2009 - CEIC

Transcrição

2009 - CEIC
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA
CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
RELATÓRIO ECONÓMICO ANUAL DE ANGOLA 2009
JUNHO DE 2010
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
CENTRO DE ESTUDOS E INVESTIGAÇÃO CIENTIFICA DA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA
Patrono – D. Damião Franklin
Director – Alves da Rocha
Director Adjunto – Salim Valimamade
Relatório Económico de Angola 2009
Alves da Rocha - Coordenador
Marília Poças
Francisco Miguel Paulo
Emílio Londa
Fernando Pacheco
Ramos da Cruz
Regina Santos
Jan Isaksen e Line Tondsen (CMI) - Apoio
Investigadores do CEIC
Alves da Rocha
Amália Quintão
Emílio Londa
Francisco Paulo
Miguel Manuel
Milton Reis
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Nelson Pestana
Pedro Vaz Pinto
Regina Santos
Salim Valimamade
Sendi Baptista
Administrativos
Margarida Teixeira
Evádia Kuyota
Paginação – Offset, Lda.
Capa – Offset, Lda.
Edição – Universidade Católica de Angola
C.P. 2064
Website: www.ceic-ucan.org
Email: [email protected]
[email protected]
Impressão – Offset, Lda.
Rua N’gola Kiluanji, 178
Luanda tel. 222 380 252/598 Fax 222 380 825
Tiragem 1000 exemplares
Este Relatório teve o alto patrocínio da Embaixada da Noruega, Embaixada de Portugal,
Fundação Friedrich Ebert, Open Society e World Learning
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
ÍNDICE
PREFÁCIO
7
INTRODUÇÃO
10
1.1.- A estabilização macroeconómica
15
1.2.- O sector real da economia
19
2.- CONTEXTO ENVOLVENTE DA ECONOMIA NACIONAL
27
2.1.- O contexto internacional
2.1.1.- As economias desenvolvidas
2.1.2- As economias emergentes
2.1.3- A economia africana
27
28
30
33
2.2.- Os factores conjunturais e estruturais internas
43
3.- SECTOR MONETÁRIO
50
4.- POLÍTICA ORÇAMENTAL
76
4.1.-Introdução
76
4.2.-Da gestão da política orçamental
76
4.3.-Da execução orçamental
4.3.1.-Equilíbrio orçamental e taxa de execução
4.3.2.-O financiamento do deficit
4.3.3.-As receitas correntes do estado
4.3.4.-As despesas por função
4.3.5.-As despesas por local
4.3.6.-As despesas por natureza económica
4.3.7.-O programa de investimento público (PIP)
80
80
81
82
83
86
89
90
4.4.-Impacto da crise na política orçamental
4.4.1.-Indicadores do Impacto da Crise
4.4.2.-Fundamentos do impacto da crise no OGE
91
91
93
4.5.-Considerações finais
93
5.- NÍVEL GERAL DE ACTIVIDADE
94
5.1.- Introdução
94
5.2.- Produto Interno Bruto
96
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CEIC/UCAN
5.3.- A problemática da diversificação da economia nacional
5.3.1.- As questões essenciais da diversificação
5.3.2.- A macroeconomia da diversificação
5.3.4.- Conclusões
5.3.5.- Os indicadores da diversificação
102
102
108
114
116
5.4.- Agricultura e Desenvolvimento Rural
5.4.1 - Evolução da estrutura agrária e das instituições de apoio
5.4.2- A produção agropecuária e florestal
5.4.3- Evolução de alguns dos principais programas em curso
5.4.4- O financiamento do sector agrário
120
123
126
134
135
5.5.- Indústria Transformadora
137
6.- A DESPESA NACIONAL
148
7.- BALANÇA DE PAGAMENTOS
158
7.1- Introdução
158
7.2.- Conta corrente
7.2.1. – Conta de bens
7.2.1- Balança de serviços
7.2.3.-Rendimentos
7.2.4.-Transferências Correntes
158
160
163
164
165
7.3 - Balança de Capital e Financeira
7.3.1.-Empréstimos de médio e longo prazo e outros capitais
7.3.2.-Erros e omissões
166
166
167
7.3.-Balança global
167
7.6.-Stock de dívida externa de médio e longo prazo
168
8.- EMPREGO E PRODUTIVIDADE
171
8.1.- Introdução
171
8.2.- Aproximação ao desemprego e à produtividade
175
8.3.-Politicas públicas do emprego e da formação profissional
8.3.1.-Administração pública
8.3.2.-Administração do trabalho
8.3.2.1.- Caracteristicas gerais do mercado do emprego
186
186
190
191
9.- INFLAÇÃO
192
9.1.- Nota prévia
192
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
9.2.- O comportamento da inflação em 2009
197
10.-POPULAÇÃO, CONDIÇÕES DE VIDA E POBREZA
204
10.1.- População
204
10.2.- Condições de vida e poder de compra
209
10.3.- Pobreza
213
11.- PERSPECTIVAS
217
11.1.- Economia mundial
217
11.2.- As grandes economias
219
11.3.- As economias emergentes
221
11.4.- A economia africana subsariana
222
11.5.- A economia angolana
223
12.-RECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS EM
2009
234
BIBLIOGRAFIA
258
ANÉXOS 1: ESTATÍSTICAS DO SECTOR MONETÁRIO
264
ANÉXO 2: ESTATÍSTICAS DA AGRICULTURA
267
ANÉXO 3: ESTATÍSTICAS DO EMPREGO
270
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PREFÁCIO
In 2003, for the 2002 first ever issue of the Relatório Económico, the Rector and
then Archbishop of Luanda Damião Franklin in his preface to the report stressed the
important role of universities in bringing knowledge and analysis beyond the university
walls. He wished the CEIC initiative welcome to play its role in the context of the
Academia-Government-Private sector triad.
At present, when we are presented with the eight issue of the Relatório it is with
the knowledge that the hopes and aspirations expressed in 2003 have indeed come
through over the years. The launching of the Relatório has become an important event,
gathering academics, businesspeople, and high ranking civil servants and not least civil
society and NGO, s not only from Angola. I have noticed that particularly the
diplomatic corps is frequently and numerously in attention.
Why this interest? Firstly, I believe the Relatório fills at least part of the lacunae
existing in Angola for solid homegrown analysis of economy and society. The Relatório
with its broad macro-economic perspective is an important corrective to the analysis of
the IFIs and the rest of the external and donor community. Secondly, with its focus, not
only on the finer points of economic analysis, but with a clear intention of laying out
alternative practical policy solutions to contemporary economic problems, it is shaped
to generate debate and thinking by a broad range of stakeholders. Third, and not least,
the Relatório has acquired the status of an institution for the simple reason that it is
considered perennial; it has been published every year. This is quite an astounding feat
given the sometimes difficult social, political and economic environment in which
CEIC and UCAN work. To my knowledge, few if any African “Think-Tanks” that have
had the ambition of an annual “flagship” such as the Relatório have ever managed to
keep it up as many as eight years, even in countries with a much less turbulent
environment than that of Angola. We know that this is because the staff of CEIC and
its good supporters have an unswerving loyalty to their mission and will work long
hours seven days a week if that is necessary to get the Relatório out in time. I hope this
will continue in the future and that CEIC’s new quarterly “flagship”, the Barómetro,
launched some years ago will follow up the success in terms of rigid analysis and
reliability of publication.
As a guest in Angola and as a researcher cooperating with CEIC researchers
through my institution in, the Chr. Michelsen Institute (CMI) of Norway, I have with
my colleague since about 2006 studied various aspects of the economy and society in
Angola. It has been a most interesting time. Not least for the reason that many of the
prejudices I had on board when I arrived have had to be revised. Having lived in the
southern African region for more than a decade and having been a frequent visitor for
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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some 40 years now, I have noted some features of Angola that differ from other
countries, may be not in a fundamental way but as a matter of degree.
One area where Angola stands out concerns information which plays a major
role in the world of research. One of the clearest impressions of difference from other
countries is the glacial speed with which information flows in Angola and how often it
is totally missing. This is not without consequences, nearly all of them negative. I have
found that much of what is written about Angola, by external as well as local authors
are based on preconceived views and feelings rather than solid data and information.
The problem is not only that some external researchers are irresponsible in their use of
information.
I have come to believe that this in turn is a consequence of the
information culture in Angola where the first law seems to be: “if you know something,
try to keep it secret”. It’s more like a knee jerk reaction than a devious strategy from
government and others – as some would have it.
Why for example does not Angola have a well-equipped Statistics Bureau which
furnishes data freely for the benefit all members of society? Why is INE the only
official statistics bureau in Africa that does not have a website? Why is it that a national
Household Income and Expenditure Survey (HIES) is not publicly available? If a
baseline had been done in 2002 one could have substantive proof of how the growth in
GDP and economic activities had positively affected broad groups of Angolans.
Presently this important question is left to speculation and feelings. The lack of data is
not only a difficulty for researchers, wrong information also leads to wrong decisions
and thus have an effect on the way society and economy develops through the many
decisions that are daily taken by Government, by the private sector and by the society at
large, the NGOs and CSOs.
The Relatório year by year does a great job by assembling the pieces of data that
are available and presents them well with a rich embellishment of graphs and figures.
Also, the text is spiced with well-placed quotes and analyses from the world names in
economics demonstrating to the reader that Angola or at least CEIC is aware of what
goes on beyond its borders. Given the scarcity of data I look forward to the day the
newly established CEIC website posts all eight issues of the Relatório on the web,
giving researchers, writers and observers around the world access to important
longitudinal material, not least through the list of important economic events which has
now become part of the Relatório. Apart from last year’s issue and the 2003 one, the
Relatórios are regrettably only in Portuguese; we all wish for a donor to come forward
and offer to finance a translation into English.
This year’s issue of the Relatório follows the structure of the past few years
centered on the core of important macroeconomic policy fields: the monetary economy,
the fiscal and budget system and the real economy as well as the balance of payments.
Two important issues receive their own sections: Inflation and employment.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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The year 2009 has been another year of rapid change and new challenges for
Angola. Induced by the world financial crisis in 2008, the real economic effects set in
for most developed countries and the emerging developing countries, leading to
negative growth in GDP for nearly all except China. The stabilization and slight upturn
set in towards the end of 2009, perhaps quicker in Angola than elsewhere. The reasons
were certainly connected with the upswing of the oil price crisis but also the
maintenance of momentum in investment and production in the non-oil sectors not least
because Government despite a downward revision of the budget kept spending. That
finance was provided through reliance on domestic sources such at T/Bs has however
not had good effects on the private sector. The Relatório this year follows up the
concern for private sector non-oil growth and gives interesting insight and ideas on an
issue most important for Angola, the diversification of the economy.
Government turned to the IMF to secure a standby credit. Beside bringing public
finances on a sound footing the action also had an important side effect: opening up
information flows to the international society. Towards the end of the year and into
2010 the analysis of credit rating agencies had similar effects. The IMF establishment
of an office in Luanda as well as the visit from the Pope, Hillary –Clinton and the
Russian and Cuban heads of state and the African Cup have taken Angola too another
level of openness and also acceptance as one of the biggest and more important
economies in Africa . The President’s head on statement on Zero prevalence has opened
for more constructive debate on corruption As well as changes in the constitution and
other legal frameworks Observers say this has had an effect
The downturn following the financial crisis as always hit the poorest hardest.
Poverty and corruption remain Angola’s greatest challenges which the Relatório always
have pointed out. Although the rating agencies have given Angola a B+ with good long
term outlook there are other observers, as mentioned in this year’s report, that do not
hold the same opinion. Still the world looks at Angola with some apprehension.
Angola’s natural resources are undoubtedly rich, but for resources to be developed to
the advantage of all Angolans, the country needs to initiate the process of creating the
right policies. That can be done through open debate and transparency. I congratulate
CEIC with this year’s Relatório and I tender my best wishes for CEIC and UCAN to be
important parts of that process which the Archbishop alluded to in his 2003 preface.
We at CMI are proud to participate and support and much appreciate the
financial Support of the Norwegian Government for this.
Bergen Norway 12 June 2010
Jan Isaksen
Senior Research and programme coordinator CMI
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INTRODUÇÃO
A destruição de emprego tem sido uma das consequências mais dramáticas da
crise económica e financeira de 2008/2009 em todos os países. A taxa de desemprego
tem atingido valores muito altos em todas as economias desenvolvidas e não se espera
que a situação se altere de modo substancial e sustentável antes de dois ou três anos.
Naturalmente que os efeitos são assinaláveis sobre os tecidos sociais e a pressão sobre
os sistemas de previdência e assistência social tem sido uma das razões dos défices
orçamentais colossais registados na Europa, Estados Unidos e Japão. Mais altivamente a
China tem passado um pouco ao lado destas consequências, por motivos variados: a sua
taxa de crescimento no pior ano da crise mundial foi de 8,7%, a economia chinesa
continuou a criar empregos, ainda que em volume e percentagem inferiores ao passado1
e o mercado interno acabou por substituir, em parte, as perdas associadas à diminuição
das exportações para os países desenvolvidos, graças aos apoios estatais ao sector
produtivo (incremento dos investimentos públicos) e aos bancos.
Determinados sectores de actividade passaram incólumes pela crise económica.
É normalmente assim, pois no meio duma crise descobrem-se sempre oportunidades.
O sector terciário revelou, na verdade, potencialidades de crescimento em
termos de emprego como nenhum outro. E dentro dele, o comércio, a restauração, os
serviços financeiros e a prestação de outros serviços (correios, telecomunicações e
caminhos-de-ferro) foram os primeiros.
Os maiores empregadores encontram-se nos países com maior população –
China e Índia – e nos mais ricos, como os Estados Unidos, a Alemanha e o Japão.
As empresas estatais dominaram a criação de emprego na China: China National
Petroleum Corporation (petroquímica) com 1,6 milhões de trabalhadores, a Sinopec
(exploração de petróleo) com 639690 trabalhadores, State Grid Corporation of China
(electricidade) com 1,5 milhões e a China Telecomunications com 498391 funcionários.
As instituições financeiras do Estado também lideraram o ranking: Industrial and
Commercial Bank of China (385609 efectivos), Hong-Kong and Shangai Bank (331458
pessoas).
Na Rússia e na Índia pontificaram as actividades estatais de caminhos-de-ferro,
energia e correios: Rossiskiye Zhelezneye Dorigi (1,2 milhões de empregados),
1
As responsabilidades sociais e previdenciais das empresas e do Estado chinês são praticamente nulas,
ficando, assim, a classe trabalhadora entregue aos seus próprios cuidados de saúde e de assistência.
Também por isto, é que a economia chinesa tem apresentado a maior taxa de poupança do mundo.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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Gazprom (456000), Indiam Railways (1,3 milhões) e a India Post com 487173
colaboradores.
Nos Estados Unidos, na Alemanha e em França foram os correios os mais
proeminentes empregadores, respectivamente: US Postal Service (765088), Deutsche
Post (451515) e La Poste (295742).
No Japão existem dois conglomerados com mais de 300 mil trabalhadores:
Hitachi (400129) e Toyota (320808). Em Taiwan o maior é o grupo industrial Hon Hai
Precision Industry que emprega 486000 pessoas.
Outros factores presentes na actual crise económica, cujo fim ainda pode tardar,
são o défice orçamental e a correspondente dívida pública, que podem lançar os
germens duma nova retracção mundial.
Uma das formas de se tornar as economias mais leves pode ser, na maioria dos
casos, um peso menor do Estado e da dívida pública. Os países mais endividados
arriscam-se a ter dificuldade de saírem do mesmo sítio. Tem sido uma discussão
recorrente entre os partidários de mais Estado e os defensores de menos Estado na
economia (Estado mínimo). No caso do peso da dívida pública sobre o crescimento
económico, as mais recentes evidências empíricas dão razão aos que defendem uma
menor intervenção do Estado. Pelo menos, quando o nível de endividamento público
ultrapassa 60% do PIB.
Kenneth Rogoff, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional e
professor na Universidade de Harvard, e Carmen Reinhart, da Universidade de
Maryland, analisaram a questão no artigo “Growth in a Time of Debt”, publicado pelo
National Bureau of Economic Research (NBER) dos Estados Unidos e concluíram que
o crescimento tende a diminuir à medida que o endividamento público aumenta.
À semelhança dum estudo célebre de Michael Bruno sobre a relação entre
inflação e crescimento económico – até 15% de índice de subida dos preços no
consumidor, a inflação pode até estimular o crescimento económico, o que não acontece
quando este limiar é ultrapassado – realizado na base da observação duma amostra de
120 países, abarcando um período de 22 anos, estes autores incidiram a sua análise
sobre um vasto conjunto de países entre o final do século XVIII e 2009, tendo estimado
que quando a dívida pública ultrapassa 90% do PIB, o crescimento médio anual cai para
cerca de metade. Para as economias emergentes, o peso morto da dívida pública começa
a notar-se logo a partir do limiar dos 60% do PIB, curiosamente o limiar recomendado
pelo Secretariado da SADC para a convergência monetária e financeira dos países
integrantes.
O veredicto de Rogoff e Reinhart vem chamar a atenção sobre a qualidade da
despesa pública e a sua influência (nefasta, quando de baixo atributo e benéfica quando
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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os investimentos públicos se dimensionam de acordo com as necessidades da economia
e os critérios de eficácia associados) sobre o crescimento económico. Nem toda a dívida
pública é virtuosa para as economias.
Quando as economias crescem significativamente, é possível conciliar um défice
orçamental com a sustentabilidade das finanças públicas. Porém, em situações de
crescimento baixo, os défices orçamentais constituem um grave problema, pois levam a
um de dois cenários: ou uma dívida pública galopante ou à alienação de activos do
Estado, para evitar que a mesma cresça desmesuradamente.
A tendência para se registarem défices orçamentais resulta de factores
demográficos, económicos e políticos. Os primeiros relacionam-se com o
envelhecimento da população e o esgotamento dos sistemas de previdência social, que
arrastam um cúmulo de despesas de segurança social e de saúde da população idosa. Os
factores económicos estão conectados com a baixa produtividade da máquina do Estado
e os respectivos acréscimos serem inferiores aos do sector privado. Os factores políticos
estão associados às estratégias políticas e eleitorais, que levam ao aumento
desproporcionado de determinadas despesas públicas, com retorno económico e social
fraco.
Do ponto de vista interno, os dois principais acontecimentos foram os efeitos da
crise financeira internacional (o Governo estima uma taxa de crescimento do PIB de
apenas 2,74%, contra 13,8% em 2008) e a preparação da nova Constituição da
República de Angola. Este processo foi rodeado de polémica, particularmente quanto ao
modelo de eleição do Presidente da República.
Quando em 2010 foi submetida à Assembleia Nacional, a Constituição foi
aprovada com o consenso da bancada do MPLA e sem nenhum voto contra (o único
registo de desaprovação foi dado pela UNITA, com o abandono dos seus deputados na
sessão de aprovação), as expectativas gerais sobre a consolidação da democracia no país
geradas pela nova Carta Magna da República não são propriamente convergentes. Por
exemplo, o índice de democracia do EIU2 coloca Angola na 131ª posição, num ranking
mundial de 167 países, considerando o regime político angolano como autoritário.
Merecedores da mesma apreciação estão outros países africanos, como o Congo
Democrático, o Congo, a Nigéria e os Camarões. Os nossos vizinhos Namíbia e Zâmbia
aparecem com um score que corresponde a práticas democráticas abertas e salutares.
Deve, ainda, destacar-se a visita, em 10 de Agosto, da Secretária de Estado
norte-americana a Luanda, como parte de um périplo que a levou a sete países africanos
e no contexto da nova Visão americana sobre África. Para além do aprofundamento e,
sobretudo, da diversificação das relações económicas entre os dois países – que começa
2
Economist Intelligence Unit – Angola Country Profile, 2008.
12
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
a projectar-se para outras áreas de actividade igualmente com excelentes condições de
desenvolvimento, como a agricultura, o agro-negócio, a segurança energética e as
tecnologias da informação – a visita foi aproveitada para a reafirmação de posições de
princípio quanto ao combate à corrupção, à promoção da transparência governativa, à
defesa dos direitos humanos e ao reforço da democracia interna. Para efeitos de
credibilidade externa do país, este tipo de contactos é muito importante, com resultados
na melhoria da confiança dos investidores e agentes económicos.
Potencialmente mais significativa pode ter sido a deslocação do novo Presidente
da África do Sul na terceira semana de Agosto, a primeira imediatamente após a sua
eleição, o que configura claramente as intenções do Governo sul-africano quanto ao
alargamento das relações económicas e políticas com Angola. O Presidente Jacob Zuma
encabeçou uma extensa comitiva composta por 11 ministros e mais de uma vintena de
homens de negócios. Esta visita presidencial marca uma decisiva melhoria nas relações
entre as duas maiores economias da SADC, tendo-se ultrapassado a frieza que as
caracterizou durante a administração Mbeki. Durante a visita presidencial sul-africana
foram rubricados acordos em vários domínios, com destaque para o comércio, indústria,
energia, construção, diamantes e transportes aéreos. O mais importante foi o protocolo
entre a Sonangol e a Petrosa que estabelece a cooperação na exploração, refinação e
distribuição de petróleo. As exportações de petróleo angolano representam cerca de
30% das necessidades da África do Sul satisfeitas pelas importações. Grande parte da
produção da nova refinaria do Lobito será destinada à satisfação das carências
energéticas – que são muitas – da maior economia africana.
Logo no início de Agosto (entre 3 e 7) foi recebida uma delegação do Fundo
Monetário Internacional para discussão sobre um programa stand-by de apoio financeiro
à balança de pagamentos, na sequência de um convite directamente expresso pelo
Presidente da República ao director geral do FMI, Dominique Strauss-Khan. O
empréstimo acordado foi de 1,4 mil milhões de dólares, sujeito, entretanto, à obtenção
de metas relacionadas com a correcção dos desequilíbrios macroeconómicos
provocados pelos efeitos da quebra do preço e das exportações de petróleo e de alguns
incumprimentos nas regras prudenciais de gestão das reservas internacionais. A segunda
missão ocorreu em Setembro, tendo sido prevista uma terceira deslocação, caso as
discussões de Setembro fossem bem sucedidas. Esta terceira missão apenas se realizou
no primeiro trimestre de 2010, devido a algumas divergências quanto às políticas
económicas.
Deve, de igual modo, ser destacada a visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI
em Março de 2009, que contribuiu para destacar a visão social da Igreja e o seu
empenho em contribuir para a resolução dos problemas sociais que afectam a grande
maioria da população.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Também, a participação do Chefe de Estado na cimeira do G8 em Itália foi um
acontecimento importante para o país e que, em conjunto com os referidos, contribuiu
para a melhoria da imagem externa de Angola e a sua participação na tomada de
decisões internacionais.
Visitaram Angola, em 2009,os presidentes da Rússia e de Cuba, reforçando a
inserção internacional de Angola como parceiro económico e político relevante.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
1.- SÍNTESE DO COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EM 2009
1.1.- A estabilização macroeconómica
Evidentemente que a crise internacional deixou marcas no processo de
estabilização dos equilíbrios macroeconómicos iniciado a partir de 2000 e reforçado
depois de conseguida a paz.
Houve variáveis mais sensíveis do que outras à queda dos preços e das
exportações do petróleo, como, por exemplo, as reservas internacionais e o saldo fiscal.
As primeiras experimentaram uma quebra de 31% face a 2008. De assinalar que 2008
foi um dos melhores anos de constituição de reservas internacionais, tendo assinalado
uma variação percentual de 59,1%, tendo como referência 2007.
Quanto ao saldo fiscal, registou-se, pela primeira vez nos últimos 5 anos, um
valor negativo, igualmente explicado pela quebra nas receitas fiscais provenientes dos
rendimentos e da produção de petróleo, perdas não compensadas pela fiscalidade não
petrolífera, apesar da sua variação percentual positiva (5,4%). As receitas fiscais
petrolíferas experimentaram um decréscimo de 32,4%, o que obrigou à introdução de
ajustamentos nas despesas correntes do Estado, mas, principalmente nos investimentos
públicos, que diminuíram 75,1%.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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A dívida externa, apesar da crise financeira internacional e dos constrangimentos
associados à quebra das receitas públicas, manteve a sua tendência decrescente de
representatividade no PIB, situando-se o seu nível relativo em 19,6% em 2009.
Quanto à dívida interna, o seu valor rondou os 4,6 mil milhões de dólares em
2009, uma percentagem de cerca de 1/3 da dívida externa. Embora não sejam valores
expressivos, a nova bolha financeira que se está a formar na base do excesso das dívidas
públicas internas de muito países aponta no sentido de se exercer sobre este agregado
monetário uma vigilância prudencial adequada.
No domínio dos preços, 2009 viu agravarem-se as tendências de subida dos
mesmos, contrariando os movimentos que se vinham registando desde 2000 e que
apontavam no sentido de se puder ter uma taxa de inflação abaixo de 10% ao ano. Nos
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
inquéritos de conjuntura efectuados pelo CEIC, a inflação tem sido um dos aspectos
negativos para a actividade económica referidos pelos empresários. No mesmo sentido
se colocam as reinvindicações dos trabalhadores, cujo poder de compra, face à
insufiência e desajustamento, dos ajustamentos salariais, tem vindo a deteriorar-se,
projectando-se, negativamente, nas condições de vida dos agregados familiares de baixa
renda.
A crise nas reservas internacionais vivida em 2009 determinou a aplicação de
medidas restritivas sobre as variáveis monetárias, com desaque para os empréstimos à
economia e a disponibilidade de divisas para as importações (que representam 90% do
valor total das compras externas de bens de consumo). No entanto, a taxa de crédito à
economia aumentou para cerca de 21% (14% em 2008) e a quebra nas importações
totais foi de apenas 5,8%.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Em síntese, 2009 interrompeu algumas das trajectórias positivas de reconstrução
e crescimento económico que se vinham registando depois de 2003 e cuja manifestação
mais óbvia foi a da acentuada quebra na taxa de crescimento do PIB. De acordo com as
estimativas do Governo, a taxa média de variação do Valor Agregado Nacional foi de
2,74% (contra 13,6% em 2008)3.
O gráfico seguinte compara o comportamento dos indicadores macroeconómicos
fundamentais de Angola ao longo de um período de oito anos, constatando-se que 2009
foi, na verdade, um mau ano, em qualquer um dos ângulos aí apreciados.
3
Algumas estimativas, conforme se anota no parágrafo 1.2., dão conta de crescimentos negativos do PIB
angolano em 2009. A estimativa do CEIC é de 2% de crescimento da actividade económica em 2009.
18
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
1.2.- O sector real da economia
A crise financeira internacional arrastou uma queda da taxa de crescimento do
PIB de 13,8% em 2008 para 2,7% em 2009, segundo as estimativas do Governo4. A
revisão do Plano Nacional 2009 e do Orçamento Geral do Estado, feita em meados de
2009, corrigiu a taxa inicialmente prevista de 11,8% para cerca de 3%
A resposta do Governo à crise mundial foi articulada em dois eixos: um de curto
prazo (imediato) centrado no reajustamento das despesas públicas, correntes e de
capital, e outro de médio prazo, tendo como aspecto focal a diversificação da
economia5.
A despeito da crise dos preços e das exportações de petróleo em 2009, este
sector continuou a ser o dominante da economia nacional. Segundo informações do
Ministério do Planeamento – recolhidas do Ministério dos Petróleos – a produção média
diária de petróleo foi de 1,809 milhões de barris, inferior em cerca de 5% à de 2008
(1,906 milhões de barris).
4
Estimativa do FMI divulgada no World Economic Outlook de Abril de 2010 aponta para uma recessão
da economia angolana em 2009, com uma taxa real de variação do PIB de -0,4%.
5
Para o que foi criada uma linha de financiamento à agricultura de 350 milhões de dólares (entretanto não
concretizada em 2009), construídos parques, zonas e pólos industriais de mais de mil milhões de dólares e
cuja utilização está bem longe do esperado (aparentemente, devido aos elevados preços de venda dos
pavilhões) e programados investimentos em novas cimenteiras e fábricas de materiais de construção,
produtos alimentares, etc.
19
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O valor da produção petrolífera, para um preço médio de 60,9 dólares o barril,
foi de 40,2 mil milhões de dólares, uma diminuição de 38,3% relativamente a 2008. As
consequências sobre o montante de reservas internacionais, os réditos fiscais e a
capacidade de importar foram significativas, de tal sorte que a taxa de crescimento do
Produto Interno Bruto diminuiu 79,9% face a 20086.
O modelo de crescimento continuou capital/tecnologia-intensivo e dependente
das importações, onde as ligações com os outros sectores são marginais, excepção para
os investimentos públicos e o sistema financeiro.
Continuaram presentes fragilidades institucionais em termos de capital humano,
sistema judicial, regulação, burocracia, inspecção e corrupção, os quais, de par com a
crise mundial, influenciaram o clima de funcionamento do sector privado.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Para além da esperada e quase natural quebra no valor agregado da actividade de
extracção de petróleo, o sector da construção e das obras públicas foi igualmente
abalado pelos efeitos perversos da actual crise. De acordo com as estimativas sobre o
investimento público constantes do Relatório de Balanço do Plano Nacional de 2009 do
Governo, os dispêndios situaram-se em 2979,3 milhões de dólares, equivalentes a uma
6
O FMI – World Economic Outlook, April, 2010 – estimou em -0,4% a taxa de crescimento do PIB em
2009, enquanto o Economist Intelligence Unit (Angola, Country Profile, September, 2009) avaliou em 1,9% a contracção do PIB angolano para o mesmo ano. Por seu turno, o Relatório do primeiro trimestre
de 2010 do Business Monitor International, intitulado “Angola-Business Forecast Report (Making
Amends with IMF)” admite uma taxa positiva de crescimento em 2009, mas tão-somente de 0,1%.
Finalmente, o Banco Mundial (Global Economic Prospects, 2010) estima em -0,9% a retracção
económica ocorrida em 2009.
20
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
taxa de execução – face ao programado – de 30,7% (uma das mais baixas taxas de
execução de sempre). Seguramente que este facto teve reflexos na taxa de crescimento
do sector das obras públicas, traduzidas na suspensão, adiamento e não início de muitos
dos projectos públicos de infraestruturas.
O Núcleo de Macroeconomia do CEIC estima uma taxa de crescimento do PIB
angolano em 2009 de cerca de 2% (2,74% para o Governo), com os sectoriais de -5,1%
para o petróleo e 7,5% para o não petrolífero (8,9% na contabilidade do Governo)7. Em
2008, as grandezas anteriores apresentaram taxas de crescimento de, respectivamente,
13,6%, 12,3% e 15,2%.
Com certeza que estas quebras no ritmo de crescimento da economia nacional
influenciaram as linhas tendenciais de progressão, de tal modo que, entre 2003 e 2009 o
factor multiplicativo do PIB baixou o seu ritmo de variação, situando-se em 2,35.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Já noutros Relatórios Económicos se tem apresentado a perspectiva do CEIC
sobre as elevadas taxas de crescimento do PIB que Angola tem apresentado nos últimos
anos, depois de resolvido o conflito militar interno. Continua-se a pensar essencialmente
que:
7
No Relatório Económico de 2008, o CEIC apresentou uma previsão de crescimento do PIB em 2009
situada no intervalo 1% - 3% (página 242). Os dados oficiais apresentados confirmam a validade deste
intervalo. Recorde-se que o Business Monitor International, no seu relatório intitulado “Angola-Business
Forecast Report (Making Amends with IMF)” admite uma taxa de crescimento de 0,1%.
21
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
•
esse crescimento não tem gerado uma melhoria proporcional das
condições de vida da população – devido ao modelo de constituição
de riqueza e de distribuição do rendimento nacional,
•
os custos associados à intensa variação do nível geral da actividade
económica têm sido elevados e mal distribuídos,
•
a estrutura económica continua, no primordial, a mesma,
representando a economia mineral mais de 50% do PIB total,
•
e a estabilização macroeconómica conseguida não tem, ainda,
fundamentos sólidos, dados pela economia nacional não petrolífera
(agricultura, manufactura, serviços diversos) e pela capacidade
científica, tecnológica e de inovação.
Ou seja, existe um risco elevado de, uma vez passada a presente euforia e
esgotadas as oportunidades dadas por um país destruído pela guerra, se regressar a
crescimentos mais suaves – e provavelmente mais adequados à actual capacidade de
gestão e absorção –, na casa de um dígito, ainda que próximo dos 10%.
Um aspecto a ressaltar, pela positiva, prende-se com as dinâmicas de
crescimento comparadas entre as actividades petrolíferas e as restantes, verificando-se
que, desde 2006, as cadências médias anuais de variação dos sectores não petrolíferos
têm, sistematicamente, superado as do sector de enclave.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Os sinais dos efeitos da crise económica internacional sobre a economia
angolana começaram a tornar-se visíveis a partir de Agosto de 2008, com a quebra dos
22
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
preços e das quantidades exportadas de petróleo e diamantes, que se reflectiram sobre as
respectivas dinâmicas de crescimento.
c om p o rtam e nto d a p ro du ç ão d e pe tró le o e m 2008 e 2009 (variaç õ e s
re lativas h om ó log as m e n s ais )
2,00
1,50
1,00
0,50
to
te
m
br
o
ou
tu
br
no
o
ve
m
de br o
ze
m
br
o
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ja
-0,50
ab
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iro
fe
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re
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m
ar
ço
0,00
-1,50
2008
2009
FONTE: Ministério dos Petróleos.
variaç ão re lativa h om ó log a m e ns al d a p ro du ç ão de d iam an te s (%)
10,00
8,00
6,00
4,00
se
te
m
br
o
ou
tu
br
no
o
ve
m
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m
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ag
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o
m
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ab
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ja
n
-4,00
ve
ei
ro
-2,00
re
iro
m
ar
ço
2,00
0,00
-6,00
-8,00
2008
2009
FONTE: Ministério da Geologia e Minas.
Com efeito, a partir do segundo semestre de 2008, tornaram-se claras as
tendências de regressão dos dois principais sectores financiadores da economia
nacional, com a actividade diamantífera a apresentar em Dezembro um “hard landing”,
utilizando-se a expressão de Paul Samuelson. A taxa de crescimento do PIB
diamantífero foi, no último mês de 2008, de – 29,63%. A atenuação da actividade
petrolífera foi mais suave: 1,65% em Julho e 0,6% em Dezembro.
23
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Em 2009, a crise internacional afectou mais directa e pesadamente a actividade
petrolífera. A situação prevalecente em 2009 foi a de diminuições sistemáticas do nível
da sua actividade. Por exemplo, entre Janeiro e Agosto, o sector acumulou um
crescimento negativo de 5,5%.
No caso dos diamantes, foi graças à política governamental de conter os níveis
de emprego – através da garantia da compra do produto – que a actividade extractiva se
manteve em níveis positivos. Mesmo assim, entre Janeiro e Julho o nível de laboração
deste sector declinou 4,5%.
As causas para estes acentuados declínios encontram-se, evidentemente, na
retracção da procura internacional dos dois produtos. Mas, do mesmo modo, os preços
foram amplamente tocados pela recessão económica mundial.
Devido aos sinais de recuperação da procura mundial e das exportações –
arrastada pela tendência de inversão do crescimento da economia mundial – aparecidos
nos dois últimos trimestres de 2009 (altura em que o PIB e o emprego da maior
economia mundial apresentaram cifras positivas de comportamento), o PIB angolano
respondeu da melhor forma, tendo a recuperação ocorrida na parte final do ano
contribuído para a taxa de 2,74% estimada pelo Governo.
FONTE: Núcleo de Macroeocnomia do CEIC, a partir de inmformações do BNA e
Ministério do Planeamento.
As políticas implementadas para refrear os nefastos efeitos da crise internacional
sobre a economia nacional foram, como se sabe, objecto de controvérsia, tendo os
empresários angolanos reagido negativamente face ao aumento das taxas de juro, às
dificuldades na obtenção de crédito e de moeda externa, ao elevado valor das taxas de
câmbio e ao incremento da taxa de inflação. Das suas opiniões resultaram índices
24
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
negativos do Barómetro de Conjuntura e da Situação Económica, publicados no
Barómetro de Conjuntura do CEIC/UCAN em 20098.
O principal foco de reflexão sobre o crescimento económico futuro de Angola
está centrado na produtividade e no seu complementar, a competitividade. O
crescimento económico observado entre 2002 e 2008 – embora em 2007 e 2008 com
uma menor intensidade – foi de natureza essencialmente quantitativa, que beneficiou
duma elevada taxa de poupança global, com incidência nos empréstimos externos e no
investimento estrangeiro directo, em particular nos sectores do petróleo, diamantes e
construção civil.
A falta de produtividade e de competitividade da economia não petrolífera – que
limita a sua capacidade de conquista de mercados de exportação –, aliada à insuficiência
de poupança interna, podem potenciar uma situação económica pouco propícia ao
crescimento do PIB, ainda por cima em clima de crise económica mundial. O aumento
da competitividade da agricultura, da manufactura e das pescas – para se referir, tãosomente, os sectores transaccionáveis – depende, numa grande medida, de incrementos
significativos na produtividade do trabalho.
Conhecem-se quais são as formas de se criar uma competitividade estrutural,
que passam pela inovação de produtos e processos, pela qualificação dos empresários e
da força de trabalho, pela qualidade das instituições públicas e privadas e pelas
lideranças prescientes. Mas os resultados só são visíveis a médio prazo. Uma das formas
de melhorar a produtividade a curto prazo passa por reduzir o emprego, no que ninguém
estará interessado.
Para que o emprego, pelo menos, se não reduza, as baterias terão de estar
viradas, principalmente, para o sector da construção e, em especial, para as obras
públicas de infraestruturas. As pequenas obras apresentam uma razão custo-benefício
altamente positiva. Pelo contrário, as grandes obras são mais deficitárias na relação
investimento-criação de emprego, pelo que deveriam ser objecto de estudos específicos
e profundos sobre os benefícios esperados, do ponto de vista económico e social9.
Como consequência da quebra do nível geral da actividade, o rendimento médio
por habitante diminuiu em 2009, o que deve ter agravado as condições de vida da
população mais pobre (conjugação entre menor rendimento, elevada inflação e
condições de distribuição da riqueza).
8
CEIC, Núcleo de Estudos de Conjuntura, Barómetro de Conjuntura nº 7.
Estes assuntos da produtividade, competitividade, emprego e diversificação da economia são debatidos
mais à frente em capítulos próprios.
9
25
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
26
CEIC/UCAN
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
2.- CONTEXTO ENVOLVENTE DA ECONOMIA NACIONAL
2.1.- O contexto internacional
O ano de 2009, em geral, foi terrível para o comércio global. De acordo com o
Banco Mundial, os volumes caíram 14,4%. Este valor encobre a existência duma
actividade de whip-sawing (movimentos rápidos nos preços seguidos de uma alteração
acentuada dos mesmos na direcção oposta) durante todo o ano. O valor das trocas
comerciais a nível mundial é afectado pelas flutuações nos preços e nas taxas de
câmbio.
A recuperação do comércio mundial depende do crescimento económico. Este
tem sido muito baixo nas economias desenvolvidas e só se tem salvo nos últimos
trimestres de 2009 devido à reposição das existências, consumidas durante o pico da
crise económica. Este efeito vai atenuar-se.
A segunda causa de inquietação diz respeito ao mundo rico. O crescimento da
procura global tem sido proveniente, de uma forma desproporcionada, das economias
emergentes. É verdade que todos beneficiam do estimulante consumo da parte da China,
realçando os economistas do Banco Mundial que a sua parte nas importações mundiais
aumentou de 10% em 2008, para mais de 12% em 2009. Este aumento afectou os
principais produtores de bens de capital, como a Alemanha, cujas exportações
aumentaram uns saudáveis 3,3%. A procura chinesa impulsionou, igualmente, as
exportações japonesas, que aumentaram 12,1%, substituindo, assim, os Estados Unidos
como maior mercado do Japão.
O crescimento económico do Brasil – que foi negativo em 2009 – foi
particularmente afectado pela redução do consumo privado mundial que implicou uma
diminuição das suas exportações. Também, a retracção do investimento privado
estrangeiro teve repercussões no desempenho económico negativo. Porém, a força dos
macroeconomic fundamentals brasileiros contribuiu para amortecer os efeitos da crise
económica e financeira mundial e para que o país fosse dos primeiros a deixar para trás
a fase de recessão económica. Espera-se que já em 2010 a economia brasileira possa
retomar uma taxa de crescimento de 5,5%.
No entanto, um crescimento mais forte nos mercados emergentes é, em geral,
uma notícia melhor para os produtores de bens de consumo básico, do que para os
exportadores do mundo rico. Esta tendência poderá ser alterada no caso de um
restabelecimento do crescimento no mundo rico, aumentando a procura por bens mais
sofisticados, exportados pelos países industrializados. De acordo com as últimas
projecções do FMI de 26 de Abril de 2010, o PIB dos países ricos aumentará 2,3% em
2010 e 2,4% em 2010, depois de uma contracção de 3,2% em 2009, e o PIB mundial
27
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
poderá registar 4,2% de variação relativa face a 2009 (uma revisão em alta face aos
anteriores 3,1%).
Embora uma expansão mais rápida seja positiva para todos os exportadores, o
crescimento, tanto em produção, como em trocas comerciais, será afectado em 2010, a
menos que sejam repelidos os pedidos de proteccionismo, que irão provavelmente
aumentar no caso do desemprego se manter elevado. A recuperação em V pode não ter
passado de um epifenómeno, com a duração dum trimestre.
O ponto focal desta vasta e profunda reflexão é o da probabilidade de a
economia mundial entrar de novo em recessão.
Os problemas da Europa têm dado aos investidores razões de preocupação e
ansiedade. Mas, também, as alterações de políticas a nível mundial.
O Governo chinês começou a refrear a concessão de financiamentos, com receio
de pressões inflacionistas (a inflação chinesa está em crescendo) e de “bolhas” de
activos (excessivos financiamentos podem incitar a compra de activos com alguma
toxidade).
O Banco Central da Índia aumentou o requisito de reservas e o incentivo fiscal
no Brasil está a ser gradualmente retirado (recorde-se que uma das formas encontradas
para atenuar os efeitos da crise económica mundial foi diminuir a taxa de imposição
fiscal sobre muitos produtos de consumo interno generalizado e reforçar os programas
de inclusão social e geração de renda, o que incentivou a procura interna).
Os grandes bancos centrais a nível mundial liquidam faseadamente as
facilidades de liquidez de emergência que introduziram no pico da crise. O processo de
imprimir moeda para comprar títulos com maturidades mais longas está a chegar ao fim.
Todas estas circunstâncias atingiram os preços dos activos. Os mercados
accionistas caíram acentuadamente, os preços das matérias-primas diminuíram
drasticamente e a volatilidade subiu. O optimismo relativamente a uma recuperação em
V está a ser substituído por um pessimismo quanto a uma recessão com recaída (doubledip, ou em W), crescendo o receio de que os decisores políticos eliminem os apoios
fiscais e monetários precocemente.
2.1.1.- As economias desenvolvidas
A quebra do crescimento da economia mundial só não foi mais dramática
em 2009 devido à influência das economias asiáticas, em especial da China (que
representa, sensivelmente, 10 % do PIB mundial) e da Índia, com taxas de variação do
PIB de, respectivamente, 8,7% e 5,7% (no conjunto, os países do sudeste asiático
cresceram 6,4% em 2009).
28
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
As economias mais desenvolvidas do planeta viram o seu PIB regredir cerca de
3,2% em 2009, destacando-se a recessão japonesa – que já vinha de 2008 – e da Zona
Euro, cujo nível geral de actividade económica tinha apresentado um fraco desempenho
em 2008, particularmente devido aos efeitos da crise financeira na parte final do ano.
O preço médio do petróleo foi de 65 dólares o barril, de acordo com os cálculos
do Fundo Monetário Internacional10, contra 100,2 dólares em 2008 (com o tremendo
pico de 147,5 dólares em meados do ano). No entanto, esta diminuição do preço da
matéria-prima energética mais utilizada não constituiu estímulo bastante para reverter a
situação de depressão económica mundial.
AS ECONOMIAS DESENVOLVIDAS EM REVISTA
(taxas de variação do PIB)
PAÍSES
2005
2006
2007
2008
2009
Economia mundial
3,5
4,0
5,2
3,0
-0,6
EUA
3,2
2,8
2,1
0,4
-2,4
Japão
2,6
2,4
2,3
-1,2
-5,2
Zona Euro
1,3
2,9
2,7
0,6
-4,1
União Europeia
1,8
2,8
2,7
1,7
-2,0
FONTES: Universidade Católica de Angola – Relatório Económico 2006, 2007 e 2008. IMF – World Economic
Outlook April 2010. World Bank – Global Economic Prospects, 2010.
Atendendo à estrutura do PIB mundial – na qual os Estados Unidos participam
com 20%, o Japão com 11% e a União Europeia com cerca de 16% - conclui-se que a
contribuição das economias desenvolvidas para a recessão económica global foi de 1,687%, tendo, em contrapartida, a contribuição das economias emergentes China (7%
do PIB global) e Índia (3% do PIB mundial) cifrado-se em 0,763%. Estas variações
sugerem, por um lado, que os países emergentes resistiram melhor à crise económica
internacional em 2009 e, por outro, que o centro de gravidade do crescimento
económico mundial se está deslocando para as economias emergentes.
O fortíssimo crescimento da China em 2009 jogou um papel determinante no
comportamento favorável da economia mundial (a sua contribuição foi de 0,595 ponto
percentual), tendo sido a campeã das economias em desenvolvimento.
Os Estados Unidos deveram a regressão do seu crescimento económico em 2009
às consequências da crise do subprime imobiliário e à queda das cotações bolsistas da
maior parte das empresas industriais e financeiras de referência. O contágio sobre a
economia, proveniente da descapitalização do sistema bancário, da diminuição das
10
International Monetary Fund - Regional Economic Outlook, Sub-Saharan Africa, September 2009.
