Aline Cardoso Gonçalves Categoria bolsa

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Aline Cardoso Gonçalves Categoria bolsa
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ESTUDO DESCRITIVO DA CONDIÇÃO BUCAL DE MULHERES PÓSMENOPAUSADAS SEGUNDO USO DE MEDICAÇÃO PARA OSTEOPOROSE
Aline Cardoso Gonçalves¹ ; Johelle de Santana Passos2; Isaac Suzart Gomes
Filho3; Simone Seixas da Cruz4
1. Bolsista PROBIC, Graduanda em Odontologia, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
[email protected]
2. Orientador, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail: [email protected]
3. Coordenador do NUPPIIM, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
[email protected]
4. Participante do NUPPIIM, Departamento de Saúde, Universidade Estadual de Feira de Santana, e-mail:
[email protected]
PALAVRAS-CHAVE: Condição bucal, terapia hormonal, osteoporose
INTRODUÇÃO
Os estudos a cerca da relação entre osteoporose e doença periodontal em
mulheres na pós-menopausa tem sido de grande relevância, visto que interligados ao
aumento na expectativa de vida da população brasileira, entre adultos e idosos, estão
alguns fatores como as condições sócio-econômicas e vulnerabilidade social na área do
envelhecimento e doenças de caráter crônico-degenerativo, a exemplo da osteoporose.
Dentre as alterações decorrentes do processo de envelhecimento, destaca-se a
menopausa. Durante a menopausa ocorre queda de níveis de estrógeno e aumento de
interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8, IL-10), fator de necrose tumoral, e macrófagos no
circuito de remodelagem óssea, com conseqüente ativação osteoclástica e maior
reabsorção óssea. (Pacifíci, 1996; Yoshihara et al. 2004). Essa perda de densidade
mineral óssea, especialmente acima dos 50 anos, caracteriza a osteoporose pósmenopausal, uma doença silenciosa que enfraquece os ossos e aumenta o risco de
fratura. (Who, 1994).
Nesse período, são comuns algumas alterações bucais como redução do fluxo
salivar, modificação do paladar, aumento na prevalência de doença cárie e destruição
periodontal (Giuca et al. 2009, Buencamino et al. 2009). Visando desacelerar os efeitos
da deficiência estrogênica sobre a densidade mineral óssea, têm sido desenvolvidas
drogas anti-reabsortivas. Alguns estudos sugerem ainda que os efeitos dessas
medicações para osteoporose possam repercutir ainda na condição bucal, com aumento
da retenção dentária e controle de alguns descritores periodontais (Krall et al. 2001,
Civitelli et al. 2002).
Frente a algumas evidências de associação entre condição bucal e alterações
sistêmicas, em especial do efeito protetor das medicações para condições sistêmicas nos
tecidos periodontais, este trabalho propôs-se a descrever a condição bucal de mulheres
pós-menopausadas considerando o uso de medicações para controle da osteoporose.
MÉTODOS
A amostra mínima foi estimada em 112 expostos e 336 não expostos, perfazendo
um total de 448 participantes.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de
Desenvolvimento da Ciência da Bahia, Salvador Bahia (Protocolo No.047/2005) e
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posteriormente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual
de Feira de Santana-Ba (Protocolo No.199/2009). Todas as participantes assinaram um
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando sua inclusão na pesquisa.
Foram incluídas no grupo de usuárias de medicação para controle da
osteoporose, mulheres que faziam atualmente uso de terapia estrogênica/hormonal ou
bisfosfonatos e/ou de suplementação à base de cálcio e vitamina D há pelo menos seis
meses. O grupo de não usuárias compreendeu aquelas que não recebiam nenhuma das
medicações referidas nas condições especificadas.
Após consentimento livre e informado, as participantes responderam a um
formulário para obtenção dos dados relacionados aos fatores sócio-demográficos,
biológicos, e hábitos de vida. Foi registrado o uso de medicações para osteoporose
como: suplementação diária com cálcio e/ou terapia de reposição hormonal/estrogênica
ou bisfosfonatos.
Em seguida, foi realizado exame clínico bucal avaliando presença de dentes
presentes, e registrado dentes cariados, perdidos, restaurados através do índice CPO-D,
bem como os principais descritores periodontais como profundidade de sondagem, nível
de inserção clínica, índices de sangramento e de placa visível.
O diagnóstico de osteoporose foi confirmado pelos laudos densitométricos
apresentados pelas participantes.
Os procedimentos de análises de dados envolveram análise descritiva com
medidas de frequência das variáveis independentes e demais covariáveis, com emprego
de teste T e qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 5%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 492 mulheres pós-menopausadas foi incluído no presente estudo,
sendo que 113 reportaram fazer uso da medicação e 379 mulheres relataram não usar. A
amostra desse estudo apresentou média de idade de 60,6 anos ± 7,4 anos, sendo a
mínima de 50 anos e máxima de 87 anos.
