Exposição “A matança do porco”
Transcrição
Exposição “A matança do porco”
Exposição “A matança do porco” O porco ocupou durante séculos uma importância fundamental na economia familiar da Glória do Ribatejo, a carne de porco era a mais consumida pelas famílias glorianas. O bácoro era comprado no mercado de Marinhais ou vendido por vários “porqueiros” que se deslocavam sazonalmente à Glória. Era colocado no pocilgo, onde durante vários meses era alimentado com restos de comida, bolota, batatas cozidas e mais recentemente farinha. Os porcos eram engordados, até chegar os meses de inverno, onde então se procedia à matança do porco. A matança era um momento de convívio sociofamiliar e ao mesmo tempo garantia a subsistência para a família nos penosos meses de inverno que estavam à porta, tratava-se de um ritual que unia a morte do animal com a abundância. Manhã cedo um grupo de 4 a 5 homens reunia-se junto do pocilgo, puxavam o porco para a entrada, atavam lhe as patas, amarravam o focinho e colocavam-no em cima da “trapeça” [tripeça], lavavam o pescoço, e aquele que tinha mais jeito espetava a faca no animal, que grunhia e estrebuchava num esforço inglório contra a morte. Depois de morto, o porco é chamuscado, inicialmente era feito com carqueja, atualmente com maçarico a gás. Era necessário cuidado para evitar calor em excesso de modo a não queimar a pele, retiravam-se as “castanholas” (unhas), que exigia alguma perícia, para não queimarem os dedos. Seguia-se a raspagem dos pelos queimados e a lavagem do porco. A operação de retirar as vísceras e tripas, era uma tarefa que exigia cuidado para não perfurar, seguindo-se a desmancha do porco, onde ocorria a primeira paragem para comer, retirava-se as molejas, colocavam-se umas pedras de sal e eram assadas nas brasas, acompanhadas com vinho ou aguardente. Às mulheres estava contemplada a tarefa de lavar as tripas, auxiliadas por um pau fino (pau de virar tripas), depois de limpas são colocadas numa marinada de sal, com laranjas e limão. A tarefa da desmancha era morosa, praticamente o porco tem um aproveitamento total. Enquanto se separa as peças de carne, preparava-se o almoço, por norma são febras assadas, enquanto à noite confecionava-se a “furjoca”, o nosso ex-libris gastronómico. Nos dias seguintes estava destinada outra função, o aproveitamento da carne para fazer os enchidos. A carne era migada e colocada em alguidares de barro, temperada com vinho, pimentão e sal, e assim ficava alguns dias antes do enchimento das tripas, várias mulheres encetavam as tarefas de fazer os enchidos até os colocarem na chaminé, onde ficavam algumas semanas para serem fumadas e depois retirados e colocados nas arcas salgadeiras. Atualmente este processo da matança está substancialmente modificado, reduziu drasticamente o número de famílias que continuam a criar porcos, contudo uma pequena minoria repete este processo da matança, e nos meses de inverno, ainda se ouvem pontualmente o grunhir dos porcos em certas ruas da Glória do Ribatejo. O Museu Etnográfico recria as várias fases associadas à matança do porco, e relembra o convívio salutar das famílias em torno deste ritual.