publicaoóes biomédicas brasileiras na literatura cientifica

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publicaoóes biomédicas brasileiras na literatura cientifica
Educ Med Salud, Vol. 20, No. 1 (1986)
PUBLICAOÓES BIOMÉDICAS
BRASILEIRAS NA LITERATURA
CIENTIFICA INTERNACIONAL.
DOENÇAS ENDEMICAS
TRANSMISSIVEIS
Carlos A. Marcílio de Souza, l Joao Augusto Costa Lima, 1 Celina Maria
Schmitt, 2 Maria Helena Piegas, 3 Albaneide Peixinho,4 André Schmidt 2 e
Antonio A. Briquet de Lemos'
INTRODUAÁO
A produaáo de publicaçóes científicas sobre ciéncias da saúde
origina cerca de 2 500 a 3 000 artigos por ano (1). Deste total, uma parcela
-que varia nas diferentes subespecialidades biomédicas e estimada como
aproximadamente 18% para as doenças endémicas transmissíveis nos últimos cinco anos- (2) é publicada diretamente em revistas estrangeiras. A
razáo de seu impacto ser maior fora do Brasil, deve-se as barreiras lingüísticas e ao preço alto dos periódicos importados.
O presente estudo visa investigar a evoluaáo da contribuiçáo
brasileira para a literatura internacional sobre as seguintes enfermidades
endémicas transmissíveis: doença de Chagas, esquistossomose, malária,
leishmaniose, hanséníase e filariose, nas duas últimas décadas. Estuda-se
também a evoluçáo das publicaçóes de autores nacionais sobre doença de
Chagas em revistas estrangeiras no mesmo período.
MÉTODOS
Utilizaram-se duas fontes bibliográficas distintas: 1) Index
Medicus (IM), publicado pela National Library of Medicine, em Bethesda,
Maryland, Estados Unidos da América e 2) BibliografiaNacional sobre Doenca
1 Universidade Federal da Bahia, Bahia, Brasil.
2 Conselho Nacional de Pesquisas.
3 Organizaçáo Pan-Americana da Saúde, Centro Latino-americano e do Caribe de Informaçáo em Ciéncias da Saúdce (BIREME), Sáo Paulo, Brasil.
4 Fundaçao Hospitalar.
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de Chagas, publicada pela Universidade de Brasília e pelo Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) (3).
Obteve-se o total anual de revistas nacionais e estrangeiras indexadas entre 1964 e 1983 (inclusive) por contagem manual. A lista de
todos os artigos catalogados no Index Medicus sobre doença de Chagas,
esquistossomose, leishmaniose, malária, hanseníase e filariose, publicados
no período 1966-1982, foi obtida através do sistema MEDLARS II, que
cobre o banco de dados da National Library of Medicine, usado para a
geraçáo do Index Medicus. A busca foi feita por artigos publicados em língua
portuguesa, excluindo-se, por busca manual, todos os artigos publicados
em revistas náo brasileiras.
Os artigos foram analisados por doença específica e classificados em "básicos" e "aplicados" segundo definiaáo em artigo anterior (2).
A lista de todos os periódicos brasileiros que publicaram pelo
menos um dos artigos indexados no Index Medicus no período 1966-1982,
em ordem decrescente de produtividade, foi obtida'manualmente e dela
destacados os periódicos brasileiros mais produtivos em relaçáo as endemias
estudadas. A relaaáo entre o logaritmo da soma cumulativa dos periódicos
mais produtivos e a soma cumulativa dos artigos publicados por esses periódicos (relaçáo de Bradford (4)) foi obtida com a ajuda do programa
VISITREND/VISIPLOT da Personal Software Inc., Sunnyvale, California.
A relaçáo de todos os artigos, publicados por autores brasileiros
sobre doenças de Chagas em revistas estrangeiras, foi obtida por busca
manual da "Bibliografia Nacional sobre Doenças de Chagas" para o período
de 1959 a 1978 (inclusive). A lista de periódicos estrangeiros que publicaram
pelo menos um artigo de autor brasileiro neste período foi também obtida
por busca manual.
