16 60,56 77,56 96,46 125,73 96 178 94 90 121 216 240 4 11 4 7 3 9 11 33 52 40 61 78 96 126 PA REA PA PA REA REA REA PI PA PI PA PI PA PA PA PA PA PA PA PA PA 61,8 3,13 23,26 62 3 23 PA PI PI 244,7 15 96 245 15 96 REA REA PA 146,66 3,33 22,23 147 3 22 REA PI PI 71,93 1,76 15,96 72 2 16 PA PI PI 211,43 9,96 26,36 411 30 26 REA REA PI 138,4 37,66 117,53 138 38 117 REA REA PA 94,56 + 6,83 + 26,46 + 23 295 27 146 REA REA PA 200 20 120 24 174,33 9,96 72,46 174 10 72 REA PA PA 25 190,46 162,63 64,56 190 163 65 REA REA PA 26 123,73 5,83 55,6 124 6 56 REA PA PA 27 177,86 6 38,2 178 6 38 PI PI PI 28 204 14,96 118,03 204 15 118 PA PA PI 29 114,43 5,8 59,73 114 6 60 PA PA PI 30 162,7 14,4 101,2 163 14 101 PA PA PI Legenda: RDA: Recommended Dietary Alowwances; UL: Tolerable Upper Intake Level; PI: possivelmente inadequado; PA: possivelmente adequado; REA: risco potencial de efeitos adversos. Padrão de referência: 1 a 3 anos: RDA - Mg(mg) = 80; Zn(mg) = 3; Se(mcg) = 20 / UL - Mg(mg) = 65; Zn(mg) = 7; Se(mcg) = 90 4 a 8 anos: RDA - Mg(mg) = 130; Zn(mg) = 5; Se(mcg) = 30 / UL - Mg(mg) = 110; Zn(mg) = 12; Se(mcg) = 150 9 a 13 anos: RDA - Mg(mg) = 240; Zn(mg) = 8; Se(mcg) = 40 / UL - Mg(mg) = 350; Zn(mg) = 23; Se(mcg) = 1280 Fonte: Dados primários (2013). 9 a 13 anos 17 18 19 20 21 22 Yasuda et al.14 apresentaram um estudo sobre as concentrações de Zn presente na amostra de cabelos de 1.667 crianças diagnosticadas com TEA. Observou-se que grande maioria delas sofreram deficiência deste nutriente. A carência deste mineral pode ser explicada pelo consumo nutricional desequilibrado e menor capacidade de absorção intestinal do autista. O Zn possui inúmeras funções no organismo, atuando como cofator de mais de trezentas enzimas, componente estrutural de proteínas e hormônios, antioxidante no sistema imune, divisão e respiração celular, expressão e transcrição genética, no metabolismo da vitamina A, entre outros, logo, sua deficiência está relacionada a várias condições patológicas como a baixa imunidade, cicatrização retardada, crescimento retardado, transtornos do desenvolvimento e doenças alérgicas, sintomas observados em crianças com TEA14-15. A diminuição do nível de Mg e Se foi referido por Prya et al.16 em um estudo realizado, através de uma amostra de cabelo e unha, com 15 crianças autistas. O Mg é essencial para o transporte de ínos potássio (K) e cálcio (Ca), além de modular sinais de transdução, metabolismo de energia e proliferação celular. Os sintomas resultantes de sua deficiência podem incluir ansiedade, depressão, hiperatividade, agitação, alucinações, irritabilidade, nervosismo, agressão, estresse crônico, dificuldade de aprendizagem e perda de memória. Já o Se é um componente importante para saturação da glutationa peroxidase, enzima antioxidante que atua na prevenção a decadência da função celular, e parece oferecer proteção contra os efeitos dos metais pesados (chumbo tóxico, mercúrio, cádmio)15-16. O fato de 46,66 e 73,33% das crianças possuíram um consumo dentro do recomendado de Zn e Se, respectivamente, e 60% acima do limite de Mg como é ressaltado na Tabela 1, porém não se pode afirmar que as mesmas irão usufruir de todos os benefícios e/ou conseqüências proposto pelo consumo adequado destes minerais, pois recentes estudos demonstraram que a digestão dos alimentos pelas crianças autistas normalmente está prejudicada devido a baixa sulfatação que é interdependente da metilação