A manhã lhe parecera agradável, amena e Nadja

Transcrição

A manhã lhe parecera agradável, amena e Nadja
Aula
A manhã lhe parecera agradável, amena e Nadja acordara com um sorriso no rosto,
pensando em coisas tão banais que nem merecem ser explicadas. Este sorriso continuou
em seu rosto até a aula conjunta, quando entrou pouco antes de o sinal tocar, porque
teve que sentar atrás de uma pessoa que ela não gostava muito – uma animosidade
imediata e mútua, diga-se de passagem -, Jennifer Bouvier. Não direi muito sobre esse
“probleminha” entre as duas, dizendo somente que ela data da Colônia de Férias em
Creta, quando elas se conheceram, e que tinha como base o loiro que sentava ao lado de
Bouvier, Aaron Denvers. Não tinha nada a ver com ciúmes, no caso de namoro, pelo
menos da parte da ruiva, pois ela nunca imaginara sequer beijar Denvers, imagina
namorá-lo, mas sim uma ideia irracional e sem fundamentos de que a loira estava
gastando todo o pouco tempo que ela tinha com o outro loiro, não a deixando passar
todo e qualquer tempo que os dois tinham livres juntos, relembrando os dias quando
ambos eram pequenos e ela não tinha noção do que era magia, enquanto ele tinha que a
esconder da alemã, até que, aos dez anos, ela se mudou para a França e nunca mais vira
o amigo, até Creta. E talvez por isso, pouco antes de o professor entrar na sala, a quartoanista colocou uma mão delicadamente no ombro de Aaron e estava prestes a convidálo para um passeio ao redor do lago depois da aula quando palavras foram ditas pelo
professor que a deixaram alarmada.
Por ele os receber anunciando, em alto e bom som, que estavam no “inferno”, a loira
imediatamente enrijeceu e voltou a sentar direitinho em sua cadeira, não mais apoiada
na mesa de modo a alcançar o amigo de infância, cruzando delicadamente as pernas. Ela
não sabia a razão de, sempre que alguém falava em inferno, sentir-se prestes a ser
queimada viva ou qualquer uma das torturas usadas nos bruxos durante a Idade Média e
que tinham alguma relação com o fogo. Isso poderia acontecer talvez graças às palavras
que seu pai tenha dito, uma vez, quando ele estava incrivelmente bêbado, no verão
depois do seu segundo ano, ou talvez por algo um pouco mais secreto, uma reação
automático de algo que ela tinha visto quando era menor. Mas nesse momento, isso
pouco importava, porque o professor já tinha escrito coisas no quadro e ela tinha
perdido tempo pensando no passado - o que não a agradava muito -, ao invés de se
concentrar no presente e no futuro, ou seja, na aula. Pegou os materiais que julgava ser
necessário para a aula enquanto Benjamin Baker – ela, na verdade, não sabia ainda o
nome dele, pois, por mais que aluno seja fofoqueiro nato, ele fofoca com quem conhece
e ninguém, a não ser alguns lufanos que tinham participado do quadribol em Creta,
conheciam ela, e não bem o suficiente para que ela ficasse a par dos boatos de
Hogwarts. Ainda. – explicava, como todo bom professor, como seria seu curso durante
o ano, ou parte deste.
“A visão de mundo dele poderia ser considerado fascinante, não fosse tão dura, tão
pronta para combate e lutas e morte.” A ruiva concluiu ao ouvir seu discurso até o que
parecia ser o final, pelo menos de introdução às aulas e ao seu método, o que o
professor eloquentemente chamou de conversa fiada. Nadja anotou no pergaminho até
então vazio a matéria que os quarto-anistas aparentemente teriam para o resto do ano:
defesa contra encantamentos gerais, depois elevando a pena para que pudesse mordiscar
a ponta enquanto ouvia a explicação do docente sobre o caso, pelo jeito terrível, da
mansão Himuro. Não que ela pudesse saber o que esse caso era, pois nunca tinha ouvido
falar – o que provavelmente seria por opção, já que a ruiva pouco se importava com os
acontecimentos do mundo bruxo, muito menos interligados à chamada “Magia Negra” nem em mansão Himuro, muito menos coisas terríveis que aconteceram neste lugar.
O clima na classe era praticamente aquele clima de acampamento quando se reúne na
fogueira no final do dia, quando o sol acaba de se por e a escuridão é grande já que a lua
não estava completamente visível no céu; o horário perfeito para que os campistas
dividam estórias de terror. Ela se inclinava levemente na cadeira, querendo saber mais
do caso, mesmo ele parecer bem pesado; se fosse em um dia normal, ela teria agido
como uma criancinha de três anos e coberto os ouvidos para não saber nada sobre
sangue, medo e homicídios, mas uma curiosidade - talvez mórbida ou sádica -, fez com
que ela continuasse ouvindo Mr. Baker. Não posso dizer que ela não se arrependeu
quando começou a imaginar uma menina inocente - que aparentava dez ou onze anos -,
presa a cordas, acordada, implorando pela sua vida, enquanto pessoas, pessoas de
verdade, com vida e sentimentos, puxavam cordas que iam lenta e dolorosamente
matando-a enquanto ela gritava por perdão e, mais tarde, pela morte. Os atarefados de
puxar a corda continuavam puxando, sem emoção nenhuma evidente em suas faces, e o
sangue que escorria era muito, tanto que pareciam rios.
Não era a toa que Nadja sempre evitava tais estórias, pois, após ouvi-las, ela tinha o
hábito de fantasiar por dias a fim sobre o que aconteciam nelas, cada passo mais vívido,
nítido e surreal do que o outro, tudo exagerado e junto em uma bagunça que a
assombrava durante o seu sono e a deixava dias, talvez semanas sem dormir. E no caso
de Himuro, com os rios de sangue, ela tinha sorte de não ter vomitado, ou então
desmaiado, por ter uma grande aflição ao líquido vermelho; ela não podia nem falar de
sangue que sentia um mal estar tremendo. Por sorte, Mr. Baker tinha ao menos parado
de falar momentâneamente para que a ruiva pudesse recuperar um pouco a compostura;
ao passo que ela, ao olhar pela sala, percebeu que não era a única um tanto verde no
meio dos muitos terceiro-, quarto- e quinto-anistas e se sentiu um pouquinho melhor.
Certamente, seria muito estranho se qualquer um daqueles alunos não estivesse se
sentindo um pouco desconfortáveis com o que haviam acabado de aprender, mas isso
não passou pela cabeça da menina, que já era pouco racional e esperta antes, agora,
então, teria problemas para acompanhar o resto da aula.
