Investigação do hiperaldosteronismo
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Investigação do hiperaldosteronismo
Testes para diagnóstico do hiperaldosteronismo Exames de Triagem I) Determinação da relação A/ARP: é o método de rastreamento de maior sensibilidade para identificar pacientes com hiperaldosteronismo primário. Preferencialmente, a amostra de sangue deverá ser colhida pela manhã, sem uso de medicações que interfiram no eixo renina-angiotensina-aldosterona. Se o paciente estiver em uso de medicação antihipertensiva a mesma deverá, idealmente, ser suspensa por 2 a 4 semanas antes da avaliação. Nos casos de hipertensão arterial severa, medicações como prazosin, guanetidina, hidralazina, clonidina ou antagonistas de canais de cálcio poderão ser mantidos, pois não interferem na relação A/ARP de forma significativa. O encontro de uma relação A/ARP elevada na vigência de anti-hipertensivos que diminuem a aldosterona (ACC diidropiridínicos, IECA, antagonistas do receptor AT-II) ou elevam a ARP (diuréticos tiazídicos) é altamente sugestiva de hiperaldosteronismo primário. Estudos recentes sugerem que a relação A/APR poderia ser feita com manutenção de medicamentos anti-hipertensivos, sem prejuízo da acurácia diagnóstica de hiperaldosteronismo primário. Entretanto os -bloqueadores e espironolactona devem ser suspensos, pois podem alterar o resultado da relação A/APR: os -bloqueadores causando resultados falso-positivos e a espironolactona falso-negativos. Uma relação de A/APR > 25 (aldosterona expressa em ng/dL e a ARP em ng/mL/h) com nível de aldosterona 12 ng/dL sugere o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário, porém necessita de testes confirmatórios subseqüentes. Nos casos típicos com hipocalemia, caliurese inadequadamente elevada, aldosterona sérica elevada e relação A/ARP > 40, o diagnóstico está estabelecido sem necessidade de testes adicionais. II) Atividade plasmática da renina: embora esteja suprimida em praticamente 100% dos pacientes com hiperaldosteronismo primário também está suprimida em 20 a 30% dos pacientes com hipertensão arterial essencial. A dosagem direta da renina por ensaio imunorradiométrico é atualmente disponível. No entanto, a correlação entre os valores de renina e ARP não está preservada quando a ARP tende a níveis suprimidos, indicando que os resultados da relação A/APR não podem ser extrapolados para a relação A/renina. III) Potássio sérico: o achado de hipocalemia espontânea (K+ sérico < 3,5 mEq/L) com concomitante excreção urinária de potássio inapropriadamente alta (>30 mEq/24h) em um paciente hipertenso sugere a presença de hiperaldosteronismo primário. Porém, a ausência de hipocalemia não afasta o diagnóstico (até 38% dos pacientes com hiperaldosteronismo primário podem apresentar níveis normais de K+ sérico). Exames para Confirmação Diagnóstica do Hiperaldosteronismo A autonomia da secreção de aldosterona deve ser confirmada através da ausência da sua supressão por manobras que bloqueiam o eixo renina-angiotensina-aldosterona. O hiperaldosteronismo primário, independente do subtipo, cursa com ausência de supressão da aldosterona durante esses testes. -Sobrecarga Salina: é considerado o melhor teste para diferenciar hiperaldosteronismo primário da hipertensão arterial essencial (HAS). Entretanto 7% dos pacientes com hiperaldosteronismo apresentam supressão da aldosterona após a sobrecarga salina. 1- Infusão de 2 L de solução salina a 0,9% (ou 25 mL/kg peso) em um período de 4 horas com coleta de sangue para dosagem de aldosterona antes e no final da infusão. Valores de aldosterona maiores que 8,5 ng/dL no final da infusão confirmam o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário. 2-Via oral: acréscimo de 2 a 3 g de NaCl em cada refeição durante 3 dias. No terceiro dia, uma dosagem de aldosterona urinária maior que 14 g/24h em vigência de sódio urinário superior a 200 mEq/24h confirma o hiperaldosteronismo primário. 3-Teste de supressão com 9-fludrocortisona: é realizado pela administração oral de 9fludrocortisona (Florinefe) na dose de 100 g a cada 6 horas durante 4 dias, seguida de coleta de aldosterona urinária no 4° dia ou da aldosterona sérica no 5° dia. O teste é considerado confirmatório de hiperaldosteronismo primário quando a aldosterona sérica mantém-se acima de 5 ng/dL ou a aldosterona urinária acima de 14 g/24h. Os testes confirmatórios podem ocasionar aumento dos níveis pressóricos e piora da hipocalemia, sendo indicada a correção prévia da hipocalemia com manutenção da reposição de K+ durante o teste de sobrecarga salina. Em casos de hipertensão grave, devem ser mantidos os anti-hipertensivos que menos interferem no eixo reninaaldosterona, tais como prazosin e guanetidina, assim como a clonidina e antagonistas dos canais de cálcio. 