29
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
vendas a retalho e da produção industrial e da queda da confiança dos consumidores, foi
dramático, espelhando-se numa taxa de variação do PIB de -2,4%.
No Japão, depois de alguns anos de letargia, a recuperação parecia ter-se
iniciado em 2006. No entanto, em 2007 ocorreu uma diminuição da intensidade do
crescimento económico e em 2008 e 2009, a economia nipónica voltou a dar mostras de
recessão. Queda nas exportações, derivada da retracção das economias mais
desenvolvidas, foi uma das consequências mais visível da crise de 2009.
A Zona Euro, que foi muito criticada pelo maior conservadorismo no combate
aos efeitos da crise económica mundial, não resistiu à crise financeira oriunda do outro
lado do Atlântico. Depois de alguns anos de crescimento razoável, em 2009 apresentou
uma profunda recessão, avaliada por uma taxa de crescimento do PIB de -4,1%, a
segunda maior das economias mais desenvolvidas do planeta. Não obstante esse maior
conservadorismo, alguns países europeus entraram numa fase crítica, devido aos
elevados défices orçamentais e rácios da dívida pública.
O “ranking” mundial destas economias estava estabelecido do modo seguinte:
RANKING MUNDIAL DAS ECONOMIAS DESENVOLVIDAS
PAÍSES
1980
2004
2005
2007
2008
EUA
1
1
1
1
1
Japão
2
2
2
2
2
Alemanha
3
3
3
3
3
Reino Unido
5
4
4
5
5
França
4
6
5
6
6
Itália
6
7
7
7
7
FONTES: Banco Mundial – Global Economic Prospects, 2007, 2009, 2010 e World Development Indicators, 2009 e
2010.
2.1.2- As economias emergentes
As economias emergentes mais importantes, graças a alguns bons fundamentos
macroeconómicos (como o reduzido défice fiscal e o relativamente baixo percentual de
dívida externa), à dimensão populacional dos respectivos mercados internos e às
medidas directas de apoio ao consumo e produção (baixa das taxas de juro activas11),
conseguiram mitigar os efeitos mais dramáticos da crise internacional e criar as
melhores condições para a retoma sustentada em 2010.
11
Política contrária foi seguida em Angola, com a elevação brutal do preço do dinheiro, como forma de
conter os ataques às reservas internacionais.
30
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Dos emergentes mais conhecidos, só a Rússia e a África do Sul apresentaram
comportamentos económicos depressivos no último trimestre de 2009. De acordo com o
The Economist12, a taxa de variação do PIB na Federação Russa foi de -8,9% e na maior
economia africana de -1,4%. As duas maiores economias emergentes da América do Sul
reagiram positivamente na parte final do ano, com os respectivos PIB a crescerem 4,3%
no Brasil e 2,6% na Argentina.
Mas os grandes ganhos ocorreram na China e na Índia, economias que passaram
ao lado da grande depressão económica mundial e que no último trimestre de 2009
regressaram às suas taxas tendenciais de crescimento da actividade económica: 10,7%
no primeiro e 6,0% no segundo país.
As taxas de desemprego, como seria de esperar, reagiram, em baixa, à quebra
nos ritmos de crescimento económico em 2009. A África do Sul e a Índia foram as
economias emergentes com as mais elevadas taxas de desemprego – respectivamente,
24,3% e 10,7% - enquanto o Brasil foi o país com o menor índice de desutilização da
mão-de-obra. Na verdade, a maior economia da América do Sul teve uma taxa de
desemprego de 7,2% e a Argentina de 8,4%. Na China, o desemprego foi de 9,6% da
população economicamente activa.
Do conjunto das economias emergentes, a que mais se destacou, em 2009, foi,
uma vez mais, a China, apesar da crise financeira e económica mundial. Com uma taxa
de variação do seu PIB de 8,7% – seguramente a mais elevada do mundo em 2009 – a
China manteve-se como a primeira das economias emergentes e ascendeu ao terceiro
lugar no ranking mundial das maiores economias do planeta. A dimensão do seu
mercado interno acabou por amortecer os efeitos nefastos da queda das exportações,
ocorrida na parte final de 2008 e em 2009 (o Banco Mundial, conforme se referiu,
estimou em 14,4% a quebra no comércio mundial).
12
The Economist, March 27th 2010.
31
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
CRESCIMENTO ECONÓMICO DE ALGUMAS ECONOMIAS EMERGENTES (%)
PAÍSES
2006
2007
2008
2009
CHINA
11,6
13,0
9,6
8,7
ÍNDIA
9,8
9,4
7,3
5,7
BRASIL
4,0
5,7
5,1
-0,2
RÚSSIA
7,7
8,1
5,6
-7,9
ARGENTINA
8,5
8,7
6,6
-2,5
ÁFRICA DO SUL
5,3
5,1
3,3
-1,8
PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO
7,7
7,4
6,3
1,7
FONTE: International Monetary Fund – World Economic Outlook, April 2010..
No geral, todos os países da amostra anterior não conseguiram encaixar alguns
dos efeitos perversos da crise financeira mundial de 2008-2009, razão pela qual os
ritmos de variação anual do PIB terem diminuído depois de 2007.
O Brasil conseguiu absorver os efeitos negativos da crise mundial, graças à
dimensão da sua demanda interna, ao saldo positivo da sua posição externa – a
valorização relativa do real diminuiu o valor das importações –, ao investimento
doméstico e às medidas de estabilização económica, apesar de o défice fiscal manter-se
alto e as taxas de juro continuarem a ser pouco atractivas para os empresários locais. A
redução das taxas de alguns impostos sobre o consumo de bens duradouros e não
duradouros foi decisiva para que a demanda interna compensasse a quebra das
exportações, influenciadas pelo clima geral de abrandamento da actividade económica
mundial.
A China passou quase incólume pela crise financeira internacional em 2009,
tendo-se mantido a taxa de crescimento do PIB na trajectória do passado (8,7%).
As relações económicas e políticas entre Angola e a China mantiveram-se fortes
em 2009, tendo-se este país tornado num parceiro estratégico depois do primeiro grande
empréstimo para a reconstrução económica do país, em 2003 (um crédito estimado em 2
mil milhões de dólares, mais tarde aumentado para 4,5 mil milhões de dólares). Mas a
China conta também na balança comercial de Angola, pela via das exportações de
petróleo. Depois de 2006, Angola tornou-se no primeiro fornecedor africano de petróleo
da China e reparte com a Arábia Saudita o estatuto de maiores fornecedores deste
produto de base à economia que mais tem crescido no mundo desde há mais de 25 anos.
Empresas chinesas encontram-se já estabelecidas em território angolano em diferentes
sectores de actividade, como a construção, as telecomunicações, o comércio, a
electricidade e a extracção mineira.
32
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
É fundamental estar-se atento ao que poderá vir a ser uma excessiva
dependência da China, sobretudo num contexto em que os grandes estrategas mundiais
divergem quanto ao efectivo papel que este gigante asiático poderá vir a desempenhar
no redesenho da geoeconomia do planeta. Alguns deles sustentam, mesmo, que o
binómio ditadura política/desenvolvimento económico se vai tornar cada vez mais
difícil de gerir nos mesmos moldes. A redução da pobreza e a extensão a cada vez
maiores camadas da população de níveis ocidentais de vida vão determinar uma
mudança do regime político e uma intensidade de crescimento da economia que,
provavelmente, não será possível de garantir. Por isso é que se afigura sensata a
estratégia do governo angolano de diversificar as suas fontes externas de financiamento
e as suas relações comerciais. Neste entrecho, surgem países como os Estados Unidos, a
Rússia, a Índia, Portugal, Brasil e até mesmo Israel, como alternativas mais estáveis a
longo prazo.
Quanto à África do Sul – a maior economia africana e a que detém um poder
económico estratégico em toda a África subsariana – o seu comportamento económico
foi amplamente afectado pela crise internacional. Apesar das suas condições internas
serem das melhores em África para o desenvolvimento económico, o desempenho do
seu PIB foi negativo (-1,8%). O país mais a sul do continente africano tem concretizado
uma inteligente estratégia de diversificação das suas relações económicas e comerciais
em África, apresentando-se como o país africano que mais investe no continente. Daí
que esteja interessada em aprofundar o relacionamento com Angola, sendo as
expectativas excelentes, com a visita que Jacob Zuma efectuou a Angola, encabeçando
uma larga comitiva de membros do seu governo e empresários sul-africanos. As
disputas de protagonismo entre o anterior presidente Thabo Mbecki e o presidente
angolano são, agora, coisas do passado e o interesse dos dois países está centrado num
alargamento e aprofundamento das relações económicas e políticas.
2.1.3- A economia africana
Os efeitos da crise financeira mundial foram, inicialmente, sentidos pelas
economias africanas mais integradas nos mercados financeiros internacionais, como a
África do Sul, que, em 2009, registou uma quebra global do seu PIB de 1,8%.
Posteriormente, quando a crise passou a ser, também, económica, propagou-se,
directamente, aos países exportadores de petróleo (como a Nigéria, Argélia, Líbia e
Angola) e, indirectamente, aos países produtores de manufacturados com alguma
procura internacional, como Marrocos e Tunísia. Duma maneira geral, todos os países
africanos produtores de matérias-primas e produtos de base não petrolíferos foram
afectados pela quebra da procura mundial e dos preços dessas commodities.
O crescimento económico da África subsariana foi de apenas 2,1% em 2009 (de
acordo com as estimativas do Fundo Monetário Internacional), contra 5,5% em 2008
(portanto, uma quebra de 61,8%). Já desde 2007 que a economia africana ao sul do Sara
33
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
vinha mostrando uma tendência de quebra da sua actividade económica, um pouco em
contra ciclo com o comportamento da economia mundial (7% em 2007, 5,5% em 2008
e 2,1% em 2009). São as conhecidas debilidades estruturais africanas, de onde
sobressaem as capacidades humanas, as dificuldades infraestruturais, a liderança
política e a falta de competitividade.
2.1.3.1.- A posição estratégica de Angola em África
De acordo com a análise do Economist Intelligence Unit13, Angola tem todas as
condições para se tornar numa potência regional em África. Desde logo, na região
central do continente, integrada na CEEAC, onde se localizam outros produtores
africanos de petróleo. O peso económico de Angola advém do intenso crescimento
económico conseguido e do processo de estabilização macroeconómica. No âmbito dos
PALOP a posição dominante de Angola é evidente e, obedecendo ou não a uma visão
estratégica definida pelos poderes públicos, pode vir a disputar a excessiva hegemonia
reconhecida à África do Sul e à Nigéria na África subsariana.
Do ponto de vista militar, o EIU entende que Angola é já uma potência regional,
graças aos efectivos militares disponíveis (cerca de 100000), à natureza moderna de
determinados equipamentos (na Força Aérea, por exemplo) e à experiência acumulada
de 27 anos de guerra civil e de participação em alguns conflitos militares em países
vizinhos.
Qual o real peso económico – de onde poderá nascer o poder de influência
política – de Angola no contexto macro global de África?
As classificações internacionais sobre a dimensão das economias elegem o valor
do Rendimento Nacional Bruto, a preços correntes ou em paridade do poder de compra,
como o indicador mais adequado. Na análise que o CEIC efectuou foram acrescentados
o rendimento nacional bruto por habitante e a taxa de crescimento tendencial entre 1989
e 200814.
No Relatório Económico de 2008 esta análise foi feita pela primeira vez, com o
sentido de se fornecerem reflexões e informações que ajudem a estruturar uma
estratégia de afirmação económica e política de Angola em África.
A grande conclusão a tirar é a de que Angola, em 2008, à semelhança de 2007,
foi a sétima maior economia de todo o espaço africano, incluindo-se, portanto, as
fortes economias da região do Magrebe, no norte de África. Entre 48 países, Angola
aparece na sétima posição, o que é assinalável e pode conferir ao nosso país condições
13
EIU, op.cit.
As informações estatísticas foram retiradas do World Economic Report 2010, do Banco Mundial, onde
o último ano de referência é 2008.
14
34
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
políticas para uma participação mais efectiva e assumida na condução dos destinos do
continente africano.
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
Vale a pena anotar que, em termos de taxas de variação nominal entre 2007 e
2008, relativas ao atributo económico em análise, Angola foi o país com o mais elevado
desempenho (43,3%), seguido da Líbia com 40,5% e da Nigéria com 29%. Seguramente
que o ambiente petrolífero internacional durante o primeiro semestre de 2008 favoreceu
os países produtores de petróleo, como são os três referenciados.
Em termos de dinâmicas de crescimento de longo prazo (taxa tendencial de
variação do PIB), Angola, particularmente devido à estratégia de reconstrução nacional
levada a efeito depois de 2002, foi a economia africana que mais cresceu entre 1989 e
2008.
35
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
Analisando as dinâmicas anteriores de crescimento e a dimensão económica dos
países – avaliada pelo Rendimento Nacional Bruto – conclui-se que os desafios para
Angola, no espaço económico africano, são constituídos pela África do Sul, Nigéria,
Egipto e Argélia. Estes desafios podem ser traduzidos em número de anos necessários
para, dum ponto de vista económico, Angola emparceirar com aqueles países. O quadro
seguinte apresenta uma estimativa do tempo necessário para se atingir esse objectivo,
tomando como base as taxas tendenciais de crescimento de cada um dos países
considerados na amostra.
NÚMERO DE ANOS NECESSÁRIOS
Angola
África Sul
Nigéria
Egipto
Argélia
Marrocos
Líbia
19,6
18,2
15,4
11,1
3,9
3,0
Ou seja, em 2014, Angola poderá tornar-se na quinta maior economia africana,
retirando daí os dividendos políticos e económicos associados.
Reduzindo o espaço continental à zona subsariana, a posição de Angola melhora
consideravelmente, passando a sua economia a ser a terceira maior, a seguir à da
África do Sul e à da Nigéria, países que iniciaram a “aventura” do desenvolvimento há
muito tempo. Embora a Nigéria tenha tido um conflito militar interno grave nos anos 60
– a guerra do Biafra – não foi, no entanto, tão prolongado, quanto o registado em
Angola, nem de proporções tão devastadoras. A África do Sul aproveitou muito bem as
sanções económicas internacionais impostas contra o apartheid, construindo uma base
industrial interna forte de substituição das importações, que acabou por lhe valer a
posição de maior economia de África.
36
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
No espaço SADC, o nosso país tem tido prestações muito participativas no
processo de integração económica, sendo reconhecidas, ao nível regional, as suas
capacidades de crescimento, que, em parte, estão a ser aproveitadas pelos investidores
sul-africanos. Receia-se, no entanto, que, em matéria de integração económica, se esteja
a caminhar depressa de mais e mal. Estão definidos critérios de convergência entre as
diferentes economias, expressos nos mesmos indicadores da União Europeia e, também,
nos mesmos valores, o que parece um pouco despropositado. Por exemplo, alguns
países da SADC dificilmente estarão em condições de cumprir metas de inflação de 35% ao ano – as respectivas estruturas produtivas, desequilibradas, fracas, sem densidade
inter-sectorial, não estão capazes de absorver choques internos ou externos sobre os
preços dos produtos – ou de défice fiscal de 3% do PIB. Quanto menos desenvolvidos
os países, maiores as necessidades de investimentos públicos e do Estado desenvolver
uma política de apoio do sector económico.
No entanto, as grandes dificuldades – e consequentemente, cautelas – estão na
política cambial. Fala-se que, a partir de 2020, a SADC entrará no processo de criação
da moeda única. Angola, se aderir à zona monetária comum da SADC, deve preocuparse com duas matérias cruciais para a sua competitividade: a paridade que vier a ser
estabelecida entre o kwanza e a moeda única SADC e os diferenciais das taxas de
inflação entre os países constituintes. Se a taxa de câmbio for muito elevada em favor da
moeda única e se as diferenças entre os índices de inflação significativos, Angola
arrisca-se a perder bastante da já de si reduzida competitividade externa. Foi o que
aconteceu com Portugal, em que a relação cambial euro-escudo português foi a mais
elevada dos países aderentes à União Monetária. Consequências: perda de
competitividade externa, redução do poder de compra dos rendimentos e subida dos
37
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
preços por influência da relação cambial. A maioria dos portugueses está convencida de
que o seu nível de vida foi prejudicado pela adesão à moeda única europeia.
Por outro lado, o processo de adesão a uma moeda única conduz à descida das
taxas de juro, o que torna o endividamento mais barato. Foi isso, também, que ocorreu
em Portugal.
Uma zona de moeda única intensifica as trocas comerciais entre os países
aderentes, cujos produtos circulam livres de taxas aduaneiras ou de imposições
restritivas não tarifárias. Tratando-se de países com estruturas produtivas e económicas
muito diferenciadas – em que as mais fortes subjugam as mais fracas, como é o caso da
SADC – é fundamental pensar-se em mecanismos de compensação das balanças de
pagamentos dos países-membros. Se não, os países mais débeis se arriscam a acumular
défices sucessivos nas suas contas externas, provocando endividamento externo que
pode ser muito perverso para o desenvolvimento económico. Este mecanismo de
reequilíbrio passaria por se permitir ao país em risco de excessivo endividamento
externo retomar, temporariamente, algumas restrições tarifárias às importações e
conceder, igualmente durante um período limitado de tempo, subsídios a algumas
exportações. A temporalidade destes mecanismos duraria até o país em dificuldade
conseguir um reequilíbrio mínimo da sua balança de pagamentos.
Acrescem os actuais problemas financeiros de algumas economias da Zona
Euro, como a Grécia, Portugal, Espanha e Itália, cujos défices fiscais e montantes
elevados da dívida pública estão a acarretar uma perda substancial de confiança na
moeda única, sendo cada vez mais os economistas a admitir um recuo para antes de
2001.
Angola não pode, portanto, descurar as situações anteriores se quiser reforçar a
sua posição de segunda maior economia do espaço SADC, logo a seguir à África do
Sul.
38
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
A convergência entre as economias sul-africana e angolana pode ser explicada
pelas evidências estatísticas seguintes: em 2000, a relação entre os PIB era de treze para
um (o PIB angolano era de cerca de 7,7% o PIB sul-africano), enquanto em 2008 essa
proporção se reduziu para 4,5/1 (o PIB angolano valia 22,1% do sul-africano). Ou seja,
a redução da disparidade de dimensão económica entre os dois países foi de 14,4 pontos
percentuais, equivalentes a uma taxa anual média de convergência de 14,1%15.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
15
Considerando os 19,6 anos calculados mais atrás como necessários para que Angola alcançasse a África
do Sul, verifica-se que 1,141^19,6 = 101,9, equivalente à convergência total entre as duas economias.
39
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Na região da CEEAC é onde Angola detém toda a hegemonia económica,
qualquer que seja o indicador considerado. Assim, o nosso país é a economia mais
forte deste espaço regional africano.
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
O outro atributo indicado – o rendimento nacional bruto por habitante, proxy do
poder de compra médio e da produtividade geral da economia – não é tão favorável a
Angola, embora os ganhos de crescimento registados depois de 2002 tenham
contribuído para elevar os valores deste indicador.
No entanto, Angola ainda consegue apresentar um valor do poder de compra
médio acima da média africana, o que não deixa de ser relevante em termos de atracção
de investimento privado e de garantia de existência duma massa crítica de procura
nacional.
40
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: World Bank – World Economic Report, 2010.
Desta breve análise é possível alinhar as conclusões seguintes:
•
•
•
•
•
Angola é, de facto, uma das maiores economias africanas e se o
Governo continuar a criar as condições propícias para a
diversificação estrutural, a valorização do capital humano, a livre
iniciativa e a desenclavização sectorial, nada impede a disputa da
liderança política em África, ou, numa perspectiva minimalista, a
possibilidade de influenciar as grandes decisões estratégicas sobre o
desenvolvimento africano.
Pode argumentar-se que esta posição económica de Angola é,
sobretudo, fruto da importância da economia petrolífera e das
condições positivas de que tem beneficiado ao longo dos anos.
Seguramente que sim. Mas isso significa, então, que a margem de
progressão do país é enorme e muito maior do que a dos restantes
países. Ou seja, quando se desenclavizar a economia e se diversificar
a estrutura produtiva, Angola pode reforçar e consolidar a sua posição
de líder africano.
Angola é, ainda, a segunda maior economia da região petrolífera do
Golfo da Guiné, com o peso político e geoestratégico daí adveniente.
O país está em condições de começar a encarar como natural a sua
posição-líder em África e organizar-se para se assumir como potência
regional com uma enorme margem de progressão futura (economia
não petrolífera, valorização dos recursos humanos, ciência, tecnologia
e inovação, competitividade e produtividade, investimento directo
estrangeiro).
Reivindicar a possibilidade de influenciar, em defesa dos interesses
dos angolanos, os processos de integração económica (Nepad, União
Africana, SADC).
41
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
No entanto, existem algumas debilidades, as quais, se não minimizadas,
diminuirão os impactos positivos da posição de liderança económica. A partir dum certo
momento do processo de crescimento económico, o que Angola deverá ter para oferecer
à sociedade e aos investidores privados é capital humano, transparência de métodos,
procedimentos e comportamentos de governação (relacionados com uma burocracia
competitiva, um combate consequente contra a corrupção e uma abertura à sociedade
civil), muito melhor capital físico, capital científico (parques científicos e tecnológicos),
mão-de-obra qualificada e poder de compra da população internacionalmente
comparável (que passa pela implantação de mecanismos justos de acesso e de
distribuição dos rendimentos e da riqueza).
OUTROS INDICADORES PARA 2008
Dívida externa
PAÍSES
África do Sul
Nigéria
Egipto
Argélia
Marrocos
Líbia
Angola
Quénia
Camarões
Costa Marfim
Tanzânia
Botswana
Zâmbia
Gabão
RDC
Namíbia
Maurícias
Congo
Chade
Ruanda
Abertura da
economia (%)
(% do PIB)
15,7
5,7
19,9
3,2
24,4
n.d
21,3
21,7
12,1
56,2
29,9
3,4
23,1
19,4
118,2
n.d
7,0
65,6
26,1
15,4
65,2
59,7
45,5
70,5
69,5
80,1
102,9
52,9
37,2
73,7
47,9
76,2
71,1
75,0
69,0
84,6
75,1
111,0
77,4
30,5
Taxa de
desemprego
(%)
22,9
3,9
8,7
13,8
9,6
n.d
-16
9,8
7,5
4,1
4,3
17,6
12,9
17,8
34,7
21,9
7,3
14,7
0,7
0,6
Taxa de
literacia (%)
89,0
60,1
66,4
72,6
56,4
88,4
69,6
86,5
75,9
54,6
72,6
83,3
70,7
87,0
66,6
88,2
87,5
n.d
32,7
70,3
Esperança de
vida à
nascença
(anos)
Taxa de
pobreza
54
48
70
72
71
74
47
54
51
57
56
54
45
60
48
61
73
54
54
50
22,0
34,1
16,7
22,6
19,2
n-d
-17
46,6
39,9
n.d
35,7
n.d
68,1
n.d
71,3
n.d
10,6
42,3
43,4
56,9
(%)
FONTE: World Bank – World Development Report, 2010.
Na generalidade dos indicadores sociais, Angola posiciona-se atrás de quase todas
as economias africanas seleccionadas, excepto a República Democrática do Congo: é o
país onde se vive menos anos, com a segunda mais baixa taxa de literacia, uma taxa de
pobreza só suplantada por dois países (RDC e Zâmbia) e a segunda taxa de desemprego
mais alta da amostra.
16
17
O CEIC estima em 26,3% a taxa de desemprego para 2009.
O CEIC estimou, para 2009, uma taxa de pobreza de 59,8%.
42
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
2.2.- Os factores conjunturais e estruturais internos
O sistema produtivo angolano continua a enfermar de muitas lacunas. Algumas
actividades têm respondido, duma forma bastante aceitável, aos desafios que o
crescimento económico tem colocado aos diferentes agentes. Mas prevalecem vários
escolhos, tais como as deficientes infraestruturas de transportes e de produção e
distribuição de electricidade e água, a desqualificada mão-de-obra18, os entraves
burocráticos, a corrupção, as dificuldades de acesso ao crédito – embora a taxa de
crédito à economia tenha passado de 1% em 2002, para 21,3% do PIB em 200919 – o
défice de espírito empreendedor, etc.
Os Ministérios que tutelam as actividades produtivas e os empresários
elencaram, para 2009, os seguintes constrangimentos (alguns que existem desde, pelo
menos, 200220):
• Elevadas taxas para fazer face aos encargos portuários e sobrestada de
mercadoria nos terminais de carga.
• Elevados custos de produção devido a importação dos factores de produção e
instrumentos de trabalho.
• Fragilidade institucional.
• Fragilidade dos sistemas de investigação, em particular os relacionados com a
agricultura, pecuária, floresta e pescas.
• Mau estado das estradas, sobretudo as secundárias e terciárias.
• Escassez de recursos humanos qualificados, tanto ao nível empresarial, como
institucional.
• Deficiente desempenho das infra-estruturas básicas, tais como o fornecimento
regular de energia eléctrica, água e telecomunicações.
• Elevados custos dos materiais de construção, transportes internos e serviços
conexos.
• Lentidão do processo de desminagem e remoção de engenhos explosivos.
• Dificuldades de contratação de mão-de-obra nacional qualificada.
18
Nos Barómetros de Conjuntura do CEIC/UCAN elaborados em 2009, uma das queixas recorrentes dos
empresários inquiridos referia-se, precisamente, às dificuldades em se encontrar mão-de-obra
especializada e minimamente qualificada. De resto, uma das razões avançadas para a contratação de
expatriados.
19
Nos Barómetros de Conjuntura citados, um dos fortes constrangimentos à actividade empresarial em
2009 apontado pelos inquiridos foi o crédito (acesso, custo e condições), não se compreendendo como as
estatísticas monetárias apresentam uma variação de 30,6% (em dólares correntes) no stock de crédito
concedido à economia, entre Dezembro de 2008 e Dezembro de 2009. O crédito do sistema bancário ao
sector privado variou, no mesmo período, 28,4%.
20
Fontes: Barómetros de Conjuntura da UCAN/CEIC e Balanço de Execução do Plano Nacional de 2009,
Ministério do Planeamento.
43
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Dificuldades de contratação de mão-de-obra expatriada, decorrentes das normas
migratórias (obtenção de vistos de trabalho).
• Morosidade dos processos de importação de equipamentos e meios técnicos.
• Congestionamento significativo e inadequação de meios técnicos, operacionais
e organizacionais dos Portos de Luanda e Lobito (portuário e marítimo).
• A situação de paragem efectiva dos transportes ferroviários em Angola, desde
há vários anos.
• O congestionamento de tráfego na cidade de Luanda, para o qual contribui a
entrada de mais de 2000 carros por semana para as deficientes ruas da capital,
pejadas de obras intermináveis e cuja utilidade de algumas delas é, no mínimo,
discutível. O CEIC estima que estas ineficiências podem afectar o coeficiente
capital/produto da economia – em média, estimado entre 2,5 e 3 – em cerca de
10%, diminuindo, por esta via, a capacidade de a economia nacional gerar mais
resultados com o mesmo volume de investimentos.
• A saturação dos hotéis motivada pelas demandas dos estrangeiros, tem exercido
um efeito de contágio sobre os preços das unidades hoteleiras de menor
qualidade e dos restaurantes.
• Devido à bolha imobiliária, causada pelas companhias estrangeiras, a assistência
técnica importada e a procura da burguesia nacional, a cidade de Luanda passou
a ser considerada como a mais cara do mundo, destronando, assim, Moscovo e
Tóquio.
• A migração para Luanda não tem abrandado, mesmo depois de solucionado o
conflito militar interno. A capital tem hoje, de acordo com determinadas
estimativas, entre 4 a 5 milhões de pessoas, absolutamente renitentes em
regressar ao interior do país. A pressão sobre as infraestruturas urbanas –
transportes, educação, saúde, saneamento e limpeza – é enorme, aumentando,
consequentemente, os custos dos serviços públicos e privados.
A disponibilidade de mão-de-obra especializada vai-se constituir num forte
estrangulamento ao crescimento e à diversificação da economia. Em determinadas
profissões, como as de engenheiro, o défice de oferta é já dramático e se a intensidade
do crescimento for realinhada pelos anos passados mais recentes – a reabilitação e
posterior entrada em funcionamento de todos os sistemas de caminhos-de-ferro no país
pode constituir factor de boom económico – então o recurso a mão-de-obra estrangeira
vai tornar-se uma necessidade imperiosa.
44
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A Administração Pública continua a enfermar de muitas debilidades e a
dificuldade em se controlar um processo de crescimento tão acentuado, como o que tem
sido registado, é evidente.
Uma breve análise sobre os efectivos da Função Pública e a sua variação ao
longo do tempo fornece subsídios interessantes que ajudam a compreender algumas das
razões para as actuais lacunas.
O gráfico seguinte expressa as taxas acumuladas de variação, entre 2004 e 2009
– o período de mais intenso crescimento económico – do PIB, do número de
funcionários civis e do quantitativo do pessoal técnico.
FONTE: Ministério do Emprego, Administração Pública e Segurança Social e MINPLAN.
As conclusões a retirar são (transcrição do Relatório Económico de 2008):
(a) Foi feito um esforço de melhoria do funcionamento da Administração
Pública angolana entre 2000 e 2003, traduzido num incremento do
pessoal técnico e numa diminuição do pessoal não técnico. Foi o
período da grande reforma da Administração Pública.
(b) No entanto, a qualidade da prestação de serviços – ao público e à
própria Administração Pública, na forma de estudos, definição de
políticas e programas e controlo da execução dos resultados – é baixa
e a produtividade é fraca.
(c) A partir de 2004, altura em que se inicia o processo de crescimento
económico muito intenso, a Administração Pública não acompanhou
os ritmos de variação do PIB: o crescimento acumulado dos efectivos
da Administração Pública foi de apenas 39,5% e dos técnicos de
45
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
80,9%, enquanto o PIB acumulava 128,0%. Não se acredita que o
diferencial tivesse sido coberto pelos ganhos de produtividade21.
(d) Constata-se, portanto, uma perda de capacidade de o Estado
compreender, enquadrar, orientar e gerir o processo de alterações
económicas estruturais.
O enorme défice de competitividade estrutural da economia angolana – comprase mais ao exterior do que se vende – só não é maior devido aos processos de
modernização dos sectores de enclave e do sistema bancário, puxados pelos
investimentos estrangeiros, normalmente mais portadores de futuro tecnológico e
organizacional.
A falta de competitividade está ligada a factores como o capital humano
nacional – a assistência técnica externa, ainda que necessária no imediato, é discutível
nas modalidades de que se reveste, assumindo, quase sempre a forma de assistência de
substituição, vai dificultar a valorização dos recursos humanos nacionais no longo
prazo, a não ser que se estabeleçam programas concretos de transferência de tecnologia
– a quantidade e qualidade das infraestruturas, o ambiente institucional (sistema
judicial, corrupção, burocracia) e os valores do empreendedorismo.
O efeito-aceleração do crescimento económico registado entre 2002 e 2008
gerou assincronias e perturbações preocupantes, expressas na distribuição funcional e
pessoal do rendimento nacional e na localização espacial das actividades económicas.
Estes desequilíbrios provocam atrasos e reduzem a capacidade competitiva, podendo ser
portadores de determinadas ameaças ao desenvolvimento.
A chamada de atenção essencial que se deixa sobre as desigualdades na
distribuição do rendimento é a de que não é, apenas, do ponto de vista ético, moral e
mesmo de legitimidade que o fosso entre ricos e pobres deve ser analisado. Mesmo dum
ponto de vista económico, a sustentabilidade do crescimento pode ser seriamente
danificada, se o modelo de acumulação não for mais inclusivo e extensivo possível.
Recorde-se que o Índice de Gini para o nosso país e reportado a 2005 é um dos mais
elevados do mundo (0,62), tornando Angola num dos países com maiores desigualdades
do planeta (ver mais adiante a análise da pobreza)
As assimetrias territoriais são, igualmente, assinaláveis, continuando o
investimento privado a preferir localizar-se no litoral, em especial em Luanda, a
21
Pode ser discutível basear a análise nos ritmos de variação destas variáveis. No entanto, a capacidade
de a Administração Pública acompanhar as solicitações de estudos, análises, produção e gestão de
informação, coordenação e influência do crescimento depende dos quadros técnicos existentes que lhe
confere competência e eficiência. Pelo menos, os ritmos de crescimento do PIB e do número de quadros
técnicos têm de ser próximos, de modo a que não se criem constrangimentos pela falta de capital humano.
46
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
despeito das significativas vantagens – fiscais, monetárias – outorgadas pela Lei do
Investimento Privado. As externalidades e as economias de conglomeração existentes
no litoral exercem um efeito maior de atracção do que os incentivos de deslocalização
oferecidos pelo Estado.
O quadro seguinte mostra o estado actual das assimetrias territoriais no nosso
país.
ASSIMETRIAS REGIONAIS EM ANGOLA EM 2006
VARIÁVEIS
Luanda
L. Norte
L. Sul
Malanje
Bié
Huambo
Nacional
PIB por habitante (usd)
3476,3
1324,9
1842,2
243,6
201,1
489,5
2422,7
Taxa de pobreza (%)
49,1
68,2
68,0
77,7
87,6
60,5
68,2
Taxa de desemprego (%)
20,9
18,9
18,7
19,7
22,4
37,5
27,4
Volume de negócios (peso %)
71,2
0,6
1,6
1,3
0,3
4,2
100,0
FONTE: CEIC, Núcleo da Macroeconomia, Estudo sobre a Regionalização da Actividade Económica em Angola.
O clima geral de negócios em Angola piorou de 2008 para 2009, de acordo com
a apreciação do Banco Mundial expressa no Doing Business 2009, tendo, no ranking
mundial, passado da 168ª posição, para 169ª (num conjunto de 183 países, Angola é o
169º pior para se fazerem negócios)22. Os mais directos competidores de Angola em
África e na SADC – as Maurícias, a África do Sul e o Botswana – melhoraram,
consideravelmente, a sua posição mundial, mercê duma aposta forte e decidida na
desburocratização, no combate à corrupção, na correcção as falhas de mercado e na
democratização das oportunidades. As Maurícias classificaram-se na 17ª posição (24ª
posição em 2008 e 29ª em 2007), a África do Sul passou da 35ª em 2007, para a 32ª
posição mundial em 2008 e 34ª posição em 2009 e o Botswana ganhou 7 posições face
a 2007, tendo ocupado a 45ª posição em 2009.
Mas o caso que esta publicação do Banco Mundial realça é o do Ruanda, que
implementou, em África, o maior e o mais eficaz número de reformas económicas de
mercado, tendo-se podido abrir um negócio, em 2009, em apenas 3 dias e com tãosomente dois procedimentos.
Existem certas instituições e responsáveis em Angola que não atribuem muita
importância a estes indicadores. Deve, porém, lembrar-se que na sua preparação estão o
Banco Mundial e a International Finance Corporation, entidades internacionalmente
renomadas e a quem os verdadeiros empresários privados recorrem para obter
informações isentas e objectivas sobre como e aonde fazerem investimentos.
22
Segundo o Doing Business 2010, a situação do país manteve-se inalterada em 2010, tendo preservado a
169ª posição.
47
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Os itens em que Angola se encontra mal classificado são:
•
Lançamento de um novo negócio, em que se encontra no 165º lugar a
nível mundial. Contribuem para esta má classificação o número de
procedimentos (8), o tempo de demora (68 dias) e o custo da
operação (cerca de 151% o rendimento médio por habitante).
•
Registo de propriedade (173º lugar), com o exagerado número de dias
para efectuar a operação (184) a contribuir para esse desempenho.
•
Funcionamento do mercado de trabalho, onde o país foi classificado
na 178ª posição, devido às dificuldades em se recrutar mão-de-obra
capaz e nos entraves para se despedir trabalhadores (viscosidade do
mercado de trabalho).
•
Pagamento de impostos (139º lugar), traduzido no elevado
coeficiente de fiscalidade impendente sobre os empresários (em
média, 53,2% dos lucros) e o tempo que se perde a pagar as
obrigações (31).
•
Comércio externo (171ª posição), de onde se destacam o número de
dias para se exportar (65) e para se importar (59), os trâmites
requeridos (11) e os custos dos contentores (2250 dólares na
exportação e 3240 dólares na importação).
O Mo Ibraim Governance Index de 200923, que passou a ser elaborado há quatro
anos, sob iniciativa do milionário britânico de origem sudanesa Mo Ibraim, coloca
Angola na 42ª posição em 2009 (44ª posição em 2008, portanto equivalente a uma
melhoria), entre os 49 países africanos (este índice é válido apenas para os países
africanos). As Maurícias aparecem em primeiro lugar, como o país mais transparente e
o melhor para se fazerem negócios. Cabo Verde ocupa a posição imediata, as Seychelles
a 3ª, o Botswana a 4ª, a África do Sul a quinta e a Namíbia a sexta posição. A Nigéria, a
Costa do Marfim, a Guiné Equatorial, o Chade e o Sudão aparecem em posições
idênticas à de Angola. Um dos factores considerados neste índice de governança é o
nível de corrupção, não tendo Angola registado melhorias dignas de destaque, quando
comparado com 2008.
Estes são alguns dos factores que têm tornado o crescimento económico menos
eficiente, inclusivo e extensivo e com custos elevados e que não têm sido socialmente
distribuídos da melhor maneira. Provavelmente, também, se devem encontrar nestes
23
The Africa Report, December 2009/January 2010.
48
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
constrangimentos conjunturais/estruturais algumas das razões para ainda não se ter
conseguido colocar a taxa de inflação ao nível de um dígito.
49
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
3.- SECTOR MONETÁRIO
Os efeitos da crise económica e financeira internacional começaram a dar sinais
de afectação à economia angolana no último trimestre de 2008, tendo-se intensificado
ao longo do ano de 2009, com o agravamento da queda dos preços do petróleo.
As autoridades, num primeiro momento, em presença da redução das receitas
petrolíferas, mantiveram a política do Kwanza forte, mantendo estável a taxa de câmbio
do dólar e o controlo da liquidez através das operações do mercado cambial e monetário
– leilões de divisas e títulos. Com efeito, perante a rápida deterioração das reservas
internacionais líquidas, pressão sobre a taxa de câmbio e aceleração da inflação, estas
viram-se forçadas a adoptar medidas mais enérgicas, para controlar a instabilidade
económica.
De entre o conjunto das medidas adoptadas pela autoridade monetária destacamse:
•
•
•
•
•
•
•
Subida do coeficiente das reservas obrigatórias de 15% para 20% em
Fevereiro de 2009 e para 30% em Abril do mesmo ano, bem como a
inclusão na base da sua constituição, os empréstimos e acordos recompra
de títulos públicos em moeda nacional;
Em Maio, foi permitido o cumprimento da exigibilidade em moeda
estrangeira (depósitos nos correspondentes do BNA) e com títulos,
reduzindo sobremaneira o ajuste na liquidez provocado pela subida da
taxa para 30%;
Aumento da taxa de redesconto de 20% para 30%;
Alteração dos procedimentos dos leilões de divisas, com a suspensão dos
leilões do tipo holandês, para um sistema de racionamento administrativo
de venda de cambais, significativamente abaixo da procura;
Maior rigor nos mecanismos de supervisão dos controlos cambiais
instituídos sobre operações de invisíveis correntes, mercadorias, capitais
e pagamentos internacionais;
Redução para 100 milhões de dólares o limite das operações de capitais
realizadas pelos bancos comerciais, sem prévia autorização do BNA;
Redefinição dos termos e condições da titularidade de contas em moeda
estrangeira, em moeda nacional para os residentes e não residentes
cambiais;
Aliado a este conjunto de medidas, foram aprovados em Abril e Maio, novos
instrumentos de dívida pública para a captação da poupança em moeda nacional para
financiar o défice público, nomeadamente, Obrigações do Tesouro indexadas à taxa de
câmbio e ao IPC pelo seu valor nominal. Estas emissões de títulos de maturidade entre 1
50
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
a 4 anos foram conjugadas com emissões de curto prazo, Títulos do Banco Central e
Bilhetes de Tesouro.
Não obstante as medidas tomadas, a confiança dos agentes económicos
continuou abalada e a perda de reservas levou a que as autoridades assinassem um stand
by agreement com o FMI, em Setembro de 2009, aliado a um empréstimo de 300 por
cento da quota do país de SDR, equivalente a SDR 858,9 milhões (cerca de 1,2 mil
milhões de dólares), visando aumentar a confiança dos mercados, aliviar a pressão sobre
a procura de cambiais e a depreciação da taxa de câmbio e restaurar a sustentabilidade
da política macroeconómica.
O conjunto de medidas adoptadas e a melhoria das condições económicas no
último trimestre de 2009, permitiu às autoridades retomarem os leilões cambiais do tipo
holandês, aumentar a oferta de divisas à economia e manter as RIL num nível
concertado, bem como permitir uma flutuação cambial cujo efeito sobre a inflação não
fosse muito acentuado.
A inflação acumulada medida pela variação do IPC na cidade de Luanda foi em
2009 de 13,99%, o que comparativamente ao ano anterior, representa um aumento de
0,81 pontos percentuais e um hiato de 1,49 pontos percentuais relativamente à meta
oficial do Governo de 12,5, revista em Junho de 2009. Apesar do resultado pouco
satisfatório, para o qual concorreram essencialmente as variações dos preços dos
transportes, hotéis, cafés e restaurantes e alimentação e bebidas não alcoólicas, a
margem do desvio da inflação manteve-se, dentro da margem de 2 pontos percentuais,
adoptada em vários países.
Para além dos factores estruturais e da insuficiente desaceleração da expansão
monetária, o resultado da inflação é também explicado pela depreciação cambial.
A taxa de câmbio de referência foi sujeita a três ajustamentos significativos,
tendo-se depreciado em 18,93% em 2009. A escassez de cambiais na economia, fez-se
sentir também no hiato entre a taxa de câmbio24 oficial e paralela, que se situou em
8,3% em Dezembro de 2009, após ter atingido 27,45% em Setembro do mesmo ano.
A política do kwanza forte mantida pelas autoridades no primeiro trimestre de
2009, aliada aos factores conjunturais induzidos pela crise económica e financeira
mundial, levou à queda das reservas internacionais líquidas (RIL) em 4,2 mil milhões de
dólares no referido período. Em 12 meses, as RIL caíram 4,8 mil milhões de dólares,
reduzindo o seu stock para 12,6 mil milhões de dólares em Dezembro de 2009.
O ritmo do crescimento dos meios de pagamento desacelerou em 2009, tendo
registado uma taxa de variação de 21,5%, contra 104,6% em 2008. A desaceleração do
24
Média de compra e venda.
51
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
M3 ocorreu fundamentalmente ao nível dos outros instrumentos financeiros, cuja
contracção de 64,1% é explicada pela falta de confiança na moeda nacional, aliada à
baixa rentabilidade das taxas dos títulos.
O M1 e M2 cresceram a ritmos mais acentuados, de 32,4% e 62,5%,
respectivamente. Os depósitos em moeda nacional apresentaram um crescimento menos
acentuado que em moeda estrangeira, levando a que a composição dos meios de
pagamento (M3) em moeda nacional e estrangeira atingissem uma proporção idêntica
de 50%, comparativamente a 65% e 35% respectivamente, em 2008. Tal transparece um
retrocesso em relação ao processo de desdolarização que se havia conquistado e traduz a
falta de confiança na moeda nacional, com resguardo no dólar, como meio de reserva de
valor da poupança nacional.
A base monetária que se manteve como a variável operacional da política
monetária registou uma aceleração do seu crescimento, 75,5% em Dezembro de 2009,
contra 62% em 2008, sendo a sua expansão explicada pelo aumento do crédito líquido
ao Governo, sob forma de emissão de títulos de dívida pública e desmobilização dos
depósitos.
O crédito líquido ao Governo concedido pelo sistema financeiro foi de Kz 395,6
mil milhões em Dezembro de 2009, contra uma posição superavitária de Kz 263 mil
milhões em Dezembro de 2008. A deterioração das receitas fiscais e as dificuldades de
colocação de papéis do Tesouro esteve na base desta situação.
Com o abrandamento da actividade económica e as fortes medidas restritivas de
política monetária adoptadas, o ritmo de crescimento do crédito do sistema bancário à
economia sofreu uma significativa redução, tendo passado de 169% em 2008 para
55,4% em 2009. Não obstante o aumento do rigor relativamente às transacções em
moeda estrangeira, o crédito nesta moeda registou uma taxa de crescimento mais
acentuada, 71,4%, comparativamente ao crédito em moeda nacional, 59,2%, em linha
com a variação dos depósitos em ME. As taxas de juros dos créditos bancários
mostraram uma tendência crescente, tendo-se elevado em 8,7 pontos percentuais para os
créditos em moeda nacional de 181 dias a 1 ano e 1,95 pontos percentuais para as
operações de moeda estrangeira na mesma maturidade.
Não obstante, as dificuldades enfrentadas pelas autoridades na condução da
política monetária e na manutenção da estabilidade macroeconómica, face à repercussão
da crise económica e financeira internacional, o desempenho dos agregados e
indicadores monetários foram relativamente positivos e reflectem que as medidas
introduzidas, apesar de pouco ortodoxas, permitiram atenuar uma deterioração mais
acentuada da situação macroeconómica. Sem dúvida que este desempenho foi
coadjuvado pela execução fiscal, com um saldo primário superavitário corrente de 4%
do PIB e uma acumulação de atrasados considerável para com alguns operadores
52
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
económicos, com implicações no nível de crédito em mora junto de alguns bancos
comerciais.
3.2. Política monetária e cambial
Em 2009, a política monetária manteve como meta operacional o controlo da
base monetária, tendo como objectivo final a estabilidade do nível geral de preços ao
consumidor, através da âncora cambial.
A redução do preço do petróleo bruto no mercado internacional e as restrições
impostas no volume das exportações petrolíferas pela OPEC aos seus membros,
implicaram a redução do volume das receitas externas e fiscais do Tesouro, com efeitos
na disponibilidade de divisas para a economia angolana, dando lugar a uma forte
pressão sobre o mercado cambial e o mercado de bens, sendo que este último passou a
registar menor oferta a preços mais elevados reflectindo a depreciação cambial.
