A pertinência das perguntas sobre o ser humano e o universo Éder

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A pertinência das perguntas sobre o ser humano e o universo Éder
A pertinência das perguntas sobre o ser humano e o universo
Éder Rosa Pedroso
Acadêmico do Curso de Filosofia da UPF
[email protected]
Quando, um belo dia, ao retornar da escola, Sofia Amundesen, personagem de O
mundo de Sofia (Jostein Gaarder), recebe duas cartas misteriosas com as questões
“Quem é você?” e “De onde vem o mundo?”, ela pela primeira vez é ‘arrancada’ de seu
cotidiano e pacato mundo de adolescente para se defrontar com duas das mais
fundamentais e difíceis questões que uma pessoa pode se colocar.
São ambas questões filosóficas? O tema da existência humana (“Quem é você?”)
e do surgimento do universo (“De onde vem o mundo?”) são problemas filosóficos?
Não há dúvida de que os filósofos, ao longo dos mais de 25 séculos de história da
filosofia, procuraram resolver essas questões. Do mesmo modo, é inegável que outras
formas de conhecimento, como a religião, o mito, a arte e a própria ciência em seus
mais diferentes campos se ocuparam com esses mesmos problemas. Por conseguinte,
mais do que perguntas filosóficas, trata-se de questões existenciais, ou seja, que dizem
respeito a toda e qualquer pessoa, seja ela filósofa ou não. Ademais, ao nos indagarmos
sobre os mistérios do universo buscamos compreender algo sobre nós mesmos; da
mesma forma, quando investigamos nossa natureza humana, compreendemos que
estamos situados e fazemos parte de um todo maior que também precisa ser investigado.
Entretanto, se por um lado é legítimo que uma menina prestes a completar 15
anos se coloque a questão sobre a origem do universo, por outro está ela em condições
de respondê-la? A própria filosofia, aliás, tem ainda algo a dizer com propriedade sobre
o problema cosmológico? Sabemos que o pensamento filosófico nasceu no século 6 a.C.
justamente para encontrar o princípio (arché) de todas as coisas (phýsis) por meio de
uma compreensão racional e lógica (lógos). Tal modo de proceder diferia das
explicações fantásticas propostas pelas cosmogonias e teogonias mítico-poéticas.
Embora atualmente não seja tarefa da filosofia estar numa posição de vanguarda
com relação ao problema cosmológico (é inegável que a ciência tem elaborado as
melhores hipóteses para a questão, sobretudo com os avanços da física quântica.), caso
levemos em consideração a análise heideggeriana de que é possível afirmar com
legitimidade que somente o Ocidente e a Europa são propriamente filosóficos porque só
em seu interior se desenvolveram as ciências, compreendemos também que muito do
que o pensamento científico tem produzido em seus mais diferentes âmbitos se deve ao
impulso motivador e ao ‘espírito inquisidor’ legado ao ocidente especialmente pelos
pensadores originários (pré-socráticos). Nesse sentido, Heidegger é categórico: “[...] a
ciência nunca existiria se a filosofia não a tivesse precedido e antecipado” (1979, p.
213). Sem entrarmos nos pormenores dessa afirmação, chamamos a atenção para o
passo crucial dado pelos filósofos gregos, a partir de Tales, na tentativa de o ser humano
compreender a totalidade das coisas existentes.
Antes, porém, de analisar de que forma cada pensador investiga o problema do
kósmos e aventar algumas possibilidades de atualização de suas teorias, temos de
marcar essa necessidade – que é minha e com certeza também é sua, caro leitor – de
saber algo de verdadeiro sobre nossa origem e lugar. A esse respeito, afirma Marcelo
Gleiser em sua obra A dança do universo: dos mitos de criação ao Big-Bang, (1997, p.
18) “[...] quando nos deparamos com a questão da origem de todas as coisas, podemos
discernir uma clara universalidade do pensamento humano. A linguagem é diferente, os
símbolos são diferentes, mas, na sua essência, as idéias são as mesmas”.

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