RESULTADOS
Em 1983, o Index Medicus publicou referencias oriundas de
2 741 periódicos de diversas nacionalidades. Destes, apenas 15 eram brasileiros, representando 0,55% do total. Em 1964 o número total de revistas
indexadas foi de 3 072; porém, naquele ano, o Brasil participou com 70
revistas (2,28% do total). A figura 1, mostra a queda progressiva do número
absoluto de revistas brasileiras, nos últimos 20 anos, e a ligeira queda, com
posterior recuperaçáo, do número total de periódicos indexados pelo Index
Medicus.
Embora o Index Medicus apresente uma evidente reduaáo da representatividade da produçáo biomédica publicada no Brasil, esta reducáo
náo se refletiu na produçáo científica sobre as seis endemias transmissíveis
estudadas. Houve uma queda de 64 para 36 artigos entre 1965 e 1967,
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FIGURA 1. Evoluç;ao anual do número total de periódicos
(escala maior) e periódicos brasileiros (es;cala menor),
indexados pelo Index Medicus no período de 1965 a 1982.
No. de
revistas
70
65-
No. de
revistas
3 000
2 0Total
60
5550 45-
"
000
-
40
35 30
25 ~1 000 -
20
15-
400
5-
200
10
Brasileiras
400
196.5
I
i i I I '
' ! . '.
1967
1969
1971
1973
I
I
1975
'1977
1979
III
1981
1983
Ano
seguida, porém, de um aumento para 124 artigos (figura 2). Em comparaáao
com a produaáo brasileira indexada no Index iM!edicus Latino-Americano (2),
o Index Medicus cobriu anualmente 62,3, ouseja, ± 11,3% da produiáo
sobre as doenças endemicas estudadas para oe período de 1978 a 1982
(figura 2).
A proporçáo de artigos sobre investigaçáo aplicada em relaaáo
a produçáo total foi de 65,6%. No entanto, se analisada para os 18 anos
compreendidos entre 11965 e 1982 vemos que esta proporçáo vem sofrendo
alteraçoes, tendo o peso relativo dos artigos lidando com os aspectos básicos
destas endemias (ver métodos) aumentado de 9,0%, no período de 1965 a
1970, para 45,8% nos últimos seis anos (1977 a :1982, inclusive) do período
sob estudo (tabela 1).
Quando analisados por endemia específica, predominaram os
artigos sobre doença de Chagas e esquistossomose, enquanto que a produaáo
científica sobre leishmaniose, malária e hanseníase esteve quase sempre
bastante reduzida (menos de 10 artigos indexados por ano) entre 1965 e
1982. A produaáo indexada sobre filariose foi de apenas 10 artigos durante
todo o período do estudo (figura 3).
Seis revistas publicaram 74% dos 579 artigos sobre as endemias
1965 e 1982 (apéndice 1).
entre
estudadas
Esses periódicos foram indexados todos os anos, durante as
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FIGURA 2. Evoluaáo do número de artigos publicados no
Brasil sobre as seis endemias estudadas, indexadas no
Index Medicus e Index Medicus Latino-Americano,
por ano de publicaá5o.
200
IMLA
150 -
IM
'E
100 -
z
50-
¡I I I
1965
1967
1 I t I II I
1969
1971
1973
Ano
I1
1975
1977
I II I I
1979
1981
TABELA 1. Distribuiaáo dos artigos básicos e aplicados, por ano,
no Index Medicus.
Ano
65-70
71-76
77-82
Total
Básicos
Aplicados
Total
11 ( 9,0%)
26 (25,2%)
162 (45,8%)
111 (91,0%)
77 (74,8%)
192 (54,2%)
122 (100%)
103 (100%)
354 (100%)
199
380
579
duas últimas décadas, com a única exceçáo da revista O Hospital que, a
partir de 1971 náo mais foi publicada. Isto talvez explique porque a acentuada queda na indexaçáo pelo Index Medicus de revistas brasileiras da área
biomédica em geral foi táo pouco sentida na área de doenças endémicas
transmissíveis, objeto do estudo. Outro fator que pode ter contribuido, em
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FIGURA 3;. Evoluaáo do número de artigos publicados no
Brasil, por ano, sobre cada uma das doenças estudadas, no
período de 1965 a 1982, indexados no Index Medicus.