Assim, em presença dos efeitos da crise económica e financeira mundial sobre a
economia Angolana, as autoridades procederam a alterações significativas nas políticas
adoptadas, recorrendo à intensificação dos métodos de controlo directo e
administrativos, no que se refere à política monetária e cambial, respectivamente.
Paralelamente, as instituições financeiras foram submetidas a um maior rigor na
execução das operações cambiais e a uma supervisão bancária mais actuante.
No que se refere à política cambial, a manutenção da taxa de câmbio como
âncora do controlo da liquidez, mediante a venda de divisas aos bancos através de
leilões, tornou-se insustentável face à intensificação da procura por cambiais quer para a
importação de mercadorias, como para a protecção dos activos financeiros e fins
especulativos, levando a uma acelerada perda das reservas internacionais líquidas e ao
agravamento das expectativas negativas do mercado em relação ao rumo da economia e
das políticas do Governo.
Perante o cenário de acelerada redução da entrada de cambiais, tornou-se
imperioso o estabelecimento de um tecto para as reservas. Deste modo, o BNA,
enquanto maior provedor de divisas à economia, viu-se obrigado a restringir a sua
oferta, impondo limites diários à venda de divisas aos bancos e a abandonar o método
de leilão holandês até então adoptado, além de admitir a depreciação da taxa de câmbio.
Foi imposto maior rigor ao cumprimento das normas sobre as operações cambiais de
invisíveis correntes e mercadorias. Relativamente às operações de capitais, foi reduzido
o limite para 100 milhões de dólares da isenção do licenciamento prévio pelo BNA.
Portanto, face à pressão da procura e à escassez de divisas, o Banco Central
afrouxou a âncora cambial, sem contudo abandoná-la por completo, procurando mantê-
53
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
la por meio de medidas administrativas e de flutuação suja da taxa de câmbio, até à
melhoria das condições financeiras, que vieram a ocorrer a partir de Outubro de 2009.
No mercado monetário, outro pilar da esterilização dos excedentes de liquidez,
via colocação de Títulos do Banco Central e do Tesouro Nacional de curto prazo, as
intervenções tornaram-se pouco eficazes e acabaram por ser expansionistas, pela
inibição da procura, face às expectativas de depreciação e pressões inflacionárias na
economia. Os agentes económicos ficaram relutantes em renovar as suas aplicações em
títulos, as dificuldades de liquidez do Tesouro agravaram-se verificando-se um
deslocamento da liquidez liberta no mercado monetário para o mercado cambial
paralelo, em virtude das restrições de oferta observada no mercado formal.
Para reverter essa situação, ao nível dos instrumentos de política monetária, foi
elevado o coeficiente das reservas obrigatórias para 20% em Abril, passando para 30%
em Maio, e elevada a taxa de redesconto para 25%, e posteriormente para 30%.
Posteriormente, devido ao aperto que essas medidas provocaram à gestão dos
bancos, e a crescente necessidade de financiamento do Tesouro e da economia, foi
permitido o cumprimento do coeficiente das reservas obrigatórias em títulos em moeda
nacional até 1/3 da exigibilidade e introduzidos novos instrumentos de dívida pública –
Obrigações do Tesouro, indexadas à taxa de câmbio e ao IPC pelo seu valor nominal.
Com o referido, a procura por títulos aumentou mas não o suficiente para
reverter a situação, levando a que a política monetária, apesar das medidas de carácter
restritivo, registasse um resultado relativamente expansionista.
Portanto, os esforços das autoridades no controlo da inflação revelaram-se
insuficientes para travar a tendência altista do nível de preços. Deste modo, a meta
governamental da inflação definida inicialmente em 10% e revista posteriormente para
12,5%, foi ultrapassada em 1,49% pontos percentuais. A inflação, medida pela variação
do Índice de Preços do Consumidor da província de Luanda, situou-se em 13,99% em
2009, representando uma aceleração em 0,81 pontos percentuais comparativamente à
sua homóloga de 2008, de 13,18%, confirmando as dificuldades das autoridades no seu
controlo, o que já se vem fazendo sentir desde o ano de 2008.
Os factores estruturais que têm impedido o controlo da inflação mantiveram-se
quase intactos, alguns agudizaram-se, como o congestionamento no porto de Luanda.
Estes factores, aliados aos de carácter conjuntural, como a desvalorização da taxa de
câmbio efectiva e insuficiente desaceleração do ritmo de crescimento dos meios de
pagamento, explicam o desvio da inflação em relação à meta. As classes “alimentação e
bebidas não alcoólicas”, “vestuário e calçado” e “transportes” representam as variações
mais significativas do IPC.
54
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
2.5
Inflação - M ensal e Homóloga)
CEIC/UCAN
14.5
14
2
13.5
13
1.5
12.5
1
0.5
12
11.5
Inflac. Mensal escala a Esquerda
Inflac. Homologa escala a direita
10.5
D
ec
-0
Fe 6
b0
A 7
pr
-0
7
Ju
n0
A 7
ug
-0
O 7
ct
-0
D 7
ec
-0
Fe 7
b0
A 8
pr
-0
8
Ju
n08
A
ug
-0
O 8
ct
-0
D 8
ec
-0
Fe 8
b0
A 9
pr
-0
9
Ju
n09
A
ug
-0
O 9
ct
-0
D 9
ec
-0
9
0
11
O comportamento mensal da inflação revelou variações sazonais, tendo a
exemplo dos anos anteriores, os meses de Julho, Novembro e Dezembro se revelado
como os mais críticos, devido à intensificação das pressões no final do ano, ligadas ao
aumento da liquidez e da procura de bens, aliados à depreciação cambial.
A política monetária e cambial, conduzida pelas autoridades nos últimos anos,
foi sustentável num momento em que a economia era agraciada com a abundância de
cambial dada a favorável situação dos preços do petróleo. Com a referida política, a taxa
de câmbio manteve-se apreciada e constituiu a âncora da política monetária para
garantir a estabilidade dos preços, e assegurando igualmente uma acumulação
consistente das reservas internacionais.
Com a mudança do quadro, as autoridades recorreram a medidas de excepção,
nomeadamente de controlo directo e administrativo para reverter a instabilidade gerada,
essencialmente no mercado cambial, e com isto evitar o agravamento da perda de
credibilidade da moeda nacional e a erosão das reservas internacionais.
Com a melhoria das condições financeiras no último trimestre, alguns dos
controlos foram relaxados e permitida uma desvalorização da moeda nacional e um
aumento dos limites da oferta de cambiais.
3.3.-Mercado cambial e taxa de câmbio
A pressão imposta sobre a procura de divisas forçou as autoridades a permitirem
depreciações da taxa de câmbio de referência do Kwanza em relação ao dólar, no
mercado formal de divisas em 2009, flexibilizando a sua defesa.
A oferta discricionária e limitada de divisas nos leilões, levaram à desaceleração
do volume de venda de divisas pelo BNA aos bancos em 2009, no total de 10,6 mil
55
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
milhões dólares, o que significou um total 1,4 mil milhões de dólares superior ao ano de
2008. Comparativamente ao ano transacto, onde a variação anual de venda de cambiais
foi de 2,48 mil milhões, ocorreu uma desaceleração de 1 mil milhões de dólares.
No primeiro quadrimestre do ano foram vendidos aos bancos 4,4 mil milhões de
dólares, tendo este volume se reduzido para 2,6 mil milhões no período de Maio a
Setembro, em presença das restrições da oferta impostas e do abandono dos leilões do
tipo holandês. No último trimestre com a retoma dos leilões e aumento da oferta, o
volume de vendas voltou a elevar-se para 3,6 mil milhões.
Venda Mensal de Divisas pelo BNA e Taxa de Câmbio
1.800.000.000,00
1.600.000.000,00
95
Venda de divisas
90
1.200.000.000,00
85
1.000.000.000,00
80
800.000.000,00
600.000.000,00
75
taxa câmbio Kz/USD
Venda de divisas em USD
Tx Câmbio ref
1.400.000.000,00
400.000.000,00
70
200.000.000,00
0,00
65
Jan Fev Mar Abr Mai Jun
Jul Ago Set
Out Nov Dez
A redução da venda de divisas aos bancos, para manter o piso mínimo de
reservas estabelecido, e a fixação da taxa de câmbio no mesmo período para conter a
inflação impediram a depreciação mais acentuada do kwanza face ao dólar.
Contudo, face à pressão da procura, as autoridades permitiram três variações
significativas da taxa de câmbio do dólar no decorrer do ano, nomeadamente, em Abril
3,07%, Outubro 8,6% e Dezembro, 6,48%, resultando numa depreciação nominal
acumulada no ano de 18,93% em 2009, quebrando o ciclo de apreciação cambial,
verificado desde 2005 e contrastando com a estabilidade verificada em 2008.
Em termos reais, a taxa de câmbio de referência depreciou-se 6,64% quebrando
o ciclo de apreciação registado desde 2000. Esta depreciação está associada à
depreciação nominal da taxa de câmbio superior à inflação no período.
A análise da relação entre o volume de venda de cambiais pelo BNA no mercado
interbancário e a taxa de câmbio de referência revela uma relação inversa, tendo o
56
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
abrandamento do volume de vendas induzido a uma depreciação nominal da taxa de
câmbio.
12.000,00
250,0%
10.000,00
200,0%
8.000,00
150,0%
6.000,00
100,0%
4.000,00
50,0%
2.000,00
0,0%
0,00
Variação cambial do Kz/USD.
Vendas de Divisas em milhões de USD
Angola: Intervenção líquida do BNA no MCP e depreciação da taxa de câmbio de referência
-50,0%
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
A compra de cambiais do Banco Central aos bancos no mercado interbancário
foi como habitualmente marginal, num total de 57 milhões de dólares, tendo esta venda
decorrido do cumprimento do normativo da exposição cambial dos bancos.
Comparativamente ao ano transacto, cujo volume de compras ascendeu a 369 milhões
de dólares, verificou-se uma contracção, pelo facto de se ter permitido o cumprimento
de parte das reservas obrigatórias em títulos e depósitos de moeda externa junto aos
correspondentes do BNA.
57
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Angola: Venda de Dívisas pelo Banco Central aos Bancos
(Leilões de divisas)
6000,00
(em milhões de USD)
5000,00
Venda de divisas
Compra de divisas
4000,00
3000,00
2000,00
1000,00
0,00
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Devido à redução da oferta de divisas no mercado formal e à imposição de
controlos, o mercado paralelo de divisas há muito adormecido floresceu, tendo a taxa de
câmbio se depreciado mais acentuadamente em termos nominais, 27,92%, e aumentado
o hiato entre os dois mercados que se situou em 8,3% em Dezembro de 2009, contra
0,24% em 2008, após ter atingido 27,45% em Setembro de 2009.
120
Angola:Taxa de Câmbio US D/Kwanza
100
KZ/USD
80
60
40
20
0
Dez08
Jan09
Fev09
Mar- Abr09
09
Mai09
Jun- Jul-09 Ago09
09
Oficial
Paralelo
3.4.-Mercado monetário e taxas de juro
58
Set09
Out- Nov- Dez09
09
09
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O volume de transacções do mercado monetário conheceu uma contracção em
2009, devido à retracção na procura por títulos, motivada pela redução da sua
rentabilidade e expectativas negativas em torno da mesma.
Devido às dificuldades conjunturais que a economia enfrentou, e que se
revelaram na aceleração da inflação, depreciação cambial e desaceleração do
crescimento económico, os agentes económicos preferiram redireccionar as suas
poupanças para activos mais seguros, denominados em moeda estrangeira.
A procura por títulos, na ordem de 1.316 milhões de unidades, reduziu em 23%,
comparativamente ao ano anterior, com um nível de colocação de 91% da oferta, e um
valor financeiro de cerca de 929 mil milhões de kwanzas. Comparativamente ao ano
transacto, este montante representou uma redução de 39,5%.
A procura de títulos de curto prazo (BT e TBC), no total de 762 milhões de
unidades, centrou-se na maturidade de 91 e 182 dias, instrumentos de maior
rentabilidade, menor risco e uma liquidez de relativo curto prazo.
As dificuldades de colocação de títulos tiveram implicações fiscais e monetárias,
consubstanciadas nas dificuldades de financiamento do Tesouro e de controlo da
liquidez. Na tentativa de se reverter esta situação, foram introduzidos no mercado, a par
dos Títulos do Banco Central (TBC, Bilhetes do Tesouro (BT), novos instrumentos de
dívida pública, nomeadamente, Obrigações do Tesouro indexadas à taxa de câmbio
(OT-JTC) e ao IPC (OT-IPC). A partir de Maio, foi permitido o cumprimento de parte
das reservas obrigatórias em títulos.
A procura por títulos de maior maturidade OT-JTC e OT-IPC centrou-se na
maturidade mais longa 4 anos, em linha com a oferta ao mercado, com um nível de
colocação de 100%.
Procura por Títulos por Maturidade 2009
28 dias
2.8%
4 anos
16.8%
63 dias
16.0%
3 anos
12.6%
2 anos
12.7%
364 dias
0.9% 1 ano
0.0%
182 dias
17.1%
59
91 dias
21.1%
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Os títulos de curto prazo, emitidos no mercado primário, ascenderam ao valor
nominal de 603,7 mil milhões de Kwanzas, sendo 213, 6 mil milhões de TBC e 390,1
mil milhões de BT.
A colocação de títulos de mais longo prazo, isto é, obrigações indexadas à taxa
de câmbio e ao IPC, ascendeu ao valor nominal de 325,5 mil milhões de Kwanzas,
equivalente a 3.642 milhões de dólares, nas maturidades de 1 a 4 anos, respectivamente.
A par daquelas emissões, em 2009, o Tesouro, com vista à regularização de
dívidas com fornecedores do Estado, deu continuidade à emissão directa mensal de
Obrigações do Tesouro em Moeda Nacional (OT-MN) indexadas à variação cambial,
nas maturidades de 1 a 6 anos, remuneradas à taxa fixa de 4% a.a. Em 2009, este
volume de emissões atingiu um total de 52,8 mil milhões de Kwanzas, com uma
concentração de cerca de 70% na maturidade de 4 anos. Não ocorreram emissões de
Obrigações do Tesouro em moeda estrangeira.
O volume de resgates dos títulos foi de 1.038 mil milhões de Kwanzas, dos quais
172 mil milhões de TBC, 837 mil milhões de TBC, 29 mil milhões de reembolso de
Obrigações do Tesouro, induzindo a uma expansão monetária de 108,5 mil milhões de
Kwanzas dos meios de pagamento, ao qual se acresce o reembolso de 30 milhões de
dólares de OT-ME. O maior volume de resgates ocorreu entre Março e Abril,
concentrando 46% do total de resgates, tendo atingido o nível mais elevado em Março
de 180 mil milhões de Kwanzas.
Resgates de 2009
( T B C , B T e OT e m Kz mil m ilhõ es )
200.000,00
180.000,00
160.000,00
140.000,00
120.000,00
100.000,00
80.000,00
60.000,00
40.000,00
20.000,00
0,00
1
JAN
FEV
MA
AB
MA
JUN
JUL
AG
SET
OU
NO
DEZ
Em Dezembro de 2009, o stock de títulos no mercado era de cerca de 1,122 mil
milhões de Kwanzas, representando um aumento de 7% em relação a 2008. Deste stock,
60
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
13% constituem responsabilidades directas do BNA com TBC e o remanescente,
responsabilidades do Estado, das quais, 14% de BT, 47% de OT-MN e 26% OT-ME.
Stock de títulos em Mercado Dez.2009
TBC
13%
OT-ME
26%
BT
14%
OT-MN
47%
No último trimestre, devido à instabilidade monetária que se registava, gerou-se
uma necessidade acrescida de enxugamento da liquidez, tendo em vista a contenção da
inflação e da pressão sobre o mercado cambial. Por outro lado, a dificuldade de
colocação de títulos tornou a necessidade de financiamento do Tesouro mais acentuada.
Esta conjugação de factores induziu a uma flexibilização no sentido da subida das taxas
de juros dos títulos de curto prazo a fim de tornar os títulos mais atractivos.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
TAXAS NOMINAIS DE TBC e BT- 2009
(MERCADO PRIMÁRIO)
25,00%
28 dias
63 dias
BT 91 dias
BT 182 dias
BT 364 dias
20,00%
15,00%
10,00%
5,00%
0,00%
Jan-09 Feb-09
Mar-09 Abr-09
Mai-09
Jun-09
Jul-09
Ago-09 Set-09
Out-09 Nov-09 Dez-09
O atrás referido explica a elevação anual das taxas de juro dos TBC de 28 e 63
dias em 6,13 e 7,29 pontos percentuais, respectivamente entre Janeiro e Dezembro de
2009. A taxa de juro dos títulos de 91 dias, tida como de referência para o mercado e
para determinação da taxa de redesconto, teve uma elevação mais significativa de
8,48% situando-se em 23,28% em Dezembro de 2009.
A elevação da taxa de juros de 182 dias foi mais moderada, 5,93%, e a de 364
dias desacelerou no período de Janeiro a Agosto de 2009, tendo a procura destes títulos
sido transferida para as OT-MN emitidas em mercado.
A tendência crescente das taxas de juro nominais elevou, em termos reais, o
rendimento mensal das aplicações em TBC e TB, tornando-as reais em alguns períodos
do ano. Em períodos do ano que a inflação apresentou maior aceleração, a exemplo do
final do ano, este rendimento tornou-se negativo, como observado no gráfico que se
segue.
62
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Taxas de Juros Reais vs inflação
28 dias
63 dias
91 dias
182 dias
364 dias
0,80%
0,60%
0,40%
0,20%
09
ez
D
ov
-
09
9
N
O
ut
-0
9
Se
t-0
9
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9
Ag
l-0
Ju
Ju
n0
9
9
ai
-0
M
r-0
9
ar
M
Ab
-0
9
9
-0
9
n0
Fe
v
-0,40%
Ja
D
ez
-
-0,20%
08
0,00%
-0,60%
-0,80%
-1,00%
A rentabilidade real dos títulos relativamente à variação cambial flutuou
positivamente ao longo do ano, exceptuando o último trimestre, devido à depreciação
acentuada no período.
Taxas de Juros reais vs Depreciação Cambial
28 dias
63 dias
91 dias
182 dias
364 dias
2,00%
1,00%
0,00%
-1,00%
Dez-08 Jan-09 Fev-09 Mar-09 Abr-09 Mai-09 Jun-09 Jul-09 Ago-09 Set-09 Out-09 Nov-09 Dez-09
-2,00%
-3,00%
-4,00%
-5,00%
-6,00%
-7,00%
-8,00%
As taxas de juro das remuneração das OT-MN – JTC, indexadas à taxa de
câmbio, conheceram uma tendência decrescente de Junho a Dezembro, enquanto que as
OT-MN IPC, indexadas ao IPC, se mantiveram estáveis ao longo do período como
reflectido nos gráficos abaixo.
63
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
TAXAS DE OT-TXC- 2009
(Mercado Primário)
7,50%
1 Ano
2 Anos
7,16%
7,00%
6,50%
6,73%
6,32%
6,16%
5,00%
4,50%
4 Anos
6,97%
6,63%
6,60%
6,45%
6,46%
5,45%
5,46%
4,95%
4,96%
4,45%
4,46%
6,02%
6,00%
5,50%
3 Anos
7,02%
5,97%
5,73%
5,66%
5,63%
5,32%
5,13%
5,52%
5,16%
5,60%
5,47%
5,23%
5,02%
4,85%
4,82%
4,63%
5,10%
4,69%
4,60%
4,32%
4,00%
Abr-09
Mai-09
Jun-09
1 Ano
Jul-09
Ago-09
Set-09
TAXAS DE OT-IPC- 2009
(Mercado
2 Anos Primário)
Out-09
Nov-09
3 Anos
Dez-09
4 Anos
5,50%
5,00%
5,00%
5,00%
5,00%
4,00%
4,00%
4,00%
3,00%
3,00%
5,00%
5,00%
5,00%
5,00%
4,00%
4,00%
4,00%
3,00%
3,00%
3,00%
3,00%
2,00%
2,00%
2,00%
2,00%
4,50%
4,00%
4,00%
3,50%
3,00%
3,00%
2,50%
2,00%
2,00%
1,50%
1,00%
Jun-09
Jul-09
Ago-09
Set-09
Out-09
Nov-09
Dez-09
Comparativamente ao ano transacto, o mercado monetário secundário em 2009
mostrou-se mais dinâmico, com operações de redesconto (overnignt) na ordem de 5.657
mil milhões de Kwanzas, representando um aumento de aproximadamente 200%.
O mercado interbancário também deu sinais de grande vitalidade em 2009, com
operações de cedência de liquidez entre os bancos num volume de 5.257 mil milhões de
Kwanzas, representando um aumento de 134% comparativamente ao ano transacto.
Perante os aumentos verificados nas taxas de juro do redesconto que se situaram
em 30%, com prazos de 1 a 4 dias, e nas taxas de juros interbancárias, que variaram
entre 9,79% a 21,94% nas maturidades de 1 a 30 dias, sinalizando um significativo
agravamento de custos, a expansão do recurso dos bancos à assistência de liquidez junto
do Banco Central, e de cedência de liquidez entre os mesmos, é explicada pelas
consequências do aumento substancial da exigibilidade sobre a liquidez dos mesmos.
As vendas directas ao público no montante de 81,7 mil milhões de Kwanzas
registaram um decréscimo de 109 mil milhões, comparativamente ao ano transacto.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
3.5.-Taxas de juros do sistema bancário
Reflectindo as restrições impostas ao nível da política monetária, em 2009, as
taxas de juros activas ponderadas do sistema bancário revelaram uma forte aceleração
para os créditos em moeda estrangeira e nacional, sendo mais acentuada nestes últimos,
em linha com a subida das taxas dos títulos e do redesconto.
Com efeito, a taxa dos créditos nominais até 180 dias subiu 3,65 pontos
percentuais, situando-se em 15,02% a.a. em Dezembro de 2009. Para os créditos de
maturidade entre 180 dias a 1 ano, o crescimento foi o mais acentuado, de 8,69 pontos
percentuais, situando-se em 19,39% a.a. no mesmo período, e para os de maturidade
superior a 1 ano situou-se em 19,02% a.a., com um aumento de 8,54%. A trajectória das
taxas de juro dos créditos em moeda estrangeira foi idêntica, contudo com taxas de
crescimento mais moderadas, de cerca de 2,23% a.a., 1,83% a.a. e 0,73% a.a. para as
mesmas maturidades e período. Estas situaram-se em 11,32% a.a., 9,9% a.a. e 8,57%
a.a.
Taxas de juro dos Depósitos e Créditos em Moeda Nacional
120,00%
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
20,00%
0,00%
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Cred.até 180 dias
Cred.de 181 a 1 ano
Cred mais de 1 ano
Dep.ordem
Dep. Prazo até 90 dias
Dep. Prazo de 91 a 180 dias
As taxas de juro nominais dos depósitos em moeda nacional decresceram para os
depósitos à ordem em 0,39 pontos percentuais, mantendo-se inalterada para os depósitos
entre 91 a 180 dias em 12,5% a.a., e registando um crescimento de 3,43% a.a. para os
depósitos até 91 dias, em linha com o comportamento da taxa dos títulos, situando-se
em 12,06% a.a..
O comportamento dos depósitos em moeda estrangeira foi diferente para a
maturidade até 90 dias, ao decrescer 4,58 pontos percentuais. Nas demais maturidades a
elevação das taxas foi pouco significativa.
65
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
12,00%
CEIC/UCAN
Taxas de juro dos Depósitos e Créditos em USD
10,00%
8,00%
6,00%
4,00%
2,00%
0,00%
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Cred.Até 180 dias ME
Cred. De 181 a 1 ano ME
Cred. Mais de 1 ano ME
Dep.ordem
Dep. Prazo até 90 dias
Dep. Prazo de 91 a 180 dias
Dep. Prazo de 181 a 1 ano
Em termos reais o comportamento das taxas dos créditos e depósitos em moeda
nacional foi divergente, mantendo-se positivas para os créditos e negativas para os
depósitos. Para as operações em moeda estrangeira para ambas as taxas, ou seja,
créditos e depósitos, mantiveram-se positivas com excepção dos depósitos à ordem.
3.6.-Agregados monetários
As contas agregadas do sistema financeiro angolano assinalaram um moderado
crescimento em 2009, explicado pela redução dos activos externos líquidos, devido à
redução da entrada de cambiais na economia e à desaceleração da actividade
económica, aliada a uma forte procura por cambiais para importação de mercadorias e
protecção contra a corrosão da moeda nacional devido à aceleração da inflação.
Os activos externos líquidos do sistema financeiro como um todo contraíram-se
em 23,8%, ao reduzirem-se para 1.208 mil milhões de Kwanzas equivalente a 12.593
mil milhões em Dezembro de 2009, comparativamente a 19.705 milhões de dólares??,
em Dezembro de 2008.
Contribuíram para a contracção dos activos externos a perda de reservas do
Banco Central, explicada pela redução do volume e preço de exportação de petróleo, e a
redução dos activos externos líquidos dos bancos, devido à menor oferta de cambiais
por parte do Banco Central. As reservas caíram em 4,878 milhões de dólares, tendo o
seu stock passado de 17,499 milhões de dólares em Dezembro de 2008, para 12.621
milhões de dólares em Dezembro de 2009.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Evolução das RIL e Activos Externos dos Bancos
Dez-09
Ago-09
Abr-09
Dez-08
Ago-08
Abr-08
Dez-07
Ago-07
Abr-07
Dez-06
24
12.621
688
1.599
1.896
2.223
2.416
2.389
3.307
2.420
2.657
2.587
2.839
2.934
12.809
12.149
13.224
17.499
19.250
15.354
12.606
11.191
10.146
9.119
8.240
8.172
(em USD milhões)
Activos dos bancos
Reservas Int.liq. BNA
Perante a redução da venda de cambiais pelo Banco Central, os bancos foram
forçados a desmobilizar os seus activos externos para atender à procura estrutural
existente, tendo os mesmos se contraído em 98,7% em 2009, reduzindo o respectivo
stock para 2.143 mil milhões de Kwanzas em Dezembro, equivalente a 24 milhões de
dólares, representando uma perda de 2.199 milhões de dólares e o nível mais baixo
desde 2000.
O crédito interno líquido conheceu em 2009 uma forte expansão, elevando-se
em 190,8%, representando um aumento de 1.134 mil milhões de Kwanzas em termos
absolutos. Este crescimento foi induzido quer pela expansão do crédito líquido ao
Governo em 250%, como à economia em 55,4%.
O crédito líquido ao Governo expandiu-se em 656 mil milhões de Kwanzas,
devido à diminuição em 46,8% dos seus depósitos, evidenciando a redução na
arrecadação de receitas e expansão do crédito do sistema bancário ao Estado em 17,5%,
nomeadamente o crédito titulado que aumentou em 107 mil milhões de Kwanzas.
O crédito à economia, embora tenha desacelerado o seu crescimento, evoluiu
positivamente, apresentando um crescimento nominal de 55,4% e um aumento absoluto
de 475 mil milhões de Kwanzas, equivalente a 3.496 milhões de dólares.
Comparativamente ao ano anterior, em que esta variável cresceu 69%, verificou-se um
abrandamento de cerca de 1.133 milhões de dólares, justificado pelas restrições da
política monetária e consequente desaceleração do crescimento económico.
A maior expansão do crédito ocorreu no último trimestre (22%) com a retoma da
actividade económica, motivada em parte pelo andamento dos projectos já em curso,
dado o momento de reconstrução e de empreendedorismo que o país tem vivido nos
últimos anos. Parte do crédito concedido foi induzido pelas instituições financeiras,
67
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
destinado à renovação de créditos em mora, em consequência da depreciação cambial,
aliada à acumulação de atrasados do Governo com os fornecedores e prestadores de
serviços ao Estado.
Esta situação acabou por se repercutir na saúde do sistema financeiro devido à
forte dependência do sector privado ao Governo, tendo a taxa do crédito mal parado
aumentado no decurso do ano de 2009, mas no final do ano, dada a melhoria da situação
económica, a mesma reduziu-se para 2,58%, representando uma ligeira aceleração,
comparativamente ao ano de 2008, de 2,47%.
Angola: Crédito à Economia
1.400.000,00
crédito ME
(em milhões de Kz)
1.200.000,00
crédito MN
1.000.000,00
800.000,00
600.000,00
400.000,00
200.000,00
0,00
2004
2005
2006
2007
2008
2009
A expansão do crédito ao sector privado, que inclui o crédito a particulares, foi
de 60% representando 95% da carteira de crédito em Dezembro de 2009, enquanto que
o crédito às empresas públicas aumentou apenas 4%, representando 5% da carteira.
Não obstante as restrições de concessão de crédito em moeda estrangeira aos
residentes cambiais sem rendimentos directos em moeda estrangeira, este segmento de
crédito manteve em 2009 uma taxa de crescimento de 59% e uma participação na
carteira de 64%.
O crédito em moeda nacional teve um crescimento menos acentuado, de 49%, e
uma representação na carteira de crédito de 36%. Tal deve-se às taxas mais baixas do
crédito em moeda estrangeiras, não obstante a depreciação cambial.
A desaceleração do ritmo do crescimento do crédito fez reduzir a taxa de
transformação do crédito em depósitos de 66% em 2007 e 2008 para 62% em 2009,
como observado no quadro abaixo.
68
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Angola: Evolução dos créditos e depósitos
2.500.000
(em milhões de Kz)
crédito à economia
2.000.000
Depósitos
1.500.000
1.000.000
500.000
D
ez
-0
7
Fe
v08
A
br
-0
8
Ju
n08
A
go
-0
8
O
ut
-0
8
D
ez
-0
8
Fe
v09
Ab
r -0
9
Ju
n09
Ag
o09
O
ut
-0
9
De
z09
0
A contracção das RIL e a desaceleração do ritmo de crescimento do crédito à
economia contribuíram para a desaceleração dos meios de pagamento (M3) que
registaram um crescimento nominal de 21,5%, cerca de 450 mil milhões de Kwanzas,
situando-se em 2.548 mil milhões de Kwanzas em Dezembro de 2009. Esta variação,
não obstante significar um abrandamento relativamente à expansão do ano anterior de
105%, foi insuficiente para travar a tendência da subida dos preços.
A expansão dos meios de pagamento ocorreu fundamentalmente no último
trimestre (15,3%) com a melhoria das condições económicas e a flexibilização de
algumas restrições e controlos impostos pela política monetária e cambial.
O crescimento do M2 foi mais acentuado, 62,5%, induzido pela elevação dos
depósitos a prazo em moeda nacional e estrangeira que registaram significativos
crescimentos. O M1 cresceu 32,4% com a componente em moeda estrangeira a
pressionar a sua expansão.
Como reflectido no gráfico, a expansão dos meios de pagamento ocorreu em
maior magnitude ao nível dos depósitos em moeda estrangeira, à ordem e a prazo, que
cresceram, em termos nominais, 43% em 194%, respectivamente.
Os depósitos a prazo em moeda nacional registaram igualmente um forte
crescimento de 514%, contudo este não foi suficiente para travar o aumento da
dolarização dos depósitos. De uma proporção de 57% do total dos depósitos em
Dezembro de 2008, os depósitos em moeda estrangeira elevaram-se para 59%, em
Dezembro de 2009, e os depósitos em moeda nacional reduziram para 41% dos
depósitos.
69
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Angola: Estrutura dos depósitos
1.400.000
Depósitos MN
1.200.000
Depósitos ME
(em milhões de Kz)
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
0
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Com a elevação da percentagem dos depósitos em moeda estrangeira e a redução
dos outros activos financeiros, a proporção dos meios de pagamento25 em Kwanzas
registou uma redução, passando a representar 50% do total. Este fenómeno está ligado à
transformação das poupanças em moeda nacional em moeda externa como reserva de
valor, devido à depreciação da moeda nacional, verificando-se um retrocesso no
processo de desdolarização, em presença da instabilidade económico-financeira.
Angola: Estrutura dos Meios de Pagamento -M3
70%
65%
58%
(em milhões de Kz)
60%
50%
60%
51%
49%
51% 49%
54%
46%
42%
56%
50%50%
44%
40%
40%
35%
30%
20%
10%
0%
Dez-05
Dez-06
Dez-07
Dez-59
MPME
25
Fev-80
Jul-91
Dez-08
Dez-09
M3 em MN
M3 (que inclui moeda em circulação, depósitos à ordem e a prazo e outros activos financeiros).
70
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A expansão da base monetária, em 75,5%, foi induzida essencialmente pela
expansão do crédito líquido ao Estado pelo Banco Central ao Governo, devido ao
aumento da emissão dos títulos e à redução acentuada dos depósitos devido à
diminuição na arrecadação de receitas pelo Tesouro Nacional.
A expansão da base monetária ocorreu na sua componente de depósitos das
instituições financeiras, que aumentaram 110,8%, reflectindo o aumento da
exigibilidade imposta aos bancos com o aumento do coeficiente das reservas
obrigatórias.
A reserva monetária conheceu um crescimento menos acentuado, de 71,5%,
tendo o aumento do stock de títulos do banco central sido na ordem dos 55,5%,
passando de cerca de 94 mil milhões de Kwanzas em 2008 para 146 mil milhões em
2009.
O abrandamento do multiplicador monetário para 3% explica o menor efeito da
expansão da base monetária nos meios de pagamento e a elevação do rácio sobre o PIB
para cerca de 46%.
3.7.-O sistema financeiro
O sistema financeiro angolano, que não foi afectado num primeiro momento
pela crise financeira internacional, por estar assente em operações tradicionais,
designadamente captação de depósitos/concessão de crédito, operações cambiais e
aplicações em títulos soberanos, e não possuir activos tóxicos, viu-se atingido num
segundo momento, quando a crise financeira passou a económica.
Consequentemente, o crescimento económico nacional, as contas fiscais e o
sector privado, com uma elevada dependência do sector público, acabaram por afectar o
sector financeiro angolano. Num primeiro momento, os efeitos fizeram-se sentir na
insuficiência de cambiais e de crédito à economia, e aumento do crédito em mora.
No último trimestre a situação estabilizou, aumentaram as disponibilidades de
divisas, e a situação do crédito mal parado melhorou, situando-se a taxa de
incumprimento em 2,58% em Dezembro de 2009, contra 2,47% em 2008.
Não obstante a desaceleração do crescimento e as dificuldades enfrentadas pelo
sistema financeiro em 2009, este manteve um crescimento robusto, tendo registado um
resultado líquido de cerca de 117 mil milhões de Kwanzas, comparativamente aos cerca
de 65 mil milhões de Kwanzas apurados em 2008, representando um crescimento
nominal de 81%, isto é, 4 pontos percentuais menos que no ano transacto. Em termos
reais, o seu crescimento foi de cerca de 58%.
71
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Não obstante os lucros em operações financeiras terem registado um aumento
devido à reavaliação cambial, explicados, essencialmente, pelas operações de
intermediação, sem descurar as aplicações em instrumentos monetários, Títulos do
Banco Central, Bilhetes e Obrigações do Tesouro.
O crescimento do sector reflecte-se igualmente na solicitação de abertura de
novos bancos e escritórios de representação. Em 2009 existiam 22 bancos autorizados
dos quais 19 em actividade com características universais, à excepção de um com
características de banco de investimento.
Do total de instituições bancárias, três são bancos públicos, um dos quais um
Banco de Desenvolvimento, 2 são mistos, sendo um filial de um banco estrangeiro e 14
bancos privados dos quais 5 filiais de bancos estrangeiros.
A rede bancária manteve-se em expansão, com um total de 590 agências, 79
mais do que em 2008, mantendo-se a concentração em Luanda num total de 303
agências. Com a expansão do sector financeiro, o nível de intermediação da economia
elevou-se em 2009, sendo o M3 sobre o PIB de 46% comparativamente a 23% em 2008,
situando-se ao nível dos países da região.
Os activos financeiros do sistema bancário totalizaram 3.430 mil milhões de
Kwanzas, assinalando um crescimento de 27% relativamente ao ano de 2008.
Descontado o efeito inflacionário, este crescimento foi de cerca de 11%. Contribuíram
para a expansão dos activos as operações de crédito doméstico que representaram cerca
de 50% do investimento dos bancos, e as aplicações em títulos, cujo peso no
investimento foi de 38%.
A intermediação financeira pura, traduzida na taxa de transformação dos
depósitos em crédito, registou uma desaceleração em termos nominais em sete pontos
percentuais no presente ano, cerca de 50% dos depósitos, contra 57% em 2008. Esta
desaceleração está associada às restrições impostas pela política monetária e à
desaceleração da economia que limitaram a expansão do crédito à economia.
Apesar de ter desacelerado, o crédito total aumentou em cerca de 486 mil
milhões de Kwanzas, correspondente a 59% em 2009. Esta expansão ocorreu,
essencialmente, no sector privado que representa cerca de 91% do total do crédito,
contra 9% do crédito ao Governo Central e empresas públicas.
A deterioração das condições económicas induziu ao aumento do incumprimento
do crédito em 2009, na medida em que, 64% do mesmo é concedido em moeda
estrangeira. Com a depreciação da taxa de câmbio do dólar, os devedores sem
rendimentos nesta moeda tiveram problemas no reembolso dos créditos denominados e
indexados ao dólar, que se tornaram mais caros.
72
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Igualmente, a acumulação de atrasados do Governo para com as empresas,
prestadoras de bens e serviços ao Estado, agravou a situação dos créditos mal parados
no sistema financeiro.
Visando acautelar estas situações, em Maio de 2009, as instituições financeiras
foram sujeitas a nova regulamentação sobre a solvabilidade, a qual visa acautelar o risco
de crédito, obrigando-as a realizarem análise de risco para cada tomador de crédito,
antes da sua concessão e a constituírem provisões sobre o risco.
As Disponibilidades registaram uma expansão de 50% em termos nominais, com
destaque para as disponibilidades no Banco Nacional de Angola que se elevaram em
62%, num total de 442 mil milhões de Kwanzas, dos quais 320,8 mil milhões em
passivo exigível, devido à elevação da taxa das reservas obrigatórias para 30%.
O activo foi financiado sobretudo com recursos de terceiros, tendo os depósitos
totais, como fonte tradicional da actividade bancária, ascendido a 2.377 mil milhões de
Kwanzas, representando 79% do activo e uma taxa de crescimento nominal de 50%.
À semelhança do crédito, a carteira de depósitos é maioritariamente constituída
por depósitos em meda estrangeira, representando 59% dos depósitos totais e uma taxa
de crescimento superior aos depósitos em moeda nacional. Os activos foram igualmente
financiados pelos fundos próprios que totalizando 327 mil milhões de Kwanzas e uma
taxa de crescimento de 23%. Os outros recursos de instituições bancárias no país e no
exterior, sobretudo os acordos de recompra de títulos, são outra fonte de liquidez,
considerando o aumento das operações interbancárias de títulos.
O sistema bancário gerou um produto bancário de cerca de 231,7 mil milhões de
Kwanzas, que representou um aumento de cerca de 86 mil milhões, superior aos 57 mil
milhões, registados em 2008.
As receitas totalizaram 429 mil milhões de Kwanzas tendo superado em 190 mil
milhões de Kwanzas as do ano transacto. A rentabilidade bancária suportou-se na
margem financeira de cerca de 115 mil milhões de Kwanzas, representando 50% do
produto bancário, e 26,7% da receita total. Este indicador desacelerou relativamente ao
ano transacto em 10,4 pontos percentuais.
A margem financeira foi suportada pelos juros e proveitos decorrentes do crédito
interno e das aplicações em títulos que representaram 45,7% dos proveitos totais. Os
lucros em operações financeiras aceleraram para 141 mil milhões de Kwanzas, devido à
depreciação cambial, passando a representar 87,8% do produto.
A remuneração líquida dos activos (ROA) dos bancos subiu de 2,4% em 2008
para 3,4% em 2009, em função do aumento da rentabilidade dos bancos. O retorno dos
capitais próprios investidos (ROE) cresceu de 25, % para 36,5% confirmando a
73
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
rentabilidade do negócio bancário, com as principais apostas no crédito, títulos e
operações cambiais.
O cumprimento das normas prudenciais foi assegurado em 2009 pela supervisão
bancária, quer ao nível de adequação do capital, face ao risco dos activos, quer em
termos de requisito de investimento. O capital dos bancos situou-se, em média, acima
do mínimo regulamentar, tendo o rácio de solvabilidade atingido 16% dos fundos
próprios, 6 pontos percentuais acima do mínimo regulamentar de 10%.
O endividamento total do sistema representou, em média, 9,3 vezes os fundos
próprios, contra 9,14 vezes em 2008, situando-se muito abaixo das 15 vezes, como
limite imposto pela regulamentação.
O índice de imobilização do sistema situou-se em 35,4%, tendo registado um
aumento de 5 pontos percentuais, mantendo-se contudo abaixo do limite recomendado
de 50%. A sua elevação está associada aos investimentos dos bancos, com a abertura de
novas agências.
A qualidade dos activos reduziu, na medida em que o activo remunerado sobre o
activo total baixou de 81,2% em 2008 para 77,82% em 2009, devendo-se à elevação do
nível de exigibilidade imposta aos bancos.
O crédito total do sistema foi 4 vezes o valor dos fundos próprios, mantendo-se
um indicador ainda conservador, relativamente à média subsaariana.
Os três principais riscos, nomeadamente o risco de crédito, o risco de variação
cambial e o risco de liquidez, elevaram-se no decurso de 2009 devido à instabilidade
conjuntural, tendo sido mantidos sob controlo e reduzidos no final do ano, com a
melhoria da situação económica.
No final do ano de 2009, a qualidade dos activos situou-se em níveis aceitáveis,
e o crédito vencido reduziu, tendo este se situado em 2,6%, mantendo-se mais ou menos
ao nível do ano anterior de 2,4% e inferior aos níveis internacionalmente recomendados
de 5%. O risco de erosão dos fundos próprios investido pelo conjunto das instituições
bancárias reduziu para 0,5%, significativamente abaixo de 5%.
O risco cambial, decorrente da variação das taxas de câmbio, sobre a posição
activa e passiva dos bancos, aumentou, para 88,8% em 2009, comparativamente a
45,7% em 2008. Contudo, mantém-se dentro do limite prudencial recomendado de
100%. Esta elevação decorre de um aumento mais acelerado dos activos em moeda
estrangeira que totalizaram 1.965 mil milhões de Kwanzas, relativamente aos passivos,
num total de 1.675 mil milhões de Kwanzas.
Considerando que o sistema bancário apresenta uma posição longa em moeda
estrangeira de cerca de 291 mil milhões de Kwanzas que se regista numa tendência de
74
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
depreciação da taxa de câmbio, esta situação é favorável, na medida em que os ganhos
com a valorização dos activos são superiores às perdas da valorização dos passivos. A
situação poderá vir a inverter-se, em caso de apreciação cambial.
O risco de liquidez situou-se num nível relativamente preocupante em relação à
moeda estrangeira, com a liquidez imediata em apenas 24,7%. Em relação à moeda
nacional este indicador é mais confortante, cerca de 55%.
O risco operacional é difícil de ser mensurado devido à falta de instrumentos
para o efeito. Os bancos tentam elevar os mecanismos de controlo interno, de fraudes,
de falhas de sistemas e de outros factores externos.
O risco reputacional, decorrente da falta de confiança e segurança num banco ou
no sistema, em razão de incumprimentos regulamentares, más práticas bancárias, erros
de gestão, etc., é outro risco que se elevou em 2009, devido ao aumento dos controlos
cambiais e aos limites de levantamentos em moeda estrangeira impostos por alguns
bancos, decorrentes das dificuldades conjunturais de escassez de cambiais verificadas
no período.
Em suma, não obstante a desaceleração do crescimento do sector bancário em
2009, em linha com a desaceleração do crescimento económico e das restrições
impostas ao nível da política monetária e cambial, este sector manteve um desempenho
positivo e uma rentabilidade elevada.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
4.- POLÍTICA ORÇAMENTAL
4.1.-Introdução
A Política Orçamental continua26 a ser um instrumento de elevada importância
no contexto da política económica em Angola. O nível de desemprego, actualmente
estimado entre 24,1 e 26,3 por cento pelo CEIC, e o elevado peso das importações no
consumo interno, denotam a debilidade estrutural da economia, o que confere um papel
determinante à política orçamental.
Por outro lado, a grande desaceleração no crescimento económico que Angola
experimentou em 2009 requer uma maior utilização da política orçamental, no sentido
de contrariar o ciclo económico e devolver a confiança aos agentes económicos.
Neste capítulo do Relatório Económico 2009 vamos analisar a Política
Orçamental seguida pelo Governo durante o ano de 2009, através da apresentação de
elementos ligados à sua Gestão e ao nível e grau de execução do Orçamento Geral do
Estado (OGE). Adicionalmente, tendo sido este um ano particularmente marcado pela
crise financeira/económica, vamos abordar as principais alterações de política
orçamental induzidas pela crise e emitir uma opinião quanto à sua pertinência.
4.2.-Da gestão da política orçamental
O OGE27 para 2009 foi aprovado, na generalidade, no dia 14 de Novembro de
2008, um mês e meio antes da aprovação na especialidade, que ocorreu no dia 31 de
Dezembro do mesmo ano28. Entre os seus principais pressupostos de elaboração,
destaca-se a previsão de um preço médio do petróleo igual a 55 dólares por barril e de
uma inflação esperada de 10%.
Devido aos efeitos da crise financeira e económica mundial, o Governo de
Angola procedeu à revisão do OGE 2009, conjuntamente com o seu Plano Nacional
para 2009, no mês de Junho de 2009.
Segundo o Relatório de Fundamentação do OGE 2009 (Inicial), a política
orçamental seguida teria o seu enquadramento geral nos objectivos globais do Plano de
Desenvolvimento de Médio Prazo 2009-2012 e nos objectivos do Programa de Governo
2009. Apresentamos no quadro a correspondência entre estes dois conjuntos de
objectivos.