Na mente dela, o professor não deveria continuar dando esta aula, pelo menos não
enquanto Nadja ainda estivesse "mastigando" o conteúdo que ele acabara de passar,
tentando entender tudo que lhe fora dito, enquanto ela tinha certez de que, se ela pedisse
um tempo, ele não seria dado. Infelizmente, ele continuou a falar, citando a Caixa de
Pandora que Nadja conhecia um pouco dos mitos gregos trouxas e fazendo-a parecer
uma coisa ainda mais horripilante do que já era com todo o papo de magia negra e
rancor e ódio, junto com almas e coisas que ela ainda não estava acostumada a ouvir
como se fosse conhecimento universal e banal que nem comerciais de televisão. E pode
parecer muito estranho, ver uma pessoa que está há três anos convivendo no meio da
cultura bruxa dizer isto, mas Faber nunca abraçara de verdade a magia, a bruxaria, e
simplesmente se esquecera de sua vida antes dos onze anos, como muitos pareciam
fazer; ela continuava acreditando nos trouxas, seguindo seus acontecimentos e
descobrimentos, chegando até a planejar uma carreira de advogada após a conclusão do
curso de magia, o que seria um tanto difícil, pois teria que estudar tudo que não havia
estudado nos sete anos de educação bruxa, mas que era possível.
A atenção da ruiva voltou brevemente para o professor quando este falou que eram
usadas jovens virgens para o ritual do estrangulamento e ela sentiu um misto de alívio e
desgosto; alívio por não ser mais virgem, por mais precoce que isto seja, e desgosto por
usarem pessoas, e ainda mais com um perfil já traçado e por se sentir aliviada de não ser
virgem enquanto outra pessoa sofria no lugar dela. Ela podia sentir vergonha de estar
aliviada, mas ela não tinha vergonha de não ter esperado nem obedecido sua mãe, que
vivia dizendo para esperar até o casamento - não que a ruiva fosse contar para ela que já
era sexualmente ativa; prefiria continuar com a imagem de virgem puríssima enquanto
perto da senhora. Até o casamento, quando poderia parecer mais sofisticada, por assim
dizer - e já ter se adiantado. Tudo bem que naquela noite ela fora a um bar com alguns
amigos, tomara alguns shots a mais e não raciocinava bem na hora, mas lembrava de
tudo e estava sóbria o suficiente para ter certeza do que ela queria, então não tinha
problemas - e suas amigas tinham convencido ela um tanto facilmente de que não tinha
problemas com o que ela tinha feito - além das vantagens serem maiores que as
desvantagens. "Até na hora dos rituais de magia negra." E esse pensamento provocou
calafrios na ruiva, mesmo que ela não fosse pensar nisso em algum lugar fora da sala de
aula de Defesa. Teria continuado com um debate excepcional com a vozinha em sua
cabeça não fossem as palavras do professor, que incluíam "caixa de pandora",
"desarmar" e "de vez", mas não "virgem".
Essas palavras a atraíram e foi com atenção máxima que ela ouviu ele falar em uma
missão que parecia ter algo em comum com as palavras que chamaram sua atenção
previamente; enquanto o docente falava, ela sentiu a atmosfera da sala mudar de aflita
para apreensiva e excitada. Nadja também se encontrava assim, balançando
cuidadosamente na borda da cadeira, inclinada a ponto de quase tocar o crânio de
Bouvier - que ainda estava lá, embora a aula tenha a distraído dos pensamentos de
vingança - enquanto Mr. Baker explicava de modo superficial o que seria necessário
para a missão, que Nadja por fim entendeu ser desarmar por completo uma Caixa de
Pandora a fim de salvar as virgens para que os homens sádicos pudessem se divertir
com a virgindade delas evitar a saída das energias negativas que fariam a pessoa entrar
em choque e morrer de dor sem que esta passe após a morte. Isso era um modo de
morrer tão cruel e desumano que ela não desejava para ninguém, nem mesmo sua pior
inimiga ou seu pior inimigo.
Se ela fosse um pouquinho mais rápida e ligada para as coisas, ela teria prestado atenção
somente na fala do professor quanto as instruções do quarto ano enquanto escutava com
meio ouvido o dos outros anos e procurava um grupo digno. Contudo, como ela não
sabia quem era bom, nem tinha uma noção de que fariam grupos - mesmo isso estando
um tanto óbvio -, a ruiva continuou prestando atenção nas palavras do docente,
anotando o básico de cada um; no decorrer da primeira leva de instruções, ela percebeu
que teria muitas pesquisas para fazer antes da missão se Mr. Baker continuasse dando
somente instruções básicas. Também enquanto ele explicava e por mais apreensiva que
ela estava em relação aos mitos da caixa de pandora, ela não pôde deixar de começar a
se animar, pois o que eles iriam fazer era uma aventura de verdade, daquelas
praticamente fantásticas que tinham nos livros de histórias de dormir, com dragões e
princesas em apuros - tudo bem, nem tanto - dentro da escola - a melhor parte, pois não
teriam que viajar para lugares desconhecidos nem tão-tão-distantes -. Portanto, não
tinha como ser tão perigosa e, mais importante, não tinha nenhum risco de morte porque
o professor estaria com eles e ele não deixaria nada de ruim acontecer. Talvez não seria
assim na vida real, mas Nadja ainda acreditava piamente nas habilidades dos
professores, por nunca ter um incoveniente e/ou imprestável.
Ela estava tão animada com a missão que a ruiva não tirou os olhos - ou a atenção - de
Mr. Baker enquanto falava sobre os pormenores da função de cada um. No final, ela
chegou a conclusão de que seriam três partes grandes, que precisavam de um aluno de
cada ano, no caso, a primeira era do terceiro-anista, a segunda do quarto-anista e a
terceira e final do quinto-anista. Cada parte era dependente da outra e somente quando
cada peça estivesse no lugar - nesse caso, os terceiro-anistas usariam o protego para
defender o grupo dos feitiços de ilusão, os quarto-anistas (ela, entre outros) revelariam a
caixa usando o feitiço Revela-te!, que só funcionaria enquanto seu executor estivesse
concentrado e os quinto-anistas acenderiam as velas, acabando com o ritual - que seria
possível o desarmamento da caixa de pandora. O que a deixou intrigada não foi nem o
seu papel na revelação do objeto maligno - que não era nem mais nem menos
importante que o resto e sim tão vital quanto -, mas sim a forma da caixa, que poderia
ser até um frasco de remédio lacrado se ela seguisse a lógica do professor. "Por que,
então, é chamada a caixa de Pandora, não a camera de Pandora ou a camisa de
Pandora? E de Pandora? Por quê?" Curiosa, a ruiva fez questão de anotar essas coisas
em um cantinho do pergaminho para pesquisar quando estivesse morrendo de tédio
durante seus tempos livres - que, com a reforma educacional, eram mais comuns, graças
ao bom Deus (ela era luterana, não católica, mas ainda acreditava em Deus, não Merlin
como os outros bruxos) -, sem nada de mais útil para fazer.