Chagas
50-
40
30 -
Z
Esquistossornose
¡
20
10.*
Leishmaniose
,/
Malária
/.. ~.. . ,..
.- L
..Hanseniase
+ 1_"\
~ T~¢.~
';~
1965
1967
1969
~-.~
_
I I IFilariose
E
1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983
Ano
parte, para a recuperacáo nas taxas dessas indiexacóes foi o fato de que, a
partir de 1982, a indexaaáo de artigos no Index Medicus da produçáo publicada na América Latina passou a ser feita em Sáo Paulo, pela Biblioteca
Regional de Medicina e Ciencias da Saúde (BIREME), e náo em Washington,
nos Estados Unidos da América.
A Revista do Instituto de Medicina Tropical de Sao Paulo publicou
31% de toda a produç:ao indexada pelo Index Medicus nos últimos 18 anos.
O restante se distribuiu de maneira táo mais rarefeita quanto menos especializado o periódico para as doenças endémicas (tabela 2 e apéndice 1).
Além disso, tal tendencia á rarefaçáo progressiva se deu de forma exponencial, como já descrito para outros conjuntos de artigos científicos (5), em
diversos campos do conhecimento humano (tabela 2 e figura 4).
A fim de avaliar a magnitude da parcela da produoáo científica
brasileira sobre as doenças endémicas publicada diretamente em revistas
estrangeiras, selecionou-se a produçáo sobre doença de Chagas, por representar cerca de 44,4% do total da produçao brasileira nesta área (2). Entre
1959 e 1978 houve um aumento significativo do número de artigos sobre
doença de Chagas publicados em revistas estrangeiras (figura 5). A média
de artigos publicados por ano foi de 4,8% entre 1959 e 1968 e de 15,7%
entre 1969 e 1978. Oito periódicos estrangeiros publicaram 63,8% dos 207
artigos brasileiros sobre doença de Chagas nesse período de 20 anos (apéndice 2).
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TABELA 2. Dispersao da produ;áo científica brasileira
sobre seis doen;as endémicas publicada em revistas
brasileiras indexadas no Index Medicus, entre 1965 e 1982.
Zona
No. de
artigos
01
180
1
-
02
03
04
159
195
45
3
6
10
3,0
2,0
1,7
No. de
revistas
Multiplicador
de Bradford
FIGURA 4. Representa;ao gráfica da
rela^áo entre o logaritmo da soma
cumulativa dos periódicos indexados pelo
Index Medicus, em ordem decrescente
de produtividade, e a soma cumulativa dos
artigos por eles publicados. Dados obtidos
entre 1965 e 1982.
600
500 -
,
400
300
E
o
100
1
2
Soma cumulativa dos periódicos
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FIGURA 5. Distribuiçáo do numero
absoluto de artigos sobre a doença de
Chagas publicados ern revistas estrangeiras
de 1959 a 1978.
35
25
z
15
1959
1964
1969
1974
1978
Ano
DISCUSSÁAO
Os dados obtidos documentam uma marcante reduçao do número de revistas brasileiras indexadas pelo Index Medicus nos últimos 20
anos. Além disso, mostram que até meados da década de 70 a indexaáao
da produaáo sobre as doenças endémicas transrnissíveis sofreu uma reduaáo
de pouca magnitude mas que, no início da década de 80 retomou, a representatividade que tinlha antes. A estabilidade da produaáo científica nesta
área deveu-se, especialmente, ao fato de que as revistas que publicam a
grande maioria dos artigos científicos sobre as d.oenças endémicas estudadas
permaneceram indexadas durante todos os anos das duas últimas décadas.