17.c) Diferenciação dos Subtipos de Hiperaldosteronismo Primário Após a confirmação do diagnóstico de hiperaldosteronismo primário, é necessário fazer a distinção entre os diversos subtipos já que cada etiologia requer um tratamento específico. Teste Postural: foi um dos primeiros testes usados na diferenciação entre adenoma produtor de aldosterona e hiperaldosteronismo idiopático. Baseia-se no fato de que, apesar de autônoma, a secreção de aldosterona no hiperaldosteronismo idiopático se mantém responsiva a pequenas elevações plasmáticas de angiotensina-II, havendo incremento de 3 a 4 vezes do valor basal de aldosterona no final do teste. Amostras de sangue para dosagem de aldosterona e cortisol devem ser colhidas em posição supina (ao acordar ou após 1 h de repouso no laboratório) e após período de 2 a 4 h em posição ortostática deambulando. O adenoma produtor de aldosterona não responde ao estímulo postural já que, de maneira geral, suas células não possuem receptores para AT-II (incremento de aldosterona 30%). Os adenomas podem aumentar a secreção de aldosterona em resposta à variação circadiana do ACTH, sendo necessária a mensuração do cortisol sérico para a correta interpretação do teste. Se houver aumento do cortisol, subtrai-se seu incremento percentual daquele da aldosterona e, se ainda assim houver elevação da aldosterona 30%, considera-se o teste positivo o que sugere a presença de hiperaldosteronismo idiopático. Entretanto, aproximadamente 20% dos pacientes com adenoma produtor de aldosterona são responsivos à angiotensina-II. Dessa forma, a aplicação do teste postural na avaliação de pacientes com hiperaldosteronismo primário é discutível. Cateterismo de veias adrenais com coleta simultânea de sangue para dosagem de aldosterona e cortisol Tem como objetivo identificar a origem da secreção de aldosterona, sendo considerado o exame de maior acurácia na diferenciação dos diferentes subtipos de hiperaldosteronismo primário. Está indicado sempre que os exames de imagem adrenal forem inconclusivos ou discordantes. Trata-se de método invasivo e sujeito a dificuldades técnicas principalmente em relação ao cateterismo da veia adrenal direita, exigindo um radiologista experiente. A veia adrenal direita drena diretamente na veia cava inferior, em região próxima à drenagem da veia renal, cujo fluxo pode dificultar a coleta de sangue exclusivo da adrenal. A introdução dos cateteres é feita através das veias femurais e são colhidas amostras de sangue das veias adrenais direita e esquerda e da veia cava inferior (VCI) simultaneamente para dosagem de aldosterona e cortisol. A necessidade de coleta simultânea deve-se à natureza pulsátil da secreção do ACTH. Pode-se também fazer o cateterismo sob infusão contínua de cortrosina (250 g em 5 horas). Para a correta interpretação, calcula-se a relação aldosterona/cortisol (A/F) para cada amostra (“aldosterona normalizada”) com o objetivo de corrigir possíveis diluições do sangue venoso adrenal e evitar erros na avaliação da origem da secreção de aldosterona. O diagnóstico de secreção unilateral baseia-se no achado de uma relação A/F entre o lado dominante e não dominante 4 e, além disso, o lado não dominante deve apresentar valor A/F menor ou igual ao da veia cava inferior, já que esta adrenal está suprimida. Outros autores utilizam como critério de lateralização uma relação A/F entre o lado dominante e não dominante 2, 3 e 5. O diagnóstico de secreção bilateral (HI) é feito diante de valores A/F superiores aos da veia cava inferior em ambos os lados. Para confirmar a seletividade da cateterização das veias adrenais é utilizada a relação dos níveis de cortisol na veia adrenal/cortisol na veia cava inferior (Fadrenal/Fcava). Valores de Fadrenal/Fcava entre 2 e 5 têm sido utilizados para confirmar a seletividade do cateterismo. Estudo recente demonstrou que mesmo utilizando uma relação Fadrenal/Fcava 1,1 foi possível obter uma acurácia de 80% no diagnóstico de adenoma. A constatação de secreção unilateral de aldosterona aponta para os diagnósticos de adenoma ou hiperplasia unilateral produtores de aldosterona (ambos diagnósticos com indicação cirúrgica), enquanto a presença de secreção bilateral faz o diagnóstico de hiperaldosteronismo idiopático.