o canal da educação
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o canal da educação
NO 3 1 MAIO /JUNHO 200 3 31 MAIO/ 2003 O CANAL DA EDUCAÇÃO Ministério da Educação SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Caro Professor Os estados de Amapá e Sergipe ainda não tinham sido visitados por nossa rrevista. evista. Chegou sua vez, e valeu a pena. Não deixe de ler as experiências documentadas em Macapá e acompanhar-nos na vizinha cidade de Santana. E também de acompanhar -nos na cidade de Estância, ao sul de Aracaju, para conhecer uma escola “de bem com a vida”. Para estimular a rreflexão, eflexão, rretomamos etomamos nesta edição um assunto que não se esgota: a violência. É o tema do Destaque professora Especial e também do artigo da pr ofessora Rosely Sayão, que propõe diferente sobre pr opõe um jeito difer ente de pensar sobr e isso. entrevistado, ministro Buarque, Nosso entr evistado, o ministr o Cristovam Buar que, assume orgulho professor ofessor,, fala da educação no com or gulho sua condição de pr ofessor projetos entre Brasil e de seus pr ojetos no ministério – entr e os quais, a valorização da educação a distância. Estudantes de Macapá em visita ao Marco Zero. ler,, estudar estudar,, discutir discutir... proveito! E tem muito mais, para ler ... Bom pr oveito! Elzira Arantes Editora Neste número MINHA EXPERIÊNCIA 2 3 DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO 6 CARTAS EXPERIÊNCIAS I – TV Escola no meio do mundo II – Escola de bem com a vida 20 30 ARTIGO – Rosely Sayão Violência: uma via de mão dupla 40 ENTREVISTA – Cristovam Buarque O ministro professor 42 CURSO DE EXTENSÃO Desafios em braile 45 E TEM MAIS 46 Maio/Junho 2003 História – Os brasileiros 6 Ciências – Os últimos grandes répteis 7 Escola / Educação – Uma TV cheia de histórias 8 Língua Portuguesa – Na ponta da língua 9 História – Rondon e os índios brasileiros 10 Ciências – O elo cósmico 12 Escola / Educação – O uso da TV Escola 13 ESPECIAL Ética – Violência, comunidade e escola ENSINO MÉDIO Como Fazer? – – – – – Acervo – Nossa água de cada dia 16 Água, guerra e paz 16 Encarando o futuro 16 Os segredos da evolução 17 Em busca da realidade 17 Decifrando o mistério do câncer: o mapa da doença 17 – Desvendando poderes ocultos: o mapa da espécie humana 17 SALTO PARA O FUTURO HISTÓRIA DE VIDA O semeador de sonhos CAPA: Foto de Iolanda Huzak 48 14 18 OUTRAS ATRAÇÕES 19 MINHA EXPERIÊNCIA Mãos que Falam Comentários, críticas, dúvidas, sugestões, relatos de experiências, propostas de intercâmbio com seus colegas... e muito mais! Vídeo e capacitação e os Desafios de Hoje nos proporcio- No último semestre de 2001, a coordenação pedagógica detectou que os alunos de 5ª a 8ª série de Educação de Jovens e Adultos apresentavam dificuldade na disciplina de História. Em reunião com a direção e a coordenação, a professora apresentou os problemas que encontrava para trabalhar os conteúdos da disciplina. Como sou graduada em História, combinamos uma capacitação através das séries gravadas exibidas pela TV Escola. Todos os dias assistíamos a um conteúdo, discutíamos e criávamos diversas metodologias de trabalho. Foram três semanas que muito contribuíram para nosso trabalho. No final de 2002 a professora havia superado a dificuldade. Os alunos estão adorando as aulas de História; o problema foi solucionado graças à TV Escola, que apresenta os conteúdos de forma clara e crítica. nam, vamos encontrando subsídios para as mudanças e passamos a ver com outros olhos o que antes nos amedrontava. “Medo” é a palavra que talvez tenha distanciado muitos educadores da aplicação da informática na escola. Hoje reconheço esse medo como sendo natural, positivo, e até mesmo saudável! Consegui acomodar meus pensamentos quando aceitei ser natural o fato de ficarmos inseguros frente a tecnologias que não dominamos. Foi ótimo, pois descobri que isso não seria um impeditivo para meu progresso profissional, uma vez que o mais importante é a vontade de aprender! Maria Tereza Granja Aguiar Azevedo Diretora da Escola Estadual Silva Dourado Arraias/TO Vontade de aprender Módulo Dois! Sinto imensa satisfação de ter chegado até aqui! Mais uma etapa que me possibilitou uma ampliação da visão de mundo, o mundo de uma educadora frente aos desafios que a tecnologia nos apresenta! Quando passamos por um processo de transformação, no caso, as reflexões que o curso TV na Escola Laudemira Soares dos Santos Andradas/MG Prevenção do câncer Diante do aumento dos casos de câncer de útero e mama em nossa comunidade, resolvemos desenvolver o projeto Previna-se Hoje para Sorrir Amanhã, envolvendo toda a comunidade escolar. O projeto tem como objetivo conscientizar as mulheres por meio de palestras, debates e discussões. Para tanto, a TV Escola contribui com riquíssimos programas, que oferecem informações sobre a importância de todas se submeterem ao exame preventivo. Obtivemos excelentes resultados, pois as participantes estão cuidando melhor de sua saúde e ajudando a esclarecer outras pessoas sobre a importância da prevenção do câncer. Marivalda Carvalho Orientadora Educacional Escola Beatriz Ferreira da Silva Ji-Paraná/RO Ferramenta de trabalho Costumo dizer que a escola onde trabalho teve duas fases: pré e pós a introdução da TV Escola. Foi o recurso que nos faltava para enriquecer os conteúdos e garantir a permanência dos alunos em sala de aula. Acho que todo profissional tem que ter sua ferramenta de trabalho e disso eu não abro mão. Professor ganha pouco, mas atualmente pode ter acesso à cultura e à modernidade, ficando em sintonia com as mudanças globais. Creuza dos Santos Rocha Professora-coordenadora da TV Escola Escola Estadual Dom José Vicente Távora Aracaju/SE A serviço da comunidade Somos dois professores e um engenheiro aposentados, além de duas psicólogas, que resolvemos montar uma sala de aula improvisada. Atualmente contamos com 98 alunos, entre 14 e 63 anos de ida- Consulte na internet <http://www.colegioideal.com.br/projetos.asp> Site do Curso e Colégio Ideal em Cascavel/PR, que divulga projetos sobre qualidade de vida e preservação do meio ambiente. Preocupados em melhorar a comunicação entre surdos e ouvintes na escola e na sociedade em geral, demos início ao projeto Mãos que Falam. O primeiro passo foi incluir a linguagem Libras (Língua Brasileira de Sinais) no Projeto Político Pedagógico da escola, como disciplina. Logo começamos a implantá-la nas turmas da pré-escola e no 1º ciclo do ensino fundamental. O objetivo principal é divulgar a Libras como meio de comunicação e integração do aluno surdo no ensino regular, permitindo que esse conhecimento possa ser traduzido em práticas que promovam e transformem em realidade o direito desses alunos. Além disso, queremos conscientizar a sociedade sobre o reconhecimento da linguagem de sinais como a forma de comunicação natural dos surdos, que ajuda a valorizá-los e levá-los a exercer seus direitos de cidadão. Nossa instrutora, Elaine Polo Fortunato (surda), repassa seus conhecimentos para professores, pais e comunidade em geral, com a coordenação de uma professora e o apoio da equipe pedagógica da escola. A integração do aluno surdo em nossa comunidade escolar já é visível, o que demonstra estarmos no caminho certo para Pais e alunos aprendem Libras – Palmas/PR uma verdadeira inclusão. Hoje, as próprias crianças do interessaram muito e identificaram ensino regular repassam a suas fa- características da política e da somílias o que aprendem na escola, e ciedade local. Para fechar o projecomo se comunicar com o surdo. to, planejaram organizar e encenar uma antiga festa folclórica de oriEscola Municipal Profa. Senhorinha Miranda Mendes gem espanhola, que se tornou traEquipe pedagógica dicional na cidade de Goiás. Palmas/PR A festa caracteriza-se por uma procissão noturna encenaPreservando da, na qual soldados romanos o folclore regional perseguem e prendem Jesus. Graças aos estímulos constantes Todo o trajeto foi iluminado com que recebo da TV Escola, elaborei tochas confeccionadas pelos aluum projeto de aprendizagem sobre nos que, caracterizados, realizaa história goiana. Os educandos se ram a encenação. continua na próxima página de, desde a alfabetização até o ensino fundamental e médio. Ficamos encantados com o material da TV Escola emprestado por um colega, e gostaríamos que nos enviassem os cadernos e a revista TV ESCOLA. Nosso projeto voluntário conta com a parceria da Igreja Católica (que nos empresta o salão paroquial) e a ajuda de um empresário da região. Os recursos são pequenos, pois o município é carente e não podemos contar com mais auxílio. Doamos três horas de trabalho diariamente, inclusive aos sábados, quando planejamos nossas aulas e trocamos informações e experiências. Nosso projeto está a serviço da comunidade, que avalia de perto os resultados. Lúcia Alves da Costa Professora de Estudos Sociais Curvelo/MG Essa iniciativa é um excelente exemplo a ser imitado. Mas, infelizmente, não podemos atendêlos com o material solicitado, distribuído exclusivamente em escolas da rede pública que têm acesso à TV Escola. A TV Escola não é um programa de tecnologia, mas sim de educação. Mas a tecnologia, ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, é bem explorada no curso TV na Escola e os Desafios de Hoje . Informática educativa Recebemos também, e agradecemos, cartas e e-mails de: Aparecida Rodrigues Afonso, S. Paulo/SP Paulo/SP; Clênio Branco Bolson, Toledo/PR Toledo/PR; Edinilson Salateski, Guarapuava/PR Guarapuava/PR; Édison Santos Machado, Brasília/DF Brasília/DF; Escola Estadual Angelo Gosuen, Franca/SP ca/SP; Euzemar Fátima L. Siqueira, Cuiabá/MT Cuiabá/MT; Francisco Valdeni A. dos Santos, Apuiarés/CE Apuiarés/CE; Ilza Viegas, Maricá/RJ Maricá/RJ; Ivanete Nunes de Oliveira, Paulo Jacinto/AL Jacinto/AL; Jocélia S. Batista de Souza, Duas Estradas/PB Estradas/PB; José Coelho da Silva, Belo Horizonte/MG te/MG; Jorge Luiz R. de Lima, Nova Iguaçu/RJ Iguaçu/RJ; Jurandir Silva dos Santos, Bom Lugar/MA Lugar/MA; Maria José Feitosa Calumbi, Piaçabuçu/AL Piaçabuçu/AL; Nilton Manoel de A. Teixeira, Ribeirão Preto/SP Preto/SP; Raimunda Pereira Brito, Tocantinópolis/TO Tocantinópolis/TO; Raimundo Nonato Santos, Belém/PA Belém/PA; René Bilico dos Santos, Alto Garças/MT ças/MT; Rita Rosângela R. de Assis, Tarumirim/MG Tarumirim/MG; Silvana Alves B. Noronha, Heliodora/MG Heliodora/MG. Tenho observado que, na programação da TV Escola, se fala muito em informática educativa e no professor pedagogo, mas só este aparece! Nas pessoas que são entrevistadas, sinto pouco domínio e pouca vivência em relação à tecnologia. Será que não está faltando o suporte técnico de alguém que tenha formação em telecomunicação e também em informática? Maria do Carmo Silva Belém/Pará PS continuação da página anterior MINHA EXPERIÊNCIA Os alunos pesquisaram e construíram tudo, das roupas às tochas, em um trabalho interdisciplinar. Além da história regional, tornouse necessário conhecer um pouco da história da Espanha e recorrer a conhecimentos de química, para planejar e calcular a forma e a duração do fogo nas tochas. Conhecida como Procissão do Fogaréu, a apresentação mobilizou a comunidade escolar e uma boa parcela da população, além da imprensa, que registrou a beleza do evento. Clarice Alves de Araújo Instituto Francisco de Assis Itumbiara/GO Monitoria na Escola Buscando uma alternativa para diversificar as aulas do estágio supervisionado do 4º ano do curso de Magistério, resolvemos executar o projeto Monitoria na Escola, uma das metas do PDE. Optamos pelas aulas de reforço, excelente caminho para melhorar o rendimento dos alunos e sanar dúvidas. O principal objetivo da monitoria foi a assistência individual aos alunos, com o intuito de melhorar seu desempenho. Cada estagiária encarregou-se de um a dois alunos e o material para as aulas foi preparado pela professora de Estágio. As estagiárias davam suas aulas ao ar livre, sob as árvores, enquanto a professora-regente ministrava os mesmos conteúdos aos alunos que perPresidente da República Federativa do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva Ministro da Educação Cristovam Buarque Secretário-Executivo Rubem Fonseca Filho Secretário de Educação a Distância João Carlos Teatini Conselho Editorial Américo Tristão Bernardes, Carmen Moreira de Castro Neves, Cícero Silva Júnior, Jean Claude Frajmund, João Carlos Teatini, José Roberto Neffa Sadek, Luiz Gonçalves Motta, Márcia Serôa da Motta Brandão, Maria José Feres, Murilo César Ramos, Paulo Speller, Renata Maria Braga Santos, Vera Franco de Carvalho Coordenador editorial Cícero Silva Júnior maneciam na sala de aula. As estagiárias elaboraram uma ficha de acompanhamento individual de cada aluno e entregaram o relatório de todas as atividades ao final de dois meses. Uma das alunas-mestras teve a idéia de aproveitar as fitas de vídeo da TV Escola, que haviam sido gravadas em um outro projeto de estágio, no ano anterior. A maioria das fitas utilizadas foram dos programas “A turma da tabuada 1 e 2”, “PCN na Escola/Língua Portuguesa” e “Mão na forma”. O projeto Monitoria na Escola foi muito proveitoso. A professora da classe dos alunos monitorados percebeu um grande progresso no rendimento de sua turma, principalmente em Matemática. Jane Lúcia Rezende de Mello Colégio Est. Argemiro Antônio de Araújo Posse/GO Para conhecer o meio rural Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, estamos realizando nas escolas o Programa Emater na Escola. Uma vez por semana, o técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) atua em uma escola, orientando as crianças em diversos assuntos referentes ao meio rural, principalmente preservação do meio ambiente. Para isso, utilizamos vários vídeos da programação da TV Escola, sendo que o mais apreciado pelos alunos, é Uma árvore é mais que uma simples árvore, da série “Natureza sabe tudo” – seu conteúdo é ótimo e de fácil entendimento para crianças de 8 a 80 anos. Nosso muito obrigado à TV Escola pela ajuda que tem dado ao trabalho da Emater e das escolas do município, na orientação ambientalista de nossos alunos. Jadir Francisco dos Santos Unidade Municipal da Emater/PR Querência do Norte/PR Nossas histórias Aulas ao ar livre – Posse/GO Edição ERA Editorial E-mail: [email protected] Editora executiva Elzira R. Arantes Secretárias editoriais Lierka Felso, Noêmia R. de Arantes Ramos • Repórter especial Rosangela Guerra • Fotógrafos Iolanda Huzak, Sérgio Falci, Paulo Pepe • Colaboradores Cássio de Arantes Leite, Célia Maria Trazzi Cassis, Luiz Carlos Pizarro Marin, Marise Muniz, Rosely Sayão, Teresa Mello • Edição de arte e produção gráfica Casa Paulistana de Comunicação • Editor de arte Milton R. Alves • Chefe de Arte Thaís Ferraz • Editoração o Edilson Pauliuk, Simone Zupardo Dias • Fotolit Fotolito e Impressão Gráfica Editora Brasil Ltda. A revista TV ESCOLA é uma publicação bimestral da Secretaria de Educação a Distância do MEC Tiragem desta edição: 450 mil exemplares Ao observar o desinteresse de meus alunos pela leitura, resolvi tentar novas estratégias para motivá-los. Com persistência e boa vontade, tentei várias abordagens – histórias gesticuladas, paragrafadas... –, a cada dia uma experiência diferente. Finalmente, depois de muito ouvir e contar histórias, resolvemos criar as nossas! MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Secretaria de Educação a Distância Esplanada dos Ministérios, Bloco L – sala 100 Brasília/DF 70047-900 Tel.: (61) 410-8592 Fax: (61) 410-9178 E-mail: [email protected] [email protected] Internet:<http://www.mec.gov.br/seed/tvescola> Secretaria de Educação a Distância Assim nasceu o projeto Nossas Histórias. Cada aluno escreveu uma história e montamos um pequeno livro. Em 2002 publicamos o segundo volume, pois o do ano anterior fora um sucesso! Os alunos passaram a ter outra visão sobre a leitura, pois agora também são autores e são lidos. O interesse pelo ato de ler é cada vez maior e pretendo continuar com a experiência, que foi muito gratificante. Maria Lúcia de Freitas Vítor Colégio Carmela Dutra Jaguaribe/CE A descoberta da Química Sou professora de Química no ensino médio e venho desenvolvendo, com meus alunos, o projeto A Descoberta da Química, baseado na série Como se faz, da TV Escola. Bimestralmente, os alunos realizam os mais fantásticos experimentos, nos quais podem desvendar os mistérios das ligações químicas na fabricação de vários produtos, tais como água sanitária e sabão, além de realizar e compreender um dos processos mais importantes de separação de misturas – a destilação, na preparação de bebidas. Utilizando material alternativo e improvisações criativas, o trabalho vem despertando enorme curiosidade e grande interesse pela participação da maioria dos alunos. Anália Carlos Vanderley Marinho Colégio Estadual João Dias Sobrinho Divinópolis do Tocantins/TO Escreva carta, fax ou e-mail TV Escola Caixa Postal 9659 Brasília/DF 70001-970 Fax (61) 410-9178 E-mail E-mail: [email protected] A horta comunitária: mais um projeto da escola de Londrina/PR Conscientizar para não punir No trato diário com alunos do ensino fundamental e da Educação de Jovens e Adultos, verificamos a dificuldade de alguns em se relacionar com os outros, em estabelecer um vínculo com seu grupo social. Por conta disso, armam-se de agressividade, para revidar atitudes que nem sempre justificam essa posição. Organizamos então um projeto para introduzir nas discussões curriculares alguns itens diretamente relacionados à construção da cidadania. Uma cidadania participativa, e construtiva, que leve o aluno a perceber a importância do autoconhecimento, do conhecimento do outro e do respeito às diferenças. O projeto Ser Cidadão: Conscientizar para Não Punir objetiva também mostrar ao aluno o que é a política, quais suas influências em nossa vida diária e no cenário nacional. Ligue para o Fala Brasil 0800-616161 Ligação gratuita Visite a TV ESCOLA na internet <http://www.mec.gov.br/seed/tvescola> O trabalho, realizado com o