medicina veterinária da conservação

Transcrição

medicina veterinária da conservação
ISSN 1517-6959
R e v is t a
Ano 19 – Edição N° 59 | mai / jun / jul / ago - 2013
MEDICINA VETERINÁRIA
DA CONSERVAÇÃO
conexão entre saúde humana,
saúde animal e saúde do ecossistema
Projetos “Suçuarana”
e “Mata Ciliar”
Construindo uma nova ciência
hipertensão intra-abdominal e síndrome compartimental em cães
A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina
Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões,
artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina
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A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos.
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SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140
Brasília–DF – CEP: 71205-060
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Capa: Monitoramento de onça parda na Serra do Brigadeiro, MG. Projeto Suçuarana/UFV
A Revista Cfmv é indexada na base de dados Agrobase.
Revista CFMV. – v.19, n. 59 (2013)
Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária,
2013
Quadrimestral
ISSN 1517 – 6959
1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos.
I. Conselho Federal de Medicina Veterinária.
AGRIS L70
CDU619(81)(05)
Sumário
4Editorial
|
5
Entrevista
8
A Declaração de Cambridge
10
A importância da inserção em atividades político-legislativas
13
Das práticas em zoológico à especialização dos dias atuais
16
Projeto Mata Ciliar
Edivaldo Santos
19 Projeto Suçuarana, Minas Gerais
22
Publicações científicas de 2010 a 2012 refletem o crescimento da área
26
Destaques
31
Suplemento Científico
58
Sexagem Fetal em Bovinos por Ultrassonografia
61
Tratamento dietético em cães cardiopatas
67
Hipertensão intra-abdominal e síndrome compartimental em cães
72 Encefalopatias espongiformes transmissíveis
82 Artigo de opinião
Editorial
NOSSO PAPEL NA
CONSERVAÇÃO DAS ESPÉCIES
O Brasil é um dos principais alvos do comércio e tráfico de animais silvestres, fato que se dá devido ao seu
imenso potencial em biodiversidade, sendo apontado
como um dos principais fornecedores da rede de tráfico, de onde são extraídos cerca de 12 milhões de animais de nossas florestas e ecossistemas, anualmente.
Enfatize-se a existência da criação comercial
legal que oferece ao consumidor uma alternativa à
ilegalidade e que somente comercializam espécies
nascidas em seus recintos. Entretanto, é preciso
avaliar quanto o comércio legal estimula o tráfico
por que existem criadores que se utilizam da fachada
legal para praticar a ilicitude.
Além dos impactos antrópicos resultantes
dos processos de ocupação, industrialização e
desmatamento, hoje as espécies se deparam com
uma nova ameaça: o prazer de possuir um animal
silvestre em casa.
Alem disso, a maioria daqueles que passam a ter a
guarda destes animais vão perceber o “mal negócio”
que fizeram quando se conscientizam que não possuem estrutura nem disponibilidade para recebê-los.
Se quisermos influenciar positivamente, devemos agir na “educação” de nossos clientes, no dia a
dia de nossos consultórios e de nossas atividades
no campo, orientando-os sobre a necessidade de
conhecer profundamente a espécie antes de adotá-la e, acima de tudo, que avaliem se são capazes
ou tem vontade de lidar com as necessidades especiais destes animais.
expediente
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140
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4
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Fotos: Merck
Entrevista
Edival Santos
Médico Veterinário que seguiu carreira na indústria de saúde animal e assumiu em janeiro último
a presidência da MSD Saúde Animal no Brasil. Graduado pela Universidade de São Paulo, com
MBA pelo IBMEC, iniciou sua carreira no campo, trabalhando nas áreas técnica e marketing para
a Coopers e Novartis. Ingressou na Intervet Brasil, em 2000, cresceu profissionalmente na companhia e, em 2005, foi nomeado Diretor de Marketing Global de Ruminantes, sediado em Boxmeer,
na Holanda. Em 2010, passou a ocupar o cargo de gerente-geral na Espanha da antiga Intervet/
Schering-Plough, atual MSD Saúde Animal (Merck Animal Health), presente em mais de 50 países.
Como avalia a concentração mundial pela qual
passa a indústria de saúde animal? Como é a realidade da empresa que dirige?
Nos últimos 20 anos, o processo de fusões e aquisições neste setor, como nos demais, foi intenso. Mas
também existem pequenas e médias empresas globais,
além das fortes empresas locais, que fazem o mercado
de saúde animal bastante competitivo. A MSD Saúde
Animal é uma multinacional com tradição em três
negócios-chave de produção: ruminantes, suínos e
aves; com potencial de crescimento em aquicultura e
animais de companhia. Somos a segunda operação do
mundo e a segunda empresa no Brasil. Em 2012, faturamos aproximadamente R$ 500 milhões no Brasil.
A concentração da indústria é uma ameaça para o
mercado de trabalho dos Médicos Veterinários e
Zootecnistas?
Não. Tenho 25 anos de mercado e, quando
iniciei, eram poucos os Médicos Veterinários
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
atuan­tes ­na indústria. Isso acontecia em posições
muito específicas, como em produção de vacinas.
Hoje, a porcentagem de Médicos Veterinários nas
empresas é muito mais alta. Praticamente toda a
equipe de campo da nossa empresa é composta
por Médicos Veterinários e/ou Zootecnistas, além
de profissionais em marketing, desenvolvimento,
regulatório e farmacovigilância.
Entre suas ações administrativas, em 2010, há citação de um recall que urgentemente retornou ao
mercado, minimizando os impactos nas vendas.
Quais são os principais desafios desse mercado?
A transparência é uma delas?
A transparência é uma necessidade em qualquer
crise. É preciso agir rápido, de forma transparente, e
resolver o problema. Nesse caso específico, que era
um problema de embalagem, conseguimos realizar
em 40 dias um processo que levaria seis meses numa
multinacional.
5
Entrevista
Sua trajetória profissional sempre o aproximou
da área de marketing e administração. Como
aliou esse conhecimento a sua formação profissional em Medicina Veterinária?
Aprendendo, na prática, expondo-me a situações
que me obrigaram a aprender. Depois de alguns
anos de formado, já crescendo profissionalmente
na indústria, senti a necessidade de fazer um MBA e
outros cursos na área de negócios.
Em palestra para estudantes, Santos fala sobre o trabalho na indústria e
seus desafios.
Como avalia a formação dos Médicos Veterinários e Zootecnistas que passam a fazer parte do
quadro de colaboradores? Onde os brasileiros se
destacam e onde pecam na ascensão por cargos
de liderança?
Se hoje ainda há preconceito por se trabalhar na
indústria, ele é insignificante, se comparado há 25
anos. Os estudantes devem ver a indústria de saúde
animal como uma bela e grande oportunidade de
mercado de trabalho. O problema é a formação
daqueles que deixam a universidade. É preciso buscar desenvolvimento em áreas que os estudantes
conhecem pouco, como administração, gestão,
liderança, marketing, finanças etc. Quando o profissional consegue aliar o conhecimento técnico
com o negócio, ele se torna um grande profissional
para a indústria da saúde animal. É impressionante
a quantidade de brasileiros em cargos de liderança
no mercado mundial em geral. Isso acontece porque eles acabam buscando esse desenvolvimento
profissional.
O senhor foi vice-presidente global da área de ruminantes, dirigiu a empresa na Espanha e atualmente
é o presidente da MSD Saúde Animal no Brasil. O
que influenciou sua ascensão profissional?
Em primeiro lugar, respeito pelas pessoas. Depois, muito trabalho, sempre em busca de melhorias,
aprimoramento profissional e um pouco de sorte,
que não faz mal a ninguém.
Para onde devem caminhar as pesquisas na área
de medicamentos para a saúde animal? Em quais
pontos acredita que o Brasil pode se destacar ou
contribuir para o mundo?
As exigências para o desenvolvimento e registro de produtos aumentaram consideravelmente
em todo o mundo nos últimos anos. Isso faz com
que o tempo e o custo sejam muito maiores para
ter novos produtos. Então, é muito importante que
as empresas invistam em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) para obtenção de novas tecnologias
e produtos inovadores. Nessa circunstância, é
muito importante pertencer a uma empresa farmacêutica humana em que podemos aproveitar
sinergias do desenvolvimento do produto para a
saúde humana e animal. O mercado de saúde animal brasileiro é altamente competitivo, em evolução e tem um grande espaço para desenvolvimento de ferramentas tecnológicas utilizadas também
em outros países. Nesse caso, a Pecuária pode contribuir com as novas tecnologias, como no caso
Quando o profissional consegue aliar o conhecimento técnico
com o negócio, ele se torna um grande profissional
para a indústria da saúde animal.
6
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Pelas mudanças
sociais, o mercado
de animais de
companhia
torna-se cada vez
mais importante
Iniciativa social: cão terapeuta.
dos beta-agonistas, que aumentam a produção de
carne por boi confinado, com total segurança.
Acredita numa maior aproximação entre a universidade e a empresa? Qual é o comprometimento da sua empresa com a investigação científica no Brasil?
Trabalhamos em parceria com diversas universidades, nas diferentes espécies animais, tanto em
colaboração para levar conhecimento aos nossos
clientes em P&D quanto em mostrar aos estudantes as novas ferramentas, produtos, serviços e seu
papel na indústria. A MSD Saúde Animal tem um
centro de desenvolvimento de produtos no Brasil
– local e complemento de produtos desenvolvidos
fora do País. Além disso, promove o Prêmio de Pesquisa Clínica, para incentivar o desenvolvimento
da pesquisa clínica e agregar cada vez mais valor à
Medicina Veterinária.
E quanto à promoção e apoio a iniciativas sociais,
educativas e ambientais da empresa? Há preo­
cupação em substituir ou reduzir a experimentação animal nas pesquisas?
Ser sustentável é ter um compromisso com a
sociedade de hoje e de amanhã em quatro pilares:
social, econômico, cultural e ambiental. Há vários
meios de aderir às formas sustentáveis, desde
jogar papel no lixo até controlar o consumo desenfreado. A MSD (humana) tem projeto de doação de
medicamentos para eliminar a enfermidade “cegueira dos rios”, presente na África, América Latina
e Oriente Médio. No Brasil, a divisão de saúde animal patrocina projetos que utilizam animais para
ajudar na reintegração de pessoas à sociedade, sejam portadores de necessidades especiais, autistas, idosos ou dependentes químicos. Resolvemos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
apoiar essas iniciativas de pet terapia e hipnoterapia, também, porque trabalhamos com a ciência
para animais mais saudáveis e acreditamos na sua
relação direta e positiva no bem-estar humano.
Sobre o uso de animais na experimentação, a MSD
faz o possível para reduzir o número de animais
em experimentação de novos produtos. Mas não é
possível desenvolver um produto sem o uso deles,
já que um produto que vai ao mercado precisa
mostrar-se seguro tanto para os animais quanto
para as pessoas. A MSD investe em pesquisa para
uso alternativo e premia cientistas que atingem
algum progresso nesse campo.
Como são vistos o mercado e a produção animal
brasileira pelos executivos da MSD Saúde Animal?
O Brasil sempre foi um importante player e produtor de aves, suínos, bovinos e leite. Depois de
oito anos no exterior, o que mais me chama a atenção é como o País continua crescendo como produtor de proteína animal e aumentando o volume
produzido. Além disso, pelas mudanças sociais, o
mercado de animais de companhia torna-se cada
vez mais importante.
Como você vê as profissões de Medicina Veterinária e Zootecnia no Brasil? Que reflexão você pode
deixar para os nossos acadêmicos?
O campo de trabalho para o Medico Veterinário e Zootecnista é muito amplo, há muita oportunidade. Como em todas as áreas, precisamos
buscar a excelência. Eu, particularmente, quero
ter os melhores profissionais. Portanto, se tem
pretensão de entrar na indústria, prepare-se para
isso, desde a universidade; estude muito e adquira sempre um amplo conhecimento. Conhecimento não ocupa espaço.
7
Bem-estar Animal
A Declaração de Cambridge
sobre a Consciência
em Animais Humanos e Não Humanos
Em julho, especificamente no dia 7, a Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais
Humanos e Não Humanos, completou um ano. O
documento é um marco, pois, pela primeira vez, a comunidade científica reconheceu que os animais são
seres senscientes. A declaração, em resumo, apresenta a conclusão de um grupo de neurocientistas
de que os humanos não são os únicos animais com
as estruturas neurológicas que geram consciência.
Agora se admite o que foi negado durante tanto tempo: muitos animais, incluindo o invertebrado polvo,
apresentam consciência.
A partir do documento escrito por Philip Low e
editado por Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Philip Low e Christof
Koch, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, é
possível combater com embasamento científico a
prática dos animais vistos como máquinas e, consequentemente, utilizados como se assim fossem até
meados do século XX, quando emergiram diversos
questionamentos sobre suas capacidades.
8
O fato de que os animais apresentam consciência
torna seus estados afetivos importantes do ponto de
vista moral, isto é, se um animal sofre, isso deve ser considerado moralmente. As várias situações que causam
sofrimento aos animais passam a ser questionadas, pois
a neurociência mostrou que, de fato, os animais experimentam situações favoráveis e desfavoráveis.
A Declaração de Cambridge cumpriu o relevante
papel de inverter o ônus da prova. A partir dessa
constatação científica, se alguém quiser afirmar que
os animais (pelo menos os vertebrados e cefalópodes) não têm consciência, terá que demonstrá-lo sob
a luz da mesma ciência. Ficou evidenciada a necessidade de se repensar várias práticas que ocorrem
em nossa sociedade em relação aos animais e os
Médicos Veterinários e Zootecnistas têm um importante papel nessa conscientização. Por esse motivo,
precisam avaliar essa Declaração e refletir para que
possam lidar com as repercussões éticas de suas
ações, em uma sociedade que reconhece cada vez
mais o estatuto moral dos animais.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Declaração de Cambridge sobre a Consciência
Neste dia 7 de julho de 2012, um destacado grupo internacional de neurocientistas cognitivos, neurofarmacologistas, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais reuniram-se na Universidade de Cambridge, Reino Unido, para
reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados em animais humanos e não
humanos. Embora a pesquisa comparativa sobre este tópico seja naturalmente dificultada pela incapacidade dos animais não humanos, e frequentemente dos seres humanos, em comunicar prontamente e de forma clara os seus estados internos, as seguintes
observações podem ser afirmadas inequivocamente:
• O campo da pesquisa sobre a consciência está evoluindo rapidamente. Várias novas técnicas e estratégias para a pesquisa
com animais humanos e não humanos vêm sendo desenvolvidas. Consequentemente, uma maior quantidade de dados
está se tornando disponível, e isso pede uma reavaliação periódica dos preconceitos previamente sustentados nesse campo.
Estudos com animais não humanos mostraram que circuitos cerebrais homólogos, correlacionados com a experiência
e a percepção conscientes, podem ser seletivamente facilitados e interrompidos para avaliar se eles são necessários, de
fato, para essas experiências. Além disso, em seres humanos, novas técnicas não invasivas estão disponíveis para investigar os correlatos da consciência.
• Os substratos neurais das emoções não parecem limitar-se às estruturas corticais. De fato, redes neurais subcorticais estimuladas durante estados afetivos em humanos também são criticamente importantes para gerar comportamentos emocionais
em animais. A estimulação artificial das mesmas regiões cerebrais gera comportamentos e estados emocionais correspondentes tanto em animais humanos quanto não humanos. Onde quer que se evoquem, no cérebro, comportamentos emocionais instintivos em animais não humanos, muitos dos comportamentos subsequentes são consistentes com estados emocionais conhecidos, incluindo aqueles estados internos que são recompensadores e punitivos. A estimulação cerebral profunda
desses sistemas em humanos também pode gerar estados afetivos semelhantes. Sistemas associados ao afeto concentram-se
em regiões subcorticais, onde abundam homologias neurais. Animais humanos e não humanos jovens sem neocórtices retêm
essas funções mentais-cerebrais. Além disso, circuitos neurais que constituem a estrutura de apoio parae stados comportamental-eletrofisiológicos de atenção, sono e tomada de decisão parecem ter surgido evolutivamente ainda na radiação
dos invertebrados, sendo evidentes em insetos e em moluscos cefalópodes (por exemplo, polvos).
• As aves parecem apresentar, em seu comportamento, em sua neurofisiologia e em sua neuroanatomia, um caso notável de
evolução paralela da consciência. Evidências de níveis de consciência quase humanos têm sido demonstradas mais marcadamente em papagaios-cinzentos africanos. As redes emocionais e os microcircuitos cognitivos de mamíferos e aves parecem
ser muito mais homólogos do que se pensava anteriormente. Além disso, se descobriu que certas espécies de pássaros
exibem padrões neurais de sono semelhantes aos dos mamíferos, incluindo o sono REM e, como foi demonstrado em pássaros mandarins, padrões neurofisiológicos que se pensava anteriormente que requeriam um neocórtex mamífero. Os pássaros
pega-rabuda, em particular, demonstraram exibir semelhanças notáveis com os humanos, com grandes símios, com golfinhos
e com elefantes em estudos de autorreconhecimento no espelho.
• Em humanos, o efeito de certos alucinógenos parece estar associado a uma ruptura nos processos de ânteroalimentação e retroalimentação corticais. Intervenções farmacológicas em animais não humanos com componentes conhecidos por afetar
o comportamento consciente em humanos podem levar a perturbações semelhantes no comportamento de animais não
humanos. Nos seres humanos, há evidências que sugerem que a percepção está correlacionada com a atividade cortical, o que
não exclui possíveis contribuições de processos subcorticais, como na percepção visual. Evidências de que as sensações emocionais de animais humanos e não humanos surgem a partir de redes cerebrais subcorticais homólogas fornecem provas
convincentes para uma qualia afetiva primitiva evolutivamente compartilhada.
Nós declaramos o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos.
Evidências convergentes indicam que os animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente,
o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência.
Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses
substratos neurológicos”.
* O documento está disponível em http://fcmconference.org/img/CambridgeDeclarationOnConsciousness.pdf.
Dados dos Autores
Comissão Nacional de ética, bioética e bem-estar animal (CEBEA/CFMV)
Alberto Neves Costa (Presidente)
Médico Veterinário, CRMV-PE nº 0382
Marcelo Weinstein Teixeira
Médico Veterinário, CRMV-PE nº 1874
Carla Forte Maiolino Molento
Médica Veterinária, CRMV-PR nº 2870
Maria das Dores Correia Palha
Médica Veterinária, CRMV-PA nº 0917
Luis Fernando Batista Pinto
Zootecnista, CRMV-BA nº 0235/Z
Rita Leal Paixão
Médica Veterinária, CRMV-RJ nº 3937
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
9
Assuntos políticos
A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO
EM ATIVIDADES POLÍTICO-LEGISLATIVAS
Em um país de grande dimensão, como o Brasil,
aos diversos projetos que tramitam no Congresso
marcado por diferenças culturais e que busca posiNacional, sempre alicerçada nos princípios éticos,
ção entre as nações mais prósperas do mundo, são
defendendo os cidadãos brasileiros e os profissionais
compreensíveis as mudanças que ocorrem a todo
Médicos Veterinários e Zootecnistas.
o momento nas leis que o regulamentam. Para isso,
COMO SÃO AS AÇÕES DA CONAP/CFMV?
quer seja nas esferas federal, estadual ou municipal,
A Conap apresenta uma agenda de reuniões
as leis, os decretos, as medidas provisórias, ou deordinárias mensais na sede do CFMV em Brasília-DF,
mais marcos regulatórios são definidos por meio de
onde são planejadas e executadas as ações da codeliberações dos legisladores no Congresso Naciomissão (Figura 1) com o auxílio de um assessor parnal (Câmara dos Deputados e Senado Federal), nas
lamentar. Também são agendadas reuniões entre os
assembleias legislativas e nas câmaras municipais,
membros da Conap e os parlamentares, deputados
sendo, posteriormente, sancionadas pela presidênfederais e senadores, além da participação em audicia da República, governadores estaduais e prefeitos
ências públicas nos projetos de lei (PL) de interesse.
municipais, respectivamente.
A Conap, atualmente, monitora cerca de 100 projeAs profissões em nosso país são regulamentatos de lei correlatos à Medicina Veterinária e/ou Zootecdas pelos Conselhos de Classe, autarquias criadas
nia, estando cerca de 20 classificados como prioritários.
em defesa à sociedade, que atuam de acordo com a
A maioria relaciona-se com as seguintes temáticas:
Constituição brasileira e estabelecem as condutas
• Bem-estar Animal;
a serem seguidas pelos profissionais a eles vin­
• Regulamentação das Atividades Profissionais;
culados, por meio dos códigos de ética profissional.
• Defesa e Vigilância Sanitária Animal;
Atualmente, inúmeros projetos de lei são propostos
• Saúde Pública Veterinária;
por parlamentares e, de alguma forma, interferem
• Agronegócio;
na dinâmica das profissões; sendo assim, os órgãos
• Ensino.
representativos de classes e/ou profissões devem
ser atuantes em todas as esferas, pois as
Cada PL proposto na Câmara dos
novas percepções da sociedade e
Deputados ou no Senado Federal
a transversalidade de áreas de
Reuniões
é encaminhado pelo assessor
atuação multiprofissional
Ordinárias
parlamentar para a Conap
estimulam o Estado a
Seminário
e esta faz uma análise
alterar seus mecanisCâmara dos
Análises PL’s
Deputados
–
técnica e emite um
mos regulatórios.
CAPADR
parecer para a preNo sentido de
sidência do CFMV.
criar mecanismos
De acordo com a
proativos, de
posição do CFMV e
proteção à socieAudiências
Câmara
de
Ações
públicas no
presidentes
as ações propostas
dade e às profisConap/CFMV
Congresso
CRMVs
pela Conap, são
sões, o Conselho
elaboradas estraFederal de Meditégias para alcancina Veterinária
çar os objetivos em
instituiu, por meio
Visitas e
reuniões no
relação ao PL. Posteda Portaria nº 12,
Artigo na
Congresso
Revista CFMV
riormente, sua tramitade 25 de março de
Nacional
ção é monitorada junto
2011, a Comissão NaMinuta
ao
Congresso Nacional,
cional de Assuntos PolítiPL. ENC
para que ações de mobilizacos (Conap), que desde sua
ção ou emergenciais sejam efetiimplantação vem atuanvadas, caso seja necessário.
do de forma decisiva junto Figura 1. Principais ações da Conap/CFMV.
10
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
A Conap, além de assessorar as outras Comissões do Conselho Federal junto às Casas de
Lei, também se vale do conhecimento específico
delas, buscando informações técnicas consubstanciadas para melhor argumentação e defesa do
posicionamento do Conselho, como, por exemplo,
nas áreas de: bem-estar animal, regulamentação
do Exame Nacional de Certificação Profissional
(ENCP), legislações ambientais, saúde pública
veterinária, entre outros. A Conap também busca
apoio na opinião de consultores ad hoc do CFMV.
No ano de 2012, em uma proposta articulada
entre a Câmara dos Deputados e a Conap/CFMV,
realizou-se no mês de outubro um seminário
inédito denominado: Sistemas de Controle dos
Alimentos de Origem Animal: Bases para a Saúde
Pública e o Agronegócio do Brasil. Esse evento
foi organizado em parceria com a Comissão de
Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CPADR)
CONSIDERAÇÕES
Atualmente, o Congresso Nacional possui
apenas sete Médicos Veterinários eleitos deputados federais e nenhum senador da República.
Infelizmente, nenhum Zootecnista foi eleito para
a atual legislatura federal (2011-2014). Contudo,
mesmo com número reduzido na representação
parlamentar, a Conap já construiu relações importantes com esses deputados para atuarem em prol
das profissões ou na propositura de projetos de lei
demandados pelo CFMV. Nesse sentido, a criação
da Conap/CFMV tem por objetivo preencher essa
lacuna, mesmo que parcialmente, por meio da
TRAMITAÇÃO DE UM PROJETO DE LEI NO CONGRESSO NACIONAL
Ao tomar conhecimento de um projeto
Apresentação do
Tramitação de Projetos de Lei
Projeto
de lei ou de emenda à Constituição de granCâmara dos Deputados
de repercussão na Câmara dos Deputados
Mesa - Analisa
e Numera
ou no Senado Federal, é comum a mídia
veicular discursos favoráveis ou contrários à
Existe
Tramitação
SIM
sua aprovação. Porém, pouco se sabe sobre
conjunta
Projeto similar?
Não
o “caminho” que esse projeto percorre no
Mesa distribui
Legislativo até ser convertido em lei. Esse
às Comissões
“caminho” é chamado de Processo Legislativo, que é uma série de atos para que uma
SIM
Conclusivo nas
Primeira
Prazo para
Comissões?
Comissão
Emendas (5 sessões)
proposição torne-se norma jurídica.
Não
Inicialmente, qualquer PL ordinário do
SIM
Primeira
Parecer com
Prazo para
substitutivo?
Comissão
Emendas (5 sessões)
Legislativo deve seguir um trâmite comum
Não
junto ao Congresso Nacional, independenÚltima Comissão
Votação na
temente de sua origem, seja na Câmara dos
(CCJR)
Comissão
Deputados ou no Senado Federal. O trâmite
Comissão
básico de um pojeto de lei ou de um projeto
Plenário
Seguinte
de lei complementar (PLP), na Câmara dos
Deputados, segue um roteiro. No Senado,
Última Comissão
(CCJR)
as siglas usadas são as seguintes: Projeto
de Lei do Senado (PLS), Projeto de Lei da
SIM
Méritos
Tem Emendas?
Arquivo
Contrários?
Câmara (PLC), Projeto de Lei Complementar
SIM
NÃO
NÃO
do Senado (PLS-Complementar), e Projeto
NÃO
Votação em
Méritos
Redação Final
de Lei Complementar da Câmara (PLC-ComPlenário
Conflitantes?
(CCJR)
plementar).
NÃO
Sim
Recurso para
Independentemente da origem, o proPlenário
jeto segue para o Senado Federal ou para
Tramitação de projetos de lei na Câmara dos Deputados
a Câmara dos Deputados e terá uma nova
(*) adaptada de http://www.boletimmbml.net/sambio/tramitacao-dos-projetos-de-lei/
tramitação. Após a aprovação em ambas as
Casas, a Presidência da República tem o poder de sancionar ou vetar a totalidade ou partes do projeto.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
11
Assuntos políticos
CONAP participa de evento no Congresso Nacional
maior representatividade político-legislativa das
profissões de Medicina Veterinária e Zootecnia. No
entanto, essas ações devem ser multiplicadas nas
esferas estaduais e municipais, sendo importante
que os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária e Zootecnia (CRMVs) criem comissões assessoras
que atuem junto aos governos estaduais e prefeituras municipais. Além disso, é importante que os
Médicos Veterinários e Zootecnistas envolvam-se
nas Casas Legislativas e Executivas, orientando e
posicionando sobre os assuntos que dizem respeito às profissões.
A Conap, atualmente, está envidando esforços
para criação de uma agenda propositiva de ações
político-institucionais que atenda às principais
demandas das profissões e as estratégias do CFMV.
Associado a isso, propõem uma rede de contatos a
partir dos CRMVs, onde cada profissional registrado
poderá auxiliar na defesa das profissões à medida
que está próximo da base eleitoral do parlamentar.
Com isso, as ações e as estratégias poderão ser sincronizadas pelo Sistema CFMV/CRMVs e, portanto,
tornarem-se mais eficazes.
O sistema está concretizando o objetivo de defender os direitos e conquistas de cada profissão no
âmbito político, contudo, é sabedor que essas conquistas exigem atenção constante e articulada de
todos os seus integrantes.
Dados dos Autores
Comissão Nacional de Assuntos Políticos (Conap/CFMV)
Júlio O. J. Barcellos (Presidente)
Médico Veterinário – CRMV-RS nº 3185
[email protected]
Carlos Humberto Almeida Ribeiro Filho
Médico Veterinário – CRMV-BA nº 0454
Geraldo Marcelino Carneiro Pereira do Rêgo
Médico Veterinário – CRMV-RN nº 0015
Marcelo Henrique Puls da Silveira
Médico Veterinário – CRMV-SC nº 1646
Nilton Abreu Zanco
Médico Veterinário – CRMV-SP nº 6956
Ricardo Pedroso Oaigen
Médico Veterinário – CRMV-PA nº 2272
Roberto Baracat de Araújo
Médico Veterinário – CRMV-MG nº 1755
12
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
animais selvagens no Brasil
Projeto suçuarana/UFV
Das práticas em zoológico
à especialização dos dias atuais
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Projeto Suçuarana/UFV
A Medicina Veterinária de animais selvagens asselvagens que orientam aqueles que possuem exemsume cada vez maior importância socioeconômica,
plares legalizados como animais de estimação.
principalmente pela maior consciência da sociedade
O campo de trabalho é vasto e reflete a diversidasobre a importância da conservação ambiental. Há
de de espécies de animais selvagens. O planeta Terra
cerca de 30 anos, a especialidade restringia-se aos
é habitado por 47 mil espécies de vertebrados (HEIcuidados, à cura e ao manejo de animais de zoológiZER et al., 1999), e nelas estão incluídos o homem e
co, que tinham por objetivo prioritário a exposição
cerca de cinquenta espécies de animais domésticos.
ao público. Atualmente, com a abertura de criaTodo o restante é de animais selvagens.
douros e a preocupação com o futuro das espécies
Considerando a importância social e econômica,
ameaçadas ou não de extinção, a área de atuação do
aliada à diversidade das espécies, observa-se o surgiclínico de animais selvagens cresce constantemente.
mento de uma nova ciência: a Medicina Veterinária
A especialidade “animais selvagens”
inclui as clínicas médica e cirúrgica de
animais em cativeiro ou vida livre, porém,
diversas subespecialidades estão sendo
criadas. Exemplos são a anestesia, o planejamento e a responsabilidade técnica em
criadouros, zoológicos e centros de triagem. Tem-se a reprodução, para fins comerciais ou de conservação, especialmente das espécies ameaçadas de extinção.
Há, inclusive, Médicos Veterinários especializados em comportamento de animais Onça parda capturada por armadilha fotográfica.
13
animais selvagens no Brasil
Medicina Veterinária
da Conservação
•
Trata-se de uma ciência que se preocupa
com a saúde ambiental. Envolve transdisciplinaridade, tanto na pesquisa, nas ações de
manejo e na proposição de políticas públicas
voltadas à manutenção da saúde de todas as
comunidades biológicas e seus ecossistemas.
• Atuar em Medicina Veterinária da Conservação é trabalhar para manter a diversidade biológica e, conseqüentemente, a
qualidade de vida para pessoas, espécies
domésticas e selvagens, com objetivos de
manter um ambiente saudável.
• A promoção da saúde dos ecossistemas e de
seus componentes pode ser denominada
Saúde Ambiental. Contudo, considerando
as inter-relações e a complexidade dos processos que ordenam os ambientes na terra,
pode-se conceituar que a Saúde Ambiental
é dependente da conjunção da Saúde humana, Saúde Animal e Saúde Vegetal, garantindo a Saúde de todo o Ecossistema.
da Conservação, que tem por objetivo a saúde do
ambiente com uma visão integrada do ecossistema.
Utiliza as ferramentas e recursos da Medicina Veterinária buscando a conservação das espécies. O principal
exemplo é a atuação no monitoramento de animais na
natureza. Há diversos projetos, em várias instituições
do País e, dentre eles, citam-se os trabalhos com antas
no Espírito Santo e tamanduás e onças no pantanal do
Mato Grosso do Sul; o monitoramento das tartarugas
marinhas no litoral brasileiro; o mico-leão caissaar na
Ilha do Superagui-PR e conservação de onças pintadas
no Parque Nacional do Iguaçu- PR.
Surgimento no Brasil
A organização e o crescimento da Medicina
Veterinária de animais selvagens no Brasil é fruto,
principalmente, da influência do norte-americano
Murray E. Fowler, que foi o responsável, em 1966,
pelo início da especialidade no mundo (ver box).
Sua primeira vinda ao Brasil foi em 1985, para ministrar um curso teórico-prático, convidado pela PósGraduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Após essa visita, houve
maior interação entre os Médicos Veterinários do
Brasil, especialistas no tema. Houve estímulo à troca
de informações e experiências e participação em
congressos similares, como, também, à pesquisa e
publicação de material.
Nos Estados Unidos, a Medicina Veterinária de animais selvagens surgiu em 1966,
na Universidade da Califórnia, em Davis, por iniciativa do Médico Veterinário Murray
E. Fowler, quando implantou o programa Zoological Medicine, com amplo enfoque
nas clínicas médica e cirúrgica de animais selvagens de vida livre, cativos e daqueles
de estimação não convencionais. Concomitantemente, na mesma universidade,
iniciava-se um programa de serviços veterinários no Zoológico de Sacramento, com
Fowler atuando como responsável técnico.
Ele encontrou muitas dificuldades, principalmente as relacionadas à falta de literatura de referência.
Trabalhava com a premissa de que a Medicina é universal, igual em todas as espécies. Fez esforços no
sentido de não perder oportunidades, e assim efetuou estudos e necropsias, obteve novas informações
e ampliou conhecimentos básicos. A Medicina Veterinária de animais selvagens vivia um tempo heróico,
cheio de grandes desafios, que não estavam consolidados e fundamentados em especialidade.