e transulfatação, processos essenciais na digestão, integridade da mucosa intestinal, destoxificação, equilíbrio da microbiota entre outros, assim como a biodisponibilidade e a interação entre nutrientes podem interferir na absorção de micronutrientes ocasionando baixos níveis de minerais, vitaminas, entre outros compostos2; 8. A tabela 2 ilustra as principais vitaminas que se encontram em desequilíbrio nos autistas pesquisados. A maioria possuiu um consumo possivelmente inadequado de vitamina A e B9 com 56,66 (n=17) e 93,33% (n=28), respectivamente, e 93,33% (n=28) com riscos de efeitos adversos pela elevada ingestão de B3. As vitaminas restantes apresentaram-se dentro da recomendação de consumo. Apenas 13,33% (n=4) crianças fazem uso de suplemento vitamínico diante prescrição médica. Tabela 2. Média de o consumo alimentar de vitaminas + suplemento de crianças com TEA, e classificação do consumo segundo DRIs. 1 2 3 4 5 6 Faixa etária 1 a 3 anos Crianças A (mcg) 554,13 132,53 102,53 70,2 477,73 31,73 4 a 8 anos A B1 554 132 102 70 478 1 2 1 2 2 10 18 14 26 40 B3 B5 Classificação B6 B9 B12 A B1 B3 B5* B6 B9 B12 1 2 4 9 4 1 1 3 2 2 60 29 97 46 37 5 5 4 4 5 PA PI PI PI PA PA PA PA PA PA PA REA REA REA REA PI PA PA PA PA PA PA PA PA PA PI PI PI PI PI PA PA PA PA PA PI PA REA PI PA PI PA REA PA REA PA PA PI PA PI PA 32,53 0,63 32 10 36 1 13 32 1 3,56 1,65 69,2 1,93 659 4 30 4 2 69 2 6,65 1,7 + 2 33,03 6,31+ 6 494 7 36 7 4 33 12 2,89 0,53 + 10 59 3 10 330 843 174 93 194 131 1 4 2 3 3 4 28 76 43 35 43 49 4 10 4 5 5 3 807,3 3,62 45,26 7,96 151,43 14,84 807 4 45 8 214,73 659,2 176,1 109,73 438,36 192,8 1,88 3,57 3,25 0,31 4,11 3,85 25,68 48,54 28,57 5,4 205,38 75,43 4,36 11,87 6,04 1,12 4,07 8,43 41,62 6,04 3,55 2,69 4,22 3,29 3,71 + 400 1,88 3,05 3,28 0,47 2,25 3,62 1,39 + 1100 3,98 10 5,24 2,89 4,2 6,07 1 4,25 10,36 4,09 4,893 4,896 3,38 29,8+ 400 81,06 105,66 57,33 58,73 53,73 41,8 359 1,16 4,44 2,52 3,12 3,07 3,88 30,43 26,46 + 10 8,71 + 50 28,37 76 42,88 35,2 42,96 49,26 49,13 93,2 79,73 12,1 127,86 68,36 4,94 14,56 5,01 1,56 1,67 11,73 494,46 17 18 19 20 21 22 B12 (mcg) 4,58 5,51 3,82 3,68 5,39 3,47 + 10 8 16 TOTAL B9 (mcg) 60,33 28,8 96,93 45,66 37,46 1,33 659,16 10 11 12 13 14 15 Média alimentar + Suplemento B5 B3 (mg) B6 (mg) (mg) 10,42 0,91 0,9 18,13 2,22 1,16 14,35 3,71 3,54 26,46 8,56 1,72 40,51 3,57 2,38 36,02 7 9 B1 (mg) 0,66 2,16 1,19 1,97 1,95 4,94 + 5 3,67 2,33 + 4,8 208,96 + 150 330,43 843,06 173,63 92,7 193,93 130,56 0,81 PA PA REA PA PA 430 1101 PI PA REA PA PA 42 6 3 3 4 3 81 106 57 59 54 42 4 10 5 3 4 6 PI PA PI PI PI PI PA PA PA PA PA PA REA REA REA REA REA REA PA REA PA PA PA PA PA PA PA PA PA PA PI PI PI PI PI PI PA PA PA PA PA PA 404 151 15 PA PA REA PA REA PI PA 215 2 26 4 2 49 659 4 48 12 3 93 176 3 29 6 3 80 110 0,31 5 1 0,47 12 438 4 205 4 2 128 193 4 75 8 4 68 5 15 5 2 2 12 PI PA PI PI PA PI PA PA PA PI PA PA REA REA REA PI REA REA PA PA PA PI PA PA PI PI PI PI PI PI PA PA PA PA PA PA PA PA PA PI PA PA REA PA 164,83 2,85 + 33,94 + 2,82 + 68+ 4,57 + 1,68 + 50 7665 28 134 53 52 2068 205 REA PA REA PA REA REA + 7500 25 100 50 2000 200 24 325,8 4,62 97,46 9,52 6,83 57,5 15,47 326 5 97 9 7 57 15 PI PA REA PA PA PI 25 435,46 5,08 69,7 7,17 5,57 53,7 7,08 435 5 70 7 6 54 7 PA PA REA PA PA PI 26 215,93 2,47 29,02 3,93 1,68 86,83 4,96 216 2 29 4 2 87 5 PI PA REA PA PA PI 27 625,26 2,87 27,33 12,13 3,62 110,03 8,53 625 3 27 12 4 110 8 PA PA REA PA PA PI 28 359,96 4,42 