esforço integrado dos professores de várias disciplinas, busca mostrar ao aluno que a construção de seu espaço de vivência, de sua comunidade e da própria escola, está intimamente relacionada com suas atitudes e decisões mais corriqueiras que, por mais banais que possam parecer, farão grande diferença no futuro. Embora nossa escola esteja localizada em um dos bairros mais complicados de Londrina, já podemos perceber os resultados de nosso trabalho, na visão crítica de nossos alunos, ao questionar sua realidade. Um questionamento que não parte de paradigmas vagos, mas de uma estrutura mental e perceptiva modificada no processo educacional. Cesar Eduardo Pinheiro Professor coordenador Escola Est. Rina M. de Jesus Francovig Londrina/PR DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES HISTÓRIA MAIO 7 DICA Ao longo das discussões em torno dos conteúdos apresentados nos filmes, estimule os alunos a registrar as informações e periodicamente elaborar sínteses dos conhecimentos que considerarem mais significativos. OS BRASILEIROS Direção: Marcelo Gomes Realização: Polo de Imagem, Brasil, 2000 Série selecionada na grade da programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos de 7ª e 8ª séries e também para o ensino médio Áreas conexas: Ética; Geografia; Língua Portuguesa; Pluralidade Cultural Duração: 2 episódios de 46’ RESUMO A série trata da formação do povo brasileiro, analisando influências de indígenas, portugueses, negros africanos e imigrantes europeus e asiáticos. Destaca características culturais que se evidenciam atualmente na língua, na arte, na religião, na culinária, na arquitetura, e em outras manifestações culturais. Também discute os processos de miscigenação e as violências sofridas por índios e negros ao longo da história. ATIVIDADES Objetivos Desenvolver o interesse pelas realidades socioculturais do lugar, da região, do país e do mundo; estabelecer inter-relações e comparar problemáticas atuais e de outros tempos. Construir a identidade social e individual do aluno, para que reconheça seu papel na sociedade e sua potencialidade na transformação do meio em que vive. Apreender o papel do indivíduo como sujeito e produto histórico e compreender diferenças, respeitando as opiniões dos outros e fundamentando as suas. Analisar criticamente o processo de formação da população brasileira; problematizar sua constituição e a construção da cidadania dos vários grupos sociais. Planejamento Ao assistir previamente os episódios, observe os intervalos que permitem a exibição de partes de cada episódio sem que se perca a coerência do discurso de cada um. O episódio Raízes trata de três sub-temas: povos indígenas, colonos portugueses e negros africanos. O segundo episódio, Fusões, começa abordando imigrantes alemães e italianos e analisa influências de japoneses, árabes e judeus. Em seguida explica a miscigenação ocorrida ao longo da história brasileira. Por fim, apresenta alguns indicadores da fusão cultural na arte, na religião, nas festas populares, na culinária e na música. 6 O perfil étnico da classe Após a exibição do vídeo, proponha que cada aluno elabore uma pesquisa sobre suas origens, até três gerações anteriores, ou seja, dos avós de seus pais. Peça à classe que organize coletivamente uma relação das nacionalidades presentes nas origens do grupo, com o número de representantes em cada uma. Com a ajuda do professor de Geografia, proponha que os alunos façam um mapa-múndi e marquem os locais de origem. Para finalizar, promova um debate sobre a miscigenação da população brasileira. Pode-se discutir sobre teorias que pregam a superioridade racial, com a colaboração do professor de Biologia. Cultura popular Quais são as principais festas populares realizadas na cidade onde os alunos vivem? Qual a origem das comemorações profanas e religiosas? Será que são visíveis traços da cultura indígena ou africana, ou a mistura deles com outras culturas? Solicite aos alunos que organizem um relatório sobre essas manifestações na cultura local, buscando definir sua origem. Com o apoio do professor de Arte, sugira a elaboração de painéis reproduzindo passagens significativas dessas manifestações populares, para exposição e apreciação da comunidade. Essa atividade contribuirá para a ampliação da consciência sobre o caráter mestiço da cultura brasileira. Cidadania de índios e negros Os episódios servem de ponto de partida para os alunos refletirem sobre as desigualdades sociais que atingem, principalmente, os descendentes de povos indígenas e escravos africanos. Existem remanescentes desses povos na região de sua escola? Tem sido feita alguma demarcação de terras de índios e descendentes de quilombolas? Procure articular a resposta a tais perguntas com a leitura de textos literários sobre o assunto e levar os estudantes a exercitar sua capacidade de criação e argumentação elaborando textos dissertativos que analisem problemas de índios e negros no exercício de sua cidadania plena. Interdisciplinaridade Entre as diversas abordagens que podem ser planejadas para um trabalho interdisciplinar, se destacam temas transversais relacionados à Pluralidade Cultural e à Ética. Uma sugestão é organizar uma mesa-redonda com a participação de TV E SCOLA vários professores e representantes de alunos, na qual todos possam expor suas opiniões a respeito de aspectos polêmicos relacionados à formação do povo brasileiro. Por exemplo: * Há relação entre o tipo de colonização do Brasil e a exclusão social de milhões de pessoas atualmente? É justo que isso ocorra? * É possível afirmar que as manifestações culturais dos vários povos que contribuíram para a formação do Brasil são respeitadas e valorizadas em pé de igualdade? * Qual é o papel da mídia no processo de divulgação das diferentes tradições populares e da mistura com outras influências estrangeiras? * Por que existem preconceitos quanto a origem e cor da pele, se parece evidente que a população brasileira é resultado de um grande processo de miscigenação, que continua ocorrendo? Sobreviventes da catástrofe CIÊNCIAS MAIO 5 Observe!!! No episódio Raízes, o narrador se refere ao prínciperegente D. João como D. João VI antes de ele ser coroado, fato que só ocorreu em 1816, após a morte de sua mãe, a rainha D. Maria I, conhecida como “A louca”. Da mesma forma, D. Pedro de Alcântara é chamado de D. Pedro I antes da proclamação da independência. OS ÚLTIMOS GRANDES RÉPTEIS Direção: Wendi Dark Realização: BBC, Grã-Bretanha, 2000 Veja na internet Programa selecionado na grade da programação do ensino fundamental. Indicado para atividades com alunos da 5ª e da 6ª série do ensino fundamental e também para o ensino médio. Áreas conexas: Geografia; Meio Ambiente Duração: 50’ <http://www.memorialdoimigrante.sp.gov.br/realizad/Indios.html> Traz um relato sobre o índio no estado de São Paulo antes da chegada dos europeus. <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/povoamento/tabelas/ imigracao_nacionalidade_84a33.htm> Página de estatísticas sobre a imigração no Brasil. Leia também Senhores destas terras: os povos indígenas no Brasil – da colônia aos nossos dias Gilberto Azanha & Virgínia Marcos Valadão. 4. ed. São Paulo, Atual, 1991 (História em Documentos). RESUMO Esse documentário narra as conseqüências do impacto de um cometa gigante com a Terra, há 65 milhões de anos. Todos os dinossauros sucumbiram, mas grandes predadores como o crocodilo conseguiram sobreviver. Foi por acaso, ou porque eles estavam mais adaptados às novas condições? O vídeo examina as características que permitiram a esses animais resistir à maior catástrofe sofrida pelo planeta. Os descobrimentos: origens da supremacia européia Paulo Migliacci. 2. ed. São Paulo, Scipione, 1994 (História em Aberto). ATIVIDADES Ser negro no Brasil hoje Ana Lúcia E. F. Valente. 13. ed. São Paulo, Moderna, 1994 (Coleção Polêmica). Veja também, da TV Escola Da série A idade do Brasil, os episódios: O caldeirão e O rosto. A série Índios no Brasil. E GRAVE ESCOLHA os programas que ca. te lha de e esco s na video Leia a gra ois, guarde as fita ferência p re e o D m quer usar. talogá-las, use co TV Escola. s da a Para ca m ra g ro p o Guia de TV E SCOLA 5ª série – Os grandes eventos • • • • Antes da exibição, faça um comentário geral de seu conteúdo com os alunos, dizendo para prestarem atenção na seqüência cronológica dos grandes eventos apresentados. Exiba o filme uma vez, sem solicitar anotações e, quando terminar, peça para escreverem tudo o que lembrarem. Volte a apresentar a fita e solicite agora que anotem o que chamar mais sua atenção, para depois compararem com o que escreveram. Discuta com a classe o resultado das observações. Comente os resultados das comparações. É provável que tenham sido atraídos por alguns momentos cruciais – o impacto do meteoro, a formação de grandes 7 incêndios e ondas oceânicas, a posterior obstrução da luz solar e a diminuição da fotossíntese. Mostre como isso resultou em falta de alimentos e grande mortalidade de espécies animais. O vídeo associa animações gráficas, mistura de imagens e situações reais. Aproveite esses recursos para propor uma brincadeira, como uma caça ao tesouro, com um desafio para que os alunos encontrem determinadas passagens. Só para citar, existem dragões de Komodo (Varanus sp) misturados na mesma imagem com braquiossauros ou talvez diplodocos e, em outra passagem, crocodilos nadando em um mundo em chamas. É digno de nota o mussaranho passando no pé do elefante. Veja na internet <http://geocities.yahoo.com.br/dinossbr/notempodosdinossauros.htm> Apresenta os episódios do documentário No tempo dos dinossauros, da BBC. Veja também, da TV Escola Como os dinossauros aprenderam a voar Crocodilos pré-históricos, da série O mundo dos dinossauros O primeiro fim do mundo ESCOLA / EDUCAÇÃO TEMA PARA DEBATE. Como se sabe de tudo isso? Essa questão abre caminho para uma interessante discussão a respeito do trabalho dos paleontólogos e arqueólogos, tema que desperta muita curiosidade. O filme Parque dos dinossauros, de Steven Spielberg, mostra um pouco dessa atividade; se possível, vale a pena exibi-lo para alimentar o debate. Para complementar, explique o papel do DNA e seu uso para determinar parentesco entre espécies e até para avaliar a data em que as espécies se formaram. 6ª série – A questão evolutiva DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES Com abordagem similar à adotada na 5ª série, aqui vale a pena explorar a questão evolutiva – adaptações de seres vivos e sua sobrevivência – relacionando com a seleção natural. Realce que o mais importante para as espécies não é ser forte (a lei do mais forte nunca foi apontada por Charles Darwin), mas sim garantir a sobrevivência e deixar descendentes. Proponha aos alunos que façam uma lista das adaptações mencionadas no vídeo como vantagens evolutivas – por exemplo, casca grossa, ovo com casca e pequeno tamanho para se esconder sob a terra. Atenção! Discuta com os alunos a linguagem finalista utilizada pelo narrador, afastando o conceito de que os animais “decidem” sofrer modificações para superar seus obstáculos. Explique que as mudanças (mutações) ocorrem ao acaso, e que muitas delas podem até ser prejudiciais. Compare com a classe o processo evolutivo de répteis, aves e mamíferos. Existe uma tendência a achar que as aves evoluíram dos répteis e os mamíferos das aves, ou ainda que aves e répteis não têm parentesco e que os mamíferos evoluíram dos répteis. Muitos autores consideram as aves um subgrupo dos répteis. Para que os alunos compreendam melhor o processo, dê as idades prováveis do aparecimento de cada um desses grupos e peça para proporem hipóteses referentes a sua filogenia. Por último, discuta as características de homotermia e heterotermia, mostrando como a regulação da temperatura corpórea representou uma vantagem para os mamíferos. 8 MAIO 8 UMA TV CHEIA DE HISTÓRIAS Direção: Ana Cal Realização: TV Escola/MEC, Brasil, 2002 Série selecionada na grade da programação do ensino fundamental. Indicada para professores e alunos. Áreas conexas: Geografia; História; Pluralidade Cultural Duração: Catalão, GO (12’26”) Vilhena, RO (18’47”) Marmeleiro, PR (18’47”) RESUMO A série aborda o uso do vídeo como recurso didático-pedagógico. Em escolas públicas de três regiões – Goiás (Centro-Oeste), Rondônia (Norte) e Paraná (Sul), diretores e professores avaliam as principais transformações ocorridas em seu ambiente escolar com o uso da TV Escola. Os vídeos ajudaram a incrementar as aulas, inspiraram a realização de valiosos projetos, integrando escola e comunidade, e contribuíram para valorizar as tradições locais. Os depoimentos evidenciam como o uso sistemático desse recurso didático no cotidiano escolar ajudou a construir uma nova escola pública: aberta a mudanças, criativa e mais autônoma. ATIVIDADES O documentário proporciona a diretores e coordenadores pedagógicos uma variedade de subsídios para discutir com a equipe escolar a importância do uso da tevê e do vídeo na educação. A análise e a discussão dos depoimentos podem contribuir para sensibilizar professores que não estão habituados a utilizar esse valioso instrumento de ensino e aprendizagem. Embora dirigidos aos educadores, os programas se prestam também a atividades com os alunos. TV E SCOLA Leia também Objetivos • • • • • Sensibilizar e estimular os educadores para o uso do vídeo em sua prática escolar. Identificar a tevê e o vídeo como instrumentos de ensino e aprendizagem. Chamar a atenção para o potencial transformador de práticas, processos e relações escolares a partir do incremento dos recursos didáticos. Analisar as inúmeras repercussões do uso desse importante recurso pedagógico no interior da sala de aula e da escola. Refletir sobre a importância da linguagem visual para as crianças e os jovens de hoje. Televisão, escola e juventude Denise Cogo & Pedro Gilberto Gomes. Porto Alegre, Mediação, 2001. TV e escola: discursos em confronto Glaucia Guimarães. São Paulo, Cortez, 2000. LÍNGUA PORTUGUESA MAIO 13 Direção: Messina Neto Realização: TV Escola/MEC, Brasil, 2002 Trabalho com os professores Antes da exibição, promova uma discussão para os educadores contarem suas experiências com materiais audiovisuais. Têm equipamento de vídeo em casa? Têm acesso a boas fitas? Gostam de assistir vídeos? Sentem que aprendem quando assistem um documentário bem feito? Costumam assistir televisão com freqüência? Sentem-se satisfeitos com a programação oferecida pelos canais comerciais? Proponha ainda que analisem a relação de seus alunos com a linguagem audiovisual, partindo das mesmas questões. Ao refletir sobre a posição dos estudantes, os educadores talvez encontrem pontos de convergência com suas próprias opiniões. É provável que reconheçam a importância das novas tecnologias como recurso, apesar de eventuais limitações materiais (por exemplo, não terem equipamento em casa, ou acesso a bons programas). Exiba a seguir os documentários, fazendo pausas para discutir pontos de interesse, fazer comparações com a própria realidade ou identificar contribuições do uso do vídeo em sala de aula. Para encerrar, procure fazer com que todos os professores (polivalentes e especialistas) se manifestem a respeito da natureza de seu objeto de ensino (ensino de Arte, de Matemática ou outro) e os possíveis ganhos pedagógicos do uso sistemático de vídeos. NA PONTA DA LÍNGUA Série selecionada na grade da programação do ensino fundamental. Indicada para atividades com alunos da 5ª à 8ª série do ensino fundamental e também para o ensino médio. Áreas conexas: Escola / Educação Duração: 6 episódios de 20’ RESUMO Em uma escola preocupada com as ocorrências sociais à sua volta, os alunos se organizam para procurar resolver os problemas e também para garantir um espaço saudável, que favoreça a sociabilidade e a expressão artística. Nessas atividades, eles se deparam com incertezas quanto a concordância entre termos e palavras, ortografia, emprego de verbos especiais e outras questões. Com uma apresentação dinâmica e estimulante, a série evidencia a necessidade do uso adequado da linguagem. ATIVIDADES Objetivos Trabalho com os alunos • • • • • Selecione com antecedência um programa que aborde conteúdos relacionados a seu objeto de ensino e planeje sua utilização em uma aula. Trabalhe o conteúdo do programa escolhido, estimulando a participação de toda a classe. Procure mostrar como o mesmo vídeo pode servir a diferentes leituras. Para encerrar a aula, peça para os alunos avaliarem a pertinência do uso do vídeo. Gostaram da experiência? O vídeo foi útil para a aprendizagem? O que acharam mais importante? Em outra aula, exiba um ou vários episódios de Uma TV cheia de histórias e peça para a turma avaliar os depoimentos. Discuta as sugestões apresentadas, ressaltando a perspectiva de adotar algumas dessas idéias em trabalhos futuros. TV E SCOLA • • • • Exercitar a flexibilidade lingüística, adequando o emprego da norma culta às situações em que seu uso se faz necessário e justificado. Quebrar preconceitos que se formaram em torno do emprego das variantes lingüísticas manifestadas por grupos regional ou socialmente identificados. Desenvolver a escrita e a oralidade, objetivando práticas de cidadania. Dar oportunidade à expressão artística em sua manifestação poético-literária. Aquecimento Exiba o vídeo, fazendo pausas para discutir com a classe os seguintes pontos: • Após a interpretação do rap, um dos personagens afirma que houve “licença poética” na elaboração da le- 9 • • tra. Diga para tentarem descobrir, pelo contexto da conversa, o que vem a ser “licença poética”. A professora Alice, uma das personagens da série, fala sobre verbos impessoais. Desafie a classe a descobrir, pelo contexto, o que é um “verbo impessoal”. Os personagens elaboram cartazes que contêm erros ortográficos. Peça para os alunos indicarem pelo menos três desses erros. Colocação pronominal – Análise e compreensão textual Deixe os alunos debaterem livremente as questões propostas. Após exporem