Ao longo do tempo, além da experiência adquirida, foram estabelecidos contatos com outros
profissionais e foi organizada uma rede de troca de conhecimento e experiências. As informações geradas foram reunidas, em 1978, em seu primeiro livro: Restraint and Handling of Wild and
Domestic Animals, já na terceira edição e que, após quatro décadas, continua sendo
referência. Em 1986, publicou a primeira enciclopedia sobre a Medicina Veterinária
de animais selvagens denominada Zoo and Wildlife Medicine. Fowler segue sua atuação na Universidade de Davis com 23 livros publicados.
Material complementar sobre Fowler em
espaço da Revista CFMV no Portal CFMV
14
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Associação Mata Ciliar
Figura 1. Concentração de grupos de estudos no sudeste do Brasil.
Sutura de pele em Arara.
O desempenho do professor Fowler é tratado como
um marco. Tanto que o material de apoio do curso persiste
como guia e referência para acadêmicos, profissionais de
zoológico e para formulação de ementas de disciplinas
de graduação. Tamanha foi a importância do evento que
se costuma delimitar a Medicina Veterinária nacional de
animais selvagens em antes e depois de Fowler. Em 18 de
maio de 2010, ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa
pela UFPR e mantém relacionamento técnico-científico
com várias instituições do País.
O Paraná exerce forte influência e destaque na
Medicina Veterinária de animais selvagens. A UFPR
foi a primeira a oferecer uma disciplina abordando
o tema no curso de graduação em Medicina Veterinária. Atualmente, diversas instituições de ensino
oferecem disciplinas, cursos de especialização e
residência na área, com desenvolvimento e consolidação de linhas de pesquisa na pós-graduação.
A publicação de livros é mais recente e segue a
estratégia adotada por Fowler, ou seja, divulgar o
conhecimento científico acumulado associado com
a vivência clínica e cirúrgica dos profissionais brasileiros. Em 2007, foram reunidos artigos de Médicos
Veterinários e Biólogos sul-americanos e norte-americanos, mas principalmente brasileiros, produzindo
o primeiro livro enciclopédico sobre medicina de
animais selvagens em língua portuguesa, denominado Tratado de Animais Selvagens – Medicina
Veterinária. A relevância dessa obra, no Brasil, pode
ser comparada ao impacto mundial do lançamento
do Zoo and Wildlife Medicine, que é referência nos
Estados Unidos. A partir dessa época, as publicações
de Medicina Veterinária passaram a receber artigos
dessa especialidade tão vasta e abrangente, além do
crescimento de publicações específicas.
Surgem muitos grupos de estudos e, muitas escolas de Medicina Veterinária passam a oferecer disciplinas voltadas à Medicina Veterinária de Animais
Selvagens. Outras passam a instalar ambulatórios específicos para animais selvagens em seus hospitais.
Congressos e similares voltados a pequenos animais
também passam a contemplar painéis sobre o tema.
Surgem grupos como a Sociedade de Zoológicos e
Aquários do Brasil (1977), Associação Brasileira de
Animais Selvagens (1991), Grupo Fowler (2004) e
Grupo de Estudos Acadêmicos de Animais Selvagens, dos quais se tem conhecimento de 46 grupos,
de acordo com a organização que os reúne no GEAs
BR (Figura 1). Porém, a organização estima que existam mais grupos ainda não informados.
Dados dos Autores
COMISSÃO NACIONAL DE ANIMAIS SELVAGENS (CNAS/CFMV)
Rogério Ribas Lange (Presidente)
Médico Veterinário – CRMV-PR nº 0955
[email protected]
Albert Lang
Médico Veterinário – CRMV-SC nº 1617
Mariângela da Costa Allgayer
Médica Veterinária – CRMV-RS nº 6352
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Isaac Manoel Barros Albuquerque
Médico Veterinário – CRMV-AL nº 0479
João Luiz Rossi Junior
Médico Veterinário – CRMV-SP nº 11607
Laerzio Chiesorin Neto
Médico Veterinário – CRMV-AM nº 0284
15
Educação ambiental
Associação Mata Ciliar
Trabalhar com animais selvagens,
acima de tudo, é trabalhar com gente
Educação ambiental é feita com grupos de todas as idades, principalmente, crianças.
Por: Flávia Tonin – Jornalista CFMV
É comum ouvir daqueles que se iniciam no trabalho com animais selvagens: “adoro bichos, mas
não quero chegar perto de gente!”. Acreditam que
o trabalho com exemplares nativos isola o técnico,
na maior parte, em áreas longínquas do País. A
experiência oferece outro ponto de vista. Atuante,
há 25 anos, na Associação Mata Ciliar, a Médica
Veterinária Cristina Harumi Adania defende que
“trabalhar com animais selvagens, acima de tudo,
é trabalhar com gente”.
Ela lembra que, mais do que as atividades técnicas, a Medicina Veterinária de animais selvagens
precisa investir na difusão da conservação e, para
isso, cada vez mais estar em contato com pessoas. “Ao
fazer um trabalho de educação ambiental evita-se
que mais animais cheguem aos centros de reabilitação”, exemplifica referindo-se ao desestímulo para
que exemplares do tráfico sejam adotados como
animais de companhia. Com outro viés, ressalta que
o relacionamento com pessoas permite esclarecer
como funcionam as entidades reguladoras, seus mecanismos e exigências.
Lidar com pessoas em benefício dos animais selvagens também é estabelecer parcerias com iniciativas públicas e privadas que garantam sustento para
as organizações, como também sugerir propostas
que incentivem políticas públicas. Por outro lado, é
preciso um bom relacionamento com a equipe para
16
o sucesso de um tratamento. “Quando o Médico
Veterinário atua com toda essa gente garante que
muitos animais selvagens não tenham contato com
gente nenhuma e fiquem onde devem estar, em seus
grupos e habitats naturais”, diz Cristina.
A Associação Mata Ciliar é uma entidade civil,
sem fins lucrativos, que nasceu há 26 anos com o
intuito de proteger margens de rios, nascentes e
outros recursos hídricos. No entanto, para alcançar
seus objetivos, perceberam a necessidade de realizar a educação ambiental: “foi inevitável e também
iniciamos um programa para a conservação da fauna
e propagação das florestas”, lembra a Médica Veterinária. Nesses anos de atuação, mais de 8.000 animais
já passaram pela organização, tendo alguns sido realocados em ambiente natural, há aqueles que vivem
em cativeiro e outros que, apesar dos cuidados, não
sobreviveram.
As atividades científicas estão concentradas no
Centro Brasileiro para Conservação de Felinos Neotropicais, inaugurado em 1997, que tem por objetivo
utilizar a tecnologia a favor da conservação. Atualmente, o Centro de Felinos, abriga 70 animais de oito
espécies ameaçadas de extinção: onça-pintada (Panthera onca), onça-parda ou suçuarana (Puma concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-maracajá
(Leopardus wiedii), mourisco (Puma yagouaroundi),
gato-do-mato-grande (Leopardus geoffroyi), gato-do
-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e gato-palheiro
(Leopardus colocolo).
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
a associação recebe apoio das empresas Tetrapak e
Vetnil e de padrinhos virtuais dos animais.
O objetivo dos tratamentos é o retorno para a
vida livre, o que nem sempre é possível, devido a
sequelas físicas ou deficiências que não permitem
disputa por comida e abrigo em ambiente natural.
“O aprendizado é doído: esses animais não foram
excluídos pelo bando. Eles foram vítimas da rápida
urbanização da região, principalmente, atropelamentos e choques elétricos”, explica.
Nasce na Mata Ciliar animal selvagem fruto de transferência de embrião.
A partir de parceria com o Zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos, a Faculdade de Medicina
Veterinária da USP, além de Zoológicos do interior
e da Grande São Paulo, nasceu, na Associação Mata
Ciliar, o primeiro animal silvestre da América Latina
fruto de transferência de embriões (TE), em 2007,
após sete anos do início das pesquisas. A associação
já soma três jaguatiricas frutos da técnica e tem um
estoque de aproximadamente 70 embriões congelados dessa espécie e de gato do mato pequeno. Os
procedimentos com fertilização in vitro são realizados em centro cirúrgico e laboratório anexos (Centro
Jaguaretê), na sede da Mata Ciliar. Recentemente,
a organização recebeu um equipamento que permitirá ampliar, em qualidade, o banco de amostras
biológicas dos animais, que é referência com mais
de 20.000 amostras de DNA, soro e outros materiais
úteis para a pesquisa.
Em outra frente, desde 1997, foi implantado o
Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras)
que recebe e presta atendimento médico veterinário
para os animais provenientes da região, resgatados,
principalmente, pelo Corpo de Bombeiros, Polícia
Ambiental, Guarda Municipal e Defesa Civil. “Eles
chegam em estado lastimável. Compara-se a um
hospital de Guerra”, afirma Cristina. Ela explica que
os exemplares são vítimas de maus-tratos, tráfico,
queimadas, caça, desmatamento, atropelamento,
choque elétrico, entre outros. “Os animais passam por
um sofrimento que ninguém vê, apenas nós, Médicos
Veterinários, Biólogos e tratadores. Por isso a importância da educação conservacionista. Assim, evitaríamos que chegassem aqui dessa forma”, desabafa. A
entidade chegou a receber mais de dez animais por
dia, porém, o centro reduziu o recebimento por limite
de estrutura e falta de contrapartida, principalmente,
dos governos locais. Atualmente, dos 20 municípios
atendidos, apenas três firmaram parceria com a associação (Bragança Paulista, Cajamar e Jundiaí). Além da
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Relacionamento
com a comunidade
Quando os animais são recuperados, o momento
da soltura é especial e por isso é utilizado como apelo
para a educação ambiental. Ao atender grupos de
crianças, a Mata Ciliar programa soltura de pequenos animais, principalmente pássaros. O ato, com
orientação e acompanhamento técnico, é feito pelas
próprias crianças. “Aquela criança que abriu a gaiola
dificilmente permitirá animais presos e terá outra
postura conservacionista”, afirma Cristina. Antes da
soltura, todo o grupo visita o centro e recebe informações sobre os animais: a conservação, os prejuízos
do tráfico e um detalhamento sobre as etapas de
reabilitação. Alguns animais, antes da liberdade, recebem colares e são monitorados. A limitação para a
prática deve-se ao custo do equipamento, programa
e recursos humanos, aproximadamente R$ 20.000.
Além da educação, a entidade faz treinamentos, em especial com os policiais: “É importante a
qualificação para que saibamos conter o animal da
forma correta, evitando estresse ou agravamento
da lesão, como também para nossa segurança e
das pessoas que estão no local”, avalia o subcomandante, Paulo Vicente Soares, da Guarda Municipal
de Jundiaí-SP. Há também a preocupação com os
proprietários rurais. “Nos relacionamentos com as
comunidades rurais, além da conservação, levamos
informação sobre geração de renda, uso do solo e
Soltura de pássaros pelas crianças em momento de visita.
17
Educação ambiental
Centro cirúrgico com paredes “de vidro” para favorecer a educação ambiental.
tecnologias”, comenta a Médica Veterinária. A Mata
Ciliar entende que a fixação dessas pessoas no campo também contribuirá para a conservação.
A partir de 2013, a Mata Ciliar iniciou uma parceria com a Universidade de Santo Amaro (Unisa) e foi
criado um programa de aperfeiçoamento profissional
com quatro vagas. “Há um interesse crescente dos
estudantes. Essa nova geração tem mais estrutura,
visão e formação para se qualificar na área de animais
selvagens”, avalia o coordenador do curso, Celso Mar-
tins Pinto. A associação também recebe estagiários da
graduação do Brasil e do exterior, com permanência
mínima de um mês e limite de cinco vagas.
A associação conta com 10 colaboradores
e tem em sua equipe multidisciplinar quatro
biólogos e uma Médica Veterinária, além de aproximadamente 50 voluntários que fazem desde
a alimentação, cuidado, limpeza de recinto, atividade administrativa etc. Os voluntários podem se
inscrever em www.mataciliar.org.br.
Não trabalho com animais selvagens, o que tenho com isso?
Médico Veterinário é formador de opinião e
está em contato direto com a sociedade. Principalmente o clínico de pequenos animais, ao ser
consultado, deve orientar sobre a necessidade de
buscar informações da espécie antes de adotá-la.
Quais são seus hábitos, costumes, mudanças com
a maturidade, longevidade entre outros. Lembrar
os clientes que a receptação é um ato ilegal e para
cada um animal sobrevivente, nove morreram.
Profissionais de campo podem incentivar práticas conservacionistas, manutenção de áreas de
conservação ambiental e a vida livre dos animais
selvagens nas propriedades rurais para convivência em harmonia. As ações de produção geram
impacto ambiental e o Médico Veterinário e Zootecnista são determinantes na orientação para
que este seja o menor possível.
18
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Conservação e extensão
Projeto Suçuarana, Minas Gerais,
exemplo para educação ambiental
Flagrantes da interação com a comunidade local.
O Projeto Suçuarana na Serra do Brigadeiro foi
criado em 2009, a partir de demanda da gerência do
Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (Pesb) em resposta a ocorrência de casos de predação de bezerros,
realizada por grandes felinos, em propriedades no
entorno do PESB, normalmente naquelas praticantes
de agricultura familiar, cuja perda de um animal representa prejuízo considerável.
Vários subprojetos de pesquisa e de extensão
estão em execução. Citam-se o Programa de Extensão
que desenvolve trabalhos de educação ambiental em
escolas regionais e um Programa de Assistência Técnica a Produtores Rurais, bem como a pesquisa para
conhecimento da população, ecologia e sanidade dos
felinos silvestres do Pesb. Assim, no projeto são realizados cursos e palestras de temas ligados a agricultura, campanhas de vacinação de bovinos e castrações
de animais domésticos, minimizando o impacto da
predação e melhorando a relação das comunidades
com o Pesb e, também, no estudo da mastofauna há
o entendimento de como os predadores influenciam
o equilíbrio do ecossistema e como sua preservação
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
auxilia a conservação de toda a comunidade faunística, uma vez que a escassez de levantamentos e de informações sobre a biologia e higidez in situ dos felinos
atuam como fatores de ameaça à sua manutenção.
Com armadilhamento fotográfico está sendo
possível levantar as espécies residentes no Pesb. Para
isso o parque foi dividido em subáreas, o que permitiu identificar realidades distintas dentro da Unidade
de Conservação. Duas subáreas chamaram muita
atenção devido à grande presença humana e também de animais domésticos, sendo estas não separar
como de maior desequilíbrio e menor número de es-
19
Conservação e extensão
Equipe do projeto e onça-parda sedada.
pécies, bem como ausência de animais importantes
no ecossistema.
No projeto também são realizadas campanhas
de captura de animais silvestres para análise do estado de higidez e para coleta de material biológico
destinado a análises genéticas, criopreservação de
gametas, parasitologia, epidemiologia e biometria.
Os felinos capturados (jaguatirica e onça-parda)
recebem colares equipados com transmissores VHF
e GPS de modo que suas áreas de uso e padrões de
deslocamento e dispersão passam a ser conhecidos
e melhor compreendidos.
Dentre os animais monitorados uma onça-parda
chamou atenção devido ao padrão do uso e à grande
área de deslocamento. Ela está sendo monitorado,
via satélite, com uso do sistema GPS, desde setembro
de 2012, e sua área de uso ultrapassa 600 km2, que é
muito superior à descrita para a espécie na literatura.
As causas desse grande deslocamento podem ser
em parte compreendidas pelo cenário ambiental e
socioeconômico em que esse indivíduo está inserido. A Zona da Mata mineira é densamente povoada
e, atualmente, muito pouco resta da cobertura vegetal original, pois a Mata Atlântica foi substituída por
lavouras, particularmente as de café. Os remanescentes da cobertura original são poucos e situam-se
nas regiões onde o relevo acidentado desencorajou
a retirada da mata para uso do solo.
O padrão de deslocamento do animal monitorado mostra a importância da mata uma vez que
sua dispersão acontece sempre de um fragmento
de mata para outro, enfatizando a importância dos
Resultado da assistência técnica associada à educação ambiental.
20
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Padrão de deslocamento de onça-parda, pontos em amarelo, obtido por GPS desde 2012.
corredores ecológicos para a espécie. Entre um
fragmento e outro, a onça-parda atravessa diversas
propriedades rurais, e o contato próximo a animais
domésticos determina maior probabilidade de
transmissão cruzada de doenças, como, por exemplo, a parvovirose (em animal foi diagnosticado presença de anticorpos).
Com os dados coletados pôde também ser
observado que duas rodovias, a BR 262 e a BR 116
atuam como barreiras ao deslocamento desse
animal. Esses obstáculos atuam como restrição à
troca genética entre populações. Nesse caso específico, a BR 116 impede o animal monitorado de
acessar o Parque Nacional do Caparaó, onde existe
o registro da onça parda e encontra-se a menos
de 60 km do Pesb. O projeto pretende capturar e
monitorar mais indivíduos para conhecer melhor
o comportamento dessa espécie, topo de cadeia, e
identificar e mitigar as ações antrópicas que comprometem sua conservação. O projeto conta com
apoio do CNPq, Fapemig, Ufv, Sisbiota, Cenap/
ICMBio e INPE, com sede logística na Universidade
Federal de Viçosa.
Agradecimento a Antonio Carlos Csemak Junior
pela participação nas diversas etapas do projeto.
Dados dos Autores
Tarcizio Antônio Rego de Paula
Médico Veterinário-CRMV-MG nº 3799. MSc, Professor Adjunto, UFV. Coordenador do Projeto.
[email protected]
Gediendson Ribeiro de Araujo
Médico Veterinário-CRMV-ES nº 1660
Letícia Bergo Coelho Ferreira
Médica Veterinária-CRMV-MG nº 12855
Leanes Cruz da Silva
Medico Veterinário-CRMV-MG nº 12511
Rafael de Morais Garay,
Medico Veterinário-CRMV-MG nº11590
Thyara de Deco Souza e Araujo
Médica Veterinária-CRMV-ES nº 1144
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
21
animais selvagens
PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS DE 2010 A 2012
REFLETEm O CRESCIMENTO DA ÁREA
O Brasil tem tido avanços consistentes na produção científica nos últimos anos, com destaque
para a Medicina Veterinária, colocando o País
em segundo lugar no mundo, atrás dos Estados
Unidos da América (SANTOS, 2012). A análise das
publicações reflete o interesse do Médico Veterinário pela área de animais selvagens (CUBAS et
al., 2007), que é coincidente com o aumento do
número de habilitações, busca por atualização,
criação de associações e a edição do primeiro livro
no idioma português dedicado à fauna brasileira,
o Tratado de Animais Selvagens: Medicina Veterinária (CUBAS et al., 2007).
A vasta biodiversidade da fauna silvestre brasileira, a existência de diversas instituições zoológicas, o
aumento do número de animais silvestres e exóticos
como pets, o crescente interesse de pesquisadores por
medicina ambiental vêm gerando grande quantidade
de informações e que estão sendo divulgadas, com
maior frequência, em periódicos nacionais, apesar da
pressão por parte de órgãos financiadores de pesquisa para que sejam publicadas em revistas estrangeiras.
Para comprovação desse crescimento, foi realizado um estudo de revisão que analisa o perfil das
publicações brasileiras que abordaram medicina de
animais selvagens de janeiro de 2010 a dezembro
Tabela 1. Artigos por periódicos brasileiros cadastrados pela Capes com livre acesso on line que abordaram medicina de animais
silvestres durante o período de 2010 a 2012.
Revistas
Pesquisa Veterinária Brasileira
Arquivos Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia
Revista Brasileira de Patologia Veterinária
Ciência Rural
Ciência Animal Brasileira
Acta Veterinaria Brasilica
Acta Scientiae Veterinariae
Revista Brasileira de Medicina Veterinária
Brazilian Journal of Veterinary Pathology
Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Sciences
Veterinária e Zootecnia
Memórias do Instituto Oswaldo Cruz
Revista Brasileira de Ciência Veterinária
Acta Amazonica
Brazilian Journal of Microbiology
ARS Veterinaria
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical
Semina: Ciências Agrárias
Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal
Revista Brasileira de Ciência Avícola
Veterinária em Foco
Revista Ciência Animal
Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
Arquivos do Instituto Biológico
Revista FZVA
Arquivos de Ciência Veterinária e Zootecnia
Ciência Animal
UNOPAR Científica: Ciências Biológicas e Saúde
Veterinária e Notícias
Ciência Veterinária nos Trópicos
Revista Brasileira de Ciência Animal
Brazilian Journal of Infectious Diseases
TOTAL
22
Total
94
59
43
27
23
19
19
17
17
16
15
15
10
9
9
8
6
6
6
4
4
3
3
3
3
3
2
2
2
2
1
1
451
%
20,8
13,1
9,7
6,1
5,1
4,3
4,3
3,9
3,9
3,6
3,4
3,4
2,2
2,0
2,0
1,5
1,3
1,4
1,4
0,9
0,9
0,6
0,7
0,7
0,5
0,5
0,4
0,4
0,4
0,4
0,1
0,1
100
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Figura 1. Valor percentual das áreas temáticas identificadas nas
publicações envolvendo medicina de animais silvestres durante o
período de 2010 a 2012.
2012. Foram consultadas revistas da área de avaliação
em Medicina Veterinária, cadastradas e qualificadas
pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) que apresentam versões online
e não bloqueadas. Na análise, foram avaliados quais
periódicos apresentaram artigos abordando medicina
de animais selvagens e a origem dos periódicos. Identificou-se a prevalência de táxons estudados, área de
estudo e idioma publicado. Não foram considerados
artigos de estudos zootécnicos.
Foram encontrados 451 artigos referentes à
medicina de animais selvagens em 32 periódicos.
Entre os periódicos, 59,38% (19/32) pertencem a
universidades; 28,12% (9/32) pertencem a associações, fundações, colégios, sociedades ou conselhos e 12,5% (4/32) a instituições de pesquisa. A
Pesquisa Veterinária Brasileira foi o periódico que
mais publicou artigos sobre medicina de animais
selvagens (89/451-20,2%) seguido de Arquivos
Brasileiros de Medicina Veterinária e Zootecnia
(54/451-12,2%), como pode ser visto na Tabela 1.
Durante o período analisado, observou-se que no
ano de 2011 houve o maior número de artigos publicados, 170, sendo identificados artigos focados em educação ambiental, répteis, aves, organismos aquáticos,
invertebrados, conteúdo multitáxon e mamíferos, sendo essas ultimas as que apresentaram predominância
(49,4%), como pode ser visto na Tabela 2.
Foram identificadas sete áreas temáticas,
com alguns agrupamentos conforme afinidade.
As publicações abordaram Anatomia/Fisiologia (162/451), Parasitologia (97/451), Patologia
(91/451), Saúde Pública/Epidemiologia (52/451),
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Figura 2: Distribuição da quantidade de artigos encontrados
conforme o foco nas áreas temáticas durante o triênio avaliado.
A.F.: Anatomia/Fisiologia; C.A.: Cirurgia/Anestesiologia; Pl:
Patologia; Mb: Microbiologia; Pr: Parasitologia; Sp.E.: Saúde
pública/Epidemiologia; B.E.: Biologia/Ecologia.
Microbiologia (25/451), Cirurgia/Anestesiologia
(18/451) e Biologia/Ecologia (6/451), como pode
ser visto na Figura 1.
Ao analisar a distribuição dos artigos conforme
o foco entre as áreas temáticas identificadas, constatou-se maior concentração de artigos envolvendo
Anatomia/Fisiologia, e que somente publicações sobre Organismos Aquáticos abrangeram as sete áreas
temáticas classificadas (Figura 2).
Do total de publicações, 189 (41,9%) foram
escritas em idioma estrangeiro, sendo 188 artigos
em inglês e um em espanhol. Apesar da pequena
quantidade de publicações envolvendo invertebrados, estas foram as mais escritas em idioma
estrangeiro, seguidas por aquelas abordando organismos aquáticos. Apesar do maior número de
publicações focadas em mamíferos, este foi o foco
taxonômico que apresentou a menor quantidade
de artigos escritos em idioma estrangeiro. A única
publicação encontrada no idioma espanhol tratava de répteis (Tabela 3).
Ausência de periódicos
especializados
Nota-se a predominância de revistas generalistas, nas quais os artigos diluem-se pelos diversos
títulos de diferentes origens/instituições, visto
23
animais selvagens
os artigos podem ser avaliados por pesquisadores altamente conceituados, porém
Ano
Prevalência
não familiarizados com animais silvestres.
Foco das publicações
(%)
2010
2011
2012
Esse fator pode determinar que artigos
Educação ambiental
0
1
0
1 (0,2)
com informações importantes ou inéditos
Invertebrados
3
1
5
9 (2)
sejam rejeitados ou artigos com conceitos
Aves
26
26
33
85 (10)
equivocados ou já reconhecidos sejam
Répteis
14
19
7
40 (9)
aceitos sem necessidade ou real valor. Isso
Mamíferos
72
90
33
223 (49,4)
acontece quando os casos ou estudos são
Organismos aquáticos
24
33
34
91 (20)
bem conhecidos e explorados em animais
Diversos táxons
2
0
0
2 (0,4)
domésticos e os revisores extrapolam os
141
170
140
Total e percentagem
451 (100)
(31,3)
(37,7)
(31)
dados para animais não domésticos.
A predominância de publicações sobre
Tabela 3. Análise da frequência dos idiomas utilizados nas publicações mamíferos é uma tendência normal, visto
envolvendo medicina de animais silvestres, por foco taxonômico, durante o
que estão mais presentes em parques, zooperíodo de 2010 a 2012.
lógicos, instituições de pesquisa e também
Foco das
P.P.L.E.
N.P.
Inglês Espanhol Português
como pets no ambiente doméstico. A pesquipublicações
(%)
sa revelou que apesar de existirem poucos
Aves
85
37
–
48
43,5
profissionais trabalhando com organismos
Invertebrados
9
5
–
4
55,5
aquáticos, há muita publicação sobre o
Mamíferos
223
79
–
144
35,4
assunto, revelando grande exploração acaOrganismos
dêmica, superando répteis e aves, que são
91
50
–
41
54,9
Aquáticos
táxons mais acessíveis para estudos.
Répteis
40
17
1
22
45
O grande número de artigos publicados
Multitáxons
2
–
–
2
–
em idioma estrangeiro é uma peculiaridade
importante e benéfica, pois os projeta interEducação
1
–
–
1
–
Ambiental
nacionalmente, aumentando a abrangência
Total
451
188
1
262
41,9
de leitura e a probabilidade de citação, poN.P.: Número de publicações; b – P.P.L.E.: Prevalência de publicações em língua estrangeira (Inglês/
dendo, também, encorajar a publicação de
Espanhol).
artigos estrangeiros abordando medicina de
animais silvestres em revistas nacionais.
Um
fator negativo encontrado no estudo é a
que das três revistas que mais apresentaram arescassez de artigos abordando educação ambiental,
tigos abordando medicina de animais silvestres
um tema intimamente ligado à conservação animal
apenas uma apresenta foco especializado. A pue muito comentado nas últimas décadas devido à
blicação em revistas não especializadas pode acarmudança de postura das sociedades.
retar erros que variam de sutis a grosseiros, pois
Tabela 2. Foco taxonômico específico das publicações identificados
durante o período de 2010 a 2012.
Referências Bibliográficas
CAPES. Webqualis. Disponível em: http://
qualis.capes.gov.br/webqualis/publico/
pesquisaPublicaClassificacao.seam?conversationPropagation=begin. Acessado
em: 10/10/2012.
CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃO-DIAS,
J. L. Tratado de Animais Selvagens:
Medicina Veterinária. São Paulo: Roca,
2007, 1.376p.
SANTOS, R. L. Pesquisa científica em medicina veterinária no Brasil e sua contextualização global. Revista do Conselho
Federal de Medicina Veterinária, v. 18, n.
57, p. 66-70, 2012.
Dado do Autor
Guilherme Augusto Marietto Gonçalves
Médico Veterinário e Biólogo - CRMV-SP no. 16392. DSc e docente da Faculdade do Sudoeste Paulista (FSP/Avaré, SP)
[email protected]
24
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Conselho em ação
CFMV investe em campanha educacional
contra o tráfico de animais
Engajados em defender a fauna e a biodiversidade
brasileira, o CFMV, com apoio dos Conselhos Regionais, fez o pré-lançamento da Campanha Nacional
de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens, tema
do 45º ano de atividade do Sistema CFMV/CRMVs.
Em parceria com a Rede Globo e Sesi, o CFMV esteve
presente, em 18 de maio, no evento “Ação Global”,
atendendo diretamente cerca de
8.000 pessoas. As participações
foram no Distrito Federal, Bahia, Rio
de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais,
Paraná e Rio Grande do Sul, praças
em que o CFMV foi convidado a atuar.
Cada local contou com dois profissionais
da Medicina Veterinária, voluntários, para
orientações sobre os animais selvagens.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Foi apresentado documentário sobre os prejuízos do
tráfico e distribuídas cartilhas educativas. Para as crianças, atividades lúdicas com teatro, pintura, animadores
e brincadeira com balão, evidenciaram a importância
da conservação. Essa foi uma primeira ação da campanha que será expandida para todo o País, com diversas
ações programadas para o ano.
25
destaques
CFMV proíbe a prática da caudectomia
Desde junho, a prática de caudectomia está proibida no
Brasil. A Resolução nº 1.027, de 18/6/2013, expressou em seu
texto o impedimento do corte da cauda dos caninos por motivo estético. O dispositivo modifica a Resolução nº 877, de 15 de
fevereiro de 2008, que continha apenas uma recomendação do
CFMV para que a cirurgia não fosse realizada.
Raças como Cocker Spaniel, Pinscher, Pointer Alemão, além
de Pitbull, Rottweiller e Doberman são alvos comuns do procedimento que são corriqueiramente justificados como para
“embelezar” o animal. De acordo com o Presidente do CFMV,
Benedito Fortes de Arruda, o Conselho priva pelo bem-estar
do animal. “Queremos coibir a caudectomia e conscientizar o
Médico Veterinário a não recomendá-la, já que amputar parte
de um animal por motivo torpe é inadmissível”. Os Conselhos
Regionais de Medicina Veterinária (CRMVs) podem receber
denuncias da população.
CFMV critica Resolução nº 457 do CONAMA
26
combate ao tráfico e os riscos à proteção da fauna
brasileira não sejam negligenciados”.
Após ação de mídia do CFMV, o Conselho Federal de Biologia também se manifestou contrário e o Deputado Federal Ricardo Tripoli (PSDB/
SP) apresentou em julho Projeto de Decreto
Legislativo que susta a Resolução.
shutterstock
O CFMV manifestou-se contrariamente à
publicação da Resolução nº 457 do Conselho
Nacional de Meio Ambiente em junho de 2013.
A nota pública, que critica a norma, foi enviada
à imprensa e publicada no portal e redes sociais
da instituição. Para o CFMV, diversos pontos do
documento aprovado pelo Conama privilegiarão
o tráfico de animais silvestres, promovendo a banalização do crime.
Na avaliação do Conselho, a Resolução comprometerá ainda mais a responsabilidade que foi transferida aos
estados para à gestão e fiscalização da
fauna em cativeiro. Em sua manifestação, o CFMV solicita uma resposta
do Governo sobre a norma. “O CFMV,
como representante dos mais de cem
mil profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia em todo o País,
cobra um posicionamento do Governo Federal para que os esforços no
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Resolução nº 1.015 entrará em vigor somente em fevereiro de 2014
O CFMV prorrogou o prazo para a entrada
em vigor da Resolução nº 1.015, que versa sobre
novos critérios para o funcionamento de estabelecimento veterinários. A norma, que vigeria
a partir de agosto de 2013, só terá efeito em fevereiro de 2014. O objetivo é dar um tempo maior
para as adaptações às novas
diretrizes. A Resolução estabelece atualizações
para acompanhar as mudanças do mercado,
garantir melhores condições de atendimento
aos animais, acompanhar o desenvolvimento do
conhecimento e da tecnologia, como também
alinhar-se à legislação sanitária vigente.
Além de outras alterações, o dispositivo amplia a exigência de equipamentos necessários
para o setor cirúrgico, o qual deverá ser dividido
em sala de preparo de paciente, sala de assepsia,
sala de lavagem e esterilização de materiais, unidade de recuperação anestésica e sala cirúrgica.
“Como se trata de modificações na estrutura física dos locais, achamos por bem ampliar o prazo
para que os proprietários possam obedecer às
exigências feitas pelo CFMV”, justifica o Presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda.
Câmara Nacional de Presidentes discute temas na área de gestão
Presidentes e colaboradores do Sistema
CFMV/CRMVs se reuniram em junho em Brasília
para tratar de importantes temas nas áreas contábil e de gestão. O evento aconteceu na sede do
Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) e teve entre os principais
assuntos a Gestão Planejada, e o Controle Externo; e a Gestão do Sistema Contábil. Representantes do Tribunal de Contas e da Corregedoria-Geral da União também participaram do encontro.
Durante a abertura da Câmara, o Presidente
do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, ressaltou
a importância do debate conjunto entre o Conselho Federal e os Regionais. “Quanto tratamos
de temas importantes de forma conjunta agregamos valor às decisões. O debate é uma prática
saudável, por meio da qual obtemos grandes
resultados”, destacou.
No evento, os Conselhos Regionais puderam
conhecer com detalhes o Planejamento Estra-
tégico do CFMV e os desafios da atual gestão.
Também foram apresentados painéis relatando
a importância do Controle Interno nos Conselhos
Profissionais, ministrado pelo representante da
Secretaria Federal de Controle Interno da CGU, Marcus Vinicius de Azevedo Braga e sobre os
aspectos práticos para a Prestação de Contas do
CFMV e dos CRMVs perante o TCU, apresentado
pelo chefe do setor de Prestação de Contas do
Tribunal, Geovani Ferreira de Oliveira.