Quando o docente terminou de falar, ela finalizou algumas anotações na sua lista de
coisas a fazer, tanto na missão quanto no dia a dia enquanto tentava ignorar o leve
tremor de sua mão; ela estava morrendo de medo do que poderia acontecer, mesmo com
um professor por perto, principalmente depois que ele falou da possível aparição de
monstros, porém ela não iria admitir até estar lá na masmorra, junto com o objeto que
tinham que desarmar. Talvez nem quando isso acontecesse. Para afastar sua mente de
pensamentos mórbidos, ela virou-se para Aaron, que parecia um tanto empolgado e, não
ligando para a namorada do loiro bem na frente dela, falou perto de seu ouvido: Assustador, não? - E rindo levemente da resposta do lufano, ela voltou a olhar o
quadro, balançando a cabeça - Urgh, meninos! - Murmurou, inconformada com o que
Denvers dizia, mas Nadja logo se animou com o que encontrou escrito a giz em uma
caligrafia que só podia ser do professor, além de ser completamente desconhecida, no
quadro que fitava. Lá diia que a missão seria dividida em dois grupos e ela tinha certeza
de quem ela gostaria em seu grupo. - Ei, Denvers, você faz comigo, né? - Ela
perguntou, sorrindo e quase adicionando alguma frase do tipo "e me protege dos
monstros assustadores" como se fosse uma criancinha ou uma pessoa com medo. O que
ela era, no momento, mesmo que ela tentasse negar.
E foi num piscar de olhos que o grupo estava pronto. Aaron tinha, obviamente,
convidado sua namorada Jennifer, o que fez com que Nadja fizesse uma careta discreta.
Jenny convidou uma outra lufana do terceiro ano, Lucy alguma coisa, cujo sobrenome a
ruiva não sabia, além de também convidar seu primo, Adam. Ele também era novato na
escola e não conhecia ninguém e, ao saber disso, a alemã guardou essa informação para
depois, planejando conversar com ele uma hora ou outra. No final, um terceiro-anista da
Grifinória também apareceu na lista, na qual Jenny foi lá e escreveu abaixo de Grupo 1
para depois voltar ao seu lugar sorridente demais para a felicidade da alemã, que,
embora não maldosa a ponto de desejar a morte ou a infelicidade de alguém, por pior
que seja essa pessoa, ainda preferia ver a monitora-chefe sem aquele sorriso em seus
lábios. Não demorou muito para que o professor liberasse os alunos assim que ambos os
grupos estavam formados. As suas últimas palavras da aula foram o local de encontro
para a aventura, que aconteceria no sábado, nas masmorras, às oito horas. Isso assustou
ainda mais a quarto-anista, somente pelas estórias que ela ouvira sobre aquele local e
um arrepio percorreu seu corpo. O local era só mais uma razão para ela temer o pior,
mesmo com a presença do professor, em quem ela ainda acreditava piamente.
Foi tremendo de medo que Nadja Faber desceu as escadas da escola que levavam ao
térreo e à porta trancada na frente das Masmorras pouco antes do horário combinado
pelo professor. Ela vestia o que considerava pertinente para a missão - tudo preto, sem
exceções - e segurava sua varinha no bolso do casaco esportivo como se fosse um
talismã ou um amuleto contra espíritos malignos; segurava tão forte que chegava a
machucar a sua mão, mas ela não largava. Cada músculo de seu corpo estava tenso,
contraído e ela pulava ao menor sinal de perigo, sacando sua varinha rapidamente; já a
tinha apontado para quase todos os lufanos que se atreviam a conversar com ela ou tocála por trás, inclusive membros de seu grupo, e chegou a apontá-la para um pequeno
primeiro-anista sonserino que havia aproximado para pedir instruções de como chegar a
uma sala de aula. O que poderia acontecer naquele fim de tarde, começo de noite dentro
das masmorras a deixava apavorada, mas ela não temia somente por sua própria
segurança, mas também pela do grupo e dos outros que iriam entrar nas masmorras.
Quando chegou lá, aprimeira coisa que sentiu foi um vento gélido de congelar a alma
que saía do local que Nadja estava prestes a entrar, desafiando todas as leis que diziam
impossível a presença de ventos em um lugar completamente vedado, como era o caso
do castelo. Ele fazia com que o medo que ela sentira desde que o professor anunciara a
missão tornasse tão potente a ponto de deixá-la quase imóvel naquela noite. Frente à
porta, seus instintos diziam que ela devia sair correndo dali e se esconder eternamente
debaixo de suas cobertas quentes e confortáveis no dormitório lufano; ela quase fez isso,
virando-se para subir novamente as escadas quando se deparou com o professor
descendo as escadas, já quase no térreo, suas feições neutras e impassíveis.
- Agora não tem mais volta - Ela sussurrou para si mesma, fitando o professor. Ele
começou a falar e as palavras ecoavam em seu ouvido, mas ela não conseguia entendêlas, só queria que ele calasse a boca e os liberasse logo para que todo esse medo e todo
esse nervosismo desaparecessem e dessem lugar para a adrenalina e a calma que vinha
junto com esta, calma que a deixava raciocinar nos momentos mais inoportunos e
rápidos, como em uma jogada crítica de quadribol ou basquete, possibilitando a criação
de táticas que ela nunca conseguiria pensar sem influência, ou de adrenalina ou de
bebidas e drogas. Seus olhos focavam nos lábios de Mr. Baker, que se moviam
formando palavras que soavam desconhecidas; sua atenção estava longe, nos muitos
livros que ela havia lido e que continham feitiços novos e incríveis para a quarto-anista,
livros estes que eram a base de uma pequena lista que ela havia forjado de feitiços cujos
efeitos seriam potentes e variados, desde explosões em massa até efeitos cortantes
capazes de dilacerar carne humana como se fosse manteiga amolecida.