suas hipóteses a respeito do significado da expressão “licença poética” e do conceito “verbo impessoal”, proponha uma pesquisa em obras de referência (dicionários e gramáticas), com as seguintes recomendações: • Procurar o verbete “licença” no dicionário Houaiss, ou no Aurélio, buscando dentro da definição a expressão “licença poética”. Leve os alunos a perceber que esses manuais se preocupam com os desdobramentos dos conceitos arrolados, bem como com sua origem e com as localidades de ocorrência. • Consultar gramáticas que possuam um capítulo sobre versificação; confrontar mais de uma gramática, procurando além da explicação sobre “licença poética”, alguns exemplos clássicos de tal procedimento. Depois disso, divida a turma em grupos e peça para selecionarem, ou sugira a eles, exemplos de músicas populares para observar casos especiais de concordância ou de colocação pronominal. (Sugerimos raps como os do grupo Racionais e canções de Adoniran Barbosa). Os grupos deverão apresentar para a classe a análise que fizeram, com a interpretação dos motivos que justificam o emprego. DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES Concordância e ortografia O vídeo deixa claro que é preciso conhecer o gênero das palavras para saber quando empregar o artigo “a” ou “o” (o dó, o telefonema, o guaraná...). Solicite que consultem no dicionário o gênero dos seguintes verbetes: “cal”, “ênfase”, “alface”, “champanhe”. Feito isto, sugira que construam frases com essas palavras, empregando a concordância adequada. Organize a sala em grupos de no máximo três alunos e proponha que construam poemas semelhantes aos decla- mados pelos personagens do vídeo, selecionando temas voltados para o exercício da cidadania (anti-tabagismo, reciclagem do lixo, anti-preconceito). Oriente para que cada turma utilize em seus poemas um determinados grupo de fonemas que tenham o mesmo som, porém grafia diferente: 1) s, z, x; 2) j, g; 3) x, ch; 4) s, ç, sc, ss, xc. Convém que procurem no dicionário, palavras que se encaixem nessas ocorrências, e selecionem as que possam compor o campo semântico de seu poema. Prepare uma apresentação coletiva da produção dos alunos (na hora do intervalo, por exemplo), como contribuição para a conscientização de todos a respeito dos problemas sociais utilizados como tema. HISTÓRIA JUNHO 3 RONDON E OS ÍNDIOS BRASILEIROS Direção: Marco Altberg Realização: TVE, Brasil, 2002 Duração: 55’51” Programa selecionado na grade da programação do ensino fundamental. Indicado para atividades com alunos de 7ª e 8ª séries do ensino fundamental e também para o ensino médio. Áreas conexas: Filosofia; Geografia RESUMO O documentário, apresentado pelo líder indígena Marcos Terena, enfoca a vida e a obra do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon: o pensamento positivista, as expedições ao interior e a defesa dos direitos indígenas. Dividido em três partes, mostra depoimentos sobre a obra de Rondon, com participações do sertanista e indigenista Orlando Villas Bôas, do antropólogo Darcy Ribeiro e da neta de Rondon, Elizabeth Amarante Rondon, que dá continuidade ao trabalho do avô em Mato Grosso. ATIVIDADES Objetivos • • • • Placa com erro ortográfico 10 Comparar a abordagem da questão indígena na Constituição do Império e na da República. Relacionar a política indigenista à ocupação territorial, destacando interesses político-econômicos. Comparar os processos de expansão e ocupação territorial do oeste norte-americano com o processo de interiorização promovido pelo governo brasileiro. Contextualizar e discutir o pensamento de Rondon, no que concerne aos povos indígenas, no debate entre as teorias evolucionistas do século 19 e o positivismo. TV E SCOLA Trabalho de sensibilização Exponha a problemática que envolve a relação entre os povos indígenas e a sociedade e identifique os esquemas prévios dos alunos acerca desse tema. Procure integrar essa problemática no contexto mais geral da História do Brasil, discutindo duas idéias básicas: ◗ não houve “descobrimento” do Brasil, porque o território já era habitado por populações indígenas; ◗ não existe um “índio genérico” – é necessário, portanto, enfatizar a diversidade cultural das populações indígenas. Providencie uma breve biografia do Marechal Rondon, ou oriente os alunos para fazerem a pesquisa. Exiba o documentário, fazendo pausas estratégicas para facilitar o registro das informações. Ao terminar, sugira aos alunos que façam um quadro-resumo a partir de suas anotações. História Após a exibição do vídeo, analise o processo histórico que suscitou a idéia da proteção dos povos indígenas pelo Estado brasileiro. Lembre que já se discutia, no início do século 20, se essa proteção devia ser religiosa ou laica. Organize a turma em grupos e oriente uma pesquisa a respeito da forma pela qual a sociedade não-índia procurou regulamentar os direitos indígenas – nas Constituições de 1824, 1889, 1934, 1937, 1967, 1969 e 1988. Oriente a comparação das informações colhidas pelos alunos, destacando as semelhanças e diferenças entre essas legislações. Para finalizar, peça para pesquisarem situações de conflito entre os povos indígenas e a sociedade não-índia, analisando a implementação dos direitos indígenas na atualidade. Geografia Discuta com a classe a questão da subordinação da política indigenista a interesses político-econômicos. Divida a sala em grupos e oriente um estudo comparativo entre o processo de expansão e ocupação territorial do oeste norteamericano e o processo de interiorização promovido pelo governo brasileiro, sobretudo no século 20, com a organização da “marcha para o oeste”. Enfatize as conseqüências engendradas por tal expansão. Rondon entre os índios ENCERRAMENTO E AVALIAÇÃO O professor de História poderá promover um debate sobre a proteção aos interesses dos povos indígenas: é função do Estado ou deve ser entregue a organizações não-governamentais? Os estudantes, divididos em grupos, devem pesquisar em jornais, revistas ou na internet, matérias e artigos que façam referência ao modo pelo qual a questão indígena é tratada por essas duas esferas. A atividade poderá ser realizada em casa e servirá de apoio para a elaboração de um mural informativo. É importante planejar avaliações contínuas do trabalho e incentivar também os alunos a elaborar uma auto-avaliação. Veja na internet <http://www.e-biografias.net/biografias/marechal_rondon.shtml> Apresenta uma breve biografia do Marechal Rondon. <http://www.paulomarek.hpg.ig.com.br/rondon.htm> Artigo sobre a influência positivista no pensamento do Marechal Rondon. <http://www.estadao.com.br/villasboas/> Reúne informações sobre a atuação dos irmãos Villas Bôas, e sobre a política indigenista. <http://www.jaraguadosul.com.br/etnias/xokleng.htm> Esse site faz referência à polêmica que envolveu Rondon e Herman von Ihering por ocasião da criação do SPI. Leia também História dos índios no Brasil Manuela Carneiro da Cunha (org.). São Paulo, Companhia das Letras/Secretaria Municipal de Cultura/Fapesp, 1992. Os direitos do índio: ensaios e documentos Manuela Carneiro da Cunha. São Paulo, Brasiliense, 1987. A marcha para o oeste: a epopéia da expedição Roncador-Xingu Cláudio Villas Bôas & Orlando Villas Bôas. 5. ed. São Paulo, Globo, 1994. Rondon conta sua vida Filosofia Discuta o modo pelo qual as teorias evolucionistas e o positivismo concebiam os povos indígenas. Essa discussão é importante para situar o pensamento de Rondon. Analise algumas concepções evolucionistas que, orientadas pelo darwinismo social, reforçavam uma visão negativa e preconceituosa do indígena. A análise do positivismo contribui para identificar premissas fundamentais do pensamento de Rondon. Com isso, se recupera o conteúdo filosófico essencial da polêmica que envolve a posição de Rondon e a do diretor do Museu Paulista, Herman von Ihering, no início do século 20, por ocasião da criação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). TV E SCOLA Esther de Viveiros. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1958. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e a questão racial no Brasil 1870-1930 Lilia Moritz Schwarcz. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. ALUNOS S O M O vam HE C seção le de TRABAL s nesta s a rriculare . resentad ades ap e conteúdos cu ental ou médio id v ti a s s m A o a s v d a ti n tr je u fu b o ao ino em contas séries do ens ídeos se presta . v a s d s a a o d d in a ri a s va determ nto, a maiori situaçõe No enta bordagens, em a 11 CIÊNCIAS MAIO 5 O ELO CÓSMICO Direção: Catherine Fol Realização: NFBC, Canadá, 2000 Programa selecionado na grade da programação do ensino fundamental. Indicado para atividades com alunos da 6ª à 8ª série do ensino fundamental e também para o ensino médio. Áreas conexas: Filosofia; Geografia Duração: 51’45” RESUMO Este programa aborda as hipóteses de origem da vida na Terra, com ênfase na visão evolucionista. Discute desde a formação de moléculas orgânicas no planeta até a possibilidade de existência de sistemas solares em nossa galáxia ou em outras. Enfoca a formação de coacervados (origem do sistema de membranas), as três linhagens de células (nucleadas, anucleadas e arqueobactérias) e as linhas do desenvolvimento evolucionista, segundo Darwin. O programa pode ser utilizado no início das discussões sobre a origem dos seres vivos, sua diversificação horizontal e vertical e as influências dos fatores evolutivos sobre essa diversidade. Objetivos DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES Discussão É grande a massa de informações trabalhadas nessa atividade, e por isso os alunos precisam estar com o espírito crítico aguçado, para interpretar e julgar as diversas teorias defendidas pelos cientistas. Levante questões para discussão: • Por que se procura, em outros planetas ou satélites, a explicação para o surgimento da vida aqui na Terra, se nesses astros não há vida semelhante à nossa? • Por que a experiência de Stanley Miller é importante para o estudo da origem da vida? • Por que a ciência acha que há somente três linhagens de células responsáveis pelo surgimento da diversidade de seres vivos em nosso planeta? • De que maneiras essa diversidade poderia ter surgido? • De quais fatores a evolução dos seres vivos é dependente? Esclareça como atua cada um desses fatores na sobrevivência e na manutenção dos seres vivos. Conclusão ATIVIDADES • • • • Grupo 1: alunos que recolheram argumentos sobre a hipótese criacionista (visão religiosa da origem da vida) terão como incumbência defender essa hipótese. Grupo 2: alunos que recolheram argumentos sobre a hipótese evolucionista (visão científica da origem da vida) defenderão essa hipótese. Grupo 3: irá atuar como júri, para julgar as duas hipóteses. A equipe de julgadores poderá ser escolhida pela classe ou pelo próprio professor. Estabeleça um prazo para o julgamento (uma aula). Tenham ou não chegado a um veredicto (provavelmente não chegarão), encerre o julgamento e prepare a turma para assistir ao vídeo. Levantar hipóteses a respeito da origem dos seres vivos. Julgar as hipóteses a respeito da origem da vida na Terra. Descrever as hipóteses para as causas da evolução. Questionar as informações trazidas pelo vídeo, com base nos conhecimentos já adquiridos. Após o esclarecimento dessas questões, retome os resultados do julgamento e procure mostrar aos alunos a incerteza que temos em relação às três perguntas básicas de nossa existência: de onde viemos, para que viemos e para onde vamos. Mostre, ainda, que a ciência não explica tudo, que está em constante transformação e construção, e que a tecnologia hoje disponível também não se mostra precisa para justificar eventos ocorridos há prováveis 15 bilhões de anos, desde o surgimento do universo. Trabalho em grupos Reserve pelo menos três aulas para apresentar o vídeo e realizar os trabalhos. PREPARAÇÃO. Antes da exibição, divida a classe em dois grupos e atribua uma tarefa a cada um. Encomende ao primeiro uma pesquisa entre pessoas religiosas (seja qual for o credo), para se informar das diferentes posições em relação à origem dos seres vivos, incluindo o ser humano. Peça para o outro grupo levantar argumentos sobre o mesmo tema em livros de ciências e/ou biologia, artigos de jornais ou revistas de informação científica. ARGUMENTAÇÃO. Após a pesquisa, organize a classe em três grupos, que irão fazer um julgamento dos argumentos recolhidos, levando em conta os seguintes critérios: 12 Observatoire de Haute Provence TV E SCOLA Interdisciplinaridade Em Geografia pode-se estudar a composição do sistema solar – estrelas, planetas e satélites naturais. O documentário também se presta à discussão, do ponto de vista da Filosofia, da posição relativa da espécie humana no Universo e das teorias sobre a origem da vida na Terra: a sopa primordial e a panspermia. Veja na internet <http://www.observatorio.ufmg.br/pas37.htm> <http://geocities.yahoo.com.br/renalmeida/panspermia.html> Sites que tratam do tema panspermia. RADE LEIA A G uer usar. as que q férias. m ra g ro a os p de de E escolh e também a gra h n a p Acom ATIVIDADES Vale a pena exibir a série a todos os envolvidos na vida escolar: professores, alunos, funcionários e, se possível, comunidade. A simples apresentação contribui para que os educadores se familiarizem com esse valioso recurso e possam aproveitar ao máximo as possibilidades pedagógicas da TV Escola. Leia também Trabalho com a equipe escolar Evolução das espécies. O pensamento científico, religioso e filosófico Samuel Murgel Branco. São Paulo, Moderna, 1994. A história geológica da vida Lee McAlester. São Paulo, Edgard Blücher/Edusp, 1969. A evolução dos seres vivos Gilberto Martho. São Paulo, Scipione, 1992. A vida na Terra David Attenborough. São Paulo, Martins Fontes, 1990. Veja também, da TV Escola O que é a vida? Exiba todos os programas da série, promovendo pausas quando for necessário para os educadores fazerem anotações. Realize a seguir um debate, estimulando os professores a colocarem questões em relação ao conteúdo apresentado, discutindo as novas possibilidades abertas por essa tecnologia para o desenvolvimento do trabalho em classe. Planeje reuniões subseqüentes para discutir cada um dos episódios, ou conjuntos que abordem temas complementares. Atenção! ESCOLA / EDUCAÇÃO MAIO 8 O USO DA TV ESCOLA Direção: Messina Neto Realização: TV Escola/MEC, Brasil, 2002 Série selecionada na grade da programação do ensino fundamental. Indicada para toda a equipe escolar e para os alunos. RESUMO Os sete episódios dessa série, cada um com cerca de 6 minutos, explicam o funcionamento da TV Escola e a melhor forma de utilizá-la como ferramenta no processo de ensino e aprendizagem. Em linguagem clara, e com muitos recursos visuais, apresentam os objetivos do programa, a utilização dos equipamentos, a programação do canal da educação e maneiras de usar os programas transmitidos, tanto em sala de aula quanto na capacitação dos professores e na integração da comunidade. TV E SCOLA No episódio que aborda o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), vale a pena examinar com atenção as maneiras de obter e utilizar os recursos oferecidos para implementar e manter a TV Escola nas escolas públicas. Trabalho com os alunos Os vídeos podem se converter num excelente estímulo para que os estudantes participem da tarefa pedagógica. Ao permitir que eles compreendam como funciona o programa TV Escola, é possível despertar seu interesse, por exemplo, por participar da organização e da manutenção da videoteca, bem como da gravação dos programas. O episódio Recepção da TV Escola pode ser utilizado pelo professor de Ciências para falar sobre as diferenças entre a transmissão digital e a analógica e discutir algumas características das radiações eletromagnéticas. CONSULTORIA As sugestões de trabalho apresentadas nos textos desta seção foram elaboradas com a consultoria dos professores Miguel Castilho Junior, Marcos Engelstein (Ciências); Teresa Cristina Rego (Escola / Educação); Denise Trento R. Souza (Ética); Lúcia P.S. Villas Bôas, Álvaro Giansanti (História); Lilian Garcia (Língua Portuguesa). 