Médicos Veterinários e Zootecnistas
Cadastrem-se em www.cfmv.gov.br e receba semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
27
Destaques
CFMV marca presença em audiências
públicas em Brasília no primeiro semestre
Representantes do CFMV participaram de duas audiências públicas,
em abril, nas Casas do Congresso Nacional em Brasília. A Comissão de Meio
Ambiente, Defesa do Consumidor e
Fiscalização e Controle (CMA) do Senado
Federal discutiu as condições de funcionamento dos abatedouros no País e no
evento o presidente do CFMV, Benedito
Fortes de Arruda, ressaltou as ações
empenhadas pelos Conselhos Regionais
de Medicina Veterinária. Falou sobre
as dificuldades que o Sistema CFMV/
CRMVs enfrenta no cumprimento da
fiscalização dos estabelecimentos. “Não adianta
haver fiscalização e punição a estabelecimentos
irregulares e aos profissionais que não exercem o
seu papel com ética, se por vias judiciais é possível reverter as determinações dos conselhos”.
A Câmara dos Deputados também realizou
debate sobre a crueldade com que são tratados
os animais nos abatedouros. Na ocasião, o membro da Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar
Animal do CFMV, Marcelo Weistein Teixeira, afirmou que somente uma ação conjunta dos Conselhos Federal e Regionais, Ministério Público,
autoridades administrativas e sociedade organizada poderá mudar o panorama nefasto que domina em grande parte dos abatedouros no País.
Sistema CFMV/CRMVs completará 45 anos em setembro
O Sistema CFMV/CRMVs completa 45 anos e promoverá diversas ações, no segundo semestre,
em alusão à data. O destaque
será o lançamento oficial da Campanha Nacional de Combate ao
Tráfico de Animais Selvagens, que
contará com a participação e o
apoio de parceiros como Ministério Público Federal, Rede Nacional
de Combate ao Tráfico de Animais
Silvestres (Renctas), Organizações
Globo e Polícia Rodoviária Federal.
Ainda como parte da comemoração da data, haverá a
Solenidade Oficial da data, no
dia 21 de outubro, na Câmara
dos Deputados, que homenageará os Médicos Veterinários
e Zootecnistas e enfatizará a
importância e as principais conquistas do Sistema; a Exposição
Itinerante com fotos históricas
do CFMV; e o Dia da Conscientização em Defesa da Fauna,
que consistirá ações em praças
e parques do Brasil com estandes e distribuições de cartilhas
sobre o combate ao tráfico de
animais selvagens.
Receba via Twitter e Facebook as notícias e informações de importância
da Medicina Veterinária e da Zootecnia.
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28
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
IV SEMINÁRIO BRASILEIRO DE RESIDÊNCIA EM MEDICINA
VETERINÁRIA DEBATE REGULAMENTAÇÃO DO MEC
Passado um ano do reconhecimento dos Programas de Residência em Medicina Veterinária
pelo Ministério da Educação (MEC), o CFMV preocupou-se em reunir e esclarecer as dúvidas dos
coordenadores de curso sobre o cadastramento,
reconhecimento e o perfil dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde, nos quais
também está inserida a Medicina Veterinária. Em
parceria com o MEC, os debates foram realizados
durante o IV Seminário Brasileiro de Residência
em Medicina Veterinária, nos dias 20 e 21 de
maio, em São Paulo, SP.
Atualmente, estão cadastrados no MEC 203
programas de residência multiprofissional da
saúde e 328 em área profissional da saúde. Outros 237 estão em fase de elaboração. Do total
de cadastrados, 171 programas são de Medicina
Veterinária, com maior concentração em Minas
Gerais, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.
Ao final, os representantes dos Programas de
Residência em Medicina Veterinária presentes
fizeram uma moção pública para pleitear ao
Ministro da Educação a publicação da portaria
que nomeia a Comissão Nacional de Residência
Multiprofissional em Saúde. Na ocasião, o Médico
Veterinário Eduardo Harry Birgel (foto) foi homenageado pelo CFMV, em reconhecimento aos
importantes serviços prestados.
Revista CFMV recebe homenagem do Senado Federal
A edição número 58, que
trouxe um especial sobre a atuação das mulheres na Medicina
Veterinária e Zootecnia recebeu
um “Voto de Congratulações e
Aplausos” do Senado Federal. O
requerimento foi feito pela Senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/
AM), no final de junho de 2013,
com voto lido em plenário.
A Senadora é procuradora
da mulher do Senado e por sua
atuação, entendeu que o especial editado pela Revista CFMV foi um reconhecimento ao papel da mulher e evidenciou
sua importância dentro das duas profissões.
Ela parabenizou a publicação e a iniciativa do
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Conselho Federal de Medicina
Veterinária.
A primeira edição do ano (no.
58) trouxe um especial com sete
artigos e uma entrevista sobre
a atuação da mulher nas profissões representadas pelo CFMV.
Foram apresentados dados estatísticos e detalhamento sobre a
mulher na Medicina Veterinária
e Zootecnia. Também foi abordada sua atuação nas áreas de
bem-estar animal, animais selvagens, relações políticas e a trajetória nos cursos
de Medicina Veterinária e Programas de Residência em Medicina Veterinária. A edição completa
pode ser vista em www.cfmv.gov.br
29
Cfmv na mídia
Desafios da Medicina
Veterinária e Zootecnia
Proibição à caudectomia
Em entrevista à Revista Andipet
(6ª edição), o presidente do CFMV,
Benedito Fortes de Arruda, ressaltou
que os Médicos Veterinários e Zootecnistas, independentemente da área
de atuação, têm como principal desafio evidenciar e entender a saúde do
ser humano, dos animais e do meio
ambiente como saúde única.
Diálogo com
criadores de pets
CFMV contra o tráfico
O CFMV con­
Carteira de vacinação é fundamental
ti­n ua sua parce O
ria com a Revista
Cães e Cia para
divulgação de artigos orientadores
sobre os cuidados
com os animais de
companhia. Dentre os últimos textos divulgados, foi
abordada a importância da carteira
de vacinação e também orientações
sobre o correto descarte de carcaças
de animais.
Amigo vet
Mais do que um cuidado, guardar cuidadosamente a carteira de vacinação e mantê-la sempre
atualizada é um ato de amor aos animais de estimação
C Kelly Photo / Big Stock Photo
Por BENEDITO FORTES DE ARRUDA
brasileiro está cada dia mais predisposto
a ter um animal de estimação. As crianças
sempre foram fascinadas por eles e os adultos, cada dia mais, se dão conta do que já é
comprovado pela ciência: dedicar tempo aos
pets funciona como terapia, aliviando o estresse e as tensões da rotina diária. Quem tem
gato ou cachorro conhece bem a sensação de
chegar em casa, depois de um dia cansativo,
e ser recebido com festa. Esses e outros fatores, como o aumento da renda da população,
contribuíram para o Brasil alcançar uma marca considerável: temos, atualmente, a quarta
maior população de pets do mundo e a segunda em cães e gatos. Contando apenas as duas
espécies, o País já soma aproximadamente 59
milhões de animais.
É importante, entretanto, lembrar que,
além de cuidados básicos com alimentação,
higiene e educação, não deve ser esquecido o
reforço da defesa imunológica do animal contra doenças graves, muitas vezes fatais, obtido
por meio de programa consistente de vacinação (veja no final da matéria).
Controlar atentamente as datas das aplicações é fundamental para que o animal não
fique com as vacinas vencidas. Viabilizar esse
trabalho é uma das funções importantes da
carteira de vacinação. Preenchida obrigatoriamente por médico-veterinário, a carteira contém dados confiáveis, úteis para dar suporte
para que as aplicações ocorram no momento
certo e com as dosagens corretas, de modo a
garantir o bem-estar do pet e, indiretamente,
de seus donos e da sociedade.
Por isso, a recomendação é manter a carteira de vacinação em local seguro e de fácil
Reforço regular do sistema imunológico: ato de amor facilitado pela carteira de vacinação
localização. Perdê-la significa perder também
o histórico e a cronologia de todo trabalho de
imunização já feito. A decorrência é que, sem
essas informações, o médico-veterinário não
tem outra saída a não ser trabalhar no campo
das hipóteses, o que pode significar risco de
o animal ficar imunologicamente vulnerável e
exposto à própria sorte.
É verdade que as informações registradas
na carteira de vacinação também devem ser
mantidas no prontuário do animal em poder
do médico-veterinário, podendo ser disponibilizadas quando solicitado. Mas não se deve
esquecer que imprevistos acontecem, como a
eventual perda de informações arquivadas eletronicamente, o encerramento das atividades
da clínica ou, ainda, a dificuldade de resgatar
Novas regras
O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) publicou, recentemente, a Resolução
1.023, que altera e revoga incisos dos artigos 2º, 3º e 4º da Resolução 844/2006, e traz alguns
acréscimos importantes aplicáveis em documentos cuja expedição só pode ser feita por médicosveterinários:
Carteira de vacinação – em caso de emissão de nova carteira, deve ficar registrado que se trata
de segunda via ou subsequente (artigo 4º, §1º, inciso X). Atualizações feitas por médico-veterinário
autônomo deverão conter o nome completo dele, bom como seu endereço e telefone (inciso XI).
Certidões de óbito – devem relatar o porte do animal, assim como apresentar a resenha (desenho que mostra particularidades da pelagem) no caso de eqüídeos, o que antes não era exigido. O
local da morte também deverá ser detalhado, com informações da cidade, unidade da federação,
identificação do local – clínica, residência ou fazenda, etc. A identificação do proprietário, nome, CPF
ou CNPJ e endereço completo são exigências explicitadas agora no inciso I (antes estavam no VII).
Atestado sanitário – aqui também a pelagem dos equídeos deve ser informada em forma de
resenha.
o histórico quando o animal foi imunizado em
diferentes estabelecimentos.
Outra utilidade da caderneta de vacinação
é o uso por ocasião da emissão de atestado
de saúde, documento exigido sempre que um
animal vai para o exterior, também expedido
exclusivamente por médico-veterinário.
Programa de vacinação
Cães
• Filhotes: aplicação de vacina V10, também conhecida como polivalente, múltipla ou combinada. Protege contra Cinomose, Adenovirose tipo 1
(hepatite), Adenovirose tipo 2 (doenças respiratórias), Parainfluenza Canina, Parvovirose Canina,
Leptospirose (Leptospira icterohaemorrhagiae, L.
canicola, L. grippotyphosa e L. pomona) e Coronavirose. Existe, alternativamente, a vacina V8,
que se diferencia da V10 por não proteger de
duas cepas de leptospira (L. grippotyphosa e L.
pomona).
• Adultos: repetição anual da V10
Gatos
• Filhotes: aplicação de vacina quádrupla, que
protege contra rinotraqueíte, panleucopenia, calicivirose e clamidiose.
• Adultos: repetição da vacina quádrupla anualmente
Cães e gatos
• Filhotes e adultos: aplicação anual de vacina antirrábica. Atua contra o vírus da raiva, que pode
ser fatal para animais e humanos.
Benedito Fortes de Arruda é médico-veterinário e presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
CÃes & Cia • 407
49
Especialidades crescem
na Medicina Veterinária
A revista Veja São Paulo, em
maio, publicou reportagem sobre a
especialização na Medicina Veterinária. Em entrevista, o secretário-geral
do CFMV, Felipe Wouk, alertou que
apesar da expansão da profissão, o
Conselho reconhece, na época, apenas cinco especialidades. “O CFMV
tem regras rígidas que precisam ser
seguidas”, esclareceu.
30
A publicação
da Resolução
CFMV nº 1027 que
proibe o corte de
cauda foi notícia
em diversos veículos de comunicação: O Globo,
Estado de S. Paulo, TV Globo, SBT,
T V Gazeta, Revista Veja, EPT V
(G l o b o I n t e r i o r d e S P ) ,
Agora São Paulo, Correio
Braziliense, Diário do
Nordeste, Diário de Pernambuco, RBS Notícias,
Diário de Santa Catarina, Jornal do ComércioSC, Jornal do Cariri, CE,
Revist a Clínic a
Veterinária e Revista Cães e Cia.
A manifestação contrária do
CFMV à resolução
no. 457 do Conama foi apoiada
pela imprensa. Os
jornais O Estado
de S.Paulo e O
Globo repercutiram a opinião do
Conselho. A nota
também foi destaque nos blogs Ambiente-se e Blog do
Dener Giovanini, ambos do Estadao.
com; e nos sites Eco Reserva, Terra
Ciência, entre outros .
Discussão sobre a
Leishmaniose
Em reportagem sobre a Leishmaniose, na Revista Cães e Gatos, edição
165, de 2013, o CFMV defendeu seu
posicionamento sobre a enfermidade.
“Deixamos claro que, até que a cura da
doença seja cientificamente comprovada, o posicionamento institucional
do Conselho Federal e também dos
Regionais é pelo não
tratamento do mal nos
animais, garantindo, assim, a segurança e a proteção à saúde pública”,
observa o presidente do
CFMV, Benedito Fortes
de Arruda. O posicionamento também foi
debatido pelo jornal O
Povo, de Fortaleza, CE.
Zootecnia em pauta
CFMV defende exame
para registro
O Presidente do CFMV, Benedito
Fortes de Arruda, participou de audiência pública na Câmara dos Deputados sobre a obrigatoriedade do exame
nacional de cursos para obtenção do
registro profissional. Ele defendeu a
importância da prova para todo os
egressos da área de saúde. A audiência
foi transmitida pela TV Câmara.
Como parte das ações para a comemoração do Dia do Zootecnista,
o CFMV realizou ampla divulgação
na mídia sobre as atribuições da
profissão e seus desafios. Dentre as
publicações, destaca-se a divulgação
na Revista Globo Rural online, além
de outros sites de mídia especializada
em agronegócio.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
SuplementoCientífico
Abordagem farmacológica da dor neuropática pós-amputação de membros em cães.
Revisão de Literatura
Roberta Cristina Campos Figueiredo / Karina Velloso Braga Yazbek
Neospora Caninum: aspectos clínicos e epidemiológicos. Revisão de literatura
Denise Claudia Tavares / Rodrigo Prevedello Franco / Breno Cayeiro Cruz / Luiz Daniel de Barros
Flávio Lopes da Silva / Chayanne Silva Ferreira / Katia Denise Saraiva Bresciani
Conhecimento e atuação em relação à esporotricose.
Um estudo de caso com Médicos Veterinários do Rio de Janeiro
Cristiano Teixeira Schultz / Rosane Gomes Alves / Alexandre Pina Costa
Prevalência de cisticercose bovina em abatedouro de Rondônia
Darlene Ramos / Aliny Pontes Almeira
REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XIX - Edição N° 59 - 2013
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA
SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140
Brasília-DF – CEP: 71205-060
Fone: (61) 2106-0400
www.cfmv.gov.br
DIRETORIA EXECUTIVA
Ricardo Junqueira Del Carlo
CRMV-MG nº 1759
Comitê Científico
da Revista CFMV
Presidente
Conselho Editorial
Cláudio Lisias
Mafra de Siqueira
Editor da Revista CFMV
Presidente
Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk
Secretário-geral
Presidente
Benedito Fortes de Arruda
Vice-Presidente
Eduardo Luiz Silva Costa
Secretário-Geral
Antônio Felipe Paulino
de Figueiredo Wouk
Tesoureiro
Amilson Pereira Said
Márcia Leite
Líder da Área de Comunicação
Ricardo Junqueira Del Carlo
Editor
CRMV-MG nº 5170
Roberto Baracat de Araújo
CRMV-MG nº1755
Gilson Helio Toniollo
CRMV-SP nº 2113
João Luis Rossi Júnior
CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS
Flávia Tonin
Subeditora
Luiz Fernando Teixeira Albino
CRMV-MG nº 0018/Z
Joaquim Lair
Coordenador de Comissões
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
31
suplemento científico
Abordagem farmacológica
da dor neuropática pósamputação de membros em
cães. Revisão de literatura
Pharmacological therapy in neuropathic
after limb’s amputation in dogs
RESUMO
A amputação de membros pode determinar o aparecimento de dor crônica que é descrita como fantasma e do coto
de amputação, e é classificada como neuropática. Não existe fármaco específico para seu tratamento, pois a transmissão da dor envolve múltiplos mecanismos e neurotransmissores, tornando obrigatória a analgesia multimodal, com
fármacos que possuem diferentes mecanismos de ação.
Palavras-chave: dor neuropática, analgesia, dor fantasma
ABSTRACT
The limb’s amputation can induces chronic pain like phantom pain and stump pain, defined as a neuropathic pain. There
is no specific drug apable of treating neuropathic pain, because pain transmission involves multiple mechanisms and
neurotransmitters, forcing perform a multimodal analgesia using drugs that have different action mechanisms.
Keywords: neuropathic pain, analgesy, phantom pain
INTRODUÇÃO
Para o Colégio Americano de Anestesiologia Veterinária, em pacientes veterinários, a dor é condição
clínica importante que deve, obrigatoriamente, ser
prevenida e tratada para que o animal mantenha
suas atividades diárias como sono, lazer, alimentação
e higiene adequadas e interação com o proprietário.
Apesar dos recentes avanços obtidos em relação à
compreensão e tratamento da dor em animais, pacientes ainda sofrem devido à ausência de tratamento de síndromes dolorosas crônicas, ocasionando
efeitos sistêmicos deletérios e redução da qualidade
e da expectativa de vida (FIGUEIREDO e FLÔR, 2011).
Para a correta abordagem da dor crônica no
paciente animal, o local afetado e ao seu redor devem ser palpados; o proprietário deve ser questio-
32
nado sobre a dor manifestada e como interfere na
qualidade de vida. A escolha do tratamento deve
basear-se no estágio da dor, pois toda dor que vai
além do grau leve deve ser tratada com mais de
uma classe de analgésicos (Figura 1). A formulação
do tratamento deve ser de forma lógica e coordenada, esclarecendo ao proprietário os possíveis
efeitos colaterais (LASCELLES, 2005).
A utilização de adjuvantes, como anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos, é baseada em tratamentos, efetuados no homem (SAKAMOTO, 1995).
Opióides, antagonistas de receptores NMDA, anti
-inflamatórios e anestésicos locais também podem
ser utilizados no protocolo antiálgico. Tratamentos
multdisciplinares como a acupuntura e a fisioterapia
também podem ser de importância.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Anticonvulsivantes
Dor intratável
Terapia invasiva
Os anticonvulsivantes mais utiliOpioides potentes
zados em humanos portadores de dor
Dor moderada e intensa
não opioides adjuvantes
neuropática são a gabapentina e a preOpioides fracos
Dor leve e moderada
gabalina, cujos mecanismos capazes de
não opioides adjuvantes
aliviar a dor ainda não estão totalmente
Analgésicos não
Dor leve
esclarecidos, porém há indícios de que
opioides adjuvantes
interagem com receptores NMDA, anFigura 1. Abordagem da dor. OMS, 2008.
tagonizando-os e com canais iônicos,
na dor neuropática ocorrem anormalidades senestabilizando a membrana neuronal e diminuindo
soriais em relação à dor inflamatória e a pobre
a transmissão sináptica nos gânglios da raiz dorsal
resposta aos analgésicos, a utilização de fármacos
da medula espinhal (LEBRE et al., 1995; LASCELLES,
adjuvantes como os antidepressivos, além de po2005). Moulin et al. (2007) informaram que, juntatencializar analgésicos, melhoram a qualidade do
mente com os antidepressivos tricíclicos, os antisono, muitas vezes prejudicado em portadores de
convulsivantes devem constituir a primeira classe
dores crônicas. Esses efeitos são atingidos mesmo
de analgésicos adjuvantes a serem prescritos nos
se utilizando doses inferiores àquelas da ação anticasos de dor neuropática. Bone et al. (2002) enfadepressiva (CARDENAS et al., 2002).
tizam a eficácia da gabapentina nos casos de dores
Os ADT inibem a recaptação de serotonina no
intensas decorrentes de síndromes neuropáticas.
corno dorsal de medula espinhal, onde se dá a priA gabapentina foi introduzida na Medicina Vetemeira sinapse do neurônio aferente. Além disso,
rinária como anticonvulsivante. Porém, estuda-se a
alteram a sensibilidade do receptor adrenérgico pré
possibilidade de possuir propriedades analgésicas
e pós-sináptico e possuem ações anticolinérgicas
em menores doses. No cão é metabolizada via este(LEBRE, 1995). Seu emprego significa, portanto,
rase hepática (LASCELLES, 2005). Em cobaias há rediminuição da sobrecarga de informação que a via
dução considerável dos sintomas de dor neuropática
aferente conduzirá ao cérebro para posterior decocomo hiperalgesia, que consiste na sensação dolorodificação. Seus efeitos colaterais estão relacionados
sa exacerbada frente a um estímulo pouco doloroso,
à ação colinérgica como sonolência (MACIEL, 2004).
e alodinia, caracterizada em sensação álgica diante
A amitriptilina é o fármaco dessa classe mais
de estímulo inócuo (MAO, 2000).
utilizado como adjuvante no tratamento de dor,
Nicolajsen et al. (2006), trabalhando com painibindo recaptação de serotonina e norepinefrina,
cientes humanos, concluíram que a gabapentina
contribuindo, assim, para o aumento da viabilidade
administrada diariamente, no primeiro mês após a
de neurotransmissores inibitórios (CARDENAS et al.,
amputação de membros, não reduziu a incidência de
2002). Doses terapêuticas podem desencadear grador pós-amputação.
ves alterações cardíacas como bradicardia sinusal,
Em ratos, a gabapentina, administrada pelas vias
podendo evoluir para assistolia, tornando necessária
oral ou intratecal, inibiu a transmissão da dor inflamaa realização de monitoração de pressão arterial,
tória e reduziu a hiperalgesia causada por lesão nervosa
eletrocardiograma ou até a realização de monitoriperiférica e queimadura (GAYNOR et al., 2009).
zação cardíaca dinâmica (Holter) antes e durante o
Não há relatos do uso de anticonvulsivantes no
tratamento. A ocorrência de potencialização de seus
tratamento de dor pós-amputação em cães, porém,
efeitos, quando utilizada concomitantemente à teraa dose da gabapentina sugerida por Tranquilli et al.
pia com anticonvulsivantes, fato comum em casos de
(2005) é de 5-10 mg/kg, a ser administrada pela via
dor crônica neuropática, pode incrementar a metaoral e repetida a cada 12 ou 24 horas. Seus efeitos adbolização hepática dos ADT, resultando em aumento
versos incluem sonolência, fadiga e ganho de peso
sérico desses e sobredose relativa, aumentando seu
(GAYNOR et al., 2009).
potencial cardiotóxico (LEBRE et al., 1995).
Antidepressivos tricíclicos
Estudo realizado no Ambulatório de Dor e
Os antidepressivos tricíclicos (ADT ) são fárCuidados Paliativos da Faculdade de Medicina
macos derivados do iminobenzil tricíclico, muito
Veterinária e Zootecnia da USP, com 27 cães portautilizados no tratamento da depressão e, secundores de dor neuropática, apresentando alodinia,
dariamente, no controle de síndromes dolorosas
concluiu que o fármaco é eficaz no tratamento docrônicas em humanos (LEBRE et al., 1995). Como
loroso, ocorrendo remissão do sintoma clínico da
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
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suplemento científico
Arquivo CFMV
neuropatia em 70,37% dos casos logo no primeiro
retorno (FLÔR et al., 2009).
Wilder-Smith et al. (2005) trabalharam com 94
pacientes humanos separados em grupos que receberam cloridrato de tramadol, placebo e amitriptilina,
por um mês. Houve remissão da dor nos pacientes
tratados com amitriptilina e tramadol, com baixos
índices de efeitos colaterais (mais comuns nos tratados com tramadol), demonstrando potentes efeitos
antinociceptivos nesses casos.
Sob orientação da Sociedade Canadense de Dor,
no tratamento de dor crônica neuropática ficou estabelecido que os ADT possuem relevância, ficando
aprovada sua eficácia e de outros fármacos como
anticonvulsivantes, lidocaína (administração tópica),
tramadol e metadona, no homem (MOULIN, et al.,
2007). A dose da amitriptilina preconizada por Tranquilli et al. (2005) é de 1 mg/kg, pela via oral, repetindo a administração a cada 12 ou 24 horas.
Opioides
Esses fármacos ligam-se reversivelmente a
receptores específicos no SNC e medula espinhal,
alterando a nocicepção e percepção da dor. Centralmente, no mesencéfalo e medula, os opióides
ativam as vias nociceptivas descendentes, via liberação de serotonina e, talvez de norepinefrina. No
sistema límbico, alteram os componentes emocionais da dor. Seus efeitos dependem da afinidade
que possuem pelo receptor específico, podendo
ser mu, kappa, delta e sigma (FANTONI & MASTROCINQUE, 2002). Os agonistas totais µ são os analgésicos mais potentes dessa classe, seguidos pelos
agonistas-antagonistas e agonistas parciais mu.
Os antagonistas opióides ligam-se nos receptores,
porém, sem exercer efeito analgésico. São utilizados para reverter efeitos adversos dos agonistas
totais (MATHEWS, 2000). Possui diferentes vias de
administração: oral, parenteral ou espinhal, constituindo, essa última via, uma opção bastante utilizada em humanos para o controle de dor crônica
(ROCHA et al., 2002).
A metadona é um opioide sintético, agonista
de receptores mu, delta e kappa, e antagonista de
receptores N-Metil D-Aspartato (NMDA), além de,
possivelmente bloquear a recaptação de serotonina
e noradrenalina. Disponível em administração oral,
em humanos, estima-se que sua potência analgésica
seja até 10 vezes superior à da morfina (RIBEIRO et al.,
2002). Seu uso no tratamento da dor decorrente de
processos neoplásicos cresce devido à sua eficácia,
ausência de formação de metabólitos ativos e baixo
34
Monitoramento da dor
custo. Devido ao fato de ligar-se a receptores NMDA,
supõe-se que possua mecanismos de ações diferentes em portadores de dor neuropática e não neuropática (GAGNON et al., 2003).
Bergmans et al. (2002) trataram quatro pacientes
humanos portadores de dor fantasma intratável,
refratária a múltiplas modalidades de tratamentos,
com a metadona pela via oral e concluíram que o fármaco foi eficaz no auxílio da remissão dolorosa.
A dose indicada para cães é de 0,05-2 mg/kg, pela
via oral, intramuscular ou subcutânea (TRANQUILLI
et al., 2005).
O cloridrato de tramadol é um opiáceo que possui
características especiais, pois sua molécula inibe
a recaptação de serotonina e dopamina, além de
exercer atividade opiácea sobre receptores mu, kappa e delta, tendo pouca tendência em desenvolver
tolerância, mesmo durante uso prolongado, sendo
suas ações desejáveis em portadores de dor crônica,
como a neuropática (AMARAL FILHO & MARCZYK,
2003). Tranquilli et al. (2005) preconizam 2-10 mg/kg,
pela via oral, a cada oito horas.
Outra opção para o tratamento da dor, por
longos períodos, é o fentanil em forma de adesivo transdérmico. Opióide sintético, de ação
semelhante à da morfina, possui a vantagem de
proporcionar liberação constante e regular do fármaco ao longo de 72 horas com menores poderes
sedativos, nauseantes e obstipantes em relação à
morfina. Pode ser utilizado em hepato e nefropatas (MACIEL, 2004). Possui período de latência de
seis a 24 horas e, Pascoe (2000) detectou, após 72
horas, concentrações plasmáticas ideais para maRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
nutenção da analgesia em cães. Deve ser utilizado
na dose de 0,005 mg/kg/h, trocando o emplastro a
cada três dias (TRANQUILLI et al., 2005).
Estudos em humanos demonstram que o fentanil pode ter papel de destaque no tratamento de
síndromes dolorosas crônicas, sendo muito bem
tolerado pela vias espinhais (peridural e raquidiana),
administrado continuamente com o auxílio de cateter peridural ou raquidiano, inserido na proximidade
da substância gelatinosa, na raiz nervosa correspondente à região afetada pela dor (ROCHA et al., 2002).
A morfina é um opióide indicado no tratamento de dor moderada a grave. Possui muitos efeitos
colaterais como sedação, náusea e obstipação
(MACIEL, 2004). Uma alternativa ao seu uso, com
mínimos efeitos colaterais, é a utilização pelas
vias espinhais. Devido à sua hidrossolubilidade,
permanece por até 24 horas no espaço peridural e
migra cranialmente para níveis mais altos no canal
medular (ROCHA et al., 2002).
Em estudo realizado por Kukanich (2005), com
seis cães tratados com morfina pela via oral, foi comprovado que o M-6-G, metabólito responsável pelo
efeito analgésico do fármaco não foi detectado no
plasma de nenhum animal, concluindo que a morfina administrada por essa via não é eficaz.
Huse et al. (2001) indicaram o uso de opióides,
como a morfina, no tratamento da dor fantasma em
humanos, pois o fármaco auxilia na reorganização do
córtex cerebral. Em cães, a dose varia entre 0,2-2 mg/
kg, pelas vias subcutânea e intramuscular. Se administrada pela via endovenosa, nunca ultrapassar 0,4
mg/kg (TRANQUILLI et al., 2005).
Antagonistas de
receptores NMDA
O receptor NMDA é importante para indução e
manutenção da sensibilização central (LASCELLES,
2005). Seus antagonistas reduzem a excitabilidade
dos neurônios sensibilizados no corno dorsal da
medula espinhal e bloqueiam a resposta neuronal
facilitada aos estímulos repetitivos das fibras C e, podem ser efetivos no tratamento da dor neuropática
(FIGUEIREDO e FLÔR, 2011).
Os antagonistas NMDA estão relacionados com
a prevenção da tolerância (por mecanismos desconhecidos) e aumento do efeito da analgesia produzida pelos opióides (ISHIZUKA et al., 2007). A cetamina
bloqueia a sensibilização central e, em baixas doses,
não provoca alterações hemodinâmicas e respiratórias, sendo segura no tratamento da dor neuropática.
Há disponibilidade para administração pela via oral,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
bastante utilizada em humanos, apresentando bons
resultados (ALVES, 2004). Sua administração no
perío­do perioperatório pode prevenir a potencialização da dor (fenômeno wind-up) e reduzir a dor pós
-operatória (ROCHA et al., 2002; WAGNER et al., 2002).
Wagner et al. (2002) infundiram cetamina em 13
cães, pacientes de amputação de dígitos, iniciando
a administração do fármaco após o procedimento
cirúrgico e finalizando-a após 18 horas e observaram
melhor analgesia em relação ao grupo controle.
Wilson et al. (2008) testaram a cetamina de forma
preemptiva, administrada pela via epidural em humanos que se submeteriam à amputação distal de
membros. A analgesia peri e pós-operatória foi significantemente superior em relação ao controle, com
menores incidências de desenvolvimento de dor no
coto de amputação e dor fantasma.
A cetamina tem sido utilizada em humanos por
via subaracnóidea, potencializando os efeitos de
opióides em pacientes com câncer, mostrando-se
alternativa terapêutica para o manejo de dor oncológica e neuropática crônica não oncológica (ROCHA et
al., 2002). Tranquilli et al. (2005) indicam seu uso pela
via peridural, associada a um anestésico local e um
opioide para cães portadores de dor crônica, na dose
de 0,5 mg/kg ou 0,5 mg/kg/h, pela via endovenosa.
O dextrometorfano também é um antagonista
de receptores NMDA utilizado em humanos, porém,
estudos não comprovaram eficácia no tratamento
de dor crônica, e 37% das pessoas tratadas relataram
piora da dor (ALVES, 2004).
Lascelles (2005) tem utilizado amantidina
como adjuvante no alívio de dor crônica e associado a AINES, melhorando a analgesia e diminuindo
a incidência de efeitos colaterais e, contraindica
o uso em cardiopatias congestivas e em terapia
com ADT. Em animais, reduz alodinia e a tolerância
ao uso de opioides. Em cães portadores de osteossarcoma e osteoartrite, potencializou o efeito
de AINES e melhorou a qualidade de vida dos pacientes (GAYNOR et al., 2009). A dose para cães é de
1-4 mg/kg, pela via oral, repetida a cada 24 horas
(TRANQUILLI et al., 2005)
Anestésicos locais
Interrompem a condução do estímulo nervoso insensibilizando a zona inervada e aliviando
a dor temporariamente, bloqueando a geração
e a condução do impulso nervoso. Devem ser
empregados como parte do protocolo anestésico
nas amputações de membros, evitando transmissão do impulso nociceptivo e, no pós-operatório
35
suplemento científico
Arquivo do CFMV
Administração epidural de fármacos para controle da dor
tardio, caso o paciente necessite (OTERO, 2005). A
administração perineural de soluções anestésicas
locais, momentos antes da transecção cirúrgica
dos nervos principais é útil para diminuir a incidência de dor fantasma. Cães que terão membros
pélvicos amputados poderão ser beneficiados
pela administração de lidocaína e bupivacaína
pela via peridural, evitando o desenvolvimento de
lesões pós-amputação (TRANQUILLI et al., 2005).
Quando administrada pela via endovenosa, a
lidocaína apresenta ação multifatorial, resultante da
interação com canais de sódio e diferentes receptores e vias de transmissão nociceptiva, como inibição
de glicina, redução da produção de aminoácidos excitatórios e produção de tromboxano A2, liberação
de opioides endógenos, redução de neurocininas e
liberação de adenosina (LAURETTI, 2005).