Por fim, os dados colhidos da BibliografiaBra.ileira Sobre Doença de Chagas
indicam que a parcela da produçáo nacional sobre essa endemia, publicada
em revistas estrangeiras, aumentou consideravelmente nos últimos 20 anos.
A representatividade internacional da produaáo biomédica
brasileira é assunto cle recente interesse e invwestigaçáo. Os autores de um
trabalho sobre o assunto (6) encontraram 83% dos 139 periódicos que
estudaram indexados em, pelo menos, uma de cinco publicaçóes iriternacionais (Index Medicus, Excerpta Medica, Biologicai'Abstracts, Chemical Abstracts,
e Current Contents). Já outros (7) encontrararn 166 periódicos brasileiros
dedicados a área de biomedicina indexados em, pelo menos, uma de quatro
bibliografias estrangeiras (Biological Abstracts, Chemical Abstracts, Index Medi'cus e Current Contents,i. Embora tais dados sejam mais otimistas que os compilados neste estudo, em relaaáo á representatividade da produçao biomédica brasileira publicada no país, deve-se ter emn mente a importancia maior
do Index Medicus em relaaáo a todas as outras bibliografias internacionais.
Essa importancia relativa cresce, inclusive, á medida em que o acesso ao
banco de dados da National Library of Medicine dos Estados Unidos (siste-
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mas Medlars e Medline) se torna cada dia mais fácil mediante o uso de
computadores. Os resultados obtidos indicam que a participaaáo brasileira,
nesse banco de dados, diminuiu de forma acentuada nos últimos anos
donde se conclui que a representatividade da parcela da produaáo nacional,
publicada no Brasil, de fato diminuiu muito nos últimos 20 anos.
No entanto, essa perda de representatividade náo tem sido,
homogénea em relaçáo á produaáo biomédica em geral. Comparando uma
amostra de artigos brasileiros publicados em revistas estrangeiras, com os
publicados no país, observa-se uma inversáo da proporçáo de artigos básicos
sobre doenças endémicas (2). Outra observaQáo feita (8) foi que a parcela
da produçao biomédica nacional que teve acesso ao banco de dados do
Institute for Scientific Information (ISI) em 1981 correspondeu, principalmente, aos artigos provenientes das disciplinas básicas. Também no Index
Medicus, a proporçao de artigos básicos em relaaáo á produáao total indexada
sobre as seis endemias estudadas aumentou, passando de 9,0% entre 1965
e 1970 para 45,8% no período entre 1977 e 1982 (tabela 1), sugerindo que
a tendencia á maior representatividade internacional da produaáo científica
nas cadeiras básicas, se bem náo seja fenómeno recente, vem-se acentuando
nos últimos anos.
Também em relaaáo as diversas subespecialidades biomédicas,
a desindexaaáo pelo Index Medicus náo parece ter sido uniforme, como
indicam os dados sobre a produáao científica em doenças transmissíveis.
A produçáo indexada para estas doenças nao sofreu reduçóes drásticas
porque o núcleo de revistas que mais publicam artigos sobre as mesmas
(apéndice 1), com exceaáo da revista O Hospital, esteve indexado todos
os anos do período estudado. Corroborando esses dados há duas revistas
brasileiras que fazem parte do grupo de periódicos que mais publicam
artigos sobre "doenças tropicais" no mundo (9). Além disso, se se considerar
que uma parcela significativa da produçáo brasileira sobre essas doenças é
publicada diretamente em revistas estrangeiras (2), conclui-se que houve
importante contribuiçáo brasileira, nos últimos anos, para o desenvolvimento científico nesta área.