13 ESPECIAL ÉTICA MAIO 21 VIOLÊNCIA, COMUNIDADE E ESCOLA Direção: Adriana Mesquita Realização: TV Escola, Brasil, 2002 Duração: 30’ Programa selecionado na grade da programação do ensino fundamental. Indicado para atividades com alunos da 5ª à 8ª série do ensino fundamental e também para o ensino médio. Áreas conexas: Arte; Educação Física; Escola / Educação; Filosofia; Geografia; História; Psicologia AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES DEST RESUMO O documentário aborda o tema “violência” nos grandes centros urbanos, relacionando suas causas com a ausência ou ineficiência de políticas públicas e com a exclusão social. Foi produzido com base em entrevistas com diretores, professores, pais e alunos de três regiões da Grande São Paulo com altos índices de criminalidade. Relata experiências bem-sucedidas, em escolas que construíram formas coletivas de enfrentar a violência local. Mostra como os jovens fazem parte do grupo que mais tem sofrido as conseqüências dessa situação, como vítimas e como agentes de atos violentos. Destaca a importância da Gestão Democrática Escolar – estratégia utilizada pela direção dos três estabelecimentos de ensino. ATIVIDADES Objetivos gerais • • • • 14 14 Abordar criticamente o tema da violência, relacionando-o com os direitos humanos, os direitos da criança e do adolescente e a temática de cidadania e ética. Criar espaços de discussão no interior da escola para tratar do problema da violência, buscando formas coletivas de encaminhar a questão. Chamar a atenção para o potencial transformador das práticas, dos processos e das relações escolares subjacente a formas de gestão democráticas. Refletir sobre outras manifestações de violência – menos evidentes, mas igualmente nocivas – nas relações interpessoais na escola. Quadra de esportes em Heliópolis Interdisciplinaridade A atualidade, a importância e a complexidade do tema sugerem o desenvolvimento de trabalhos ou projetos interdisciplinares analíticos. O estudo deve explicitar as raízes sociais, econômicas e culturais da violência em suas manifestações, desde as mais comumente reconhecidas – crimes contra a pessoa, contra a propriedade privada e o patrimônio público – até outras formas mais sutis que igualmente violentam os direitos básicos da pessoa humana, como humilhações e discriminações sofridas e praticadas nas relações entre professores e alunos. Trabalho com a equipe escolar Diretores e coordenadores encontram no documentário ricos subsídios para discutir o tema com a equipe escolar. Os depoimentos apresentados contribuem para levantar um debate, cada vez mais urgente, sobre o papel da escola na construção da cidadania e sobre as práticas de gestão escolar. A questão é complexa e implica mudanças em diversos níveis, na prática diária e nas relações interpessoais. Os depoimentos dos diretores evidenciam seu papel central nesse processo. Nas experiências relatadas ressalta uma proposta comum: a construção de formas de gestão mais democráticas, com a responsabilidade compartilhada por educadores, membros da comunidade e alunos, é primordial para evitar várias manifestações de violência na escola e da escola, e para lidar com elas. Ao exibir o vídeo para a equipe escolar, vale a pena chamar a atenção para as estratégias de enfrentamento da violência, em cada caso. Selecione momentos adequados para fazer pausas na fita e levantar o debate a respeito do trabalho desenvolvido e de suas inevitáveis dificuldades. A partir da análise e da discussão do vídeo, podem ser planejados, coletivamente, programas e projetos que contribuam para enfrentar os problemas daquela comunidade. Esse trabalho depende da realidade de cada escola, tanto quanto das relações estabelecidas com o bairro e entre os diversos agentes escolares. TV E SCOLA Para saber mais SOBRE DEMOCRACIA NA ESCOLA. Há escolas no Brasil e no exterior que utilizam “assembléias de classe”, com o propósito de favorecer o diálogo entre professores e alunos sobre os conteúdos que julgarem pertinentes, visando melhorar a convivência e a qualidade do trabalho escolar. J. M. Puig (2002, p. 118) apresenta algumas sugestões para realizar uma assembléia: • Destine uma parte do tempo de sala de aula para a assembléia. A periodicidade é importante para estabelecer uma rotina. • Organize o espaço físico (carteiras em círculo, por exemplo) para favorecer o diálogo e sinalizar a importância da cooperação. • Modifique, de certo modo, os papéis de aluno e professor, favorecendo uma participação mais igualitária, embora saibamos que não será idêntica nem terão, professor e aluno, a mesma responsabilidade. • Use o tempo da assembléia para conversar coletivamente sobre a dinâmica da classe ou sobre algum tema trazido pelos alunos, que considere do interesse para a turma. • Dialogue com vista ao entendimento, a organização do trabalho e a solução dos conflitos que possam surgir. Trabalho com os alunos SOBRE VIOLÊNCIA E ESCOLA . Apesar da visibilidade do tema “violência” e do grande interesse que ele desperta, ainda está nos primeiros passos o estudo sistemático do assunto, e de sua interface com a escola. Por isso, vale a pena consultar um número especial da revista Educação e Pesquisa , publicada pela Faculdade de Educação da USP (São Paulo, v. 27, nº 1, jan/jun 2001), que apresenta cinco artigos sobre o tema. Um deles faz um balanço da pesquisa sobre as relações entre violência e escola no Brasil, após 1980; outro é um artigo sobre a violência na escola francesa; os outros três são relatos de pesquisa. Para obter a revista: Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Av. da Universidade, 308 – São Paulo/SP CEP 05508-900 Tel.: (11) 3091-3525 Fax: (11) 3091-3148 E-mail: [email protected] Consulte a versão eletrônica da revista no site: <http://www.scielo.br/scielo>, em Scientific Eletronic Library Online Veja na internet OBJETIVOS CENTRAIS <http://www.soudapaz.org> • <http://www.soudapaz.org/projetos/observatorio/lupa/home.html> • • Ampliar a visão sobre o que são ações violentas, incluindo desrespeito ao outro, intolerância e discriminação (baseada em diferenças de classe social, religião, raça, opção sexual, e outras). Relacionar a violência vivida no bairro, em casa, e na escola com os direitos humanos, a ética e a cidadania. Criar ou fortalecer situações que ampliem a participação dos alunos no ambiente escolar, com base em projetos que trabalhem atitudes e valores tais como tolerância, respeito mútuo, cooperação e sentimento de justiça e diálogo. DESENVOLVIMENTO Tempo mínimo para a atividade: 1 hora e 30 minutos. Antes da exibição, avalie a opinião dos alunos sobre o assunto; para isso, proponha que discutam, em grupos, as questões: • Quais manifestações de violência vocês conhecem – no bairro, em casa, na escola, na sala de aula etc.? • Quais são as causas dessa violência? Socialize o debate e vá anotando em um painel, na lousa, as principais conclusões. Exiba o vídeo a seguir e, no final, promova um debate com a classe, comparando o conteúdo do vídeo com os itens anotados na lousa. Para finalizar a atividade, sugira que todos reflitam sobre a realidade que vivem na sala de aula e na escola com o objetivo de buscar sugestões conjuntas para melhorar sua convivência e conseqüentemente a qualidade do trabalho pedagógico. TV E SCOLA Site do Instituto Sou da Paz, que tem como missão contribuir para a efetivação no Brasil de políticas públicas de segurança e prevenção da violência. A página Lupa traz um levantamento cuidadoso da situação em quatro bairros de São Paulo. Leia também Sobre democracia e escola A construção de escolas democráticas: histórias sobre complexidade, mudanças e resistências U. F. Araújo. São Paulo, Moderna, 2002. Democracia e participação escolar: proposta de atividades. J. M Puig. São Paulo, Moderna, 2002. Sobre direitos humanos e escola Os direitos humanos na sala de aula: a ética como tema transversal U. F. Araújo & J. G. Aquino. São Paulo, Moderna, 2001. Veja também, da TV Escola Psicologia social: motivos que levam à violência A violência no dia-a-dia, da série Saúde na Escola Denise Trento R. Souza Professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo – São Paulo/SP. 15 Ensino Médio Os programas produzidos especialmente para o Ensino Médio, com comentários de especialistas, são uma valiosa ferramenta para o trabalho do professor e para sua formação continuada. As séries Como Fazer? e Acervo também oferecem material de apoio na internet, no endereço: <http://www.mec.gov.br/semtec/programa.shtm> COMO FAZER? JUNHO 9 NOSSA ÁGUA DE CADA DIA Direção: Peter Swanson Realização: Swynk, Holanda, 2000 Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de BIOLOGIA QUÍMICA GEOGRAFIA DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES Este vídeo aborda a importância da água e fornece dados sobre seu consumo. Mostra como os cerca de 6 bilhões de seres humanos que hoje habitam o mundo (para não mencionar as demais espécies), embora tenham necessidades físicas semelhantes, dispõem de condições de uso de água altamente desiguais. Em algumas regiões, como na Namíbia, país da África, a oferta mal chega a 4 litros diários por pessoa, enquanto em outras, como no Arizona, nos Estados Unidos, o consumo atinge a espantosa média de 425 litros diários por pessoa. Essa constatação exige a busca de métodos mais racionais de uso da água, e deixa claro que as soluções passam tanto pelo âmbito individual quanto pelo coletivo. 10 ÁGUA, GUERRA E PAZ Direção: Peter Swanson Realização: Swynk, Holanda, 2000 Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de HISTÓRIA GEOGRAFIA LÍNGUA INGLESA Duração: 24’45" O vídeo trata do papel da água nas crises mundiais. Três relatos de disputas envolvendo diversas nações, no Oriente Médio e na África, mostram como o uso unilateral da água e a escassez de recursos hídricos podem gerar conflitos. Personalidades internacionais – como Jimmy Car- 16 JUNHO JUNHO 11 Duração: 24’45" JUNHO ter, ex-presidente dos Estados Unidos, o ex-premiê russo Mikhail Gorbatchov e o Dalai-lama – destacam a importância de buscar formas pacíficas de partilhar esse recurso sem comprometer o ciclo hidrológico das regiões. O vídeo pode ser utilizado ainda para mostrar como as permanentes disputas envolvendo o uso e o controle da água afetam até mesmo um país rico do ponto de vista hidrológico – como o Brasil, por exemplo, em questões sobre a viabilidade de represar ou desviar cursos fluviais, polêmicas no caso do rio São Francisco. ENCARANDO O FUTURO Direção: Peter Swanson Realização: Swynk, Holanda, 2000 Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de BIOLOGIA QUÍMICA GEOGRAFIA Duração: 24’45" Neste programa vemos que o volume de água das chuvas se mantém constante ao longo dos anos, enquanto aumenta a população e, em conseqüência, o consumo de água. O que pode ser feito sobre o risco de a espécie humana vir a esgotar os recursos hídricos do planeta? Esse programa aborda a necessidade de buscar um padrão global de gerenciamento da água e apresenta alguns projetos de racionamento e reciclagem que já estão em prática. Examina também inovações tecnológicas, como a osmose inversa, para aproveitamento da água do mar, e a tecnologia Driwater – processo que permite armazenar água em gel, para utilização na agricultura. DICA Estes três programas da série “Água, a gota da vida” oferecem a possibilidade de um trabalho em seqüência, a ser disparado com o primeiro vídeo para alertar os estudantes sobre os problemas do consumo individual e coletivo. Como são nossas contas de água? Há excessos? É possível reduzir o desperdício? Num segundo momento, podem-se examinar questões históricas envolvendo a exploração dos recursos hídricos e, por fim, pesquisar as propostas de reaproveitamento da água. TV E SCOLA OS SEGREDOS DA 26 EVOLUÇÃO JUNHO MAIO Direção: Annamária Tálas Realização: Gabriel Film / London Television Service, Grã-Bretanha, 2001 2 Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de EM BUSCA DA REALIDADE Direção: Andrew Law Realização: BBC Open University, Grã-Bretanha, 1999 BIOLOGIA QUÍMICA LÍNGUA PORTUGUESA Duração: 28’22" Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de FÍSICA FILOSOFIA HISTÓRIA Duração: 29’02" O programa focaliza a vida e o pensamento do evolucionista inglês William Hamilton, um dos grandes estudiosos da biologia de populações e do comportamento e teórico pioneiro da seleção de parentesco. Como o comportamento suicida das abelhas pode se desenvolver num mundo moldado pela seleção natural? Ele resolve esse paradoxo examinando a natureza sob uma perspectiva genética. O programa aborda ainda a polêmica com o ambientalista inglês James Lovelock, criador da hipótese Gaia, segundo a qual a Terra é auto-reguladora – a vida e o planeta são um sistema único. Para testar a hipótese de Lovelock, Hamilton examina as algas marinhas e as nuvens que se formam sobre o mar. O tema do programa é a mecânica quântica, a mais revolucionária teoria da Física do século 20, com a qual o dinamarquês Niels Bohr explicou a estrutura do átomo. Mas muitos, como o alemão Albert Einstein, não aceitavam as hipóteses quânticas. A partir da amistosa polêmica entre os dois estudiosos, o vídeo contrapõe concepções distintas e antagônicas. O programa aborda os paradoxos da incerteza quântica e a experiência mental EPR, com a qual Einstein tentava demonstrar a impossibilidade de uma natureza aleatória. O vídeo permite introduzir conceitos da Física moderna, sob o ângulo da Filosofia e da história das ciências. ACERVO MAIO 2 DECIFRANDO O MISTÉRIO DO CÂNCER: O MAPA DA DOENÇA Direção: Kenji Kikue Realização: Tele Images, França, 1999 Duração: 49’56" Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de BIOLOGIA QUÍMICA FILOSOFIA DESVENDANDO 23 PODERES OCULTOS: O MAPA DA ESPÉCIE HUMANA MAIO Direção: Kenji Kikue Realização: Tele Images, França, 1999 Programa produzido para a grade da programação e comentado por professores de QUÍMICA PSICOLOGIA MATEMÁTICA Duração: 50’26" O programa examina o mecanismo genético que torna O programa aborda semelhanças e diferenças de comporas células suscetíveis a doenças. Com recursos sonoros e tamento apresentadas por gêmeos idênticos para analisar tevisuais, mostra importantes fases do processo de investigamas como personalidade, o cérebro e os neurotransmissores. ção científica no microcosmo do DNA. Penetrando as redes neurais, o vídeo DICA Indo além da abordagem da doença, mostra como a transmissão de impulsos A relação entre fatores ambientais e altedestaca que nem todas as mutações nas sinapses varia de um indivíduo para rações genéticas fica evidente nestes dois genéticas passam de pai para filho. E outro, sendo definida pela carga genétiprogramas da série “O genoma humano”. que uma característica ambiental, ca de cada neurônio e interferindo sobre O assunto dá margem a reflexões e pescomo maior ou menor insolação, teria os diferentes tipos de personalidade. quisas em diversas áreas, entre as quais sido a causa de transformações genéMostra ainda como esse mecanismo Geografia e Ética. ticas decisivas na história da evolução. também atua nos demais mamíferos. TV E SCOLA 17 Salto para o Futuro Salto para o Futuro é mais do que um programa de televisão. É um espaço de formação continuada de professores e de estudantes de Magistério. Abordando temas relacionados às práticas pedagógicas, estes programas se destinam ao diálogo com professores de todo o país, que se reúnem em telessalas nos diferentes estados, têm acesso a material impresso e participam por meio de questionamentos durante o programa. Os programas são transmitidos ao vivo, diariamente, das 19 às 20 horas e reprisados em outros horários. VARAL DE TEXTOS MAIO Apresenta projetos didáticos que envolvem leitura e produção de textos – poemas, notícias, contos, fábulas, textos teatrais, biografias e cartas. Também comenta o trabalho de Língua Portuguesa a partir de uma tipologia textual variada; a função social dos textos; os diferentes espaços de leitura e a produção de textos na escola. REPRISE 2 EDUCAÇÃO ALGÉBRICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Coloca em discussão o enMAIO MAIO sino da Matemática, levantando questões suscitadas pelo ensino da Álgebra. Enfoca ainda a relação entre a Aritmética, a Álgebra e a Geometria e as atividades específicas para o desenvolvimento do pensamento algébrico. INÉDITO DEST AQUES DA PROGRAMAÇÃO DESTAQUES 5 a 9 ca. Em cinco programas, enfoca os seguintes temas: o museu de ciências como espaço de formação continuada para o professor; o museu ligando escola e comunidade à pesquisa; o museu itinerante; o museu onde não há museu; e o museu e o professor. INÉDITO LER E ESCREVER: COMPROMISSO DA ESCOLA MAIO MAIO Focaliza o ensino da leitura e da escrita como tarefa da escola e como desafio para todas as áreas do conhecimento. Não se dirige apenas aos professores de Língua Portuguesa, mas também aos de Geografia, Matemática, História, Educação Física, Língua Estrangeira e Arte, que devem assumir seu papel de mediadores da leitura e da escrita. REPRISE 26 a CARTOGRAFIA NA ESCOLA Apresentando relatos de expeJUNHO JUNHO riência, a série explora fundamentos de atividades com mapas, atlas, imagens de satélite e outros recursos da cartografia em sala de aula. Discute questões como: relação entre o desenho do espaço e os conceitos cartográficos; linguagem cartográfica; cartografia indígena e ensino com mapas; produção de atlas municipais e gerais; uso de tecnologias modernas (imagens de satélite e fotografias aéreas). INÉDITO 2 LETRAMENTO E LEITURA DA LITERATURA Procura discutir com os proMAIO MAIO fessores o trabalho com a leitura e a escrita na perspectiva do letramento, fazendo um contraponto com as práticas leitoras tradicionais – muitas vezes mecanizadas e distanciadas do universo social. Também põe em debate perspectivas metodológicas para a prática alfabetizadora e para o trabalho com a linguagem literária na escola. INÉDITO 12 a 16 CIÊNCIA E VIDA COTIDIANA: PARCERIA ESCOLA E MUSEU O objetivo desta série é trazer a ciência para o cotidiano da escola e contribuir para a construção de uma cultura científi- 18 MAIO 19 a MAIO 23 30 a 6 PROCESSOS EDUCACIONAIS O objetivo da série é discutir o JUNHO JUNHO sentido e o significado da educação na sociedade contemporânea. Qual é a responsabilidade da família e da escola na educação de crianças e jovens? Qual é o impacto da escola pública sobre o desenvolvimento da sociedade brasileira? O que torna os processos educacionais escolares diferentes daqueles do cotidiano social? INÉDITO 9 a 13 TV E SCOLA Outras Atrações Duração de todos os programas: 1 hora Estes são alguns dos programas que você não pode deixar de assistir e gravar. Consulte a grade da programação e verá que muitos outros também despertarão seu interesse. MEIO AMBIENTE MAIO EXPEDIÇÃO ÀS GELEIRAS DO UZBEQUISTÃO AVALIAÇÃO E APRENDIZAGENS SIGNIFICATIVAS JUNHO Promove o debate em torno JUNHO da avaliação do ensino e da aprendizagem no contexto das aprendizagens significativas, em JUNHO situações de ressignificação do processo de ensino/aprendizagem, nas diversas áreas do conhecimento. Tal abordagem implica considerar os percursos de aprendizagem relacionados à história de vida dos alunos. INÉDITO 16 a e 18 20 DEBATES: TELEVISÃO E EDUCAÇÃO A série aborda as relações JUNHO JUNHO entre a televisão e a escola, discutindo temas como: a tevê na vida das pessoas; as novas configurações entre o público e o privado; a linguagem da televisão; a interface entre educação e comunicação; e gêneros de programas e público. INÉDITO 23 a 27 ESPAÇOS DE INCLUSÃO Debate a inclusão dos porJULHO JUNHO tadores de necessidades educativas especiais nos diversos espaços sociais e a situação da inclusão na escola, com enfoque nos dois primeiros ciclos do Ensino Fundamental. Discute a prática em sala de aula, a postura do educador e o currículo escolar. Fala dos vários tipos de deficiências: visual, auditiva, mental e física. R EPRISE 30 a TV E SCOLA 4 12 Um grupo de pesquisa se desloca para as geleiras do Uzbequistão para verificar as variações ocorridas nas camadas de gelo eterno sobre as montanhas. Situado no centro-oeste da Ásia, esse país tem visto seus recursos hídricos serem reduzidos devido à irrigação agrícola. O documentário mostra o trabalho dos cientistas para medir a profundidade do gelo, índices pluviométricos e uma série de grandezas meteorológicas, a fim de observar eventuais efeitos negativos do aquecimento global. O filme dá ensejo a trabalhos interdisciplinares envolvendo as áreas de Ciências e Geografia, que culmine com a construção de uma miniestação meteorológica. SAÚDE VIVA LEGAL 2 MAIO 26 MAIO 27 Com linguagem direta e objetiva, os 16 programas dessa série se destinam a explorar diversos aspectos referentes à saúde e ao meio ambiente, tendo em vista o objetivo de utilizar a informação como meio de viver “legal”. Os episódios abordam desde a importância do iodo para o ser humano (razão de sua presença obrigatória no sal de cozinha) até questões sobre os hospitais-dia e o parto humanizado, entre outros assuntos. O enorme leque da série permite o planejamento de trabalhos, interdisciplinares ou não, de alcance em toda a comunidade. FILOSOFIA EMMANUEL LEVINAS 1 E 2 e JUNHO 16 O estudo de Emmanuel Levinas parte do mandamento bíblico: “Não matarás”, e disserta sobre a existência da relação de sentidos com a morte e o direito individual de existência. Para entender melhor o pensamento do filósofo judeu, é preciso conhecer a história de sua vida. A influência da cultura russa em sua formação intelectual e como isso o levou à Filosofia. Com a ascensão do nazismo, Levinas foi convocado pelo exército francês. Nessa ocasião teve a oportunidade de ler Hegel e Proust, o que o fez refletir sobre suas aspirações filosóficas. A reflexão sobre a justiça, chegando ao conhecimento do sentido de liberdade. 