A lidocaína está disponível para uso transdérmico em humanos, auxiliando no tratamento de neuropatias periféricas, sem uso aprovado para animais. As
doses sugeridas para o uso de anestésicos locais em
cães são de até 6 mg/kg para a lidocaína com ou sem
adrenalina, repetida a cada duas horas, e até 2 mg/kg
para a bupivacaína com ou sem adrenalina, repetida
a cada seis horas (TRANQUILLI et al., 2005).
Anti-inflamatórios
não esteroidais (AINES)
e esteroidais (AIES)
Os AINES tradicionalmente são usados no
tratamento da dor aguda traumática e pós-cirúrgica, contribuindo para evitar a sensibilização
de receptores periféricos e hipersensibilização
central (OTERO, 2005). Em casos crônicos, são
36
indicados somente em se houver dor associada
à inflamação e edema, não constituindo a principal classe farmacológica para o tratamento
da dor neuropática ( TRANQUILLI et al., 2005).
REIS & ROCHA (2006) relatam que sua eficácia no
tratamento da hipersensibilidade após lesão de
nervos periféricos é controversa, sendo modestas
as respostas apresentadas.
A dipirona é bastante segura para uso prolongado, provocando poucos efeitos deletérios renais
ou gastrintestinais (FANTONI & MASTROCINQUE,
2002). Seu mecanismo de ação está relacionado ao
bloqueio direto da hiperalgesia inflamatória por
prostaglandina E (PGE), supostamente promovendo
dessensibilização de nociceptores periféricos por
ativação de óxido nítrico, e não ao bloqueio de COX-1
e 2, como os outros AINES (REIS & ROCHA, 2006).
Marquez & Ferreira (1987) realizaram estudos
administrando dipirona em cobaias com dor crônica, não obtendo efeitos analgésicos satisfatórios.
Descreveram um efeito analgésico potente da dipirona sobre dor intratável causada por desaferentação e constrição do nervo ciático. Administraram
o fármaco em forma de infusão regional, obtendo
analgesia relevante e de longa duração, permanecendo por até dois meses, sugerindo que seu efeito
analgésico periférico de longa duração sobre a
hiperalgesia provavelmente seja proveniente da
indução da dessensibilização dos terminais nociceptivos no neurônio sensorial primário, corroborando a hipótese de que a síntese de óxido nítrico,
perifericamente, pode estar relacionada ao efeito
analgésico local da dipirona. A dose sugerida da dipirona para cães é de 25 mg/kg, pela via oral, a cada
oito horas (TRANQUILLI et al., 2005).
A utilização dos corticosterooides em pacientes
com dor neuropática deve ser considerada em casos
em que há processo inflamatório instalado, com a
finalidade de diminuir edemas, inflamações e lesões
vasculares (JACOMET, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tratamento de síndromes dolorosas crônicas
em geral, não apenas as ocasionadas pela amputação, devem priorizar um protocolo multimodal respeitando a complexidade das síndromes, atentando
para a necessidade de alteração do fármaco ou de
sua dose. A abordagem farmacológica da dor crônica
neuropática e não neuropática é, às vezes, frustrante,
pois a remissão dolorosa pode ser irrelevante ou,
quando ocorre de forma satisfatória, é comum que
haja recidiva após alta.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
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Dados das Autoras
Roberta Cristina Campos Figueiredo
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 19605, mestranda
[email protected]
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Karina Velloso Braga Yazbek
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 12418
37
suplemento científico
Neospora caninum: aspectos
clínicos e epidemiológicos.
Revisão de literatura
Neospora Caninum: Epidemiology
and clinical manifestations
RESUMO
O Neospora caninum é um protozoário descoberto na década de 1980 e considerado a principal causa de abortamento em bovinos em diversos países. Pesquisas recentes utilizando diversas espécies animais buscam responder
lacunas sobre seu ciclo de vida e possível potencial zoonótico. Essa revisão enfatiza os principais aspectos biológicos
do parasita, descrevendo seu ciclo, modo de contágio, manifestações clínicas, métodos diagnósticos e tratamentos
utilizados, contribuindo para aprimoramento das pesquisas científicas e seu controle biológico.
Palavras-chave: Neosporose, ciclo biológico, diagnóstico, zoonose
ABSTRACT
Neospora caninum is a parasite discovered in the 80’s and is considered as a major cause of abortion in cattle in many
coutries. Recent research using different animal species seek to answer several on its life cycle and its possible zoonotic potential. This review emphasizes the biological aspects of the parasite, describing its cycle, mode of transmission,
clinical manifestations, diagnostic methods and treatments used today.
Keywords: Neosporosis, life cycle, diagnosis, zoonosis
Introdução
O Neospora caninum é um protozoário descrito
(BJERKAS et al. 1984) como causador de encefalomielite e miosite em cães que, até então, devido
à sua semelhança morfológica era diagnosticado
como Toxoplasma gondii (DUBEY et al., 1988). A neosporose é uma doença emergente e considerada
a principal causa de abortamentos em bovinos, em
diversos países (DUBEY et al., 2007). Apesar de ser
doença primária de canídeos e bovinos, os animais
selvagens e domésticos podem ser expostos ao N.
caninum (DUBEY e SCHARES, 2011). Até o momento, já foi descrito em infeções naturais de cavalos,
38
cabras, búfalos, ovelhas, camelos e cervos, que são
classificados como hospedeiros intermediários
(DUBEY et al., 1998; LINDSAY et al., 1999). Experimentalmente, gatos, camundongos, porcos, gerbis,
ratos, raposas e macacos foram infectados por N.
caninum (DUBEY et al., 1996). Em 1998, o cão foi classificado como o hospedeiro definitivo do parasita
(MCALLISTER et al., 1998).
As zoonoses parasitárias caninas são motivos
de preocupação devido sua associação à ocorrência de afecções que levam a imunodeficiências, em
especial a AIDS. Essa associação aliada à inserção,
cada vez mais diversificada e ampla, dos cães na
sociedade e ao desenvolvimento de tecnologias
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
diagnósticas na investigação clínica das
parasitoses, implicou o desenvolvimento de doenças referidas como emergentes (AMBROISE-THOMAS, 2000). Ao
analisar essa conjuntura, Thompson
(1999) ressaltou que compete aos Médicos Veterinários do novo milênio, o diagnóstico, a estruturação de um sistema
de investigação e o acompanhamento
epidemiológico, transferindo seu conhecimento pela educação sanitária no
controle das parasitoses.
O potencial zoonótico da doença
ainda é incerto, pois embora o parasita
não tenha sido isolado de tecidos humanos, anticorpos contra N. caninum, em Figura 1. Ciclo biológico do Neospora caninum. (Redesenhado de Dubey, 1999).
seres humanos, já foram descritos (LOBATO et al., 2006). Porém, visto que símios não huPouco ainda é conhecido sobre o desenvolmanos podem ser infectados experimentalmente
vimento e a distribuição tecidual de N. caninum
por N. caninum, o presente artigo visa elucidar
em animais infectados por vias naturais de transpontos a respeito desse protozoário, em virtude
missão. Mcguire et al. (1999) encontraram cistos
do seu possível potencial zoonótico.
teciduais nos cérebros de ratos inoculados via
parenteral, após 17 dias de inoculação. Dubey et
Ciclo biológico
al. (1996) e Barr et al. (1994), demonstraram a preEstudos recentes comprovam que outros
sença de N. caninum em cérebros de fetos bovinos,
canídeos, como o coiote (Canis latrans), o dingo
com 31 dias de inoculação de taquizoítos em suas
australiano (Canis domesticus) e o lobo cinza (Canis
mães. Há pouca informação sobre a infectividade
lupus) também podem ser hospedeiros definitivos
dos cistos teciduais e taquizoítos quando ingerido parasita (DUBEY et al., 2011; KING et al., 2010). No
dos ou inoculados por via oral (DUBEY, 1999).
entanto, oocistos viáveis só foram demonstrados
Cães alimentados com cistos teciduais podem
nas fezes de cães e lobos naturalmente infectados,
eliminar oocistos que esporulam no ambiente, em
com as fases sexuada e assexuada, podendo ser
até 24 horas em condições ótimas de temperatura e
completadas no cão (Figura 1).
umidade (DUBEY, 1999). Os oocistos têm 10-12 µm
Os taquizoítos e cistos teciduais, ambos intrade diâmetro e possuem uma parede transparente,
celulares, são os estágios encontrados nos hospecom 0,6-0,8 µm de espessura. Após esporularem,
deiros intermediários. Os taquizoítos de N. caninum
possuem dois esporocistos que medem aproximasão caracterizados por formato ovóide ou globular,
damente 8,4 x 6,1 µm, contendo quatro esporozoítos
medindo 3-7 x 1-5 µm e os cistos teciduais ovalados,
cada. Os esporozoítos são alongados, medindo 6,5 x
com até 107 µm de comprimento são encontrados
2,0 µm (DUBEY et al., 2002).
geralmente no sistema nervoso central e retina. A
Os oocistos são morfologicamente semelhanparede dos cistos medem até 4 µm de diâmetro e os
tes à Hammondia heydorni encontrada nas fezes
bradizoítos localizados dentro dele são alongados
de cães, e ao T. gondii e Hammondia hammondi
e medem 8 x 2 µm. Cistos teciduais já foram enconencontrados nas fezes de gatos. A frequência da
trados na musculatura de cães e bovinos infectados
eliminação de oocistos de N. caninum e sua du(DUBEY et al., 2002).
rabilidade no ambiente são incógnitas, porém,
Cistos musculares encontrados em psitacídeos
Mcallister et al. (1998) e Lindsay et al. (1999), mosforam imunocorados com soro anti-N. caninum, intraram que cães eliminam baixa quantidade de
dicando a possibilidade de um número muito maior
oocistos, independente de sua idade ou imunode hospedeiros intermediários (MINEO et al., 2011).
competência.
Anticorpos contra esse parasita também foram
Estágios entero-epiteliais no intestino de canídedetectados em búfalos, raposas, camelos e galinhas
os, que precedem a produção de oocistos, ainda são
(MARTINS et al., 2011).
desconhecidos, assim como a produção destes pelos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
39
canídeos que se infectaram após ingestão
de oocistos esporulados, não sendo possível
a localização e a descrição dos esquizontes
e/ou gamontes dentro do trato alimentar
(DUBEY et al., 2002). Hospedeiros susceptíveis podem se infectar ingerindo água e/ou
alimentos contaminados com oocistos provenientes de fezes de canídeos. Infecções experimentais foram realizadas pela ingestão
de leite contendo taquizoítos, confirmando
a transmissão vertical de N. caninum em
bovinos, ovinos, caprinos, camundongos,
cães, gatos, macacos e porcos. Essa forma
de transmissão, juntamente com a ingestão
pós-natal de oocistos, as únicas demonstradas em bovinos, são as mais eficientes vias Figura 2. Reação de Imunofluorescência indireta (RIFI) para o diagnóstico da neosporose.
de transmissão nesta espécie (DUBEY, 1999;
e citologia do lavado broncoalveoloar. Porém, apreDUBEY et al., 2002; DUBEY e SCHARES, 2011).
sentam características citológicas de inflamação
A forma como os cães são infectados pelo N.
mista evidenciada por meio da observação de neucaninum na natureza ainda não está totalmente
trófilos, linfócitos, eosinófilos, células plasmáticas e
elucidada. Acredita-se que a transmissão ocorra da
macrófagos no lavado bronco alveolar.
mãe para os fetos nos estágios finais da gestação,
Estudos epidemiológicos realizados em humaou pelo leite logo após o nascimento. No entanto, a
nos empregam testes indiretos, ou seja, aqueles
transmissão vertical de N. caninum, em cães, é conque verificam a presença de anticorpos anti-N. casiderada muito variável e menos significante do que
ninum. Dentre esses testes, os mais utilizados são
a transmissão horizontal. A transmissão fecal de N.
o teste de aglutinação direta, imunofluorescência
caninum, em cães, também parece ser menos signiindireta (Figura 2), western blotting, além dos
ficante do que o carnivorismo, sendo a ingestão de
testes imunoenzimáticos. A reação de imunofluotecidos infectados a mais provável fonte de infecção
rescência indireta (RIFI) é considerada a técnica de
dos carnívoros. A transmissão pelo sêmen é possível,
referência (DUBEY e SCHARES, 2011). Taquizoítos
no entanto não existem muitos estudos que comprointactos são utilizados como antígenos, com a
vem essas teorias (DUBEY e SCHARES, 2011).
identificação de anticorpos contra os antíge Diagnóstico
nos presentes na superfície celular do parasita
Atualmente, existem vários métodos laboratoriais
(BJÖRKMAN e UGGLA, 1999). Entretanto, Dubey
para o diagnóstico da neosporose, se iniciando semet al. (1998) relatam a possibilidade da ocorrência
pre pelas informações obtidas na anamnese, achados
de reação cruzada com outros coccídeos, sendo
do exame físico e sorologia positiva, em virtude dos
esse teste considerado subjetivo para a realização
exames hematológicos e bioquímicos apresentaremda leitura. O ensaio imunoabsorvente ligado à
se inespecíficos. A miosite, quando observada, resulta
enzima (ELISA) utiliza antígenos solúveis, particuno aumento da atividade sérica da creatina quinase
larmente as proteínas de superfície, podendo ser
e aspartano aminotransferase. Além disso, anormapadronizado em laboratórios usando concentralidades no líquido cefalorraquidiano (LCR) incluem
ções de proteínas determinadas (PARÉ et al., 1995).
aumento na concentração protéica (20 mg/dl a 50
Para identificação da neosporose, o teste ELISA
mg/dl) e uma pleocitose celular inflamatória mista
foi primeiramente descrito por Björkman et al. (1997)
mediana (10 céls/ml a 50 céls/ml), sendo encontrados
e, desde então, vários ELISAs indiretos vêm sendo
monócitos, linfócitos, neutrófilos e, raramente, eosipadronizados. Proteínas do complexo apical do panófilos. Padrões intersticiais e alveolares respiratórios
rasita, tal como NcGRA1, NcGRA2, NcGRA6, NcGRA7,
podem ser notados em radiografias torácicas (DUBEY
além de proteínas recombinantes como NcGRA2,
et al., 2005).
NcGRA6 e NcGRA7 têm sido testadas como antígeOs taquizoítas são raramente identificados no
nos para o diagnóstico sorológico em cães e bovinos.
exame citológico do LCR, in print de lesões cutâneas
Recentemente, Borsuk et al. (2011) desenvolveram
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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Fonte: Fulle Laboratories
suplemento científico
um teste de ELISA para N. caninum em bovinos, utilizando a proteína recombinante NcSRS2, com os
resultados indicando alta especificidade e sensibilidade no diagnóstico sorológico em bovinos. O teste
de aglutinação direta foi descrito primeiramente
por Desmonts e Remington (1980) para detecção de
anticorpos anti-T. gondii. Anos depois, Packham et al.
(1998) adaptaram o teste para o N. caninum. Trata-se
de um teste relativamente simples e rápido, podendo ser utilizado para o diagnóstico de várias espécies,
não necessitando de anticorpo secundário marcado;
entretanto, requer uma grande quantidade de taquizoítos intactos (BJÖRKMAN e UGGLA, 1999). Estudos
demonstraram que o teste de aglutinação direta
pode substituir a RIFI por apresentar uma sensibilidade e especificidade comparável com as encontradas
nela (PACKHMAN et al., 1998).
Testes de diagnósticos diretos são fundamentais na confirmação da infecção, baseando-se na
detecção do parasita ou do ácido desoxirribonucléico do agente. Dentre essas técnicas está
a flutuação em sacarose, o bioensaio e a PCR. Na
flutuação em sacarose para a pesquisa de oocistos
de N. caninum nas fezes de cães, ocorre a flutuação
devido à menor densidade, após centrifugação em
solução de sacarose (GONDIM et al., 2002). Devido à semelhança entre os oocistos de Neospora e
Hammondia, é necessário o emprego de técnicas
moleculares na diferenciação dessas espécies.
Entretanto, a maior dificuldade de diagnóstico por
meio dessa técnica está na possibilidade de se encontrar um cão eliminando oocistos.
O bioensaio é outra importante ferramenta
no isolamento do parasita em amostras de cães e
bovinos. O modelo animal utilizado nessa técnica
tem sido o gerbil (Meriones unguiculatus), por
apresentar maior susceptibilidade à infecção pelo
N. caninum (DUBEY e LINDSAY, 2000). Entretanto,
esse método demanda muito tempo, além da
utilização de animais de laboratório. A reação em
cadeia pela polimerase (PCR) vem sendo relatada
como método de diagnóstico para N. caninum
desde 1996, quando vários trabalhos envolvendo
essa técnica foram publicados (KAUFMANN, 1996;
MÜLLER et al., 1996; YAMAGE et al., 1996), com
base na amplificação in vitro do DNA do parasita.
No caso do N. caninum, da região ITS1 (PAYNE
e ELLIS, 1996) e do segmento Nc5 (KAUFMANN
et al., 1996). Em seguida, surgiram variantes da
técnica de PCR tais como Nested, RFLP Restriction
fragment length polymorphism (RFLP) e Real Time.
Atualmente, técnicas de biologia molecular, deviRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
do à simplicidade, rapidez além da confiabilidade
dos resultados, estão sendo muito usadas para o
diagnóstico do N. caninum.
Potencial zoonótico
Existe uma grande preocupação em torno do potencial zoonótico do N. caninum após dois macacos
rhesus (Macaca mulatta) terem sido infectados pelo
parasita (BARR et al., 1994). No entanto, não existem
evidências sólidas de que o N. caninum acomete seres humanos, devido aos baixos níveis de anticorpos
relatados (PETERSEN et al., 1999; TRANAS et al., 1999;
LOBATO et al., 2006).
Na Inglaterra, 518 trabalhadores rurais e 3.232
pessoas consideradas sem risco foram avaliados,
apresentando resultados positivos para N. caninum
por meio da RIFI (MCCANN et al., 2008). Na Califórnia,
foram detectados anticorpos anti-N. caninum com títulos de 100 em 6,7% dos soros humanos analisados
por RIFI (TRANAS et al., 1999). Em mulheres que apresentaram abortos espontâneos repetidos, não foram
encontradas evidências de infecção por N. caninum.
No entanto, devido a sua ampla gama de hospedeiros em potencial, a possibilidade de infecção humana não pode ser excluída (PETERSEN et al., 1999).
Os efeitos predominantes da neosporose em
cães são primariamente sinais neurológicos progressivos, incluindo a paralisia dos membros. Possivelmente pode ser válido correlacionar esses sinais
clínicos ao examinar pacientes humanos com sintoma de aborto e distúrbios neurológicos de etiologia
desconhecida. Além disso, a possível presença de
N. caninum em pacientes com sistemas imunitários
enfraquecidos deve ser considerada. No Brasil, foram detectados anticorpos IgG contra N. caninum
em 38% de pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e em 18% de pacientes
com desordens neurológicas, em Uberlândia, Minas
Gerais, sustentando essa possibilidade (LOBATO et
al., 2006). Pesquisadores continuam a busca por N.
caninum por meio de testes sorológicos, ou, alternativamente, usando material coletado em biópsias ou autópsias para a realização de PCR ou análise
imuno-histoquímica.
Contágio
A infecção adquirida via transplacentária manifesta-se severamente, caracterizada clinicamente pela
ocorrência de encefalite, poliradiculite, polimiosite e
paralisia dos membros pélvicos atingindo preferencialmente animais com até 12 meses de idade, porém
sem predileção sexual ou racial (LINDSAY et al., 1999).
41
A enfermidade causada pelo
N. caninum pode ser localizada
o u g e n e ra l i z a d a , co m o u m a
severa dermatite ulcerativa descrita em cães de Israel (PERL et
al., 1998). Dubey et al. (1990) relataram a ocorrência de cistos de
N. caninum na retina de quatro
cães que adquiriram a doença
via congênita. Já a ocorrência de
neosporose clínica em animais
adultos sugere, muitas vezes, a
reativação de uma infecção anterior, associada à imunossupressão induzida por vacinas de vírus
atenuado (PATITUCCI et al. 1997).
Figura 3. Ovo de N. caninum..
Barber e Trees (1996) sugeriram que o parasita pode ser encontrado em vários órgãos (coração, pulmões e fígado)
durante a fase aguda, restringindo-se ao sistema
nervoso central (SNC) na fase crônica. Casos fatais
têm sido relatados em animais com idade entre 8 a
15 anos, em cadelas com infecção subclínica transmitindo via transplacentária para suas proles em sucessivas gestações. Apesar da predisposição para sexo e
raça ser desconhecida, a maioria dos casos descritos
cita a ocorrência em cães das raças Labrador, Boxer,
Greyhound e Golden Retriever (BOYD et al., 2005).
Infecções clínicas e subclínicas de N. caninum
em cães apresentam importância epidemiológica,
principalmente pelo hospedeiro ser capaz de eliminar oocistos no ambiente, fator este de risco para a
ocorrência de abortos associados a N. caninum em
bovinos (PARÉ et al., 1998).
Aspectos clínicos
A paralisia ascendente com hiperextensão dos
membros pélvicos de filhotes infectados congenitamente é a manifestação clínica mais comum da
doença, com ocorrência de posteriormente atrofia
muscular. A polimiosite e a doença multifocal do
sistema nervoso central (SNC) podem ocorrer
isoladamente ou associadas, com os sintomas evidenciados logo após o nascimento ou após algumas semanas de vida (LINDSAY et al., 1999). A morte neonatal é comum (BOAVENTURA et al., 2008).
Cães com aproximadamente 15 anos de idade
também desenvolvem a doença, com evolução clínica para paralisia progressiva, meningoencefalite,
insuficiência cardíaca e complicações pulmonares,
em que, em muitos casos, recomenda-se a eutanásia
(BOAVENTURA et al., 2008).
42
InfoEscola
suplemento científico
Sinais clínicos como tosse produtiva, cansaço
fácil e morte súbita foram associados à afecção
respiratória primária e miocardite. Disfagia, hepatite, dermatite ulcerativa, paralisia da mandíbula,
cegueira, convulsões, incontinência urinária e fecal
também foram observadas na infecção primária
aguda ou na exacerbação da infecção crônica
(LINDSAY et al., 1999).
Barber e Trees (1996) relataram aspectos clínicos de cães com neosporose, citando a ocorrência
de paresia de membros pélvicos, tetraparesia,
ataxia, atrofia muscular, hiperextensão dos membros afetados, tremores, anorexia e hipertermia,
evoluindo para o óbito. Cañón-Franco et al. (2003)
estudando cães da área rural e urbana encontraram aumento da ocorrência de anticorpos
para N. caninum em cães rurais, sugerindo maior
predisposição para aqueles com idade avançada,
evidenciando a aquisição pós-natal do agente.
Já Boyd et al. (2005) relataram a ocorrência de
dermatite nodular generalizada com progressão
rápida para afecção neuromuscular fatal em um
cão da raça boxer com 16 anos, encontrando nos
aspirados e biopsia dermatológica, taquizoítas e
à necropsia, necrose inflamatória intralesional no
cérebro, coração e musculatura esquelética.
Tratamento
Embora muitos cães não sobrevivam a neosporose, a resposta terapêutica favorável está
relacionada com associação da sulfadiazina-trimetropina (15 mg/kg, VO, BID) combinada com
pirimetamina (1 mg/kg, VO, SID), associadas ou
não a clindamicina (10 mg/kg, VO, TID) durante
quatro a seis semanas. Entretanto, a terapia
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
deve ser iniciada antes da rigidez muscular, se
possível, com o prognóstico reservado para os
cães com acometimento neurológico. Contudo,
o sucesso dos tratamentos é normalmente baixo, embora existam relatos de resolução completa dos sinais de neosporose em cães adultos
com administração combinada de pirimetamina
(1 mg/kg, SID) e sulfadoxina (20 mg/kg, BID) durante 30 dias (GENNARI e SOUZA, 2002)
A terapia à base de glicocorticoides pode ativar
os bradizoítos encontrados nos cistos teciduais,
resultando em doença clínica, com replicação
intracelular de taquizoítos, levando ao comprometimento do SNC, por meio de infiltrados celulares mononucleados, sugerindo a ocorrência de
um componente imunomediado na patogênese
(GALGUT et al., 2010). Cistos teciduais intactos em
estruturas neurais geralmente não estão associa-
dos à inflamação, mas cistos teciduais rompidos
induzem a ela. Galgut et al. (2010) relataram a
ineficiência da imunossupressão com prednisona
e ciclofosfamina no tratamento de meningoencefalite por N. caninum em um cão, com grande concentração de celularidade inflamatória no líquido
cefaloraquidiano.
Considerações finais
A descoberta e os estudos sobre o N. caninum
são recentes, entretanto é um parasita de suma
importância na clínica de pequenos animais e,
principalmente na bovinocultura de leite. Nesse
sentido, a presente revisão elucidou as principais
dúvidas quanto aos aspectos epidemiológicos,
ciclo evolutivo, hospedeiros, aspectos clínicos e
terapêuticos, enfatizando o seu possível potencial zoonótico.
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Dados dos Autores
Denise Claudia Tavares
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 16526, doutoranda
[email protected]
Rodrigo Prevedello Franco
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 15737, MSc, docente curso de Medicina Veterinária UNIMAR, SP
Breno Cayeiro Cruz
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 30881
44
Luiz Daniel de Barros
Médico Veterinário,CRMV-SP nº 31853, MSc, doutorando
Flavio Lopes da Silva
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 25006, MSc, doutorando
Chayanne Silva Ferreira
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 27171
Katia Denise Saraiva Bresciani
Médica Veterinária, CRMV-SP nº 7161
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Conhecimento e atuação em
relação à espotricose. UM ESTUDO
DE CASO com médicos Veterinários
do RIO DE JANEIRO
knowledge of veterinarians about
sporotrichosis in rio de janeiro
RESUMO
Há, atualmente, no Rio de Janeiro, uma discussão sobre a ocorrência da zoonose esporotricose em vários municípios.
Micose adquirida pelas mordeduras ou arranhões de animais infectados. O papel do felino na transmissão ao homem
vem ganhando grande importância para os Médicos Veterinários, estudantes e tratadores devido ao contato direto
com os animais, tornando-se um novo grupo de risco. O objetivo do trabalho foi identificar, por meio de inquérito, o
conhecimento dos profissionais em relação à transmissão e ocorrência da doença, além de medidas de prevenção e
controle. Esses profissionais foram escolhidos, uma vez que participam da identificação dos casos na população animal, podendo contribuir para o controle e prevenção da doença nos seres humanos. Foram verificados equívocos em
pontos críticos relacionados ao controle da doença, podendo remeter à formação acadêmica. Enfatiza-se o papel do
Médico Veterinário como profissional de saúde pública, uma vez que a conscientização do proprietário, da profilaxia
adequada e o controle da doença no ambiente dependem, em grande parte, da qualidade das informações transmitidas durante o atendimento clínico.
Palavras-chave: esporotricose, médico veterinário, conhecimento
ABSTRACT
There are currently in Rio de Janeiro a discussion on the occurrence of a zoonotic disease called sporotrichosis in several of its municipalities. This mycosis can be acquired through bites or scratches from infected animals. The role of
the cat in transmission to humans is gaining great importance, especially for veterinarians, students and grooms, becoming a new risk group. The objective of this study is to identify through investigation the knowledge of veterinary
professionals in relation to the transmission and occurrence of the disease, and prevention and control. These professionals were chosen as they participate in the identification of cases in the animal population and may contribute to
the control and prevention of disease in humans. Were observed be mistakes in controlling, which may be related to
academic training. This aspect is of concern regarding the role of the professional veterinary and public health professional, since the formation of the owner aware of appropriate prophylaxis and disease control in the environment
depend largely on the quality of the information provided during the clinical care.
Keywords: sporotrichosis, medical veterinary, knowledge
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
45
suplemento científico
Arquivo do Autor
INTRODUÇÃO
A esporotricose é a micose subcutânea mais
comum na América Latina (SCHUBACH, 2006), acometendo principalmente felinos no Brasil (LARSSON,
2000). Em países do Hemisfério Norte essa doença é
mais comum em cães de caça ou de lida nas propriedades rurais e em cavalos (SCOTT, 1996; COPETTI, et
al., 2002), com manifestações nodulares subcutâneas e localizadas, sendo observada na fase sistêmica
somente em alguns dos pacientes, geralmente imunossuprimidos. Essa lógica não se aplica a felinos, visto que em estudos realizados não ter sido observada
relação entre a imunossupressão e o acometimento
de felinos (SCHUBACH, 2006; SOUZA, 2006). Mesmo também sendo acometido, o cão é de menor
importância do que o felino, devido às lesões serem
acidentalmente causadas quando da ocorrência
de escoriações, normalmente na região do focinho,
decorrente do hábito de farejar. Da mesma forma,
por não ter o comportamento defensivo de arranhar,
como os gatos (SOUZA, 2006), mesmo que o cão
possua o agente nas unhas, dificilmente conseguirá
Figura 1. Felino acometido por lesões na face.
inoculá-lo, uma vez que seu agente etiológico, geralanimais saudáveis em áreas de ocorrência de casos
mente o Sporothrix schenckii, necessita de uma lesão
(SOUZA, 2006).
pré-existente ou de uma inoculação traumática para
No Hemisfério Norte e em regiões do Hemisfério
se instalar no organismo.
Sul onde ocorrem baixas temperaturas, os casos
De maneira geral, o felino (Figura1) infecta-se
ocorrem segundo padrões sazonais (SCHUBACH, et
por meio de mordeduras e arranhaduras que sofre
al., 2005) sendo de incidência constante em regiões
durante o contato sexual e, ou, brigas entre machos,
nas quais o clima permanece quente ao longo de
ou da demarcação de território e afiação das unhas
todo o ano (LOPES, et al., 1999; SCHUBACH, et al.,
(FREITAS, 1956; MEINERZ, 2007). Normalmente,
2004; BARROS, et al., 2007). De maneira geral, é a mia transmissão zoonótica associa-se a animais de
cose profunda mais prevalente do continente amerivida livre ou semiconfinados que, por entrarem em
cano, sendo a segunda mais importante da América
contato com ambientes ou animais possivelmente
do Sul e a mais importante nos estados da região Sul
infectados, adquirem o agente, transmite-os mesmo
do Brasil (JONES, et al., 2000; DONADEL, et al., 2008).
quando não apresentam sinais clínicos, visto terem
GRÁFICO1
Categoria
deschenckii
profissionais
médico-veterinários
segundo
No Estado
do Rioode Janeiro, as áreas de maior
sido isoladas- culturas
de S.
de unhas
de
tempo de formados.
incidência dessa doença estão na Baixada FluminenGráfico 1. Categoria de profissionais médicos-veterinários
se, nos municípios de Duque de Caxias e São João de
segundo o tempo de formados participantes da pesquisa.
Meriti, e o município do Rio de Janeiro (BARROS, et
al., 2004; SCHUBACH, et al., 2004; SCHUBACH, et al.,
2005; BARROS, et al., 2007), com o perfil do grupo de
18,20%
GRÁFICO1 - Categoria de profissionais médico-veterinários segundo o
risco para a doença mudando desde o primeiro caso
43,60%
tempo de formados.
A1
- Até 3 anos de formado
diagnosticado,
principalmente no que diz respeito
18,20%
oria de profissionais médico-veterinários
segundo o
A2
a 9 anos de de
formado
ao- 4contágio
caráter zoonótico, ou seja, na transmissão
A3
- 10 a 20pelo
anos contato
de formadocom um animal ou seus subprodutos
20%
A4
- mais edesecreções.
20 anos de formado
18,20%
Considerando
o potencial zoonótico dessa in43,60%
A1 - Até 3 anos de formado
fecção,
proprietários
de animais domésticos, em es18,20%
A2 - 4 a 9 anos de formado
pecial,
felinos,
e
profissionais
em contato direto com
43,60%
A3 - 10 a 20 anos de formado
A1 - Até 3 anos de formado
animais,
incluindo
Médicos
Veterinários,
tratadores e
20% A2 - 4 a 9 anos de formado
A4 - mais de 20 anos de formado
demais, constituem importante grupo de risco.
A3 - 10 a 20 anos de formado
%
A4 - mais de 20 anos de formado
46
GRÁFICO2 – Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
epidemiológicos.
GRÁFICO2 – Tempo
de formação acadêmica e dificuldade com termos
80,00%
Conforme a Lei Federal nº 5.517/1968, o Médico
Veterinário tem o dever de informar aos proprietários sobre os riscos a que eles estão expostos para
o caso das enfermidades com potencial zoonótico,
caso não adotem medidas adequadas e específicas
a cada enfermidade, tanto em situações envolvendo
animais sadios ou enfermos. Apesar de óbvio, no
entanto, o Médico Veterinário apenas será capaz de
desempenhar tal função caso detenha conhecimento sobre cada uma dessas enfermidades e seus riscos.
foram identificados, fato que foi esclarecido no momento da entrevista.
RESULTADOS
A frequência dos profissionais segundo o tempo
de formados mostra que, 44% (n= 132) dos profissionais pertencem ao grupo A1; 20% (n= 60) ao grupo
A2; 18% (n=54) ao grupo A3, e 18% (n= 54) ao grupo
A4 (Gráfico 1). Segundo o gênero, 56 % (n= 168) são
do sexo feminino e 44% (n= 132) do sexo masculino.