Alguns pontos sobre a metodologia utilizada devem ser discutidos: 1) a utilizaaáo o Index Medicus pode ter ampliado a queda de representatividade da produiáo nacional ou, como mencionado anteriormente,
pode ter representado uma estimativa mais real da mesma, pela importancia
muito maior, na prática, do Index Medicus em relaaáo a outras publicaçóes
internacionais secundárias. A última hipótese talvez seja mais válida; 2) a
compilaçáo de apenas artigos publicados em liíngua portuguesa, pode ter
subestimado a produçáo nacional sobre as doenças endémicas obtida do
Index Medicus. No entanto, a porcentagem de artigos publicados no Brasil
em outros idiomas é ainda bastantae reduzida. Em 1978, somente 5% da
produçáo indexada no Index Medicus Latino-Americano (IMLA) foi publicada
em outras línguas (4% em ingles e 1% em outros idiomas) (1); 3) o aumento
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do número de artigos indexados sobre as endemias a partir de 1978, quando
a indexaaáo passou a ser feita pela BIREME em Sáo Paulo, parece indicar
que o número de artigos indexados no Index Medicus, em anos anteriores
a 1978, foi inferior ao publicado pelas revistas que aparecem na lista dos
periódicos indexados pelo Index Medicus nos mesmos anos. O fato do nome
do periódico constar na lista, náo indica, necessariamente, que todos os
artigos publicados pelo mesmo foram indexa.dos naquele ano; na realidade, só os exemplares enviados ao Index Mediius o sáo. A interfe:rencia da
BIREME é, neste sentido, bastante salutar porque assegura a indexaaáo de
todos os artigos publicados pelos periódicos registrados no Index Medicus.
Portanto, parte da queda da produçáo indexada antes de 1978, para as seis
endemias transmissíveis, é provavelmente virtual.
Finalmente, os dados colhidos a partir da Bibliografia Nacional
sobre Doenca de Chagas mostram que, nas duas tiltimas décadas, a produçáo
nacional sobre essa doença vem sendo publicada cada vez mais emn revistas
estrangeiras.
Quando se analisa o número de publicaçóes indexadas em conjunto com os dados que revelam uma perda marcante de representatividade
internacional da procluçáo publicada no país, chega-se a identificaçáo de
uma tendencia em que a parcela da produçáo brasileira de interesse para
os países desenvolvidos permanece indexada em suas bibliografias ou é
publicada diretamente em-seus periódicos, enquanto que a outra parcela,
que aborda aspectos menos relevantes ás lin.las de pesquisa dos países
desenvolvidos, perde representatividade internacional de maneira progressiva. Tal tendencia, se verdadeira para outras áireas da atividade científica
do Brasil, poderia, a longo prazo, dificultar o acesso dos profissionais e
investigadores brasileiros a uma importante parcela da produaáo científica
nacional, diminuindo portanto o impacto da mesma no país onde foi gerada.
Por outro lado, uma outra parcela de igual importancia científica deixa de
atingir bibliografias internacionais, náo podendo ser usada por investigadores e cientistas de outros países em desenvolvimento com problemas de
saúde semelhantes aos brasileiros. Essa possível tendencia necessita ser investigada com maior profundidade para que se quantifique a sua importancia real que, se confirmada, demandará medidas que visem a correaáo das
distorçóes apontadas acima, e por ela geradas.
Em conclusáo, embora a representatividade da produçáo biomédica publicada no FBrasil, em relaçáo a literatura biomédica internacional,
tenha sofrido marcante reduçáo nos últimos vinte anos, tal tendencia náo
foi uniforme para as diversas subespecialidades que integram as ciencias
biomédicas.
A produçáo sobre doenças endémicas transmissiveis por exemplo, foi relativamente poupada e, em relaçáo á mesma, nos últimos anos
do período coberto pelo estudo, os artigos básicos parecem predominar
sobre os aplicados. Emn relaçáo á produçáo científica brasileira sobre doença
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de Chagas, o número de artigos publicados por autores brasileiros em
revistas estrangeiras aumentou significantemente durante a última década.
RESUMO
Neste tralbalho investigou-se a representatividade internacional da producio biomédica brasileira nas duas últimas décadas (1964-1983).