19 EXPERIÊNCIAS TV ESCOLA No extremo norte do Brasil, o estado do Amapá é exemplo de preservação da natureza e de trabalhos educativos sérios. Confira o que seus professores e alunos nos ensinam. Reportagem: Fotos: Rosangela Guerra Iolanda Huzak Teste seus conhecimentos: Qual é o estado brasileiro que faz fronteira com a União Européia? E qual é a capital brasileira que se situa nos dois hemisférios, norte e sul? Resposta para as duas perguntas: estado do Amapá e sua capital, Macapá. O estado faz divisa com a Guiana Francesa (Departamento Francês que integra a União Européia); e a cidade é atravessada pelo equador, linha imaginária que separa a Terra em dois hemisférios: norte e sul. A parabólica da TV Escola desponta aqui e ali nas escolas públicas de Macapá, cidade de ruas largas e poucos prédios. Quando chegou, em meados de 1996, o canal da educação seguiu o mesmo caminho de sucesso que já era percorrido pelo Salto para o Futuro e estreitou cada vez mais o vínculo da escola com a comunidade. “Quer dizer que chegou a nossa vez de mostrar o trabalho que fazemos aqui?”, comentam com entusiasmo os professores. Não é de hoje que eles utilizam a programação, e têm muito para mostrar. Contam com o apoio e o incentivo da Secretaria de Estado da Educação, que garante uma verba anual para a manutenção dos equipamentos em cada escola e mantém professores em regime de 40 horas semanais de- 20 TV E SCOLA NO MEIO DO MUNDO Alunos da 7ª série da escola Marechal Castelo Branco, em Macapá, em visita ao Marco Zero. O obelisco marca o ponto exato por onde passa a linha do equador. dicados exclusivamente à TV Escola. Em todas as escolas estaduais dos dezesseis municípios do estado a TV Escola é parte do projeto político-pedagógico. ENCONTRO NO MARCO ZERO Na Escola Estadual Marechal Castelo Branco, em Macapá, estabeleceu-se um compromisso para a maior utilização possível da TV Escola. Os professores fazem seu planejamento e reservam o vídeo com antecedência; se ocorrer alguma mudança de planos, não podem deixar de avisar à videoteca, pois é bem provável que algum colega esteja à espera da mesma fita. A professora de Geografia, Carmita Sousa Siqueira, exibiu para a 7ª série o vídeo O sistema solar e, para complementar, continuou a aula em um ponto turístico peculiar de Macapá: o Marco Zero. Este é o nome de uma bela construção, inaugurada em 2000, para assinalar a passagem da linha do equador. Um esguio obelisco, com um círculo vazado bem no alto, é foco das atenções, particularmente nos dias 21 ou 22 de março e 22 ou 23 de setembro, quando ocorrem os equinócios. Turistas e moradores acorrem ao monumento, todos querem ver o Sol passar de um hemisfério TV E SCOLA 21 para outro. Na ocasião, muitas escolas apresentam danças e as festas se multiplicam. No Marco Zero, fica fácil para os alunos entenderem o conceito: equinócio (do latim, aequinoctium, que significa igualdade do dia e da noite) é o período no qual o dia e a noite têm a mesma duração, quando o Sol, em seu movimento aparente, corta o equador celeste, de maneira que os raios solares incidem diretamente sobre a linha imaginária. Quando isso acontece, o sol atravessa a janela do alto do obelisco. “Nossa escola fica no hemisfério norte”, comenta Ana Luiza do Rêgo Gomes, 13 anos. É fato, mas há outras escolas em Macapá que se situam no hemisfério sul, um luxo bem singular. De lá mesmo os alunos mostram para as repórteres o Zerão, estádio de futebol de Macapá. Lá, a localização da cidade cria uma situação mais que especial. O estádio foi projetado de maneira que a linha do meio-de-campo coincide com a do equador: assim, quando os dois times se enfrentam, cada um fica em um hemisfério. Ipiranga e Independente, os grandes rivais amapaenses, já estão acostumados com isso. EXPERIÊNCIAS ESTE É O NOSSO AMAZONAS O Amazonas é um mar de água doce que banha Macapá. No final da tarde, com a maré alta, as águas agitadas batem no contraforte e respingam nas pessoas que caminham pela orla. Os amapaenses se orgulham: “Este é o nosso Amazonas”. Afinal, eles têm em casa um dos maiores rios do mundo. Para quem vive num lugar como esse, é difícil imaginar a escassez de água que ameaça o planeta. Pensando nisso, o professor de Biologia da Castelo Branco, Marcelo Luiz Pereira, desenvolveu um projeto com seus alunos do 1º ano do ensino médio. Exibiu o vídeo Água, da série “Crônicas da Terra”, que ajudou a esquentar uma discussão sobre o futuro. “No planeta, 97% da água é salgada”, ensina o professor. Na conversa, os próprios alunos constatam que é preciso cuidar da água doce e apontam problemas: lixo jogado nas regiões de alagados, desmatamento nas margens dos rios e desperdício de água no dia-a-dia, como torneiras pingando, banhos demorados… 22 Na estação de tratamento da Companhia de Água e Esgoto, a 500 metros da margem do rio Amazonas, alunos da 1ª série do ensino médio aprendem com José Guevara, gerente de qualidade, como funcionam os processos que tornam a água potável. Antes de abastecer Macapá, as águas do rio Amazonas passam pela estação de tratamento da Caesa (Companhia de Água e Esgoto do Estado do Amapá). Prosseguindo a aula, o professor Marcelo levou sua turma do 1º ano para visitar as instalações da estação e acompanhar as fases do tratamento. Diariamente, 79,8 milhões de litros de água são captados por meio de duas bombas, a 500 metros da margem do rio Amazonas. A cada passo do tratamento, a água perde partículas de sujeira por métodos químicos, é filtrada e passa por processos de cloração e fluoretação. “Vocês sabiam que em alguns países árabes quatro tambores de petróleo são trocados por um de água?”, pergunta José Guevara, gerente de qualidade da Caesa e guia do grupo de alunos. Ele fala sobre a importância da conscientização de todos para que o planeta não sofra com a falta de água. E aproveita para dar uma boa notícia: está sendo desenvolvida na Caesa, em parceria com o governo da França, um projeto-piloto de uma nova tecnologia para a produção de água potável. “O gasto de energia elétrica é menor, e em vez de pro- TV E SCOLA dutos químicos estão sendo usadas bactérias”, conta. Da estação de tratamento o grupo vai para o trapiche Elieser Levy, para onde o transporte é feito em um bondinho que desliza sobre trilhos, em uma passarela de 350 metros sobre o rio Amazonas. Chegase assim a uma varanda sobre as águas, ponto ideal para admirar o rio que tem o maior volume de água do mundo. “Olha a pedra do Guindaste”, mostra Kelson Patrick Lopes Sá, 16 anos. Sobre a pedra, envolta em lendas, está uma imagem de São José, padroeiro da cidade – segundo a crença local, se as águas cobrirem os pés do santo, Macapá desaparecerá para sempre. O trapiche é o ponto preferido de reunião dos jovens, que são maioria na cidade – pelo IBGE, 69,3% dos habitantes de Macapá têm até 30 anos. PLANEJAMENTO E PRÁTICA Quem entra na Escola Estadual Augusto Antunes, em Santana, a 23 quilômetros de Macapá, se surpreende inicialmente com a beleza dos jardins. Mas lá dentro é visível a presença da tecnologia: alunos e pro- TV E SCOLA A passarela avança 350 metros sobre o rio Amazonas para chegar ao trapiche Elieser Levy, ponto de encontro dos jovens da capital. fessores têm à sua disposição o laboratório de informática montado pelo ProInfo/ MEC, três telões, cinco televisões e cinco vídeos. Com exceção dos equipamentos da TV Escola, doados pelo MEC, tudo o mais foi comprado com dinheiro arrecadado em gincanas e outras pequenas promoções. Além disso, houve uma complementação de verba concedida pela Secretaria de Estado da Educação, que reconheceu a importância do trabalho realizado ali. A escola, famosa por sediar o teleposto do Salto para o Futuro/TV Escola, há muitos anos, é uma referência no uso de novas tecnologias em todo o estado. Os cursistas do Salto são incentivados a se tornar multiplicadores, divulgando propostas educacionais inovadoras. O coordenador do teleposto, Raimundo de Mendonça Gerônimo, comenta o sucesso da série Visitas, passeios e excursões, que promoveu um interesse crescente Enfim, o Amapá na revista Tudo o que ela sempre quis foi ver o Amapá aqui, na revista. Teresa Cristina Souza, gerente de tecnologia educacional da Secretaria de Educação do Amapá, adotou a TV Escola desde seu início. Ao participar da elaboração do Plano de Ação da Educação a Distância no estado, em 2000, mobilizou as escolas para que incluíssem a TV Escola em seu projeto político-pedagógico. Determinada, lutou para que os professores da TV Escola recebessem o mesmo salário dos que estão em sala de aula e para garantir a verba de manutenção dos equipamentos. 23 pelas aulas fora do espaço da escola. Os professores se animam a pedir orientação para planejar suas atividades, e Raimundo dá várias dicas. Por exemplo: o professor deve conhecer o local antes dos alunos e anotar tudo o que pode ser explorado de forma interdisciplinar. É importante envolver o maior número possível de pessoas da escola, despertar o interesse e torcer para que o planejamento dê certo. E se não der? Raimundo responde: neste caso, entra em cena a habilidade do professor para fazer adaptações; por isso mesmo, o planejamento deve ser flexível. Com a experiência de quem já lecionou em áreas de plantação de açaí, casas de farinha, escolas ribeirinhas e cais do porto, ele aconselha terminar as aulas com atividades de lazer, para unir e motivar o grupo. SACACA: MUSEU DE CIÊNCIA E TRADIÇÃO Uma das orientadoras do teleposto da Escola Estadual Augusto Antunes, a professora Lourdes Estevam levou uma turma de cursistas do Salto para conhecer o Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável. De conceito inovador, o museu “a céu aberto”, inaugurado em abril de 2002, alia o conhecimento científico ao popular. Isso fica evidente até no nome, que homenageia Sacaca, apelido de Raimundo dos Santos Souza (1926-1999), macapaense que curava as pessoas com “garrafadas” e ungüentos feitos com plantas da floresta. Os guias do museu, alunos da rede pública que recebem bolsas de estudo da Secretaria de Estado da Educação, mostraram os principais pontos do Sacaca ao EXPERIÊNCIAS Videotecas que são um luxo Estantes construídas com a boa madeira da terra, fitas organizadas, livros que registram o acervo e os empréstimos, com aquela letra bonita que só os professores têm, são assim as videotecas visitadas pela reportagem da revista TV ESCOLA em Macapá e Santana. “Para chegar a ter a estrutura de hoje lutamos muito”, conta Raimundo de Mendonça Gerônimo, da escola Augusto Antunes, em Santana. A videoteca começou numa sala apertada com cadeiras quebradas. O sucesso do Salto contribuiu para que a TV Escola fosse olhada com bons olhos pelos professores. Raimundo e sua equipe foram à luta para conseguir uma sala maior e mais equipamentos. A videoteca da escola Professora Elizabeth Picanço Esteves, em Santana, hoje com 935 fitas, cresceu sob a orientação da professora Eliana Silva dos Santos. Muito antes do lançamento do Guia de programas da TV Escola, ela já fazia a sinopse dos vídeos para incentivar os professores a trabalhar com a televisão. Agora, dezoito professores já 24 Exemplos de persistência e dedicação às videotecas de suas escolas: Raimundo (acima) e Eliana (no alto), em Santana; Francisca, Josefina e Vasty, em Macapá. fizeram o curso TV na Escola e os desafios de hoje, e o interesse se espalhou ainda mais. Na escola Castelo Branco, em Macapá, a videoteca com grandes estantes de madeira ganhou um espaço anexo para a exibição de vídeos. “Quando assumi a coordenação da videoteca, muitos achavam que minha função era só tomar conta dos equipamentos para que não fossem roubados”, lembra Francisca Góes da Silva. Junto com as outras videotecárias, Josefina Almeida e Vasty Leite, Francisca se dedicou a conscientizar o professorado para desenvolver projetos com a programação. Hoje a videoteca é conhecida como uma porta que nunca se fecha na escola. O motivo é a grande procura por vídeos pelos professores dos três turnos. TV E SCOLA No museu Sacaca, em Macapá, cursistas do Salto passeiam por trilhas e pontes, conhecem o “regatão” e o viveiro de plantas medicinais. TV E SCOLA 25 Na escola Professora Elizabeth Picanço Esteves, em Santana, os alunos de Arte criaram mosaicos com motivos da cultura local... daços de rede no interior das bolas feitas com o látex da borracha, para aumentar o volume. Os tempos mudaram. Se antes os castanheiros do sul do estado trocavam vários litros de castanha por uma lata de leite em pó, hoje eles compram os produtos de que necessitam. Organizados em cooperativas, os castanheiros e os outros moradores da floresta experimentam uma nova relação de trabalho, graças ao Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA), implantado em 1995. Augusto Oliveira, presidente do museu, comenta que a instituição traduz bem o conceito de desenvolvimento sustentável. Tudo ali é concebido para os visitantes perceberem que é preciso harmonizar o social e o ambiental no aproveitamento dos recursos naturais. Nesse sentido, o conhecimento de índios, negros e caboclos em relação à natureza deve ser reconhecido, valorizado e absorvido pela pesquisa científica. Ao fim da visita, os cursistas do Salto refletiram sobre seu compromisso de multiplicar o aprendizado e já planejavam levar seus alunos para conhecer o museu. EXPERIÊNCIAS grupo – alunos do magistério, professores e orientadores educacionais. A história, a cultura e as belezas naturais do Amapá estão ali representadas num projeto museológico ousado e atraente. Basta seguir as trilhas e pontes, em meio à vegetação amazônica, para chegar, por exemplo, ao viveiro de plantas medicinais com uma escultura de Sacaca, a uma casa típica dos castanheiros, a uma moradia dos ribeirinhos, ou à maloca dos índios Waiãpi. O que mais fascinou o grupo foi entrar na réplica de uma embarcação do início do século, um “regatão”. A guia do museu, Fernanda da Silva, de 19 anos, explica que antigamente esse barco entrava em rios e igarapés levando fumo de rolo, alimentos, tecidos, perfumes e calçados, que eram vendidos ou trocados por farinha, borracha e castanha fornecidos pelos moradores da floresta. Essas transações eram expressas em um dito popular: “Diabo compra, diabo vende”– pois com freqüência, enquanto os donos de regatões alteravam os pesos da balança para enganar os fregueses, alguns seringueiros misturavam pe- 26 TV E SCOLA NOVOS ARTISTAS Tudo começou com vídeos da TV Escola. Sônia Malheiros, professora de Arte da Escola Estadual Professora Elizabeth Picanço Esteves, em Santana, trabalhou com os programas da série de História “A tradição ocidental” com alunos dos ensinos fundamental e médio. Em 40 programas, a série documenta a história do Ocidente, desde seus primórdios, sob os pontos de vista social, político, econômico e cultural. A professora conseguiu despertar a curiosidade, o interesse e a reflexão dos alunos, e assim começou a criação de trabalhos de arte. A exposição realizada com as produções dos alunos do ensino fundamental e do médio impressionou pela qualidade e atraiu a atenção da comunidade. Os alunos exploraram técnicas variadas, conheceram diferentes manifestações artísticas, estudaram história da arte e estabeleceram relações com o patrimônio cultural brasileiro. Mosaicos, papel machê, aquarela, cerâmica, desenhos… Com tintas à base de pigmentos naturais (beterraba, café, tijolo), uma turma recriou pinturas rupestres. A civilização egípcia inspirou alguns estudantes do ensino médio para uma releitura dos hieróglifos e para TV E SCOLA ... e se inspiraram na mitologia grega para fazer máscaras e esculturas em papel machê. a análise da arte dos povos indígenas. Os deuses gregos mexeram com o imaginário dos jovens, que criaram máscaras e pequenas esculturas de papel machê. Outros descobriram a arte do mosaico no Império Bizantino e se empenharam em produzir sua própria arte: com papel colorido e com vidro reproduziram, em mosaicos, cenas do Rio Amazonas, a imagem de São José, padroeiro de Macapá, o mapa do Amapá… O