26
Segundo David Weil (in Enciclopédia de Economia. Principia. Página 324), A política Orçamental é a
utilização do Orçamento do Estado de forma a influenciar a economia.
27
O OGE tem em si incorporado o Programa de Investimento Público do Governo (PIP).
28
Até o ano fiscal 2009, os limites para aprovação do OGE vinham definidos pela LQOGE. Actualmente
está em via de aprovação a Lei de Base do Orçamento que terá como característica principal, o facto de
ser também aplicado aos orçamentos municipais.
76
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Enquadramento Geral da Política Orçamental do Governo 2009
Objectivos Globais do Plano
2009-2012
•
Promover a unidade e
coesão nacional e
consolidar a democracia
e as suas instituições
•
•
Garantir um ritmo
elevado e sustentado de
crescimento, com
estabilidade
macroeconómica e
transformação e
diversificação da
estrutura económica
Melhorar a qualidade de
vida e desenvolvimento
humano dos angolanos
• Estimular o
desenvolvimento do
sector privado e apoiar o
empresariado Nacional
•
Promover o
desenvolvimento
harmonioso do território
nacional
• Reforçar a posição
competitiva de Angola
no contexto
internacional
Concretização em objectivos do Programa
do Governo 2009
• Aumento do emprego e dos
rendimentos
• Melhoria das condições de vida da
população
• Reforma do Estado
•
•
•
•
•
•
Crescimento económico acelerado e
sustentável
Recuperação construção das infraestruturas
Aumento do emprego e dos
rendimentos
Melhoria das condições de vida da
população
Aumento do emprego e dos
rendimentos
Recuperação construção das infraestruturas
•
Recuperação construção das infraestruturas (?)29
•
Reforma do Estado
FONTE: Ministério das Finanças 2008
Com vista àqueles objectivos, a Política Orçamental do Governo teve os eixos
principais de actuação e as correspondentes medidas de política presentes no quadro
seguinte.
Objectivos da Política Orçamental do Governo 2009
29
O investimento em infra-estruturas, quando é mal distribuído, ou não é acompanhado por medidas de
compensação, torna-se num importante acelerador das assimetrias.
77
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
Objectivos da Política
Orçamental
• Sustentabilidade da
despesa pública
Correspondente medida de política
•
•
•
•
Racionalização da
despesa pública
•
•
•
•
Melhoria da eficiência do
sector público e da
eficácia da despesa
pública
•
•
•
•
•
•
Melhoria da arrecadação
fiscal
CEIC/UCAN
•
•
Institucionalização e regulamentação do Fundo de Reserva
do Tesouro
Redefinição da política de subsídios
Aprovação de um novo Sistema Nacional de Preços e do
Regime de Preços de bens e Serviços
Iniciação de um programa de saneamento financeiro e
reestruturação das empresas públicas estratégicas e dos
sectores que constituem reserva do Estado
Elaboração de um estudo para eventual concessão de
subsídios directos aos produtores industriais que revelem
capacidade de satisfação de alguma procura interna
Conclusão dos trabalhos de regulamentação das aquisições
e contratação pública
Recadastramento dos funcionários públicos, dos polícias,
dos militares e dos beneficiários das pensões e assistidos
pelo INSS, SACVG e CSS-FAA
Ajustamento dos vencimentos da função pública de acordo
a inflação esperada
Aprovação do Plano de Reforma Fiscal e respectivo
Programa Executivo para 2009
Revisão da Lei dos Incentivos ao Investimento Privado
Modernização e simplificação do Imposto de Selo e
revisão do Imposto Industrial e de Rendimento do
Trabalho
Aprovação e implementação da imposição de uma
sobretaxa sobre o tabaco e bebidas alcoólicas como uma
das fontes de financiamento da Política Nacional da
Juventude
Enquadramento fiscal para os seguros e fundos de pensões
FONTE: Ministério das Finanças 2008
Em resultado da crise financeira e económica internacional, o OGE foi revisto a
meio do ano. No entanto, e segundo o Relatório de Fundamentação do OGE 2009
(Revisto), o processo de revisão não comprometeria os objectivos inicialmente
definidos, propondo-se apenas a realizar o seguinte:
i.
ii.
iii.
A reavaliação da estimativa da receita petrolífera face ao comportamento do
preço médio;
A fixação da despesa a outro nível em decorrência da revisão dos créditos
orçamentais, tanto para as despesas correntes, como para as despesas de capital;
e
A revisão das operações de financiamento, tendo em conta o nível de défice
apurado e o serviço da dívida projectado.
Segundo o actual modelo de gestão orçamental do Governo de Angola, o
orçamento dos investimentos é da responsabilidade da Direcção Nacional dos
Investimentos Públicos do Ministério do Planeamento, o orçamento das despesas é
78
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
elaborado pela Direcção Nacional do Orçamento do Ministério das Finanças (com
excepção do orçamento dos salários que é elaborado pelo Ministério da Administração
Pública, Emprego e Segurança Social), e o orçamento das receitas é elaborado pelas
seguintes três direcções, também do Ministério das Finanças: das Alfândegas, dos
Impostos e do Tesouro.
Para 2009, o Programa de Investimentos Públicos (PIP) reflectiu a prioridade
conferida pelo Governo à energia, água, saúde e educação, e representou um esforço
para a concretização dos seguintes objectivos:
Objectivos do Programa de Investimentos Públicos 2009
Objectivos do Programa de Investimentos Públicos 2009
•
•
•
•
•
Crescimento económico acelerado e sustentável
Aumento do emprego e do rendimento
Recuperação e construção da infra-estrutura
Melhoria das condições de vida das populações
Reforma do Estado
Fonte: Relatório de Execução do PIP, Ministério do Planeamento.
Ainda relativamente à gestão da política orçamental, temos a referir que um dos
principais pontos fracos do ano de 2009 foi a incapacidade revelada quanto à análise
como à previsão da conjuntura económica mundial, bem como dos seus reflexos na
economia angolana.
Sendo Angola um país cuja economia ainda depende das condições económicas
verificadas nas grandes economias, para uma gestão macroeconómica eficaz é
necessário o desenvolvimento de capacidades humanas e técnicas que permitam prever,
com a devida antecedência, o comportamento daquelas economias bem como a forma
como este comportamento afectará a sua economia. Não é admissível que o impacto em
Angola da crise financeira e económica só tenha sido considerado pelas autoridades
para a política económica Orçamental e Monetária quando já não havia espaço para
manobras.
O outro ponto que requer mudanças imediatas a nível da gestão da política
orçamental é a coordenação entre as acções dos diferentes organismos do Estado, bem
como a análise da sustentabilidade do resultado das referidas acções.
79
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
4.3.-Da execução orçamental
Vamos analisar, de seguida, o equilíbrio entre as despesas e receitas fiscais e
eventuais saldos, a política de financiamento dos respectivos saldos, a composição das
receitas correntes do Estado e a composição das despesas não financeiras do Estado,
vistas sob diferentes perspectivas de análise.
4.3.1.-Equilíbrio orçamental e taxa de execução
As estimativas das contas orçamentais existentes até o mês de Maio de 2010
apontam para um défice na óptica do compromisso igual a 5,3% do PIB, o que
corresponde a um agravamento de 14,2 p.p. comparativamente ao ano anterior. Este
défice é inferior ao programado pelo orçamento revisto em Junho de 2009 (15,2%). A
melhoria do deficit comparativamente ao programado deve-se ao facto da taxa de
execução das despesas (64,9%) ter sido inferior à taxa de execução das receitas (76,8%).
Do lado das receitas, assinale-se o facto da taxa de execução dos Impostos
(72,2%) ter sido inferior à taxa de execução das “Outras Receitas” (233.3%). A baixa
taxa de execução dos impostos está ligada à significativa diminuição das receitas
petrolíferas resultantes da crise. Entre 2005 e 2008 as receitas petrolíferas representam
cerca de 80% das receitas ordinárias do Estado.
Do lado das despesas, é notória a diferença de execução entre as despesas
correntes (83,6%) e as despesas de Aquisição de Activos não-financeiro (29,6%)
constituídas maioritariamente pelos Investimentos Públicos. Esta diferença de execução
resulta, antes de tudo, de um carácter inelástico dos salários, componente de grande
peso nas despesas correntes, perante variações significativas nas receitas.
A relativa inelasticidade dos salários está ligada ao elevado número de
funcionários públicos e ao facto dos seus salários estarem sujeitos a ajustamentos iguais
à inflação esperada. No entanto, esta diferença na execução também pode reflectir uma
hierarquia de prioridades do Governo na qual as despesas correntes, mais directamente
ligadas ao rendimento das elites políticas, estão acima das despesas em acumulação de
capital.
Quadro Macro-Fiscal 2009 (mil milhões de Kwanzas)
Programado
Valor
Peso
Estimado
Valor
Peso
1. Receitas Correntes
1615.2
100.00%
1240.9
100.00%
Taxa de
Execução
76.83%
1.1 Impostos
1538.2
95.20%
1110.8
89.52%
72.21%
80
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
1025.8
63.50%
733.13
59.08%
71.47%
1.2 Contribuições Sociais
27.9
1.70%
16.1
1.30%
57.71%
1.3 Doações
0.4
0.00%
0.4
0.03%
100.00%
1.4 Outras Receitas
48.7
3.00%
113.6
9.15%
233.26%
2. Despesas Não Financeiras
2371.5
100.00%
1539.0
100.00%
2.1 Despesas Correntes
1549.3
65.30%
1295.5
84.18%
2.2 Aquisição de activos não-financeiros
822.2
34.70%
243.5
15.82%
Saldo na óptica do compromisso
-756.3
-298.1
0
0
Saldo na óptica de caixa
-756.3
-298.1
PIB
4971.3
5555.1
1.1.1 Petrolíferos
Variação de atrasados
64.89%
83.62%
29.61%
FONTE: Ministério das Finanças 2008
Quando comparado com a execução do ano anterior, verifica-se que o rácio entre
as receitas fiscais e o PIB caiu em 28.2 p.p. (de 50,5% para 22,3% do PIB), determinado
fundamentalmente pela contracção das receitas petrolíferas em 27,6 p.p. (de 40,8% para
13,2% do PIB). Entretanto, as despesas públicas diminuíram apenas em 14,0 p.p. (de
41,7% para 27,7% do PIB), o que se reflectiu numa queda de 14,1 p.p. no saldo de
compromisso (de 8,8% do PIB para -5,3% do PIB).
4.3.2.-O financiamento do deficit
No ano de 2009, o défice de caixa de 5.3% (assumindo que não houve variação
de atrasados) foi financiado através da Alienação de Bens e, principalmente, por via do
Financiamento Interno cujo peso no total das receitas de financiamento está estimado
em 71,1% (muito acima dos 60.5% inicialmente previstos). O aumento do peso do
financiamento interno nas receitas de financiamento resultou de uma muito baixa
execução do financiamento externo (15,6%), devido à diminuição da liquidez nas
grandes economias, e de um esforço de emissão de Obrigações do Tesouro no mercado
interno com duplo objectivo: financiar o Orçamento do Estado e retirar liquidez do
mercado, a fim de refrear a perca de valor do Kwanza no mercado cambial.
Dados que se reportam a Setembro de 2009 mostram que o Stock de Obrigações
do Tesouro aumentou em 74% em 2009, num período em que quase todas as outras
fontes de financiamento tiveram um decrescimento, com excepção do financiamento
bilateral que aumentou em 14%.
81
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Desempenho da Dívida Pública
2008
Sept.2009
(Taxa de crescimento)
Bilateral
28%
14%
Multilateral
-4%
0%
Bancos Comercais
62%
-7%
Fornecedores
24%
-1%
Detentores Bónus
(N/residentes)
-72%
-9%
Total Dívida Externa
42%
0%
TBC
-56%
1%
BT
-
-75%
OT
95%
74%
Total Dívida Interna
161%
-16%
TOTAL GERAL
84%
-8%
FONTE: BNA
A política de financiamento seguida em 2009, que consistiu na emissão de
bilhetes do tesouro, associada ao aumento, em Março de 2009, do rácio de reservas
obrigatórias de 15,0% para 20,0%, e da taxa de redesconto de 19,5% para 25,0%,
contribuiu significativamente para o baixo desempenho da economia não-petrolífera. E
mais que isto, a manutenção destes parâmetros da política monetária em 2010 pode
comprometer a recuperação da economia neste ano.
4.3.3.-As receitas correntes do estado
Os Impostos Sobre o Rendimento representaram 54,7% dos rendimentos
correntes arrecadados em 2009, 17 p.p. acima do peso previsto. O aumento do peso dos
Impostos Sobre os Rendimentos deveu-se, sobretudo, ao muito baixo desempenho dos
Impostos Sobre os Recursos Naturais que viu o seu peso diminuir de 28,1% (previsto)
para 2,9% (realizado). O baixo desempenho dos Impostos Sobre os Rendimentos devese à fraca expansão dos sectores petrolífero e diamantífero verificada neste ano.
Como pode ser visto no gráfico abaixo, os Impostos Sobre o Rendimento foram
seguidos, em ordem de importância, pelos Imposto Sobre o Consumo, Impostos sobre a
Produção e pelos Impostos Sobre o Comércio Externo.
82
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Fonte: Ministério das Finanças.
O Imposto Sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas do sector petrolífero
representou 71,3% dos Impostos Sobre o Rendimento realizado, enquanto o Imposto
Sobre a Produção Industrial petrolífera representou 96,9% dos Impostos Sobre a
Produção. Por sua vez, o Imposto Sobre o Consumo de Cervejas e Bebidas Alcoólicas é
a rubrica com maior peso nos Impostos Sobre o Consumo representando 11,5% do total.
Recomenda-se a revisão da política fiscal de Angola de forma a torná-la mais
independente do sector petrolífero e a responsabilizar mais os agentes económicos
naquilo que são os objectivos de progresso social, económico e ambiental. (ver
documento de proposta da reforma tributária para Angola).
4.3.4.-As despesas por função
O total das despesas do Estado previstas para 2009 ascendeu os 2,6 bilhões de
Kwanzas, tendo sido executado apenas 1,6 bilhões de Kwanzas, que corresponde a uma
taxa de execução de 63,5%.
83
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Os Serviços Públicos Gerais tiveram o maior peso no total executado (24,4%),
seguido da Defesa (15,5%), da Protecção Social (14,7%) e da Segurança e Ordem
Pública (13,2%). Estas rubricas, em conjunto, representaram 67,7% da Despesa do
Estado de 2009.
A estrutura das despesas por função leva-nos a questionar a pertinência de uma
sector público tão pesado como o que temos actualmente, e o facto de a Defesa
continuar a ter tão elevado peso numa altura em que o país tem, seguramente, outras
prioridades.
FONTE: Ministério das Finanças de Angola.
Quando agregamos as despesas públicas previsionais por macrofunções temos
uma perspectiva interessante da tendência da política pública em Angola. Como mostra
o gráfico abaixo, que contém dados que vão de 2005 à 2009, o sector social tem ganho
peso de forma consistente nas despesas públicas, ao contrário do Sector Económico e da
Defesa, Segurança e Ordem Pública que têm tido um comportamento irregular no
período.
O mesmo gráfico permite-nos ver que os Encargos Financeiros têm visto o seu
peso diminuir nas despesas públicas, em resultado do rácio entre dívida pública e PIB
ter diminuído no mesmo período. Relativamente a este item, espera-se que, com a actual
84
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
política de incremento do financiamento externo, tanto Multilateral quanto Bilateral e
Comercial, o peso dos Encargos Financeiros venha a aumentar nos próximos anos.
FONTE: Ministério das Finanças.
Uma terceira perspectiva de análise das despesas por função resulta da
comparação das despesas da Defesa, Educação e Saúde. Como vemos no gráfico
abaixo, o peso da Defesa no Orçamento tem aumentado nos últimos exercícios
orçamentais tendo atingido os 10,6% em 2009. O mesmo gráfico mostra que, para o
exercício orçamental de 2010, a previsão é de que o peso da Defesa aumente para
11,3%. Por outro lado, verificamos a relativa manutenção do peso da Educação e a
redução do peso das despesas com a Saúde no OGE.
A confrontação desta evidência com a apresentada no gráfico anterior que
agregava todo o sector social leva-nos a concluir que a análise do modelo de
desenvolvimento económico e social seguido pelo Governo de Angola passa pelo
estudo das características dos subsectores constituintes do Sector Social. É necessários
assim clarificar como cada tipo de despesa afecta a acumulação de capital humano para
auferir de que forma tem havido equilíbrio entre acumulação de capital físico e capital
humano.
85
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Ministério das Finanças.
Recomenda-se também um estudo do custo de oportunidade ligado ao crescente
peso da Defesa no Orçamento mesmo em anos de crise. O país deve começar a trilhar o
caminho do desenvolvimento depois de quase uma década de elevado crescimento
económico. Para isso, é necessário que se redefina o modelo de desenvolvimento, e com
este, as prioridades da política orçamental.
4.3.5.-As despesas por local
No OGE revisto para 2009, em termos de distribuição por província, a despesa
orçamentada para os Governos provinciais teve a distribuição presente no gráfico
abaixo.
86
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Fonte: Ministério das Finanças.
Notemos, no entanto que, o total da despesa afecta aos Governos provinciais
representou apenas 14% das despesas totais do OGE em 2009, sendo que, cerca de 81%
foi afecta à estrutura central do Governo.
FONTE: Ministério das Finanças.
Para melhor estudar a distribuição das despesas do OGE por província devemos
ter em consideração que, no actual nível de desenvolvimento do país, o Orçamento do
Estado visa prover as populações de bens e serviços essenciais. Assim, é expectável que
as províncias com maior população recebam um maior orçamento em termos absolutos.
Considerando este facto, vamos calcular a distribuição das despesas usando como
indicador o coeficiente de localização das despesas per capita.
87
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Para estimar a população em 2009 vamos usar a distribuição dos eleitores
registados em 2007 e assumir os seguintes pressupostos:
• A taxa de crescimento da população é de 2,9% ao ano;
• A população acima dos 18 anos (em idade eleitoral) corresponde a 40% do total
da população;
• A imigração líquida entre as províncias é nula entre 2007 e 2009.
Por outro lado, consideramos dois cenários. No primeiro, assumimos que a
despesa do Governo Central é proporcionalmente distribuída entre as províncias. No
segundo cenário, assumimos que existem assimetrias na distribuição da despesa do
Governo Central e usamos a informação disponível no próprio OGE para proceder à
distribuição das despesas do Governo Central. Os resultados são os apresentados
abaixo.
Coeficiente de Localização das despesas per capita.
FONTE: OGE 2009 (Revisto) e Cálculos do CEIC.
Como vemos, a consideração apenas da dotação dos governos provinciais levanos a pensar que a província de Cabinda recebe a maior parcela do Orçamento. No
entanto, quando consideramos o facto das despesas do Governo Central terem os
mesmos efeitos económicos que as despesas dos governos provincias, e procedemos à
88
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
distribuição das despesas do Governo Central, concluímos que a província de Luanda
recebe 20 vezes mais orçamento per capita do que a média do país.
Este facto tem grande relevância no debate das assimetrias regionais. Assim,
recomendamos ao Governo que reavalie o papel do Orçamento enquanto instrumento de
combate às assimetrias económicas e demográficas do país.
4.3.6.-As despesas por natureza económica
A natureza económica das despesas tem grande relevância, porquanto elas
podem ser despesas com efeitos sobre o ciclo económico ou despesas com efeitos sobre
o potencial de crescimento da economia. Os dados validados até o mês de Maio de 2010
permite-nos construir o seguinte gráfico:
FONTE: Ministério das Finanças.
Tal como tem sido recorrente ao longo dos anos, as despesas com o pessoal
continuam a ter o maior peso no conjunto das despesas públicas. Em 2009, as despeas
com o pessoal representaram 37,9% do total da Despesa do Estado. Em termos de
magnitude, estas foram seguidas pelas despesas em Bens e Serviços que representaram
17.3% do Orçamento. Se juntarmos estes dois agregados que, porventura, são os
principais indicadores do peso do Sector Público do Estado na Economia, vemos que
representaram 55.1% do orçamento.
As despesas em Aquisição de Bens de Capital Fixo tiveram um peso de apenas
14,6%, muito abaixo dos 29.5% programados. Podemos mesmo concluír que as
89
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
despesas de Investimento foram a principal vítima da crise financeira que o país viveu
durante o ano de 2009.
Refira-se ainda que a despesa com subsídios foi a quarta maior rúbrica entre as
despesas por natuteza econômica, correspondendo a 10,4% destas. Notemos que as
despesas com os Subsídios a Preços correspondem a 86,0% do total de subsídios, facto
que chama a atenção para o debate a pertinência da actual política de preços, com base
nos seus efeitos sobre a eficiência dos mercados.
Na secção a seguir vamos analisar de forma mais detalhada o desempenho das
despesas de investimento no âmbito da análise do Programa de Investimento Público do
Governo.
4.3.7.-O programa de investimento público (PIP)
O PIP revisto contemplou investimentos na ordem de 756 392,51 milhões de
Kwanzas, distribuídos em 2 378 projectos, sendo que, deste total de projectos, 43%
estiveram a cargo dos sectores e os restantes a cargo dos governos provinciais.
O ano de 2009 fica também caracterizado pela baixa execução financeira do PIP.
Neste ano, do total de 756.3 mil milhões de Kwanzas programados, somente 31% foi
executado, representando uma queda de 57 p.p. relativamente à taxa de execução do ano
anterior.
FONTE: Balanço anual do PIP, 2009.
90
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A baixa taxa de execução do PIP denota sérias debilidades na programação
financeira do Estado, em particular, no campo da análise previsional, associado a um
baixo valor dos investimentos na hierarquia das prioridades do Governo. Notemos que,
quando comparamos com as receitas arrecadadas nos respectivos anos, as despesas de
investimento executadas diminuíram de 27,9%, em 2008, para 17,8%, em 2009. Ou
seja, a crise financeira não deve ser considerada como a única responsável dos baixos
níveis de investimento.
Importa ainda referir que os Governos Provinciais tiveram um melhor
desempenho, ao executarem 42,9% dos investimentos programados, comparativamente
aos sectores que somente executaram 29,3% do programado.
Em termos de crescimento económico, o baixo nível de investimento público,
associado a um maior custo do crédito verificado em 2009, indicia uma redução
significativa no investimento agregado da economia, o que poderá levar a uma redução
da taxa de crescimento potencial da economia não-petrolífera. Esta situação é agravada
quando consideramos os longos prazos de execução dos projectos incluídos no PIP.
Segundo o Relatório do PIP do Ministério do Planeamento, o prazo médio previsto para
a conclusão dos projectos a cargo dos sectores é de 40 meses, e para os projectos a
cargo dos Governos Provinciais de 16 meses.
4.4.-Impacto da crise na política orçamental
4.4.1.-Indicadores do Impacto da Crise
Com a queda do preço do petróleo no mercado internacional, o Governo
procedeu a revisão da previsão para das receitas orçamentais para dois terços. Entre
todas as fontes de receitas, as Receitas Petrolíferas apresentaram uma maior queda:
44,9%.
Impacto da Crise Internacional no OGE (valores em mil milhões de Kwanzas)
OGE Inicial
OGE Revisto
Valor
Peso
Valor
Peso
1. Receitas
2393.2
100.0%
1615.2
100.0%
Taxa de
Corte
32.51%
1.1 Impostos
2333.2
97.5%
1538.2
95.2%
34.07%
91
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
1.1.1 Petrolíferos
CEIC/UCAN
1861.2
77.8%
1025.8
63.5%
44.89%
1.2 Contribuições Sociais
27.9
1.2%
27.9
1.7%
0.00%
1.3 Doações
0.7
0.0%
0.4
0.0%
42.86%
1.4 Outras Receitas
31.4
1.3%
48.7
3.0%
-55.10%
2. Despesas
2842.0
100.0%
2371.5
100.0%
16.56%
2.1 Despesas Correntes
1713.1
60.3%
1549.3
65.3%
9.56%
2.2 Aquisição de activos não-financeiros
1128.0
39.7%
822.2
34.7%
27.11%
Saldo na óptica do compromisso
- 448.8
-756.3
-4.5
0
-453.3
-756.3
Variação de atrasados
Saldo na óptica de caixa
PIB
5796.0
4971.3
FONTE: Ministério das Finanças.
Ao contrário do que tem sido muito difundido, a queda do peso das receitas
petrolíferas nas receitas totais não é um indicador de diversificação da economia.
Devido ao lag do efeito contágio, as receitas tributárias dos demais sectores da
economia podem não ter diminuído na mesma proporção em 2009. No entanto, em
função da dinâmica do processo de decisão de investimento, a actividade dos sectores
da economia não-petrolífera poderá diminuir em 2010, resultando em menores receitas
tributárias não-petrolíferas. Associando a este efeito o do aumento das receitas
petrolíferas, podemos prever para 2010 o aumento significativo do peso do petróleo nas
receitas orçamentais do Estado.
Com a revisão do Orçamento, as Despesas tiveram uma queda de 16,6%. No
entanto, por motivos ligados a rigidez das despesas correntes no curto prazo, estas
tiveram uma queda de 9,6%, enquanto as despesas de aquisição de activos não
financeiros (maioritariamente, despesas em formação bruta de capital fixo) tiveram uma
queda de 27,1%.
Equilíbrio Orçamental (2002-2009)
92
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Ministério das Finanças.
4.4.2.-Fundamentos do impacto da crise no OGE
A actual crise económica e financeira afectou o OGE em resultado de factores
exógenos e endógenos a económica angolana.
Entre os factores exógenos estão a diminuição do preço dos dois principais
produtos de exportação do país, o petróleo e diamante, a diminuição da liquidez no
mercado financeiro, a contracção do investimento directo estrangeiro e a diminuição das
ajudas externas ao desenvolvimento.
Entre os factores endógenos distinguem-se os de natureza estrutural (baixa
produtividade da economia, deficiente acompanhamento da evolução dos mercados,
limitações na capacidade de diagnóstico da própria economia, excessiva dependência do
sector petrolífero, limitações nas ferramentas de política contra-cíclica) que serviram de
pano de fundo facilitador da transmissão da crise, e os de natureza conjuntural
(transferência de liquidez do sistema bancário para o Estado, aumento da taxa de
redesconto, restrição das transferências para o Exterior, emissão de títulos do tesouro,
etc), que apressaram e agudizaram a crise.
4.5.-Considerações finais
A Política Orçamental seguida em 2009 foi essencialmente expansionista. O
carácter expansionista da Política Orçamental é ainda mais acentuado quando
consideramos somente o orçamento não petrolífero.
O facto de grande parte do deficit ter sido financiado internamente, compromete
seriamente o potencial de crescimento da economia não-petrolífera e contrasta com o
objectivo de diversificação da economia. É necessário que a Política Orçamental dê
mais atenção a fiscalidade não-petrolífera, melhorando os mecanismos de controlo e
93
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
arrecadação fiscal, bem como aumentando a base de incidência fiscal. Neste âmbito, é
também necessária uma política clara e eficiente de promoção da formalização dos
negócios actualmente realizados no mercado informal.
A estrutura das despesas do orçamento devem dar corpo aos objectivos que visa
atingir ao invés de remetê-los ao mero plano das “boas intenções”. É assim necessário
que o orçamento combata efectivamente a pobreza, combata efectivamente as
assimetrias regionais, promova efectivamente o desenvolvimento humano e crie bases
sólidas para o desenvolvimento de um sector privado competitivo.
5.- NÍVEL GERAL DE ACTIVIDADE
5.1.- Introdução
Um ponto essencial para o sucesso dum processo de diversificação da economia
é o mercado. Não havendo mercado com dimensão adequada é impossível chegar a uma
situação em que os sectores de enclave tenham uma representação relativa no Produto
Interno Bruto menos demolidora.
São, via de regra, apontadas dois modelos de diversificação económica. Um
acentua a substituição das importações como a melhor forma para reequilibrar a
estrutura do PIB. O outro centra a alteração da estrutura produtiva na abertura da
economia e no fomento das exportações.
São duas perspectivas muito diferentes. A promoção das exportações tem na
concorrência internacional a sua força-motriz, enquanto a substituição das importações
elege a protecção (aduaneira e mesmo não aduaneira) como o factor essencial para o
lançamento de novas actividades produtivas. A concorrência internacional incentiva o
investimento, a inovação, os ganhos de produtividade, a aprendizagem e a adopção de
novas tecnologias. Mesmo em contextos mais adversos, como o da economia angolana,
saída de um longo conflito militar devastador e arrasador, a abertura económica tem
enormes vantagens, necessitando, obviamente, de certas medidas de apoio e
enquadramento.
A substituição de importações, como estratégia de crescimento económico, foi
utilizada por alguns países – dentre eles, determinadas economias hoje desenvolvidas –
em fases especiais do seu processo de desenvolvimento. Uma das medidas de combate
94
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
contra os efeitos da grande depressão económica de 1929-33 usadas pelas economias
mais avançadas da época foi a do levantamento de barreiras alfandegárias para
protecção das indústrias nacionais da concorrência externa. Já a mitigação dos efeitos
perversos da Segunda Guerra Mundial foi a razão invocada pelas economias latinoamericanas para aplicarem o proteccionismo e o modelo de substituição das
importações. Apesar do Brasil, do México, da Argentina e da Colômbia deverem a
existência da sua base industrial a esta política proteccionista, os processos modernos de
crescimento económico têm de ser muito mais abertos e aceitar a concorrência
internacional como um desafio que as políticas públicas internas têm de ajudar a vencer.
A estratégia de substituição das importações diminui o bem-estar nacional e contribui
para a criação de tensões inflacionistas internas. É muito difícil, particularmente em
contextos aonde prevalecem comportamentos oportunistas, laxistas, corruptos e
conformistas, aproveitar o grande argumento deste modelo e defendido por Friedrich
List, o da educação industrial da Nação. Este argumento tem subjacente condições
difíceis de garantir em situações de promiscuidade entre o poder político e a
organização empresarial. A restrição temporal das barreiras proteccionistas,
fundamental para permitir que a eficiência económica na afectação dos recursos se
afirme, encontra barreiras representadas pelos interesses económicos estabelecidos,
misturados com o exercício do poder político. Ou seja, em economias com as
características apontadas a protecção tarifária ou de outra natureza tende a perpetuar-se.
Pelas razões anteriores muitos economistas preferem o modelo de promoção das
exportações, que, de certa maneira, incorpora a substituição de importações. O meu
ponto de vista sobre a aplicação deste tipo de abordagem à nossa economia passa pela
consideração do tipo de produtos a serem produzidos em duas fases.
Na primeira fase, a promoção das exportações e a diversificação da economia
devem começar por produtos industriais simples e de forte incorporação de mão-deobra, tais como têxteis, vestuário, calçado, equipamento electrónico simples, mobiliário,
legumes industrializados, sumos e conservas de frutos, flores e determinados serviços
de consultoria. As actividades indicadas servem, igualmente, para se substituírem
importações, mas em condições de maximização do bem-estar nacional e de maior
dimensão de mercado. Os projectos em curso no sector agro-industrial (açúcar e biocombustíveis, afectação duma linha de crédito de 350 milhões de dólares à agricultura –
que, no entanto, ainda não foi, efectivamente, desbloqueada –, o pólo agro-industrial de
Capanda, a fazenda Pungo Andongo) e no sector industrial (novas cimenteiras, pólos,
parques e zonas industriais, novas fábricas de alimentos), com as respectivas
componentes tecnológicas, apresentam potencialidades de concorrerem para uma
política abrangente de promoção de exportações, ao mesmo tempo que se substituem
importações em condições concorrenciais e de eficiência económica (leia-se sem o
recurso a barreiras que originam distorções na produção e no consumo).
95
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Os empresários angolanos deviam ter uma política comercial agressiva junto de
alguns países vizinhos, como a República Democrática do Congo, o Congo, a Zâmbia, a
Namíbia e o Botswana nos produtos anteriormente indicados e que, afinal, incorporam
alguma da tradição industrial angolana vinda do passado.
Numa segunda fase, à medida que a aprendizagem de novas competências pelos
trabalhadores e empresários se afirma e se acede a novas tecnologias de produção, a
gama de produtos a exportar aumenta (electrónica mais complexa, vestuário de alta
costura, bens de consumo duradouro, etc.). A fabricação de produtos mais elaborados e
exigentes para o mercado externo permite o pagamento de melhores salários aos
trabalhadores, a melhoria da produtividade e a acumulação de know-how.
Estes processos são exigentes em ambientes económicos despoluídos e
desinquinados, em matérias relacionadas com a política monetária e cambial, a política
de crédito, a confiança dos agentes económicos (para tomarem decisões de investimento
a longo prazo), os sistemas de suporte, como o judicial, de ensino e formação
profissional e de inovação. Infelizmente não foi esta a situação prevalecente em 2009,
mormente em termos das políticas macroeconómicas.
5.2.- Produto Interno Bruto
A economia nacional continuou a estar muito dependente da produção e das
receitas do petróleo. Apesar da crise económica internacional e das quotas impostas pela
OPEP, as variações mensais registadas de 2008 para 2009 não foram significativas e o
decréscimo global de 5% foi muito inferior à de outras economias exportadoras de
petróleo.
Da análise do gráfico seguinte pode concluir-se que, em geral, os limites
determinados pela OPEP não foram respeitados em 2009 (salvo nos dois primeiros
meses do ano), tendo Angola retomado os níveis de produção de 2008 a partir de
Maio/Junho.
96
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Ministério dos Petróleos.
Relativamente aos preços do crude verificaram-se correcções mensais em
baixa significativas de 2008 para 2009, que afinal não foram contrariadas pela limitação
da oferta de petróleo decidida pela OPEP.
FONTE: Ministério dos Petróleos.
As receitas de exportação de petróleo impactaram, negativamente, a situação
anterior, tendo-se colocado praticamente ao nível de 2007. Evidentemente que toda a
economia se ressentiu deste facto, uma vez que todo o seu funcionamento assenta em
investimentos que dependem do que se passa no sector petrolífero.
97
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Ministério dos Petróleos.
Relativamente aos diamantes, a situação em 2009 foi pior do que em 2008 em
relação aos preços intenacionais da pedra preciosa. O preço médio do quilate foi de 87,2
dólares, enquanto que em 2008 – apesar da súbita queda registada nos últimos meses do
ano – o valor médio foi de 131,3 dólares.
Graças à política de desfesa do sector que o Governo aplicou em 2009, a
produção de diamantes acabou por resistir à crise internacional.
Evo luç ão c o m parada da p ro d u ç ão d e d iam an te s (q u ilate s )
1400000
Janeiro
Fevereiro
1200000
Março
1000000
Abril
Maio
800000
Junho
600000
Julho
Agosto
400000
Setembro
200000
0
Outubro
Novembro
2007
2008
FONTE: Ministério da Geologia e Minas.
98
2009
Dezembro
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Ministério da Geologia e Minas.
As linhas tendenciais do crescimento económico, a despeito da quebra de
actividade verificada em 2009, mantiveram-se firmes no período 2002/2009.
Com efeito e de acordo com as informações relativas aos últimos anos – depois
de 2002 – a taxa tendencial de crescimento tem vindo a aumentar, colocando-se no
período 2002-2009 em 13,0%, a mais elevada da região subsariana do continente
africano e uma das mais elevadas do mundo (para o período considerado).
LINHAS TENDENCIAIS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO ANGOLANO
Taxas
tendenciais
19802002
19802004
19802005
19802006
19802007
1980-09
2002-06
2,1
2,6
3,4
4,0
4,5
3,8
14,8
200207
15,8
200208
20022009
15,5
13,0
FONTES: Relatórios de Balanço de Execução do PGG de 2005, 2006 e 2007. African Development Indicators,
World Bank, 2005. World Economic Prospects 2008, World Bank. Estimativas do CEIC.
No entanto, a grande linha tendencial 1980-2009 (29 anos) permanece baixa
(3,8%) não permitindo, senão, um ganho líquido de 1% nas condições de vida da
população.
Os anos de 2005, 2006, 2007 e 2008 são, até o momento, os melhores depois da
independência, sendo os responsáveis pela alteração significativa do declive da recta de
tendência a 29 anos (de longo prazo). Confirma-se o significado e a importância
económica da paz: a tendência de crescimento de médio prazo 2002-2008 é a de maior
representatividade do grande ciclo económico depois de 1980.
99
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTES: MINPLAN, Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
As expectativas para os dois próximos anos – conforme se apresentam no
capítulo 11 – não são as melhores, pois que as grandes linhas tendenciais de
crescimento económico se ajustarão para baixo.
Com relação ao comportamento anual do crescimento do PIB petrolífero, não
petrolífero e não mineral, o gráfico seguinte as ilustra.
NOTAS: PIBp – PIB petrolífero. PIBnp – PIB não petrolífero. PIBnm. – PIB não mineral.
Verifica-se que o PIB não petrolífero apresenta um comportamento muito mais
estável do que o das restantes actividades económicas. Esta verificação corresponde,
afinal, aos resultados económicos dos investimentos públicos e privados em
infraestruturas e em outras actividades, para lá das de natureza mineral.
100
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
No entanto, a aproximação, em 2009, da linha de crescimento da economia não
petrolífera da linha de crescimento tendencial 2002-2009, espelha os efeitos da crise
financeira internacional no final do ano.
O panorama geral temporal (2002/2009) da economia nacional é apresentado na
tabela seguinte.
PRODUTO INTERNO BRUTO
(milhões dólares correntes)
SECTORES
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Agricultura e
pescas
913,7
1136,5
1838,4
2602,7
3719,2
4765,7
Petróleo e
refinados
6151,1
6673,4
9855,6
17038,9
26736,1
33173,3
Diamantes e outros
539,6
627,8
583,7
884,7
1152,4
1050,7
881,2
600,9
Manufactura
422,1
526,1
909,7
1240,8
2274,0
3154,3
4041,8
4793,7
Energia e água
4,8
5,4
37,9
30,3
44,5
49,3
71,7
91,4
Obras e construção
392,7
492,6
890,8
1240,8
2067,8
2930,7
4248,1
5663,8
Serviços
1609,0
1965,2
2615,5
4509,4
7927,6
10054,4
14720,7
15626,1
Outros
1207,0
2086,1
2274,4
2723,8
4015,6
4263,5
5012,3
5719,4
PIB
11239,8
13513,2
19006,1
30271,5
47937,3
59441,7
82161,5
69982,4
PIB não mineral
4549,2
6211,9
8566,8
12347,9
20048,7
25217,7
33688,4
39606,2
PIB não petrolífero
5088,8
6839,8
9150,5
13232,6
21201,2
26268,4
34569,6
40207,1
PIB/hab.(usd)
745,8
871,4
1191,1
1843,6
2837,2
3419,4
4689,9
3757,3
5593,8
7711,8
47591,9
29775,3
FONTES: Ministério do Planeamento – Comportamento da Economia em 2004, Abril de 2005. Governo de Angola –
Balanço do Programa do Governo de 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009. Estimativas do CEIC.
101
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
As estimativas sobre as contribuições parcelares para a taxa global de
crescimento são um indicador de consistência. Assim, para que a taxa de crescimento do
PIB de 2,74% (calculada pelo Governo) seja compatível com as contribuições sectoriais
– medidas pelo peso de cada sector na estrutura económica – a agricultura deveria ter
crescido 16,9% e a construção cerca de 10%, contra cerca de 29,5% e 23,8% de acordo
com o Relatório de Execução do Plano Nacional de 2009 do Governo.
5.3.- A problemática da diversificação da economia nacional
5.3.1.- As questões essenciais da diversificação
O desenvolvimento económico sustentável caracteriza-se, entre outros aspectos,
pelas seguintes tendências: elevadas taxas de crescimento do rendimento por habitante,
índices altos de variação da produtividade total dos factores de produção, coeficientes
significativos de transformação estrutural da economia, importantes transformações
sociais e ideológicas e abertura da economia30 (. Um país que apresente, por exemplo,
uma taxa de variação anual do PIB por habitante de 10%, consegue duplicar o seu valor
em 7 anos, o que é importante para a melhoria das condições de vida. Foi o que a China
conseguiu nos últimos 30 anos, isto é, em cada 7 anos desse período duplicou o valor do
seu rendimento médio social.
No entanto, a máxima repercussão social duma duplicação do rendimento por
habitante em cada 7 anos depende dos modelos de distribuição da renda, do acesso às
oportunidades de emprego e de negócio e da transformação estrutural dos sistemas
económicos. Este o ponto que, para efeitos da presente reflexão, me importa reter. As
transformações estruturais são, afinal, o cerne da diversificação dos tecidos produtivos.
30
Economic Development, Michael Todaro and Stephen Smith, 2003.
102
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Evidências empíricas retiradas de muitos estudos de correlação entre o aumento
do rendimento médio e as transformações económicas estruturais apontam no sentido
duma alteração sustentada da participação relativa sectorial no PIB, à medida que o
rendimento por habitante cresce.
No nosso país, as informações estatísticas disponíveis apontam para uma
variação de mais de 685% no Rendimento Nacional Bruto por habitante entre 2001 e
2008 (cerca de 34% ao ano, ou seja, a possibilidade de ser duplicado em 2 a 3 anos). Em
2008, o Rendimento Nacional Bruto por habitante foi de 3280 dólares americanos a
preços correntes.
Quanto à estrutura económica tem, no essencial, permanecido inalterada, no
mesmo período de tempo. O quadro seguinte esclarece a tendência das alterações
estruturais no nosso país.
TENDÊNCIAS DAS ALTERAÇÕES ECONÓMICAS ESTRUTURAIS EM ANGOLA
(os valores estão expressos em percentagens do PIB)
2001
2005
2008
2009
Agricultura, pecuária, floresta e pescas
8,3
8,6
8,3
10,9
Indústria Transformadora
4,0
4,1
6,7
6,8
Serviços
15,8
14,9
15,5
22,1
Petróleo
52,3
56,3
57,6
40,8
Rendimento Nacional Bruto/habitante
(usd)
416,6
1290,5
3282,9
2685,8
FONTE: Universidade Católica de Angola, Relatório Económico de 2008. Governo de Angola, Balanço de Execução
do Plano Nacional 2009. O decréscimo ocorrido na participação relativa do sector petrolífero e produtos derivados
deveu-se aos efeitos da crise financeira e económica internacional.
Ou seja, a forma como o sector de enclave se relaciona com o resto da economia
tem limitado o surgimento dum movimento sustentado de alteração da estrutura
produtiva interna. A única nota digna de registo é o comportamento da participação
relativa da indústria transformadora, com um incremento de 2,8 pontos percentuais em 8
anos, ainda assim, bem menor do que a variação pontual da extracção de petróleo (mais
de cinco pontos percentuais em sete anos).
Dum outro ângulo de análise, a indústria transformadora nacional igualmente
aparece a liderar o processo de transformações dinâmicas em termos de produtividade
103
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
bruta aparente do trabalho (uma grosseira aproximação ao índice de variação da
produtividade total dos factores).
COMPORTAMENTO DA PRODUTIVIDADE BRUTA APARENTE DO TRABALHO
(os valores estão expressos em dólares americanos)
2005
2007
2008
2009
Agricultura, pecuária, florestas e pescas
549,0
893,0
1258,9
1355,1
Indústria Transformadora
38141,1
78769,7
133094,7
106003,3
Serviços
29501,8
36370,2
38871,5
33983,0
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC, com base em informações retiradas dos Relatórios de
Balanço dos Programas do Governo de 2007, 2008 e 2009.
A indústria transformadora é o cerne dum processo de diversificação económica
estrutural sustentado. As razões são fáceis de enumerar:
•
•
•
•
•
•
A industrialização das economias é um fenómeno ligado ao
desenvolvimento económico, não havendo economias avançadas sem
um sector transformador forte, dinâmico e de elevado valor agregado
interno.
A industrialização é, muitas vezes, vista como potenciadora da
geração de emprego. Entre nós, o desenvolvimento da agricultura, no
sentido moderno do termo, vai ter de passar pela libertação de
quantidades elevadas de mão-de-obra, que deverão ser absorvidas
pelas actividades manufactureiras, numa primeira fase, e de serviços,
num segundo momento, quando a qualificação dessa força de
trabalho for compatível com os processos tecnológicos usados nestes
sectores de ponta.
A industrialização é o caminho mais seguro para se reduzir a
dependência externa e a concentração das exportações. É deste modo
que se consegue estabilizar os rendimentos externos provenientes da
participação no comércio internacional.
A industrialização é um poderoso factor de crescimento,
modernização e desenvolvimento da agricultura, envolvendo-a num
processo de integração económica interna valorizador dos recursos
naturais do país.
Dados os baixos níveis de produtividade do trabalho em todos os
sectores de actividade, a industrialização contribui para os elevar,
através da sua maior eficiência económica.
Finalmente, a industrialização é o processo que sustenta as mudanças
económicas e sociais associadas à saída dos estádios mais primários
de desenvolvimento.
A indústria transformadora, dada a posição que ocupa nos tecidos económicos,
desencadeia efeitos a montante e efeitos a jusante de arrastamento de outras actividades
104
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
produtivas e de serviços. Para que o sector manufactureiro, em geral, e os
correspondentes ramos de actividade, em particular, sejam o motor da diversificação da
economia, as relações a montante devem ser mais numerosas do que as desencadeadas
por outros sectores de actividade.
As relações a jusante referem-se à capacidade da indústria transformadora
induzir o crescimento dos sectores aos quais fornece as mercadorias de que necessitam
para a sua actividade.
Que ramos industriais devem ser envolvidos no processo de industrialização
com diversificação da economia? A selecção pode socorrer-se de vários critérios, dos
quais os efeitos a montante e a jusante são dos mais usados.
Estudos internacionais apontam para a seguinte classificação.