Um movimento do professor, ainda o suposto foco de Nadja, fez com que ela parasse
abruptamente de revisar um dos feitiços de sua lista que fazia uma grande explosão
temporária de luz, como um flash, porém mais potente, e cegava todos em um raio de
um quilômetro do executor do feitiço e ela teve que sacudir levemente a cabeça,
atordoada com a mudança repentina. Procurando novamente os cabelos levemente
grisalhos do docente, ela queria saber qual a razão para ele começar a se mexer
enquanto ela supunha que ele continuaria falando eternamente e esperava que, se assim
fosse, ele cancelasse a missão, ela encontrou-o próximo as portas da masmorra. Quando
assim fez, ela empalideceu e começou a tremer levemente, segurando a varinha com
tanta força que a madeira chegou a passar pela pele delicada de sua mão, cortando-a e
fazendo escorrer filetes mínimos de sangue pela palma direita da ruiva, embora isso não
fosse conhecido por ela ainda. A razão para uma razão tão violenta? O docente tinha
acabado de abrir as portas das masmorras, exibindo um negrume desolador e completo
que tornava, para a alemã, a severidade e o perigo da missão que teriam a frente ainda
mais real. Desesperada, ela tateou com a mão esquerda alguém para segurar, uma
pessoa com carne e osso, quente e real, mas não encontrou ninguém, o que fez com que
ela abrisse os olhos rapidamente - os quais ela mal tinha percebido fechar para esconder
aquela visão da masmorra, embora a escuridão continuasse ali presente – e visse que o
grupo todo já se reunia para adentrar o recinto escuro.
Ela foi a última a se juntar ao grupo de lufanos (e o solitário grifo), completando os seis
integrantes do Grupo 1. Ela percebeu que todos pareciam tão tensos quanto ela e uma
menina em particular, Lucy se não estava enganada, parecia pior que os outros,
fungando como se estivesse chorando ou se recuperando de um ataque de lágrimas.
Nadja não tinha certeza do que fazer, mas se viu andando na direção da terceiro-anista
vagarosamente, esticando o braço e colocando a mão delicadamente no ombro da lufana
mais nova. Estava perto o suficiente para ouvir o que ela falava, mas não confiava em
seu tato; mesmo assim, ela falou o que vinha em sua cabeça no momento. – Agente não
vai deixar nada de ruim acontecer contigo, Lucy. Relaxa e se recomponha. – Por
sorte, alguma coisa parecia ter sido certa, e ela respirou aliviada quando a menina parou
de tremer tanto – ela podia sentir em sua mão, ainda no ombro da morena – e sussurrou
alguma coisa com se recompor. A ruiva voltou para o grupo quando Lucy se afastou
dela, respirando fundo. Já tinham combinado o que aconteceria assim que entrassem nas
masmorras: ela entraria correndo na frente seguida por Lucy e Will, que usariam
o protego para protegê-los da defesa primordial da câmara, os feitiços de ilusão. Só
depois de terminada a enxurrada de feitiços é que os outros três membros entrariam;
fora assim decidido para criar um menor número de pessoas a serem defendidas pelos
dois terceiro-anistas. E para isso acontecer de verdade só faltava a Lucy, que voltava
andando para o grupo, aparentemente mais controlada.
Ao ver a menina um pouco melhor, Nadja sorriu para ela, indo na direção da porta, feliz
por ela ter sorrido de volta, por mais trêmulo que tinha sido o tal sorriso e passou em
sua frente, ficando de frente para a porta. Com uma mão que tremia quase
imperceptivelmente, ela empurrou de leve, abrindo a porta lentamente; respirava fundo
para que não ofegasse e sentia calafrios percorrerem sua espinha, calafrios que não
tinham nenhuma ligação com o frio descomunal que vinha das masmorras. Ela olhava
atentamente para a escuridão, tentando discernir o que estava lá dentro, mas não
conseguia, pois tudo estava envolto em um completo negrume. Se livrando de todo e
qualquer pensamento e dúvida, a alemã empunhou a varinha e a acendeu com
um Lumos sussurrado, o que iluminou uma faixa do ambiente que nada parecia com as
masmorras habituais. Também se livrando das perguntas sobre o que eles encontrariam
lá dentro, a ruiva respirou o ar normal, não subterrâneo de Hogwarts pelo que podia ser
a última vez em muitas horas e disparou masmorras a frente, não prestando muita
atenção no que estava ao seu redor. O chão era um tanto instável, como se estivesse
molhado ou coberto por areia ou algo que se deslocasse facilmente com a
movimentação dos pés, o que dificultava o movimento e tornava cada passo que dava
instável; ela não estava muito rápida, tanto que ambos terceiro-anistas a acompanhavam
sem muito problema pelo barulho dos passos e o pouco ruído causado pelas respirações,
mas quando sua varinha iluminou duas estátuas enormes em formato de dragão, ela
perdeu o ritmo de uma das passadas e acabou pisando errado.
Dor e mais dor era tudo que ela sentia quando torceu seu tornozelo de modo violento e
foi jogada contra o chão, toda sua força empregada no impulso a empurrando para
frente, apoiada na perna direita. Seu joelho acabou raspando no chão arenoso e raspou
tanto que soltou sangue, mas isso não era o pior. Espasmos de dor que ela nunca tinha
sentido antes, nem mesmo nos treinos de quadribol quando era atingida por balaços
subia de seu tornozelo e fazia com que ela gemesse de dor. Nadja queria gritar, urrar,
chorar, mas evitou isso ao morder o lábio de forma tão violenta que um dos caninos
perfurou a carne e ela sentiu o gosto de sangue na boca. A ruiva estava tão focada em
tirar o tornozelo de debaixo de seu corpo para ver se diminuía um pouco aquela dor
insuportável que fazia com que ela enxergasse estrelas que não viu o fogo ou a ação
desesperada dos terceiro-anistas para salvá-la; ela só voltou a focar no presente e nas
estátuas que jorravam fogo pelas ventas como um dragão de verdade quando sentiu
mãos a ajudando a levantar e a voz familiar de Lucy a chamando. Apoiando-se quase
totalmente nas mãos da morena, ela se levantou, respirando um pouco mais aliviada
quando um pouco da dor em seu tornozelo passou e tentou pisar, ainda segurando na
terceiro-anista, mas quando a dor quase triplicou, ela desistiu e se contentou com deixar
que Lucy a guiasse para um lugar seguro, usando somente a sua perna esquerda – o que
dificultou um tanto o processo -, observando com cuidado William caso ele precisasse
de ajuda. Por sorte, não demorou a que as estátuas acabassem com seu abastecimento de
fogo e a ordem parecia restaurada, ou seja, Faber estava apoiada numa parede, Lucy
tinha sua varinha, Will só parecia ter corrido uma ou duas maratonas de tanto suor e os
outros – Jenny, Adam e Aaron – entravam na câmara.