Desse total de profissionais entrevistados, 96% (n=
MATERIAIS E MÉTODOS
288) afirmaram ter algum tipo de conhecimento sobre
Para avaliar o conhecimento de Médicos Veteria doença, 4% (n= 12) nunca ouviram falar dela.
nários, clínicos de pequenos animais, atuantes em
Quando questionados, alguns profissionais apremunicípios do estado do Rio de Janeiro, quanto à
sentaram dificuldade da compreensão de termos
esporotricose, foi elaborado questionário anônimo
como agente etiológico, endemia e profilaxia, entre
subdividido em três partes básicas:
outros, com 69,69% (n= 92), 53,33% (n= 32), 40,7%
a) identificação da área geográfica de atuação, tempo
(n=22) e 40,7% (n=22), nos grupos A1, A2, A3 e A4,
de formado e se tinha conhecimento da doença;
respectivamente (Gráfico 2).
b) o conhecimento epidemiológico e etiológico
Quando questionados sobre a natureza do agensobre a esporotricose;
te etiológico, 89,% (n=267) dos entrevistados afirmaGRÁFICO1 - Categoria de
profissionais médico-veterinários segundo o
c) a forma e condições dos atendimentos realizados,
ram tratar-se de um fungo; 5% (n= 15) afirmaram tratempo de formados.
com questões sobre protocolo profilático adotado
tar-se de uma bactéria; 4% (n=12) disseram tratar-se
em caso de suspeita, protocolo de tratamento ou
de um protozoário e 2% (n=6) afirmaram ser causada
eutanásia, e as condições ambientais da clínica.
por um vírus (Gráfico 3).
Foram entrevistados 300 profissionais, em vaQuando perguntados sobre o atendimento aos
riados estabelecimentos de atendimento18,20%
clínico
animais (Figura1) com suspeita de zoonoses como
veterinário em municípios da Baixada Fluminense
esta, 18%43,60%
(n=54) dos profissionais alegaram não
A1 - Até 3 anos de formado
e no Município do Rio de Janeiro, tendo
adotar nenhum cuidado diferenciado quando do
18,20% sido estes
A2 - 4 a 9 anos de formado
escolhidos de maneira aleatória.
atendimento; 33,% (n= 99) disseram utilizar luvas de
A3 - 10 a 20 anos de formado
Após a coleta de dados, estes foram tabelados
procedimento e tomar os devidos cuidados na mani20%
A4 - mais de 20 anos de formado
e trabalhados com o auxílio de programa de análipulação desses animais; 60%
(n=180) afirmaram utises estatísticas.
lizar luvas, mas que não adotavam nenhum cuidado
Para análise, os profissionais foram subdivididos
maior com os animais suspeitos do que os cuidados
em quatro grupos de acordo com o tempo de formaque tinham no atendimento a qualquer outro animal;
ção, sendo: (A1) Profissionais até o terceiro ano de
e 7% (n=21) alegaram apenas tomar cuidado com o
conclusão de curso; (A2) Profissionais com conclusão
manuseio (Gráfico 4), entendendo-se o tomar cuidado
de curso entre quarto e GRÁFICO2 – Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos
nove anos; (A3) Profis- epidemiológicos.
Gráfico 2. Tempo de formação acadêmica e dificuldade com termos epidemiológicos.
sionais entre o décimo e
80,00%
o vigésimo ano de con70,00%
clusão de curso; e (A4)
60,00%
Profissionais com mais de
50,00%
vinte anos de conclusão
de curso (Gráfico 1). Não
40,00%
70,00%
foram considerado nessa
30,00%
54%
subdivisão a realização
20,00%
40,00%
40,00%
de cursos de especializa10,00%
ção e/ou pós-graduação.
0,00%
Por questões éticas,
A1 - Até 3 anos de
A2 - 4 a 9 anos de
A3 - 10 a 20 anos de A4 - mais de 20 anos
formado
formado
formado
de formado
os profissionais participantes da pesquisa não
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
47
suplemento científico
GRÁFICO 3 – Resposta dos entrevistados sobre a natureza do agente
ao manuseio medidas como aparar
Gráfico
3. Resposta dos entrevistados sobre a natureza do agente
etiológico
da esporotricose.
etiológico da esporotricose.
unhas ou enfaixar as patas de felinos
suspeitos a fim de evitar inoculação
90,00%
do agente, e realização da contenção
80,00%
dos animais atendidos com o auxílio
70,00%
de um ajudante, por exemplo.
60,00%
Quando indagados sobre o trata50,00%
89,10%
mento, 1,66% (n=5) dos entrevista40,00%
dos afirmaram não tratar os animais,
30,00%
porém encaminhá-los ao Instituto
20,00%
Evandro Chagas para atendimento;
10,00%
4% (n=12) não adotavam tratamen5,50%
3,60%
1,80%
0,00%
to, indicando para eutanásia com
Bactéria
Fungo
Protozoário
Vírus
indicação de descarte em forno
crematório para a carcaça; 7% (n=21)
GRÁFICO 4 – Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses
recomendavam a eutanásia, mas não
pelos profissionais
DISCUSSÃO
o descarte da carcaça em forno crematório;
1,66% médico-veterinários
O desconhecimento das terminologias técnicas a
(n=5) adotavam tratamento utilizando algum tipo
respeito da epidemiologia e da patologia da doença
de antifúngico; 4% (n=12) utilizam Doxiciclina no
podem dificultar a compreensão da informação de
tratamento da esporotricose de animais atendidos
textos científicos e técnicos. Isso sugere que o profispor eles; 9% (n=27) recomendavam a utilização de
sional não está em sintonia com os avanços médicoCetoconazol no tratamento da enfermidade em
Uso de luvas e manuseio
33,30%
científicos e com
a linguagem,
tornando inacessível
questão; e 72,66% (n=218) utilizavam o Itraconazol
normal
a compreensão e a fixação deCuidado
conhecimento.
no combate a esta micose (Grafico 5).
ao manuseioO mais
somente
preocupante é quando verificamos
que a maior parte
Dentre o grupo de profissionais que relataram
de luvas
e cuidado ao
60%
(70%, n= 92) dos profissionaisUso
com
dificuldades
nesnão recomendar o tratamento (n=39), aproximadamanuseio
ses termos são os representantes
do grupo A1. Esse
mente 70% (n=27) não adotam nenhum tratamento,
grupo é constituído
por profissionais recém-formados
optando pela eutanásia são do grupo profissional A4
6,70%
(no máximo três anos de formação); estes deveriam
(mais de 20 anos de formação), sendo observado nos
estar mais cientes desses termos, visto terem saído
demais grupos a distribuição homogênea entre as
há pouco tempo do meio acadêmico, esperando-se
demais condutas citadas.
Arquivo do Autor
maior familiaridade com a terminologia técnica das
diversas disciplinas que abordam esses conhecimentos, dentre as quais, Epidemiologia, Saneamento, Doenças Infecciosas e Parasitárias, Parasitologia Veterinária, Microbiologia Veterinária, Imunologia Veterinária
e Medicina Veterinária Preventiva.
Esse aspecto leva-nos a refletir se os conteúdos
foram assimilados ou simplesmente desconsiderados após a aprovação nas referidas disciplinas, sendo
a seguir esquecidos pelo aluno, futuro profissional,
o qual, por alguma razão, desconhece que os conteúdos básicos, incluindo seu vocabulário técnico,
são essenciais na sua atuação profissional e a correta
comunicação científica. Isso nos faz refletir quanto à
necessidade de implantação de algum tipo de avaliação do conhecimento adquirido pelo aluno egresso
da universidade anterior ao seu registro para exercício profissional efetivo.
Sendo a determinação do agente etiológico
fundamental no êxito do tratamento de qualquer
doença, a falta de conhecimento quanto à origem de
Figura 2. Atendimento a gato portador de esporotricose.
48
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
20,00%
10,00%
0,00%
5,50%
Bactéria
3,60%
Fungo
Protozoário
1,80%
Vírus
GRÁFICO 4 – Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses
pelos profissionais médico-veterinários
Gráfico 4. Cuidado no atendimento de animais suspeitos de zoonoses
pelos profissionais médico-veterinários
tato (DEHS, 2002), alguns profissionais
alegam que a utilização de luvas assusta
os proprietários que acabam por abandonar os animais ou não aderem ao tratamento, optando pela eutanásia.
Uso de luvas e manuseio
33,30%
normal
Outros, ainda alegam que a inocuCuidado ao manuseio
lação do agente por mordida ou arrasomente
nhadura não pode ser prevenida por
Uso de luvas e cuidado ao
60%
luvas, e, por esse motivo, não as utilizamanuseio
vam, contrariando, com esta recusa na
utilização de luvas, um procedimento
6,70%
básico de bissegurança. Essas informações foram adicionais, não previstas no
determinada patologia, diga-se de passagem, não
inquérito e identificadas por meio de
rara, torna qualquer tratamento adotado ineficaz
relatos feitos pelos profissionais no diálogo durante
e, ou, inadequado, significando, como no exemplo
as entrevistas.
abordado em se tratando de uma zoonose, inclusive
Segundo profissionais entrevistados na região da
na exposição e risco pessoal e à comunidade. Chama
Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, 90% dos animais
atenção para a utilização de antibiótico, com teraatendidos em seus estabelecimentos com suspeita
pêutica para o problema fúngico apresentado ou o
de esporotricose vêm pelas mãos de pessoas que
desconhecimento da conduta correta a ser adotada
buscam animais abandonados nos parques e terrenos
e indicações relacionadas.
baldios, para, então, tratá-los.
Sobre o destino dos cadáveres dos animais por
Nessa situação, tem-se como causa a constanparte dos profissionais, observa-se que aqueles que
te exposição ambiental, o que torna complexa a
optam pela eutanásia podem não estar refletindo soabordagem terapêutica, visto esses profissionais
bre a natureza dimórfica do fungo (SCHUBACH, 2008).
encontrarem dificuldade no controle da doença em
Ainda que careça de estudos comprobatórios, há
nível ambiental por outros fatores que não o descopossibilidade de a carcaça animal ainda poder ser uma
nhecimento, mas ideologias/condutas antieutanáfonte de contaminação para o solo em que esse animal
sicas e culturais, como a alimentação dos animais de
for depositado pelo proprietário. Dessa maneira, não
rua, o que permite a fixação de colônias de animais
levar esse fato em consideração pode acarretar risco à
errantes, entre outros, que estão além da atuação do
saúde da população e de seu entorno.
clínico veterinário em sua rotina profissional.
Mesmo sabendo que a utilização de luvas de
O fato de vários estudos apontarem a situação
procedimento no atendimento clínico é uma mediepidêmica da esporotricose na região metropolitana
da profilática de extrema importância, que oferece
do Rio de Janeiro preocupa ao deparar com a conduta
segurança ao profissional, bem como ao paciente,
de alguns profissionais que, por desconhecimento,
GRÁFICO
5 barreira
– Tratamento
utilizado
pelos profissionais
como
eficaz contra
a contaminação
por con- médicoignoram procedimentos básicos na abordagem da doveterinários nos casos de esporotricose.
ença como a instrução correta aos proprietários dos
Gráfico 5. Tratamento utilizado pelos profissionais
animais, bem como os procedimentos profiláticos
médico-veterinários nos casos de esporotricose.
básicos quando do atendimento.
3,60% 1,80%
Quando observamos a quantidade de Mésim, outros antifungicos
dicos Veterinários que afirmam atender casos
3,60%
de esporotricose em seus estabelecimentos
sim, cetoconazol
9,10%
7,30%
clínicos e observamos as casuísticas relatadas
sim, doxiciclina
pelos principais grupos que estudam esta patosim, itraconazol
logia e sua epidemiologia no Estado do Rio de
Janeiro (SCHUBACH, et al., 2006; BARROS, et al.,
não, eutanásia sem descarte
2007), bem como a grande frequência de casos
não, eutanásia com descarte
encontrados em áreas que até então eram consi72,70%
adequado
deradas de baixa ocorrência, verifica-se que essa
não, encaminhamento ao IPEC
epidemia pode ter um impacto ainda maior do
que se pensa.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
49
suplemento científico
CONCLUSÃO
Ao refletirmos sobre esses dados, defrontando
os a trabalhos existentes, notamos que o presente
estudo vem enriquecer o entendimento da dinâmica dessa epidemia, com foco em um grupo de risco
frequentemente exposto ao contágio decorrente
de sua atividade profissional, Médicos Veterinários
atuantes na clínica de pequenos animais.
Quando analisamos aspectos relacionados
à atuação desses profissionais, vemos a ne -
cessidade de realização de correlação entre as
propostas curriculares na estrutura dos cursos
de graduação das diversas escolas de Medicina
Veterinária e o exercício do profissional Médico
Veterinário como promotor de saúde pública.
O estudo aponta a necessidade de mais estudos
nesta área, inclusive a necessidade de maior
controle quando do registro nos conselhos regionais como pré-requisito para a realização da
atividade profissional.
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Rosane Gomes Alves
Médica Veterinária, CRMV-RJ nº 5 949,
MSc doutoranda Instituto Nacional de
Controle de Qualidade em Saúde
Alexandre Pina Costa
Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 5715
MSc, docente Universidade
Grande Rio, RJ
Dados dos Autores
Cristiano Teixeira Schultz
Médico Veterinário, CRMV-RJ nº 11 543
[email protected]
50
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
PREVALÊNCIA DE
CISTICERCOSE BOVINA EM
ABATEDOURO DE RONDÔNIA
CYSTICERCOSIS prevalence in
BOVINEs of RONDÔNIA state
RESUMO
Dentre as lesões encontradas nas linhas de inspeção em matadouros frigoríficos de bovinos, a cisticercose destaca-se
como a mais frequente, entre as demais enfermidades, ocasionando perdas significativas. Trata-se de zoonose causada pelo cisticerco proveniente dos ovos eclodidos no estágio intermediário do ciclo evolutivo da Taenia saginata.
No período de maio de 2010 a abril de 2011, foram abatidos 123.761 animais, dos quais 12 estavam infectados com o
Cysticercus bovis, representando uma prevalência de 0,009%. Mesmo que os índices apresentem-se abaixo da média
brasileira, são necessárias medidas profiláticas, possibilitando a extinção da doença no estado. É necessária a conscientização da população quanto às medidas sanitárias, realização de vermifugação dos animais periodicamente,
proporcionando menor risco à saúde pública e diminuição dos prejuízos na cadeia produtiva da pecuária.
Palavras-chave: cisticercose, Rondônia, Cysticercos bovis
ABSTRACT
Among the lesions found in inspection lines in slaughterhouses from bovine cysticercosis stands out among the
most frequent. Bovine cysticercosis in an infection caused by Cysticercus from eggs hatched in the middle stage of the
life cycle of Taenia saginata. In the period may 2010 to April 2011 were slaughtered 123.761 animals of which 12 were
infected with the Cysticercus bovis, representing a prevalence of 0.009%. Even if the ratios are presented below the
national average, it is necessary prophylactic measures, allowing the disease to become extinct in the state. So, it is
necessary that they have the public awareness of the sanitary measures to carry out a deworming regularly providing
less risk to public health and reducing losses in the livestock production chain.
Key words: cysticercosis, Rondônia, Cysticercus bovis
INTRODUÇÃO
O Brasil destaca-se no cenário mundial com o
maior rebanho bovino comercial (MORAIS et al.,
2009). Comparado às últimas décadas, o País tem
transformado toda a sua cadeia produtiva, investindo cada vez mais na genética do rebanho e na
diminuição da idade ao abate. Também se destacam
as indústrias que modernizaram suas instalações e
transformam os matadouros em indústrias produtoras de carne (SANTOS et al., 1999).
Na cadeia de carne bovina, Rondônia destaca-se
no contexto brasileiro por possuir o sétimo (7º) maior
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
rebanho do País com produção crescente (IBGE,
2009). Segundo Grecellé (2008), Rondônia destacou-se com o maior crescimento em efetivo bovino
(292%) no período de 1996-2006. Com o constante
crescimento no consumo de carne bovina e com um
mercado consumidor cada vez mais exigente, faz-se
necessário o controle de doenças infectocontagiosas, tendo os matadouros frigoríficos papel importante na detecção dessas patologias.
Diversas são as doenças que acometem bovinos e causam perdas econômicas. Dentre elas,
destaca-se a cisticercose, apresentando a maior
51
PINTO, P.S.A.
suplemento científico
Cistos presentes na musculatura.
percentagem entre as demais enfermidades
(SILVA et al., 2003; NUNES, 2008). Segundo Costa
(2006), dados registrados pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) pelos
registros do Serviço de Inspeção Federal (SIF), a
cisticercose bovina tem se apresentado como a
lesão de maior ocorrência no exame post morten,
razão pela qual merece ser observada pelos órgãos de fiscalização com atenção especial.
A cisticercose bovina é uma doença de caráter
zoonótica, transmitida pelos ovos da Taenia saginata (NAVARRO, 2012). Esse parasita tem como
hospedeiro intermediário os bovinos (FERNANDES
et al., 2002; CARDOSO et al., 2008) e, como hospedeiro definitivo, o homem, causando a doença
conhecida como “solitária” (NAVARRO, 2012). A
transmissão ocorre quando os bovinos ingerem
pastagem e água contaminadas com os ovos da
espécie Cysticercus bovis, que é a forma infectante
da T. Saginata em sua fase larval. A água e o solo
são contaminados com as proglotes liberadas nas
fezes humanas que eclodem e liberam os ovos (PEREIRA et al., 2006; NUNES, 2008). O ciclo é concluído quando o homem ingere a carne bovina mal
cozida infectada (PFUETZENREITER et al., 2000).
A cisticercose atinge principalmente as classes
com menor poder aquisitivo, e sua ocorrência é
caracterizada por falta de higiene humana e deficiência no saneamento básico rural, com consequente
contaminação ambiental (MEDEIROS et al., 2008;
SANTOS, 2008).
Segundo Pereira et al. (2006), essa enfermidade é
subdiagnosticada por passar despercebida aos olhos
do criador e dos profissionais da área técnica, que
não detectam os sinais da doença no animal, não realizando, assim, o tratamento, medidas preventivas e/
ou profiláticas.
Os casos de cisticercose em bovinos são
identificados no matadouro frigorífico durante
a inspeção das carcaças, que é a medida mais
relevante para identificação e prevenção. Apesar
52
das limitações, a inspeção identifica de forma
considerável as carcaças com infestações, e serve
como advertência precoce da infecção em uma comunidade (BORBA et al., 2004; SOUZA et al., 2007).
Os cisticercos tendem a localizar-se em músculos
ricos em suprimento de mioglobina, onde ocorre
melhor oxigenação do tecido (GALVÃO, 2008). A
legislação vigente preconiza que órgãos a serem
inspecionados são: músculo masséter, músculo
pterigóide, língua, coração, diafragma e seus pilares, por serem esses os principais órgãos infectados (MANNIGEL et al., 2002; FALAVIGNA et al., 2006;
SOUZA et al., 2007; SANTOS et al., 2008).
Em decorrência da impossibilidade do descarte de todas as carcaças parasitadas, os critérios de
destino são fundamentados no seu grau de infecção. As carcaças com cisticerco calcificado podem
ser destinadas à salsicharia. No caso de pequenas
infecções de cisticercos vivos, a carne pode ser
aproveitada condicionalmente pela salga. Já na
carcaça com infecção intensa ocorre a rejeição total (PFUETZENREITER et al., 2000; SILVA et al., 2003;
MEDEIROS et al., 2008).
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido em um matadouro frigorífico, sob inspeção federal, no município de Rolim
de Moura, estado de Rondônia, pela coleta de dados
retroativos das condenações de carcaças por cisticercose referentes ao período de maio de 2010 a abril
de 2011. O abate nesse estabelecimento era predominantemente de bovinos, realizado seis vezes por
semana, com média de 500 a 600 animais por dia, provenientes de 28 municípios do estado de Rondônia.
O diagnóstico da cisticercose foi obtido por
inspeção visual (macroscópica) das carcaças e
vísceras, como preconizados pelo Decreto Federal
nº 361 de 29/3/1952 (RIISPOA). O cisticerco é visto
como uma vesícula translúcida, ovóide ou alongada, com coloração branca acinzentada, repleta
de líquido translúcido (GALVÃO, 2008). Os cistos,
indicadores de cisticercose, foram identificados
pelo técnico de serviço da inspeção federal (SIF),
com base em características morfológicas previamente padronizadas, e confirmadas pelo Médico
Veterinário da inspeção.
O diagnóstico dos Cysticercus bovis, durante a
inspeção das carcaças, foi realizado pela inspeção
rotineira e sistemática da musculatura cardíaca,
músculo masséter, músculo pterigóide, língua e diafragma como preconizado pela legislação vigente
(BRASIL, 1997). No caso de identificação dos cistos,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
0,018% dos casos positivos. Nos meses de maio, junho, julho e novembro
de 2010 não foi encontrado nenhum
caso durante a inspeção. Essa variação pode estar relacionada com o
ciclo biológico do parasita. Também
foi observado que a forma viva da cisticercose (n=10) é predominante em
relação aos cistos calcificados (n=2),
semelhante ao observado por Morais et al. (2009), Santos et al. (2008) e
Vollkopfý et al. (2008).
Esses valores representam a prevalência de cisticercose entre os 28
municípios de origem dos animais
Gráfico 1. Percentagem das condenações de carcaças em abate normal e emergencial no período de
avaliados. Todos os municípios estão
maio de 2010 a abril de 2011, Rolim de Moura – Rondônia.
localizados na região Sul do Estado.
era inspecionada toda a musculatura esquelética
Atualmente, Rondônia possui 53 muniminuciosamente. Foi considerado como portador
cípios, sendo este valor de 0,009% representativo
dessa zoonose o animal que, durante o abate, aprede 52,83% do território rondoniense. Portanto, O
valor apresentado é referente à região Sul do estasentou as alterações descritas anteriormente em
do e não é válido para todo o território.
uma das musculaturas, caracterizada pelo aspecto
A prevalência de cisticercose apresentada
morfológico como Cysticercus bovis.
neste estudo, quando comparada a outros estaRESULTADOS E DISCUSSÃO
dos, revelou um menor valor. Pesquisas realizadas
No período de maio de 2010 a abril de 2011
nos estados como Alagoas (OLIVEIRA et al., 2011),
foram abatidos cento e vinte e três mil setecentos
Bahia (ALMEIDA et al., 2006) Rio de Janeiro (PEREIe sessenta e um bovinos (123.761). A principal
RA, 2006), São Paulo (MANHOSO e PRATA, 2004),
patologia observada foi cisticercose (Gráfico 1) obMato Grosso do Sul (VOLLKOPFÝ et al., 2008), Mato
servada em doze animais (12), representando uma
Grosso (SCHEIN et al., 2004), Santa Catarina (NUNES,
prevalência de 0,009% (Tabela 1). O diagnóstico
2008), Paraná (SOUZA et al., 2007) e Rio Grande do
foi baseado nas lesões macroscópicas compatíveis
Sul (CORRÊA et al., 1997) demonstraram prevalência
com o Cysticercus bovis.
entre 0,16% a 9,73% (Tabela 2).
Por meio da análise da Tabela 1, pode ser obO índice de cisticercose bovina aceitável para
servado que o mês de março de 2011 apresentou
países em desenvolvimento está em torno 1% até 3%
maior prevalência de animais acometidos com
(BARSZCZ et al., 2008). Nossos resultados demonsTabela 1. Prevalência de cisticercose em bovinos abatidos em frigorífico sob inspeção federal no período de maio
de 2010 a abril de 2011. Rolim de Moura, Rondônia.
MESES DO ANO
MAI/10
JUN/10
JUL/10
AGO/10
SET/10
OUT/10
NOV/10
DEZ/10
JAN/11
FEV/11
MAR/11
ABR/11
TOTAL
ANIMAIS
ABATIDOS
ANIMAIS
ACOMETIDOS
2.163
5.210
8.096
9.143
9.862
8.358
10.646
13.854
13.950
14.738
15.810
11.931
123.761
1
1
1
1
1
2
3
2
12
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
ESTÁGIO LARVAR
CISTOS
VIVOS
1
1
1
1
2
2
2
10
CISTOS
CALCIFICADOS
1
1
2
PREVALÊNCIA
%
0
0
0
0,010
0,010
0,011
0
0,007
0,007
0,013
0,018
0,016
0,009
53
suplemento científico
Tabela 2. Prevalência de cisticercose em bovinos abatidos por estado, segundo autor e período analisado.
ESTADO
Alagoas
Bahia
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Paraná
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
Rondônia
Santa Catarina
São Paulo
AUTOR/ANO
Oliveira et al., 2011
Almeida et al., 2006
Schein et al., 2004
Vollkopf et al., 2008
Moreira et al., 2002
Souza et al., 2007
Pereira, 2006
Corrêa et al., 1997
Barszcz et al., 2008
Nunes et al., 2008
Manhoso e Prata, 2008
tram que a região Sul de Rondônia destaca-se dos
outros estados nacionais, estando abaixo desse índice (Tabela 1). Segundo Vollkopfý et al. (2008), a explicação para estados com baixos níveis de cisticercose
bovina pode ser devido à forma de produção extensiva, contrapondo as regiões em que os animais são
criados em confinamento.
Um levantamento realizado, no mesmo frigorífico, entre janeiro de 2005 a fevereiro de 2007,
foi relatada prevalência de 0,03% de cisticercose
bovina (BARSZCZ et al., 2008), valor pouco superior ao encontrado no presente estudo. Essa
variação pode sugerir um avanço nas medidas
preventivas dessa doença no estado ou pode ter
sido alterada pela variação nos municípios de
onde foram provenientes os animais abatidos.
Diferenças na prevalência de cisticercose foram
relatadas entre municípios no estado do Rio
de Janeiro, evidenciado na pesquisa realizada
por Pereira et al. (2006), que obteve prevalência
1,95% no município do Rio de Janeiro, contrapos-
PERÍODO ANALISADO
2000-2005
2005
1996-2000
2007
1997-1999
2000
1997-2003
1996
2005-2007
2006
1999-2001
PREVALÊNCIA (%)
0,32% - 0,65%
4,2%
0,69%
0,16%
7,0%
3,83%
1,58 - 2,09%
4,63%
0,03%
1,4 %
9,73%
to à Costa (2003), que obteve prevalência de 10%
no município de Nova Friburgo.
Mesmo que os índices apresentem-se baixos, são
necessárias medidas profiláticas, possibilitando que
a doença passe a ser extinta no estado, reduzindo,
assim, as perdas econômicas na produção de carne.
Para isso, é necessária a conscientização da população quanto às medidas de higiene. Também é necessária a conscientização dos produtores quanto aos
cuidados sanitários do rebanho e que seja realizada a
vermifugação dos animais periodicamente, proporcionando menor risco à saúde pública e diminuindo
prejuízos na cadeia produtiva da pecuária.
CONCLUSÃO
Durante o período avaliado, constatou-se
que a cisticercose acomete animais de produção
na região sul do estado, com índices de pre valência abaixo da média brasileira. Rondônia
encontra-se em níveis desejados para países em
desenvolvimento.
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Monografia (Especialização em Higiene e
Inspeção de Produtos de Origem Animal) –
Instituto de Pós-Graduação Qualittas, Universidade Castelo Branco, Campo Grande.
Dados das Autoras
Darlene Ramos
Médica Veterinária, CRMV-RO nº 1018
[email protected]
Aliny Pontes Almeida
Médica Veterinária, CRMV-RO nº 1044. MSc, docente do Centro Universitário Luterado de Ji-Paraná.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
55
suplemento científico
Normas para
apresentação de Artigos
Informações Gerais
O Suplemento Científico da Revista do CFMV tem
como objetivo a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada,
básica, e profissionalizante, que contribuam para o
desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina
Veterinária e de Zootecnia. A publicação do artigo
dependerá da sua apresentação dentro das Normas
Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres ad
hoc terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral.
Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões),
Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A critério
do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando
a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados
pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal
(Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de
10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio
de 1979, devem ser observados. Também deve ser
observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de
fevereiro de 2008, ou naquela que a substituir.
A inscrição e tramitação é exclusivamente
eletrônica em www.cfmv.gov.br
Normas Editoriais
Os textos de revisão, de educação continuada e
científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua
portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto
o Abstract e Keywords, que serão apresentados em
inglês. Assim como uma versão do título.
Artigos de Revisão e
de Educação Continuada
Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo,
Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências
Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).
Artigos Científicos
Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract,
Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e
Apresentação
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for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4
(21,0 x 29,7), com espaço simples, com margens laterais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm,
na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12
cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de
tabelas, quadros e figuras. O artigo completo deverá
ter no máximo 12 páginas.
Título
O título do artigo, com 15 palavras no máximo,
deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua
inglesa deverá anteceder o Abstract.
Autores
Citar respectivos registros em conselhos de classe à excessão de alunos de graduação.
Resumo e Abstract
O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com in-
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56
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
formações que informem o objetivo, a metodologia
aplicada, os resultados principais e as conclusões.
Palavras-chave e Keywords
No máximo cinco palavras serão representadas
em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão
escolhidas do texto e não necessariamente do título.
Texto Principal
Deverá ser apresentado em espaço simples,
fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas
abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico
Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc.
Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão
apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH
= hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s)
autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de
dois autores, somente o sobrenome do primeiro
será citado, seguido da expressão et al. Exemplos:
Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos
(2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al.
(1998), (Gonçalves et al., 1998).
Referências Bibliográficas
A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de
acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência
com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s)
letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes
de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais
devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes.
Todos os autores devem ser citados.
Obras anônimas têm sua entrada pelo título do
artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda
e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da
referência podem ser abreviados, segundo a notação
do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p.
Abaixo são apresentados alguns exemplos de
referências bibliográficas.
Artigo de periódico
EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês,
fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso
e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Livros
MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia
aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal:
Funep, 1994. 296p.
Capítulos de livro
WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.;
LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths,
1986. p.187-206.
Teses (doutorado) ou
dissertações (mestrado)
MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella
na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998.
53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias. Universidade Estadual Paulista.
Artigos apresentados em
congressos, reuniões
e seminários
RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais
das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO
BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife,
1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.
Tabelas, Quadros
e Ilustrações
As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no
corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A
tabela deve ter sua estrutura construída segundo as
normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p.42-60, 1963).
Fotografias
As fotografias deverão estar em boa resolução
(nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou
sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi,
com a foto em tamanho grande (centímetros), formato
TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser
enviadas em arquivos separados (JPEG). Ao enviá-las, o
autor automaticamente autoriza sua inclusão no banco
de imagens do CFMV, com o devido crédito.
Avaliações/Revisões
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editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial.
57
Reprodução Animal
Sexagem Fetal em Bovinos
por Ultrassonografia
A tecnologia utilizada para sexagem fetal
fornece informações precoces referentes à confirmação da prenhez e ao sexo do feto com até 100%
de acurácia (LAMB e FRICKE, 2008). Além disso,
contribui para a eficiência reprodutiva melhorando o desempenho produtivo e a lucratividade
dos rebanhos bovinos (SCARCELLI et al., 2004),
pois permite a concentração de maior número de
machos destinados à produção de carne, maior
número de fêmeas, produtoras de leite e bovinos
de corte para criação de animais elite.
REVISÃO DE LITERATURA
A determinação do sexo fetal pode ser realizada
por meio da técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) ou pelo uso do aparelho de ultrassonografia. O PCR determina o sexo fetal a partir do DNA
fetal isolado do plasma materno, sendo uma forma
sensível e eficaz (Da CRUZ et al., 2010).
A identificação do sexo fetal por meio da ultrasonografia vem sendo praticada há alguns anos, em
bovinos e equinos. Segundo Fernandes (2006) é
uma técnica não invasiva, de execução rápida, pouco
traumática para os animais gestantes e principalmente para o feto examinado.
58
Durante o exame é necessária a visualização do
tubérculo genital (TG), estrutura responsável pela
formação do clitóris nas fêmeas e do pênis nos machos (FERNANDES, 2006), que se apresenta de forma
altamente brilhante, ecogênica (BARUFI e MIZUTA,
2000) e bilobulada, localizando-se inicialmente
sobre a linha média, entre os membros posteriores.
Pode ser detectado aos 50 dias de gestação, porém
com essa idade ainda acontece sua migração, não
sendo possível, ainda, detectar o sexo masculino ou
feminino (FERNANDES, 2006).
Entre 55 e 90 dias de gestação é possível observar
a diferenciação dos sexos, pois nas fêmeas ocorre a
migração do TG para uma pequena distância em sentido ventral à base da cauda e, no macho, o tubérculo
genital migra em uma distância maior em sentido
anterior, e imediatamente posterior ao cordão umbilical (GONÇALVES et al., 2008).
Curran et al. (1989) preconizam o aparelho de
ultrassom de modo B, com um transdutor entre 5
e 7 MHZ (evitando cortes profundos). O reto deve
ser evacuado, o transdutor é introduzido e conduzido protegido abaixo da palma da mão até o
corno gestante. Na sequência, o transdutor fará
um mapeamento dorsal da região, nos sentidos
longitudinais, transversais
e per pendiculares. A
referência, no feto,
passa a ser a região
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Arquivo do Autor
Figura 1. Tubérculo genital nas proximidades da inserção do cordão umbilical no abdomem. A) Figura macroscópica indicando o tubérculo genital no
feto (Círculo verde) B) Tubérculo genital caudalmente ao cordão umbilical, em
imagem de ultrassonografia (círculo verde).
umbilical e a inserção do cordão para, assim, poder
determinar o sexo fetal.