ACTIVIDADES DE ELEVADA CONTRIBUIÇÃO PARA A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA
RAMOS DE ACTIVIDADE
Índice de ligação a
jusante
Índice de ligação a
montante
Indústrias de couro
0,645
2,39
Metais de base
0,98
2,36
Vestuário
0,025
2,32
Indústria têxtil
0,59
2,24
Produtos alimentares e bebidas
0,272
2,22
Papel
0,788
2,17
Produtos químicos e de refinação do petróleo
0,599
2,13
Produtos metálicos e maquinaria
0,43
2,12
Madeira e mobiliário
0,582
2,07
Construção
0,093
2,04
Tipografia e impressão
0,508
1,98
Outros produtos manufacturados
0,362
1,94
Indústria da borracha
0,453
1,93
105
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
0,87
Minerais não metálicos
1,83
FONTE: Économie du Développement, Dwight Perkins, Steven Radelet et David Lindauer, 2006.
Verifica-se que são os efeitos a montante – directos e indirectos – os que melhor
indicam os caminhos da diversificação da estrutura económica. Do conjunto de ramos
de actividade indicados no quadro, destacam-se as indústrias ligeiras (têxteis, vestuário,
calçado e produtos alimentares) como as melhor habilitadas para contribuírem para um
processo sustentado de industrialização e diversificação económica.
Outro aspecto relevante para a reflexão sobre a diversificação da economia
angolana prende-se com os investimentos necessários para alterar o peso relativo dos
diferentes sectores de actividade no Produto Interno Bruto. De acordo com as
experiências de outros países, das quais República da Coreia, Taiwan, Malásia, China,
África do Sul, Maurícias são das mais assinaladas, a diversificação da economia foi um
processo longo, exigindo cerca de 30 anos para mudar o peso relativo dos diferentes
sectores de actividade, tendo apelado para a existência de condições propícias, como
infraestruturas físicas, capital humano, estabilidade económica e política e abertura
económica (fonte de eficiência e competitividade).
Os pressupostos admitidos para o cálculo do esforço de investimento necessário
para colocar num rumo definitivo a diversificação da economia angolana são:
•
•
•
•
•
Taxa real média anual de crescimento do PIB de 9,5%.
Período de 17 anos (2008 - 2025).
Coeficiente de capital da ordem dos 2,4 (com parcelares de 1,85 para
a agricultura, 2,75 para a indústria transformadora, 1,75 para os
serviços e 3,5 para a actividade de extracção de petróleo).
Taxa média anual de inflação de 3,5%.
Estrutura económica em 2025 caracterizada por uma economia
industrial em transição para uma economia de serviços: agricultura =
12,5% do PIB; indústria transformadora (com materiais de
construção) = 20% do PIB; serviços = 30% do PIB, petróleo = 31,5%
do PIB e Estado = 6% do PIB.
Os resultados deste exercício estão resumidos a seguir.
ESFORÇO DE INVESTIMENTO PARA A DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA
(valores em milhões de dólares correntes)
SECTORES
Investimento total
Média anual
Taxa de investimento
média anual (%)
1504882,1
88522,5
28,2
150992,5
8881,9
25,7
12,2
375501,5
22088,3
47,5
16,8
Total economia
Taxa real anual de
crescimento PIB(%)
9,5
Agricultura
Transformadora
106
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Serviços
330643,4
19449,6
21,1
9,9
610002,1
35882,5
30,1
5,7
Petróleo
Conclusões quanto ao esforço subjacente à construção duma economia
industrializada em transição para uma economia de serviços:
•
O PIB nominal atingiria, em 2025, a cifra de 711,8 mil milhões de
dólares, equivalente a cerca de 400 mil milhões de dólares a preços
de 2008.
•
O investimento acumulado em 17 anos para os sectores protagonistas
da diversificação da economia (agricultura, transformadora, serviços
mercantis e petróleo) é de aproximadamente 1504,9 mil milhões de
dólares, que corresponde a um parcial anual médio de 88,5 mil
milhões de dólares.
•
A taxa anual média de investimento no período aproxima-se dos
30%, com destaque para a indústria transformadora, em que o
respectivo valor ronda 48%. São taxas de investimento muito
elevadas que exigem: poupança interna adequada (das famílias, das
empresas e do Estado, um activo mercado de capitais, hábitos
enraizados de poupança, aspectos actualmente ausentes na proporção
exigida pelo esforço de industrialização e diversificação; capacidade
de financiamento externo (rating, risco-país, investimento estrangeiro
– que tem de ser estruturante, capaz de adensar a malha de relações
intersectoriais da economia, gerador de inovação, gestão estratégica e
competitividade – empréstimos externos, fazendo todo o sentido o
aprofundamento das relações com o Fundo Monetário Internacional).
As dinâmicas de crescimento estão retratadas na última coluna, de
onde se destaca a correspondente à indústria transformadora, a rondar
os 17% anuais.
O valor do rendimento nacional bruto por habitante em 2025, nas
condições de crescimento com diversificação, situar-se-ia em 35000
dólares americanos.
•
•
Só para se ter uma ideia quanto ao significado dos valores anteriores, o total do
investimento realizado em 2008 foi de cerca de 30 mil milhões de dólares, com um peso
preponderante dos investimentos petrolíferos (56%) e dos investimentos públicos na
reconstrução de infraestruturas (39,7%). Ou seja, os investimentos privados nos sectores
estruturantes da diversificação representaram apenas 10% do total. Acrescente-se, ainda,
que o investimento público em infraestruturas económicas poderá diminuir de
intensidade, a partir do momento em que o essencial da sua reabilitação/modernização
107
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
estiver concluído e que a sua sustentabilidade continuará dependente das receitas do
petróleo e da capacidade de endividamento interno e externo da economia.
EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO
(milhões de dólares)
INDICADORES
Investimento público
Investimento privado
Investimento total
2002
274,1
3077,6
3351,7
2003
281,3
4996,7
5278,0
2004
868,4
6045,0
8897,8
2005
1531,4
8029,4
9560,8
2006
5403,0
11385,5
16788,5
2007
7146,1
11647,0
18793,1
2008
11901,3
18984,7
30886,0
2009
2979,3
12189,9
15169,2
FONTE: UCAN/CEIC – Relatório Económico 2008. Governo de Angola, Relatórios de Execução dos Planos
Nacionais.
5.3.2.- A macroeconomia da diversificação
Uma estratégia de diversificação da economia é exigente em relação ao
comportamento e controlo de determinadas variáveis macroeconómicas. A abertura da
economia, necessária a uma maior participação no comércio internacional de produtos
transformados, coloca determinados desafios relativos aos índices de competitividade da
economia e dos sectores que produzem bens transaccionáveis. Por isso, certos aspectos
relacionados com as taxas de câmbio, a inflação, o défice fiscal, as reservas
internacionais e a dívida externa são cruciais para se diversificarem as exportações,
atrair investimento privado, nomeadamente estrangeiro, e melhorar a competitividade.
A questão cambial em Angola foi, desde sempre, um dos seus bloqueios
estruturais. Foram necessários 17 anos para se compreender que a taxa de câmbio era
um instrumento de política económica e, por isso, deveria ser manipulada consoante as
exigências da situação económica. Depois de 2000, as autoridades monetárias angolanas
encetaram um processo sustentado de regularização do mercado cambial que culminou
na desvalorização da moeda nacional, na quase eliminação do spread entre paralelo e
oficial e numa relativa liberalização do acesso às divisas. Ainda assim, persiste uma
diferença entre taxa de câmbio de equilíbrio e taxa de câmbio efectiva, sugerindo haver
margem para proceder a desvalorizações que poderiam proporcionar uma deslocação
dos investimentos para os sectores exportadores não minerais.
108
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Porém, havendo, da parte do Governo angolano, a intenção de controlar a
inflação interna – uma das condições de resguardo dos rendimentos mais débeis e
voláteis da maioria da população que é pobre –, a desvalorização da moeda nacional,
enquanto medida de incentivo à diversificação das exportações, encontra resistência na
possibilidade de elevação dos preços internos, tal é o grau de dependência externa de
produtos acabados e semi-acabados. Daí que a política anti-inflacionista – que, do
mesmo modo, tem repercussões sobre a competitividade dos transaccionáveis angolanos
– tenha de seguir uma estratégia de remoção dos obstáculos estruturais que impendem
sobre os mecanismos de formação dos preços internos, tais como, infraestruturas de
produção, distribuição e importação, aumento da concorrência, redução das
imperfeições dos mercados (estruturas monopolistas e oligopolistas), facilitação
burocrática, eliminação de custos administrativos sobre os empreendimentos privados,
etc.
Outros aspectos igualmente relacionados com a diversificação da economia
nacional são o défice fiscal e o saldo da balança corrente, dois indicadores importantes
para as agências internacionais de rating. Graças ao excelente comportamento do preço
do petróleo, Angola tem podido limitar o défice fiscal – tornando-a até positivo em
determinados anos do processo de reconstrução económica – sem prejudicar os
investimentos públicos e obter ganhos significativos na balança corrente, que
permitiram atingir, em Novembro de 2008, um stock de reservas internacionais líquidas
de 20 mil milhões de dólares (2006 foi o ano em que o saldo corrente da conta externa
atingiu um recorde absoluto, tendo representado 35,6% do PIB).
109
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: MINFIN
Outros indicadores macroeconómicos que influenciam a estratégia de
diversificação da economia nacional são a dívida externa e a capacidade de crédito
interno.
A dívida externa angolana é essencialmente pública, pelo que os excedentes
orçamentais obtidos entre 2004 e 2008 – com um pico em 2007, equivalente a 11,4% do
PIB – permitiram uma consolidação na redução dos compromissos perante o exterior e
que se tem expressado numa queda sistemática do seu peso relativo (27,1% em finais de
2008).
INDICADORES DIVERSOS
(valores em milhões de dólares)
INDICADORES
Dívida Pública Externa
Dívida Pública
Externa/PIB(%)
Reservas Internacionais
Líquidas
Meses de importações
Importações FOB
Meses importações FOB
Taxa crédito à economia (%)
2002
7695,4
2003
8270,1
2004
9000,2
2005
10222,4
2006
15115,3
2007
19876,6
2008
22765,4
2009
15080,3
68,7
61,2
48,6
33,8
31,5
32,8
27,1
21,5
432,5
0,73
623,3
0,85
5480,3
1,4
1,8
1358,4
1,53
5831,8
2,8
2,0
3189,4
2,53
9227,3
4,1
2,6
8587,5
6,33
10770,2
9,6
4,2
11323,9
5,54
11702,6
11,6
10,6
18012,0
4,54
18561,9
11,3
13,6
12422,2
3,67
22401,7
7,1
21,3
1,4
1,0
FONTE: Cálculos efectuados a partir das estatísticas do BNA e do Ministério do Planeamento.
110
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
5.3.3.- As condições para a industrialização (e consequente diversificação da economia)
As restrições a um rápido, intensivo e extensivo crescimento industrial
apresentam outros contornos.
A actividade industrial caracteriza-se por altos coeficientes capital/trabalho, que
determinam valores elevados para o investimento e disponibilidade consentânea de
poupança interna e capacidade empresarial estratégica para a sua gestão. Este aspecto
ajuda a perceber porque o sector industrial é cada vez menos gerador de emprego
líquido, em todos os países, mas com consequências dramáticas naqueles que
patenteiam elevadas taxas de desemprego – também provocadas pelo elevado
crescimento demográfico - e de pobreza.
A crescente complexidade das técnicas e tecnologias de produção industrial,
passou a exigir perfis da mão-de-obra industrial e de gestão empresarial estratégica e
táctica de elevado gabarito, indisponíveis na maior parte dos países africanos, cujo
atraso na criação do capital humano os coloca na cauda do pelotão do desenvolvimento
humano mundial.
A actual divisão internacional do trabalho exerce um efeito profundamente
desfavorável sobre as industrializações retardadas dos países em desenvolvimento. A
marginalização da África do comércio internacional tem-se agravado, representando,
actualmente, as exportações e importações da África subsariana não mais do que 3,5%
do total das exportações e importações mundiais. A deslocalização industrial do centro
capitalista e desenvolvido para as periferias atrasadas e subdesenvolvidas tem sido feita
em grande benefício das chamadas economias emergentes não africanas, de onde se
destacam a China, a Índia, a Rússia e a Coreia do Sul.
A penetração nos mercados mundiais é dificultada pela evidente falta de
competitividade estrutural dos produtos africanos, agravada pelas políticas neoproteccionistas dos países capitalistas desenvolvidos, através de tarifas, subsídios e
critérios não tarifários.
Portanto, são vários os escolhos a ultrapassar para se criarem as melhores e mais
favoráveis condições para uma industrialização e diversificação sustentáveis da
economia.
A elaboração dum modelo de industrialização consequente deve começar, pois,
por uma avaliação lúcida das condições disponíveis e dos seus limites.
Costumam ser elencadas cinco condições para a industrialização dos países que
ainda a não possuem.
A primeira condição – talvez relativamente necessária ou facilitadora ou
coadjuvante, mas, com certeza, nunca suficiente, em particular por tudo o que se
escreveu e escreve acerca da maldição dos recursos naturais, mormente os de natureza
mineral e com destaque para o petróleo - é, claro, a disponibilidade de recursos
111
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
naturais. Esta condição está directamente relacionada com a natureza específica da
indústria transformadora, que consiste na fabricação de artigos a partir de matériasprimas naturais ou artificiais. Assim, a abundância destes recursos naturais funciona
como um estímulo para os empresários criarem indústrias de transformação. Nem
sempre, porém, a disponibilidade de recursos naturais facilita, imediata e directamente,
a industrialização dos países. Dependendo da natureza desses recursos naturais, os
investimentos necessários para a sua exploração industrial rentável podem, por vezes,
ultrapassar a capacidade interna de financiamento, exigindo a intervenção de poupanças
externas mais interessadas na exportação em bruto do que transformada. Em relação a
outros tipos de matérias-primas de origem não mineral, a sua industrialização interna
depende, muitas vezes, da dimensão dos mercados nacionais, via de regra, relativamente
pequena para construir uma competitividade baseada nas economias de escala. Acresce
que, em alguns casos, o acesso aos mercados externos depende menos da
competitividade dos produtos do que das políticas seguidas pelos grandes países
industrializados e dos comportamentos oligopolistas das grandes corporações
industriais. Daí que as indústrias exportadoras tenham de ser objecto dum tratamento
cuidadoso tendente a ultrapassar alguns dos obstáculos que podem defrontar nos
mercados internacionais. Por exemplo, o estabelecimento de acordos de exportação de
longo prazo pode ajudar essas indústrias a diminuir as resistências dos mercados
externos, a aumentar a produção e a diminuir os custos. A iniciativa AGOA dos Estados
Unidos pode ser uma oportunidade para a industrialização de alguns produtos africanos,
bem assim como diligências semelhantes da União Europeia e do Japão.
O segundo problema da indústria exportadora expressa-se na integração vertical
das respectivas actividades, ou, numa linguagem moderna, nas fileiras produtivas. A
melhoria da sua competitividade externa pode estar relacionada com a escolha correcta
das fases dessa fileira nas quais o país se deve especializar.
A segunda condição é a disponibilidade de recursos humanos. Trata-se dum
aspecto importante e sensível e que se projecta num contexto mais enquadrador e vasto,
equivalente a avaliar a influência da organização social e política sobre o funcionamento
da economia e a estudar a estratificação social, a demografia e os arquétipos culturais.
Trata-se, no fundo, duma análise global das instituições. A industrialização está
fortemente ligada à modernidade, às inovações tecnológicas, aos avanços científicos e
às reformas estruturais, pelo que a transformação social interna é um quesito muito
facilitador do processo de transformação nacional das matérias-primas. Resta avaliar e
compreender por onde este processo de transformação social e de modernidade começa
e até onde a própria industrialização actua como um factor de aceleração das mudanças
culturais. O estudo, a análise e a avaliação dos recursos humanos nos países em
desenvolvimento apresentam três eixos de incidência:
•
Desequilíbrios estruturais na distribuição da mão-de-obra por especialidades
profissionais: normalmente ocorre uma sobre-disponibilidade de mão-de112
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
•
•
CEIC/UCAN
obra não qualificada e de certas profissões, como as de Direito e de Letras,
uma penúria de força de trabalho altamente qualificada, de engenheiros,
técnicos, biólogos, gestores, informáticos, etc., e uma quantidade restrita de
qualificações intermédias.
Processos de urbanização sem industrialização suficiente, devida ao êxodo
rural de trabalhadores desejosos de deixarem as condições de vida
miseráveis em troca da miragem dum emprego nas cidades.
Estratificação social muito diferente da que prevaleceu na Europa e nos
Estados Unidos nas diferentes revoluções industriais, caracterizada pela
coexistência dum número relativamente restrito de trabalhadores industriais
qualificados com uma população rural numerosa e pobre, assim como com
assalariados privados dum emprego estável no sector moderno da economia.
Portanto, duma maneira geral, a situação dos recursos humanos impõe restrições
severas à industrialização.
A terceira condição relaciona-se com os recursos técnicos e a capacidade
tecnológica das economias em desenvolvimento. Se a industrialização é, por definição,
modernidade e inovação tecnológica, produtividade e competitividade, resulta que a
inexistência ou a fraqueza dos recursos técnicos e da capacidade tecnológica equivale a
um forte e intransponível obstáculo à sua realização. As experiências de utilização das
técnicas e tecnologias dos países industrializados não têm sido positivas, dada a
sistemática ausência de processos de adaptação criativa aos meios envolventes dos
países não industrializados. Na falta de estruturas nacionais de ciência e tecnologia, as
pesquisas locais são fracas e sem originalidade, conduzindo, no geral, a técnicas de
produção pouco rentáveis. Assim, nestes contextos, podem ser correctas as opções que
se centrem na melhoria das técnicas tradicionais de produção.
Como quarta condição para a industrialização das economias mais atrasadas
identificam-se os mercados. A dimensão dos mercados é um elemento primordial para
a decisão de implantação de actividades transformadoras, em qualquer país, mas mais
acentuadamente nas economias atrasadas, onde os ambientes macroeconómicos e a
corrupção aumentam o risco do investimento. A dimensão dos mercados está
relacionada com as indivisibilidades e as economias de escala que determinado tipo de
indústrias transformadoras exige como condição de optimização (são os casos da
siderurgia, da petroquímica e da indústria automóvel, não sendo, por consequência, de
estranhar que estas actividades se encontrem viradas para o mercado internacional,
teoricamente de dimensão ilimitada e estejam preferentemente localizadas nas
economias mais desenvolvidas, cujo modelo de inserção externa é baseado no livrecâmbio). Existem, no entanto, outras indústrias transformadoras mais condescendentes
neste critério – e, assim, a dimensão mínima de produção economicamente rentável é
menos exigente – o que, de certo modo, protege as indústrias locais dos países onde os
custos de transporte são elevados. A dimensão do mercado é, aproximadamente, função
da população total, do rendimento médio por habitante e da distribuição do rendimento.
113
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Este último atributo da dimensão dos mercados é, particularmente, importante nas
sociedades mais atrasadas, onde se verifica uma excessiva concentração do rendimento.
Uma distribuição mais equilibrada do rendimento confere maior possibilidade de
instalação à indústria transformadora, porque o leque de produção é mais variado e com
uma procura final economicamente relevante. Onde a concentração do rendimento for
acentuada, o leque possível de produtos industriais limita-se à gama de bens de luxo e
bens de consumo de massa (de baixa qualidade, de reduzida incorporação de tecnologia
e trabalho especializado). Pelo contrário, com mais classes de rendimento, outros tipos
de produtos têm viabilidade económica. Os mercados internos não esgotam a
problemática da sua dimensão económica. Se a sua dimensão não propicia rentabilidade
suficiente às novas indústrias, há sempre a possibilidade do mercado externo. Trata-se,
no entanto, dum mercado muito mais exigente em determinados atributos, como preço,
cumprimento de prazos de entrega, qualidade e produtividade. Se é verdade que em
relação ao preço uma maior competitividade (aparente) pode ser conseguida pelos
subsídios à exportação (proibidos pela OMC em determinadas circunstâncias), já no
concernente aos restantes atributos a capacidade concorrencial depende da organização
industrial interna (capital social) e da natureza da política industrial. Convém, no
entanto, ter presente que as indústrias podem ser agrupadas em dois conjuntos: as
indústrias determinadas pela oferta, cujas taxas de crescimento são determinadas pela
importância dos recursos naturais ou pelos perfis técnicos e institucionais, e as
indústrias determinadas pela procura, em que a produção pode aumentar à medida
que os mercados se desenvolvam. Porém, logo que a taxa de crescimento atinja um
certo valor, todas as indústrias são determinadas pela oferta.
Enquanto quinta condição, enumera-se a capacidade de importar. Esta
capacidade de importação é fundamental para o desenvolvimento industrial, na medida
em que pode colmatar algumas das falhas da oferta interna em termos de matériasprimas, bens intermédios, bens de equipamento, “know-how” e mão-de-obra
qualificada. As reservas internacionais líquidas têm a função – para, além,
evidentemente, de diminuírem o risco-país, darem maior confiança aos investidores e
financiadores externos e elevarem a credibilidade dos países – servem, exactamente
para promoverem e financiarem a industrialização e a diversificação da economia.
Verifica-se, assim, que este processo é longo e rigoroso em condições e
facilidades, elas próprias a exigirem, igualmente, tempo para se criarem e afirmarem.
5.3.4.- Conclusões
Do ponto de vista nacional, a preocupação essencial prende-se com o tempo
requerido para se promover uma diversificação económica sustentável e os respectivos
custos financeiros, necessariamente dependentes das receitas do petróleo (os
empréstimos externos acabarão por estar sempre relacionados com as nossas
114
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
disponibilidades de petróleo, só deixando de ser assim quando a diversificação for
irreversível e a força da economia não mineral a mais determinante do crescimento e do
desenvolvimento nacional). E quando se fala em tempo, pensa-se na duração provável
das nossas reservas petrolíferas. Ou seja, no peak oil angolano.
Utilizando a definição clássica de ponto de inversão do aumento da produção de
petróleo – correspondente à data a partir da qual a produção declinará progressivamente
e assimilado à extracção de metade das reservas comprovadas ou prováveis – cheguei a
quatro alternativas para o peak oil angolano. As hipóteses de trabalho são: produção de
2 milhões de barris por dia e reservas de 9 mil milhões de barris (BP, Junho de 2009),
13,5 mil milhões de barris (são as reservas oficialmente admitidas como correctas pelo
Governo), 19 mil milhões de barris (WTI, 2008) e 24,5 mil milhões de barris, ao
admitirem-se correcções dinâmicas derivadas do progresso tecnológico capaz de ir
buscar petróleo a profundidades cada vez maiores e de outros tipos de óleo (areias
asfálticas, óleo pesado, xistos betuminosos, etc.).
Assim, o ponto máximo da produção petrolífera nacional poderá ocorrer ou já
em 2015 (dentro de pouco mais de cinco anos), ou em 2018, ou em 2022, ou,
finalmente, em 2025 (mais 15 anos a contar de 2010). Estas estimativas são consistentes
com as que costumam ser feitas a nível das reservas mundiais.
De facto, os cálculos mais pessimistas sobre o peak oil mundial apontam para a
sua ocorrência entre 2010 e 2020 (correspondentes a reservas entre 2000 e 3000 biliões
de barris), enquanto as previsões mais optimistas estabelecem o ponto de declínio da
produção mundial somente depois de 2030. Vale a pena, no entanto, sublinhar que,
actualmente, por cada barril de petróleo descoberto, três são consumidos.
Compulsando estatísticas internacionais e verificando estudos sobre processos
de diversificação da economia, conclui-se que a maior parte das economias que
deixaram de pertencer ao grupo das menos desenvolvidas precisaram de mais de 30
anos para consolidarem os seus processos de diversificação das estruturas produtivas
nacionais. Se atentarmos nos anos que nos separam do peak oil, conclui-se que outras
fontes de financiamento do crescimento e da diversificação têm de ser encontradas,
mesmo sabendo-se que o ponto de break da produção não significa esgotamento das
receitas petrolíferas.
Na verdade, as projecções das receitas petrolíferas brutas feitas pelo Banco
Mundial31 e justamente baseadas na ocorrência do peak oil em Angola, apontam para
um máximo de 226698 milhões de dólares no quinquénio 2010-2014 (para um preço
médio do barril de petróleo de 60 dólares), momento a partir do qual se registará uma
31
Angola, Memorando Económico do País – Petróleo, Crescimento Alargado e Equidade, Outubro de
2006.
115
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
quebra acentuada, até cerca de 17 mil milhões de dólares em 2025. Ou seja, para o
Banco Mundial o ponto de produção petrolífera máxima em Angola poderá ocorrer
entre 2010 e 2014.
Evidentemente que as receitas fiscais oriundas da exportação e extracção de
petróleo se reduzirão na mesma percentagem. Assim, entre 2010 e 2014, no melhor
cenário, as receitas do Estado situar-se-ão, anualmente, em cerca de 35 mil milhões de
dólares.
Dir-se-á que são apenas cenários. Claro que sim. Mas têm a vantagem de
assinalar a probabilidade da ocorrência de factos determinantes para a sustentabilidade
do crescimento económico de Angola e que alicerçam a ideia de que o reforço da
economia não mineral e o processo de musculação da sua estrutura produtiva têm de ser
dramaticamente dinamizados e acelerados.
5.3.5.- Os indicadores da diversificação
A vulnerabilidade do nosso país deve-se a duas ordens de razões: a excessiva
concentração da actividade produtiva no petróleo e diamantes e a falta de
competitividade geral da economia.
É insuficiente avaliar o processo de diversificação da economia pelo viés do
peso do PIB petrolífero na actividade económica global. Este indicador é muito atreito
às variações do mercado petrolífero internacional, pelo que as correspondentes
variações podem não corresponder a alterações estruturais internas.
Por exemplo, em 1998 o peso relativo da actividade petrolífera foi de apenas
37,8%, explicado pela dramática queda do preço do barril de petróleo (12,1 dólares).
Em 2002, este mesmo indicador assumiu a cifra de 49,5%, para um preço médio do
barril de petróleo de 20 dólares32.
As conclusões não se alteram, significativamente, se as observações forem feitas
em valores constantes. Na verdade, o rácio em análise já se situou em redor dos 43%
(média entre 1997 e 2002), sem que se pudesse concluir estar-se na via da diversificação
da economia nacional33.
Outro ângulo de análise que recoloca em questão a validade do peso relativo da
actividade petrolífera como indicador de diversificação é dado pelo índice da sua
contribuição para o crescimento económico. Numa perspectiva de diversificação o seu
valor deve tendencialmente diminuir, para se dar espaço a outros sectores. Em 2002, a
contribuição do VAB petrolífero para o crescimento global de 15,5% foi de 79,8%,
enquanto em 2000 não foi além 6,7% (para uma taxa de crescimento do PIB de 3,6%).
32
33
Ministério do Planeamento – Economia Angolana em 2002, Março de 2003.
Ministério do Planeamento – Economia Angolana em 2002, Março de 2003.
116
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Recuando-se no tempo, as conclusões são semelhantes. Por exemplo, em 1997 foi de
27,7%, em 1998 de 28,4% e em 1999 de 16,3%. Ou seja, entre 1997 e 2001 a
contribuição essencial para o crescimento global da economia foi do sector não
petrolífero, sendo, porém, inválida a conclusão de que se esteve num processo de
diversificação da economia.
A tabela seguinte mostra os valores de quatro indicadores que, usualmente, se
utilizam para medir o grau de diversificação das economias34. Qualquer um deles
mostra um índice muito baixo de diversificação da actividade produtiva do país, razão
pela qual o seu grau de exposição a choques externos é muito maior, sem que, na maior
parte das vezes, a política económica nacional consiga contrariar os seus efeitos
negativos.
INDICADORES DE DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA ANGOLANA
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
0,528
0,529
0,528
0,523
0,527
0,522
0,520
0,523
0,511
0,540
0,600
0,363
0,313
0,938
1,615
1,510
0,319
0,771
0,910
0,897
1,374
1,457
1,392
0,714
0,419
0,870
0,681
0,489
0,513
0,456
0,481
0,529
0,522
0,523
0,542
0,362
ÍDIEC
ITEI
ITEE
ICAE
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
NOTAS: ITEI – Índice de transformação da estrutura industrial. ITEE – Índice de transformação da estrutura
económica. ICAE – Índice de concentração da actividade económica. IDIEC – Índice de diversificação da economia.
Constata-se que, na generalidade, a estrutura económica e o tecido industrial da
nossa economia ainda apresentam um elevado grau de concentração e uma diminuta
tendência de diversificação das actividades. Na verdade, passada quase uma década do
século XXI, não é possível descortinar uma linha tendencial de diversificação
sustentada, que se deveria traduzir num comportamento estatístico dos indicadores de
acordo com o que a Teoria Económica postula. As oscilações na variação anual dos
valores dos quatro indicadores de diversificação seleccionados são reflexo dos
diferentes estrangulamentos e imponderabilidades que pesam sobre a organização do
crescimento económico do país.
34
O índice de Hirschmann, usualmente utilizado para medir o grau de concentração das exportações dum
país foi adaptado para medir o nível de concentração da actividade económica em Angola. O índice de
diversificação da estrutura económica foi calculado – de resto, como o anterior, tendo em atenção as 182
actividades identificadas na CTCI – sobre as actividades de extracção mineral. Os restantes índices
comparam, no tempo, as transformações ocorridas e foram calculados com base na estrutura económica e
na estrutura industrial do país.
117
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Por exemplo, o IDIEC – cujos valores variam entre zero e a unidade,
significando este limite uma diversificação mínima da economia – apesar duma
evolução no sentido esperado, apresenta valores que colocam a economia nacional
numa escala intermédia-baixa de diversificação.
O ICAE – com variações entre zero e a unidade, traduzindo este limite uma
concentração máxima da actividade económica – denota que as actividades mineiras de
extracção em bruto contribuem para um elevado grau de concentração da actividade
económica da nossa economia.
O ITEE apresentou um valor máximo, dentro do período em análise, em 2004,
para depois se deteriorar até 2009. Os valores de variação atribuíveis a este indicador
não têm limites inferiores, valendo por afirmar que quanto mais elevados os respectivos
valores, melhor. A evolução positiva até 2004 pode ser explicada pelas débeis condições
de partida depois de obtida a paz.
Finalmente, o ITEI – um indicador específico da indústria transformadora –
comprova o que na realidade se tem vindo a observar: depois de 2002, a estrutura
manufactureira tem estado sujeita a um movimento positivo de diversificação interna da
sua actividade, muito bom para a densificação da malha de relações interindustrias e
intersectoriais. No entanto, comprovando-se o que se afirmou atrás sobre a volatilidade
no comportamento da tendência de diversificação da economia nacional, em 2008 e
2009 o valor deste índice deteriorou-se.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Naturalmente, que estes indicadores têm os seus limites na interpretação dos
fenómenos que pretendem explicar. Por exemplo, o ITEI supõe haver uma tendência
unívoca na evolução das estruturas industriais (sectores que tendencialmente perdem
118
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
peso, como alimentares, têxteis, bebidas, etc., e sectores que uniformemente ganham
importância relativa, como a electromecânica, as químicas, etc.), podendo, todavia,
assim não acontecer, embora seja pouco provável obterem-se valores elevados para este
indicador, sem que isso corresponda a uma tendência de modernização35.
O cerne da estratégia de diversificação da estrutura produtiva da economia
angolana é o da produção de bens transaccionáveis. Ainda que se desenvolva a
agricultura, a construção e certos serviços, se a especialização produtiva nacional
privilegiar os bens não transaccionáveis, Angola poderá acumular, futuramente, dívida
externa e défices na balança de transacções correntes.
A diversificação da economia angolana – um objectivo de longo prazo, para a
obtenção do qual se deve começar a trabalhar desde já – contribui para criar uma
blindagem aos choques financeiros e económicos externos, na medida em que:
•
Acresce o do stock das reservas internacionais líquidas.
•
Melhora o saldo da balança de transacções correntes.
•
Reduz o volume de dívida externa.
•
Ajuda a estabilizar o défice fiscal em níveis virtuosos para a
economia, podendo mesmo contribuir para a obtenção duma
poupança positiva do Estado.
•
Ajuda a estabilizar a inflação e melhorar o poder de compra dos
salários e outras remunerações dos factores de produção.
•
Dinamiza o sistema bancário interno.
A diversificação da economia nacional é exigente nos factores seguintes:
institucionalidade, transparência de governação e gestão de recursos financeiros, visão
de longo prazo, disponibilidade de recursos naturais – o chamado mito das riquezas
naturais parece que começa a deixar de o ser, pois é muito melhor tê-los, do que não
possuí-los, havendo, no entanto, a responsabilidade social e política de promover e
garantir uma aplicação socialmente justa e economicamente sustentável dos resultados
da sua exploração – existência de infraestruturas físicas de qualidade e de energia e água
em abundância (não podemos continuar a ser o país que mais geradores tem por
habitante no mundo, nem o crescimento industrial se compadece com as falhas
constantes e permanentes no fornecimento de electricidade), suficiente mão-de-obra
qualificada (cada vez mais a qualificação da força de trabalho vai ser exigente em
35
Um maior rigor de medição deste indicador obtém-se quando um país apresenta uma indústria
transformadora com uma gama muito grande de actividades de manufactura.
119
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
conhecimento, sendo previsível que dentro de 10 anos a chamada mão-de-obra
indiferenciada tenha de apresentar como qualificações mínimas o 10º ano de
escolaridade), taxa de investimento elevada, incentivos específicos à diversificação da
produção, abertura da economia à concorrência externa (especialização com base em
bens transaccionáveis), linhas de crédito internas, capacidade de inovação (descoberta
de produtos tropicais/tradicionais nos quais Angola apresente vantagens comparativas
claras), taxas de câmbio competitivas (aproveitando-se a circunstância de ainda não
haver moeda única africana ou sadciana), economias de escala no provimento de bens
públicos e índices elevados de produtividade.
O enorme défice de competitividade estrutural da economia angolana – comprase mais ao exterior do que se vende – só não é maior devido aos processos de
modernização dos sectores de enclave e do sistema bancário, puxados pelos
investimentos estrangeiros, normalmente mais portadores de futuro tecnológico e
organizacional.
A falta de competitividade está ligada a factores como o capital humano
nacional – a assistência técnica externa, ainda que necessária no imediato, é discutível
nas modalidades de que se reveste, assumindo, quase sempre a forma de assistência de
substituição, vai dificultar a valorização dos recursos humanos nacionais no longo
prazo, a não ser que se estabeleçam programas concretos de transferência de tecnologia
– a quantidade e qualidade das infraestruturas, o ambiente institucional (sistema
judicial, corrupção, burocracia) e os valores do empreendedorismo.
5.4.- Agricultura e Desenvolvimento Rural
O Governo angolano definiu para o período 2009-2013 como objectivo
geral para o sector agrário a promoção do seu desenvolvimento socioeconómico
integrado e sustentável, tendo em conta o potencial dos recursos naturais e a sua
competitividade, com maior geração de emprego e renda, de forma a garantir a
segurança alimentar, o abastecimento interno e o aproveitamento de oportunidades nos
mercados local, regional e internacional. Complementarmente, foram estabelecidos os
seguintes objectivos específicos:
•
•
•
Revitalizar e diversificar a economia agro-pecuária e florestal,
contribuindo para o combate à fome, à pobreza, para a segurança
alimentar e para a melhoria das condições de vida das famílias
camponesas;
Desenvolver capacidades institucionais de investimentos e de
recursos humanos da investigação e extensão agrárias para gerar,
adaptar e transferir tecnologias agrícolas, pecuárias e florestais;
Aumentar os fluxos de comércio, insumos e produtos alimentares
entre os centros rurais e as áreas urbanas e peri-urbanas;
120
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
•
•
CEIC/UCAN
Promover e implementar mecanismos de acesso ao crédito e outras
formas de finanças rurais públicas e privadas;
Dinamizar a economia rural, promovendo o sector camponês e o
sector empresarial privado agro-pecuário e florestal.
No final do período são esperados os resultados:
•
•
•
•
•
•
Produção, área cultivada e produtividade aumentadas para garantir a
segurança alimentar e nutricional;
Número de produtores comerciais aumentado;
Infra-estruturas agrárias recuperadas e construídas para viabilizar a
produção sustentável do sector;
Produção de cana-de-açúcar retomada para fins alimentares como
prioridade;
Recursos humanos capacitados para responder às demandas dos
utentes;
Novos empregos directos e indirectos criados.
De acordo com o Ministério da Agricultura, os desafios que se lhe
deparam em função do que é pedido ao sector têm o foco principal no aumento da
produtividade e da rentabilidade da actividade agrícola.
Apesar de se detectarem ainda algumas insuficiências – das quais a falta de
alusão à pobreza rural parece ser a mais relevante –, e incoerências – como a inclusão
do que poderiam ser consideradas como estratégias entre os objectivos específicos,
como o comércio e o crédito –, são claros os avanços em termos de conteúdo e
abordagem metodológica. Mais do que a explicitação de metas com números, a política
definida expressa que a produção deverá aumentar em função do incremento da área
cultivada e da produtividade. Trata-se de aspecto importante, na medida em que
direcciona correctamente as possíveis intervenções tanto no domínio público como no
privado. Decorrente disso, é a importância concedida ao aumento de produtores
comerciais – deduzindo-se que tal resultará fundamentalmente das mudanças que
poderão ocorrer com uma maior ligação das empresas familiares ao mercado –, à
capacitação dos recursos humanos e à criação de empregos. Se juntarmos a isso a
preocupação com o desenvolvimento institucional, torna-se mais límpido que a aposta
nas infra-estruturas deixa de ser encarada como a principal estratégia para a
implementação da política agrícola do país e passa a estar associada ao reforço de
capacidades.
Acontece, porém, como o CEIC vem reiteradamente assinalando, que as
estratégias de implementação das políticas são normalmente desviantes, principalmente
como resultado do estabelecimento de prioridades que não respeitam o alcance dos
objectivos previamente definidos. Na verdade, a falta de atenção aos agricultores
familiares – que representam mais de 99% do número de agricultores e quase 95% da
121
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
superfície cultivada, é preciso sempre recordar –, tanto do ponto de vista financeiro,
como organizacional e institucional, impede ou dificulta que os resultados possam ser
alcançados nos prazos estabelecidos, com eficácia, eficiência e sustentabilidade. Um
indicador da sustentação destas afirmações é o desconhecimento do ponto de partida
relativamente ao número de agricultores. Em termos de racionalidade económica não é
aconselhável projectar políticas, estratégias, programas e projectos sem se saber quantos
agricultores existem em Angola, como estão distribuídos pelo território e quais as
características dos seus empreendimentos. O CEIC alertou no Relatório de 2008 para o
facto de o Governo não estar a dar cumprimento a uma importante medida por si mesmo
definida para o biénio anterior, relacionada com as condições para a emergência e
desenvolvimento de um sector empresarial agrícola, que deve ter em conta, ainda
segundo o próprio Executivo, não apenas os chamados empresários formais, que, na sua
maioria, para além das limitações em matéria de gestão, não possuem experiência em
actividades agrícolas, mas também os agricultores familiares que revelem espírito
empreendedor, Além disso, o Governo deve rever os mecanismos de monitoria e
avaliação dos planos, programas e projectos de modo a permitir a recolha de lições que
possam melhorar todo o sistema de planeamento. O CEIC estará interessado em
participar em avaliações independentes que confiram transparência e credibilidade ao
processo.
As crises alimentar e financeira de 2008/2009 colocaram a agricultura angolana
na agenda política nacional a um nível jamais visto desde a independência, incluindo na
comunicação social. No início de 2009 o Governo proclamou, mais do que o desejo, a
imperiosidade de diversificação da economia de modo a torná-la menos dependente da
extracção de petróleo. Foi então criado (Fevereiro de 2009) um fundo para crédito
bancário aos agricultores no valor de 350 milhões de dólares, dos quais 200 milhões
para investimento e 150 milhões para a modalidade chamada de campanha (destinada à
aquisição de meios circulantes) como meio de promoção de “uma agricultura comercial,
competitiva e próspera capaz de gerar rendimentos com base em produtos
diferenciados”. Este facto gerou uma enorme expectativa entre os agricultores pela
possibilidade de usarem as verbas anunciadas no ano agrícola 2009-2010, mas até ao
fim de 2009 o regulamento do fundo não havia sido aprovado. Os efeitos da crise
podem explicar tal circunstância. Contudo, Angola deveria aprender as lições que
noutros países são retidas sobre a forma de lidar com este tipo de situações. Em tempo
de crise, o Brasil e o Vietname foram capazes de reduzir de modo assinalável a pobreza
rural, pela melhoria dos rendimentos devido à introdução no mercado dos produtos de
milhões de agricultores familiares. A falta de atenção a estes agricultores em Angola
está a ter consequências muito gravosas no combate à pobreza.
Como já havia acontecido em 2008, são evidentes as melhorias verificadas na
produção de dados estatísticos pelo Ministério da Agricultura. Contudo, ainda se
verificam algumas deficiências que podem explicar cifras de difícil entendimento. Uma
122
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
delas é a eterna problemática do número de produtores que será abordada adiante, e que
condiciona os resultados atingidos. Outra é a ausência de explicações para os aumentos
de produtividade. Com as deficiências que se conhecem em matéria de sementes, da
pobreza e acidez dos solos que se vão degradando cada vez mais, do nível de consumo
de fertilizantes e da sua qualidade, da falta de assistência técnica aos agricultores, da
baixa produtividade do trabalho, entre outras, como se justificam os crescentes níveis de
produtividade da maior parte das culturas, normalmente superiores aos obtidos há 40
anos atrás, quando as condições eram mais favoráveis, é forçoso reconhecer?
Evidências empíricas, muitas delas a partir de conversas com os agricultores, permitem
chegar a tais conclusões.
Aceitando os dados oficiais como legítimos, o CEIC não se coíbe, porém, de
manifestar as suas reservas sempre que a verdade científica o exigir e tiver argumentos
para tal. Neste sentido, fica a sugestão de que os resultados da produção agrícola de
2009 devem ser encarados com reservas e que estudos mais profundos, envolvendo
instituições independentes deveriam ter lugar para que as dúvidas fossem esclarecidas
ou para eventuais correcções.
5.4.1 - Evolução da estrutura agrária e das instituições de apoio
Como já foi assinalado atrás e em relatórios económicos dos anos
transactos, continua por resolver um dos problemas mais cruciais da agricultura
angolana. Em Angola não há informação credível sobre o número de agricultores
existentes, quer se trate de empresários formais, quer de agricultores familiares que
actuam na esfera do mundo informal, e por tal razão não estão registados nem pagam
impostos.
No Relatório Económico de 2007, à falta de informação, o CEIC calculou a
existência de três a quatro mil agricultores chamados empresariais que supostamente
poderiam estar registados nas instituições competentes, como as ligadas à Agricultura,
às Finanças e ao Emprego. O Ministério da Agricultura estima que em 2009 existiriam
8319 empresas agrícolas, mas não adianta como tal estimativa foi elaborada, nem se há
algum tipo de registo, nem refere a sua distribuição espacial (província ou município).
Tendo em conta a área indicada como cultivada pelo Ministério da Agricultura, que é
discutível como se verá adiante, as províncias de maior expressão empresarial são
Huíla, Kuanza Sul, Huambo e Benguela, todas elas com cifras totais superiores a 30 mil
hectares. As de menor expressão são Cunene, Cabinda, Kuando Kubango e Zaire, com
superfícies totais inferiores a cinco mil hectares, situando-se as restantes entre cinco mil
e 15 mil hectares, como se verá no gráfico apresentado em 5.4.2. Estes números, ainda
que possam estar sobrevalorizados, mostram o aumento do interesse pela actividade, e,
ao mesmo tempo, a já mencionada melhoria organizativa do sector e uma base
fundamental para avanços posteriores. Todavia, no período são de registar igualmente
123
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
alguns insucessos, que mostram a necessidade de maior atenção às políticas e
estratégias, incluindo os incentivos. Os casos mais notórios foram a falência do
empreendimento Terra Verde, em Cacuaco, e a desistência da multinacional Chiquita
que pretendia desenvolver a cultura da banana em Benguela. De notar, ainda, que o
facto de apenas 2% da totalidade do investimento privado ter sido canalizado para a
agricultura, segundo a ANIP - Agência Nacional de Investimento Privado, revela bem a
necessidade da referida atenção.
A análise de uma amostra de 48 empresas em três municípios do Kuanza Sul
mostra que 22,9 % delas não se encontravam registadas na respectiva Direcção
Provincial da Agricultura, 45,8% não estavam registadas na Direcção Provincial de
Finanças e 29,1% não tinham o imposto fundiário pago. Por outro lado, observações em
vários municípios do país indicam que as respectivas administrações procuram
“facilitar” a actividade dos empresários não levantando barreiras burocráticas, dada a
importância conferida à produção de bens e serviços e à criação de emprego, o que, na
prática, mostra a informalidade que se vive ainda no sector.
Em 2008 as empresas integravam 52205 trabalhadores contra 45131 em 2007.
No seu Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas em 2009, o
Ministério da Agricultura não forneceu dados concretos sobre o modo como evoluiu o
emprego em 2009, limitando-se a assinalar o número de postos de trabalho previstos
nos projectos financiados ou a financiar pelo BDA - Banco de Desenvolvimento
Angolano (1530) e nos projectos de investimento submetidos à ANIP (145803).
Acontece que a maior parte dos investimentos preconizados não foram concretizados,
como se deduz das preocupações manifestadas pelo Coordenador da Comissão de
Reestruturação da ANIP em entrevista ao jornal Expansão de 19 de Fevereiro de 2010,
de que o investimento privado na agricultura representou apenas 2% do investimento
total em Angola em 2009. Mas ainda que o fossem, a totalidade dos postos de trabalho
previstos não seriam preenchidos logo no primeiro ano de actividade. Estas
constatações confirmam as considerações sobre as cifras do emprego em 2009 tecidas
no capítulo referente à matéria. Uma consulta posterior à base de dados do Ministério da
Agricultura permitiu verificar que a mão-de-obra nas empresas atingiu em 2009 o
número de 63340 trabalhadores, conforme se pode constatar na tabela em anexo, muito
aquém dos 145803 que, seguramente por lapso, foram oficialmente divulgados.