O número de periódicos brasileiros indexados no Index Medicus
baixou de 70, em 1964, para 15, em 1983, ou seja, uma reduaáo de 78%;
o número total de periódicos indexados dos diversos países sofreu uma
reducao de apenas 11%. O número total de artigos publicados no Brasil
sobre doenca de Chagas, esquistossomose, leishmaniose, hanseníase, malária e filariose e indexados no Index Medicus náo sofreu alteraçces significativas entre 1965 e 1982. Tal fato se deveu a constatacáo de que os seis
periódicos brasileiros que publicaram 74% de todos os artigos sobre essas
doencas permaneceram indexados pelo Index durante todos os anos do
estudo, com excecao da revista O Hospital. Entre as publicacóes sobre doencas endémicas, predominaram os artigos sobre doenca de Chagas e esquistossomose e, nos últimos anos, houve uma tendencia á indexacao de um
maior número de artigos básicos que aplicados. O número de artigos de
autores brasileiros sobre doenca de Chagas publicados diretamente em
revistas estrangeiras aumentou consideravelmente durante a última década.
A análise conjunta de todos os dados sugere que os países desenvolvidos selecionam uma parcela específica da producao biomédica brasileira-que se mantém indexada em publicacóes secundárias ou internacionais ou diretamente publicada em revista estrangeira-enquanto outra parcela, da mesma producáo, perde, progressivamente, sua representatividade
internacional.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a colaboracáo do Dr. Carlos Alejandro
Gamboa, da Organizacáo Pan-Americana da Saúde, na obtencáo de dados
para o presente trabalho. Agradecemos também a Glória Milhomem e
Flávio de A. Rocha pela assisténcia na preparacáo do manuscrito.
REFERÉNCIAS
1 Lemos A. A. B. Infra-estrutura da Literatura Biomédica: consideracóes acerca de um núcleo de revistas brasileiras
do setor saúde. Educ Med Salud, Vol. 15,
no. 4, pp. 406-422, 1981.
2 Lima J. A. C., Rosa, C. M. S., Piegas,
M. H., Peixinho, A., Schmidt, A., Lemos,
A.A. B. e Marcílio de Souza, C. A.Análise da produa;o científica sobre doença
de Chagas, esquistossomose, malária,
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leishmaniose, e filariose, publicada no
Brasil em cinco anos. Edbw Med Salud (no
prelo).
3 Prata, A. e Sant'Anna, E.. P. Bibliografia
Brasileira Sobre Doença de Chagas, 19091982.
Brasileiro de Biblioteconomia e Documentaçáo, Curitiba, Associaaáo Bibliotecária do Paraná, 1979, Vol. 2, pp. 572589.
4 Bradford Documentation, London, Crosby. Lochwood A. Son, Loop, 1953.
7 Cunha, A. C., Ferreira, V. L., Graeber,
M. e Carvalho, L. F. Divulgaaáo científica
em periódicos brasileiros, Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentaçao 11
(1/2):43-46, janeiro/junho, 1978.
5 Goffman, W. Dispersion of Papers
Among Journals Based on a Mathematical Analysis of Two Diverse Medical
Literatures. Nature, Vol. 221. 29 de
marco de 1959.
8 Pelegrini Filho, A., Cerqueira, J. D. M. e
Cunico, C. B. Tendéncias da Investigaçáo em Saúde no Brasil. Monografia.
Organizaçáo Pan-Americana da Saúde,
Brasil, D.F., 1984.
6 Aguiar, D., Belluzzo, R. C. B., Gerola, I.,
Cardoso, J., Figueredo, M. C., e Camargo, M. J. A. S. Periódicos Biomédicos
Brasileiros: Problemas de Produáao e
Normalizaçao. Anais do 10 Congresso
9 Brennen, P. W. e Davey, W. P. Citation
Analysis in the Literature of Tropical
Medicine, Bull Med Lib Assoc 66(1):2430, janeiro, 1978.