A detecção do TG masculino é mais fácil quando
comparada ao feminino, contudo, quando não se observa o tubérculo posterior ao cordão umbilical, não
se deve afirmar que o feto é fêmea. Na interpretação
da imagem, observa-se que a cauda é uma estrutura
monolobular, enquanto o TG se apresenta de forma
bilobulada (BARUFI e MIZUTA, 2000).
Mello (2003) descreve que além da localização
do TG, o posicionamento do feto também pode
interferir na técnica de sexagem, tornando-se
difícil a identificação do tubérculo em secções longitudinais do feto. Já em imagens latero-laterais e
imagens em corte sagital, a morfologia bilobulada
apresenta se mais distinta. Para orientação do
operador, o primeiro passo é a identificação da
face anterior do feto, por meio da visualização do
coração pulsante ou da cabeça do feto. Após esta
identificação, realiza-se a progressão em sentido
posterior, até que o cordão umbilical seja visto
penetrando no abdômen, observando atrás deste,
a presença (macho) ou ausência (possivelmente
fêmea) do TG (MELLO, 2003).
Em uma abordagem longitudinal, a identificação da estrutura torna-se mais difícil, mas ao
rotacionar o transdutor em 90º é possível observar
uma visão sagital. Ambas as áreas, atrás do cordão
umbilical e sob a cauda, devem ser examinadas
para confirmação da presença ou ausência do TG
(FERNANDES, 2006).
Três locais formadores de imagem devem ser
examinados: adjacente ao umbigo/abdômen, entre
os membros pélvicos e na porção ventral da cauda [possível tubérculo genital feminino] (LAMB e
FRICKE, 2008). Segundo Campos (1993), a eficácia
desta técnica está em torno de 100% e é dependente
da habilidade e experiência do operador.
merciais. Do total examinado, 22 obtiveram prenhez
positiva para fêmea e 12 para macho.
A transferência de embriões foi realizada em propriedade localizada na cidade de Uberaba-MG. Os
embriões pertenciam a touros e vacas elites e foram
transferidos em vários estágios de maturação. Vacas,
após seis dias de ovulação, recebiam embriões no
estágio de mórula, com oito dias blastocisto inicial e,
com mais de oito dias, blastocisto, seguindo o critério descrito por Jainudeen et al. (2004).
As receptoras, sem padrão racial definido e
com idade entre dois e três anos, foram submetidas a exames clínico-sanitários e de condição corporal, conforme critérios definidos por De Grossi
(2003) e Franco et al. (2004).
A confirmação de prenhez viável foi feita por
meio de exame de utrassonografia, aos 55 dias após
a transferência de embrião, e foi considerada positiva
quando identificada a presença do feto e dos batimentos cardíacos. Nessa ocasião, não foi possível
verificar o sexo fetal.
Aos 60 dias de gestação, as vacas foram submetidas à técnica de sexagem fetal, com o auxílio do
aparelho de ultra-som de modo B, 7,5 MHz e probe
de arranjo linear. Fernandes (2006) cita que a sexagem fetal pode ser feita até o 90º dia de gestação,
porém, Barros e Visintin (2001) relataram que aos
70 dias já existe grande dificuldade em observar o
TG, que pode ser confundido com estruturas como
os ossos. Também, o feto já está maior, com movimentação diminuída, deslocado para a cavidade
abdominal e, com o avançar da gestação, a visualização da inserção do cordão e do tubérculo estará
dificultada, podendo haver erros de diagnóstico.
Após identificar o feto, foi examinado o local de
inserção do cordão umbilical, em busca do tubérculo genital. Quando localizado atrás do cordão
umbilical, caracterizava feto macho (Figura 1).
Caso o tubérculo não fosse identificado na inserção do cordão, a probe era manuseada em sentindo da cauda do feto e a presença do TG definia o
sexo fêmea para o feto (Figura 2).
RELATO DE CASO
Foram identificados o sexo de produto oriundo
de 34 receptoras de embrião bovino, com objetivo
de separação de gestação de fêmeas para fins coRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Figura 2: Tubérculo genital nas proximidades da base da cauda. A) Figura
macroscópica indicando o tubérculo genital no feto (círculo verde) B- Tubérculo
genital crânio-caudal a cauda, em imagem de ultrassonografia (círculo verde).
59
Reprodução Animal
O posicionamento do feto no útero foi importante.
Em algumas vacas ele se encontrava na posição longitudinal, dificultando o diagnóstico, sendo necessário
realizar a rotação da probe em 90º, permitindo visualizar o feto na posição sagital. Porém, independentemente da posição que o feto estava foi feita mais de uma
imagem para que a acurácia do exame fosse de 100%.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A técnica de sexagem fetal, mesmo possuindo
eficácia de 100%, possui como restrições a necessidade de habilidade e o custo dos equipamentos.
Porém, a identificação do sexo fetal em bovinos é
de extrema importância para a valorização do produto e do plantel.
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Dados dos Autores
Camila Oliveira Silveira
Médica Veterinária, CRMV-MG nº 10527, MSc – Universidade Federal de Viçosa, UFV
[email protected]
Sanely Lourenço da Costa
Médica Veterinária, CRMV-ES nº 1043, Doutoranda, UFV
Ronaldo Oliveira Silveira
Graduando, FACISA-UNIVIÇOSA, MG.
Ludmila Souza Fernandes
Médica Veterinária, CRMV-MG 11443, docente, Facisa-Univiçosa, MG
Giancarlo Magalhães dos Santos
Médico Veterinário, CRMV-MG 11005, docente, Facisa-Univiçosa, MG
60
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Nutrição
TRATAMENTO DIETÉTICO
EM CÃES CARDIOPATAS
Arquivo do autor
Além de novos medicamentos, avanços recentes
têm ampliado a compreensão da necessidade de
intervenções nutricionais e farmacológicas em portadores de patologias cardíacas. O tratamento dietético tem como finalidade dar condições para que
o sistema cardiovascular mantenha o suprimento de
oxigênio e nutrientes para os tecidos corpóreos em
níveis adequados (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
Os objetivos da nutrição já não estão limitados
ao baixo teor de sódio na dieta. Pesquisas têm
mostrado que outros nutrientes como a taurina,
a arginina, vitaminas e sais minerais, além de nutrientes especiais tais como L-carnitina, coenzima
Q10, podem ser complemento importante à terapia médica (PIBOT et al., 2008).
As doenças cardíacas aparecem em diferentes
tipos, sua severidade varia de animal para animal e
existem diferenças inerentes ao indivíduo. Portanto,
a terapia deve ser individual quando se refere à indicação de restrições de nutrientes ou à suplementação alimentar. Sendo assim, animais cardiopatas
devem ser mantidos no peso ideal, a fim de obter meRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
nor trabalho cardíaco e contribuir com sua qualidade
de vida (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
SISTEMA CARDIOVASCULAR
Nas alterações miocárdicas, o inotropismo
negativo limita a capacidade do coração manter
débito cardíaco, pressão arterial e fluxo sanguíneo
em padrões de normalidade (CUNNINGHAM, 2002;
ETTINGER e FELDMAN, 2008). Cerca de 33% dos cães
com 13 anos de idade ou mais, têm alguma forma de
cardiopatia (GOLDSTON e HOSKINS, 1999).
Entre os mecanismos adaptativos que agem para
manter a preservação do débito cardíaco estão os
sistemas nervoso simpático e renina-angiotensinaaldosterona, que atuam na tentativa de aumentar
o débito cardíaco e concomitantemente a pressão
arterial (CUNNINGHAM, 2002).
Assim, ocorre a liberação da aldoresterona que é
um hormônio antidiurético, cuja função é reter sódio e
água nos rins, aumentando a volemia. A vasopressina
ou ADH é liberada na região da neuro-hipófise e potencializará o efeito da aldosterona (CUNNINGHAM, 2002).
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Nutrição
Em situações crônicas, os efeitos são insuficientes
e, muitas vezes, a estimulação continuada determina deterioração da função cardíaca. Também, a
constante redução do fluxo sanguíneo resulta na
diminuição do aporte de nutrientes necessários para
o turnover protéico e a renovação tissular (ETTINGER
e FELDMAN, 2008).
CAQUEXIA CARDÍACA
A caquexia cardíaca é um estado catabólico
comum nas fases mais avançadas das cardiopatias,
definido como perda de peso, não intencional, envolvendo mais de 10% da massa muscular (Quadro
1). É notada, principalmente, quando há equilíbrio
nitrogenado e energético negativo decorrente de
ingestão alimentar inadequada, perda excessiva de
energia ou metabolismo alterado (BELERENIAN et al.,
2001; ETTINGER e FELDMAN, 2008).
Com a ingestão de calorias insuficientes, o organismo inicialmente irá utilizar aminoácidos gerados pelo
catabolismo da massa corporal magra. Este processo,
ao se tornar constante, inicia o metabolismo da gordura, a fim de preservar a massa corporal magra. Porém, os
animais cardiopatas não conseguem realizar essa mudança adaptativa para a utilização da gordura corporal
e continuam o catabolismo da massa corporal magra
(BELERENIAN et al., 2001; FREEMAN, 2008).
Quadro 1. Fatores que contribuem para perda
da massa corporal em cães cardiopatas.
• carga de trabalho aumentada (dispneia e
taquipneia) sobre músculos da respiração;
• ingestão de energia inadequada;
• falta de apetite até anorexia que pode ser
induzida pela terapia instituída;
• hipóxia celular ocasionada pelo baixo débito cardíaco e má perfusão periférica;
• hipermetabolismo ocasionado por maior
demanda energética dos tecidos cardíacos
e pulmonares;
• congestão em vísceras abdominais ocasionada pela evolução da doença ou por compressão devido à ascite.
Adaptado de Belerenian et al., 2001
Nota-se também má-absorção consequente da
insuficiência da perfusão sanguínea e posterior atrofia
das vilosidades intestinais (BELERENIAN et al., 2001).
A presença de mediadores inflamatórios como
citocinas, fator alfa de necrose tumoral e inter-
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leucina-1 influenciam o surgimento de caquexia
cardíaca, causando diretamente a anorexia, a fim
de aumentar a disponibilidade de energia e, concomitantemente, provoca perda de massa corporal
magra (FREEMAN, 2008).
O reconhecimento dos estágios iniciais da caquexia cardíaca é importante para sua reversão (FREEMAN, 2008). A terapia nutricional baseia-se na estimulação do apetite a fim de combater a anorexia e a
desnutrição. Para reduzir a produção e os efeitos dos
mediadores inflamatórios recomenda-se a suplementação com ácidos graxos Ômega 3 poli-insaturados (ETTINGER e FELDMAN, 2008; FREEMAN, 2008).
OBESIDADE
Estimativas apontam a obesidade como a
doença nutricional mais comum em cães: 25% a
35% apresentam sobrepeso ou são obesos. Na
gênese da afecção estão fatores genéticos, sociais,
culturais, metabólicos e endócrinos. Todos produzem um desequilíbrio entre o consumo e o gasto
energético, que conduz a um balanço energético
positivo acumulado na forma de gordura, determinando ganho de peso e mudanças na composição
corporal (GONÇALVES, 2006).
Em cães obesos há predisposição ao desenvolvimento de arritmias em diferentes graus, sobrecarga ventricular; volume plasmático e extracelular
aumentados, ativação neuro-humoral aumentada,
excreção de sódio e água urinário reduzida, frequência cardíaca aumentada, disfunção sistólica e diastólica, intolerância a exercício e irregularidades da
pressão arterial (BELERENIAN et al., 2001).
Com o aumento da massa corporal, haverá incremento do trabalho cardíaco que produzirá esforço
adicional no coração já debilitado pela infiltração de
gorduras, contribuindo para a progressão da doença
(GUIMARÃES e TUDURY, 2006).
Alimentos destinados à perda de peso são
caracterizados pela baixa densidade energética,
concentrações mais elevadas de proteínas e fibras
alimentares, utilização de amido de assimilação
lenta e incremento de vitaminas e minerais. Com
isto, objetiva-se aumentar a ingestão de matéria
seca, promovendo um estímulo mais eficaz de
saciedade, sem a elevação concomitante da ingestão calórica e mantendo, ao mesmo tempo, a
ingestão dos nutrientes não calóricos, de modo a
permitir funcionamento adequado das atividades
orgânicas. No entanto, deve-se ter cuidado, pois
a perda de peso progressiva pode evoluir para caquexia (GONÇALVES, 2006).
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NECESSIDADES DE
MACRONUTRIENTES
Carboidratos
A recomendação de carboidratos situa-se em 50%
do valor calórico da dieta. Nos casos de retenção de
dióxido de carbono, aumentada na má ventilação, a
redução no percentual de carboidratos estará indicada
(MAGNONI e CUKER, 2002).
Estudos preconizam dietas com baixos níveis de
carboidratos, aumentando o percentual de participação lipídica e protéica. A presença de mono, di e
polissacarídeos deve ser observada, alterando-se a
proporção na dieta de acordo com a presença ou não
de doenças associadas (MAGNONI e CUKER, 2002).
A oferta de fibras é indispensável para os animais
cardiopatas, pois além de auxiliarem na excreção de
colesterol, também regulam o funcionamento intestinal, evitando a obstipação que poderá alterar o
ritmo cardíaco (MAGNONI e CUKER, 2002).
Proteínas
Taurina
A taurina é um aminoácido sulfurado particular,
isto é, não está associada a outros aminoácidos para
formar proteínas, permanecendo sob forma livre
(CARVALHO, 2005).
Nos cães, a taurina pode ser sintetizada no fígado
a partir de dois aminoácidos sulfurados, a cisteína e a
metionina, portanto não é um aminoácido indispensável na dieta (CARVALHO, 2005).
A taurina é essencial para a contração do músculo cardíaco; é um agente osmorregulador que desempenha papel antiarrítmico. Protege os miócitos
contra os efeitos do excesso de cálcio. Age também
na preservação da integridade das células do músculo cardíaco, prevenindo a hipertrofia induzida pela
angiotensina II, in vitro. Também colabora na eliminação de radicais livres, sendo conhecida por sua
atividade antioxidante (ETTINGER e FELDMAN, 2008;
PIBOT et al., 2008).
Apesar de trabalhos evidenciarem que na cardiomiopatia dilatada o teor plasmático de taurina estava
baixo, nem sempre isto ocorrerá em associação com
esta patologia (BELERENIAN, 2001). Contudo, a suplementação por via oral de 250 a 500 mg de taurina
por animal a cada 12 horas, diariamente, pode ter
efeito positivo (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
Carnitina
A L-carnitina é responsável pelo transporte de
ácidos graxos de cadeia longa pela membrana das
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mitocôndrias, onde serão oxidados para geração de
energia. É sintetizada no fígado e nos rins por meio
de dois aminoácidos essenciais: lisina e metionina,
em processo dependente das vitaminas hidrossolúveis, ascorbato, niacina, piridoxina e do íon ferroso
(BORGES et al., 2003; FREEMAN, 2008).
A L-carnitina concentra-se nas células musculares cardíacas e esqueléticas e desempenha papel
essencial no transporte de metabólitos tóxicos
para fora da mitocôndria, por meio das enzimas
que transportam ácidos graxos de cadeia longa do
citosol, que é fonte importante de energia para o
coração. Este aminoácido possui ações de cardioproteção perante hipóxia e estresse oxidativo. Tem
função de sequestrar radicais livres; aumenta a função contrátil do coração; diminui as concentrações
de LDL e aumenta a fração de HDL circulantes; diminui a produção de ácido láctico na musculatura;
conserva a massa muscular e favorece a perda de
peso; diminui a peroxidação lipídica, pois diminui
o substrato disponível; inibe o ferro, catalisador da
produção de radicais; aumenta o teor de vitamina
C, pois como a vitamina C participa da síntese da
L-carnitina, essa vitamina é “economizada” e aumenta o teor de vitamina E devido à diminuição do
estresse oxidativo (BORGES et al., 2003; ETTINGER e
FELDMAN, 2008; RODRIGUES, 2008).
A suplementação de carnitina, 10-20 mg/kg três
vezes ao dia, por via oral, é recomendada, pois pode
melhorar o desempenho energético/metabólico
dos cardiomiócitos e das células musculares esqueléticas (GOLDSTON e HOSKINS, 1999; ETTINGER e
FELDMAN, 2008).
Arginina
A arginina é um precursor do óxido nítrico (NO),
que foi identificado como um fator de relaxamento
do músculo liso dos vasos sanguíneos (MAGNONI e
CUKIER, 2002). Tem por funções inibir a agregação e
adesão plaquetárias, bem como do sistema reninaangiotensina-aldosterona, diminuição da proliferação vascular em músculos lisos e mantém o tônus
vasodilatador normal. A dieta é a principal fonte para
o organismo, uma vez que as quantidades necessárias não podem ser sintetizadas de forma endógena
(MAGNONI e CUKIER, 2002).
No entanto, o uso de arginina por via oral determina irritação gástrica, emese e diarreia, possivelmente pelo excesso de produção do NO no trato
gastrintestinal e pela disfunção na absorção intestinal de outros aminoácidos. A alternativa é a administração de L-citrulina, potente precursor da síntese
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Nutrição
Arquivo CFMV
Monitoramento de cão cardiopata.
de L-arginina. Como um aminoácido neutro, a Lcitrulina não compete com aminoácidos básicos e
sua administração não requer HCL equimolar. Sendo
assim, a administração de L-citrulina por via enteral
ou parenteral pode ser útil para animais cardiopatas.
Todavia, serão necessários maiores estudos para
avaliar a real eficácia da administração de arginina ou
L-citrulina na reversão da disfunção cardiovascular
(PIBOT et al., 2008).
Lipídeos
Apesar do papel importante no metabolismo, o
consumo excessivo de determinados tipos de gordura
pode favorecer o aparecimento de doenças cardiovasculares e a obesidade (MAGNONI e CUKIER, 2002).
Os ácidos graxos podem ser divididos em dois grupos, ômega 3 e 6. Os ácidos graxos da série 6 são: ácido
cis-linoleico; gama-linolênico; dihomo-gamalinolênico; araquidônico. E os da série 3 são: alfalinolênico;
eicosapentaenoico; docosahexaenoico (BORGES et
al., 2003). Os ácidos graxos não são sintetizados por
cães, e como são imprescindíveis devem ser ingeridos
na dieta (PIBOT et al., 2008).
Podem diminuir a produção de citocinas inflamatórias, fator de necrose tumoral alfa e Interleucina-1,
bem como demonstram ser benéficos nas arritmias
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e têm efeitos positivos na presença de dispneia e taquipneia (PIBOT et al., 2008).
A forma de suplementação ideal ainda não está
determinada. Porém, alguns autores, sugerem doses
de 40 mg/kg de ácido eicosapentaenoico e 25 mg/kg
de ácido docosahexaenóico para cães com anorexia
e caquexia. Os efeitos colaterais da suplementação são relatados como letargia, prurido, vômitos,
diarreia e urticária. A superdosagem pode causar
diminuição da agregação plaquetária e aumento do
tempo de coagulação (PIBOT et al., 2008).
NECESSIDADES DE
MICRONUTRIENTES
Sódio
Muitos processos que envolvem membranas são
controlados pelo equilíbrio entre os íons de íons de
sódio, cloro e potássio presentes. Em muitas situações, o desequilíbrio desses mecanismos favorece
a retenção de sódio (hipernatremia) determinando
acúmulo excessivo de líquido no corpo (ETTINGER e
FELDMAN, 2008).
A taxa reduzida de excreção de sal, que ocorre
em casos crônicos, progride à medida que a cardiopatia se agrava. Está comprovado que a instituição
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precoce da restrição dietética de sódio pode retardar
o agravamento da doença cardíaca. No entanto,
cães sadios, geriátricos, que foram alimentados com
dietas contendo níveis baixos de sal, desenvolveram
aumento discreto na atividade de renina plasmática
e de aldosterona. Em outro estudo, cães ao serem
submetidos à dieta com restrição do sódio precocemente, juntamente com uma terapia diurética,
tiveram os sistemas nervoso simpático e renina-angiotensina-aldosterona ativados a fim de conservar
o sódio corporal por meio da redução de excreção
renal, resultando assim no equilíbrio hidroeletrolítico (GOLDSTON e HOSKINS, 1999; ETTINGER e FELDMAN, 2008).
A instituição de restrição de sódio na dieta como
ferramenta clínica é dividida em três níveis, sendo
a restrição discreta ou reduzida, de 3,5 a 6,5 mg/kg;
moderada, de 2,5 a 3,5 mg/kg e rigorosa, de 1 a 3 mg/
kg (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
Todavia, a troca completa da ração não deve ser de
forma abrupta e sim de modo gradual. Inicia-se selecionando uma dieta com baixo teor de sódio. Os alimentos
destinados a animais com insuficiência renal são uma
alternativa, pois possuem restrição moderada de sódio
e são palatáveis (GOLDSTON e HOSKINS, 1999).
Potássio
O potássio é um elemento principalmente intracelular, presente em maior concentração nas células
musculares e nervosas. Participa da manutenção do
equilíbrio hidroeletrolítico, na contração muscular,
no funcionamento cardíaco e na transmissão dos
impulsos nervosos (CUNNINGHAM, 2002). É absorvido no intestino delgado e, hormônios
como epinefrina, insulina e aldosterona, são responsáveis por manter os níveis séricos em níveis basais e,
também por aumentar sua captação para o músculo
esquelético, fígado, ossos e glóbulos vermelhos
(DOUGLAS, 2006).
A deficiência de potássio (hipocalemia) deve ser
evitada, pois pode agravar a arritimogênese, diminuir a contratilidade miocárdica, induzir a fraqueza
muscular e pode potencializar ou induzir toxicidades
relacionadas a fármacos (digoxina, diuréticos, antiarrítmicos) (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
Magnésio
O magnésio é mineral constituinte de tecidos moles
e duros. Participa de sistemas enzimáticos, como na
ATPase, hexoquinase, oxidase pirúvica etc. Além disso,
faz parte dos íons que participam dos processos de excitabilidade da membrana (DOUGLAS, 2006).
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Cão boxer, idoso, portador cardiopatia.
A concentração plasmática de magnésio pode diminuir pela ação excessiva de diuréticos. Assim como o potássio, a deficiência de magnésio (hipomagnesemia) causa distúrbios eletrolíticos que podem agravar a arritmia,
diminuir a contratilidade miocárdica e induzir a fraqueza
muscular e pode potencializar ou induzir toxicidades relacionadas a fármacos (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
TERAPIA NUTRICIONAL
COADJUVANTE
Vitaminas e antioxidantes
A suplementação vitamínica deverá ser indicada quando houver perda associada com diurese e
alteração de absorção gastrintestinal (MAGNONI e
CUKER, 2002).
O betacaroteno é um potente sequestrador do
oxigênio, principalmente em situações de baixa
pressão (BORGES et al., 2003).
A vitamina E é o antioxidante potente que interrompe a cadeia de peroxidação lipídica. Protege os lipídeos poli-insaturados da lesão pelos radicais livres;
reduz a adesão e a agregação plaquetária; inibe os
fatores de coagulação dependentes de vitamina K,
bem como a estimulação da produção de endotelina
e atenua a inibição da produção de óxido nítrico. Para
conservar sua eficácia, a vitamina E requer a presença
da vitamina C (BORGES et al., 2003).
O fornecimento mínimo recomendado de vitamina E, para obtenção do efeito antioxidante é de 50
mg por quilo de matéria seca; entretanto, tal dosagem
ainda não está bem estabelecida. A suplementação de
vitamina C, em dosagens de 3 e 0,5 g dia, não mostra
efeito adverso. Porém, a utilização por longos períodos pode aumentar o risco de urolitíase por cálculos
de oxalato de cálcio (BORGES et al., 2003).
Pesquisas recentes mostram que a coenzima Q10
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Nutrição
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(ubiquinona), presente no tecido animal, participa de algumas reações metabólicas incluindo ciclo de Krebs, possui
ação antioxidante e faz parte
da bomba sódio-potássio,
importante na prevenção de
doenças cardíacas (FREEMAN,
2008; PIBOT et al., 2008). A
dose recomendada é de 30 ou
90 mg por via oral, duas vezes
por dia (MAGNONI e CUKER,
2002; FREEMAN, 2008).
Cão cardiopata portador de ascite e edema de extremidades.
FORNECIMENTO
DE ÁGUA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A água da dieta é uma fonte significativa de ingestão
de sódio. Por tal motivo, a água fornecida deve ser purificada (ionizada) ou destilada (ETTINGER e FELDMAN, 2008).
O objetivo da terapia nutricional em cães cardiopatas é potencializar o tratamento médico, influenciando tanto na decisão terapêutica imediata, como
no prognóstico em longo prazo.
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RODRIGUES, MFG. Cardiomiopatia dilatada em cães – revisão. Rio de Janeiro, 2008.
50p. Dissertação. Universidade Castelo
Branco.
Dados dos Autores
Daniele Danezi Savio
Graduanda de Medicina Veterinária, Universidade Anhembi Morumbi
[email protected]
Roberto Andrade Bordin
Médico Veterinário, CRMV-SP nº 12.809, MSc, DSc, docente na Universidade Anhembi Morumbi
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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Clínica Médica
HIPERTENSÃO INTRA-ABDOMINAL E
SÍNDROME COMPARTIMENTAL EM CÃES
Apesar de esses termos serem ainda pouco
à hipertensão intra-abdominal e à síndrome do comconhecidos na Medicina Veterinária, eles são de
partimento abdominal (SCA). A pressão na cavidade
fundamental importância para o manejo de algumas
abdominal é geralmente próxima de zero, sendo consiafecções em pacientes críticos. Muito se sabe sobre
derada normal até 10 mmHg, principalmente no períoa pressão arterial, pressão venosa central, pressão
do pós-operatório imediato de intervenções cirúrgicas
intracraniana, entre outras; no entanto, quando
abdominais. Níveis de pressão sustentada acima de 12
falamos de pressão intra-abdominal (PIA), muitos
mmHg caracterizam HIA e quando os valores enconquestionamentos ainda surgem em relação às suas
tram-se acima de 20 mmHg associada a pelo menos
aplicabilidades e às consequências.
uma disfunção orgânica, tem-se um quadro de SCA,
A cavidade abdominal é um compartimento com
necessitando de descompressão abdominal imediata
complacência limitada por possuir paredes rígidas
(Quadro 1). Em maio deste ano, ocorreu na Colômbia
(arcos costais, coluna vertebral e pelve) e flexíveis
um encontro com expertises sobre o assunto, que pu(parede abdominal e diafragma). O comprimento
blicarão em breve novo consenso sobre o tema.
dessas paredes e o volume dos órgãos contidos deEm cães, a PIA normal foi descrita por Conzemius
terminam a pressão dentro do abdômen em detere colaboradores (1995) quando se encontra entre 0 e
minado momento. A pressão no estado estacionário
3,75 mmHg (0 e 5 cmH2O), e relataram seu aumento de
até 11,25 mmHg (15 cmH2O) em cães após ovariohistedentro da cavidade abdominal, que aumenta com a
rectomia. Outro estudo revelou valores de PIA, em cães
inspiração (contração diafragmática) e diminui com
saudáveis, entre 3,23 a 8,05 cmH2O e, em gatos saudáveis
a expiração (relaxamento do diafragma) é definida
valores médios de 4,4 cmH2O (LOPES, 2010) e, por fim, a
como PIA (CHEATHAM, 2009).
mensuração da PIA em 29 cães também saudáveis, eviA PIA é influenciada pelo índice de massa corpodenciou valores entre 0 e 4,3 cmH20, com média de 1,79
ral, pela posição do paciente, atividade muscular da
cmH20 (BACCHI, 2011). Como não existe consenso sobre
parede abdominal e pela respiração. Essa pressão é
o tema na Medicina Veterinária, as definições e valores
afetada diretamente pelo volume dos órgãos ocos e
são os mesmos determinados pela WSACS.
maciços do abdôdem, pela presença de ar ou efusão
A WSACS também determinou a pressão de perfuabdominal, bem como pela capacidade de distenção
são abdominal (PPA), que é igual à pressão arterial méabdominal (CASTELHANOS et al., 2007). O aumento
dia (PAM) menos a PIA (PPA=PAM-PIA) e é uma medida
de volume em qualquer um dos seus conteúdos
que reflete a perfusão dos órgãos abdominais. Segundeterminará aumento nessa pressão, prejudicando
do An e West (2008), a PPA deve ser compreendida da
a circulação sanguínea e, dessa forma, alterando a
mesma maneira que a pressão de perfusão cerebral é
função e ameaçando a vitalidade dos tecidos (CHEN
utilizada nos casos de hipertensão intracraniana.
et al., 2008).
O conceito de hipertensão intra-abdo- Quadro 1. Definições de hipertensão intra-abdominal e síndrome do compartimento abdominal para
minal (HIA) foi introduzido na literatura de seres humanos da Sociedade Mundial de Síndrome de Compartimento Abdominal (WSACS).
forma concreta no início de 1980; porém,
CONDIÇÃO
MENSURAÇÃO DA PIA
com o advento dos procedimentos cirúrNormal
< 12 mmHg
gicos laparoscópicos, os estudos sobre o
HIA
tema cresceram de forma expressiva nos
Grau I
12-15 mmHg
últimos 15 anos. Na Medicina Veterinária,
Grau II
16-20 mmHg
o primeiro trabalho sobre PIA e HIA data de
Grau III
21-25 mmHg
1995 (CONZEMIUS et al., 1995) e os estudos
Grau IV
> 25 mmHg
sobre o tema permanecem escassos.
SCA
DEFINIÇÕES
Em 2006, a Sociedade Mundial de Síndrome do Compartimento Abdominal
(WSACS) publicou as definições associadas
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
> 20 mmHg + disfunção orgânica
ou
< 60 mmHg PPA + disfunção orgânica
HIA – hipertensão intra-abdominal
SCA – síndrome do compartimento abdominal
PPA – pressão perfusão abdominal (pressão arterial média – PIA)
67
Clínica Médica
DIAGNÓSTICO
O método-padrão ouro para mensuração
da PIA faz-se por intermédio de uma sonda uretral de Foley conectada a um transutor de pressão (mmHg) ou a uma coluna de água (cmH20)
(MALBRAIN et al., 2006; CHEATHAM, 2009).
Os primeiros estudos para determinar
a PIA foram realizados com manômetros
de água, com resultados apresentados em
cmH20. Estudos subsequentes utilizando-se
transdutores eletrônicos de pressão determinaram a PIA em mmHg (1mmHg=1,36
cmH20), e atualmente é a unidade recomen- Figura 1. Visão esquemática do sistema de aferição da pressão intra-abdominal de uma fêmea da
dada pela WSACS. A unidade mais usada em espécie canina em decúbito dorsal. Notar o ponto zero como a linha da sínfise púbica.
Medicina Veterinária é em cmH20, provavemente
devido a seu baixo custo e maior facilidade em detria montagem desse sistema, faz-se o esvaziamento
mento da utilização de um dispositivo eletrônico.
da bexiga seguido de infusão de 1 mL/Kg de solução
A WSACS recomenda a instilação de, no máximo,
salina a 0,9% para adequar o volume de acordo com
25 mL de solução salina estéril através da sonda de
o porte do animal. Passado um minuto, abre-se a
Foley, devendo as mensurações ser realizadas de
torneira de três vias a fim de comunicar o equipo de
forma seriada, iniciando após um minuto da instilaPVC à sonda uretral permitindo que o fluido vesical
ção de solução na bexiga, para que a musculatura
encontre-se em equilíbrio com o volume contido na
detrusora acomode-se ao volume e não interfira
coluna métrica. O ponto zero do manômetro marca
nos valores da PIA. Variações da PIA diante de suaves
o nível da sínfise púbica do animal. Após a estabicontrações abdominais confirmam que existe boa
lização do menisco da coluna de solução salina, o
fidelidade de transdução da pressão (de WAELE et al.,
valor deve ser registrado baseado na altura da coluna
2009). Essa recomendação de volume fixo não é adeem relação ao ponto zero (KRON et al., 1984; LOPES,
quada em Medicina Veterinária, pois o tamanho de
2010; BACCHI, 2011).
bexiga é muito variável, especialmente nos cães, deOs sinais clínicos de SCA incluem abdômen tenso
vido à multiplicidade de raças e de portes. Infusão de
e distendido, aumento da PIA, função renal dimivolume em excesso pode acarretar superestimação
nuída, hipóxia e ventilação inadequada, tendendo
da PIA, devido à hiperdistensão da bexiga, podendo
todas essas variáveis a cessar após laparotomia deslevar à contração muscular por deflagrar o reflexo de
compressiva (AN e WEST, 2008).
micção (KIMBALL et al., 2009).
FISIOPATOLOGIA
Durante a mensuração, pessoas devem estar em
Inúmeras consequências negativas desenvoldecúbito dorsal e para o cão aceita-se o decúbito lavem-se com o aumento da PIA (Tabela 1), pois essa
teral e dorsal. Segundo Drellich (2000), o ponto zero
pressão é transmitida para espaços e cavidades adda coluna de água é a altura da sínfise púbica para os
jacentes, reduzindo o débito cardíaco, restringindo
cães. O consenso de HIA determina para pessoas a
a ventilação pulmonar, diminuindo a função renal,
linha axilar média e mudanças na posição do corpo
a perfusão visceral e aumentando a pressão intra(ou seja, deitado, de bruços, a cabeça da cama elevacraniana (SCHEIN, 2006). Villaça e Mantovani (2006)
da), contrações musculares do detrusor da bexiga e
demonstraram, experimentalmente, que os cães sodos músculos abdominais podem ter impacto sobre
frem alterações similares aos seres humanos quando
a precisão das aferições (DE WAELE et al., 2009).
a PIA encontra-se acima de 20 mmHg.