68,44 6,6 3,9 81,6 11,73 360 4 68 7 4 82 12 PI PA REA PA PA PI 29 852,9 2,2 25,39 3,25 1,53 63,33 5,74 853 2 25 3 1 63 6 PA PA REA PI PA PI 30 997,93 4,09 53,26 5,1 3,53 79,73 7,58 998 4 53 5 3 80 8 PA PA REA PA PA PI Legenda: RDA: Recommended Dietary Alowwances; UL: Tolerable Upper Intake Level; PI: possivelmente inadequado; PA: possivelmente adequado; REA: risco potencial de efeitos adversos. Padrão de referência: 1 a 3 anos: RDA/AI* - A=300; B1=0,5; B3=6; B5*=2; B6=0,5; B9=150; B12=0,9 / UL - A=600; B1=ND; B3=10; B5=ND; B6=30; B9=300; B12=ND 4 a 8 anos: RDA/AI* - A= 400; B1=0,6; B3=8; B5*=3; B6=0,6; B9=200; B12=1,2 / UL - A=900; B1=ND; B3=15; B5=ND; B6=40; B9=400; B12=ND 9 a 13 anos: RDA /AI*- A= 600; B1=0,9; B3=12; B5*=4; B6=1; B9=300; B12=1,8 / UL - A=1700; B1=ND; B3=20; B5=ND; B6=60; B9=600; B12=ND Fonte: Dados primários (2013). 9 a 13 anos 23 PA PA PA PA PA PA PA PA Resultado semelhante em Hyman et al.17, onde 367 crianças da America do Norte com o diagnóstico de TEA, apresentaram ingestão de vitamina A menor do que o recomendado, e consumo de B6 e B12 possivelmente adequado. A deficiência de vitamina A em crianças pode causar falha de crescimento e danos oculares (xeroftalmia). O consumo adequado de vitamina B9 pode prevenir o aparecimento de anemia megaloblástica, lesão de mucosa, insônia, irritabilidade, entre outros, e a ingestão de B12 é essencial para o funcionamento correto de todas as células, especialmente as do trato gastrointestinal, tecido nervoso, medula óssea e participa da síntese de ácidos nucléicos7; 14-15. Nutrientes como a vitamina B6, Zn, Mg entre outros são de extrema importância para a transulfatação. A limitação do consumo destes nutrientes junto à conversão das enzimas parecem ser uma das razões para a deficiência de componentes essenciais para o organismo das crianças autistas, como: sulfato, cisteína, taurina e glutationa, levando aos prejuízos da maioria dos processos metabólicos encontrados2. O consumo adequado de B6, conforme tabela 2, foi encontrado em 86,66% das crianças estudadas sendo essencial para o metabolismo dos aminoácidos7. Estudos apresentados por Rodrigues2 demonstram que a deficiência de B5 e B3 entre outros nutrientes, dificulta a conversão do acetaldeído (substância neurotóxica) nas crianças autistas, prejudicando sua eliminação pelo organismo, podendo assim, danificar estruturas cerebrais, especialmente sob exposição crônica, e até reagir com neurotransmissores, formando compostos parecidos com opióides que são capazes de reduzir os impulsos sensoriais, além de estarem relacionados à patogênese ou interferir no desenvolvimento neuronal dos autistas. A toxicidade do acetaldeído também induz a deficiência de B1, que é utilizada no processo de produção de energia e acetilcolina, neurotransmissor responsável pela atenção, foco, concentração e aprendizado. O baixo consumo de B5 e B1 não pode ser visualizado no presente estudo, boa parte das crianças apresentaram um consumo adequado, 86,66% e 96,66%, respectivamente, e 96,66% ingeriram B3 acima do limite permitido. Em relação ao sistema gatrointestinal das crianças com TEA a ilustração 2 demonstra que 63,33% (n=19) das crianças possuem disfunções no trato intestinal, dentre elas: 26,7% (n=8) possuem diarréia e 36,7% (n=11) constipação. Trato Gastrointestinal 40 36,7% n=11 36,7% n=11 Porcentagem (%) 35 26,7% n=8 30 25 20 15 10 5 0 Regular Constipado Diarréico Ilustração 2: Distribuição