Nadja mantinha os olhos fechados enquanto tentava se equilibrar na perna esquerda,
pensando no oceano e no barulho das ondas quebrando na praia para tentar se acalmar.
Adrenalina percorria suas veias e agia como heroína, embora não com o efeito de
anestesia de algumas drogas, mesmo ela não tendo feito nada, só caído e machucado a
perna toda. Ela estava com medo de olhar nos olhos dos parceiros e ver dó ou então
arrependimento por seu estado, tanto que escorregou pela parede e sentou-se no chão
para dificultar a visão do rosto deles, somente de seus pés. Mas seu isolamento não
durou muito, pois tinham que andar e não deixariam-na lá, sozinha, afinal, o grupo era
composto por lufanos - famosos por sua lealdade em qualquer situação – e eles não
podiam enrolar, ou seja, ela teria que ir junto. William a ajudou a levantar e ela,
abusando um pouco da boa-vontade do grifo ao se apoiar nele em vez da perna, pois
sempre que a mexia demais ela não conseguia segurar por inteiro o grito de dor, que
saia como gemido. Sentiu-se a pior pessoa do mundo ao ver os três lufanos correndo a
frente, com Lucy no meio e ela e Will bem atrás, segurando o grupo; se ela não tivesse
sido tão besta a ponto de se distrair com as estátuas, ela talvez estivesse correndo ao
lado deles e não atrasaria tanto a missão. Esse sentimento só piorou quando Lucy voltou
e ajudou-a a andar mais rápido, tanto que ela se sentiu obrigada a se desculpar por ter se
machucado.
A ruiva teria feito justamente isso se não tivessem finalmente alcançado os outros que
esperavam um tanto impacientemente – ou era assim que a quarto-anista interpretava a
linguagem corporal deles em seu estado de culpa – na frente de uma porta toda preta,
sem ornamentos, coisas chiques ou chamativas. Os outros lufanos já tinham checado a
porta, que se encontrava trancada, mas a solução logo chegou ao grupo: Alohomora.
Depois disso, foi fácil usar o feitiço para destrancar a porta, mas assim que os dois
Bouviers e Denvers passaram pela porta, ela se fechou e nem mesmo feitiços de
destruição em massa como Bombarda e Reducto abriam caminho. - Ótimo, agora
agente tá preso aqui! Que lindo, ugh! -Nadja murmurou, olhando feio para a porta
antes de voltar a se apoiar em Will, que a ajudou a sentar; não tinha mais nada para
fazer, portanto ela começou a olhar ao redor e finalmente percebeu que estavam em um
lugar tão diferente das masmorras, um lugar que parecia mais uma pirâmide egípcia,
daquelas verdadeiras usadas no Egito Antigo para enterrar faraós mumificados e dar
para ele o melhor na vida pós-morte, que corriam boatos de serem assombrados por
múmias e escaravelhos, além de diversas pragas bíblicas, além de ser parte das
maravilhas do mundo antigo – nesse caso só a de Giza, mas conta como uma piramide.
Um intenso desejoso e uma grande necessidade de confirmar seu veredicto fez com que
a alemã olhasse ao redor por algo que pudesse usar como apoio, mas, infelizmente, não
tinha nenhum.
Suspirando ao perceber que observar o recinto seria mais difícil do que ela planejara,
Nadja começou a pensar em uma solução para esse problema; demorou um pouco, mas
ela lembrou que era, de fato, uma bruxa e que poderia transformar alguma coisa em uma
muleta rudimentar, pois tinha aprendido um feitiço que fazia algo parecido. Apagando
sua varinha, que milagrosamente continuava acessa, com um Nox sussurrado, ela
apontou para uma pedra de tamanho médio a poucos metros de onde ela tinha sido
deixava pelo grifo e executou o feitiço, conseguindo uma muleta parecida com as de
hospitais trouxas, com um apoio no meio e um em cima para a mão e o braço,
respectivamente, só que de madeira e sem proteção. Se apoiando no pedaço de madeira,
ela se ergueu vagarosamente, fazendo cara de dor, e voltou a acender a varinha para
poder examinar melhor o local. Começando pelo chão, ele parecia de algum tipo de
pedra, porém coberto de areia, que foi um dos fatores que contribuíram para a caída
dela; tirando isso, o chão não era tão importante, por isso que ela passou para as
paredes, aproximando a varinha destas para iluminá-las. Elas eram irregulares, de uma
pedra que parecia gastada pela ação de algum agente de intemperismo aparentemente
inexistente no momento e coberta por desenhos que não faziam o menos sentido para
ela. “Hieroglifos.” Ela concluiu, achando os desenhos familiares a alguns que ela tinha
visto nos trabalhos de arte da escola trouxa. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – Ela gritou com uma voz um tanto aguda
quando, não muito acostumada com a muleta, ela tropeçou novamente e pôs a mão para
se segurar na parede, que se afundou abruptamente, originando o grito. Olhando
assustada para os outros dois, ela esperou, contando até dez mentalmente antes de o teto
começar a desmoronar na cabeça deles e soterrá-los, matando-os de uma vez por todos,
mas isso não aconteceu. Ao contrário, depois desses dez segundos, tudo continuava
normal e ela ficou extremamente grata, até pacífica, quando o olhar horrorizado de
William, direcionado para Lucy, atraiu o olhar da quarto-anista até uma múmia, que a
morena não tinha visto ainda por estar olhando para Nad. Não sabendo o que fazer e
com medo de que a múmia atacasse Lucy antes que ela tivesse chance de notar a
presença desta, matando-a com um golpe na cabeça e colocando o assassinato de uma
aluna na falta de atenção dela, a ruiva segurou a varinha mais forte e gritou. - LUCY!
ATRÁS DE VOCÊ! - A atenção da terceiro-anista devidamente atraída, ela tratou de se
endireitar e se apoiar na muleta para se equilibrar, apontando a varinha para a múmia,
procurando um feitiço que pudesse tirar sua atenção da morena.