A determinação da PIA pode ser realizada com o
HIA resulta em alterações hemodinâmicas deanimal em decúbito lateral ou dorsal, utilizando-se o
vido a alterações na pré-carga, pós-carga e pressão
método de sondagem vesical com uma sonda uretral
intratorácica (MALBRAIAN et al., 2005). A pré-carga
(com diâmetro ideal para cada animal), sob técnica
diminui devido à redução do retorno venoso para o
asséptica, acoplada a uma torneira de três vias, a qual
coração pela compressão da veia cava e veia porta, o
deve estar conectada a uma coluna de água, dividida
que também leva à diminuição do débito cardíaco. O
em cmH20 e a um equipo de macrogotas vinculado a
bolsa coletora de urina (Figuras 1 e 2). Após finalizada
aumento da pressão intratorácica pelo descolamen-
68
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
to cranial do diafragma e a transmissão da pressão intra-abdominal para a cavidade torácica inibem o enchimento ventricular durante a diástole. O aumento
da pressão intratorácica vai interferir na aferição da
pressão venosa central, que pode ser elevada apesar
da marcada hipovolemia. A diminuição do retorno
venoso também pode causar acúmulo de sangue
nas veias e nos órgãos abdominais (AN e WEST, 2008).
A disfunção respiratória é resultado direto do
deslocamento cranial do diafragma, resultando em
compressão extrínseca do parênquima pulmonar.
Como resultado da compressão parenquimatosa
pulmonar, tem-se atelectasia alveolar, diminuição
do transporte de oxigênio, uma fração de shunt
intrapulmonar, redução do fluxo sanguíneo capilar,
levando à diminuição da eliminação do dióxido de
carbono e aumento do espaço alveolar morto. Em
conjunto, todos esses efeitos levam à hipoxemia e à
hipercapnia arterial (CHEATHAM, 2009).
Alterações renais, manifestadas por oligúria e
anúria têm sido demonstradas em modelos animais
e humanos há décadas e são o resultado de uma
combinação de redução de débito cardíaco com
diminuição do fluxo sanguíneo renal, compressão de
vasos e parênquima renais, aumento da resistência
vascular renal e redistribuição do fluxo sanguíneo no
interior desse órgão (MALBRAIAN et al., 2005). PIA entre 9,75 e 15 mmHg (10 e 20 cmH20) demonstraram
diminuir a taxa de filtração glomerular e pressões
superiores a 18,75 mmHg (25 cmH20) resultaram em
oligúria e anúria em cães (JOUBERT et al., 2007).
De todos os sistemas, o intestinal parece ser um
dos mais sensíveis às elevações da PIA, que quando
se apresenta maior que 20 mmHg (27,2 cmH20) acar-
Figura 2. Cateterização uretral. A sonda uretral de PVC está acoplada a uma torneira
de três vias, a qual está conectada a um equipo de macrogotas vinculado a uma bolsa
coletora de urina (seta vermelha) e a uma coluna de água a partir de um equipo de PVC
(seta amarela).
reta redução significativa na perfusão dos capilares,
levando à isquemia tecidual e à liberação dos mediadores inflamatórios. Essas moléculas aumentam a
permeabilidade capilar e levam a extravasamento de
líquidos para o espaço extravascular, contribuindo
para o aumento do líquido abdominal, causando elevação adicional da PIA, perpetuando o ciclo vicioso
que resulta em piora da perfusão, isquemia intestinal, redução do pH da mucosa, intolerância alimentar, acidose metabólica sistêmica e aumento significativo da mortalidade (AN e WEST, 2008; KIMBALL,
2006). Segundo Lattuada e Hedenstierna (2006), um
fator adicional que contribui para o ciclo HIA/SCA
está relacionado ao comprometimento do fluxo lin-
Tabela 1. Tabela-resumo com as consequências da hipertensão intra-abdominal. (Adaptada de Schein, 2006)
Pressão arterial média
Frequência cardíaca
Pressão nas vias aéreas
Pressão torácica
Pressão venosa central
Pressão capilar pulmonar
Pressão na veia cava
Pressão na veia renal
Débito cardíaco
Retorno venoso
Fluxo de sague visceral
pH da mucosa gástrica
Fluxo sanguíneo renal
Taxa de filtração glomerular
Pressão intracraniana
Complacência da parede abdominal
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Aumento
X
X
X
X
X
X
X
X
-
Diminuição
X
X
X
X
X
X
X
Nenhuma alteração
X
-
69
Clínica Médica
fático e consequente aumento do edema intestinal.
A má perfusão intestinal tem sido apontada como
possível mecanismo para perda de barreira e posterior desenvolvimento da translocação bacteriana,
sepse e falência múltipla de órgãos (KIMBALL, 2006).
Artéria e veias hepáticas e o fluxo da veia porta
estão reduzidos pela presença de HIA. O fluxo da
artéria hepática é diretamente afetado pela diminuição do débito cardíaco. O fluxo venoso portal e
hepático estão diminuídos como resultado da compressão extrínseca do fígado e pelo estreitamento
anatômico das veias hepáticas que passam pelo
diafragma (CHEATHAM, 2009).
Pressão e perfusão cerebrais podem estar comprometidas diante de HIA. A pressão intracraniana
aumenta e pode resultar na redução da perfusão
cerebral. Os mecanismos já propostos incluem diminuição do fluxo sanguíneo venoso do plexo lombar
(levando à maior pressão do líquido cerebroespinhal), aumento da pressão parcial de dióxido de carbono (resultando em aumento do fluxo sanguíneo
cerebral), e diminuição do retorno venoso cerebral
devido à alta pressão intratorácica (MUIR, 2006).
Alterações hormonais foram associadas à PIA de
80 mmHg (108,8 cmH20) em cães, como no aumento
plasmático do hormônio antidiurético, que foi atribuído à redução do débito cardíaco. Em suínos, foi
demonstrado aumento da renina plasmática quando
submetidos à HIA de 34 cmH20. Ambas as alterações
hormonais foram completamente revertidas pela descompressão abdominal (LE ROITH et al., 1982).
ETIOLOGIA
Várias são as causas de aumento da PIA em seres
humanos, incluindo hemorragia intra-abdominal,
pancreatite, choque séptico, edema visceral, dilatação gástrica, obstrução intestinal, neoplasias abdominais, redução de grandes hérnias, fechamento
de laparotomia por tensão, pneumoperitôneo em
procedimentos laparoscópicos e, até mesmo, a infusão agressiva de fluidos colóides em pacientes hipovolêmicos (COHEN et al., 2003; HUNTER e DAMANI,
2004; PRADO et al., 2005). No entanto, a maioria dos
estudos sugere que a maior incidência de HIA é observada em pacientes que tenham sofrido intervenção cirúrgica abdominal, principalmente se evoluírem com hemorragia ou se estiver relacionado com
traumatismo abdominal grave (HUNTER e DAMANI,
2004; VON BAHTEN e GUIMARÃES, 2006).
Em Medicina Veterinária, poucos estudos que tratam da etiologia do tema foram realizados até o momento, no entanto assumem-se as mesmas causas
70
de SCA relatadas em seres humanos. Já foi descrito
que ascite, hemorragia abdominal, dilatação e vôlvulo gástrico, herniorrafia diafragmática e edema visceral podem culminar com HIA em cães (CONZEMIUS et
al., 1995; JOUBERT et al., 2007; LOPES, 2010).
TRATAMENTO
A máxima no tratamento da SCA é a prevenção.
Conhecer os fatores de risco e estabelecer a etiologia
da SCA permite identificar pacientes de risco, por intermédio da monitoração da PIA. Isso facilita a instituição de medidas preventivas e corretivas diante da
detecção da HIA, antes que a SCA desenvolva-se. A
escolha das estratégias terapêuticas está fortemente
relacionada à etiologia da HIA/SCA do paciente, bem
como sua condição clínica (AN e WEST, 2008).
Terapia clínica recomendada pelo consenso da
WSACS para diminuição da PIA incluem paracentese,
descompressão gástrica (aspiração nasogástrica),
descompressão retal (enemas, tubo retal), sedação,
bloqueio neuromuscular, agentes pró-cinéticos
(metoclopramida, cisaprida), diuréticos (furosemida) e colóides. O tratamento definitivo nos casos de
insucesso do manejo clínico de redução da PIA é a
descompressão cirúrgica por laparotomia (de WAELE
et al., 2009).
Em pacientes que sofreram intervenções cirúrgicas abdominais, o melhor método para prevenir a
SCA é retardar o fechamento da cavidade, diante de
situações sabidamente conhecidas como capazes de
provocar HIA, especialmente em pacientes com injúria abdominal traumática (MENTULA e LEPPÄNIEMI,
2010). O método mais utilizado é a aplicação da bolsa
de Bogotá (BATACCHI et al., 2009). Drenagem peritoneal aberta tem sido descrita para cães e gatos como
terapia única nos casos de HIA/SCA (LANZ, 2001).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos, a medicina de animais de companhia foi marcada por avanços tecnológicos, aperfeiçoamento do atendimento emergencial e monitoramento do paciente crítico, porém a inclusão da
mensuração da PIA em situações que predispõem a
SCA é raramente realizada, conferindo ao paciente
grandes possibilidades de evoluir para falência orgânica e óbito, sem diagnóstico prévio da alteração
abdominal. Mesmo na Medicina, há evidências de falhas no conhecimento dos consensos sobre o tema e
a realização de diagnóstico e tratamento adequados.
Pouco há descrito sobre o tema em Medicina Veterinária, portanto há ainda a necessidade de se apoiar
nas definições e conceitos da WSACS para a ­­realização
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
de estudos que sejam capazes de determinar o melhor método para mensuração da PIA em cães e gatos,
confirmando se o volume de 1mL/kg para preenchimento vesical é o mais adequado, além de identificar
os fatores de risco e a prevalência de HIA e SCA nessas
espécies. Os esforços para obtenção desses dados são
fundamentais para orientar e alertar os profissionais
para a existência dessa condição e a importância do
seu tratamento. Até o momento, sabe-se que os valores normais da PIA para cães estão entre 0 e 5 cmH20.
Sugere-se que sejam realizados estudos que esclare-
çam se a PIA tem relação direta com o peso ou somente com escore corporal dos animais.
Apesar de a terapia intensiva estar sendo exaustivamente estudada em animais de companhia, o
estudo da PIA e das suas implicações estão sendo
negligenciados pelos Médicos Veterinários, devido à
carência de informações sobre o tema. Faz-se necessária a realização de estudos adicionais nessa área e
a difusão do conhecimento, objetivando identificar
uma condição clínica que até pouco tempo era desconhecida e que representa alta taxa de mortalidade.
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Dados DA AUTORA
Rebeca Bacchi Villanova
Médica Veterinária, CRMV-PR nº 7470
MSc, docente de Clínica Médica de Animais de Companhia da Faculdade Evangélica do Paraná.
[email protected]
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
71
Doença infecciosas
Encefalopatias espongiformes
transmissíveis:
recomendações de biossegurança
para a manipulação de amostras
Arquivo do Autor
Portas herméticas em corredor de laboratório de alta segurança. Lanagro/MG.
As encefalopatias espongiformes transmissíveis
(EETs) constituem um conjunto de complexas doenças neurodegenerativas transmissíveis, com longos
períodos de incubação e invariavelmente fatais, que
acometem homem e animais. O agente etiológico
é uma partícula proteica denominada príon (proteinaceous infectious particle) ou PrP (prion protein
– PRUSINER, 1982) sendo formada após a conversão
de uma glicoproteína da membrana plasmática de
células normais, de função ainda desconhecida, chamada PrPc (“c” significa celular, ou seja, própria das
células normais). Dessa forma, a PrPc é transformada
no príon (denominada de PrPSC, onde sc significa
scrapie), que se acumula no sistema nervoso central
(SNC) e induz a doença. Neste contexto, o protótipo
(padrão) das doenças priônicas é a scrapie (prurido
lombar ou paraplesia enzoótica dos ovinos), enfermidade que acomete ovinos e caprinos, sendo a
primeira a ser associada aos príons. Juntamente com
a scrapie, destaca-se a variante bovina, conhecida
como encefalopatia espongiforme bovina (BSE – popularmente conhecida como doença da vaca louca),
pela importância econômica e potencial zoonótico.
72
Dadas as particularidades dessas doenças, tanto
em relação às características das enfermidades priônicas, à transmissibilidade,
dificuldade de diagnóstico
ante mortem, alta resistência do agente infectante aos
métodos convencionais de
descontaminação química
e ao calor e resistência às
proteases (CDC, 2009) e
à degradação ambiental
(BROWN; ABEE, 2005), as
EETs animais tornaram-se
foco importante de restrições no comércio internacional e impulsionaram recomendações de vigilância
epidemiológica e biossegurança pelos órgãos internacionais de referência à saúde humana (OMS) e animal
(OIE). Neste contexto, em maio de 2012, o Brasil recebeu
o status de risco negligível para BSE pela OIE.
O diagnóstico da BSE é usualmente realizado
após o período de incubação da doença e morte
do animal (OIE, 2002), havendo métodos rápidos
(triagem), como Elisa e Western Blotting (que usam
tecidos frescos, não fixados), e os métodos tradicionais e necessários para a confirmação dos casos, a
histopatologia e a imunohistoquímica (considerada como método-padrão ouro), ambos utilizando
amostras fixadas em formol (FAO, 2007). No caso de
bovinos, a maior concentração de príons encontrase no sistema nervoso central (SNC), sendo, portanto, a investigação diagnóstica e a manipulação de
amostras as atividades ocupacionais de maior risco.
O único fator de risco definido na transmissão das
doenças priônicas é a inoculação ou ingestão de tecidos ou homogenatos contaminados, estando a infectividade presente em altos níveis no cérebro e demais
órgãos do SNC e em menores níveis em outros tecidos,
como baço, linfonodos, timo, intestino, pulmão, músculo esquelético, língua, medula óssea e sangue (CDC,
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
2009). Assim, a regra de ouro para a segurança ocupacional nas atividades envolvidas com as EETs é evitar,
durante a manipulação de amostras (seja esta durante
a coleta e/ou manipulação dentro do laboratório), a
ocorrência de injúrias penetrantes, a contaminação
de feridas cutâneas e a ingestão acidental (BROWN e
ABEE, 2005).
REQUISITOS DE BIOSSEGURANÇA
Devido ao seu potencial zoonótico, o príon causador da BSE está incluído no grupo de risco 3; consequentemente, o nível de contenção necessário às
atividades relacionadas à manipulação de animais
doentes ou suspeitos, bem como de tecidos potencialmente contaminados (como nos casos de vigilância epidemiológica), requerem medidas de segurança compatíveis com essa classificação (ACDP,
2003), sendo necessariamente de nível 3 para
laboratórios de referência (FAO, 2007). Entretanto,
após uma análise de risco, tomando-se como base
as condições sanitárias do país, as características do
trabalho realizado (tipo, tecido amostrado, natureza da manipulação e quantidade manipulada), alguns requisitos pertinentes ao nível 3 não precisam
necessariamente ser implementados (VLA, 1999;
ACDP, 2003; OMS, 2004; GAVIER-WIDÉN et al., 2005;
FAO, 2007; OIE, 2011).
Considerando a possibilidade dessa adaptação, mormente pelo baixo risco (mas não inexistente) de infecção pela via inalatória e a alta
resistência do príon aos desinfetantes comumente
utilizados, a categoria de risco é por vezes denominada 3** (FAO, 2007) ou também “L3-BSE” (LEUN-
DA-CASI et al., 2009). Como já mencionado, com
apoio de uma análise de risco, alguns requisitos
do nível 3, como o diferencial de pressão entre salas, a filtragem de ar exaurido por filtros tipo high
efficiency particulate air filter (HEPA) e a selagem
da sala para fumigação, podem não ser implementados (ACDP, 2003; LEUNDA-CASI et al., 2009). Por
outro lado, embora a infecção via aerossóis não
tenha sido confirmada, a utilização de diferencial
de pressão na sala tem sido considerada altamente recomendável para prevenir a disseminação de
ar contaminado para outras áreas do laboratório e
para evitar a disseminação de odores de substâncias químicas (CFIA, 2011).
No caso da scrapie, pela ausência de conexão
com a doença humana, a variante infectante foi
incluída na categoria de risco 2, embora tal classificação esteja em debate pelos achados de ovinos
infectados com a variante bovina, havendo a possibilidade que passe a ser classificada também como
categoria de risco 3 (OIE, 2011).
Segundo o Advisory Committee on DangerousPathogens (ACDP, 2003), as condições requeridas para
laboratórios níveis 2 e 3 são semelhantes, sendo os
pontos diferentes relacionados à forma de gestão, à
necessidade de treinamento especial e ao grau de supervisão, além de requisitos físicos específicos. No caso
das EETs, os gestores devem garantir a capacitação e o
treinamento de pessoal para atividades que envolvam
risco de infecção e a sua apropriada supervisão.
De acordo com o Centers for Disease Control and
Prevention (CDC, 2009), a abordagem mais prudente
em laboratórios envolvidos com príons é, no mínimo,
Quadro 1. Classificação dos requisitos físicos para laboratórios de diagnóstico post mortem das EETs em mandatório (M) ou recomendado (R) – CFIA, 2011.
Item
1
Requisito
Classificação
Localização e acesso
1.1
Acesso liberado apenas a pessoas autorizadas.
M
1.2
Portas que permitam restrição de acesso por meio de sistema.
M
1.3
Portas das salas com sinalização apropriada.
M
1.4
Entrada via antessala.
R
1.5
Entrada que permita a separação de roupas pessoais daquelas dedicadas ao trabalho.
M
1.6
Área de escritório deve ser localizada fora do perímetro de contenção.
M
1.7
Abertura de portas suficiente para permitir a passagem de equipamentos de trabalho.
M
2
Superfícies (acabamento)
2.1
Portas e batentes devem ser de acabamento sólido e não absorvente.
M
2.2
Superfícies internas (pisos, paredes, bancos etc.) devem ser não absorventes e resistentes a métodos de descontaminação, por exemplo, com hipoclorito de sódio e hidróxido de sódio.
M
2.3
Pintura/revestimento devem ser passíveis de limpeza.
M
2.4
Superfícies interiores devem ser contínuas.
M
2.5
Superfícies interiores devem ser resistentes a impactos, de acordo com a função.
M
2.6
Continuidade deve ser mantida entre o piso e parede.
M
2.7
Piso antiderrapante.
R
3
3.1
Perímetro de contenção
Todas as entradas mecânicas, elétricas e de serviços devem ser seladas e localizadas abaixo da superfície de trabalho para
facilitar e garantir a descontaminação.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
M
73
dOENÇAS INFECCIOSAS
3.2
Janelas seladas no local e material do envidraçamento que promova nível adequado de segurança.
M
3.3
Autoclave capaz de atingir temperatura mínima de 134°C ou 121°C, no caso de protocolo em duas etapas (químico e calor).
M
3.4
Autoclave com porta dupla localizada no perímetro de segurança.
R
3.5
Autoclave fora do perímetro de segurança – estabelecer procedimento rigoroso de controle de resíduos para o transporte de resíduos ou materiais em recipientes resistentes a impacto e vazamento até a autoclave.
M
3.6
O corpo da autoclave deve ser localizado fora da contenção a fim de facilitar a manutenção.
R
3.7
A autoclave localizada no perímetro deve ser equipada com um mecanismo de intertravamento para prevenir que as
duas portas abram simultaneamente.
R
3.8
Autoclave deve possuir instrumento para registro do ciclo (tempo, temperatura e pressão).
M
3.9
Área para descontaminação de materiais e equipamentos.
R
3.10
Outras tecnologias para descontaminação (tanque de imersão química, incinerador, hidrólise alcalina) presentes no
perímetro de contenção.
R
3.11
Se não for possível a instalação de outras tecnologias para descontaminação, então, procedimentos rigorosos de transporte dos resíduos até esses sistemas devem ser adotados.
M
4
4.1
Prover ventilação adequada para o uso de substâncias cáusticas.
M
4.2
Laboratório equipado com uma cabine de segurança biológica.
M
4.3
Escolha da cabine de segurança biológica baseada em análise de risco.
M
4.4
Cabine de segurança biológica com sistema bag-in/bag-out.
R
4.5
Quando não for possível dispor de cabine segurança biológica com sistema bag-in/bag-out, deve ser estabelecido procedimento para retirada segura do filtro HEPA.
M
4.6
Fornecimento e exaustão de ar não podem interferir com a operação da cabine de segurança biológica e capela de exaustão.
M
4.7
Sistema de exaustão de ar deve ser independente de outras áreas.
R
5
Infraestrutura
5.1
Drenos separados dos níveis menores de contenção, ou seja, conectados a um sistema de tratamento de efluentes.
R
5.2
Ralos devem ser instalados apenas quando for essencial.
R
5.3
Válvula de controle de suprimento da água deve ser localizada fora do laboratório.
R
5.4
Cilindros de gás comprimido (com exceção de extintores de incêndio) devem estar localizados fora do perímetro de contenção.
R
5.5
Pias de higienização pessoal devem estar localizadas próximas ao ponto de saída ou na antessala.
R
5.6
Pias de higienização pessoal devem ter capacidade de ser operadas sem o uso das mãos.
R
5.7
Lava-olhos emergencial deve estar localizado na contenção.
M
5.8
Chuveiro de emergência deve estar localizado na contenção.
M
5.9
No-breaks devem estar localizados fora do período de contenção.
R
5.10
Sistema de comunicação deve ser providenciado entre o exterior e interior do laboratório.
M
Sistemas eletrônicos para transferência de informação e dados para o exterior da área de contenção.
R
5.11
6
74
Sistema de tratamento de ar
Requisitos gerais
6.1
Pessoal do laboratório deve demonstrar competência na manipulação de tecidos e materiais contaminados.
M
6.2
Todos os protocolos específicos para a operação do laboratório devem ser desenvolvidos, lidos e compreendidos pelo
pessoal. Esses protocolos incluem procedimento de entrada e saída de pessoas, equipamentos, amostras e resíduos.
M
6.3
Desenvolvimento e aplicação de protocolos para a correta descontaminação de todos os resíduos do laboratório, equipamentos e do espaço físico.
M
6.4
Pessoal do laboratório deve ser treinado no uso seguro de equipamentos de segurança, cabines e procedimentos para
redução da produção de aerossóis, descontaminação e resposta emergencial no caso de acidentes.
M
6.5
Protocolo de segurança deve ser desenvolvido, estar acessível e comunicado para o caso de inoculação acidental ou exposição a boca e olhos. Treinamento nessa aplicação deve estar documentado.
M
6.6
Feridas e outras soluções de continuidade devem ser protegidas com material à prova de água.
M
6.7
Comer, beber, fumar, armazenar alimentos ou aplicar cosméticos são atividades proibidas na área de contenção.
M
6.8
Cabelos longos devem ser presos.
M
6.9
Portas do laboratório devem permanecer fechadas para controlar o acesso. A entrada no laboratório deve ser documentada (logbook).
M
6.10
Os equipamentos usados em atividades relacionadas às EETs devem, na medida do possível, serem dedicados; caso contrário, um protocolo de descontaminação efetiva deve ser colocado em prática.
M
6.11
Roupas pessoais devem ser separadas daquelas dedicadas ao trabalho no laboratório.
M
6.12
A seleção de EPIs apropriados vai depender da quantidade e natureza do material infeccioso, bem como dos procedimentos a serem utilizados.
M
6.13
Uma análise de risco deve ser realizada no laboratório para identificar riscos e desenvolver práticas de trabalho seguras
que incluem o uso apropriado de EPIs.
M
6.14
Ao entrar no laboratório, devem ser retiradas jóias e bijuterias e vestidos aventais (frente fechada), luvas, propés ou
sapatos dedicados. Em geral, aventais de frente sólida são preferíveis aos aventais normais para prevenção de contaminação da roupa. De preferência, esses materiais devem ser descartáveis.
M
6.15
Dupla luvagem deve ser realizada na manipulação de materiais infectantes, bem como ser colocada cobertura de manga
descartável.
M
6.16
Proteção completa de face deve ser utilizada, como óculos de proteção e máscara, sempre que for realizado procedimento que possa
produzir partículas; na ocorrência destas, os EPIs devem ser descontaminados.
M
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
6.17
Cortes e punções devem ser evitados pela utilização mínima de materiais cortantes e colocação de luvas de proteção a cortes.
M
6.18
Procedimentos que possam gerar aerossóis ou respingos, como a clivagem de tecidos, devem ser realizados em cabines
de segurança biológica.
M
6.19
Para minimizar a contaminação da superfície de trabalho da cabine de segurança biológica, os procedimentos devem ser
realizados em recipientes ou sobre cobertura absorvente que possa ser incinerada após o uso e que não interfira com o funcionamento da cabine.
M
6.20
Quando houver a manipulação de material sabidamente positivo, deve ser considerado o descarte de insumos permanentes (como pinças e moldes de inclusão).
M
6.21
Luvas externas devem ser removidas ainda no interior da cabine de segurança biológica.
M
6.22
As superfícies de trabalho devem ser descontaminadas ao fim do trabalho com os materiais suspeitos, e as coberturas
descartadas apenas quando o trabalho terminar, sendo que as absorventes devem ser descontaminadas previamente.
M
6.23
O trabalho no micrótomo deve ser realizado em área dedicada e com baixo trânsito de pessoas; a área ao redor deve ser
reduzida e durante a microtomia o técnico deve utilizar propés que devem ser descartados; uma alternativa é adotar procedimento efetivo para evitar a dispersão dos resíduos do corte do bloco de tecido com parafina.
M
6.24
A limpeza de rotina do laboratório deve ser efetuada pelas pessoas que trabalham na contenção ou por pessoal dedicado
e treinado a realizar essa tarefa.
M
6.25
A área do laboratório deve ser mantida livre de objetos desnecessários ao trabalho ou daqueles cuja descontaminação
seja difícil de ser realizada.
M
6.26
A elaboração de relatório e outros papéis de trabalhos devem ser mantidos separados das áreas onde materiais infectantes são manipulados.
M
6.27
Todo material contaminado deve ser transportado em recipientes fechados resistentes à quebra, quando não em uma
cabine de segurança biológica.
M
6.28
Mãos devem ser lavadas depois da remoção das luvas internas e antes de deixar o laboratório.
M
6.29
Quando aventais descartáveis não são vestidos, vestimentas contaminadas devem ser descontaminadas antes de serem
lavadas.
M
6.30
Deve ser realizada a verificação da eficácia das autoclaves, usando indicador de temperatura apropriado. Os resultados devem
ser mantidos em arquivo, incluindo os registros dos ciclos (por exemplo, tempo, temperatura e pressão).
M
6.31
Materiais sensíveis ao calor, que não podem ser autoclavados, devem ser descontaminados no perímetro de contenção.
M
6.32
Um inventário de controle positivo deve ser mantido e documentado. O acesso a esse material deve ser controlado.
M
6.33
Os protocolos devem ser estabelecidos antes do início dos trabalhos, sendo o treinamento do pessoal um aspecto crítico
e que pode envolver o trabalho inicial com tecidos não infectados.
M
6.34
Relatórios detalhados dos processos de certificação e de testes devem ser mantidos.
M
o trabalho em nível 2 de biossegurança, usando
as práticas pertinentes ao nível 3. Por outro lado, o
Canadian Food Inspection Agency (CFIA, 2011) e
a FAO (2007) recomendam que os laboratórios de
diagnóstico das EETs trabalhem em nível mínimo de
segurança 2, com requisitos adicionais (Quadro 1),
dos quais se destacam:
a) a entrada do laboratório deve permitir a separação dos EPIs da roupa do técnico, preferencialmente em uma ante-sala;
b) as superfícies de trabalho devem ser não porosas, passíveis de limpeza e resistentes aos
procedimentos de descontaminação;
c) o uso de cabine de segurança biológica com
sistema bag-in/bag-out é recomendável e,
se não for possível, deve ser estabelecido
procedimento de contenção para a remoção
segura do filtro HEPA;
d) a autoclave deve ser idealmente localizada
no laboratório; caso contrário, protocolos
adequados para a identificação do resíduo
gerado (incluindo a indicação dos parâmetros de tratamento) e o transporte seguro
deles devem ser estabelecidos;
e) os equipamentos e materiais usados no laboratório devem ser, na medida do possível, de
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
uso dedicado, descartáveis (no caso de materiais) e serem submetidos a procedimentos
efetivos de descontaminação;
f) no caso de manipulação de tecidos suspeitos,
embora não seja necessário o tratamento de
efluentes, é recomendável que procedimentos operacionais adequados para coleta e
tratamento sejam adotados como medida de
precaução em virtude de um caso positivo ser
confirmado.
Para a FAO (2007), a orientação é a de que, além dos
procedimentos gerais de proteção, algumas recomendações, sejam também observadas. (Quadro 2)
Para o transporte, o material infectante deve
estar acondicionado de forma robusta, segura e
encontrar-se apropriadamente identificado, sendo somente manipulado no interior da cabine de
segurança biológica. De forma ideal, as amostras
devem ser armazenadas no laboratório onde serão
manipuladas (ACDP, 2003).
Em relação à proteção individual do operador, devese ter em mente que as conseqüências a curto e longo
prazos da exposição das mucosas oral e nasal ao príon
não são conhecidas e a infecção inalatória ou por ingestão indireta de aerossóis contaminados não podem
ser totalmente descartadas (LEUNDA-CASI et al., 2009).
75
dOENÇAS INFECCIOSAS
Quadro 2. Alguns critérios de biossegurança, segundo a FAO (2007).
Recomendações
Observações
Os laboratórios envolvidos com BSE devem possuir uma área de trabalho A antessala criada por essas duas portas pode também ser usada como
separada, com acesso restrito e documentado, feito por meio de portas vestiário, sendo que a porta externa deve conter o símbolo de perigo
duplas.
biológico.
As superfícies do laboratório devem ser resistentes a ácidos, bases e As superfícies devem ser regularmente submetidas a procedimentos
desinfetantes
agressivos de descontaminação;
O laboratório deve possuir cabine de segurança biológica classe II B2,
com sistema vertical de fluxo de ar ascendente e filtros compatíveis com Filtros Hepa ou Ulpa.
as menores partículas possíveis
Uso de equipamentos e materiais de uso dedicado ou descartáveis
Recomendação para evitar a contaminação cruzada.
Presença de uma autoclave capaz de atingir temperaturas superiores A autoclave deve estar presente, idealmente no laboratório ou, no mínia 134°C.
mo, na mesma instalação.
O pessoal do laboratório deve colocar luvas de proteção antes de adentrar no recinto e outros equipamentos de proteção individual (EPIs) Esses paramentos não devem sair do laboratório, a menos para o descartambém devem ser utilizados, incluindo jalecos, óculos de proteção ou te final e somente com autoclavação prévia.
protetores de face, sapatos dedicados ou propés.
Uso de dupla luvagem e o uso de mangotes durante a manipulação na Para prevenção de qualquer contato entre a amostra e a vestimenta do
cabine de segurança biológica
técnico.
O laboratório deve garantir o nível de qualidade e segurança padrão,
O laboratório deve seguir as boas práticas microbiológicas e estabelecer
um programa de garantia da qualidade.
Todos os materiais que tenham contato com amostras devem ser con- A descontaminação é, portanto, uma etapa imprescindível, havendo
siderados contaminados, o que implica que tudo que tiver de sair do procedimentos específicos para resíduos sólidos, líquidos, instrumentos
laboratório deve ser previamente descontaminado.
ou equipamentos ou superfícies.
Assim, no contexto laboratorial, o treinamento dos
envolvidos na manipulação de tecidos e fluidos, potencialmente contaminados, é essencial (CFIA, 2011), a fim
de evitar a emissão de aerossóis ou gotículas. Além disso, é altamente recomendada a utilização de EPIs para
evitar a exposição acidental (CDC, 2009), como luvas de
procedimento, de proteção a cortes, de proteção química, mangotes, avental, toucas, propés e máscaras, de
preferência, confeccionados em material descartável
(CDC, 2009; CFIA, 2011).
DESCONTAMINAÇÃO
A conformação estrutural do príon é a responsável pela sua particular resistência aos métodos
de descontaminação química e física, usualmente
empregados em laboratórios biológicos (OMS,
2004, LEUNDA-CASI et al., 2009), havendo, ainda,
diferenças entre as diversas variantes de príons
quanto ao grau de resistência à inativação por
proteases ou ao calor (LEUNDA-CASI et al., 2009).
De qualquer forma, a irradiação, fervura, autoclavação ao ciclo de 121°C, por 18 minutos ou o emprego de seis ciclos sucessivos de três minutos são
ineficientes (CDC, 2009; LEUNDA-CASI et al., 2009).
Ressalte-se a permanência ambiental do príon,
que pode sobreviver no solo por pelo menos três
anos (BROWN e ABEE, 2005).
Outro ponto crítico consiste no fato de que a fixação de tecidos em formaldeído ou glutaraldeído e a
inclusão em parafina mantêm a infectividade do príon por muito tempo, quiçá indefinidamente (OMS,
1999; VLA, 1999; LEUNDA-CASI et al., 2009).
76
Todas essas particularidades, associadas ao
fato de que a proteína priônica tem alta afinidade
e forte ligação a materiais de aço inoxidável, fazem
com que o processo de descontaminação seja
alvo de grande debate, com o foco voltado para o
uso de altas temperaturas e substâncias químicas
corrosivas. Nesse sentido, a associação desses
métodos físicos e químicos é o que tem sido mais
frequentemente defendida como a de maior eficiência na descontaminação de príons (CDC, 2009;
LEUNDA-CASI et al., 2009).