de dados coletados quanto ao trato gastrointestinal (TGI). Fonte: Dados primários (2013). Informações que corroboram com os dados encontrados na literatura que apontam as alterações na integridade da mucosa dos autistas decorrentes de processo crônico de inflamação, podendo ser causado por diversos fatores que podem comprometer absorção da maioria dos micronutrientes. A mucosa intestinal possui uma função paradoxal, pois é responsável pela absorção de nutrientes e ao mesmo tempo age como uma barreira celular sendo fundamental a sua integridade para a saúde do indivíduo. A digestão e a saúde do intestino afetam o cérebro por diversos mecanismos, refletindo em muitos dos sintomas vistos nos TEA2. CONSIDERAÇÕES FINAIS Hoje em dia a maioria das evidências sobre o TEA é para uma causa multifatorial, e com o avanço da tecnologia já existem tratamentos de acordo com a individualidade bioquímica de cada indivíduo. Este trabalho apresentou alguns micronutrientes que podem estar em desequilíbrio nas crianças autistas. Porém observou-se uma falta de estudos e pesquisas relacionadas ao consumo alimentar. Para entender a identificação do consumo dos micronutrientes foi necessário considerar outros fatores que também aparecem em desequilíbrio nos TEA como: trato gastrointestinal, sistema imune, neurológico, baixa capacidade de destoxificar, biodisponibilidade do nutriente nos processos metabólicos e bioquímicos, interação entre nutrientes, mau funcionamento e/ou falta de enzimas, o mimetismo da dieta, entre outros. Pois mesmo que a criança apresente uma ingestão adequada de micronutrientes via alimentação, se ela possuir outro fator em desequilíbrio, como a maioria possui, a absorção dos nutrientes estará prejudica. A condição do autismo é complexa, no qual a nutrição e os fatores ambientais desempenham papéis primordiais para qualidade de vida do indivíduo. Mas é de extrema importância ressaltar que a criança autista deve ter um acompanhamento interdisciplinar deste do seu diagnóstico. Pois tratando um indivíduo como um todo, observando todas suas dificuldades e deficiências, consegue-se estabelecer uma melhora, o quanto antes, do quadro apresentado por crianças com TEA. REFERÊNCIAS 1. Schwartzman JS, Araújo CA, Transtorno do espectro do autismo. São Paulo. Memnon. 2011. p. 19-24. 2. Rodrigues MREC, Implicações biológicas do autismo: a nutrição como base do tratamento. Curitiba. Monografia [Especialização em Nutrição Funcional] Universidade Cruzeiro do Sul (UNICSUL) VP Consultoria Nutricional Divisão de Ensino e Pesquisa; 2010. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/41390703/Implicacoes-Biologicas-do-Autismo-A-NutricaoComo-Base-do-Tratamento-Monografia-Maria-Rosa-VP-2010. Acesso em: 12/04/2013. 3. Marcelino C, Autismo Esperança pela Nutrição. História de Vida, Conquistas e muitos Ensinamentos. São Paulo. M. Books. 2010. p. 23-39. 4. Carvalho JA, Santos CSS, Carvalho MP, Souza LSA, Nutrição e Autismo: Considerações sobre a alimentação do autista. Revista Científica do ITPAC. v.5, n.1, Araguaína, 2012. Disponível em: http://www.itpac.br/hotsite/revista/artigos/51/1.pdf. Acesso em: 11/04/2013. 5. Lazzari C, Educação inclusiva para alunos com autismo e psicose: das políticas educacionais ao sistema de ensino. Santa Maria (RS). Dissertação [Mestrado em Educação] - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); 2010. 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