O tempo dela estava acabando, pois a múmia, junto com Lucy, tinham entrado em ação,
a morena andando para trás, tentando fugir da múmia e o corpo embalsamado perseguia
a terceiro-anista. Praguejando por não ter um feitiço na ponta da língua, ela tentou
lembrar a lista enorme que ela tinha feito durante a semana de feitiços e que tinha
conseguido relembrar antes, mas nada vinha. Foi pouco antes de a múmia pegar a
terceiro-anista que ela lembrou um dos primeiros, logo repetindo os movimentos do
livro e gritando o encantamento – ESTUPEFAÇA! - Enquanto lançava a azaração, ela
desejavao do fundo do coração de que isso, no mínimo, chamasse a atenção da múmia e
desse um tempo para a lufana escapar; ela não podia ter uma morte de um aluno
acontecendo por sua causa, mesmo que indiretamente.
O feitiço que Nadja Faber lançara esperando deixar a múmia acordada ou no mínimo
desorientada não funcionara, só havia distraído o defunto o suficiente para que Lucy
pudese escapar dele. No entanto, ele também tinha chamado a atenção da criatura para
Nadja, a mais debilitada do grupo devido a sua perna quebrada, e ela avançava
incrivelmente ágil na direção da ruiva se levar em conta a sua condição post mortem¹.
Ao perceber isso, a ruiva procurou desesperadamente por uma escapatória, mas não
havia nenhuma que não envolvesse velocidade, algo que ela não tinha no momento. O
fedor de desintegração chegava mais perto e ela se desesperava cada vez mais, olhando
inútilmente para os lados, procurando a ajuda de um dos terceiro-anistas, porém ambos
pareciam preso no chão com super-bonder ou alguma cola mágica que não desgrudava,
talvez até petrificadas, pois nem piscar direito piscavam. “Ferrou. Não tem saída,
agente vai morrer em um exercício de aula na mãos de uma múmia imune a magia.” A
alemã já tinha desistido, sucumbido ao seu horrível destino quando lembrou de um
detalhe crucial. - Ahá! Você é uma bruxa ou o que, garota?! Petrificus Totalus! - Ela
sussurrou, até sorrindo um pouco, esperando que, dessa vez, o resultado fosse suficiente
para que ela conseguisse ao tirar as costas da parede; de fato, a múmia pareceu
petrificada por alguns segundos, tempo o suficiente para a menina, movimentando-se
completamente na base da adrenalina, mancar com ajuda da muleta até ficar de frente ao
perfil da múmia. Respirando aliviada, ela quase pagou pelo seu descuido quando o
defunto se virou repentinamente e a atacou com um braço em um tipo de soco
totalmente bizarro, porém efetivo, que quase acertou eu rosto.
Pulando para trás, a menina estremeceu quando todo o peso de seu corpo foi parar em
seu tornozelo direito, que inchava mais a cada minuto – era bem provável que ele estava
quebrado – e quase perdeu o equilíbrio, salvando-se ao segurar na muleta. Foi nessa
hora, quando a múmia virava para atacá-la o que podia ser pela última vez, que os
terceiro-anistas entraram em ação e Lucy gritou para que William ajudasse a quartoanista. É bem provável que a voz da outra garota tenha chamado a atenção da múmia e
isso deu tempo para que Nadja se recuperasse um pouco e apontasse a varinha
novamente para o defunto. - REDUCTO! - Ela bradou, pensando em toda a dor, raiva e
medo que sentia naquela situação – medo de morrer, de ser culpada por não proteger
seus companheiros acabar tendo a morte deles em sua mão; raiva de não conseguir
machucar aquilo que queria a machucar, de poder cortá-lo em pedacinhos e acabar com
ele com sua própria mãos; dor incessante e quase insuportável que subia de seu
tornozelo – e lançando o feitiço; ele saiu mais poderoso que qualquer feitiço que ela já
havia lançado, mas ainda não era suficiente para sequer machucar de leve a múmia. Não
se acovardando com isso, a ruiva mirou mais uma vez. - Difindo! - Nem o feitiço que
era designado para cortar teve efeito; não cortou sequer um pedaço da atadura que cobri
a criatura e isso foi tão desanimador que lágrimas começaram a se formar no canto dos
olhos da lufana.
Enquanto Nadja tentava acertar a múmia, William finalmente agia. Depois que ela
lançou o feitiço de corte, ele tentou o feitiço Confundus que, como o nome diz, era feito
para confundir a pessoa tingida por ele. Contudo, em vez de acertar a múmia, ele
acertou Lucy, que começou a lançar feitiços a esmo, feitiços esses que iam acertando as
paredes, o chão e a múmia; na múmia, eles não faziam nada, mas quando acertavam
alguma parede ou o chão deixavam crateras gigantes e faziam a poeira subir e pedras
voarem para todo o lado. A menina, enquanto atacava qualquer coisa, andava ao redor
da câmara que estavam, proporcionando um alvo difícil para a múmia, atordoada como
ela estava, e a alemã aproveitou para mancar até William, que observava abobado o que
ele havia feito e as consequências de suas ações. Os dois ficaram sem ação por um
momento, até que um pedaço de uma das paredes atingiu Nadja no braço, deixando um
corte superficial, o que teve o mesmo efeito que um choque: trazê-la de volta à
seriedade do que acontecia ao seu redor. - Temos que ajudá-la! - Ela falou, tendo que
elevar a voz para ser ouvida pelo grifinório. Ele balançou a cabeça, afirmando, para
depois perguntar como, o que fez com que a ruiva virasse para ele e depois ao redor,
para o caos que estava. Foi aí que ela viu a múmia acertar um daqueles socos bizarros
dela que quase tinha acertado a alemã em Lucy, fazendo-a voar alguns metros e desabar,
desacordada antes de atingir o chão. - WILLIAM! SALVA A LUCY! - Ela gritou,
desesperada, olhando freneticamente ao redor para ver se tinha alguma coisa para fazer,
seu olhar parando em uma pedra grande e de aparência pesada a poucos metros de seu
pé.