As indefinições sobre o número de agricultores familiares e o correspondente
volume de mão-de-obra envolvida são ainda mais preocupantes. O Ministério da
Agricultura não divulgou em 2009 o número de agricultores familiares. Em 2008, o
número estimado e anunciado foi de 1,8 milhões de famílias, então considerado
exagerado pelo CEIC tendo em conta os resultados do registo eleitoral, únicas cifras
que, à falta de um censo populacional, permitem actualmente extrapolar dados
demográficos com algum rigor. A esse número de 2008 o Ministério da Agricultura faz
corresponder agora um quantitativo de mão-de-obra de cerca de 3,8 milhões de
124
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
mulheres e homens, com uma média de 2,1 pessoas por empresa, o que parece razoável.
Em 2009, a mão-de-obra familiar cresceu para cerca de 4,4 milhões, o que representa
mais de 15%, número que se afigura demasiado elevado se se tiver em conta que a taxa
de crescimento demográfico é inferior a 3% e que o fluxo de migração para as cidades
deve estar a aumentar. A partir dos dados da mão-de-obra e das áreas cultivadas, deduzse que o Ministério da Agricultura voltasse a estimar para 2009 um número de
agricultores familiares equivalente aos 2,2 milhões considerados em 2007.
O número de provedores de serviços privados ao sector agrícola continua a
aumentar a um ritmo bastante lento, facto que, como tem sido repetido, não facilita o
aprovisionamento de factores de produção, de assistência técnica e de outros serviços
por parte dos agricultores e o aumento da produção e da produtividade. Quando
existem, estão concentrados nas sedes das províncias, não chegando a 10% o número de
municípios onde um ou outro serviço possa ser disponibilizado, como a venda de
sementes e fertilizantes ou o aluguer de máquinas agrícolas. Depois da distribuição
considerável de “inputs” agrícolas (instrumentos, fertilizantes, máquinas, motobombas,
moinhos e outro equipamento), feita em 2008, houve uma redução drástica em 2009,
tanto pelo Estado como pelo sector privado. Projectos de grande envergadura, como o
da Fazenda Pungo Andongo, de capitais públicos, não tiveram sementes e fertilizantes à
disposição para realizarem as suas actividades na altura devida. O Programa de
Extensão Rural (PER), que havia beneficiado de mais de 30 milhões de dólares em
2008, teve à sua disposição apenas cerca de 10% dessa verba. O Governo havia
distribuído mais de 23 mil toneladas de fertilizantes em 2008, mas deixou de importar
em 2009, limitando-se o PER a adquirir aos importadores privados. Estima-se que o
consumo de adubos em 2009 tenha ficado abaixo das 30 mil toneladas de 2008 – o que
terá reflexos na produção de 2010, como o próprio Ministério da Agricultura reconhece
–, um indicador de que o desempenho da agricultura angolana é deficiente,
principalmente se se tiver em conta que, segundo a FAO, Angola deveria estar a
consumir mais de 400 mil toneladas por ano. A exemplo do que já havia acontecido no
ano anterior, novas empresas iniciaram a produção e/ou comercialização de sementes
locais, passo importante para se pôr fim à importação desse factor de produção, que
normalmente não corresponde às necessidades dos agricultores. A ausência de serviços
de finanças rurais, principalmente de bancos, e de provedores de serviços na área da
consultoria e assessoria a pequenos agricultores localizados próximos destes, nos
municípios, continua a penalizar os agricultores e deveria constituir preocupação
urgente das instituições competentes. As cooperativas de serviços, insiste-se, poderão
contribuir para se ultrapassarem as dificuldades neste domínio da prestação de serviços.
Mantêm-se actuais as reflexões produzidas no relatório de 2008 sobre
mecanização agrícola. A ausência de informação financeira não permite uma análise
global do problema, mas, considerando as cifras do Ministério da Agricultura, segundo
as quais as terras mecanizadas representam actualmente cerca de 6% das terras
125
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
cultivadas, é legítimo perguntar que impacto tem tal percentagem na produção e na
produtividade e na redução da pobreza. Perante as dificuldades que apresenta a empresa
pública de mecanização de fazer face aos desafios que explicam a sua baixa eficácia e
eficiência, uma das soluções sugeridas pelo Relatório de 2008 era o estabelecimento de
parcerias público-privadas que permitisse uma gestão mais adequada, a par da definição
de uma política de transformação gradual da agricultura angolana, que inclua um
modelo de mecanização condizente com o estado actual de organização e com as
capacidades institucionais e de recursos humanos, e preveja os níveis de intensificação,
o tipo de equipamento, a formação de técnicos e de operários especializados e o uso de
métodos modernos de planeamento estratégico e de gestão, incluindo a monitoria e a
avaliação. A criação de 41 pequenas empresas privadas na área de mecanização que
trabalham em cooperação com a Mecanagro, a aquisição de equipamentos por alguns
agricultores, cooperativas e associações e a constituição de brigadas de mecanização por
parte do BDA está a trazer alguma luz para a solução definitiva da questão. Contudo, a
forma como o BDA concebeu a aquisição das brigadas tem merecido alguma
contestação por parte dos empresários, que se queixam de limitações à sua liberdade de
tomada de decisões na escolha do tipo de equipamento.
A criação da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural (SEDER) gerou
expectativas para a inversão da tendência de reduzir os problemas dos habitantes rurais
aos do sector agrícola. Porém, a sua acção pouco se fez sentir. Tendo-lhe sido atribuída
uma responsabilidade acrescida na luta contra a pobreza rural, a SEDER mostrou
algumas dificuldades em entender o seu papel de actor transversal, principalmente de
coordenação das estratégias de intervenção e dos programas e projectos dos diferentes
sectores, de definição das metodologias dessas intervenções e de implementação de
programas de capacitação dirigidos aos múltiplos actores envolvidos em tais
intervenções, por exemplo, e caiu na tentação da intervenção sectorial com prioridade
para a construção de infra-estruturas. As dificuldades de coordenação com o Programa
de Promoção do Comércio Rural, uma ferramenta fundamental para a redução da
pobreza, e com a Estratégia de Desconcentração e Descentralização através da acção
dos Conselhos de Auscultação e Concertação Social foram duas das evidências deste
tipo de abordagem.
5.4.2- A produção agropecuária e florestal
O Ministério da Agricultura não revelou a sua estimativa sobre a área cultivada
na campanha 2007/2008. Em 2006/2007 falava-se de mais de três milhões de hectares
cultivados pelos então 2,2 milhões de agricultores familiares considerados e pelo ainda
muito incipiente sector empresarial. Em 2009, fruto das melhorias organizativas já
assinaladas, foi calculada uma área cultivada total de mais de 4,8 milhões de hectares,
dos quais apenas aproximadamente 280 mil estão afectos ao sector empresarial (5,8%).
126
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Os restantes 4,5 milhões, que correspondem a 94,2%, são teoricamente cultivados por
agricultores familiares. Pela primeira vez, as cifras destacam a área plantada com
fruteiras (cerca de 168 mil hectares), principalmente de abacate, ananás, manga,
maracujá, entre outras, cujas melhorias são evidentes, contribuindo para o aumento do
rendimento dos agricultores e para a viabilidade das empresas. A informação é omissa
relativamente às áreas de culturas permanentes, incluindo as de café, e de pastagens
cultivadas, pelo que não se pode inferir se estão contempladas no número apresentado,
mas deduz-se que as áreas de pastagens naturais estão excluídas dada a sua enorme
extensão.
ÁREA CULTIVADA NACIONAL POR PROVÍNCIA "ha"
18.253
Luanda
Zaire
Namibe
Bengo
Lunda Sul
Lunda Norte
Kuanza-Norte
Cabinda
Cunene
Moxico
Kuando Kubango
Malanje
Uíge
Benguela
Huíla
Bié
Kuanza Sul
Huambo
77.048
79.245
94.109
115.078
126.150
141.986
142.138
156.637
176.023
181.116
294.634
373.736
495.168
503.500
578.244
631.333
643.368
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
Contudo, estas cifras parecem exageradas. No caso dos agricultores familiares,
há um empolamento do número de agricultores por se utilizarem dados demográficos
que não se afiguram credíveis, como vem sendo assinalado pelo CEIC nos Relatórios de
anos anteriores, e isso tem reflexos na área cultivada, pois esta é calculada em função
daquele número. Com efeito, é difícil justificar que o número de agricultores atinja os
dois milhões, e muito menos que tal cifra seja ultrapassada. Ao mesmo tempo, a área
média por agricultor – que, de acordo com o raciocínio que se está a seguir deve ter sido
estimada em pouco mais de dois hectares – também denota um certo empolamento, pois
consultas a outras fontes e observações de terreno não fazem crer que haja energia
humana – que representa 73% como se pode observar na tabela em anexo – e
motivações – fundamentalmente pelo facto de não existir uma rede comercial funcional
– para levarem os agricultores a trabalharem tais superfícies. Recorde-se que o Relatório
de 2008 dava como mais realista uma área média compreendida entre 1,1 e 1,4 hectares
e não há razões que possam explicar um aumento tão acentuado de um ano para o outro.
127
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
ÁREA CULTIVADA NACIONAL DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS FAMILIAR,
POR PROVÍNCIA
6.374
Luanda
Namibe
Zaire
Bengo
Lunda Sul
Lunda Norte
Kuanza-Norte
Cabinda
Cunene
Moxico
Kuando Kubango
Malanje
Uíge
Huíla
Benguela
Bié
Kuanza Sul
Huambo
65.890
75.222
90.316
106.562
121.006
137.471
140.645
155.774
168.210
179.496
282.796
359.834
443.222
459.014
562.017
590.828
603.042
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
No que respeita à agricultura empresarial, a média por empresa dá cerca de 33
hectares. Este número só poderia ser avaliado se fosse desdobrado por categorias de
grandeza e por culturas. De qualquer modo, não pode ser menosprezado o peso que
empresas ou empreendimentos públicos devem ter na área total.
ÁREA CULTIVADA DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS DO TIPO
EMPRESARIAL, POR PROVÍNCIA
Cunene
Cabinda
Kuando Kubango
Zaire
Bengo
Kuanza Norte
Lunda Norte
Moxico
Lunada Sul
Malanje
Luanda
Namibe
Uíge
Bié
Benguela
Huambo
Kuanza Sul
Huila
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
128
70.000
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Como vem acontecendo nos últimos anos, as condições climáticas sob as quais
decorreu a campanha agrícola 2008/2009 voltaram a não ser favoráveis em grande parte
do país, devido a uma acentuada irregularidade de chuvas, quer em termos de
distribuição ao longo do ano, quer de distribuição geográfica. Em províncias como
Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Uíje, Zaire, Malanje, Kuanza Norte, Bié, Kuando
Kubango e Cunene ocorreram chuvas em excesso acompanhadas de ventos fortes e
granizo. A partir de Dezembro de 2008, registou-se uma estiagem severa nas províncias
do Kuanza Norte, Benguela e Zaire. A situação foi agravada pela ocorrência de pragas e
doenças que afectaram as produções de diversas culturas.
De acordo com o Ministério da Agricultura, a evolução da produção nos últimos
três anos é a seguinte:
Evolução da produção agrícola (em 1.000 ton)
Produto
2006/2007
2007/2008
2008/2009
Milho
615,9
702,2
970,2
Massango/Massambala
156,4
27,1
68,3
Arroz
4,6
8,4
14,2
Feijão
103,7
124,4
247,3
66,6
91,9
110,8
7
7,7
5,9
Mandioca (fresca)
9.730
10.057
12.827,0
Batata
491,2
401,2
823,2
Batata Doce
949,1
819,7
982,5
Hortícolas
ND
274,9
ND
Café comercial
5,7
15,0
17,2
Amendoim
Soja
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
A análise do quadro revela que, apesar dos constrangimentos mencionados, para
todos os produtos houve um incremento, que no caso da batata ultrapassou os 100%. O
aumento de insumos fornecidos em 2008 pode ter propiciado condições favoráveis para
esse aumento da produção. Todavia, o confronto dos dados espelhados na tabela com os
recolhidos de outras fontes, como as autoridades provinciais ligadas ao sector, ou a
129
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
realização de entrevistas ou a simples observação, permitem inferir que a informação
nem sempre é correcta, tanto no que diz respeito à produção como à produtividade. O
caso do arroz é o mais flagrante, pois nas províncias produtoras não há evidências das
áreas cultivadas nem dos resultados anunciados, e isto repete-se nos últimos anos. Mas
também as produtividades apresentadas para o milho e a para mandioca são igualmente
muito discutíveis. Não há nenhuma justificação para haver aumentos de produtividade
para mais do que o dobro em comparação com as alcançadas há 40 anos no Huambo,
por exemplo, quando as condições de insumos e assistência técnica eram claramente
mais favoráveis e quando os solos estavam menos degradados.
Com as reservas que têm sido assinaladas, a leitura do quadro das produtividades
das diferentes culturas permite uma conclusão curiosa. A agricultura familiar, que
recebe menos atenção e menos recursos, apresenta resultados similares aos da
agricultura empresarial. A única excepção evidente é o arroz, mas aqui a falta de
credibilidade da informação é ainda mais relevante, como se viu. Não se podem tirar
conclusões definitivas, como parece óbvio, mas está-se perante uma situação que
obriga, pelo menos, a uma reflexão mais aprofundada. Desde logo, é legítimo deduzir
que mais atenção e mais recursos canalizados para a agricultura familiar poderão gerar
produções acrescidas.
Outra conclusão curiosa diz respeito à soja. Apontada como uma cultura que
estava votada ao sucesso por extrapolação do que acontece no Brasil, os resultados
mostram que as produtividades das empresas são baixíssimas e semelhantes às dos
agricultores familiares, incluindo em empresas com assistência técnica estrangeira, e
apenas num caso foi possível atingir uma tonelada por hectare, quando a expectativa era
de, pelo menos, duas a três.
Produtividade nas EAE e EAF (ton/ha)
2006/2007
Produto
2007/2008
2008/2009
EAE
EAF
EAE
EAF
EAE
EAF
Milho
3,35
0,47
3,63
0,75
0,43
0,63
Massango
0,46
0,41
0,00
0,12
0,35
0,14
0,00
0,09
0,37
0,24
Massambala
Arroz
0,96
0,47
1,18
0,47
1,2
0,57
Feijão
0,50
0,30
0,55
0,33
0,41
0,34
130
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Amendoim
0,56
0,29
0,35
0,35
0,39
0,39
Soja
1,00
0,60
1,00
0,60
0,42
0,43
Mandioca
13,76
11,53
14,26
14,81
15
13
Batata Rena
9,93
5,74
8,74
8,37
8
8
Batata Doce
7,30
5,88
6,23
6,54
7
6
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
Apesar das dificuldades que se oferecem à obtenção de informação por parte das
empresas e das instituições sobre custos de produção, estima-se que os custos da cultura
de milho em 2009 se situaram nas empresas mais avançadas tecnicamente bastante
acima dos 2000,00 dólares por hectare nas empresas com melhores condições técnicas e
de gestão. Três factores contribuem para estes custos elevados: o preço dos fertilizantes
e das operações de mecanização, a baixa produtividade do trabalho e, para as empresas
que recorrem a ela, o elevado custo da mão-de-obra expatriada. O corolário desta
conclusão é a atitude negativa que a maior parte dos empresários passou a adoptar em
relação à cultura, e não será por acaso que o BDA passou a ter uma atitude mais flexível
em relação ao financiamento de outras fileiras que não apenas as do milho e do feijão,
pois isso estaria a inviabilizar a maior parte dos projectos empresariais.
Estas considerações mostram bem que a agricultura moderna tem ainda um
longo caminho a percorrer em Angola, sobretudo em termos de investigação,
experimentação e formação e capacitação de recursos humanos. A agricultura angolana
tem sérios problemas técnicos e de gestão que não têm sido encarados de forma cuidada
e integrada. Por exemplo, ainda que o custo dos fertilizantes importados fosse
substancialmente reduzido, os problemas com a acidez dos solos manter-se-iam ou
poderiam mesmo ser agravados porque a correcção de solos, além de cara, não faz parte
das preocupações das autoridades do sector. Quando o tema começa já a preocupar os
agricultores tecnicamente mais evoluídos, não há nenhuma referência a ele nos
relatórios oficiais.
A produção agrícola poderia ser notoriamente superior se mais atenção fosse
dada ao Programa de Extensão Rural, ferramenta essencial para a capacitação dos
agricultores, tanto familiares como dos pequenos empresários. Além disso, é
fundamental que os circuitos comerciais se tornem funcionais. A melhoria da circulação
nas estradas tem constituído um poderoso incentivo para o aumento da produção. Mas
tem de ser complementada com outras acções. A prestação de serviços torna-se, pois,
crucial. Para além da assistência técnica, o crédito e a promoção do comércio rural
estruturado afiguram-se como os mais importantes serviços para o aumento rápido da
produção agrícola. Por tal razão, não devem ser considerados objectivos, mas sim
131
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
estratégias para que os objectivos sejam alcançados, como se fez notar no início deste
capítulo.
Confirmaram-se em 2009 os avanços na reconstituição dos rebanhos de gado
bovino, suíno e caprino, registados em anos anteriores, fruto de iniciativas de pequenos,
médios e grandes produtores, bem como de comerciantes formais e informais, e ainda
de alguns programas implementados pelo Governo e por ONGs. Porém, a análise das
cifras comparativas de 2009 com as de 2007 revelam que não houve evolução. É
possível que isso seja fruto das mudanças de metodologia na recolha de informação
estatística e de um melhor tratamento do número de produtores do sector familiar,
responsável por mais de 90% dos efectivos (ver tabela em anexo).
Comprovando o que foi referido nos Relatórios dos dois últimos anos, a criação
de gado bovino de corte continuou a ganhar expressão fruto do interesse crescente por
parte de empresários. Mas devido possivelmente à crise, ou a uma maior consciência
sobre os riscos da importação de animais do modo como vinha sendo feita – muitas
vezes sem que houvesse o mínimo de condições de todo o tipo nas empresas – diminuiu
o número de animais importados, que até 2008 tinha atingido cerca de 30 mil, só do
Brasil. A confirmar as considerações do Relatório Económico de 2008, apenas alguns
criadores que souberam reunir as condições técnicas e de gestão estão a ter sucesso
técnico, com níveis de mortalidade aceitáveis, embora ainda não esteja clara a
viabilidade económica e financeira da maior parte dos empreendimentos. Mantém-se,
pois, a recomendação de que o Ministério da Agricultura deveria jogar um papel mais
activo, divulgando informação e ajudando, com base em cálculos relativamente fáceis,
os criadores a fazerem as suas opções para aumento dos respectivos efectivos pecuários.
A instalação de empresas vocacionadas para prestação de assistência zootécnica e de
planeamento estratégico e de gestão seria uma medida de política salutar a seguir pelo
Governo.
O único projecto leiteiro com alguma expressão está inserido na Aldeia Nova, e
a ele se deve o aumento da produção registado, embora aquém dos resultados
preconizados. Mas a sua unidade fabril instalada continua a mostrar-se incapaz de tratar
o leite produzido, que é transportado, tratado e comercializado em Luanda.
Evolução da produção nacional de carne, ovos e leite (ton)
Produto
2007
2008
2009
Carne de bovino
13.420
14.498
14.615
Carne de suíno
24.026
24.747
26.631
132
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Carne de caprino e ovino
9.794
10.284
11.121
Frangos
1.164
1.257
2.195
Ovos (milhões de unidades)
6.712
7.303
ND
Leite (mil litros)
1.424
1.467
4.250
FONTE: Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
A produção de madeira em 2009 teve um acréscimo de 20% em relação ao ano de 2008.
Uma vez mais é necessário questionar a informação. Numa entrevista à Televisão Pública de
Angola a 23/3/10, o responsável pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal de Cabinda
revelou que a produção na província tem-se vindo a reduzir, chegando em 2010 às cerca de 10
mil toneladas. A ser correcta esta informação, não é possível admitir que Cabinda, de longe a
província com melhores condições, contribua apenas com cerca de 15% da produção nacional.
Seja como for, se se juntar à cifra oficial a extracção de carvão e lenha, bem como as
desmatações a que a agricultura familiar obriga, não obstante a sua débil capacidade, é fácil
admitir que o balanço da gestão dos recursos florestais é muito negativo. O mesmo balanço
torna-se mais preocupante pelo facto de estarem a ser desmatadas novas áreas para a instalação
de agricultura de larga escala, e mais ainda, pela perspectiva de produção de cana-de-açúcar e
de biocombustíveis em geral, e se tivermos em conta que, segundo o Instituto de
Desenvolvimento Florestal, uma família rural consome em média um metro cúbico de lenha por
ano, equivalente a quase dois milhões de metros cúbicos de biomassa por ano só em lenha.
Assim sendo, conclui-se que a gestão sustentável dos recursos florestais tem de ser encarada
numa perspectiva mais racional, caso contrário as consequências ambientais serão desastrosas.
Evolução da produção florestal
Produto
2007
2008
2009
Madeira em toro (m3)
50.000
57.477
69.073
Carvão vegetal (ton)
310.020
320.683
225.561
35.400
ND
15.681
34
ND
ND
Produção de plantas
ND
244.778
247.389
Exportação de madeira
ND
11.742
11.670
Lenha (esteres)
Mel (ton)
FONTE: Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
133
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
5.4.3- Evolução de alguns dos principais programas em curso
O Programa de Extensão Rural teve uma execução financeira muito reduzida,
ficando praticamente limitado a actividades correntes e debilitando ainda mais a
capacidade de intervenção das Estações de Desenvolvimento Agrário. Uma
consequência disso foi a diminuição em 18% do número de famílias assistidas pelo
Programa. Apesar disso, foram registados avanços no domínio da capacitação, da
organização do reembolso de sementes e da introdução de equipamentos de tecnologia
intermédia e teve início o processo de concepção da nova fase.
O Projecto Aldeia Nova passou a ter uma menor dependência da assistência
técnica estrangeira e sofreu algumas mudanças estruturais, nomeadamente no que
respeita à produção de milho e de cana-de-açúcar, esta no âmbito de um projecto
específico na perspectiva da produção de açúcar e de etanol. A extensão prevista para
outras províncias, nomeadamente Malanje e Lunda Norte, foi cancelada. No Relatório
de2009 o CEIC havia feito notar que a expansão para dez províncias, para a qual havia
sido incluído no OGE de 2009 um montante superior a 400 milhões de dólares, se
revelava pouco prudente porque tal valor era idêntico ao previsto anualmente para todo
o sector agrário no período 2009-2013.
Os programas do Governo dos últimos anos têm vindo a contemplar a instalação
e/ou conclusão de vários perímetros irrigados em Caxito, Ganjelas (Huíla), Missombo
(Kuando Kubango), Quiminha (Bengo), Calueque (Cunene), Caála/Bom Jesus,
Matumbo (Cela/Waku Kungo), Luena, Humpata, Matala, Kapuepua (Lunda Sul), entre
outros. Apesar de algumas melhorias registadas em alguns projectos, os resultados
alcançados ainda estão longe do que seria de esperar, pois salvo algumas excepções, os
incrementos das produtividades não justificam os investimentos. As debilidades de
gestão e da falta de disciplina que um perímetro regado exige continuam a ser notórias.
Os problemas registados na Cela, onde o fornecimento de combustível para accionar o
sistema de bombagem é incomportável com os resultados, pois naquelas condições seria
de prever o recurso a energia eléctrica. Situações deste tipo exigem reflexões
aprofundadas, pois os custos são demasiado elevados para resultados pouco acentuados.
O Pólo Agro-industrial de Capanda, criado em 2006, tarda em corresponder às
expectativas geradas como modelo para outros que se venham a criar no país na
perspectiva do agronegócio. A Fazenda Pungo Andongo, primeiro projecto no âmbito
do Pólo Agro Industrial de Capanda, para os quais o OGE tem afectado consideráveis
134
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
recursos, tem um contrato de gestão e uma parceria tecnológica com uma empresa
privada brasileira que deve findar em 2010. No Relatório Económico de 2008, o CEIC
fazia notar que o avanço tecnológico não deveria menosprezar os factores de
sustentabilidade, e que só um esforço enorme de redução de custos e aumento de
produtividade poderia tornar o empreendimento sustentável do ponto de vista
financeiro, condição prevista para a sua transferência para o sector privado. Com a crise
financeira confirmaram-se as suspeitas e a sementeira de milho foi muito afectada por
falta de verbas para aquisição de fundos circulantes, como sementes e fertilizantes. Em
2009 arrancou o segundo projecto, denominado BIOCOM, fruto da associação da
Sonangol e de outra empresa angolana (Damer) com a Odebrecht, para produção de
açúcar e posteriormente de etanol, com o início da plantação de cana já no final do ano.
Igualmente de forma lenta encontra-se a implementação do Projecto de
relançamento da cultura de algodão no litoral do Kwanza Sul que, tal como o Pólo
Agro-industrial de Capanda, pretende ser uma parceria público-privada, sendo o
investimento privado da responsabilidade de uma empresa sul coreana, mantendo-se as
dúvidas relativamente à utilidade e oportunidade deste investimento público já referidas
em relatórios anteriores.
O panorama da investigação em 2010 não foi brilhante. As expectativas geradas
no ano anterior com a possibilidade de cooperação com a prestigiada EMBRAPA do
Brasil não se concretizaram, apesar de haver um vice ministro que se ocupa quase
exclusivamente com a pesquisa. A falta de verbas poderá ter contribuído para as
dificuldades vividas, mas urge uma reflexão adequada sobre o assunto, pois, caso
contrário, as perspectivas de modernização e desenvolvimento do sector estarão
fortemente comprometidas.
Outros programas e investimentos previstos não tiveram início devido a
dificuldades financeiras.
5.4.4- O financiamento do sector agrário
Em 2009 o OGE revisto previa que ao sector agrícola fosse atribuída uma verba
global equivalente a cerca de 330 milhões de dólares, que representa 1,6% do OGE
total, valor que vem decrescendo em termos absolutos e percentuais desde 2007 (650
milhões, 1,9%) e 2008 (522 milhões, 1,6% igualmente), todas elas cifras muito aquém
das acordadas entre os países da SADC em Maputo no início deste século, que
indicavam 10% do valor dos respectivos orçamentos anuais. Nesse valor estão incluídas
as despesas com o pessoal, com bens e serviços e com os investimentos públicos,
ficando de fora o Projecto Aldeia Nova, contemplado com aproximadamente dez
135
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
milhões de dólares, para além das verbas que estavam destinadas à sua expansão por
outras províncias, que acabou por ser suspensa.
De acordo com o Orçamento Geral do Estado para 2009 revisto, o Governo
inscreveu 40 projectos no Programa de Investimentos Públicos (PIP) do sector agrário
no ano, no valor de mais de 210 milhões de dólares, o que representa 2,2% do PIP
global do país. A estes valores, geridos centralmente, devem ser acrescentados cerca de
19 milhões de dólares geridos pelos governos provinciais, e ainda mais de 33 milhões
do Programa de Desenvolvimento Rural, o que totaliza 263 milhões, o que eleva para
2,8% a percentagem em relação ao PIP global. Como já havia acontecido em 2008, um
número significativo de projectos centrais (14, representando 35% do total de projectos)
visam a reabilitação ou implantação de perímetros irrigados, com o que se pretende que
a superfície irrigada aumente em 37.300 hectares, e venha a constituir “um pilar
fundamental para a segurança alimentar, no quadro da estratégia de desenvolvimento
rural integrado e promoção do agronegócio. Considerando que uma outra parte
significativa das verbas inscritas é destinada à promoção do agronegócio, através da
construção e instalação de infra-estruturas ligadas aos pólos agro-industriais e afins,
constata-se a prioridade conferida a esta estratégia, que consumiria, teoricamente,
42,9% das verbas do PIP no sector agrícola global, isto é, englobando a verba do
desenvolvimento rural, para além de cerca de 65 milhões de dólares para a promoção de
pólos agro-industriais afectos ao Ministério das Obras Públicas. Em contrapartida, as
verbas de apoio de apoio directo ao desenvolvimento da agricultura familiar, como as
destinadas a equipamento agrícola, Estações de Desenvolvimento Agrário, mecanização
e café, e ainda as geridas pelos governos provinciais e as do programa de
Desenvolvimento Rural, que se considera como investimento em capital humano,
totalizaram aproximadamente 34,3%. Os restantes 12,8% eram destinados a projectos
estruturantes que servem aos dois sectores. Verifica-se, pois, um certo desequilíbrio em
prejuízo dos investimentos estruturantes e da agricultura familiar, que não se justifica
em função do número de produtores e do emprego, das áreas cultivadas, das
produtividades e das produções obtidas. A modernização da agricultura não deve ser
uma estrada com um único sentido. Por outro lado, os projectos geridos pelas províncias
representam apenas 7,3% do PIP, o que revela que o poder das províncias em termos
orçamentais é insignificante, contrariando a política de desconcentração e
descentralização do Governo. Além disso, tais projectos não são, regra geral, articulados
de modo a constituírem programas provinciais que respondam aos objectivos de
política. O CEIC entende que se torna necessária uma reversão das estratégias seguidas,
não apenas porque não se compadecem com as linhas gerias do Programa do Governo
para o período 2009-2012, mas também porque tornam as metas de produção
preconizadas difíceis ou impossíveis de atingir.
Considerando apenas os Recursos Ordinários do Tesouro, constata-se que a
execução financeira dos investimentos previstos foi de apenas 29,6%, enquanto os
136
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
financiamentos com origem em fontes externas atingiram um grau de execução de 44%,
o que perfaz uma execução financeira global de 36,8% dos investimentos inscritos no
OGE revisto.
Para além do OGE, para cujo PIP contribuíram na versão revista mais de 146
milhões das linhas de crédito de vários países, com realce para a República Popular da
China e o Brasil e empréstimos de instituições como o Banco Mundial, o Banco
Africano de desenvolvimento e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola
(FIDA) e de um grupo empresarial israelita, o financiamento do sector tem ainda as
seguintes origens:
(i) Os financiamentos a fundo perdido, provenientes de grandes doadores como
a Comissão Europeia e o Japão, entre outros;
(ii) O crédito bancário;
(iii) O micro-crédito para pequenas acções feito por bancos comerciais, por
ONGs e por fundos geridos por organizações comunitárias;
(iv) O investimento privado com fundos próprios.
A concessão de créditos por parte de bancos comerciais não cresceu tão rápido
quanto as expectativas faziam crer, tendo em vista a diversificação da economia. O
BDA tem sido o canal a que o Estado faz recurso para financiar projectos privados,
tendo aprovado durante o ano 19, entre agrícolas e pecuários, totalizando cerca de 31
milhões de dólares, contra 25 milhões em 2008, e 43 no campo da mecanização
agrícola, com um valor de 53 milhões de dólares. Não existem estatísticas oficiais sobre
o volume de crédito atribuído pelos bancos comerciais, mas, como aconteceu noutros
sectores, a crise parece ter travado o entusiasmo crescente que vinha dos anos
anteriores. No entanto, dados do Banco Nacional de Angola, citado pelo semanário
Expansão de 12/3/10, indicam que o sector agrícola absorveu em 2009 cerca de 125
milhões de dólares, contra 99,6 em 2008. O acesso ao crédito continua a ser dificultado
também pela fraca densidade da rede de agências nos municípios e pelo baixo nível de
preparação e de visão dos empresários. O sector agrícola continua a ter um peso
baixíssimo relativamente ao crédito total (cerca de 1%).
Os programas de micro-crédito, quer através de bancos, quer de ONGs,
continuam a crescer, abrangendo pequenas cooperativas, associações e grupos
comunitários.
5.5.- Indústria Transformadora
137
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Entre 1975 e 2000 o país passou por um período de desindustrialização,
traduzido pela perda sistemática de importância relativa no cômputo da estrutura
económica e pela redução do emprego.
Ainda antes de terminado o conflito militar, o sector industrial transformador foi
objecto de vários estudos alargados e exaustivos que culminaram com a apresentação de
dois planos de re-industrialização do país, estando em processo de execução a
reestruturação do sector, enquadrado pelo Programa Executivo do Ministério da
Indústria, aprovado em Março de 2009.
Este programa é composto por 4 subprogramas: o da criação de infraestruturas
de apoio ao sector industrial avaliado em 400 milhões de dólares, o da substituição
competitiva das importações computado em mais de 8 mil milhões de dólares36, um de
reconstituição do capital humano para o qual se reservaram 86 milhões de dólares e um
último de reforço da capacidade institucional do Ministério da Indústria, com uma
reserva de 71 milhões de dólares.
No entanto, e conforme se verá no capítulo 8, o sector continua a apresentar
fortes debilidades estruturais em domínios essenciais para a sua internacionalização,
com destaque para a fraca produtividade, a reduzida competitividade37, a falta de
suporte infraestrutural e a ausência duma visão estratégica empresarial (as empresas
privadas continuam a reclamar por apoios especiais do Estado em matéria de protecção,
facilidades e favores diversos).
A política de criação de pólos e parques industriais é a melhor para se apoiar as
iniciativas privadas e facilitar o aparecimento de empreendimentos vocacionados para o
sucesso e o incremento do valor agregado nacional. Porém, é fundamental delimitar,
correctamente, até onde vai o papel do Estado e onde começa o da iniciativa privada. A
indústria é, por excelência, um sector da iniciativa privada, devendo o Estado ser um
auxiliador da sua implementação, através do fornecimento dum conjunto de facilidades
que viabilizem a constituição de unidades transformadoras de sucesso e criem emprego
de qualidade e bem remunerado.
O Governo tem investido na nova industrialização do país somas consideráveis
de dinheiro público, em redor de 1,6 mil milhões de dólares, de acordo com
informações oficiais. No entanto, os resultados obtidos até ao momento parecem aquém
das expectativas. É verdade que o crescimento do sector não depende apenas das somas
36
Mais adiante são feitas algumas observações sobre a redundância da expressão “substituição
competitiva das importações”. De resto, esta perspectiva de abordar o crescimento do sector industrial
enferma de outras insuficiências que podem desvirtuar um verdadeiro processo de construção duma
competitividade estrutural do país.
37
A competitividade tem de se ganhar no terreno das transformações estruturais e em confronto directo
com economias que produzem com qualidade e a preços concorrenciais. Pode não ser correcto e ter
efeitos nocivos a médio prazo insistir em políticas de protecção artificial das actividades industriais, pelos
vícios que criam e pelas disfunções no bem-estar que provocam.
138
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
investidas pelo Estado, mas de um conjunto integrado e consistente de condições, de
onde se sobrelevam as infraestruturas, os sistemas de distribuição e o crédito bancário.
Com relação aos empréstimos ao sector industrial transformador, as estatísticas
monetárias registaram, em 2009, um volume equivalente a tão-somente 4,2% do total do
crédito à economia.
Mas o défice de resultados fica, também, a dever-se ao imperfeito planeamento
dos pólos, parques e zonas económicas especiais. Parece que a oferta de pavilhões
programada pelo Governo não tem suscitado uma procura privada relevante, condizente
com as expectativas dos organismos do Estado, por desajustamento aos interesses
empresariais e pelo elevado preço dos edifícios industriais e fábricas38. Se esta situação
prevalecer, a desvalorização dos investimentos do Estado será inevitável e o património
da economia diminuirá de valor.
Ainda que louvável, o Estado não deve fornecer à iniciativa privada pacotes
completos de sugestões de investimentos empresariais, seleccionando as actividades,
delimitando áreas de instalação, determinando o quantitativo de mão-de-obra a
empregar, definindo processos de fabrico, mostrando que os projectos sugeridos têm
viabilidade económica e financeira, etc. Estas escolhas e avaliações têm de ser do estrito
domínio da iniciativa privada39.
A manufactura nacional aparece como o sector mais dinâmico das
transformações estruturais, sendo disso prova o Índice de Transformação Industrial,
com um valor de 0,771 em 2009, contra 0,54 em 2001.
38
Alguns estudos conhecidos sobre o sector industrial identificam os preços altos, os constrangimentos ao
exercício da actividade e o risco elevado envolvido como algumas das causas que explicam a falta de
interesse da parte dos investidores privados em relação a estas iniciativas governamentais.
39
O Pólo Agro-Industrial de Capanda é um dos exemplos de exorbitância das funções do Estado em
matéria de apoio ao sector privado. A iniciativa é relevante, em especial pelas implicações positivas sobre
a economia da província de Malanje, mas não se pode pretender sobrepor à opinião privada a visão do
Estado, fornecendo um plano detalhado do que produzir, onde produzir, em que quantidades produzir,
quanto investir, quanto emprego criar, etc. A Sociedade de Desenvolvimento do Pólo Agro-Industrial de
Capanda, através do seu actual presidente, fez uma apresentação detalhada do seu plano de
desenvolvimento no Fórum sobre oportunidades de negócios na província de Malanje (21 e 22 de Maio
de 2010).
139
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do CEIC.
Não obstante essa dinâmica, o sector industrial está concentrado nas indústrias
da alimentação e das bebidas e o único movimento significativo registado entre 2001 e
2009 é a troca entre as alimentares e as bebidas, enquanto sectores de maior peso na
estrutura da produção industrial nacional. Em 2001, os angolanos comiam muito mais
do que bebiam e em 2009 bebia-se incomparavelmente mais do que se comia.
Evidentemente que esta alteração estrutural é nociva aos propósitos do combate à fome
e não contribui para a estratégia de segurança alimentar nacional.
Os dois gráficos seguintes fornecem uma avaliação em estática comparada das
transformações do sector industrial nacional.
140
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos efectuados pelo Núcleo de Macroeconomia do CEIC, baseados nas
informações sobre a produção industrial do Ministério da Indústria.
FONTE: Cálculos efectuados pelo Núcleo de Macroeconomia do CEIC, baseados nas informações sobre
a produção industrial do Ministério da Indústria.
As assimetrias de crescimento entre os dois mais importantes sectores de
actividade da indústria transformadora são, igualmente, reveladas pela comparação do
valor acrescentado bruto das alimentares e das bebidas. O ritmo de crescimento médio
anual do VAB das bebidas, no período abarcado no gráfico, foi de 51,6%, enquanto o
das alimentares foi de apenas 21,7% (em termos nominais e valores correntes). Ou seja,
em 2001 a relação bebidas/alimentares era de 0,48 e em 2009 de 2,81. O sector das
bebidas é dos mais rentáveis da actual estrutura industrial de Angola (crescimento
141
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
populacional, hábitos culturais, melhoria do rendimento médio pessoal, influências
televisivas, podem ser algumas das razões).
FONTE: Cálculos do CEIC.
Devido a estas assimetrias de crescimento, as capitações dos valores agregados
de cada uma destas actividades são muito diferentes, com evoluções, igualmente,
diferenciadas.
FONTE: Cálculos do CEIC.
Em termos de análise dinâmica, transcrita no gráfico seguinte, verifica-se que:
142
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
•
As actividades ligadas aos têxteis, vestuário e confecções
desapareceram da estrutura da produção industrial, há já algum
tempo. As associações empresariais privadas angolanas, com
destaque para a AIA, têm sistematicamente alertado para o
encerramento duma actividade de transformação industrial que foi
importante para a industrialização no tempo colonial e que integra as
estratégias de industrialização denominadas de jusante para montante
(na designação francesa “industrialization aval-amont”). Os ataques
feitos pelas ajudas internacionais de vestuário, o colapso da produção
de algodão e a falta de interesse da iniciativa privada são algumas das
causas explicativas do desfalecimento da indústria têxtil em Angola.
•
Os minerais não metálicos, cuja produção tem sido puxada pela
construção e as obras públicas de recuperação das infraestruturas,
apresentam uma evolução positiva em termos do aumento da sua
participação relativa na estrutura industrial nacional.
•
No mesmo sentido se posicionam as indústrias químicas,
impulsionadas, também, pela construção e pelo crescimento de outros
sectores de actividade.
FONTE: Cálculos do CEIC.
É comummente aceite que um processo de industrialização racional e
competitivo deve ter como perpectiva temporal a alternância estrutural entre os três
grupos clássicos de indústrias: ligeiras, intermédias e de capital.
O que se tem passado, de essencial, entre 2001 e 2009, conforme o atestam as
informações do gráfico seguinte, é a repetição do modelo de insdustrialização do tempo
143
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
colonial, onde as indústrias produtores de bens de capital não existiam, sendo a procura
nacional satisfeita pelas importações provenientes da metrópole (muitas vezes
equipamentos usados e reciclados deficientemente).
FONTE: Agregação feita pelo Núcleo de Macroeconomia do CEIC, com base nas informações oficiais
(Ministério da Indústria e Relatórios de Execução do Governo).
No domínio da produtividade bruta aparente do trabalho, a indústria
transformadora nacional tem denotado uma evolução positiva, devida aos investimentos
públicos e privados na melhoria das condições de funcionamento do parque industrial e
da sua modernização tecnológica.
Verifica-se que desde 2005 até 2008, o sector patenteia um valor médio de cerca
de 77800 dólares por trabalhador, muito acima dos valores registados durante o conflito
militar e mais compaginável com os dos concorrentes da região da SADC40.
Ainda assim, a margem de progressão é muito grande – e fundamental de
garantir – para que o processo, de longo prazo, de diversificação da economia possa ser
exitoso41.
40
Porém, é necessário relativizar estes valores, já que um estudo mais aprofundado sobre a produtividade
teria de ser feito na base de produtividades físicas e não monetárias, sempre sujeitas à influência da
inflação.
41
Ver considerações a propósito do papel da indústria transformadora para a diversificação das
economias no parágrafo 5.3.3.
144
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Em matéria de ganos de produtividade, a situação é de alternância durante o
período considerado, tal como se pode comprovar pelo gráfico seguinte.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Dadas as insuficiências e debilidades anotadas anteriormente, são visíveis as
limitações na capacidade da indústria transformadora em criar emprego líquido
relevante. Aliás, os processos de produção industrial modernos são intensivos em
capital e tecnologia, deixando uma margem cada vez mais reduzida às oportunidades de
criação de postos de trabalho em quantidade significativa. A indústria transformadora
vai aparecer como um sector de enormes oportunidades para a mão-de-obra
especializada e emprego qualificado, por ser a via normal para se competir em mercados
145
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
cada vez mais globalizados e apelativos em bens de qualidade. A especialização da
produção industrial nacional vai ter de, em algum momento da sua modernização,
assentar em salários elevados e de grande conteúdo de qualificação.
FONTE: Relatórios de Balanço do Governo de Angola.
O Instituto Nacional de Estatística, em boa hora, passou a divulgar o índice de
produção industrial, que permite testar as taxas de crescimento, em valores reais,
apresentadas pelo Ministério da Indústria.
ESTUDOS COMPARATIVOS ENTRE O ÍNDICE DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL DO INE E AS
TAXAS REAIS DE CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA TRANSFORMADORA
2006
2007
2008
Taxa de variação do PIB da indústria transformadora
-
32,6
11,0
Índice de produção industrial
-
17,3
10,5
160,5
188,3
208,1
139,5
100,9
107,3
111,0
114,4
17,3
10,5
-27,7
6,3
-24,1
3,1
ÍNDICE DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL
Produção
Emprego
Horas trabalhadas
146,3
TAXAS DE VARIAÇÃO
Produção
-
Emprego
-
Horas trabalhadas
-
FONTES: INE (índice de produção industrial de 2007 e 2008) e Relatórios de Execução do Governo.
146
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Como conclusões destacam-se:
•
As diferenças significativas entre as taxas de crescimento da
indústria, sobretudo em 2007.
•
As amostras trabalhadas pelo INE foram diferentes em termos de
representatividade: bem representativa em 2008 e não representativa
em 2007, com um desvio de 15,2 pontos percentuais.
•
Em 2007: o aumento da produção industrial fez-se à custa de que
factor de produção, já que o emprego diminuiu e também o número
de horas trabalhadas? Para os registos do emprego e das horas
trabalhadas teria de ter havido um incremento fantástico da
produtividade industrial. As horas trabalhadas diminuíram menos do
que o emprego: deu-se emprego a quem não trabalhou?
•
Em 2008:permaneceu a situação de subemprego ou de emprego
virtual, uma vez que o emprego aumentou muito mais do que o
número de horas trabalhadas. Registou-se um ganho de produtividade
de 3,95%.
•
As observações e dúvidas anteriores chamam a atenção para algumas
inconsistências entre as informações do INE e dos relatórios de
execução.
147
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
6.- A DESPESA NACIONAL
A análise da economia angolana pela óptica da despesa final em bens e serviços
deveria confirmar os resultados oficiais sobre o valor do PIB e das respectivas taxas de
variação em 2009. No entanto, algumas incongruências foram detectadas que levam, em
última instância, a olhar com atenção para as estimativas do FMI, EIU, OCDE e Banco
Mundial sobre a eventualidade de ter ocorrido um crescimento negativo em 2009, em
termos reais42. Esta contracção estaria muito mais de acordo com o comportamento de
duas variáveis cruciais do crescimento económico, na óptica da despesa, que são o
investimento total e as exportações.
A decomposição da despesa nacional é um complemento importante da análise
geral sobre os factores de crescimento duma economia, particularmente daquelas em
fase de reconstrução e com um grau de abertura e dependência muito acima da média
internacional. Tal é o caso da economia de Angola, onde o investimento e as
exportações têm sido, desde sempre, mas com maior acuidade depois de 2002, os
factores responsáveis pela maior percentagem das taxas de crescimento registadas43.
A situação registada em 2009, em termos nominais, dá conta dum decréscimo do
PIB estimado em 14,8%, com um efeito imediato sobre o rendimento médio por
habitante, cuja quebra foi de 17,2%.
Mas, talvez o facto mais saliente em 2009 se relacione com a quebra do ritmo de
crescimento do consumo privado. Aliás, o consumo privado foi um dos poucos factores
que registou uma variação positiva, estimada em 11,8%, a preços correntes. No contexto
duma redução nominal do nível geral de actividade de quase 15%, percebe-se mal como
esta componente da procura final tenha tido semelhante comportamento. No entanto,
atentando para as informações oficiais que registam um crescimento da produção
agrícola de quase 30% e da produção industrial de 10%, conjugando-as com a
praticamente inexistência de exportações nesses domínios – a percentagem de autoconsumo é, portanto, elevada – aceita-se esta melhoria no valor nominal do consumo
privado em 200944.