teatro também teve vez. Os alunos da professora Sônia encenaram lendas locais, como a da Loura da Fábrica de Arroz. Trata-se da história de uma moça assassinada cujo fantasma persegue os moradores da cidade. Sucesso garantido: no pátio da escola, a platéia aplaude, ri e grita de medo. A dança entra em cena, ao som de ritmos locais – que refletem influências caribenhas e colombianas. A própria professora entra na dança, dando exemplo da importância da espontaneidade e da desinibição no processo criativo. Os alunos se animam ao comentar as aulas dessa professora apaixonada pelo ofício, dizendo que com ela aprendem de tudo – Arte, História, Geografia… “Cada aula é uma surpresa. Muitas vezes ela chega com uma mala cheia de livros e fotografias de obras de arte que viu numa viagem à Europa”, conta Richard Furtado de Souza, 16 anos. Escola Estadual Marechal Castelo Branco Avenida Clodóvio Coelho, 145 – Bairro do Trem Macapá/AP – 68902–050 Tel.: (96) 212-5253 Escola Estadual Augusto Antunes Rua Comandante Salvador Diniz, 1.636 – Bairro Nova Brasília Santana/AP – 68925-000 Tel.: (96) 281-5654 Escola Estadual Professora Elizabeth Picanço Esteves Av. das Nações, 678 – Bairro Hospitalidade Santana /AP 68925-000 Tel.: (96) 281-3004 27 QUE LUGAR É ESSE DISPUTA PELA TERRA A área que hoje pertence ao estado do Amapá (142.815 quilômetros quadrados) foi objeto de muita disputa, desde o início da colonização. Eram permanentes as incursões de ingleses, holandeses e franceses – estes, que se instalaram na atual Guiana Francesa, foram os mais persistentes. Somente em 1900, graças a negociações feitas pelo barão do Rio Branco, a região foi de fato incorporada ao estado do Pará, com o nome de Araguari. A partir de 1943 foi constituído o Território Federal do Amapá, que em 1988 ganhou status de estado. Segundo o IBGE, a população é de 477.032 habitantes. EXPERIÊNCIAS NO EXTREMO NORTE DO BRASIL O rio Oiapoque é o limite que separa o Amapá, ao norte, do Suriname e da Guiana Francesa. O estuário do rio Amazonas banha as terras a leste, com suas inúmeras ilhas, até desaguar no oceano Atlântico; e o rio Jari delineia a fronteira com o Pará. Apenas 1% da área desse estado cercado pelas águas foi desmatada, e a biodiversidade se mantém praticamente intacta. O Programa de Desenvolvimento Sustentado do Amapá (PDSA), reconhecido no exterior, foi inspirado na Agenda 21, documento elaborado durante a Conferência Eco-92 (2a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Ao som de tambor feito com couro de cobra, Maria Umbelina, Maria da Silva e Josefa mostram os passos do marabaixo, dança que mistura o sagrado e o profano. Abaixo, a Fortaleza de São José, construída em 1771. sideram que o nome “marabaixo” tem a ver com a vinda de negros da África para o Brasil – mar abaixo. AS PARTEIRAS DA SAÚDE O Amapá apresenta o menor índice de cesarianas do país. Há no estado cerca de 600 parteiras, cujo trabalho é reconhecido pelo governo. Elas são consideradas agentes comunitárias de saúde e recebem capacitação para orientar as mães sobre prevenção de aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, sobre amamentação e vacinação dos bebês. SÃO JOSÉ DO MACAPÁ O povoado que originou a capital surgiu no século 17, na luta dos portugueses para expulsar os ingleses. Em 1771 foi cons- MARABAIXO Misturando o sagrado e o profano, esse ritual de origem africana homenageia o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. Com galho de murta na orelha, saia florida, colares e bata branca, as mulheres dançam ao som de tambores feitos com couro de cobra. Alguns con- 28 TV E SCOLA truída a fortaleza São José do Macapá, sobre um fortim anterior, e promovida a vinda de colonos açorianos e marroquinos para ocupar o território e afastar os invasores. A fortaleza é hoje uma das mais belas construções do gênero no país. Tem a forma de uma estrela, com quatro baluartes nos vértices de um quadrado. NA LINHA DO EQUADOR A posição de Macapá, sobre a linha do equador, é partilhada pelas cidades de Pontianak na Indonésia, Coquilhaville no Congo, Entebes em Uganda e Quito, no Equador. Segundo o IBGE, a área de Macapá é de 6.407 quilômetros quadrados e a população é de 283.308 de habitantes. CAMARÃO NO BAFO O camarão pescado no rio Amazonas é cozido no vapor e servido com sal e limão nos muitos bares e restaurantes da orla de Macapá. Outro prato regional é a mujica (ou mojica), uma espécie de caldo feito com camarão e farinha de mandioca. Em outros tempos, o porto de Santana serviu à exportação de manganês. O camarão pescado no rio e cozido no vapor é um dos pratos típicos. PORTO PARA O MANGANÊS O município de Santana fica na margem esquerda do rio Amazonas, a 23 quilôme- TV E SCOLA A partir do rio, um trecho da paisagem da cidade. tros de Macapá. Segundo o IBGE, ali vivem 80.439 habitantes, em uma área de 1.599 quilômetros quadrados. O porto foi construído no final da década de 50, para escoar o manganês extraído na Serra do Navio. Com o fim da exploração, foram-se as empresas exportadoras e ficaram muitos migrantes, principalmente do Pará e do Maranhão. Tal como Macapá, Santana também é uma área de livre comércio. 29 EXPERIÊNCIAS ESCOLA Enquanto estudam e aprendem, os alunos da escola Walter Franco, em Estância, Sergipe, se divertem e se preparam para a vida cidadã. Reportagem: Fotos: Rosangela Guerra Sérgio Falci Aulas à sombra de mangueiras e jaqueiras, passeios de bicicleta, uma nova camiseta de uniforme, rock no pátio, vídeos e programas de rádio. “Nossa escola tem tudo isso e é muito divertida”, diz Priscila Lidiane da Silva, 18 anos, aluna do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Senador Walter Franco em Estância, Sergipe. Cheia de atrativos para crianças e jovens, a escola Walter Franco tem 1.520 alunos, do 3º ano do Ensino Fundamental ao 3º do Ensino Médio, e sua qualidade a tornou famosa na cidade. Só no ano passado faturou dois prêmios. Ganhou o quarto lugar, em nível estadual, do prêmio “Gestão Escolar”, iniciativa conjunta do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed) com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Unesco e a Fundação Roberto Marinho. E também recebeu o prêmio “De Escola para Escola”, concedido pela Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec/MEC), pela criação da Rádio WF (Walter Franco). Aos sábados, os professores costumam se reunir para discutir novos projetos interdisciplinares, recorrendo sempre ao acervo da TV Escola. Nos corredores, o registro dos inúmeros trabalhos desenvolvidos é moti- 30 DE BEM O grupo de ciclistas, da turma da professora Edileusa, visita o Porto D’Areia, às margens do rio Piauí. vo de orgulho para os alunos, protagonistas de muitas ações. Nas fotos exibidas nos painéis, eles aparecem, por exemplo, na feira e no supermercado, fazendo pesquisas sobre alimentos transgênicos, ou no laboratório, preparando produtos de higiene. “Aqui na escola todos reivindicam”, diz a diretora Maria Angélica Santos Costa. Os professores querem condições para desenvolver os projetos, os alunos são críticos e é TV E SCOLA COM A VIDA por isso, segundo Angélica, que o trabalho cresce. “Já conseguimos muitas coisas, mas faltam outras. Uma delas é investir mais no relacionamento com a comunidade”, reconhece a diretora. Professores e alunos se preparam agora para uma grande feira na rua da escola, onde tanto a comunidade como os alunos vão mostrar e vender o que sabem fazer. “Com o vídeo Sementes, palitos, latas e infláveis”, conta a professo- TV E SCOLA ra Luciana Alves de Jesus, “eles aprenderam a fazer porta-lápis, caixinhas, quadros, porta-retratos.” E já fazem planos para gastar o dinheiro que será arrecadado na feira: investir em computadores para a escola. RÁDIO NO RECREIO A Rádio WF, transmitida apenas no interior da escola, entra no ar na hora do recreio. No estúdio, Priscila Lidiane da Sil- 31 EXPERIÊNCIAS va, 18 anos, aluna do Ensino Médio, segura o microfone e solta o verbo: “Alô, galera.Vamos estimular nossos professores a trabalhar com poesia em sala de aula…”. Michele Costa, 15 anos, também do Ensino Médio, entrevista os colegas no pátio: “O que é preciso para melhorar nossa cidade?”. As opiniões variam: segurança, poluição, saúde… Para encerrar, a repórter da Rádio WF anuncia que autoridades municipais responderão a perguntas dos alunos nos próximos programas. A Rádio WF nasceu de uma idéia da professora de Arte, Andréia Oliveira San- As bicicletas descansam, em uma pausa para o grupo discutir o que está aprendendo nas andanças pela cidade. tos, que explica: “Eu procurava uma forma de criar um elo entre os diversos projetos desenvolvidos e queria também mobilizar a escola através da comunicação”. Para levar adiante o projeto, ela foi de sala em sala, recolhendo pequenas doações e pedindo o empréstimo de equipamentos, como microfones e caixas de som, por exemplo. A idéia da criação da rádio caiu no agrado geral. Pouco a pouco o que parecia ser um sonho foi se tornando realidade. O radialista e ex-aluno da escola, Edvaldo Batista Santos, se prontificou a trabalhar como voluntário. A salinha ao lado da videoteca foi transformada em estúdio. Em 2001, a rádio começou a funcionar precariamente, mas não faltou quem valorizasse a iniciativa. No ano passado, os 5 mil reais recebidos como prêmio no concurso “De Escola para a Escola”, promovido pela Semtec/ MEC, foi uma espécie de injeção de ânimo. Tornou possível investir em equipamentos, contribuindo para que o projeto decolasse. Além das músicas preferidas pelos jovens, a programação inclui comentários sobre vídeos da TV Escola (especialmente aqueles sobre Ética), divulgação de projetos pedagógicos e reportagens. Para as últimas eleições presidenciais foi feita uma programação especial. Os eleitores Rádio WF em ação. À esquerda, o voluntário Edvaldo Batista Santos no estúdio. Acima, Michele Costa entrevista colegas. 32 TV E SCOLA que foram à escola para votar ouviram um programa sobre a história das eleições no Brasil, com vinhetas sobre a importância do voto. O sonho de professores e alunos é que a WF se torne uma rádio comunitária, que possa ser ouvida fora do espaço da escola. ESTUDO E PRAZER “Tomar uma fresca” é uma expressão comum em Estância, onde a temperatura é elevada durante boa parte do ano. Por que se limitar à sala de aula, se lá fora há a sombra de árvores frondosas? A professora Edileusa do Nascimento com freqüência dá suas aulas de Sociedade e Cultura ao ar livre. Os alunos carregam cadeiras da sala de aula e vão se sentar em roda ao pé da jaqueira, na parte de trás da escola – um verdadeiro quintal com palmeiras, coqueiros e árvores frutíferas do Nordeste. “O que é liberdade para vocês?”, pergunta a professora Leleu, como é chamada. Desinibidos, os alunos da 7ª série filosofam sobre o tema “liberdade” e entram depois na discussão sobre sistemas de governo. Pouco antes de terminar a aula, uma boa notícia: “Amanhã vamos fazer um passeio ciclístico pela cidade”, avisa Leleu. TV E SCOLA Aulas ao ar livre. A professora Leleu discute temas de Sociedade e Cultura à sombra da jaqueira. A professora de Religião, por sua vez, reúne seus alunos sob um frondoso flamboyant. No dia seguinte, antes mesmo de tocar o sinal para o início das aulas, os alunos estão a postos, no portão da escola – cada um com sua bicicleta, garrafinha de água e protetor solar. Óculos da moda, bonés, chapéus e mochilas coloridas compõem o visual jovem dessa turma que pedala pelas ruas de Estância. Alegrando a cidade, a cada curva gritam “Uh-uh!!!”, atraindo a atenção dos moradores. Depois de uma parada no centro histórico, para observar os casarões azulejados, 33 que marcam a influência portuguesa, o cortejo de ciclistas segue em frente, rumo ao Porto d’Areia, às margens do rio Piauí. Em meados do século 18, por ali se escoava a produção dos engenhos de açúcar e a farinha de mandioca que seguiam para Bahia e Pernambuco. Estância cresceu como um dos maiores centros açucareiros do sul de Sergipe. Sentados na grama, às margens do rio Piauí, os alunos ouvem, atentos, a história da cidade contada pela professora. Observam o rio, percebem que a mata ciliar está escassa e se dão conta de que hoje o assoreamento impossibilita a chegada de qualquer navio. Além dos passeios ciclísticos, Leleu costuma organizar viagens para conhecer cidades históricas sergipanas, como Laranjeiras e São Cristóvão. Para despertar o interesse sobre a cultura regional, ela trabalha com vídeos sobre Pluralidade Cultural – por exemplo, Ciclo natalino e Carnaval: maracatus e caboclinhos. E orienta entrevistas com antigos moradores, para pesquisar as tradi- EXPERIÊNCIAS ARTE E TRADIÇÃO A professora de Arte, Andréia Oliveira Santos, cresceu em Estância ouvindo o canto das lavadeiras que trabalhavam à beira do Piauitinga, principal afluente do rio Piauí. Para os moradores, o rio era lugar de trabalho, de lazer e também de higiene pessoal. Havia “bacias” de homens, de mulheres e também de crianças. As bacias eram os locais do rio onde as pessoas tomavam banho. Com o tempo, tudo mudou. Poluído principalmente pelas fábricas de suco de laranja instaladas na cidade, o Piauitinga já não é tão belo. Em época de produção mais intensa de suco, um forte cheiro de laranja exala das águas. Peixes e camarões, que não resistem aos dejetos das fábricas, passam boiando rio abaixo. Hoje, “Alô, galera” galera”. O som da rádio WF se espalha pelo pátio da escola, durante o recreio. Flagrantes da escola Antena digital digital. A diretora Maria Angélica Santos Costa recebe da Secretaria de Educação a Distância (Seed/MEC) a antena parabólica digital, que vai melhorar a recepção do sinal da TV Escola. 34 ções locais, como o Reisado, a Chegança e a Batucada. O resultado desse trabalho foi mostrado no Festival de Cultura e Arte – realização da escola Walter Franco, que já faz parte do calendário de eventos da cidade. Rock no pátio pátio. Nos finais de semana, a banda Épicus, formada por alunos e ex-alunos, ensaia rock no pátio. TV E SCOLA bem poucas lavadeiras dão o ar de sua graça, trabalhando e cantando pelas manhãs – mas ainda cantam, tal como cantavam suas mães e avós. Andréia propôs aos alunos ouvir as histórias contadas pelas lavadeiras do Piauitinga e gravar as cantigas de beira-rio. “A nossa idéia é fazer um CD”, diz a professora, idealizadora de vários projetos desen- Alunos exibem máscaras de papel machê feitas por eles, recriando a tradição do Carnaval da cidade. volvidos na escola. Ela conta que usa o acervo da TV Escola para sua própria capacitação e que os alunos assistem não apenas aos vídeos de Arte, mas também aos de Pluralidade Cultural, Ética e Meio Ambiente, entre outros. As tradições culturais da cidade são a referência para muitos trabalhos de Arte. Por exemplo: os alunos recriaram, com papel machê, as máscaras usadas no carnaval de Estância. Andréia realizou também um projeto sobre a rua Capitão Salomão, uma das mais tradicionais da cidade. A turma do 2º ano do Ensino Médio do noturno pesquisou fotos antigas da rua, analisando as modificações ao longo tempo. Além dos casarões com azulejos portugueses, ficavam nessa rua a primeira biblioteca da cidade, o Clube Republicano, e o Cinema São João. “Hoje não temos cinema na cidade”, lamenta a aluna Maria Guadalupe de Jesus, 33 anos. A partir das fotografias, os alunos reconstituíram a rua Capitão Salomão do século 19, e construíram uma maquete. Com criatividade, foram encontrando soluções Ler com prazer prazer.. O incentivo à leitura faz parte do cotidiano da escola, desde as primeiras séries. Teatrinho para TV Escola Escola. A professora responsável pela TV Escola, Maria Letícia de Jesus, recorre ao teatro de fantoches para divulgar os vídeos do acervo da videoteca. V oluntários ecológicos gicos. Eles cuidam dos jardins da escola e conferem a coleta seletiva do lixo, aplicando o que aprenderam com vídeos da TV Escola (O lixo é luxo, série Educação Ambiental, entre outros). TV E SCOLA 35 inovadoras para cada etapa do trabalho. Por exemplo, para reproduzir os azulejos portugueses, fizeram fotos dos casarões da Capitão Salomão, e escanearam e imprimiram as imagens em tamanho adequado para revestir os sobrados da maquete. “Para falar a verdade eu não valorizava nosso patrimônio histórico. As aulas de Arte mudaram meu olhar”, diz a aluna Geovânia Pereira, 31 anos. Mas a alegria da turma foi ver a reação das pessoas mais velhas da cidade diante da maquete exposta O estudo da rua Capitão Salomão, uma das mais tradicionais da cidade, rendeu muitos trabalhos. A maquete reproduz até os azulejos das fachadas. Alunos entrevistam as lavadeiras do rio Piauitinga e gravam suas histórias e cantigas: “a idéia é fazer um CD”. na Feira de Arte e Cultura da escola. “Foi como se eles tivessem entrado no túnel do tempo”, diz Andréia. Os antigos moradores começaram a contar histórias da rua Capitão Salomão. Muitos se lembravam das sessões de cinema que, quase sempre, começavam atrasadas porque era preciso esperar a chegada dos rolos de filme, que vinham de Salvador. Orgulhosos, os estudantes doaram a maquete para o Memorial de Estância, onde a obra poderá ser admirada por moradores e turistas. ALUNOS EMPREENDEDORES EXPERIÊNCIAS Os alunos do 1º ano do Ensino Médio noturno se interessaram por realizar uma atividade prática que abrisse caminho para um projeto de geração de renda. A professora de Matemática, Bernadete de Oliveira Santos, investiu na idéia: propôs que fizessem materiais de limpeza, como detergente, desinfetante, água sanitária e amaciante de roupas. Depois de calcular custos e benefícios, os alunos procuraram a direção da escola para solicitar a compra dos materiais necessários para o empreendimento. Enquanto nas aulas de Matemática faziam cálculos e construíam tabelas e gráficos, planejando 36 TV E SCOLA a produção, nas aulas de Química da professora Márcia Beatriz Reis estudaram as reações químicas envolvidas na preparação de produtos de limpeza. As garrafas pet recolhidas no lixo da escola foram sendo reservadas