Ela se abaixou para pegá-la e passou um momento para se decidir entre a varinha e
magia e a pedra e a força; ela sabia que magia não funcionaria, portanto era óbvio que
usaria a força então. Se apoiando na muleta com seu braço esquerdo, ela viu que
William corria para perto de Lucy e que o defunto estava chegando cada vez mais perto
dela, ou seja, ela precisava agir logo ou era um a menos para o time. Respirando fundo,
Nadja mirou cuidadosamente na cabeça da múmia e atirou com toda a sua força - que
era uma quantidade considerável devido aos três anos como batedora do time de
quadribol -, fechando os olhos no momento que sentiu a pedra deixar sua mão. Porém,
ela logo o abriu, pois não podia perder de vista nenhum dos outros dois colegas, nem a
múmia, que tinha sido acertada na cabeça em cheio pela pedra, por sinal. O golpe
pareceu chamar a atenção da criatura, que se virou para Will dessa vez, pegando-o no ar
e o segurando pela camisa quando ele menos esperava. O garoto soltou um grito de
pavor que fez os pelos do braço de Nadja se arrepiarem e serviu para acordar a lufana,
que logo acendeu sua varinha com o feitiço de luz e observou a situação. Enquanto isso,
Nadja havia novamente tentado acertar a múmia com uma pedra, porém, ao quase
acertar o jovem Helric em vez do defunto, desistiu dos ataques físicos e voltou para os
mágicos mesmo, lançando uma sucessão de Petrificus Totalus, Rictumsempras e
feitiços de pouco efeito para não machucar o garoto caso o acertasse.
O grito de Lucy com o seu nome chamou a atenção da ruiva, que estava focada em
salvar o grifinório, que lutava bravamente contra a múmia e não a deixava segurar seu
pescoço para estrangulá-lo, e ela se virou para a dona da voz pronta para rosnar e gritar
e cuspir toda a sua raiva nela – raiva de não conseguir acertar a múmia, de ter que
batalhar do jeito que ela estava, enfim, do mundo inteiro. Ela tinha até aberto a boca
quando viu algo nos olhos da lufana, um brilho desesperado e percebeu que, se gritasse,
seria pior, então decidiu pelo outro caminho lógico. - Vá atrás dos outros e peça ajuda!
Rápido! - Ela ordenou, apontando para a porta que tinha sido despedaçada por um dos
feitiços perdidos da lufana terceiro-anista, depois voltando-se para a múmia, que havia
finalmente conseguido segurar o pescoço do loiro, porém a mão dele a impedia de tirar
completamente o suplemento de ar dele. Não sabia se devia chegar perto, se devia
passar chamando a atenção da múmia, ou se devia se safar e correr para fora, lançando
um Pericullum no caminho e pedindo ajuda ao professor; Nadja também não sabia se
Lucy a obedeceria, mas esperava que sim, para o bem da morena quando saíssem das
masmorras e pelo bem do grupo. Decidiu então esquecer a outra lufana – já tinha feito o
que podia para salvá-la e tentar fazer com que ela salvasse os outros – e tentar ajudar o
menino. Respirando fundo para acalmar seu coração - que batia desenfreado em seu
peito desde que começara a missão, correndo para dentro das masmorras – e mirou com
cuidado em William, mas a posição dele a atrapalhava um pouco. Mesmo assim, ela
mirou o mais certo possível e relembrou um dos feitiços que ela tinha lido sobre. Carpe Retractum!² - Falou o mais calmamente possível, o que não era muito calmo,
fazendo os movimentos necessários. Ela poderia ter usado Accio, mas ela não sabia do
efeito dos feitiços nos seres humanos, por isso foi com o que sabia que era um pouco
mais fraco.
Nadja sorriu triunfante quando William saiu das garras da múmia, levando uma das
mãos dela junto, porém trocou sua expressão por uma de dor quando o terceiro-anista
caiu em cima dela, usando seu corpo como travesseiro para amaciar a queda. - Droga!
Sai de cima de mim, moleque! - Ela esbravejou, empurrando o garoto, que mal
conseguia raciocinar por ter sido quase sufocado, para longe dela e colocando as mãos
no tornozelo, que voltara a doer absurdamente. - Faz alguma coisa de útil! - Sim, ela
estava extremamente irritada e não aguentava mais ter que pensar em tudo. Uma ideia
balbuciada do grifinório fez com que ela olhasse para ele e quisesse abraçá-lo por sua
genialidade: montar uma barreira. - Claro! Tem pedras o suficiente por aqui! Usa o
Wingardium Leviosa e me ajuda a trazer algumas pra cá enquanto a tia ali ainda
procura pela mão dela. - Falou, levantando-se devagar enquanto o garoto já começava
a trabalhar, levitando as pedras maiores para servir de base. - Isso mesmo!
Wingardium Leviosa! Põe aqui ó, direitinho, encaixado. - Ela apontou com a cabeça,
encaixando as pedras rapidamente, montando uma muralha rudimentar que subia
rapidamente. Quando acabaram as pedras perto, um Carpe Retractum trouxe mais delas
para perto e agilizou o processor. Eles tinham prendido a mão da múmia com eles, o que
atrasava ainda mais o defunto que procurava por ela intensamente - e de um modo
estúpido que incluia girar no próprio eixo e só -, mas não encontrava.
Não demorou muito mais para que eles terminassem de reunir as pedras. E por alguns
segundos, após isso acontecer, a câmara ficou quieta, somente o som de três tipos de
respiração diferente – o da ruiva entrecortado por fungadas, o do grifinório, ofegante e o
da múmia, fedorento -, algo que não acontecia desde a chegada deles no local. Então,
podem ser ouvidos os primeiros gritos, vindos da outra câmara e que passavam
facilmente pela porta destruída e pela barreira rudimentar construída pelos dois; Nadja
tinha certeza que ouviu alguém, uma mulher, pelo gritos ser agudo, gritando o nome do
Aaron. E foi aí que tudo desabou. Não digo literalmente, como o teto nem nada, porém
figurativamente, com as emoções da alemã em foco. Tudo que ela sentira e tinha
ignorado em função da adrenalina e do momento agora voltavam, atingindo-a em ondas
de insuportáveis e confusas emoções; soluços saiam de sua garganta, tão altos em seus
ouvidos que nem as palavras de Helric, nem os gritos, nem o barulho de punhos se
chocando contra a pedra, foram ouvidos por ela enquanto lágrimas e mais lágrimas
saíam de seus olhos incontrolavelmente. Nem sabia o porquê de chorar, não tinha
porque, a não ser de dor, porém as emoções novamente tinham levado a melhor contra a
ruiva, que logo sentou-se num canto e abraçou seus joelhos, suas costas apoiadas na
parede gélida da pirâmide e sua cabeça em seus joelhos.