42
Por exemplo e conforme citado já, o Economist Intelligence Unit avaliou em -1,9% a contracção da
actividade económica em 2009.
43
Uma boa abordagem da despesa nacional é tributária, no entanto, da existência dum forte sistema de
contabilidade nacional, ainda em fase de criação em Angola. Por isso, as considerações a seguir
incorporadas baseiam-se em estimativas – algumas grosseiras – discutíveis em si mesmo e nos
pressupostos admitidos para os cálculos. Inclusivamente, os valores relativos à grandeza macroeconómica
básica – o Produto Interno Bruto – não oferecem confiança, mesmo quando caldeadas pelas aproximações
feitas pelo “staff” do Fundo Monetário Internacional.
44
Deve-se igualmente ponderar, para este registo positivo na variação do consumo privado, a influência
do consumo das classes de elevado rendimento (para quem os elevados preços dos bens não se constituem
em elemento de dissuasão) e a procura dos expatriados, cujos salários representam, em média, três vezes
mais os salários médios dos angolanos.
148
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O consumo privado médio por habitante passou de 171,5 dólares em 2000, para
1969,9 dólares em 2009, em termos nominais. O crescimento das importações de bens
de consumo final no mesmo período – na vizinhança de 20% em média anual entre
2002 e 200945 – ajuda a compreender a razão duma tal dinâmica. Este assinalável
progresso torna mais verosímeis as estimativas do CEIC quanto à redução da taxa de
pobreza entre 2002 e 2008, embora a indeterminação sobre o grau de concentração da
riqueza e do rendimento continuem a justificar um olhar reservado sobre a evolução do
consumo privado por habitante, tal como se irá analisar no capítulo em que este
fenómeno social vai ser abordado.
FONTE: Cálculos a partir das informações oficiais do Governo (Relatórios de Balanço dos Programas do Governo):
O consumo público também registou uma variação percentual positiva e mais
significativa do que a do consumo privado. A respectiva taxa de crescimento em 2009
foi de 30,5% (dados preliminares, na medida em que o Ministério das Finanças, no
momento em que este Relatório foi redigido, ainda não tinha finalizado o Relatório da
Execução Orçamental de 2009), mas o respectivo peso na procura final não vai além de
20%, em média.
Outro aspecto a merecer referência é o da manutenção do peso relativo do
consumo público no montante de riqueza criada pela economia, em torno de 1/5 do
rendimento nacional, embora em 2009, como forma de equilibrar os factores em face da
crise económica, o seu valor se tenha situado em 26,1%.
45
As importações de bens de consumo final ascenderam a 11136,6 mil milhões de dólares em 2008 e a
3305 mil milhões de dólares em 2004.
149
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Paul Collier46defende que um dos sinais de prosperidade duma sociedade se
encontra na devolução, à economia, aos agentes económicos e aos cidadãos, do
essencial do crescimento. Daí que se deve verificar uma tendência de valorização das
componentes privadas do PIB – consumo, investimento e exportações – em detrimento
das variáveis públicas, como o consumo governamental e o investimento estatal. Os
gastos públicos totais representaram, em 2009, um pouco mais de 1/4 do PIB, cinco
pontos percentuais mais do que a tendência calculada para o período 2002/2009 e que é
de 20%, conforme referido.
Em termos médios, o Estado despendeu cerca de 992 dólares por casa habitante
(contra782 dólares em 2008 e 248 dólares em 2000). Em parte, esta evolução do
consumo público per capita é explicada pelas despesas de educação, saúde e segurança
social que o Estado tem assegurado à população47. Entre 2002 e 2009, os gastos
governamentais em pessoal e funcionamento cresceram a uma taxa média anual de
23,1% a preços correntes, não podendo deixar de ser considerada elevada.
Encontram-se três justificações para o efeito: em primeiro lugar, o aumento do
número de servidores civis para melhor atender às necessidades de extensão da
Administração do Estado e ao aumento dos serviços sociais e económicos prestados à
população (nomeadamente, o aumento da taxa de escolarização no ensino primário –
com a redução significativa do número de crianças fora do sistema de ensino –, e a
melhoria dos cuidados primários de saúde)48; depois, os aumentos salariais dos
funcionários do Estado (militares, para-militares e civis) e, finalmente, o incremento dos
gastos de funcionamento inerente à primeira das duas situações anteriores.
As duas restantes variáveis, das quais depende a maior fatia do crescimento da
economia nacional – investimentos e exportações –, apresentaram registos muito
negativos em 2009.
46
Collier, Paul – Angola: Options for Prosperity, Maio de 2006. Comunicação apresentada numa
Conferência sobre a Gestão das Receitas Fiscais Petrolíferas em Angola, de iniciativa conjunta do
Ministério das Finanças e do Banco Mundial.
47
Recorde-se que a quantidade de bens públicos providos à sociedade – uma das funções fiscais
modernas do Estado – é uma das medidas e das formas de alterar a distribuição do rendimento.
48
O número de funcionários aumentou 7,2% em 2009.
150
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do CEIC a partir das informações oficiais.
Na verdade, o investimento total apresentou uma quebra global de 43%,
enquanto as exportações, pelas razões amplamente conhecidas – crise económica
mundial, redução do preço e da procura de petróleo e representatividade do petróleo de
mais de 95% - experimentaram uma redução de 36,1%.
Analisando o investimento total nas suas componentes pública e privada,
constata-se que o investimento público diminuiu 75% em 2009, como consequência da
resposta do Governo à redução das receitas fiscais, em particular das originadas no
sector petrolífero.
FONTE: Governo de Angola, Relatório de Balanço de 2009.
151
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O investimento público, apesar da queda assinalada em 2009 e que deve
representar um incidente no percurso da reconstrução nacional, desde que o mercado
internacional de petróleo não volte a atraiçoar as expectativas de cobrança de receitas
fiscais, tal como em 2008 e 2009, tem confirmado o seu importante papel de estímulo
ao crescimento económico do país, condizente com as suas necessidades de
infraestruturação e de combate contra a pobreza. Entre 2002 e 2009, as despesas de
investimento do Estado cresceram a uma taxa média anual de praticamente 50%,
superior, quer à do consumo privado (32,8%), quer à do consumo público (21,3%). O
investimento público por habitante passou de 21 dólares em 2000, para 161,8 dólares
em 2009, depois de em 2008 se ter colocado nos 665,3 dólares.
Mas mais importante que o aumento sistemático do investimento público é a
qualidade das obras que o Estado põe à disposição da economia. A melhoria na
produtividade económica geral passa pela efectivação de infraestruturas físicas,
humanas e ambientais com eficácia de resultados, o que, obviamente, tem a ver com a
qualidade do investimento público49.
A gestão dos investimentos do Estado é outra área de enorme impacto sobre a
economia, em dois aspectos precisos: na sua programação, procurando-se a maior
ligação ao sector privado e às componentes sociais da economia e na sua execução,
garantindo-se transparência na afectação dos dinheiros públicos e rigidez no
cumprimento das especificações dos cadernos de encargo50.
A queda verificada, em 2009, no investimento público não foi compensada por
variações simétricas e de igual valor nas componentes do investimento privado.
Na verdade, o investimento petrolífero diminuiu 19,7% e só não foi pior porque
a Sonangol apareceu como o grande investidor institucional em 2009. Dum montante
global de investimento petrolífero em 2009 de 10,4 mil milhões de dólares, a Sonangol
subscreveu 63,2% do total do sector. Esta situação em 2009 foi completamente inversa
da registada no passado, em que têm sido as operadoras privadas a arcarem com a maior
percentagem das aplicações de capital. Aquela percentagem de participação da
Sonangol corresponde a um aumento de 162,8% no investimento da concessionária
49
Existem muitas críticas sociais e técnicas quanto a muitas das obras públicas em construção ou
reabilitação por todo o país. Nem os tempos de execução, nem as características das mesmas parecem
corresponder aos elevados montantes pagos, em processo de pagamento o a pagar. Sua Excelência o
Presidente da República, numa das reuniões do Conselho de Ministros de Maio de 2009, fez notar a sua
grande preocupação pelos elevados montantes de dinheiros públicos que estão a ser gastos, aparentemente
sem o melhor controlo da parte dos Ministérios.
50
Outra questão de grande relevância em matéria de investimentos públicos – e já retida nos Relatórios
anteriores – liga-se aos critérios de selecção dos projectos. Para que se reduza a área de influência política
e partidária, é imprescindível que se proceda a uma avaliação rigorosa das propostas sectoriais e
provinciais e se calculem as taxas de retorno dos projectos de investimento público, escolhendo-se os de
mais elevada probabilidade de rendibilidade. Seguramente que os problemas de fiscalização das obras é,
igualmente, outro aspecto de grande preocupação, para que a esperança matemática de vida média das
infraestruturas respeite os parâmetros internacionalmente estabelecidos.
152
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
nacional de hidrocarbonetos e gás, em 2009. O investimento petrolífero das operadoras
autorizadas diminuiu 63,4%51.
O investimento privado fora do sector do petróleo não representa, em média,
mais do que 2,5% do total dos investimentos em Angola, tendo vindo a recuperar nos
últimos anos52.
FONTE: Governo de Angola, Relatório de Balanço de 2009.
O gráfico seguinte espelha as diferentes dinâmicas de crescimento da capitação
do PIB, do consumo privado, do consumo público e do investimento público. Percebese a influência perversa das transferências para o exterior a título de juros, dividendos,
lucros e salários de expatriados, quando se compara o consumo privado com o PIB.
51
De acordo com recentes informações, o dossier da entrada das receitas em divisas provenientes das
exportações petrolíferas voltou à mesa das negociações, num momento em que, por força do alargamento
e modernização do sistema financeiro nacional, começam a deixar de existir razões justificáveis para não
canalizar as receitas de exportação dos recursos minerais para a rede bancária angolana. No mesmo
sentido, podem ser elementos de pressão sobre as companhias petrolíferas estrangeiras a relativa falta de
liquidez, em divisas, do sistema bancário nacional, num contexto de quebra significativa das reservas
internacionais líquidas do país. Está, de facto, no momento de este assunto ter um tratamento de acordo
com os padrões internacionais de regulação e funcionamento dos sistemas bancários.
52
De acordo com a ANIP, a preferência dos investidores privados estrangeiros tem sido para a construção
e a indústria transformadora e a localização espacial eleita é Luanda e as províncias do litoral.
153
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: CEIC, Núcleo de Macroeconomia.
As exportações e as importações são duas das variáveis mais regulares do
panorama económico nacional. As primeiras respondem às solicitações da procura
internacional de petróleo e diamantes, enquanto as importações são uma das
componentes fundamentais da oferta interna de bens e serviços e uma das variáveis
macroeconómicas que têm sustentado o crescimento económico.
As exportações de bens e serviços apresentaram, entre 2002 e 2009, uma
cadência de variação média anual de 25,6%, principalmente influenciada pelos
incrementos na produção de petróleo e nos preços internacionais.
As importações acabaram por ter sido puxadas pelas exportações (aumento da
capacidade de importar, ampliada pela apreciação do kwanza) e pelo crescimento
económico global53. A respectiva cadência de variação média anual foi de 28,6%, entre
2002 e 2009, bem acima do ritmo médio de variação das importações. Quando se
encurta o período de análise para 2004/2009 (incidência da paz), verifica-se que as
dinâmicas importadoras se alteram, passando, agora, para uma taxa média anual de mais
de 14,9%. A apreciação do kwanza, ao tornar as importações provenientes da zona de
influência do dólar mais baratas, impulsionou-as, aumentando a concorrência interna
face a uma produção nacional ainda incapaz de responder ao desafio de substituir as de
consumo corrente e mais ou menos duradouro. A este acentuado crescimento não deve
ter sido alheio a revisão da Pauta Aduaneira em 2005 e os ajustamentos subsequentes,
que liberaram determinadas posições pautais, com a finalidade de reduzir a evasão fiscal
e controlar melhor os preços dos bens finais de consumo.
53
As importações fob feitas directamente pelo sector petrolífero representaram, em média, 30,2% das
importações totais fob no período 2000-2008. Não estão disponíveis dados para 2009.
154
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: CEIC, Núcleo de Macroeconomia.
O rácio que mede o peso do sector público administrativo na economia patenteia
uma clara tendência de decrescimento, muito embora uma afirmação mais concludente
tivesse de admitir a inexistência de despesas extra-orçamentais, o que não se está
completamente em condições de o assegurar. O valor do rácio em 2009 (26,1%)
representa um acréscimo significativo face ao de 2008 (quase 10 pontos percentuais), o
que pode ser, em parte, explicado pela fraqueza dos ganhos de produtividade da
Administração Pública.
Mas a relação entre a actividade do Estado e a economia pode, também, ser
avaliada pelo rácio gastos públicos totais (com investimentos e juros da dívida pública
interna e externa) /PIB. Deste ponto de vista, os valores foram de 35,7% em 2004,
32,2% em 2005, 32,3% em 2006, 34,4% em 2007, 35,2% em 2008 e 36,4%em 2009.
São rácios ainda elevados, não só “de per se”, como quando comparados com os das
outras economias, mormente dos nossos vizinhos da SADC. Como quer que seja, devese registar que o Governo tem estado engajado em melhorar o desempenho das contas
públicas e tornar os seus resultados mais transparentes. Este reconhecimento tem,
também, constado dos relatórios de instituições internacionais, tais como o FMI, o
Banco Mundial e a OCDE.
Os indicadores que têm as variáveis do comércio externo como numerador
confirmam que a economia angolana é das mais abertas do mundo, valendo as relações
económicas com o exterior um valor médio, no período 2002-2009, de 127,3% do PIB.
Nada de surpreendente, dado o domínio do petróleo e dos diamantes na estrutura
económica do país (produção e exportação). O excesso de representatividade das
exportações tem dois gumes: se a procura e os preços internacionais se apresentarem
ascendentes, os reflexos internos serão positivos; caso contrário, instala-se a crise.
Trata-se, portanto, duma situação indesejável, em que os centros de decisão se
155
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
encontram no exterior, fora do controlo da política económica nacional. Indesejável,
sobretudo, porque as exportações se concentram (97,8%) em apenas dois produtos,
estando, assim, este padrão de comércio externo mais sujeito às incertezas e riscos do
mercado mundial.
Deve, do mesmo modo, pôr-se em destaque a elevada dependência das
importações – em média, cerca de 37,6% entre 2002 e 2009 – como consequência das
políticas macroeconómicas que, através dum kwanza forte, estimularam a substituição
da produção interna pelas importações.
Em resumo:
•
•
•
•
•
O processo de estabilização económica e de consolidação
orçamental está bem documentado pelos valores dos
respectivos rácios.
Desde 2004 que a economia angolana tem sido uma economia
de investimento, embora as exportações não tenham perdido,
significativamente, o seu peso no PIB; o rácio médio conjunto
(exportações líquidas+investimento total)/PIB foi, em 2009, de
53,5%.
Entre 2004 e 2009 os reais factores do crescimento económico
foram o investimento e as exportações de petróleo.
O consumo privado começa a emergir, também, como um forte
candidato a factor importante na contabilidade do crescimento
económico; no entanto e para os anos vindouros, a sua
influência sobre o crescimento económico do país vai depender
da redução da taxa de pobreza, do aumento dos rendimentos do
trabalho e duma alteração nos actuais mecanismos de
distribuição do rendimento e da riqueza.
As importações de bens e serviços continuam a deter uma forte
participação no PIB, devido, sobretudo, à componente de
serviços.
Em termos de contribuições para o crescimento económico, entre 2002 e 2008, a
tabela seguinte contém as informações mais relevantes.
156
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
157
CEIC/UCAN
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
7.- BALANÇA DE PAGAMENTOS
7.1- Introdução
No momento de elaboração deste relatório não estavam ainda completamente
disponíveis os dados definitivos da Balança de Pagamentos de Angola, referentes ao
ano de 2009. Deste modo, a análise será baseada em estimativas disponíveis para o
período, alertando que os dados aqui apresentados estão sujeitos a alterações e/ou
correcções no futuro.
O ano de 2009 pode ser caracterizado como um ano difícil para a economia
nacional em particular e para a economia mundial no geral. Com efeito, aprofundou-se
neste ano a crise económica e financeira internacional, iniciada no IV trimestre de 2008
e com consequências também para a economia nacional. A descida do preço do petróleo
bruto no mercado internacional no último ano reflectiu-se negativamente na Balança de
Pagamentos de Angola, observando-se uma significativa perda das reservas
internacionais líquidas, num aumento dos atrasados da dívida externa e numa fraca
execução dos investimentos públicos, particularmente dependente de recursos externos.
Estima-se para 2009, um deficit no saldo global da balança de pagamentos.
7.2.- Conta corrente
No período em análise, a Conta Corrente encerrará o exercício económico com
um deficit de 6.831,3 milhões de dólares, representando um decréscimo de 195%,
comparativamente ao ano anterior cujo superavit foi de 7.194,3 milhões de dólares. Este
deficit representará cerca de 9,7% do Produto Interno Bruto, contra um superavit de
10,7% do ano de 2008.
158
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Conta Corrente
valores em USD - milhões
8000
6000
4000
2000
0
-2000
2005
2006
2007
2008
2009
-4000
-6000
-8000
O gráfico mostra-nos o comportamento da Conta Corrente da Balança de
Pagamentos, desde o ano de 2005, onde se observa que durante o período 2005-2008
teve superavites bastante significativos, enquanto em 2009 observou um forte deficit.
Esta conduta da Conta Corrente está particularmente associada à volatilidade do preço
do petróleo no mercado internacional, o que confirma a forte dependência da Balança de
Pagamentos de Angola aos choques dos preços dos seus principais produtos minerais.
Para o deficit da Conta Corrente da Balança de Pagamentos do ano de 2009,
contribuirão positivamente a Conta de Bens (Ex-Balança Comercial), e negativamente
as Contas de Serviços, Rendimentos e de Transferências Correntes. Apesar de se
observar, como em anos anteriores, deficits nos saldos destas contas, ainda assim são
inferiores aos deficits observados nos últimos cinco anos. Este facto está
fundamentalmente associado à diminuição do investimento público e à redução dos
lucros e dividendos transferidos, devido à diminuição da receita proveniente da
exportação de petróleo.
Estima-se no ano em análise um aumento do deficit da Conta de Transferências
Correntes de 2,7%, devido a uma forte diminuição da Ajuda Pública ao
Desenvolvimento (APD), e do aumento das remessas de trabalhadores do sector
petrolífero, o que comprova uma vez mais que a angolanização no sector petrolífero não
é ainda efectiva.
159
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
7.2.1. – Conta de bens
As estimativas desta conta apontam para um superavit de 18.426,3 milhões de
dólares em 2009, contra 42.931,8 milhões de dólares em 2008, representando assim um
decréscimo relativo de 57,1%. Para este resultado contribuirá fundamentalmente o
decréscimo nas receitas de exportação em 36,1% e o crescimento das importações em
cerca de 6,8%.
O decréscimo das exportações é explicado pela diminuição tanto das
quantidades exportadas como dos preços no mercado internacional. A redução das
quantidades exportadas decorreu do cumprimento das nossas obrigações enquanto país
membro da OPEP.
A produção e os preços do petróleo bruto e de diamantes têm verdadeiramente
um efeito considerável no volume de receitas e consequentemente nos principais
indicadores de equilíbrio externo da economia angolana, dada a sua forte dependência
das receitas provenientes destes dois principais produtos de exportação. Este facto foi
nitidamente observado em 2009, quando se aprofundou a crise económica e financeira
internacional e se reduziu significativamente o preço do petróleo e a procura por
diamantes no mercado internacional.
Quantidades versus preços
100
90
700
80
70
680
60
50
40
660
640
30
20
620
600
10
0
580
2007
2008
Anos
2009
Quantidades Produzidas
Preços do petroleo
Como se pode ver no gráfico acima, observou-se em 2009 uma diminuição tanto
do preço como das quantidades produzidas de petróleo bruto. A diminuição das
quantidades produzidas, em virtude das imposições enquanto país membro da OPEP,
160
valores em US$
Quantidades Produzidas
720
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
teve um efeito globalmente positivo na manutenção dos preços do petróleo no mercado
internacional, mas efeito negativo no volume de receitas entradas no país.
Neste período, a produção de petróleo passou de um nível de 1.906,0 mil barris
de petróleo dia em 2008, para um volume de 1809,0 mil barris dia em 2009, ou seja,
uma redução de 7,0%, enquanto o preço passou de 93,7 dólares o barril em 2008, para
60,7 dólares em 2009, uma redução de 35,2%, sendo efectivamente este o factor
determinante da diminuição das receitas de exportação.
O excedente da Balança Comercial representou no ano de 2009 cerca de 26,3%,
do Produto Interno Bruto, contra 52,3% observado no ano anterior. Esta degradação do
excedente da Conta de Bens em relação ao PIB pode ser certificado com os factores
acima referenciados, nomeadamente a diminuição dos preços e das quantidades de
minerais exportados e do aumento das importações, decorrente dos investimentos
públicos realizados para o Campeonato Africano das Nações em Futebol.
7.2.1.1-Exportações
Ao contrário do que ocorreu em anos anteriores, as exportações de Angola
decresceram no período em análise, apesar do petróleo bruto e dos diamantes
continuarem a representar, conjuntamente, quase 98,5% das exportações, como nos
indica o quadro e o gráfico a seguir.
milhões de dólares
Rubrica
2007
2008
2009
44.396
63.914
40.828
42.352
61.666
39.271
1.182
1.210
814
862
1038
744
Exportações totais
Das quais
Petróleo Bruto
Diamantes
Outros 1
FONTE: BNA/DEE/BP
Notas: (1) Inclui: Refinados, Gás, Café, Madeira, Pescado, Laminados
Como se pode verificar, mesmo em período de crise, no cômputo geral a
exportação de petróleo bruto continua a manter a primazia, contribuindo com uma quota
de cerca 96%, como no ano anterior, seguindo-se os diamantes com uma quota de 2,5%
e os outros produtos, com uma quota de 1,6%, concluindo-se deste modo que a
economia de Angola continua ainda muito dependente dos seus dois principais produtos
161
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
de exportação - petróleo e diamantes. Assim sendo, uma alteração nos preços desses
dois produtos tem inevitavelmente um impacto na Conta Corrente e no Saldo Global da
Balança de Pagamentos, como foi nitidamente observado no ano em análise.
EXPORTAÇÕES - 2009
1,6%
2,5%
96,0%
Petróleo Bruto
Diamantes
Outros
Esta situação mostra o persistente desenvolvimento assimétrico do sector
produtivo de Angola, fortemente bi-mineral e mono produtivo. Nesta conformidade e à
semelhança do recomendado em anos anteriores, medidas de natureza estrutural
deveriam ser acauteladas, com vista a um melhor aproveitamento das sinergias do
petróleo para o desenvolvimento de outros sectores da economia angolana.
Entretanto, vale destacar que em 2009 se observou um ligeiro crescimento das
exportações de outros produtos, que apesar de representarem apenas 1,6% no total das
exportações subiram ligeiramente, demonstrando alguns sinais positivos de
revitalização da economia não petrolífera.
7.2.1.2 - Importações
Estima-se um crescimento das importações de 6,8% relativamente ao ano de
2008, prevendo-se que passem de 20.982,2 milhões de dólares em 2008 para 22.401,7
milhões de dólares em 2009. Apesar do abrandamento do crescimento da economia em
2009, o crescimento das importações foi particularmente influenciado pelos
investimentos efectuados para a preparação das condições para a realização com êxito
do Campeonato Africanos da Nações em Futebol.
162
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O quadro que se segue permite-nos notar um significativo aumento das rubricas
de bens de capital e de consumo intermédio, explicado particularmente pelo aumento do
investimento público e privado decorrente do processo de reconstrução de infraestruturas e de inputs para os sectores da agricultura e da indústria transformadora.
Classificação Económica das Importações
milhões de dólares
Anos
2008
Importações Totais
2009
Peso %
∆%
20.982
22.402
6,8
6.273,6
8.064,7
36,6
27,1
Bens de Consumo Corrente
7.070,9
4.256,4
19,4
-38.5
Bens de Capital
7.637,4
10.080,9
45,0
32,0
Bens de Consumo Intermédio
FONTE: BNA/DEE/RBP
Contudo, apesar dos constrangimentos de natureza estrutural, as medidas de
natureza macro económica empreendidas pelo governo, nomeadamente o processo de
desminagem e aprofundamento do processo de reconstrução e reconciliação nacional,
têm permitido o ressurgimento da produção agrícola, que possibilitará no curto prazo a
substituição das importações de bens de consumo corrente, como se observa no quadro
acima, que mostra uma diminuição do peso desta componente de cerca de 38%, no total
das importações, um bom prenúncio da revitalização da agricultura e da produção
industrial no país.
7.2.1- Balança de serviços
A Conta de Serviços, à semelhança de anos anteriores, e como acontece na
maioria dos países em desenvolvimento e particularmente africanos, apresentará um
déficit de 17.889,7 milhões de dólares em 2008, ainda assim um decréscimo de 18,0%
se comparado ao déficit observado em 2008, cujo saldo foi de 21.809,9 milhões de
dólares.
Esta melhoria será principalmente influenciada pelo decréscimo dos gastos com
viagens devido à fraca oferta de divisas observada no inicio do ano de 2009 e pelas
restrições impostas pelas autoridades na obtenção de cambiais neste mesmo período, na
redução dos serviços de construção, apesar do aumento dos serviços de assistência
técnica especializada ao sector petrolífero, e das despesas públicas com a manutenção
das representações diplomáticas no exterior do país.
163
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O crédito de serviços de 312,6 milhões de dólares reflecte uma melhoria na
recolha de informação estatística, particularmente no sector do turismo, transporte aéreo
e seguros e resseguros, apesar de ter observado um decréscimo de 5,1%,
comparativamente ao ano de 2008.
De referir no entanto que Angola continuará ainda por muito tempo sendo um
importador liquido de serviços, devido à característica estrutural da sua economia, com
uma forte dependência ao capital intensivo e uma fraca inovação tecnológica,
particularmente no sector mineral.
Conta de Serviços
milhões de dólares
Rubrica
2007
Saldo da Balança de Serviços:
-4.480
-21.810
-17.810
311
330
314
-12.643
-22.139
-18.202
Crédito de Serviços
Débito de Serviços
2008
2009
FONTE: BNA/DEE/RBP
Sugere-se assim, um melhor aproveitamento do potencial existente em áreas de
serviços tais como no turismo, no seguro e resseguro, nas comissões e royalties para o
incremento das receitas, que possam contribuir para o melhoramento do saldo desta
conta.
7.2.3.-Rendimentos
A conta de rendimentos apresentará um déficit de 7.141,7 milhões de dólares em
2009 contra os 13.717,5 milhões de dólares em 2008, uma melhoria em termos
absolutos do deficit em cerca de 6.575,8 milhões de dólares. Este desagravamento será
particularmente devido:
•
Ao decréscimo dos lucros e dividendos do sector petrolífero, que passarão de
13.184,6 milhões de dólares em 2008 para 6.756,0 milhões de dólares em
2009, causado principalmente por uma redução na recuperação do
investimento directo estrangeiro no sector petrolífero devido à redução do
preço do petróleo no mercado internacional e à diminuição do volume de
petróleo exportado.
• Enquanto se observar um ligeiro crescimento dos rendimentos de trabalho.
164
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Conta de Rendimentos
milhões
Rubrica
2007
Saldo da Balança de Rendimentos:
Crédito de Rendimentos
Débito de Rendimentos
Juros:
2008
2009
-8.778
-13.718
-7.142
33
422
434
-8.811
-14.139
-7.575
-1.169
-508
-360
-7.268
-13.185
-6.756
-374
-447
-459
Incluindo Juros de Mora
Lucros e Dividendos
Rendimentos de Trabalho
FONTE: BNA/DEE/RBP
7.2.4.-Transferências Correntes
Estima-se um agravamento de cerca de 2,7% do saldo da conta de transferências
correntes, o deficit desta conta será de 215,7 milhões de dólares em 2009, contra 210
milhões dólares em 2008. Este agravamento será causado fundamentalmente pelo
aumento das remessas dos trabalhadores expatriados do sector petrolífero. O
comportamento desta conta reflecte em certa medida o comportamento dos doadores
externos, bem como a forte participação de mão-de-obra estrangeira na economia
angolana, particularmente nos sectores de construção civil, bancário e petrolífero.
Assim, é licito considerar que o deficit da Conta Corrente deveu-se
fundamentalmente ao comportamento menos positivo da Conta de Bens, que observou
um forte decréscimo em 2009, comparativamente ao ano de 2008, induzido pela
diminuição das receitas de exportação do petróleo e de diamantes.
O saldo da Balança de Pagamentos de Angola continuará fortemente
condicionado aos preços dos seus principais produtos de exportação.
Para minimizar no curto prazo o impacto de factores exógenos sobre o equilíbrio
das contas externas, a diversificação e incentivo às exportações, a promoção do
empresariado nacional, o relançamento da produção interna de outros sectores que não o
petrolífero devem ser fortemente incentivados. Podem ser melhorados os serviços
portuários e de caminhos-de-ferro regional, reduzidos os impostos, aumentada a
competitividade e desburocratizados os serviços públicos, melhorando assim as
condições de realização de negócios no país que permitam intensificar a diversificação
da economia.
165
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
7.3 - Balança de Capital e Financeira
Nota-se que a contribuição da conta de capital continua a ser residual devido ao
peso, tradicionalmente pouco relevante, do perdão da dívida futura e das doações de
capital necessário para a ajuda pública ao desenvolvimento. Para o ano em análise, esta
conta apresentará um saldo de 0 milhões de dólares contra os 12,0 milhões de dólares de
2008, o que perfez uma redução de 100%.
Ao contrário da Conta de Capital, a Conta Financeira teve um comportamento
bastante regular, apesar de em 2009 ter se verificado uma diminuição na entrada de
investimento directo estrangeiro, sendo que o saldo desta conta é de 12.995 milhões de
dólares, contra os 16.581 milhões de dólares entrados em 2008, equivalente a uma
redução de 21,6%, estando esta associada a um corte ao investimento no sector
petrolífero. Do lado das saídas verificou-se uma queda, comparativamente ao ano de
2008, de cerca de 46% tendo passado de um saldo de 17.471 milhões de dólares neste
mesmo ano para 9,435 milhões de dólares em 2009, uma redução na ordem dos 35%.
Esta redução está também associada principalmente ao facto de que parte das receitas
das exportações do sector petrolífero são utilizadas para financiar importações de bens e
de serviços das próprias companhias.
Assim, no ano de 2009 o IDE líquido apresentará um saldo positivo de 3.565,2
milhões de dólares ou seja 5,1% do PIB.
7.3.1.-Empréstimos de médio e longo prazo e outros capitais
Em 2009, os empréstimos de médio e longo prazo apresentarão um saldo
positivo de 752,2 milhões de dólares, contra o saldo também positivo de 3.833 milhões
de dólares observado em 2008, traduzindo-se assim numa diminuição de 80,4%. Este
facto resultará de uma entrada de capitais no montante de 4.294 milhões de dólares e de
uma saída de 3.541 milhões de dólares, incluindo o sector petrolífero.
Ao contrário de anos anteriores, diminui significativamente a contratação de
empréstimos em condições comerciais junto de sindicatos bancários internacionais
tendo o petróleo bruto como garantia real, apesar de, entretanto, ter aumentado o
volume de linhas de crédito e de endividamento com a República Popular da China.
Os outros capitais reflectem maioritariamente os depósitos e investimentos de
particulares no exterior do país, neste período. Esta conta sofreu uma ligeira diminuição,
tendo passado de um défice de 3.314 milhões de dólares em 2008, para 2.909 milhões
de dólares em 2009, ou seja, um decréscimo 12,2%, o que reflecte uma menor
transferência de poupança de particulares ou de empresas para o exterior do país, ou
mesmo um maior nível de investimento de nacionais na economia interna, com
transferências de recursos do exterior para o país.
166
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
7.3.2.-Erros e omissões
Os erros e omissões reflectem maioritariamente dificuldades resultantes de
deficiências na cobertura da informação estatística, bem como discrepância das diversas
fontes de informação. Assim, estimam-se que os erros e omissões para 2009 sejam de
241 milhões de dólares positivos, contra 359 milhões de dólares negativos em 2008.
7.3.-Balança global
Estima-se neste período um deficit da Balança Global no valor de 5.182 milhões de
dólares, contra um superávit de 6.469 milhões de dólares do ano anterior, representando
cerca de 7,4% do Produto Interno Bruto.
Balança Global
Saldo da Balança Global
Valores em USD - Milhões
8000
6000
4000
2000
0
-2000
2005
2006
2007
2008
2009
-4000
-6000
Como se observa no gráfico acima, o saldo da Balança Global teve durante os
últimos cinco anos variações cíclicas muito diferentes, nomeadamente superavites entre
2005-2008, reflexo dos superavites da conta corrente e deficit em 2009, reflexo da crise
económica e financeira internacional. Este deficit confirma o princípio da
vulnerabilidade do sector externo angolano à volatilidade dos preços dos seus principais
produtos de exportação.
167
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Por outro lado, o comportamento da Balança de Pagamentos de Angola reflecte
também, a fraca poupança pública e privada, a fraca diversificação da economia
nacional e o fraco desenvolvimento económico capaz de contribuir na redução da
pobreza interna.
7.6.-Stock de dívida externa de médio e longo prazo
A 31 de Dezembro de 2009, o stock da dívida externa de médio e longo prazo,
incluindo os atrasados, era de 15.080 milhões de dólares, ou seja, 1.219 milhões de
dólares superiores à posição do ano anterior. Este agravamento deveu-se ao aumento da
dívida vincenda do período, excluindo atrasados, que passou de 13.392 milhões de
dólares, em 2008, para 14.697 milhões de dólares no corrente ano, representando um
aumento de 9,7 %. O presente comportamento pode ser observado no gráfico que a
seguir se apresenta.
168
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
No período em referência, o capital e os juros em mora sofreram também uma
ligeira redução, tendo passado de 384 milhões de dólares em 2008 para 301 milhões de
dólares, representando uma redução de 21,6%, enquanto os juros atrasados passaram de
85 milhões de dólares em 2008 para 83 milhões de dólares em 2009, um decréscimo de
cerca de 2,4%, respectivamente. Esta redução foi alcançada fruto das diversas
negociações bilaterais realizadas entre o Governo de Angola e alguns países ocidentais,
particularmente com os países membros do Clube de Paris, referente ao pagamento até
2010 dos juros de mora.
Em 2009, verificou-se um agravamento substancial do rácio do stock da dívida
de médio e longo prazo, em percentagem de exportação de bens e serviços não
factoriais, que se situou em 36,6% contra 21,1% do ano anterior, explicada
fundamentalmente pelo crescimento do stock da divida e pela redução das exportações
de bens e serviços não factoriais, pelas razões acima já explicadas.
169
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Stock da dívida externa a 31.12.09
milhões de dólares
Categoria de dívida
Saldo excluindo
moras
Capital em mora
Juros de mora
Stock no final do
período
1-Comercial
8.503
277
76
8.856
Bancos
8.010
79
17
8.106
493
198
59
750
5.454*
23
6
5.483
739
0.9
0.5
740
14.629
301
83
15.080
Empresas
2-Bilateral
3-Multilareral
Total
* Inclui Títulos de Divida Pública em ME
Continua sendo válida, e necessária, a implementação de uma estratégia de
endividamento externo, consistente com o crescimento da economia no médio e longo
prazos, e de um programa diferente de negociação e reescalonamento da dívida externa,
privilegiando o endividamento interno público, através da emissão de Bilhetes ou
Obrigações do Tesouro em moeda nacional ou numa política de endividamento externo
coerente com a capacidade de gerar recursos externos capazes de gerar excedentes na
Conta Corrente da Balança de Pagamentos.
170
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
8.- EMPREGO E PRODUTIVIDADE
8.1.- Introdução
Ainda que ninguém conheça formalmente a realidade e a dimensão deste
fenómeno, pressente-se que Angola tenha uma taxa de desemprego muito alta, tal a
quantidade de pessoas a biscatarem nas ruas – para quem a economia formal não tem
tido capacidade de oferta sustentada de novos postos de trabalho –, a importância do
êxodo para as cidades (principalmente do litoral do país) e os preocupantes índices de
criminalidade urbana. Segundo algumas estatísticas internacionais, Angola apresenta
uma das maiores taxas de desemprego da África subsariana e a segunda mais elevada da
SADC.
É bom lembrar que o desemprego é o maior desperdício que um país pode
apresentar. Do ponto de vista económico, equivale a perdas de oportunidades de
crescimento, de melhorar a distribuição do rendimento e de aprimorar as condições de
vida das pessoas.
Na verdade, uma distribuição do rendimento nacional economicamente racional
– ancorada em ganhos reais e efectivos de produtividade – e socialmente equilibrada,
através do controlo dos excessos de concentração da riqueza, é sempre um dos
objectivos estratégicos de qualquer governo, em qualquer parte do mundo. Assim, é
lógica a preocupação quanto ao desemprego, porquanto quanto maior a proporção de
população activa desocupada ou desempregada, maiores são os índices de desperdício
económico
Do ângulo social, corresponde a uma marginalização que produz insegurança e
pode levar ao aumento dos comportamentos criminais da população, representando,
igualmente, perdas claras de oportunidades de desenvolvimento social.
Não é por acaso que o pleno emprego – ainda que só em teoria exista –
permanentemente faz parte do painel de objectivos de política económica de qualquer
Governo e está sempre presente nas propostas políticas dos partidos, mormente em
situações de eleições.
Não se deve perder de vista que em Setembro de 2008 foram prometidos, em
quatro anos, um milhão e duzentos e oitenta mil novos postos de trabalho para os
angolanos54. Os processos de criação de emprego são complexos, difíceis nas condições
actuais de elevado desenvolvimento tecnológico e demorados, dadas as suas relações
com o crescimento económico. E quando se fala de empregos permanentes então as
contrariedades são incomensuravelmente maiores.
54
Nada mais acontecendo – hipótese coeteris paribus – esta cifra exige uma taxa real de variação anual
do PIB de 4,5%.
171
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A crise económica mundial ocorrida em 2008/2009, relativamente à qual ainda
não se possuem indicadores seguros de que tenha sido ultrapassada, em particular nos
países ricos – existem riscos de novas bolhas imobiliárias e bolsistas, a concessão de
crédito às economias continua sujeita a restrições e as dívidas públicas começam a ter
efeitos devastadores sobre a capacidade dos países obterem meios de as financiar –, que
são os que puxam pelas restantes economias, mesmo ponderadas as poderosas
influências da China e da Índia, teve efeitos sobre o crescimento do PIB, o emprego, as
contas públicas e os défices externos de todos os países.
Na sua reunião de 6 de Fevereiro de 2010, os Ministros das Finanças do G-7
concluíram, acertadamente, que é demasiado cedo para se iniciar o processo de retirada
de incentivos. De resto, o grande ponto de interrogação é: estarão as economias
preparadas para retomarem a trajectória do crescimento, uma vez eliminados os
poderosos incentivos monetários e financeiros que os países aplicaram para dirimir os
efeitos da crise? Serão as economias capazes de, sozinhas, reaprenderem os caminhos
normais de funcionamento da economia de mercado?
Apesar de todos os incentivos, as taxas de desemprego não pararam de
aumentar.
A destruição de emprego tem sido uma das consequências mais dramáticas da
crise económica e financeira de 2008/2009 em todos os países. A taxa de desemprego
tem atingido valores muito altos em todas as economias desenvolvidas e não se espera
que a situação se altere de modo substancial e sustentável antes de dois ou três anos.
Naturalmente que os efeitos são assinaláveis sobre os tecidos sociais e a pressão sobre
os sistemas de previdência e assistência social tem sido uma das razões dos défices
orçamentais colossais registados na Europa, Estados Unidos e Japão. A taxa de
desemprego nos Estados Unidos em 2009 excedeu os 10%, exactamente iguais ao valor
verificado em Portugal. Na Alemanha chegou a 15% e na Espanha quase que
ultrapassou 20%.
A China tem passado um pouco ao lado destas consequências, por motivos
variados: a sua taxa de crescimento, no pior ano da crise mundial, foi de 8,5%, a sua
economia continuou a criar empregos55, ainda que em volume e percentagem inferiores
ao passado, e o êxodo rural para as cidades foi atenuado, devido à crise das suas
exportações.
Angola, também, se viu envolvida na crise económica, sendo expressão desse
facto a relativa estagnação do PIB em 2009 (não mais do que 2% de variação face a
2008, de acordo com as estimativas do Centro de Estudos da Universidade Católica de
55
No entanto, as responsabilidades sociais e previdenciais das empresas e do Estado chinês são
praticamente nulas, ficando, assim, a classe trabalhadora entregue aos seus próprios cuidados de saúde e
de assistência. Também por isto, é que a economia chinesa tem apresentado a maior taxa de poupança do
mundo.
172
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Angola), o substancial corte nos investimentos públicos e a retracção no investimento
privado. Seguramente que o desemprego deve ter aumentado56.
Conforme se disse anteriormente, não há Governo no mundo que não defenda a
criação de emprego. A questão essencial é: quem é capaz de criar o maior número de
empregos numa economia? O Estado ou a iniciativa privada? A resposta deve ser
encontrada na capacidade de se gerir, convenientemente, um negócio, com tudo o que
isso exige de inovação constante, detecção de mercados, assunção de riscos, gestão de
pessoas e liderança durante anos consecutivos. E isto não é o Estado que o deve fazer.
Criar emprego só é possível com pessoas que se sujeitem a fazer empresas, o que
nem sempre vale a pena, atendendo ao esforço envolvido no vencimento de obstáculos e
condicionalismos57.
E é aqui que entra o Estado, como criador de condições que enquadrem e
facilitem a iniciativa privada, porque o emprego não se cria por decreto, mas por uma
economia forte e competitiva. O emprego cria-se através de reformas estruturais, que
libertem o potencial de crescimento económico dos países e de apoio a empresas
competitivas nos bens transaccionáveis. A recuperação duradoura e sustentável do
emprego acontece quando e só quando o crescimento económico se encontrar numa
trajectória favorável. Compete aos empresários encontrar as oportunidades de
investimento criador de emprego. Compete às autoridades facilitá-lo e torná-lo estável,
definidas políticas que garantam confiança, através da competitividade e da
adaptabilidade da economia a um mundo em mudança.
A criação de emprego não se compadece com terapias económicas de curto
prazo e necessita duma estratégia coerente e inovadora. Da mesma forma que começa a
elaborar-se uma agenda nacional para a diversificação da economia, faz-se urgente uma
semelhante para o emprego.
A programação e gestão desta importante variável económica e social dependem
de muitos factores.
Desde logo, da informação estatística. Sem se conhecerem as reais taxas de
desemprego – geral, por idades, por profissões, por regiões, por sexo, por sectores de
actividade, por tipo (estrutural, friccional, conjuntural, sazonal, voluntário,
involuntário), etc. –, é muito difícil, senão mesmo impossível, gizar as políticas de
geração de emprego mais adequadas e eficazes.
56
Os Barómetros de Conjuntura do CEIC/UCAN relativos a 2009, que apresentam a opinião dos
empresários quanto às medidas de política económica do Governo, dão conta de que houve destruição de
emprego durante o pior ano da crise económica, nomeadamente nas empresas de construção a braços com
uma significativa dívida do Estado.
57
Como se viu anteriormente, a classificação dada a Angola pelo Doing Business 2010, do Banco
Mundial, é muito desfavorável em todos os aspectos ligados aos bons ambientes de negócios.
173
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Em segundo lugar, da natureza do modelo económico de desenvolvimento. O
actual modelo angolano – ancorado em actividades fortemente intensivas em capital e
tecnologia, como as de extracção mineral – não propicia a máxima criação de emprego.
As actividades petrolíferas, diamantíferas e de extracção de outros minérios não
conseguem garantir 1% do emprego total e mesmo que se juntem as actividades de
prestação de serviços ao sector mineral, a geração de emprego não suplanta 2,5% do
emprego total criado. A tabela seguinte comprova-o.
EMPREGO NO SECTOR MINERAL
(% do emprego total)
SECTORES DE ACTIVIDADE
Petróleo
Diamantes
Outras extractivas
Sector mineral
Serviços petrolíferos
Total sector mineral
2006
0,23
0,28
0,46
0,97
0,62
2,56
2007
0,26
0,26
0,41
0,93
0,67
2,52
2008
0,23
0,25
0,40
0,89
0,72
2,49
2009
0,21
0,23
0,38
0,83
0,72
2,38
FONTE: Governo de Angola, Relatório de Execução do Programa Geral do Governo de 2008 e de 2009. Cálculos do
Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
O problema que se levanta é o da desproporcionalidade, ou seja, a criação de
emprego acaba, quase sempre, por ser muito menos proporcional do que crescimento
económico. Nas décadas de 60, 70 e parte da 80 do século passado, as evidências
empíricas eram diferentes, tendo-se identificado correlações mais do que proporcionais
entre crescimento económico e aumento do emprego. Os casos mais conhecidos
referem-se aos “gloriosos 30 anos” na Europa Keynesiana, em que os elevados ritmos
de crescimento económico determinaram a exaustão da oferta interna de mão-de-obra,
tendo a maior parte dos países europeus recorrido à imigração como forma de
compensar os respectivos défices. Os tempos hoje são diferentes, sendo avisado não se
esquecer que não é só de emprego que os sistemas económicos precisam para se
transformarem, modernizarem e progredirem. Um dos elementos mais importantes
desses processos de transformação estrutural positiva é a produtividade, que acaba por
estabelecer um “trade-off” com o emprego, que só pode ser mitigado por intermédio de
políticas públicas que priorizem investimentos de alta intensidade de mão-de-obra.