É importante ressaltar que mesmo as técnicas
de descontaminação combinadas e reconhecidas
como mais eficientes não eliminam totalmente a
infectividade residual, sendo apenas a destruição
por incineração, em temperaturas superiores a
1.000°C, a forma segura de eliminação total do
príon (OMS, 1999; CDC, 2009). A incineração é,
portanto, a opção de descontaminação de escolha
para todos os instrumentos e materiais descartáveis e para os resíduos, notadamente os tecidos
com alta infectividade (OMS, 1999).
Vale salientar que os processos químicos efetivos
de descontaminação apresentam riscos ocupacionais e são extremamente corrosivos para a maioria
dos materiais e superfícies empregados em laboratório e, por isso, é aconselhável que sejam empregados materiais descartáveis na rotina (Quadro 3).
Quando não é possível, recomenda-se que os
materiais sejam mantidos úmidos até a limpeza
e descontaminação, sejam rapidamente limpos
para evitar que o biológico resseque e que não haja
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Quadro 3. Eficácia de agentes químicos e físicos na descontaminação de príons (BROWN e ABEE, 2005).
Métodos químicos
Ineficazes
Parcialmente eficazes
Eficazes
Álcool
Dióxido de cloro
Hipoclorito de sódio
Amônia
Glutaraldeído
Hidróxido de sódio (1-2 N)
β-propiolactona
Iodóforos
Ácido fórmico (100%)
Detergentes
Tiocianato de guanidina (4M)
Óxido de etileno
Dicloroisocianurato de sódio
Formaldeído
Metaperiodato de sódio
Ácido hidroclórico
Ureia (6-8M)
Peróxido de hidrogênio
Ácido peracético
Permanganato
Fenólicos
Métodos físicos
Fervura (100 °C)
Calor úmido (121°C)
Calor úmido (134°C)
Radiação de micro-ondas
Calor seco (300°C)
Calor seco (>600°C)
Radiação UV
Radiação ionizante (≥50 kg)
mistura de materiais empregados em tecidos potencialmente contaminados com os demais (OMS, 1999;
LEUNDA-CASI et al., 2009).
PROCESSAMENTO
HISTOPATOLÓGICO
Entre as recomendações específicas para o
processamento histopatológico, está a necessidade de descontaminação das amostras pós-fixadas
em formol, sendo usualmente recomendado o ácido fórmico para essa finalidade (OMS, 1999; ACDP,
2009b; VLA, 2009), pois reduz a infectividade da
amostra a níveis negligenciáveis e, apesar de os
fragmentos tenderem a tornarem-se friáveis, há
boa preservação da morfologia histológica (OMS,
1999). Esse procedimento não deve ser realizado
em tecidos frescos (apenas nos pós-fixados em
formol), nem em tecidos previamente expostos a
fenol, que interage deleteriamente com o ácido
fórmico (ACDP, 2009a; ACDP, 2009b).
Caso esse procedimento não seja realizado, as
amostras são consideradas infectantes durante todo
o procedimento, desde a fixação até a montagem
das lâminas e os instrumentos utilizados no processamento devem ser de uso dedicado (exclusivo), já
que não há procedimento factível para sua descontaminação (OMS, 1999). Nesse caso, também, após a
colocação da lamínula, as lâminas devem necessariamente ser descontaminadas externamente e rotuladas como material infectante e, no caso de dano ou
quebra, devem ser descontaminadas e encaminhadas para incineração (OMS, 1999).
De forma geral, as amostras são clivadas em
fragmentos de 4 a 5 mm e são imersas em ácido
fórmico 98% por 30 minutos a uma hora (tempo
preferencial), sob agitação suave e exaustão, e, em
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
seguida, devem ser mantidas em formaldeído 10%
tamponado por 45 a 48 horas antes do processamento (OMS, 1999; ACDP, 2003; OMS, 2004; ACDP, 2009b;
CDC, 2009). Segundo a FAO (2011), os fragmentos
clivados e colocados nos cassetes devem ser imersos
em ácido fórmico e mantidos sob agitação durante
uma hora; em seguida, devem ser enxaguados em
água destilada corrente por, no mínimo, 15 minutos
e, então, recolocados em solução fresca de formol e
mantidos por cerca de 12 horas (overnight). A solução
de ácido fórmico utilizada no procedimento pode ser
reutilizada três vezes antes do descarte.
Após o tratamento com ácido fórmico, os tecidos podem ser processados e manipulados sob
as mesmas precauções de rotina das outras amostras; pode ser utilizado um micrótomo não dedicado (não exclusivo) para a microtomia dos blocos
de parafina, mas a navalha deve ser descartável e
retirada antes da utilização em outro tipo de material. Os debris resultantes desse procedimento
devem ser retirados e encaminhados para incineração (ACDP, 2009b). Outra prática recomendável
é a de realizar a descontaminação das lâminas
prontas com o ácido fórmico, antes que sejam
retiradas do ambiente laboratorial de contenção
(GAVIER-WIDÉN et al., 2005).
O resíduo líquido, como o formol utilizado na
remessa das amostras, deve ser coletado em um
recipiente com capacidade para 4 litros que, inicialmente, contenha 600 mL de hidróxido de sódio 6N
(CDC, 2009). Os frascos que acondicionam as amostras fixadas em formol devem também ser fechados
apropriadamente, descontaminados, selados em sacos plásticos, rotulados com a indicação de material
infectante e armazenados separadamente. Para manuseio da amostra, o frasco deve ser colocado sobre
77
dOENÇAS INFECCIOSAS
Quadro 4. Procedimentos de descontaminação de instrumentos, equipamentos, materiais e superfícies.
Recomendações
Observações
Imersão em hidróxido de sódio 1N, aquecimento em autoclave
gravitacional (gravity displacement autoclave) a 121°C 30 minutos;
a limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional
(OMS, 1999; CDC, 2009).
O utensílio utilizado para imersão dos materiais e autoclavação deve ser
tampado e capaz de coletar o vapor condensado de hidróxido de sódio;
também, deve-se evitar o derrame dessa solução no interior do equipamento e serem adotadas medidas de proteção ocupacional durante o
procedimento e retirada do material da autoclave (BROWN et al., 2004);
Imergir em hidróxido de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm)
por uma hora. Transferir para água destilada e para autoclave gravitacional
a 121°C por uma hora.
A limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional
(OMS, 1999; CDC, 2009)
Imergir em hidróxido de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm)
por uma hora. Enxaguar em água destilada, transferir para um recipiente aberto e autoclavar a 121°C em autoclave gravitacional ou 134 °C em
autoclave do tipo porous load por uma hora.
A limpeza, enxague e esterilização são feitas da forma convencional
(OMS, 1999; CDC, 2009)
Imergir em hidróxido de sódio e fervura por 10 minutos a pressão
atmosférica.
A limpeza, enxague e esterilização de forma convencional (OMS, 1999)
Imergir em hipoclorito de sódio (preferência) ou hidróxido de sódio (alternativa) à temperatura ambiente por uma hora.
A limpeza, enxague e esterilização de forma convencional (OMS, 1999)
Autoclavar a 134°C, durante 18 minutos - essa forma pode não ser efetiva nos piores cenários, como, por exemplo, quando há o endurecimento e ressecamento do tecido sobre a superfície (OMS, 1999).
Outras referências (VLA, 1999; ACDP, 2009a) recomendam autoclavar
a 134-138°C por 18 minutos a 30 lb/in ou seis ciclos sucessivos de três
minutos cada, ressaltando que no limite inferior da faixa de temperatura a
inativação do agente pode não ser completamente efetiva.
Resíduos de bancada descartáveis (tais como luvas e aventais) devem ser autoclavados (tipo porous load) a 134-137°C em ciclo único
de 18 minutos ou em 6 sucessivos ciclos de 3 minutos cada, seguido
de incineração (OMS, 2004).
Superfícies ou instrumentos sensíveis ao calor podem ser tratados com
hidróxido de sódio 2N ou hipoclorito de sódio (20.000 ppm) por uma hora
(ou overnight para equipamentos).
Assegurar que a superfície mantém-se úmida durante todo o processo
e em seguida, enxaguar com água. Antes do tratamento químico, recomenda-se que a contaminação grossa da superfície seja reduzida, com
retirada do excesso de material orgânico, já que isso reduz a força das
soluções anteriores (OMS, 1999; VLA, 1999; CDC, 2009).
Resíduos líquidos potencialmente contaminados com príons devem
ser tratados com hipoclorito de sódio (20.000 ppm) durante uma hora.
Solução desinfetante fenólica (como a Environ LpH®) pode ser usada em
superfícies laváveis, duras, não porosas (como chão, placas, equipamentos), itens (como instrumentos não descartáveis, lâminas) e/ou resíduos de
soluções laboratoriais, como a formalina (CDC, 2009).
Pequenos materiais (secos), resistentes a hidróxido de sódio ou hipoclorito de sódio, imergir em uma dessas soluções anteriores e autoclavar (tipo porous load) a 121°C por uma hora.
No caso de grandes materiais (secos) ou materiais de qualquer tamanho
não resistentes às soluções anteriores, autoclavar a 134°C por uma hora.
Quadro 5. Procedimentos de descontaminação, divididos por grupos, segundo a FAO (2007).
Grupo
78
Procedimento
A
Resíduos sólidos: devem ser coletados em lixeiras fechadas, com pedal; em seu interior devem ser utilizados sacos de lixo autoclaváveis, identificados com o símbolo de risco biológico. A lixeira deve ser esvaziada em intervalos regulares e o transporte do saco de lixo
até a autoclave realizado com procedimento validado, podendo ser identificados pontos críticos nesse trajeto, os quais devem ser
analisados e adaptados corretamente. Os resíduos sólidos devem ser autoclavados a 134°C a 3 bar de pressão, durante uma hora (ou
outra circunstância internacionalmente aceita) ou incinerados.
B
Resíduos líquidos: devem ser incinerados ou autoclavados sob as mesmas condições empregadas nos resíduos sólidos, na
medida do possível. Entretanto, nos casos em que não for possível autoclavar ou incinerar, o resíduo líquido deve ser descontaminado com solução de hidróxido de sódio, por uma hora, de forma que a concentração final (da solução de hidróxido de sódio
+ resíduo líquido) esteja em 2N.
C
Instrumentos: sempre que possível, os instrumentos devem ser autoclavados. Caso não seja possível, devem ser imersos durante uma hora em hipoclorito de sódio 4% ou hidróxido de sódio 2N (atentar para a possibilidade de dano ao instrumento pelo
caráter altamente oxidativo).
D
Equipamentos e superfícies: a única forma de descontaminação de grandes equipamentos e superfícies é colocando-os em
contato com papel toalha embebido com hipoclorito de sódio 4% ou hidróxido de sódio 2N durante uma hora; em seguida,
devem ser enxaguados com água para neutralização. No caso do laboratório em si (como paredes, piso, prateleiras) devem ser
descontaminados em períodos regulares. A cabine de segurança biológica deve ser descontaminada, sempre, após cada uso
usando as soluções citadas anteriormente.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
material descartável, onde deve ser realizada toda
manipulação do tecido; a área e o frasco serão descontaminados e o frasco colocado em um novo saco
plástico para o correto armazenamento (OMS, 1999).
PROCEDIMENTOS DE
DESCONTAMINAÇÃO
No caso de instrumentos, equipamentos, materiais e superfícies, os seguintes métodos de inativação do príon, descritos no Quadro 4, são aplicáveis.
Sendo assim, materiais de laboratório reutilizáveis devem ser imersos em solução fresca de hipoclorito de sódio (1:5) ou hidróxido de sódio 1N, devendo ser mantidos pelo menos durante uma hora
(ou, se possível, overnight); devem ser abundantemente enxaguados em água corrente antes de
serem embalados para autoclavação a 134-138°C
por, pelo menos, 20 minutos; essa combinação de
métodos físicos e químicos é recomendável para
todos os materiais contaminados, independente
do tipo de tecido animal envolvido (alta ou baixa
infectividade) (BROWN e ABEE, 2005).
Segundo a FAO (2007), os procedimentos de descontaminação a serem adotados são divididos em
quatro grupos conforme explicitado no Quadro 5.
O Quadro 6 mostra alguns procedimentos de descontaminação e descarte sugeridos pela ACDP (2009b).
No caso do CFIA (2011), as recomendações
publicadas são semelhantes às da FAO, uma vez
que estão baseadas nas diretrizes da OMS, ressaltando-se que não há método validado para testar
a ação de desinfetantes contra príons (Quadro 7).
Quadro 6. Procedimentos de descontaminação e descartes para laboratórios de diagnóstico das EETs (ACDP, 2009b).
Item
Ação
Tempo de contato
Tecidos fixados em formol
Imersão em ácido fórmico 96%.
Vestimenta descartável
Disposição em dupla ensacagem e incineração.
-
Navalhas e instrumentos
descartáveis
1. Descontaminação com hidróxido de sódio 2M;
60 minutos
Instrumentos de metal não descartáveis
Superfícies
2. Coleta em recipiente adequado, dupla ensacagem e envio para incineração.
1. Imersão em hidróxido de sódio 2M;
60 minutos
60 minutos
2. Autoclavação a 134°C.
3 minutos
1. Descontaminação com hidróxido de sódio 2M;
60 minutos
2. Em seguida, enxague abundante;
-
Xilol, clorofórmio, água contaminada, líquidos Absorção em serragem em recipiente tampado resistente à combustão,
contaminados (como formol, solventes)
dupla ensacagem e envio para incineração.
-
1. Se os tecidos foram descontaminados com ácido fórmico, proceder como
qualquer outro material de uso em Patologia;
-
2. Se os tecidos não foram descontaminados com ácido fórmico, colocar em
recipiente resistente, com tampa e envio para incineração.
-
Se forem utilizados após a descontaminação das amostras, nenhum procedimento especial é necessário.
-
Resíduos de parafina
de microtomia
Equipamentos especiais de patologia
Quadro 7. Procedimentos de descontaminação, segundo CFIA (2007).
Material
Procedimento
Tecidos infectados
Incineração a 850°C ou a hidrólise alcalina.
Lixo sólido
Incineração a 850°C (altamente recomendado); a autoclavação a 134°C por uma hora e o
tratamento químico com hidróxido de sódio ou hipoclorito de sódio (em seguida, deve-se
transferir para água antes de autoclavar a 121°C).
Instrumentos descartáveis
Incineração a 850°C; a limpeza completa do material, seguida da imersão em hipoclorito
de sódio (2% de cloro disponível), durante uma hora a 20°C e, então, o descarte; a limpeza
mecânica do material, imersão em hidróxido de sódio 2M, durante uma hora a 20°C e,
em seguida, o descarte; a limpeza mecânica do material, seguida da autoclavação a 134138°C por uma hora e, então, descarte.
Toalhas e papéis usados para secar instrumentos limpos
Devem ser tratados como resíduos sólidos.
Instrumentos permanentes
(devem ser mantidos umedecidos no período de
tempo entre a exposição ao material infectante
e a realização do procedimento de limpeza e
descontaminação)
Limpeza mecânica do material, incineração em hipoclorito de sódio (2% de cloro disponível), durante uma hora a 20°C; a limpeza completa do material, imersão em hidróxido
de sódio 2M, durante uma hora a 20°C, seguida de enxague em água e, então, autoclavação a 134-138°C por 18 minutos; a limpeza completa do material, imersão em hidróxido
de sódio 1N ou hipoclorito de sódio (2% de cloro disponível), durante uma hora, enxague
com água, seguida de transferência para água e autoclavação a 121°C por uma hora.
Líquidos
Autoclavação a 134°C, uma hora; a incineração a 850°C ou a mistura com hipoclorito de sódio
até concentração final que contenha cloro (2% de cloro disponível), durante uma hora.
Superfícies
Limpeza mecânica seguida da aplicação abundante de solução de hipoclorito de sódio
(2% de cloro disponível) e manutenção por uma hora a 20°C para, então, seguir o enxague com água; a limpeza mecânica seguida da aplicação abundante de hidróxido de
sódio 2M, manutenção por uma hora a 20°C e enxague com água.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
79
dOENÇAS INFECCIOSAS
Quadro 8. Recomendações sobre os cuidados com as soluções de descontaminação, tipos de autoclaves utilizadas e cuidados pessoais.
Tópico
Observações
Familiarizar-se
com os químicos
Observar as guias de segurança para o trabalho, lendo cuidadosamente as fichas de segurança e os
rótulos dos produtos e usando EPIs apropriados para prevenção de exposição química.
Hidróxido de sódio.
O hidróxido de sódio 1N reage com o CO2 formando carbonatos que neutralizam o hidróxido de sódio
e reduzem a sua eficácia, devendo, portanto, ser preparado imediatamente antes do uso; por outro
lado, a solução de hidróxido de sódio 10N não reage com o CO2, podendo servir como solução estoque para o preparo da solução a 1N. Essas soluções devem ser mantidas em frascos âmbar, fechados
e apropriadamente identificados e preparadas antes de cada uso. O hidróxido de sódio pode ser corrosivo para alguns tipos de aço inoxidável (deve-se testar antes do uso) e sabidamente corrosivo para
vidro, alumínio e zinco.
Hipoclorito de sódio
No caso do hipoclorito de sódio, a exposição à luz e ao ar reduz o cloro disponível. Desta forma, essas
soluções devem ser mantidas em frascos âmbar, fechados e apropriadamente identificados e preparadas imediatamente antes de cada uso. A solução estoque tem um prazo de validade de até duas a três
semanas. O hipoclorito de sódio não é corrosivo para vidro e alumínio, mas é corrosivo para metais
e aço inoxidável (pode ser usado no máximo até 5.000 ppm) e para autoclaves e não pode ser usado
nos banhos destinados a autoclavação (diferentemente do hidróxido de sódio). Outro ponto crítico
é o fato de ser incompatível com álcool, ácidos e formaldeído, havendo risco de explosão. Caso seja
utilizado para limpar instrumentos ou materiais, estes devem ser enxaguados completamente antes
da autoclavação.
O hidróxido de sódio é cáustico, mas tem ação relativamente lenta à temperatura ambiente, podendo ser removido da pele ou da roupa pelo enxague com água. Por outro lado, a solução aquecida de
hidróxido de sódio é agressivamente cáustica e somente deve ser manipulada após o resfriamento.
Pode liberar partículas que são perigosas e irritantes.
Cuidados pessoais
O hipoclorito de sódio elimina cloro constantemente e deve ser mantido em frasco completamente
fechado e ao abrigo da luz. O total de cloro liberado durante o procedimento de descontaminação
pode ser o suficiente para criar dano respiratório, a menos que seja realizado em local bem ventilado
ou isolado.
Autoclaves
Autoclaves gravitacionais são utilizadas na descontaminação geral e esterilização de soluções e instrumentos; as autoclaves do tipo porous load são otimizadas para a esterilização de instrumentos limpos, roupas, panos, toalhas e outros materiais secos (como os de uso cirúrgico), não sendo adequadas
para a esterilização de líquidos.
Para descontaminação de amplas áreas ou de cabines de segurança biológica, a fumigação com formaldeído não deve ser utilizada, já que pode ampliar
a resistência do príon (LEUNDA-CASI et al., 2009). Em
contrapartida, segundo a OMS (2004), a utilização de
vaporização com formaldeído deve ser considerada
para fins de inativação de outros possíveis agentes
patogênicos presentes nas amostras manipuladas.
Assim, as superfícies de trabalho das cabines de
segurança biológica devem ser recobertas por material descartável, descontaminadas com hidróxido
de sódio 1N e enxaguadas com água e o filtro HEPA
ensacado e incinerado (CDC, 2009), a pelo menos
1.000°C (OMS, 2004).
Vale, ainda, destacar as recomendações sobre
os cuidados com as soluções de descontaminação
e tipos de autoclaves utilizadas (OMS, 1999; ACDP,
2003; ACDP, 2009a; CFIA, 2011 – Quadro 8).
80
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dadas as particularidades das encefalopatias espongiformes transmissíveis (EETs), tanto em relação
às próprias características das enfermidades priônicas, tais como a transmissibilidade, a dificuldade de
diagnóstico antemortem, a alta resistência do agente
infectante aos métodos convencionais de descontaminação química e física usualmente empregados
em laboratórios, associado ao fato de que a fixação
de tecidos em formaldeído ou glutaraldeído e a inclusão em parafina mantém a infectividade do príon,
e que a proteína priônica tem alta afinidade e forte
ligação a materiais confeccionados com aço inoxidável, torna-se extremamente relevante que os laboratórios envolvidos com a manipulação de amostras de
tecidos animais, potencialmente contaminadas com
príons, avaliem as recomendações internacionais de
biosseguranca aplicáveis.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
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terrestrial-manual/access-online/>. Acesso
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docs/sci_tse_rl_prp_ihc.pdf>. Acesso em:
5 ago. 2011.
VLA. Veterinary Laboratories Agency.
TSE EU Community Reference Laboratory. BSE and scrapie: guidelines on safe
working procedures in histopathology
laboratories and post-mortem rooms.
1999. Disponível em: < http:// http://
http://www.rlc.fao.org/es/prioridades/
transfron/eeb/pdf/vet.pdf>. Acesso em:
8 ago. 2011.
Dados dos Autores
Dario Abbud Righi
Médico Veterinário – CRMV-MG nº 13048
Laboratorio Nacional Agropecuário
de Minas Gerais (Lanagro/MG)
[email protected]
Ricardo Aurélio Pinto Nascimento
Médico Veterinário, CRMV-MG nº 4352. Lanagro/MG
Fabiana Galtarossa Xavier
Médico Veterinário, CRMV-MG nº 12734. Lanagro/MG
Jorge Caetano Junior
Médico Veterinário, CFMV-DF nº 0554. Mapa, DF
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Pedro Moacyr Pinto Coelho Mota
Médico Veterinário, CRMV-MG nº 0961. Lanagro/MG
81
opinião
RECONHECER AS PRESSÕES SOCIAIS
EM PROL DO BEM-ESTAR ANIMAL E AS
POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS DE IGNORÁ-LAS
Maria Jose Hötzel
Médica Veterinária – CRMV-SC nº 3791
Mestrado em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e
Doutorado e Pós-doutorado em Ciência Animal pela The University of Western Australia.
Professora da Universidade Federal de Santa Catarina.
Segundo Marian Dawkins, os principais desafios
impostos aos cientistas que atuam na questão do bem
-estar animal podem ser sintetizados em: os animais
têm consciência? Como avaliar o bem-estar animal?
Na prática, como usar a ciência para melhorar o bem
-estar animal? Mesmo com as limitações científicas
para demonstração da existência de consciência em
animais, existem evidências de que, em algum grau
e de alguma forma, os animais possuem consciência
de sofrimento e prazer. Também, nas últimas décadas,
houve avanço no desenvolvimento e validação de
metodologias para avaliar o bem-estar animal, que
permitem identificar pontos positivos e aqueles a melhorar nas práticas de manejo. E, em relação ao terceiro
desafio, esforços têm sido investidos no desenvolvimento de alternativas para promover o bem-estar
dos animais aliado às expectativas da sociedade e a
realidade dos sistemas de produção. Porém, a relação
das práticas desenvolvidas e validadas para melhorar
o bem-estar e os sistemas de criação animal é, no mínimo, tímida, e certamente aquém das expectativas
daqueles preocupados com os animais usados para
produzir alimentos.
A pesquisa científica, por meio de metodologias
interdisciplinares, pode ajudar-nos a identificar e
compreender as barreiras para a adoção de práticas que promovem o bem-estar animal. Citaremos
como exemplo a descorna de bezerros, uma vez
que são crescentemente questionadas pela sociedade aquelas práticas que causam dor. Em resposta,
a ciência tem avançado, e a literatura científica
82
evidencia que a descorna causa dor e estresse ao
bezerro e que é possível evitá-los. A descorna gera
mudanças no comportamento e fisiologia, que podem persistir por 24 horas ou mais, ocasionar perda
de peso, e pode, ainda, resultar em estados emocionais negativos ao bezerro.
Alternativas de manejo, eficazes para prevenir
ou minimizar a dor, são a escolha da idade e método
apropriados associadosà recursos farmacológicos.
Mesmo assim, em vários países, em muitas propriedades, bezerros de aptidão leiteira, são descornados
por técnicas inadequadas, em idades inapropriadas
e sem tratamento da dor.
Uma conclusão natural é que tanto produtores quanto profissionais não se importam com o
bem-estar desses animais. No entanto, a situação
é complexa, como evidenciado em pesquisas realizadas com agricultores e extensionistas (Médicos
Veterinários, Agrônomos e Técnicos Agrícolas) em
Santa Catarina, por meio de questionários online e
abordagens qualitativas da Sociologia e da Psicologia Social para investigar o conhecimento, as crenças
e o comportamento em relação a descorna de bezerros leiteiros. Em especial, foi avaliado o papel dos
profissionais da extensão na aprovação ou rejeição
de estratégias para mitigação da dor na descorna.
Cerca de 99% dos técnicos acreditam que os
animais sentem dor, e afirmam que eles deveriam
estar livres desse sentimento e do estresse submetido
durante a criação. Por outro lado, manifestam que o
método de descorna com ferro quente provoca pouca
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
Arquivo da autora
Descornas realizadas com uso de pasta (esquerda) e ferro quente (direita)
dor e por “pouco tempo”. Também, apesar da demonstração de conhecimento dos métodos existentes para
minimizar a dor, eles recomendam ou usam o método
de cauterização com ferro quente, sem medicação associada, que foi descrito como o método mais eficaz,
mais barato, mais seguro e mais rápido de descorna de
bezerros, e o mais desejado pelos produtores.
Os técnicos descrevem como obstáculos às
práticas capazes de minimizar a dor o aumento
dos custos e do trabalho, além da expectativa de
resistência dos produtores, o que apontam como
ameaça ao seu próprio emprego. Enfatizam que
os pecuaristas não aceitam mudanças nas práticas
que acarretem falta de retorno econômico ou resultem em aumento de mão de obra. Entretanto, essa
avaliação realizada pelos técnicos parece estar influenciada pelas suas próprias atitudes em relação à
criação animal, que são orientadas prioritariamente
para o aumento da produção.
Apesar do relatado, os agricultores e técnicos
ouvidos nas pesquisas, expressaram sentimentos
em relação à dor e ao sofrimento dos seus animais, e
referem-se a eles como indivíduos e às vezes, os chamam por nome: “para poder conversar sobre eles” ou
“porque demonstra o nosso carinho”.
Pesquisas realizadas na Europa mostram que Médicos Veterinários tendem a superestimar a produção
e o desempenho financeiro pelos pecuaristas, em
detrimento de ações por bem-estar animal, e geneRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013
ralizam a crença da barreira econômica. Produtores
afirmaram que a descorna com ferro quente e sem
mitigação da dor é a única alternativa apresentada
pelos técnicos desde que esses, algumas décadas
atrás, introduziram a prática da descorna na região. É
interessante que os técnicos justificaram a sua recomendação nas suas percepções sobre a receptividade
dos agricultores às alternativas, e não em experiências
concretas de rejeição dos agricultores às alternativas.
Agricultores e técnicos concordaram que a descorna é prática essencial na atividade leiteira, mas
ambos parecem ignorar a rejeição do consumidor às
práticas que causam dor. Essas práticas foram mencionadas somente por alguns técnicos, e avaliadas
como pouco impactantes nas suas decisões de manejo. Para mediar os possíveis conflitos, os técnicos
precisam reconhecer as pressões sociais em prol do
bem-estar animal e as possíveis consequências de
ignorá-las. A crescente conscientização do consumidor sugere um cenário emergente de crescente
pressão social para incorporar bem-estar animal às
práticas de produção. Essa pressão da comunidade
internacional (Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura), já influencia o Brasil a
preparar legislação específica. Mas são importantes
ações relacionadas a programas de extensão rural,
inserindo políticas que considerem a promoção do
bem-estar como meta dos programas de assistência
técnica e financiamento rural.
83
Conselhos Regionais de Medicina Veterinária
Acre
Rua Peru nº 515 Conjunto Habitasa, Quadra F, Casa
25 – Bairro Cerâmica – 69905–106 – Rio Branco/AC
(68) 3224–5570
[email protected]
Espírito Santo
Rua Cyro Lima, 125 – Enseada do Suá – 29050-230
– Vitória/ES
(27) 3324-3877
www.crmves.org.br – [email protected]
Alagoas
Rua 26 de Abril, 299 – Bairro Poço – 57025–570 –
Maceió/AL
(82) 3221–2086
crmv–[email protected]
Goiás
Av. Universitária, nº 2169, Qd. 113–A, Lts. 7–E, St.
Leste Universitário – 74610-100 – Goiânia/GO
(62) 3269-6500
www.crmvgo.org.br – [email protected]
Amapá
Rua Hamilton Silva, 2441–A – Bairro do Trem –
68902-010– Macapá/AP
(96) 3225-1861
[email protected]
Maranhão
Rua Astolfo Marques nº 57 – Apeadouro
65036-070 – São Luís/MA
(98) 3243-2833
www.crmvma.org.br
[email protected]
Amazonas
Rua B, Qd. 03, Casa 01, Conjunto Jardim Yolanda –
Parque Dez – 69055-090 – Manaus/AM
(92) 3236–1813
www.crmvam.org.br – [email protected]
Bahia
Estrada de São Lázaro, 21/23 – Bairro Federação –
40210-630 – Salvador/BA
(71) 3082-8188
www.crmvba.org.br – [email protected]
Ceará
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60115-280 – Fortaleza/CE
(85) 3272-4886
www.crmv-ce.org.br – [email protected]
Distrito Federal
SCS Quadra 1, Bloco “E”, Edifício Ceará – 14º andar
– 70303-900 – Brasília/DF
Tel: (61) 3223-5802
www.crmvdf.org.br – [email protected]
84
Mato Grosso
Rua Batista das Neves, nº 649 – Centro Norte –
78005-190 – Cuiabá/MT
(65) 3634-2534
www.crmv-mt.org.br – [email protected]
Mato Grosso do Sul
Rua Brilhante nº 1989 – Vila Bandeirantes
79006-560 – Campo Grande/MS
(67) 3331-1655
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Minas Gerais
Rua Platina, nº 189 – Prado – 30411-131
Belo Horizonte/MG
(31) 3311-4100
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Pará
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(91) 3249-0444
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Paraíba
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Rondônia
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76820-876 – Porto Velho/RO
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Paraná
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80040-200 – Curitiba/PR
(41) 3263-2511
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Roraima
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Pernambuco
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50711-030 – Recife/PE
(81) 3797-2517
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Santa Catarina
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Piauí
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Tocantins
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Mantenha seus dados atualizados em seu
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85
Publicações
Fundamentos do comportamento canino e felino
Ceres Beger Faraco e Guilherme Marques Soares
Editora MedVet
www.medvetlivros.com.br
Os problemas de comportamento são motivos frequentes de consulta ao Médico Veterinário especializado
em animais de companhia. Este livro é, certamente, uma
iniciativa pioneira na língua portuguesa para auxiliar a prática da Medicina do Comportamento, tanto para estudantes
quanto para profissionais da Medicina Veterinária. Seu objetivo fundamental é conhecer o comportamento normal
do cão e do gato, como passo essencial para entender os
problemas e os distúrbios clínicos associados.
MEU FILHO, UM DIA TUDO ISSO SERÁ TEU
Richard Jakubasako e Fábio Lamônica Pereira
Editora UFV
www.livraria.ufv.br
e-mail: [email protected]
O autor aborda a questão da transferência de patrimônio a
herdeiros, de forma original do ponto de vista dos costumes e estimula a ação, especialmente nos casos que envolvem não apenas bens e outros valores de mais fácil quantificação e divisão,
mas, principalmente, negócios e empreendimentos cuja continuidade seria a coroação de todo o esforço e talento realizador
de quem tem o patrimônio a transferir. É um guia pratico para
heranças, testamentos e transmissão de patrimônio a herdeiros.
O Sonho Possível
50 anos da FMVZ – Unesp – Botucatu
FMVZ/Unesp
Tel.: (14) 3880-2001
email: [email protected]
Em quase duzentas páginas, a obra traça a história de luta
dos botucatuenses para a criação da Faculdade de Ciências
Médicas e Biológicas de Botucatu (FCMBB). Aborda ainda
os tempos em que a Faculdade funcionava no chamado
“Morrinho”, depois, a criação da Universidade Estadual de
São Paulo (Unesp) e a estruturação da Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia. Por fim, oferece um panorama atual
das atividades da unidade. Dentre os textos, o artigo “Saber,
experiência e profissionalismo” é de autoria do Presidente do
CFMV, Benedito Fortes de Arruda sobre o papel da instituição
na formação profissional.
AGRONEGÓCIO – UMA ABORDAGEM ECONÔMICA
Judas Tadeu Grassi Mendes
Editora
Makron Books
www.relativa.com.br
86
Estruturado de maneira didática e objetiva, o livro traça
um paralelo entre o agronegócio brasileiro e o mercado
internacional e aborda vários fatores-chave no setor, como
comercialização e desenvolvimento econômico, demanda,
consumo e produção de alimentos, análise de mercados
agrícolas e análise de preços agropecuários, entre outros.
Além disso, é repleto de exemplos do contexto atual e inclui
questões para discussão e revisão, que direcionam e complementam a compreensão do conteúdo apresentado.
Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XIX - nº 59 - 2013

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