para acondicionar os produtos. Mas que nome dariam à marca? Chegou a vez de a professora de Língua Portuguesa, Jairlene Dias, intervir. Ela apostou na criatividade da turma: sugeriu que escolhessem um nome, uma marca, além de produzir pequenos textos para o rótulo e slogans para a publicidade. Os produtos ganharam a marca WF, e logo acharam um comprador certo: a própria escola. “Estamos fazendo uma economia de cerca de 50 por cento com a compra de material de limpeza”, diz a diretora. Com o dinheiro ganho, além de investir no próprio empreendimento, os alunos pretendem comprar ventiladores para a escola e quadros brancos, para substituir as antigas lousas verdes. Para Bernadete, professora de Matemática, projetos como esse ajudam a superar o sentimento de falta de perspectiva para os jovens, diante da dificuldade de conseguir espaço no mercado de trabalho. Além Voluntários bem dispostos. Edvaldo Oliveira, do Ensino Médio noturno, instala um bebedouro. Maria da Conceição dos Santos, mãe de dois alunos, faz o que for preciso. disso, desenvolvem atitudes solidárias e cooperativas, que contribuem para valorizar a cidadania. CONTRIBUIÇÕES SEMPRE BEM-VINDAS Na escola Walter Franco há sempre alguém dando sua contribuição, participando com aquilo que sabe e gosta de fazer. Para o sucesso da Rádio WF, por exemplo, é importante a atuação do ex-aluno Edval- O palhaço Pipoquinha e o Grupo Arco-Íris animam as festas. TV E SCOLA 37 EXPERIÊNCIAS QUE LUGAR É ESSE do Batista, que aproveita sua experiência como radialista para orientar professores e alunos em relação ao uso de equipamentos e à criação de programas. Quem anima as festas da escola, no papel do palhaço Pipoquinha, é o ex-aluno João Batista Basílio, que já participou do Conselho Tutelar da Infância e da Adolescência. Agora, ali na Walter Franco, criou o conjunto Arco-Íris, formado por alunas que dançam e cantam músicas que falam de alegria, esperança e prazer de viver. A turma do Pipoquinha tem até CD, gravado no estúdio da Rádio WF: Sorria sempre. Maria da Conceição dos Santos, mãe de dois alunos, dedica suas tardes ao trabalho voluntário, servindo a merenda ou fazendo o que for preciso. “Meus filhos ficam orgulhosos de me ver aqui e eu me sinto bem ajudando a escola”, diz. Enquanto ela varre o pátio, Edvaldo Oliveira, 19 anos, instala um bebedouro. Aluno do 3º ano do Ensino Médio noturno, ele está sempre disponível para atender aos pedidos da direção. O laboratório de Química da Walter Franco virou outro desde que Givanildo de Jesus Hora, 19 anos, do 3º ano do Ensino Médio, assumiu a responsabilidade de organizar os recipientes e os reagentes. “A gente não sabe se ele adotou a escola ou se foi adotado por ela”, brinca a diretora, Angélica. Resultado de um projeto interdisciplinar, os produtos WF de limpeza são fabricados e utilizados na escola. À BEIRA DO RIO Antigas construções, como a vila operária e o Paço Municipal, documentam a história da cidade. A cidade de Estância fica no sudeste do estado de Sergipe, a 69 km da capital, Aracaju. A área é de 649,6 km2; a população, de 58.836 habitantes. Um passeio de barco pelo rio Piauí revela a riqueza dos manguezais, povoados por aratus, caranguejos, guaiamuns, peixes, camarões e mariscos. Escola Estadual Walter Franco Avenida Raimundo Silveira, 1.440 – Bairro Alagoas Estância/SE – 49200–000 Tel.: (79) 522-5620 38 TV E SCOLA copilador Sergipano. Os estancianos também contam, orgulhosos, que o imperador Pedro II, em visita à cidade, chamoua de “Jardim de Sergipe”. As ruas e becos têm nomes curiosos, cada um com sua história: Beco Coberto, Beco da Galinha Morta, Rua da Tripa, do Sangue, do Galo Assanhado, Arrepiada, do Penico, da Perna Aberta… A rua da zona boêmia é chamada de ABC, pois ali os homens se iniciam na vida sexual… SANTA MEXICANA A história da cidade principia em 1621, com o mexicano Pedro Homem da Costa, que se entusiasmou com a qualidade dos pastos e começou a criar gado. Mandou erguer uma capela em louvor de Nossa Senhora de Guadalupe, protetora do México, que assim se tornou também padroeira de Estância. Na Casa de Cultura Maria Judite Melo são exibidos instrumentos musicais e bonecos com roupas típicas das famosas festas juninas, que ganham mais brilho no dia da comemoração, quando o barco dispara com os fogos acesos. ENGENHOS E FÁBRICAS No século 19, Estância chegou a ser o maior centro açucareiro de Sergipe e abrigou muitas fábricas de tecidos. A principal foi a Fábrica Santa Cruz, hoje desativada, mas da qual se preservou o conjunto arquitetônico da vila operária, construído em 1891. TRADIÇÃO E CURIOSIDADES Foi em Estância que se publicou, em 1832, o primeiro jornal do estado – o Re- A doceira Eulina Bonfim e seus quitutes. BARCO DE FOGO Estância faz a melhor festa de São João do estado de Sergipe. De 31 de maio a 30 de junho, ruas e praças se enchem de gente. Há danças da batucada e do pisa-pólvora, corrida de jegue, casamento caipira, concursos de quadrilhas e da rainha do São João. Os fogueteiros preparam os busca-pés e o barco de fogo, a maior atração da festa – um pequeno barco enfeitado com papel de seda, cheio de fogos, dispara sobre um cabo de aço estirado na rua, levando a multidão ao delírio. DOCES E LICORES Doces e licores de frutas são tradicionais. Entre os doces mais famosos estão o de araçá e o dedinho de jenipapo, típico das festas juninas. Os bolos de puba, leite e aipim, assim como o manauê (espécie de bolo de milho), são vendidos nas padarias da cidade. TV E SCOLA 39 Rosely Sayão VIOLÊNCIA: UMA Na revista nº 28, convidamos nossos leitores a formular perguntas para entrevistar a professora Rosely Sayão acerca do tema “relacionamento entre escola e família”. Entre as questões recebidas, sobressaiu uma outra preocupação dos professores: a violência na escola. Neste artigo, a professora Rosely dá as respostas. A violência que atinge hoje a escola pode ser enfrentada pela própria escola, em parceria com a família, ou trata-se de uma questão social mais ampla? A violência na escola é um problema muito sério que exige medidas urgentes: onde está sua origem e o que pode ser feito para dissipá-la? Como trabalhar com problemas de desajuste familiar que tornam o aluno agressivo e violento na escola? Estas questões formuladas por alguns professores expressam justificadamente uma grande preocupação e também a sensação de impotência diante da questão da violência na escola. A escola foi invadida por ela e os professores vêem-se a si próprios e a muitos de seus alunos como vítimas. Não raro, a maioria tem medo – e com razão, em muitos casos – de freqüentar o espaço escolar em determinados horários ou regiões, enfrentar algumas classes ou simplesmente exercer a autoridade que o papel de professor exige, receando represálias. Claro que a violência no espaço escolar – que em geral nem se compara à que observamos e sofremos no espaço social mais amplo – é um fato complexo, alimentado por um conjunto de fatores que uma única disciplina não dá conta de 40 compreender e problematizar. Mas isso não impede que os educadores reflitam sobre o tema, e percebam que não são apenas vítimas dessa violência, mas também agentes dela. Assim, sempre que se fala da violência na escola é bom também considerar a violência da escola. Vítimas, sim, mas do preconceito É sempre muito mais fácil conseguir enxergar o que o outro faz, não é verdade? Durante a guerra de Estados Unidos e Inglaterra contra o Iraque, foram inúmeros os protestos em nome da paz, em todo o mundo. Aqui no Brasil, pudemos observar nas passeatas a presença de muitos adolescentes e jovens. Eles estavam lá, bradando contra a violência, mas não se dão conta de que, no dia-a-dia, também praticam pequenas violências: no trânsito, na escola, na relação com os pais, no espaço público, na interação com os colegas, por exemplo. De maneira similar, os professores, tão logo o assunto violência é colocado em pauta, se apressam em atribuí-la à indisciplina dos alunos, às drogas, aos chamados “maus elementos”, à família etc., mas no exercício de seu trabalho também praticam um tipo de violência inconsciente e dissimulada. Por exemplo: o julgamento que com freqüência fazem das famílias de seus alunos. “A maioria de nossos alunos vem de famílias desestruturadas: pais separados, irmãos de pais TV E SCOLA VIA DE MÃO DUPLA O papel da escola Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que o espaço escolar é o local privilegiado para a discussão da violência, que pode ser abordada como tema transversal, ou seja, trabalhando em todas as áreas do conhecimento – Língua TV E SCOLA Portuguesa, História, Geografia etc. Cada professor terá sua contribuição a dar. Em segundo, a escola também pode – e deve – oferecer a chance para que seus alunos expressem sua própria visão a respeito da violência, tanto a que sofrem quanto a que observam. As atividades artísticas e culturais, por exemplo, permitem isso de modo particularmente eficiente. Ao refletir sobre isso e trabalhar com o tema, o aluno pode compreender melhor o que se passa com ele e com o outro. É importante evitar que a escola – que não é uma entidade abstrata, mas sim uma instituição integrada por todos seus participantes – tente encobrir os conflitos inerentes ao papel que exerce, ou moralizar situações que exigem ouvidos atentos e compreensão. Agindo assim, enfrentar de modo ativo a violência que impede e/ou prejudica o trabalho dos educadores do espaço escolar passa a ser encarado como um desafio, e não como mais um lamento a se somar a tantas outras vicissitudes às quais o trabalho em educação está tão vinculado no Brasil. Claro, a questão da violência na escola não pode ser vista apenas sob esse prisma; há inúmeros outros aspectos que merecem ser abordados. Mas o que proponho é um jeito diferente de pensar o assunto: localizar o ponto de partida para qualquer atitude ou reflexão no interior da escola, e não fora dela. Esta, para a escola, é uma possibilidade de atuação efetiva. Rosely Sayão Sayão, psicóloga e professora, dá consultoria a escolas, pais e professores a respeito da educação de crianças e adolescentes. [email protected] ○○○○○ diferentes, crianças criadas apenas pelos avós, pais desconhecidos ou ignorados etc. Como trabalhar com esses alunos?”. Esta pergunta, de um professor de escola pública (é bom lembrar que o quadro não é muito diferente na rede privada) guarda em si uma denúncia: a de que numerosas famílias não apresentam condições mínimas para educar os filhos que têm. Mas o que dificilmente percebemos é que, mais do que denunciar, ao elaborar esse tipo de pensamento fazemos uma avaliação negativa do modo de viver e de educar os filhos dessas famílias. Acontece que a opinião dos professores a respeito dos pais e da família de seus alunos não fica guardada a sete chaves nem é neutra: ela transparece na interação professor-aluno. Isso significa que os alunos percebem de fato que seus professores são “contra” os pais. Esse já é um motivo forte do confronto que acontece no espaço escolar e que não tem saída nem solução, a menos que haja uma mudança de atitude. Esse julgamento moral que os professores fazem a respeito das famílias de seus alunos apresenta ainda outra conseqüência, esta sim direta e claramente vinculada ao ofício do professor: a de que seus alunos chegam à escola sem as condições necessárias para uma boa aprendizagem. Ora, tal pressuposto praticamente neutraliza qualquer incentivo na busca de uma solução, por parte dos professores, para as dificuldades encontradas na prática de seu trabalho. Além do mais, a idéia de que os alunos vivem em um ambiente familiar desestruturado e, portanto, violento – não vamos restringir o conceito de violência apenas ao seu sentido físico – faz com que a escola deduza que, para a criança e para o adolescente, a convivência com a violência é naturalmente tolerada. Mas não é. LEMBRETE Violência, comunidade e escola é o Destaque Especial desta edição. Leia os comentários e as sugestões de trabalho, na página 14, e não perca a exibição, dia 21 de maio. 41 ENTREVISTA O MINISTRO PROFESSOR Aos 59 anos, ele tem certeza de uma coisa: “Eu sou mesmo é professor”, diz o ministro Cristovam Buarque, nesta entrevista a Teresa Mello. Estão previstas mudanças na TV Escola? A educação no Brasil tem dois problemas: governos que não lhe dão importância – e essa é a realidade ao longo da história – e a mania de mudar os programas que dão certo. A gente só vai ter uma boa educação no Brasil quando firmar um acordo com todos os líderes nacionais, independentemente dos partidos, para que o que for feito de bom continue por, pelo menos, vinte anos. As coisas que se fazem em educação devem ser do país, e não do governo, do ministério, do presidente. Neste ministério, para dar um exemplo, coerente com essa minha idéia, não vai mudar nada que estiver dando certo. Aquilo que não estiver dando certo a gente vai ajustar para que comece a dar certo. Em sua posse, o senhor mencionou uma frase de Lula: “No caso da educação, é preciso pisar no acelerador e virar à esquerda”. O que o presidente quis dizer com isso? Pisar no acelerador é aumentar a quantidade. Por exemplo, tem de chegar a 100 por cento de crianças matriculadas e freqüentando a escola, não pode ficar em 95 por cento. E virar à esquerda é mudar o conteúdo, promovendo mais a cidadania; respeitar mais a voz, a palavra e a vontade do professor, com a gestão democrática; fazer com que ele não seja apenas alguém que dê aula, mas que influa no destino e na administração da sua escola; acabar com a necessidade da lista tríplice para eleição de reitor nas universidades. Então, dobrar à esquerda é democratizar. Pisar no acelerador é colocar toda criança na escola, até o final do Ensino Médio. 42 Será que o número de analfabetos no Brasil é mesmo maior que o de famintos, como o senhor disse certa vez? De fato, é maior o número de pessoas analfabetas do que o número de pessoas que não estão comendo. Considera-se que o Brasil tem até 45 ou 50 milhões de indigentes. Quando se analisa o número de analfabetos, são 20 milhões, mas aí não estão contados os 35 milhões de analfabetos funcionais. Então, o número aproximado é até um pouco maior. E é mais fácil a gente alimentar do que ensinar a ler. Como foi aquela história de só ter entendido o que é ser analfabeto ao visitar a China? É verdade. Imagine um país onde você não conhece a escrita – fica analfabeto. Quando você chega na Alemanha – eu, por exemplo, não falo alemão – , pode não entender o que está escrito, mas não se sente totalmente analfabeto, pois dá para ler. Você não sabe é o que quer dizer. Agora, quando vai a um lugar onde as letras são diferentes, aí, de fato, vira analfabeto. E na China não existem letras, são ideogramas. O chinês não tem alfabeto, tem desenhos. Existe algum projeto de utilização da educação a distância na alfabetização? Existe para formar alfabetizadores, mas eu espero que a gente tenha até mesmo métodos de alfabetizar a distância por meio da televisão e do rádio. No rádio, por exemplo, sobretudo quando a pessoa começa a aprender, já começa a ler as letras, é possível pôr um locutor lendo histórias para o analfabeto tentar acompanhá-lo. Ele vai casando a interpretação dele do que está escrito com a voz do locutor. Isso facilita muito a aprendizagem. TV E SCOLA Nascido no Recife, CRISTOVAM BUARQUE doutorou-se em Economia pela Escola Prática de Altos Estudos, na Sorbonne, em 1973. É professor titular da Universidade de Brasília desde 1979, também foi reitor de 1985 a 1989. Entre as funções que exerceu na vida pública, incluem-se a presidência da Universidade da Paz da Organização das Nações Unidas (1987-1988) e a de governador do Distrito Federal (1995-1998). Eleito para o senado em 2002, foi nomeado ministro da Educação logo em seguida, iniciando seu mandato em janeiro de 2003. É autor de dezenove livros, nos mais variados gêneros, da qual dois deles publicados no exterior. O senhor acredita em projetos de alfabetização de curta duração? Eu acredito. A professora Esther Grossi (ex-deputada federal) insiste em que é possível alfabetizar em três meses, e tem demonstrado isso em alguns lugares. É claro que a gente tem de analisar quem vai ser o alfabetizado, se é uma pessoa que já sabe escrever o nome, já conhece as letras. Se começar do zero, aí talvez o prazo de três meses não dê. As pessoas têm diferentes habilidades. Algumas aprendem a falar e escrever inglês em pouco tempo. Outras demoram. Depende do ponto de partida, da habilidade, do potencial do próprio aluno e também, é claro, da dedicação e da competência do alfabetizador. Eu ouvi uma senhora em Recife, de 53 anos, que se matriculou para se alfabetizar, dizer: “Não tenho vergonha de ser pobre, tenho vergonha de não saber ler”. Eu pensei: não tenho vergonha de que meu país tenha renda per capita menor do que a da Europa, tenho vergonha de que no meu país nós ainda deixemos 20 milhões de pessoas sem saber ler. Como o senhor frisou no discurso de posse, as mulheres têm um importante papel a desempenhar no governo. Qual seria esse papel? Não por uma razão de sexo, nem biológica, mas por uma razão cultural, a mulher tem mais sensibilidade para resolver os problemas depressa, mais urgência na busca de soluções. Quando falta comida numa casa, o homem sai para procurar emprego. Quando arranja emprego, trabalha. Quando recebe o salário, volta pra casa. E, se no meio do caminho não parar no boteco para beber a metade do salário, ele chega TV E SCOLA em casa com um pouquinho de comida. A mulher é diferente. Quando falta comida em casa, ela precisa dar um jeito de conseguir. Aí, manda o menino pedir esmola, trabalhar, ela própria pede emprestado uma xícara de arroz para a vizinha, vai na ex-patroa e pede dinheiro emprestado... Generalizando um pouco, há uma lógica diferente, mais urgente, no modo feminino de pensar e enfrentar os problemas. No caso da educação, isso é importante, porque a mulher está mais próxima das crianças. Ela sente mais a necessidade da educação. As