APENDICE 1
LISTA DAS REVISTAS BRASILEIRAS QUE MAIS
PUBLICARAM ARTIGOS SOBRE AS SEIS ENDEMIAS
ESTUDADAS E INDEXADOS NO Index Medicus
Título das revistas
1 Revista do Instituto de.Medicina Tropical
de Sdo Paulo
2 Memória do Instituto Oswaldo Cruz
3 Revista de SaúdePública
4 Revista Brasileirade Malariologiae Doenças
Tropicais
5 0 Hospital
6 Revista da AssociaáoMédica Brasileira
7 ArquivosBrasileirosdeCardiologia
8 Revista do HospitaldabsClínicasdaFaculdadede
Medicina da Universidadede Sao Paulo
9 Revista BrasileiradeBiologia
10 Revista Paulistade Medicina
11 Revista Brasileirade Medicina
12 Revista Brasileirade PesquisaMédica e Biológica
13 Arquivos deNeuropsiquiatria
Total de
artigos
180
31,1
56
9,7
9,0
8,8
52
51
46
43
34
28
27
17
14
7
7
7,9
7,4
5,9
4,8
4,67
2,9
2,4
1,2
1,2
Publicacoes biomédicas brasileiras /
14 Revista de Farmáciae Bioquímica da Universidade
de Sao Paulo
15 Arquivos de Gastroenterologia
16 Revisteera Brasileirade Anestesiologia
17 Arquivos Brasileirosde Medicina
18 Revista da Escola de Enfermagem da Universidade
de Sao Paulo
19 Maternidadee Infáncia
20 MemóriasdolnstitutoButanta
7
1,2
5
1
1
1
0,9
0,2
0,2
0,2
1
1
0,2
0,2
579
Total
83
100
Fonte: Index Medicus
APENDICE 2
LISTA DAS REVISTAS ESTRANGEIRAS QUE MAIS
PUBLICAM ARTIGOS DE AUTORES BRASILEIROS
SOBRE DOEN(A DE CHAGAS
Título das revistas
1 Transactionsof the Royal Society of Tropical
Medicine and Hygiene
2 JournalofProtozoology
3 ExperimentalParasitology
4 Boletín de la Oficina SanitariaPanamericana
5 AmericanJournalof TropicalMedicineand
Hygiene
6 Annals of TropicalMedicineand Parasitology
7 JournalofParasitology
8 Boletín Chilenode Parasitología
9 Zeitschriftfur Tropenmedizin undParasitologie
(hoje denominada:Tropenmedizin undParasitologie)
10 The AmericanJournalof Digestive Diseases
(hoje denominada: Digestive Diseases and Sciences)
11 Journalof TropicalMedicine andHygiene
12 Journalof ExperimentalMedicine
13 Nature
14 Cardiology
Total
Total de
artigos
35
24,0
22
18
17
11
15,1
12,3
11,6
7,5
7
7
7
4
4,8
4,8
4,8
2,7
4
2,7
4
4
3
3
2,7
2,7
2,05
2,05
146
Fonte: Bibliografia Brasileirasobre Doenca de Chagas, 1909-1982.
100
84
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Educación médica y salud
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Vol. 20, No. 1 (1986)
PUBLICACIONES B:IOMEDICAS BRASILEÑAS EN LA LITERATURA
CIENTIFICA INTEIR'NACIONAL EN ENFERMEDADES ENDEMICAS
TRANSMISIBLES
Resumen
En este trabajo se investigó la representatividad internacional de las
publicaciones biomédicas brasileñas en los dos últimos decenios (1964-1983).
El número Cle periódicos brasileños incluidos en el Index Medicus disminuyó de 70 en 1964 a 15 en 1983, o sea 78%; el número total de periódicos
indizados de los diversos países se redujo apenas 11 %. El número total de artículos
publicados en el Brasil sobre la enfermedad de Chagas, la esquistosomiasis, la
leishmaniasis, la lepra, la malaria y la filariasis e incluidos en el Index Medicus no
sufrió modificaciones importantes entre 1965 y 1982. Eso se debió a que, con
excepción de la revista O Hospital, los seis periódicos brasileños que publicaron 74%
de los artículos sobre esas enfermedades estuvieron incluidos en el Index Medicus
durante los años del estudio. Entre las publicaciones sobre las enfermedades endémicas predominaron los artículos sobre la enfermedad de Chagas y la esquistosomiasis y en los últimos años se observó una tendencia a indizar un mayor número de
artículos básicos que de aplicados. El número de artículos de autores brasileños
sobre la enfermedad de Chagas publicados directamente en revistas extranjeras
aumentó mucho en el último decenio.