Ela só voltou a si com um bom sacode por parte de William, que apontou para o buraco
feito pela múmia na barricada de pedra com só uma mão, e logo desmaiou, só que desta
vez caindo ao contrário dela, de costas, no chão. Alarmada, a ruiva olhou rapidamente
para onde ele tinha apontado, só para se deparar com a única mão que sobrara da múmia
passando por um buraco que ela tinha feito a socos na muralha que eles haviam
construído. Naquele momento, Nadja queria poder desmaiar como o grifo fizera, porém
sabia que não conseguiria, então fez o que qualquer pessoa exausta física e
emocionalmente faria – tudo bem, nem tanto, mas era o que ela achava no momento -,
se arrastou até o canto e fez de si o menor possível, as lágrimas escorrendo quente por
seu rosto e sem nenhum controle. Com os olhos fechados, a ruiva esperava por morrer,
só ouvindo as pedras quebrarem mais e mais, desabando devido à pressão e força
exercida pelo defunto; de vez em quando, ela também ouvia gritos vindos de além da
porta, tanto femininos quanto masculinas, o que a assustava mais que qualquer coisa.
Seu coração palpitava e, toda vez que havia um grito, ele dava saltos em seu peito,
como se quisesse sair por sua garganta e socorrer os outros. Mesmo assim, ela
continuou abraçando seus joelhos, os olhos fechados e a cabeça pressionada firmemente
contra o joelho; ela não tinha o menor desejo de ver o que acontecia a sua volta.
Nessa posição, ela não percebeu quando, milagrosamente, tudo voltou a ser a masmorra
de sempre. Ela só foi abrir o olho quando alguém a tocou no ombro e a reação foi tão
violenta que ela se prensou ainda mais na parede e apontou a varinha para a pessoa, que
no caso era Aaron. Ela mal notou, tão assustada que ela estava, só balbuciou palavras
que soaram como desculpa no ouvido dela. Nadja estava tão presa no medo de que a
múmia viria matá-la que mal notou que estava sendo carregada para fora das
masmorras. - Seu peito tá brilhante - ela murmurou, apontando para Denvers antes de
voltar a olhar para frente, pouco se importando para onde estavam a levando, desde que
fosse bem longe da múmia
TRABALHO:
A Caixa de Pandora para os trouxas,
Por Nadja Faber, quarto ano, Lufa-Lufa
A Caixa de Pandora, para os trouxas, vêm da mitologia grega. Nas histórias, Pandora,
a portadora da caixa, foi a primeira mulher, criada por dois Deuses do Olimpo
(Hefesto, Deus do fogo e da forja, e Atena, Deusa da sabedoria e da guerra) quando
com ajuda mínima de outros e eles assim fizeram porque foram comandados por
Zeus, Deus supremo do Olimpo. A intenção era punir os humanos que haviam
recebido de Prometeu o fogo, que era considerado divino, mesmo contra as ordens
explícitas e a vontade dos Deuses. Pandora foi abençoada pelos Deuses com várias
qualidades considerados atrativos para a humanidade, dentre elas a graça, a beleza e
a inteligência/ foi até modelada co base nas deusas do Olimpo e teve sua
humanidade concedia por Zeus. Contudo, seu coração foi contaminado pela traição e
pela mentira por hermes, o Deus mensageiro. Foi assim que Pandora veio à Terra
(desceu do Olimpo, no caso) para se casar com Epimeteu como presente dos Deuses
para ele. Epimeteu era o irmão de Prometeu e, portanto, o Titã o tinha aconselhado:
não aceite presentes dos Deuses. Porém, Epimeteu, ao se deparar com Pandora e ver
o quão bonita ela era, teve que ignorar o conselho do Titã e casar com ela.
Sobre a Caixa de Pandora, não há muito nos mitos sobre ela. Os poetas rapsodos
gregos, encarregados de contar os mitos, diziam que tinha sido dada a Epimeteu
pelos Deuses com o aviso de nunca a abrirem. É provável que tudo teria dado certo
se Epimeteu não tivesse contado da caixa à sua mulher, Pandora, e ela tivesse
conseguido ignorar a sua curiosidade e não abrir a caixa. Por que tanto estardalhaço
sobre uma caixa? Dentro desta continham todos os males conhecidos ao homem na
atualidade, dentre eles os sete pecados capitais, coisas que ainda não assombravam
a humanidade naquela época. Alguns dizem que dentro dela também estava
guardada a Esperança, porém não é confirmado, pois outros acham que um monstro
estava selado na caixa que Pandora abriu.
Quando aberta por Pandora, que não conseguira ignorar a curiosidade, todos esse
males escaparam velozmente e atacaram a humanidade; a mulher tentou fechá-la a
tempo, mas só conseguiu conter uma coisa, que é esta que causa contradição entre
os estudiosos da mitologia grega: a Esperança (é a ideia mais comum). E é assim, de
acordo com os gregos antigos, que o mundo entrou em contato com a "parte negra"
do ser humano.
Esse mito pode se assimilar ao de Adão e Eva, descrito no Gênesis bílbico, onde a
mulher é seduzida pela serpente a comer o fruto proibido e acaba expulsando os
humanos do Jardim de Éden.
Notas
Português: 9,8/10
Ortografia: 2,0/2
Não reparei nenhum erro ortográfico muito grave.
Gramática: 2,0/2
Não reparei nenhum erro gramatical grave.
Coesão e coerência: 4,0/4
O texto foi muito bem estruturado e coerente.
Pontuação: 1,8/2
Errinhos esparsos, aqui e ali..
Criatividade & Narração: 9,0/10,0
Organização da narrativa: 2,0/2,0
Bom, foi uma narrativa organizada, foi de fácil compreensão, e de leitura agradável. As
idéias estavam claras e bem organizadas.
Nível de detalhamento: 1,0/1,0
Acho que seu texto foi muito bom neste aspecto. Só tente dar mais atenção a
pequeninos detalhes, durante as cenas de ação. Entendo que seja difícil talvez, mas fica
como desafio detalhar extremamente uma cena de ação, sem perder o ritmo cênico.
Descrição física: 1,6/2,0
Faltou só uma descrição mais detalhada da sala de aula e do ambiente nas masmorras.
Aspectos interiores: 1,6/2,0
Muito bom, mas sempre há espaço para melhorar, não? Tente falar mais do interior do
personagem, seus sentimentos e emoções..
Aspecto sensorial: 1,8/2,0
OK
Criatividade: 1,0/1,0
Brilhante!
Trabalho: 9,0/10,0
Faltou referência
Nota Final: 46/50