pesquisas mostram que com uma mãe alfabetizada o filho se alfabetiza; com uma mãe educada, o filho estuda. Não é o mesmo com o homem. O pai alfabetizado não passa necessariamente para o filho o gosto pela educação. Eu repito sempre: a gente precisa “feminilizar” as decisões governamentais. Fui visitar uma vez um estado da Índia chamado Kerala, bem no sul, um estado muito pobre do ponto de vista da renda, da mesma forma que o resto da Índia. Mas em Kerala a mortalidade infantil equivale à de países da Europa, e todo mundo é alfabetizado. Uma das razões é que há trinta anos as políticas sociais continuam as mesmas, em grande parte porque a mulher tem muito poder – não nas instâncias de governo, mas na comunidade. Foi o poder da mulher que criou essas políticas sociais e as mantém. E quanto a sua própria alfabetização, como aconteceu? Minha avó Ana, mãe da minha mãe, morreu analfabeta. Mas ela era uma mulher muito sábia, embora nunca tivesse aprendido a ler. E meus pais nem terminaram a quarta série. Mas, ao mesmo tempo, eu cresci vendo, numa estante, a coleção de livros que eles diziam ter comprado para me dar no meu primeiro aniversário. Era o Tesouro da Juventude. (Outro dia peguei um desses tomos na casa onde minha 43 mãe viveu até o final e o trouxe para Brasília. É pena que não ficaram todos, uns dezoito volumes, acho.) Meu pai e minha mãe sempre leram. Sempre, sempre. Minha casa tinha estante de livros, apesar de não terem estudado. Eles compravam pra gente, para os filhos, e os liam. E sempre fizeram esforço – nós éramos de classe média baixa – para que estudássemos em colégio particular. Até porque, naquela época, para estudar em um dos poucos colégios públicos era preciso ter muito prestígio. Só filhos de deputados é que entravam lá. Meu pai e minha mãe me influenciaram muito. E o senhor logo se definiu por trabalhar com educação? Não, no início estudei engenharia mecânica. Primeiro, porque naquela época os pais queriam que a gente estudasse para ser engenheiro, médico ou advogado. Segundo, porque o Nordeste estava começando a se industrializar. Então, eles acharam que ia haver mercado para essa profissão, e que também ia ajudar a construir o Nordeste. Mas rapidamente eu vi que não era por aí. E realmente não foi. A região industrializou-se um pouco e não adiantou nada. Assim, mudei para a economia. Mas vi que economia só ensina a aumentar a riqueza, não ensina a reduzir a pobreza. Eu creio que aí, em algum momento, passei por uma evolução, percebi que o problema do Brasil não é produzir mais, é educar mais, é ter mais água e esgoto, é alimentar mais. Que o social não é resolvido pela economia, como nos ensinaram, dizendo “vamos aumentar a produção que ela se distribui”. Não é verdade. ENTREVISTA Cristovam Buarque “ E o que fazer para melhorar a educação no Brasil? Escola é igual a professor. As condições devem ser adequadas: não deve ter goteiras, a cadeira tem de ser confortável, a merenda tem de ser boa, tem de ter quadro-negro, televisão, computador. Mas acho que a escola mesmo é o professor. E professor são três coisas: cabeça, coração e bolso. A educação brasileira não vai estar bem – por mais computador que a gente ponha – enquanto não resolver esses três problemas: a formação do professor, a cabeça, para que ele seja bem preparado; o coração, para que ele seja bem motivado; e o bolso, para que ele esteja bem satisfeito. Não adianta formar, se não der motivação. A atividade do professor não deve ser mecânica. Exige envolvimento. Não vai haver formação se não houver uma boa remuneração. E o envolvimento, por mais paixão que se tenha, depois de algum tempo se perde se o salário for baixo. Não adianta a pessoa adorar ser professor ou professora se quando chega em casa as crianças estão reclamando porque não têm o que precisam. Então, ainda tem de resolver estes três problemas: formar bem os professores, motiválos bem e pagá-los bem. Esta para mim é a grande tarefa que a gente tem nestes próximos anos, no Brasil. Há muito mais a fazer, mas essas são as três coisas fundamentais. Hoje a gente sabe que a formação não está boa, que o coração está ruim e que o bolso está vazio. Se a gente não resolver isso, não adianta falar em boa educação. Escola é professor. E professor são três coisas: cabeça, coração e bolso. Foi então que o senhor descobriu a vocação para trabalhar com educação? Acho que sim. O sonho de pôr a educação no centro de um projeto nacional eu acho que foi devido à frustração de economista. Primeiro, porque é lógico, educação é a base. O povo educado cuida melhor da sua saúde e não passa fome, a não ser nas tragédias naturais. Além disso, desde muito cedo eu sou professor: comecei a dar aulas com 14 anos. Eu dava aula particular para ganhar dinheiro, para os meus colegas menores: Física e Matemática. Depois, até 44 me tornei professor particular, com bom número de alunos do segundo grau. Financiei meu curso de engenharia dando aulas, até fazer um concurso e virar estatístico do INSS, que naquela época era IAPI. Um concurso muito difícil, aliás. Passaram quatro pessoas, no Brasil inteiro. ” Quais são os projetos, em linhas gerais, para a educação a distância? A grande novidade é que a educação a distância vai ser o carro-chefe do ministério. A gente vai ter de colocar o Brasil inteiro na escola. O ensino a distância vai pisar no acelerador. Outra novidade é que esse método será ampliado para o ensino superior. TV E SCOLA DESAFIOS EM BRAILE Foto: Luis Águia Professores com deficiência visual já podem trabalhar com televisão e vídeo em sala de aula. José Lourione Freitas Bernardino, de Rondônia, concluiu em 2002 o curso de extensão TV na Escola e os Desafios de Hoje. Na Escola Municipal Saul Bennesby, de Guajará-Mirim, ele alfabetiza e dá aulas a crianças e adultos de todas as séries. Seria um professor a mais, não fosse por uma característica: Lourione perdeu a visão aos 11 anos de idade, e é em braile que ensina a seus alunos. Para que o professor Lourione acompanhasse o curso, cujo material pedagógico é composto por livros e programas de vídeo da TV Escola, ele precisou do apoio da tutora e dos colegas, que explicavam o que se passava na tela. Quanto ao texto escrito, ele contou com a ajuda de sua irmã e da diretora da escola, que liam em voz alta os manuais e registravam por escrito as respostas e os textos ditados por ele. Esse exemplo mobilizou a Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC), no sentido de abrir um novo caminho para outros A experiência do professor Lourione professores deficienestá na página 48 da revista TV ESCOLA no 30 (mar/abr/2003). tes visuais. Com a orientação da Secretaria de Educação Especial (SEESP/MEC), estabeleceuse contato com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, de São Paulo. Como resultado desse empenho, o curso TV na Escola e os Desafios de Hoje foi transcrito para a escrita braile e impresso na Fundação Dorina Nowill para Cegos, com uma tiragem de 500 conjuntos. Para que professores deficientes visuais de todo o país possam agora ter acesso a esse curso de extensão, e se habilitar para trabalhar com seus alunos utilizando os recursos da televisão e do vídeo, está TV E SCOLA sendo construída uma rede de apoio, com a UniRede e as Secretarias Estaduais de Educação. As escolas em que professores deficientes visuais manifestarem interesse pelo curso TV na Escola e os Desafios de Hoje devem entrar em contato com o Coordenador da TV Escola em seu estado, na Secretaria de Educação. A lista de coordenadores também está acessível na internet: <http://www.mec.gov.br/ seed/tvescola coordenacaoUNIREDE.shtm> LIVROS QUE DIZEM TUDO A Fundação Dorina Nowill para Cegos tem como um de seus principais objetivos manter ao alcance dos portadores de cegueira e de visão subnormal a cultura e a informação. Para isso, produz livros em braile e livros falados (gravados em fita cassete) de obras literárias, livros didáticos, revistas, músicas, cardápios e materiais diversos. As edições semanais da revista Veja também são produzidas em áudio. A Biblioteca Circulante do Livro Falado oferece o empréstimo de fitas, que podem ser solicitadas por carta, telefone ou na própria Fundação. Endereço para contato: Rua Diogo de Faria 558 – São Paulo/SP – 04037-001 – Tel.: (11) 5087-0999 Fax: (11) 5087-0977 Dorina Gouvêa Nowill Nowill, deficiente visual desde os 17 anos, formouse professora e se especializou nos Estados Unidos em educação de cegos. Em 1946, criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, hoje Fundação Dorina Nowill para Cegos. Entre inúmeros trabalhos, na Fundação e em outros órgãos nacionais e internacionais, criou cursos de preparação de professores para o ensino de deficientes visuais, de orientação e mobilidade, centros de reabilitação e programas de prevenção da cegueira. Saiba mais Fundação Dorina Nowill <www. fundacaodorina. org. br> TV na Escola e os Desafios de Hoje <http://www. mec. gov. br/seed/tvescola/cursoextensao2. shtm> 45 ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ A partir de 2003, a campanha Literatura em Minha Casa, do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), beneficiará também os alunos da 8ª série das escolas públicas. Os livros serão distribuídos em novembro, como premiação pela conclusão do ensino fundamental, contribuindo ao mesmo tempo para estimular a leitura e preparar os estudantes para cursar o ensino médio. Revista TV ESCOLA para colecionar Com esta edição, cada escola está recebendo um colecionador para organizar suas revistas; um exemplar, com grampos externos para permitir o arquivamento, será enviado separadamente. A novidade serve para que a escola possa conservar uma coleção completa, para consulta permanente. O fichário tem capacidade para arquivar doze exemplares – de 2003 a 2005. TV Escola no continente africano Um arquipélago ao largo do oeste da África é o território da República Democrática de São Tomé e Príncipe. É para lá que fomos, com o objetivo de capacitar professores e gestores para o uso didático da tevê e do vídeo em sala de aula, tendo como referencial o curso TV na Escola e os Desafios de Hoje, bem como vídeos do acervo do Programa da TV Escola. Em acordo de cooperação, o governo brasileiro doou um acervo de programas selecionados para a capacitação de professores e o governo de São Tomé e Príncipe se propôs a equipar suas escolas. Além da capacitação para uso pedagógico, as oficinas orientadas por uma equipe da SEED/MEC também abordaram os recursos da tevê e do vídeo como meio de comunicação e expressão. 46 Remuneração de educador a distância O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) assegura aos professores que se ocupam com atividades de educação a distância e em laboratórios de informática ou multimídia o direito a uma remuneração equivalente à dos professores que trabalham em sala de aula. Considera-se que esses profissionais oferecem suporte pedagógico fundamental à modernização e à melhoria de suas escolas, o que está plenamente de acordo com os esforços do governo para melhorar a qualidade do sistema público de ensino. Programa aberto a sugestões Curso de extensão a distância O curso de extensão a distância TV na Escola e os Desafios de Hoje tem por alvo os profissionais da educação que pretendem se habilitar no uso da televisão e do vídeo em atividades pedagógicas. Resulta de uma parceria entre a Universidade Virtual Pública do Brasil (UniRede) e a Secretaria de Educação a Distância (SEED/MEC). Já capacitou mais de 100 mil professores da rede pública e novas turmas devem se iniciar em agosto. Para mais informações, consulte o site <http://www.unirede.br/index.html>. A Secretaria de Educação Média e Tecnológica (Semtec/MEC) está preparando um novo programa para a TV Escola sobre educação para a ciência. O Programa, que será exibido a partir de outubro, mostrará projetos realizados por escolas e institutos de pesquisa brasileiros que visam divulgar e despertar o interesse de alunos e professores do ensino médio pela ciência. A Semtec está pesquisando experiências que possam ser apresentadas, e aceita sugestões, que devem ser enviadas para: TV Escola/Ensino Médio Caixa Postal 9659 – Brasília/DF – 70001-970 ou e-mail: <[email protected]>. TV E SCOLA Novo prêmio vem do Oriente Mais uma vez, é reconhecida a qualidade da série “Arte e Matemática”, uma co-produção SEED/MEC e TV Cultura (Fundação Padre Anchieta/SP), veiculada na grade de programação da TV Escola. Em 2001, a série conquistou o Maeda Prize, no Japão, na categoria Educação para Jovens. Agora em Pequim, na China, no Segundo Festival Internacional do Filme Científico, o programa A ordem no caos, um dos treze episódios da série, recebeu o troféu Dragão de Prata, da categoria Programas para a Juventude. Foto: Paulo Pepe Literatura em casa, também na 8ª série A CULTURA POPULAR NA RÁDIO ESCOLA Gente Brasileira: a diversidade cultural na alfabetização de jovens e adultos é uma série de onze programas em que a Rádio Escola, uma das bases do programa Alfabetização Solidária, abre espaço para que o professor valorize em suas aulas os elementos culturais e as tradições de sua comunidade. Os Dragão de Prata programas enfocam distintas manifestações da cultura popular – a língua e seus falares, ritmos musicais, danças, folguedos, festas, teatro do mamulengo, mitos e lendas brasileiras, culinária e artesanato. Mais informações a respeito da Rádio Escola podem ser obtidas pelo telefone (61) 410-8107 ou no site <http://www.mec.gov.br/seed/website_radioescola/index.shtm>. Oswaldo Cruz é tema de redação Desde 1997, o Projeto Memória resgata e difunde a memória de fatos e personalidades que se destacam na formação da identidade brasileira – em história, ciências, política ou tecnologia. Neste ano o personagem é o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que no começo do século 20 sobressaiu por sua atuação em defesa da saúde pública. “Oswaldo Cruz, a saúde pública e a nossa realidade” é o tema de redação proposto aos alunos TV E SCOLA de todo o país, dos ensinos fundamental, médio e universitário, no 9º Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação 2003, que conta com o apoio da TV Escola. As inscrições podem ser feitas até setembro. Procure o regulamento e a ficha de inscrição na secretaria de sua escola; no site <http://fac.correioweb.com.br>; ou ainda pelos telefones (61) 342-1491 e (61) 342-1492. A premiação será em novembro, em Brasília. 47 O SEMEADOR de sonhos O porteiro Gilzivan dá aulas de reforço para adolescentes de uma favela, em Belo Horizonte Marise Muniz Foto: Sérgio Falci O menino Gilzivan Pereira da Silva sonhava ser O exemplo dessa turma é o próprio Vanzinho. bombeiro, para debelar focos de incêndio e salvar Filho de família pobre – o pai é pedreiro e a mãe, vidas. Hoje, aos 28 anos, casado, pai de três filhos, faxineira –, ele muitas vezes se viu sem motivação ele se dedica a combater outros focos: os da violênpara estudar: “Eu ia à escola por obrigação”. Decia na Favela do Cafezal, um dos locais de grande sestimulado, parou na 6a série, mas a vontade de criminalidade em Belo Hoser bombeiro fez com que rizonte, Minas Gerais. Seu voltasse à escola. Quando instrumento nessa empreiconcluiu o Ensino Médio já tada é a educação. Ele se possuía outras perspectireveza entre a profissão de vas: “Queria estudar em porteiro e o trabalho como uma faculdade”. Fez o vesprofessor voluntário dos tibular e passou na Faculadolescentes do Cafezal. dade Evangélica de TeoloA idéia surgiu há um gia de Belo Horizonte. Hoje, ano, quando ele ouviu na aluno do segundo período porta de casa uma converdo curso, ele admite que o sa entre adolescentes sosonho de salvar vidas está bre brigas de gangues, asse realizando pelo magistésassinatos e tráfico de drorio. “As aulas de reforço pogas. “Fiquei assustado e dem ser um ‘empurrão’ na senti uma enorme vontade vida desses meninos.” de ajudá-los”, conta. A partir daí, decidiu Nome: Gilzivan Pereira da Silva Depois de um ano freqüentando as que daria aulas de reforço para que os Idade: 28 anos aulas de Vanzinho, a conversa dos alujovens buscassem outras perspectivas. nos é outra. Eles ensaiam diálogos em Em um dos três cômodos do barra- Profissão: porteiro espanhol, falam de livros que leram e cão apertado onde mora, no Cafezal, Cidade: Belo Horizonte/MG fazem projetos de vida. John Oliveira Alele improvisou uma sala de aula. Ali, Endereço: Rua Banjo, 53 ves, 17 anos, está no segundo ano do boa vontade não falta para compen- Belo Horizonte/MG – 30250-150 Ensino Médio e quer ser economista. sar o material didático precário: um peFlávio, da mesma idade, sonha em ser queno quadro-negro dependurado na médico. Os dois pensam em seguir os parede – presente que ganhou da mãe passos do mestre que tanto admiram. aos 8 anos de idade –, uma televisão velha e fi“O Vanzinho tem paciência, incentiva a gente a tas de vídeos educativos que ele mesmo graestudar. Aqui o ambiente é de companheirismo”, vou. No início, usava o videocassete de parenreconhece John. tes e vizinhos, mas depois acabou ganhando um. Os planos de Vanzinho vão longe. Ele criou o GruPaciente, ele exibe vídeos de Português, Matepo de Apoio ao Estudante do Aglomerado Serra – o mática, História, Geografia, Biologia, Física e QuíGapeas. A idéia é ampliar seu trabalho, com a ajuda mica e vai esclarecendo as dúvidas. “Pela tevê, de outros voluntários. Para isso, quer capacitar alufica mais fácil resolver as dificuldades que os menos para atuar como professores de reforço. Falta ninos trazem da escola”, diz. ainda um local para instalar o Gapeas, mas sobram Logo, o espaço ficou pequeno para abrigar os idéias. Uma delas é montar um pré-vestibular. Gilinteressados. A escola do Vanzinho, como é conhezivan pensa em buscar parcerias com empresas cido na comunidade, chegou a ter 26 alunos. Alpara viabilizar o projeto. “Atualmente, estamos guns desles já sonham em chegar à universidade. nesta batalha.” 48 TV E SCOLA
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