El análisis conjunto de los datos indica que los países desarrollados
seleccionan una parte específica de la producción biomédica brasileña que se mantiene indizada en publicaciones secundarias o internacionales o se publica directamente en revistas extranjeras mientras que la otra parte pierde su representatividad
internacional en forma progresiva.
BRAZILIAN BIOMEDICAL PUBLICATION IN INTERNATIONAL
SCIENTIFIC LITERATURE. ENDEMIC COMMUNICABLE DISEASES
Summary
The number of Brazilian periodicals listed in the Index Medicus dropped from 70 in 1964 to 15 in 1983, or 78%, while the total number of listed
periodicals from other countries fell only 11%. The total number of articles published in Brazil on Chagas' disease, schistosomiasis, leishmaniasis, leprosy, malaria,
and filariasis, and listed iin the Index Medicus did not change significantly between
1965 and 1982, because, with the exception of the journal O Hospital, the Brazilian
periodicals that published 74% of all articles on those diseases remained listed
throughout the period considered. The predominant subjects in articles on endemic
diseases were Chagas' disease and schistosomiasis, and in the later years there was
a tendency to index more articles on basic than on applied research. The number
of articles on Chagas' disease published by Brazilian authors directly in foreign
journals increased considerably during the latter decade.
Publicacfes biomédicas brasileiras /
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Analysis of all the data together suggests that the developed countries select a specific portion of the Brazilian output of biomedical literature-which
is kept listed in secondary and international publications or published directly in
foreign journals-while another portion of the same output gradually loses visibility
on the international scene.
PUBLICATIONS BIOMÉDICALES BRÉSILIENNES CHEZ LA
LITÉRATURE SCIENTIFIQUE INTERNATIONALE-MALADIES
ENDÉMIQUES TRANSMISSIBLES
Résumé
Cette étude avait pour objet d'examiner le degré de diffusion internationale de la production biomédicale brésilienne au cours des vingt dernieres
années (1964-1983).
Le nombre de périodiques brésiliens listés dans Index Medicus a baissé
de 70 en 1964 á 15 en 1983, soit une réduction de 78%; le nombre total de périodiques de divers pays figurant dans cet ouvrage a diminué d'a peine 11%. Le
nombre total d'articles publiés au Brésil sur la maladie de Chagas, la schistosomiase,
la leishmaniose, la lépre, le paludisme et la filariose et listés dans Index Medicus n'a
pas subi de changements significatifs entre 1965 et 1982. Cela est du a la constatation
que les six revues brésiliennes qui ont publié 74% de tous les articles sur ces maladies
ont continué á figurer dans Index Medicus pendant toute la durée de l'étude, a
l'exception de la revue O Hospital. Parmi les publications sur les maladies endémiques, une place prépondérante a été donnée aux articles sur la maladie de Chagas
et sur la schistosomiase, et il y a eu récemment une tendance a lister plus d'études
de base que d'articles portant sur des applications pratiques. Le nombre d'articles
d'auteurs brésiliens sur la maladie de Chagas publiés directement dans des revues
étrangéres a augmenté considérablement au cours des dix derniéres années.
Une analyse globale de toutes ces données laisse entrevoir que les pays
développés sélectionnent une certaine partie de la production biomédicale brésilienne-qui est répertoriée dans des publications secondaires ou internationales ou
directement publiée dans des revues étrangéres-tandis que le reste de cette production perd progressivement du terrain quant á sa diffusion á l'échelle internationale.

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