A média de idade da menopausa foi de 47 anos ± 6,5 anos, sendo a menopausa
natural o tipo mais comum (69,6%). Do total de usuários de medicação para
osteoporose, 69 (61%) usavam suplementação com cálcio e 44 (39%) faziam uso de
terapia hormonal/estrogênica.
Outras características sócio-demográficas, reprodutivas e de saúde geral são
apresentadas na Tabela 01, segundo o uso de medicação para prevenção/controle da
osteoporose, detectando-se diferenças estatisticamente significantes entre os grupos
apenas para presença de osteoporose/osteopenia (p=0,01).
Tabela 1- Características sociodemográficas, reprodutivas e de saúde geral das
mulheres pós-menopausadas segundo uso de medicação para osteoporose. Feira de
Santana-Ba. (n=492).
Uso de medicação para
osteoporose
Características
Cor da pele
Branca
Preta/parda
IMC (Kg/m2)
Sim (n=113)
n (%)
Não (n=379)
n (%)
23 (20,4)
90 (79,6)
56 (14,8)
323 (85,2)
P
0,16
1124
< 30
≥ 30
Situação conjugal
Com companheiro
Sem companheiro
Osteoporose/osteopenia
Não
Sim
Renda familiar (salário mínimo)
< 01
01 a 03
> 03
Nível de escolaridade
> 04 anos de estudo
até 04 anos de estudo
98 (86,7)
15 (13,3)
323 (85,2)
56 (14,8)
0,69
66 (58,4)
47 (41,6)
186 (49,1)
193 (50,9)
0,08
21 (18,6)
92 (81,4)
115 (30,3)
264 (69,7)
0,01
21 (18,6)
84 (74,3)
8 (7,1)
56 (14,8)
296 (78,1)
27 (7,1)
0,33
0,62
20 (17,7)
93 (82,3)
72 (19,0)
307 (81,0)
0,77
Quanto ao estilo de vida e hábitos de cuidado bucal, observou-se que o grupo
que faz uso de medicação para osteoporose apresentou maior freqüência de indivíduos
que reportaram consultar o dentista há menos de dois anos (70,8%), sendo esta
diferença estatisticamente significante (p=0,03).
Na tabela 02, onde são dispostas as medidas de condição bucal, evidenciou-se
que o grupo de usuárias da medicação apresentou medidas médias de profundidade de
sondagem (PS) e nível de inserção clínica (NIC) e sangramento gengival menores do
que no grupo que não fazia uso, sendo essas diferenças estatisticamente significantes (p
≤ 0,01; p= 0,05, p= 0,05, respectivamente).
Esses resultados são consistentes com a literatura (Grossi, 1998, Civitelli et al.
2002; Tagushi et al. 2004); que tem enfatizado o provável efeito protetor dessas
medicações, não somente contra mudanças osteoporóticas ou osteoclastogênese, mas
ainda, no controle da condição periodontal e retenção dentária.
Tabela 3 – Condição bucal das mulheres pós-menopausadas segundo uso de medicação
para osteoporose. Feira de Santana -Ba. (n=492).
Uso de medicação para
osteoporose
Medidas clínicas bucais
Sim
Não
P
n=113
n=379
PS (mm)
Média ± DP
2,0±0,5
2,2±0,5
Min – Max
1,3-4,0
1,3-5,1
<0,01
NIC (mm)
Média ± DP
2,7±0,9
2,9±1,0
Min – Max
1,2-7,5
1,3-8,4
0,05
Sangramento gengival (%)
Média ± DP
16,6±16,0
20,2±18,3
Min – Max
0 - 80,9
0 - 97,2
0,05
Placa visível (%)
1125
Média ± DP
Min – Max
Dentes presentes (n)
Média ± DP
Min – Max
CPO-D (n)
Média ± DP
Min – Max
26,3±22,1
0-100,0
28,0±23,6
0-100,0
0,48
12,8±6,2
4 -27
13,1±6,3
4 - 28
0,55
20,1±5,6
3 -28
19,2±5,6
0 -29
0,20
O Índice CPO-D médio estimado foi aproximadamente 20 unidades, tendo como
componente mais freqüente o número de dentes perdidos (P≈9 unidades). No último
Levantamento das Condições de Saúde Bucal da População Brasileira reportados em
2010 (BRASIL, 2011), este índice foi de 27,1 para o grupo etário de 65 a 74 anos.
Esses achados levam a concluir que mulheres pós-menopausadas em uso de
medicação para osteoporose parecem apresentar condição periodontal melhor quando
comparadas àquelas que não fazem uso, sugerindo que o tratamento pode ter um efeito
protetor nessa população.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da saúde. Pesquisa Nacional de Saúde Bucal – 2010. Nota para
imprensa.
Disponível
em:
http://dab.saude.gov.br/cnsb/sbbrasil/resultados.htm.
Acessado em: 03/02/2011.
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CIVITELLI, R; PILGRAM, T.K; DOTSON, M; MUCKERMAN, J;
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