Sempre que o crescimento económico se atenua, o desemprego aumenta, as
oportunidades de exercer uma actividade remunerada se reduzem e desencadeiam-se
efeitos perversos em domínios como:
* A redução da pobreza, que apresenta uma correlação muito próxima
com o crescimento da economia e o efeito contágio (spillover effect)
sobre os sectores não minerais.
174
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
* A melhoria na repartição do rendimento, que tem uma conotação
directa com o incremento da participação das remunerações do trabalho
na composição do rendimento nacional.
* O repovoamento do interior do país, admitindo-se que o spillover effect
tem, também, uma determinante regional. A fixação da população
depende muito da disponibilidade e estabilização do emprego.
* A criação duma massa crítica de procura nas províncias, necessária
para se atrair as actividades económicas e o investimento privado.
* A redução das desigualdades do género, na medida em que as
evidências empíricas mostram que o desemprego afecta muito mais as
mulheres do que os homens.
* O reforço e a consolidação da reconciliação nacional, porquanto o
emprego facilita o acesso ao rendimento e à melhoria das condições de
vida, duma forma relativamente igualitária.
Ou seja, o emprego é uma categoria económica de enorme importância para a
estratégia de crescimento de Angola e peça nuclear das políticas de promoção duma
maior participação do factor trabalho na composição do rendimento nacional.
8.2.- Aproximação ao desemprego e à produtividade
Apesar dum movimento descendente, a taxa desemprego continua muito alta em
Angola, significando a perda de oportunidades de se melhorar a repartição funcional do
rendimento nacional e a permanência dum hiato do produto significativamente positivo
(diferença entre o PIB potencial e o PIB real)58.
Em Angola, apesar de elevada a taxa de desemprego e da fraqueza dos sistemas
de segurança e previdência social (ainda não estruturados e inclusivos), não têm
ocorrido contestações sociais importantes, pelo menos por enquanto. Porquê?
Podem ser três as razões para a relativa tranquilidade social que se vive:
•
A lembrança da instabilidade e insegurança generalizada do
período da guerra ainda está muito presente no consciente
colectivo da sociedade. Aceita-se o desemprego como um mal
menor, do que profundas convulsões sociais e lança-se mão da
58
Em condições de taxa de desemprego natural de 4% e de produtividade de cerca de 12000 dólares, o
produto potencial é de 104,9 mil milhões de dólares.
175
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
•
•
CEIC/UCAN
marginalidade para descomprimir as pressões colocadas por
níveis de vida muito baixos.
A corrupção, no Estado e nas empresas, em especial a de baixa
intensidade, permite aliviar a escassez e a insuficiência de
rendimentos duma parte da população desempregada; assim
sendo, os poderes instituídos – normalmente temerosos de
convulsões sociais – fazem vista grossa à corrupção,
compreendendo-se, portanto, a timidez no seu combate e
erradicação. Como as políticas públicas de criação de emprego
não têm, para já, provocado o incremento de emprego líquido
desejado, a corrupção acaba por ser tolerada59.
A economia informal tem sido o respaldo do elevado
desemprego em Angola, funcionando como um sub-sistema
alternativo à economia formal, ainda essencialmente
desestruturada na sua componente não petrolífera e com
contradições fundamentais entre a economia dos diamantes e a
agricultura, o maior empregador actual da economia60.
Como evoluíram o desemprego e a produtividade no nosso país entre 2000 e
2009? Ninguém sabe, porque não existem estatísticas sobre o emprego, o Valor
Agregado da economia, a contabilidade empresarial, a população economicamente
activa e outras variáveis correlacionadas com a produtividade.
Apesar desta lacuna de informação é possível, pela utilização de determinadas
ferramentas instrumentais do domínio da Ciência Económica, chegar a cálculos
aproximados sobre a taxa de desemprego, que permitem concluir que a mesma tem
vindo a diminuir desde 2002, como resultado conjugado de diferentes factores, dos
quais se realçam o reassentamento definitivo das populações que se encontravam
deslocadas nas cidades do litoral, o comportamento positivo do investimento privado –
ainda que muito concentrado em sectores de tecnologia de ponta e intensivos em capital
–, as políticas de emprego aplicadas pelo Governo através do MAPESS e, em 2006,
2007 e 2008, os fortíssimos investimentos públicos na reconstrução, reabilitação e
modernização das infraestruturas físicas do país (o Estado aplicou nestas áreas 1,5 mil
59
O MAPESS tem executado ambiciosos programas de formação, reciclagem e aperfeiçoamento
profissional, cujas consequências, em termos de emprego, só a mais largo prazo se farão sentir e desde
que os conteúdos das acções se adeqúem às reais necessidades da economia em mão-de-obra. Outro efeito
esperado, igualmente a longo trecho, é o da melhoria do salário médio nacional, mais indexado à
qualificação e à produtividade do trabalho, com consequências positivas sobre a repartição funcional do
rendimento. Apesar disso, é discutível que a economia tenha conseguido criar, em 2009, mais de 385000
postos de trabalho. Basta ouvir a opinião dos empresários, atentar nos pontos de vista de especialistas,
trocar pontos de vista com centros de estudo e de investigação.
60
Reprimir a economia informal poderá ser um suicídio social, procurar atrai-la, paulatinamente, para a
formalidade (micro-crédito, facilitação da legalização jurídica) é a via mais inteligente.
176
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
milhões de dólares em 2005, 5,4 mil milhões em 2006, 7,1 mil milhões em 2007, 11,9
mil milhões em 2008, conforme consta de diversos documentos do Governo, mormente,
os Relatórios de Balanço dos Programas do Governo e os Relatórios de Execução
Orçamental).
Contudo, em 2009, o Governo viu-se forçado a ajustar, fortemente em baixa, os
montantes de investimentos em obras públicas aplicados em anos anteriores. Foi uma
das respostas encontradas para se ajustarem as contas públicas e as contas externas aos
efeitos nefastos da crise internacional. O volume de investimento público não foi além
de 2,9 mil milhões em 200961.
FONTES: Ministério do Planeamento (Relatório sobre Comportamento da Economia em 2004 e 2005,
Relatórios sobre o Balanço da Execução do Programa Geral do Governo 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e
2009). Programa Geral do Governo 2005-2006 e 2007-2008 e Plano Nacional 2010-2011. Estimativas e
cálculos do Núcleo de Macroeconomia do Centro de Estudos e Investigação Científica da UCAN.
Segundo o MAPESS, terão sido criados, em 2009, mais de 385 mil novos postos
de trabalho (em 2008, foram criados 310006 postos de trabalho nos diferentes sectores
de actividade, incluindo a Administração Pública, cujo universo de funcionários civis se
estabeleceu em 296210 empregados) – num ano de crise económica mundial, em que as
taxas de desemprego aumentaram em todo o lado, as exportações diminuíram
drasticamente (-14% de acordo com o Banco Mundial) e as taxas de variação do PIB
61
O investimento público tem sido uma das alavancas essenciais do crescimento económico dos anos
anteriores. Pelos efeitos directos que desencadeia e pelos efeitos indirectos de arrastamento sobre os
investimentos privados (maior confiança na economia, externalidades que diminuem os custos de
produção, etc.). O montante de investimentos públicos programados nos documentos oficiais do Governo
rondava os 10 mil milhões de dólares, um ajustamento de -34% face ao inicialmente previsto. No final de
2009, a taxa de execução dos investimentos públicos não foi além de 30,7%. Seguramente que a reacção
na capacidade de se criar emprego líquido foi negativa.
177
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
foram negativas ou diminuíram de intensidade em todas as economias –, embora deixe
indeterminados o peso dos empregos temporários e sazonais na agricultura, construção e
serviços gerais e a percentagem de sub-emprego.
Apesar destas cifras muito positivas, o Relatório de Balanço de 2009 não
apresenta uma taxa efectiva de desemprego em 2009, limitando-se a afirmar que o
cumprimento da meta de criação de 320000 postos de trabalho fixada no Plano Nacional
2009 conduziria a uma taxa de desemprego de 20%.62.
A criação dum quantitativo tão elevado de novo emprego merece alguma
discussão, do ponto de vista científico.
Como se sabe, existe uma relação estatística forte, do ponto de vista teórico,
entre o crescimento económico e o incremento do emprego. Para além disso, a taxa de
crescimento do PIB deve, igualmente, permitir ganhos de produtividade na economia,
fundamentais para o aumento dos investimentos e a melhoria das remunerações médias
da força de trabalho. Por outro lado, é pela via da melhoria sistemática da produtividade
que as economias constroem a sua competitividade, indispensável para o aumento das
exportações e para a diversificação do tecido económico.
Ainda do ponto de vista teórico e em condições normais de funcionamento dos
sistemas económicos, a elasticidade emprego/PIB varia entre zero e a unidade, de modo
a dar-se espaço aos ganhos de produtividade.
Finalmente, a lei de Okun estabelece uma relação de interdependência entre a
taxa de desemprego e as taxas reais e potenciais de crescimento da economia.
Os dados apresentados oficialmente sobre o crescimento económico em 2009
apontam para 2,7% a variação do PIB e para 8,9% o incremento do sector não
petrolífero.
Em termos de verificação dos enquadramentos teóricos acima referidos, as
informações oficiais têm as consequências seguintes:
62
•
Elasticidade emprego/PIB de 2,1.
•
Taxa de crescimento do emprego de 5,7%, no mínimo,
dependendo do quantitativo de mão-de-obra empregada em
2008 e sobre o qual não existem informações estabilizadas.
•
Quebra real de produtividade do trabalho de cerca de 3%.
Governo de Angola, Relatório de Balanço de 2009, página 26.
178
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
•
CEIC/UCAN
Quebra nominal do valor da produtividade bruta aparente do
trabalho de mais de 22%.
Introduzindo as informações oficiais do Governo na base de dados e no modelo
de determinação da taxa de desemprego do CEIC, chega-se a uma taxa geral de
desemprego de 21,8%, menos dois pontos percentuais em relação à estimativa do
Relatório Económico para 2008 (23,9%).
As conclusões que se podem retirar são:
•
O crescimento do emprego, anunciado pelo MAPESS, fez-se à
custa duma perda significativa de produtividade da economia.
•
O valor da elasticidade emprego/PIB é muito elevada,
significando que por cada aumento de 1% no PIB, o emprego
duplica percentualmente.
•
Em ano de pico da crise económica mundial, de diminuição de
mais de 11 pontos percentuais na taxa de variação do PIB (face
a 2008) e sabendo-se que os processos de produção são,
genericamente, intensivos em capital e tecnologia e os
investimentos públicos e privados diminuíram em 2009, os
valores do MAPESS podem levantar compreensíveis reservas,
do ponto de vista científico.
•
Não deve ser descartada a ocorrência duma diminuição do
salário real médio na economia, como forma de se conformar
tão elevada capacidade de criação de emprego em condições de
crescimento económico de baixa intensidade, com diminuição
do investimento, fraco crescimento do PIB e redução das
exportações.63
De acordo com o Economist Intelligence Unit64, a capacidade interna de se criar
emprego é, por enquanto limitada: “Despite high real GDP growth rates over the last
decade, averaging 10,2% per year in 1998-2007, poverty is widespread in Angola and
income inequality has steadily worsened. In 2006 the government estimated the
unemployment and poverty rates at 27,1% and 60% respectively. With the capitalintensive oil sector employing only 0,23% of the economically active population, most
people earn their livelihoods from the informal sector”. Mais adiante, esta unidade
económica do prestigiado The Economist afirma que “the official rate of unemployment
63
Conforme se constatará no capítulo 10., deste Relatório (População, Condições de Vida e Pobreza) sobre as
condições de vida e poder de compra do salário médio na Função Pública, o salário médio real tem diminuído desde
2003, o que pode ser um bom motivo para os empresários terem contratado mais trabalhadores.
64
Economist Intelligence Unit, Angola Country Profile 2008 (páginas 12 e 24).
179
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
was estimated at 40% in 2008, but this figure relates only a small fraction of Angolans
who work in the formal sector and does not take account the high levels of
underemployment. The lack of employment opportunities has been aggravated by the
fact that under the government’s Chinese-financed reconstruction programme 60% of
the workforce has been Chinese”.
Tem-se, portanto, muita indefinição em matéria de emprego em Angola,
desconhecendo-se, na realidade, a efectiva capacidade de se criarem postos de trabalho
para uma população que cresce a cerca de 2,9% ao ano, a mais alta taxa de crescimento
demográfico da África subsariana.
Nesta conformidade, o CEIC preparou um quadro de alternativas para o
emprego em 2009, apenas com a intenção de se discutir o problema, perante
informações oficiais que suscitam algumas reservas, conforme exposto anteriormente.
DISCUSSÃO EM TORNO DO EMPREGO CRIADO EM 2009
Taxa var.empre
Taxa desempre.
Governo1
5,7
21,8
Governo 2
4,5
CEIC 1 (e=1)
CEIC 2
HIPÓTESES
Elasticidade
∆ real produtiv.
∆ nomin produ
∆ Emprego
2,10
-2,9
-22,1
385955
22,7
0,51
4,2
-21,2
303222
2,7
24,1
1,00
0,0
-19,8
180776
4,4
26,3
0,70
0,62
-18,8
95188
NOTAS: 1 - Governo 1 corresponde a uma taxa de crescimento do PIB de 2,7% e Governo 2 equivale a considerar-se
a taxa de crescimento do PIB não petrolífero de 8,88%, o sector responsável pela maior criação de emprego. 2 –
CEIC 1 significa uma elasticidade emprego/PIB igual à unidade e CEIC 2 condiz com uma taxa de crescimento do
não petrolífero de 7,49%, segundo as estimativas do Centro.
Em conclusão: a taxa de desemprego em 2009 pode, na realidade, ter-se situado
no intervalo 24,1% – 26,3%. O limite inferior deste intervalo corresponde a um
agravamento de 0,8% face à estimativa do CEIC para 2008.
Utilizando-se outro instrumento científico de análise da taxa de desemprego,
dado pela lei de Okun, considerando uma taxa de crescimento tendencial da economia
de 9,6% (média geométrica das taxas anuais de crescimento do PIB entre 1980 e
200965) e uma taxa de crescimento real do PIB em 2009 de cerca de 2% (estimativa do
CEIC), a taxa de desemprego é de 27,4%. Considerando os dados oficiais sobre a
variação do PIB (2,74%), a taxa de desemprego baixa para 27,3%.
Vale a pena observar o comportamento sectorial do emprego em 2009,
utilizando-se as informações oficiais.
65
Calculada com base nas informações do FMI retiradas dos relatórios sobre o World Economic Outlook
referentes aos anos abarcados.
180
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
COMPORTAMENTO SECTORIAL DO EMPREGO E DOS GANHOS DE PRODUTIVIDADE EM
2009
SECTORES DE ACTIVIDADE
Agricultura,silvicultura,pescas
Petróleo e refinados
Diamantes e outros
Indústria transformadora
Energia eléctrica e água
Obras públicas e construção
Comércio,Bancos,Seguros,Servi
Outros
MÉDIA
txcresPIB
Emprego
txcresEmpre
ganhosprodu
29,0
-5,1
4,6
10,1
18,3
23,8
-1,45
5,9
2,7
5691146
15007
43693
45222
8741
303929
459821
398330
6965889
2,7
-2,8
0,4
6,4
252,9
26,4
37,3
10,5
5,9
25,6
-2,4
4,2
3,4
-66,5
-2,1
-28,2
-4,1
-3,0
FONTE: Governo de Angola, Balanço de Execução do Plano Nacional 2009.
Verifica-se, portanto, que a criação de mais de 385000 postos de trabalho pode
ter tido, como consequência, quebras reais significativas de produtividade aparente do
trabalho em muitos sectores de actividade económica.
A despeito duma evolução francamente favorável desde 2000, com particular
destaque para 2006, 2007e 2008, a produtividade apresenta, ainda, índices muito baixos,
particularmente quando inseridos em contextos internacionais. A produtividade média
bruta aparente na África do Sul rondou os 35000 dólares por trabalhador empregado em
2009 e na União Europeia situou-se em mais de 172000 dólares.
No entanto e pelas razões já anteriormente expendidas – baixa da taxa de
crescimento do PIB, incremento do emprego e natureza dos processos de produção – o
valor da produtividade bruta aparente do trabalho diminuiu em 2009.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Para além disso, as diferenças sectoriais são abissais, confirmando-se, também
por este viés, os desequilíbrios estruturais da nossa economia. Para 2009, a
181
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
produtividade bruta agrícola média aparente (considerando-se as actividades pesqueiras
incluídas), muito provavelmente, não foi além dos 1350 dólares por trabalhador (1230
dólares por trabalhador em 2008 e 875 dólares em 2007)66, enquanto nos diamantes e
outras extractivas pode ter sido de quase 15000 dólares por posto de trabalho e na
extracção de petróleo quase chegou aos 2 milhões de dólares, dada a elevadíssima
intensidade capital-tecnologia destas actividades.
FONTE: Calculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Apesar da incerteza das informações sobre o emprego sectorial, são, na verdade,
desproporcionadas as diferenças entre os níveis de produtividade sectorial, ainda que se
notem situações de melhorias consideráveis, como na manufactura e nas actividades
terciárias, com saliência para as relacionadas com as telecomunicações e os serviços
bancários.
Não se considerando, na visualização gráfica, os sectores de ponta em termos
tecnológicos, a configuração aparece mais propositada.
66
O Banco Mundial – World Development Report 2008: Agriculture for Development – indica os valores
médios seguintes (em dólares constantes de 2000) para a produtividade bruta média aparente da
agricultura angolana: 183 entre 1990/92 e 160 para o período 2001/2003 (página 340). No entanto, muitas
dúvidas se colocam aos valores que esta instituição apresenta, uma das quais relacionada com o volume
de mão-de-obra agrícola efectivamente empregada.
182
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: CEIC, Núcleo da Macroeconomia.
Quanto aos ganhos reais de produtividade, a situação em 2009 foi a mais
dramática desde 2002, registando-se perdas significativas na eficiência da economia,
incidentes, negativamente, sobre a competitividade do país. Estas situações inviabilizam
a introdução de ajustamentos salariais positivos, que emendem a subida de preços e
melhorem a qualidade de vida das famílias dos trabalhadores.
FONTE: Calculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
A melhoria da produtividade do sector primário (agricultura, pecuária, florestas
e pescas) – para além, evidentemente, de políticas propositadamente desenhadas para o
183
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
efeito – depende do próprio processo de crescimento económico e da transferência de
parte da sua força de trabalho para os sectores secundário e terciário da economia.
Uma economia em transição para a diversificação das exportações tem de
apresentar ganhos anuais de produtividade equivalentes a uma taxa de 10%, de acordo
com as evidências empíricas reveladas por estudos elaborados sobre séries estatísticas
relevantes de países e de valores deste indicador. Se o emprego variar, em média
igualmente anual, 7,5% (é uma taxa compatível com a promessa eleitoral da criação de
320 mil novos postos de trabalho por ano), então o PIB tem de crescer 18,25%
anualmente. No entanto, pode não ser suficientemente estimulante para os
investimentos privados, na medida em que a remuneração da iniciativa empresarial se
restringiria a 2,3% (a sua parte na repartição dos ganhos de produtividade).
Se, porventura, os ganhos anuais de produtividade se expressarem por uma taxa
de apenas 5%, a substituição das importações e a promoção das exportações ficam
seriamente comprometidas, servindo o crescimento económico apenas para cobrir a
criação de emprego67.
Comparando a produtividade média bruta aparente com o salário médio anual da
Função Pública e com o salário mínimo nacional, os resultados são os que a seguir se
anotam.
FONTE: As informações relativas aos salários foram retiradas da documentação distribuída por ocasião da
palestra realizada pelo MAPESS em 30 de Abril de 2007 sobre a Evolução do Sistema Remuneratório,
Política de Rendimentos e Preços e Produtividade 2002/2006. A conversão para dólares e o cálculo dos
pontos centrais dos salários são de responsabilidade do CEIC. Os valores dos salários são anuais.
67
Para este caso, a taxa de crescimento do PIB teria de estar na vizinhança dos 13% e os ganhos de
produtividade que caberiam aos empresários rondariam os -2,3%.
184
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O salário médio da Administração Pública representou, em 2009, mais 49% que
o PIB por habitante (31,5% em 2007) e praticamente 4 vezes o salário mínimo nacional.
Não obstante, no geral os respectivos valores absolutos são baixos: o salário mínimo
nacional correspondeu, em 2009, a uma capacidade de gasto diário de 3,8 dólares (4,1
dólares em 2008 e 3,7 dólares em 2007), acima do limiar considerado de pobreza
relativa, mas insuficiente para incentivar a produtividade do trabalho, cobrir a cesta
básica, dignificar o trabalho e valorizar as condições de vida das famílias.
Sob o ponto de vista gráfico verifica-se que entre a produtividade e o salário
médio nacional – assumindo-se que o salário médio da Administração Pública é o de
referência geral para a economia –, o respectivo desvio médio se tem acentuando, com
particular incidência a partir de 2005 (2009 pode ser considerada um ano atípico dum
período em que a regra foi a da divergência entre os valores dessas variáveis). Esta
circunstância pode ter algumas leituras controversas.
•
•
•
•
Em primeiro lugar, pode propiciar uma valorização salarial média da
economia, em particular nos sectores onde o valor da produtividade é
francamente superior à média nacional, como nos petróleos, diamantes,
serviços mercantis e alguns ramos da indústria transformadora.
Em segundo lugar e feita a devida ponderação com os diferentes sectores de
actividade económica, as condições de remuneração dos investimentos
privados têm melhorado substancialmente, residindo, também, aqui uma das
condições de atractividade sobre os investimentos privados estrangeiros.
Em terceiro lugar, os ganhos de produtividade têm sido conseguidos
sobretudo à custa de introdução de capital e de tecnologia.
Finalmente, a desigualdade na distribuição do rendimento nacional tem-se
vindo a agravar, uma vez que a acentuação do desvio médio entre
produtividade e salários sintomatiza uma diminuição do peso relativo da
componente remuneratória da força de trabalho no rendimento nacional.
185
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTES: MAPESS e cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
8.3.-Politicas públicas do emprego e da formação profissional
8.3.1.-Administração pública
Uma primeira nota a ser deixada, em jeito de introdução, é a da multiplicação
das dificuldades de acesso às informações oficiais, tentado por diversas formas e
bastantes vezes, mas com completo insucesso. Duas situações podem ter ocorrido: os
serviços competentes nesta matéria entenderam não partilhar informação oficial com o
CEIC/UCAN – o que, face à filosofia de reserva de informações consideradas sensíveis
ou prejudiciais ao Governo é compreensível, mas não aceitável – ou, então, registou-se
um retrocesso na quantidade, qualidade e diversidade da informação produzida. Nesta
circunstância, não haveria informação a partilhar.
Mantiveram-se em 2009 como principais premissas de governação da
administração pública o relançamento dos programas de valorização dos serviços, de
desburocratização administrativa e de capacitação institucional.
Neste ano o total de agentes e de funcionários públicos foi de 319.003. Não
foram neste número contabilizados os efectivos civis dos Ministérios da Defesa e do
Interior assim como os funcionários da Assembleia Nacional.
A nível nacional, entre 2008 e 2009, houve variações de funcionários e de
agentes administrativos, registando as províncias de Benguela, Luanda, Malanje, Bié e
Huíla os principais aumentos.
186
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
O aumento verificado em 2009 correspondeu em valores absolutos a mais
21.432 activos, entre homens e mulheres. As mulheres aumentaram em 8.049, enquanto
os homens tiveram um acréscimo de 13.383.
O número de efectivos da função pública no cômputo da população
correspondeu a um rácio de 57,7 (60,1 em 2008), ou seja, existe um funcionário para
cada 57 habitantes, superior à verificada no ano anterior, o que deveria ser garante duma
maior qualidade no atendimento à população (o que na verdade é duvidoso, tantas são
as queixas que os cidadãos apresentam sobre a forma como os seus assuntos são
resolvidos nas diferentes agências de prestação de serviços públicos).
A taxa média anual de variação entre 2007 e 2009 dos servidores públicos foi de
9,2% e correspondeu a cifras de 291.997 em 2007, 297.571 em 2008 e de 319.003 em
2009.
As taxas anuais de crescimento foram respectivamente de 11,6% em 2007, de
1,9% em 2008 e de 7,2% em 2009.
8.3.1.1.- Caracterização dos activos funcionários públicos (distribuição por âmbito,
género, sectores de actividade e descentralização do poder local)
As províncias de Luanda, Benguela, Huila e Huambo reuniram em conjunto, em
2009, 54,6% de funcionários, 53% em 2008 para o mesmo número de províncias.
Desdobrando aquela percentagem total e fazendo a partição dos funcionários por
províncias e sexo, na sua estrutura vertical, verificamos que 25,4% dos activos públicos
concentraram-se na província de Luanda, 11,8 % na província de Benguela, 9,7% na
província da Huíla e 7,7 % na província do Huambo.
De forma global, as variações de activos sobrevindas em todas as províncias do
país entre o ano 2008 e 2009 corresponderam a aumentos nas províncias de Benguela,
em 18,8%, Luanda, em 10,4%, Malanje, em 10,3 % e Bié em 9,2% e a decrescimentos
em 5 províncias, designadamente no Cunene, na Lunda-Norte, no Namibe, no Bengo e
no Zaire.
Na sua estrutura horizontal, a distribuição dos funcionários por províncias, em
termos de género, foi de 66,4 % de homens para 33,6% de mulheres.
Essa diferença é mais acentuada em algumas províncias cuja desigualdade
extrema se situou na província da Lunda-Norte com 92,5 % de homens no total dos
funcionários da província.
A variação de efectivos entre 2008 e 2009 foi de 8,1% nas mulheres e de 6,7%
nos homens, no cômputo nacional.
187
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
Quanto ao âmbito, a convergência de funcionários a nível da administração local
do Estado manteve-se idêntica à do ano de 2008, com 89 % dos activos.
Relativamente à variação ocorrida entre 2008 e 2009, a administração central
teve um aumento de 8,2% e a administração local de 7,1 %.
No que toca à disposição dos funcionários por sector de actividade, a educação
com 54,7% do pessoal da administração pública é o sector que absorveu o maior
número de efectivos. A saúde, com 20,7% de funcionários garantiu, conjuntamente com
a educação, o maior número de novos empregos na função administrativa do estado em
2009.
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
Foram criados nestes dois sectores 16.684 novos postos de trabalho em termos
absolutos, 78 % do total do emprego criado na administração pública.
188
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Por categorias, a nível nacional, 66,8 % dos técnicos estão na educação e 21,8 %
na saúde. Na educação, 85,6% do pessoal é técnico e deste 98,5 % está no ensino de
base e médio e apenas 1,5 % no ensino superior.
A taxa de variação entre 2008 e 2009 foi de 8,8 % para o pessoal técnico e de
3,6% para o não técnico.
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
8.3.1.2.- Qualificação e capacitação
Para a qualificação e capacitação dos funcionários, a Escola Nacional de
Administração, ENAD, concluída em 2008, tem sido a instituição que tem servido
aquele desígnio de aumento da qualidade e de eficiência, capacitando o pessoal das
instituições públicas e privadas através de actividades formativas, de pesquisa e de
divulgação. As recomendações vão no sentido da cooperação da Escola Nacional de
Administração (ENAD) com o Instituto de Formação da Administração Local (IFAL)
para a organização e estruturação dos cursos para o provimento dos titulares de cargos
de direcção e chefia e demais técnicos dos serviços locais.
Em 2009 foram realizadas 42 acções de formação em sala com a participação de
916 formandos. As áreas de capacitação foram as de gestão pública, gestão
administrativa, recursos humanos, assuntos jurídicos, finanças e de contabilidade, e
aquelas que tiveram o maior número de formandos dos órgãos da administração central
do estado, em 77%. Foi recomendado em conselho consultivo assegurar a criação de um
189
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
quadro legal no provimento de cargos de direcção e chefia que estabeleça a
obrigatoriedade de frequência de cursos com aproveitamento na Escola Nacional de
Administração.
8.3.2.-Administração do trabalho
A dinamização dos programas de emprego e de formação profissional, a
inserção de jovens na vida activa e em particular dos candidatos ao primeiro emprego, a
geração de emprego e rendimentos através da dinamização do programa de incentivo ao
empreendedorismo visando o desenvolvimento económico e a criação de postos de
trabalho, o reforço da capacidade institucional do sistema de emprego e de formação
profissional, o reforço das parcerias entre o Estado, os sindicatos e as associações
patronais e a dinamização das acções tendentes à atribuição das carteiras profissionais
em Angola foram as recomendações que estiveram nas discussões centrais relativas às
questões do trabalho.
Um dos pontos fundamentais da administração do trabalho é a formação
profissional que é garantida especialmente pelos centros de formação profissional,
através da ministração de acções de formação e de reabilitação profissional, de
reciclagem, aperfeiçoamento e reconversão profissional, com conhecimento profissional
básico e de certas habilidades profissionais e a um nível superior com escolas mais
especializadas.
As políticas públicas de formação profissional mantiveram como prioridade a
inserção dos jovens no 1º emprego, face às condições de vulnerabilidade da juventude.
Além da falta de espaço no mercado de trabalho, permanece a sua segmentação, que se
caracteriza pelo dualismo entre os sectores formal e informal, mas que envolve também
a dimensão urbano-rural.
Dentro do Programa Nacional de Formação em Artes e Ofícios existem
espalhadas em todo o país unidades de formação profissional, como forma de
incrementar a capacitação de mão-de-obra nacional qualificada e de elevar a capacidade
formativa com vista a que os investimentos nos distintos sectores da economia possam
dispôr de profissionais técnica e tecnologicamente capazes e à altura das exigências do
mercado e da competitividade.
Os programas se desenvolvem em diferentes áreas, tais como a agricultura, a
construção, serviços diversos, negócios.
Em 2009 a capacidade formativa nacional esteve dada por um total de 421
centros de formação profissional, entre públicos e privados. A actividade de formação
do INEFOP, organismo público encarregue da formação profissional foi desenvolvida
190
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
através de 40 centros de formação, 33 centros móveis e de 59 pavilhões de artes e
ofícios.
Os centros privados estão maioritariamente em Luanda (61%), Benguela (13%)
e Huambo (5%). Estes centros têm vindo a aumentar passando de 248 em 2008 para 260
em 2009, com competências específicas e sob a coordenação do Instituto Nacional do
Emprego e Formação Profissional.
De salientar em 2009 a construção e inauguração da Escola de Hotelaria e
Restauração, que tem como finalidade formar técnicos especializados nas áreas de
Hotelaria, Restauração e Turismo. A Escola vai dirigir, coordenar e executar formação
profissional, investigação e o ensino na área da hotelaria, restauração e turismo
promovendo aptidões profissionais para o exercício das profissões ligadas às
actividades turísticas.
Considerando quer a realidade institucional quer a de mercado, foi adaptado o
modelo de gestão da escola em parceria público-privada.
A Escola de Hotelaria e Restauração procura dar resposta aos desafios,
necessidades e oportunidades que a indústria da hotelaria, restauração e do turismo
actualmente apresenta em termos da formação com qualidade dos recursos humanos
para o sector.
Ao falar de centros de formação profissional e aferindo os números de
matriculados e de ingressados nas acções de formação verifica-se a existência de um
hiato. As acções de formação realizadas nas diversas provincias tiveram 78.269
inscritos e 59.201 matriculados (75%). Dos matriculados, ficaram aptos 32.251(75%),
não aptos 2.209 (5%), desistiram 6.788 (16%) e estão ainda em formação 1.653.
A efectividade dos cursos de formação tem sido fortalecida em algumas
províncias com a associação dos centros de formação com empresas e serviços de
colocação para os participantes formados.
8.3.2.1.- Caracteristicas gerais do mercado do emprego
O emprego na economia foi de 7 milhões de postos. O sector da agricultura foi o
mais expressivo com 80 % do emprego total.
Em 2009 a agricultura, a construção, e a industria transformadora contribuiram
maioritariamente para o emprego na economia. O sector institucional gerou em 2009
4,5 % do total do emprego.
191
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
9.- INFLAÇÃO
9.1.- Nota prévia
O controlo da subida dos preços em Angola tem sido um dos resultados mais
visíveis da política de estabilização macroeconómica do Governo depois de 2000 (foi
quando se iniciou a formulação de políticas monetárias e financeiras consistentes e se
deu a devida atenção à cooperação institucional entre o Banco Central e o Ministério
das Finanças). Entre 1999 e 2007 a inflação anual passou de 329% para 11,8%. Em
termos de taxas médias mensais a redução é mais simbólica: 13% em 1999 e 0,93% em
2007.
No entanto, depois destas expressivas reduções, a diminuição dos preços tem-se
mostrado muito resistente, sinalizando a existência de factores que, se não removidos,
poderão estruturalizá-la. De facto, em 2008 e 2009 o índice de preços no consumidor na
cidade de Luanda voltou a aumentar (13,2% e 14% respectivamente).
A inflação é o fenómeno económico mais temido pelos governantes, empresários
e trabalhadores. É quase sempre em torno do controle da subida dos preços que giram
os objectivos e as medidas da política económica. Manter a estabilidade dos preços
tornou-se, a partir de uns anos a esta parte, uma das funções mais importantes da
intervenção do Estado na economia. Nem mesmo o desemprego assume o destaque que
a inflação tem, pela simples razão de que os sistemas de segurança social, apesar dos
actuais sintomas de exaustão, se encarregam de atenuar as suas consequências mais
negativas a curto prazo. Enquanto os subsídios de desemprego têm uma utilidade social
comprovada e uma justificação económica concreta, sendo por isso aceites (ou
tolerados) pelas diferentes correntes da doutrina económica, os subsídios aos preços são
discutíveis, por se duvidar da sua eficácia no combate à inflação e por se ter hoje a
certeza de que são socialmente injustos. Os subsídios aos preços, para que se revistam
de alguma justificação social e sejam, de algum modo, instrumentos de regulação
económica, devem ser orientados para produtos cuja procura se comporte segundo a
primeira lei de Engel. Mesmo assim devem ser transitórios, de modo a não ser falseada
ou desvirtuada a verdade dos preços relativos.
Os preços relativos são a pedra de toque das economias de mercado. A política
económica deve, a cada momento, promover, como grande objectivo, um sistema de
preços em que cada preço tenha uma adequada relação com todos os restantes. Esta
relação deve reflectir a escassez relativa dos diferentes bens e serviços, as condições
efectivas da procura social sobre cada um deles e as vantagens comparativas das
respectivas produções. Como não há formas concretas de os calcular
administrativamente – é impossível produzir-se a informação necessária – são o
192
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
mercado e a livre concorrência os mecanismos mais eficazes para se chegar a um
sistema funcional de preços relativos.
O centro dos debates sobre a inflação tem sido normalmente deslocado para o
terreno das variáveis monetárias, defendendo-se que a desregulação monetária é a causa
primeira e última da subida dos preços.
Todo o processo inflacionista, independentemente das suas causas e origens,
caracteriza-se por um conjunto de antecipações dos agentes económicos (produtores e
consumidores) que tende a reduzir a procura efectiva de moeda. Neste caso, a mesma
quantidade de moeda é, então, suficiente para financiar todas as transacções que se
efectuam a preços cada vez mais altos. Normalmente quando os preços sobem, uma
quantidade adicional de moeda é indispensável para assegurar as transacções
económicas, considerando invariáveis os comportamentos e os hábitos de pagamento.
Porém, a partir do momento em que o processo de elevação dos preços se acelera em
direcção à hiperinflação, a modificação dos comportamentos dos agentes económicos
torna-se inevitável. Procura-se, então, substituir moeda por bens reais ou por outras
moedas cujo valor se não deprecie (divisas fortes), sincronizar melhor as despesas e as
receitas, aumentar as aquisições a crédito (caso seja possível), etc. Nestas condições, o
processo inflacionista pode prosseguir e acentuar-se, mesmo que as autoridades
monetárias consigam manter invariável a massa monetária em circulação. É a inflação
pelo aumento da velocidade de circulação do dinheiro, parâmetro que acaba por traduzir
o comportamento inflacionista por antecipação.
Os factores de estabilização num processo inflacionista centram-se, sobretudo,
na redução da propensão marginal à despesa da comunidade e na gestão dos tempos de
reacção à subida dos preços.
A propensão marginal à despesa da comunidade traduz-se, parcialmente, nas
propensões a consumir do Estado e das famílias e na propensão a investir dos
empresários. A estabilização do processo inflacionista passa então, num primeiro
momento, pelo controle destas propensões à despesa, ou seja, pela redução do valor
destas componentes da procura agregada.
Quando os preços aumentam, nem todos os rendimentos se adaptam. Há aqueles
que por estarem regulados por relações contratuais ou pela lei (e costumes) se vão
manter fixos por algum tempo, não reagindo, portanto, à inflação. Há aqueles outros que
não aumentam senão com atraso (como é o caso, nomeadamente dos salários) ou que se
elevam menos proporcionalmente que outros. Fica, então, claro que a inflação é um
poderoso meio de redistribuição assimétrica e injusta do rendimento, normalmente em
desfavor dos salários e dos rendimentos das classes mais desprotegidas.
Em Angola, desde que se começou a falar de inflação, colocou-se sempre a
tónica nas variáveis monetárias. Os primeiros cálculos do índice de preços no
193
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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consumidor na cidade de Luanda remontam a Novembro e Dezembro de 1990. Antes de
se ter optado pelo cálculo aberto da inflação no país - baseado, numa primeira fase, em
inquéritos sobre os mercados oficial e paralelo e, num segundo momento, numa
unificação do universo de inquirição - falava-se numa inflação reprimida e oculta, sem
haver hipótese fiável de a quantificar. Os primeiros resultados apontaram para uma taxa
de inflação mensal entre 11 e 14%, com uma clara influência dos preços do mercado
oficial. Chegou-se, então, a pensar que as lojas oficiais eram um instrumento positivo de
controlo da inflação, sem se ter percebido que a "inflação oficial" se manifestava pela
via da escassez de produtos nessas lojas e que não era mais elevada devido ao controle
administrativo dos preços. Não se compreendeu, também, que a "via oficial da
economia" era uma poderosa janela de desperdício dos recursos cambiais da Nação.
Entre 1991 e 1996 a inflação atingiu níveis astronómicos e nunca verificados
antes da independência. Durante 1997 a sua intensidade e o seu ritmo baixaram
consideravelmente.
Não são unânimes, do ponto de vista da doutrina e da teoria económica, as
explicações para o fenómeno inflacionista. A escola monetarista procura reconduzir
todas as explicações para as causas monetárias, enquanto outras abordagens buscam as
razões para a inflação em aspectos estruturais, nomeadamente no caso das economias
subdesenvolvidas, onde estes estrangulamentos são efectivos e reais. Obviamente
variando as teorias explicativas, diferentes serão as políticas anti-inflacionistas a
prosseguir. A escola monetarista coloca a ênfase nas políticas deflacionistas de redução
da procura agregada, enquanto as correntes menos ortodoxas deslocam o essencial do
combate à inflação para as políticas de incentivo e fomento da oferta interna. Em
determinadas circunstâncias, o controle da inflação pela redução da procura efectiva é a
via correcta. Contudo, quando se pretende concentrar o combate anti-inflacionista na
redução das componentes da procura agregada, ou seja, quando se advoga a aplicação
indiscriminada deste tipo de políticas económicas, então, os resultados concretos parece
situarem-se muito aquém do desejado, muito em particular nos países africanos subsarianos. A solução para o excesso de procura talvez seja mais correcta e duradoura pelo
incremento da oferta do que pela deflação da procura, até porque, se assim for,
prosseguido sistematicamente alguns dos factores de crescimento económico (consumo
privado, consumo público, investimento privado e investimento público) encontrar-seão numa situação de permanente bloqueio. Hoje, as instituições de Bretton Woods são
muito mais realistas na abordagem dos fenómenos económicos de África e as políticas
de combata à inflação que passaram a advogar estão bem longe dos programas de
ajustamento estrutural e do controlo da demanda agregada.
Em termos essenciais, são três as teorias explicativas da inflação: por excesso de
despesa, pelos custos de produção (espiral salários-preços) e pela equação de FISHER
(escola de Chicago). Questiona-se, por vezes, sobre se haverá incompatibilidade entre
aqueles pontos de vista. Este aspecto não é despiciendo no quadro duma discussão
194
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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teórica, porquanto as políticas de combate e de contenção da inflação são, na prática,
diferentes, consoante o ponto de vista interpretativo que se adopta. Numa primeira
aproximação dir-se-ia que não são incompatíveis entre si, aquelas três posições teóricas.
Existe uma teoria quantitativa da moeda implícita na abordagem da inflação por
excesso de despesa. Com efeito, um excesso de moeda, qualquer que ele seja, terá
sempre uma contrapartida em termos de despesa. Assim, as emissões de moeda servirão
para custear as despesas com a guerra, para financiar o défice corrente do Estado
(despesas públicas), para financiar as despesas de investimento (crédito produtivo), para
cobrir as despesas adicionais dos consumidores (crédito ao consumo) ou, finalmente,
como tradução da conversão em moeda nacional das receitas obtidas com uma expansão
das exportações (também ela uma componente da despesa agregada). Em todos estes
casos transparece uma abordagem em termos de despesa e das suas diferentes variantes.
Donde, eventualmente, ser discutível a expressão emissão vazia de moeda: a oferta de
moeda expande-se para cobrir uma qualquer variação numa das componentes ou em
várias, simultaneamente, da procura agregada. Ou seja e visto de outro modo: a
expansão da moeda tem um fim específico, não sendo, por conseguinte, vazia.
Então o ponto de destaque nesta reflexão é o seguinte: se da expansão monetária
não resultar um efeito, mais ou menos imediato, sobre a produção, então produzir-se-á a
inflação por excesso de despesa, que durará o tempo de reacção e de adaptação da oferta
agregada.
Em Angola o que se tem passado é uma excessiva (quase eterna) demora no
tempo de reacção da oferta global, seja pela via da produção interna (pleno emprego
precoce ou falso pleno emprego conforme já abordado), ou pela vertente das
importações (o índice de cobertura das importações pelas exportações tem decrescido e
as dificuldades de financiamentos externos cada vez maiores). Se a demora de reacção e
de adaptação da oferta global se começa, crescentemente, a dever a problemas
estruturais importantes e só ultrapassáveis no médio prazo (estrangulamentos sectoriais,
nomeadamente na agricultura, obsolescência tecnológica, infraestruturas económicas
destruídas, circuitos comerciais desfeitos, redes de transporte e armazenagem
inexistentes, empecilhos institucionais de vária ordem, atraso nas reformas económicas)
então justifica-se o ataque contra a inflação através de políticas deflacionistas como o
são as que se baseiam na teoria clássica e na escola de Chicago. E é, também, por esta
via que se tem de compreender que mesmo em situações de pós-guerra a via da política
de contenção da despesa agregada é a de resultados mais imediatos em matéria de
inflação, já não em termos de crescimento económico e de benefícios sociais.
Assim sendo, o importante é, obviamente, a economia não se deixar adormecer
sobre as politicas de contenção da despesa agregada. Os estrangulamentos estruturais
devem tão pronto quanto possível ser removidos, através duma actuação concertada
entre o Estado e a sociedade civil e da conclusão rápida das mais substantivas reformas
195
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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económicas e institucionais. A partir daqui estarão criadas as condições para se passar à
aplicação de políticas (keynesianas) de expansão da oferta global, do que resultará o
crescimento económico e o progresso social.
As políticas cambiais de convergência das taxas de câmbio (quando elas são
múltiplas) para uma taxa de equilíbrio de mercado justificam-se em nome da ciência
económica: o equilíbrio dos diferentes mercados duma economia é um postulado da
estabilização económica, qualquer que seja o paradigma teórico subjacente. No caso
particular de Angola, em que a indexação dos preços internos à taxa de câmbio do
mercado paralelo responde, numa grande medida, pelas elevadas taxas de inflação, a
convergência cambial e a estabilização do mercado de câmbios eliminará a necessidade
de se emitir moeda em excesso.
A teoria da inflação pelos custos tem como base a ligação entre os salários e os
preços por intermédio do custo de produção. Implicitamente no conceito de
produtividade do trabalho se incluem os custos referentes às matérias-primas, às
amortizações tecnológicas e financeiras e aos lucros da actividade económica.
Quando se fala em inflação estrutural a sua abordagem teórica é pela via dos
custos de produção: estrangulamentos sectoriais, falta sistemática de matérias-primas,
inexistência de serviços de manutenção e reparação (levando os empresários a
imobilizarem quantidades excessivas de mão-de-obra, peças sobressalentes, acessórios e
materiais, provocando custos de investimento e de exploração elevados), falta de redes
de distribuição de energia e água, recurso excessivo a mão-de-obra estrangeira, etc., são
elementos importantes do custo de produção e das suas variações.
O fenómeno inflacionista em Angola, da forma como se manifestou no passado,
pode ser considerado como um resultado conjugado entre os elevados défices
orçamentais declarados (devido ao esforço de guerra) e os estrangulamentos estruturais
do sector produtivo que foram agravados pelo sistema administrativo de gestão da
economia e da política económica. Entre 1993 e 1996 a taxa média anual de inflação
variou entre 1060% e 5027%, com o pico da inflação anual acumulada a registar-se em
1995, com um valor de 3784%. Provavelmente pouca gente se lembrará destes períodos,
em que a pobreza da população aumentou consideravelmente (a expressiva taxa de
pobreza de 68,2% da população, calculada para 2002, resultou, também, da influência
da poderosa degradação do poder de compra de rendimentos já de si baixos e débeis), os
cidadãos fugiam do kwanza para se refugiarem no dólar (foi, talvez, o período mais
intenso de dolarização da economia) e os diferentes mercados paralelos floresciam. Foi
uma época de prevalência dos comportamentos baseados na antecipação de decisões de
compras e vendas.
Em 2000, foi elaborado um estudo visando determinar as componentes
explicativas do aumento dos preços no país, baseado na aplicação do modelo global de
196
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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explicação da inflação, tendo-se chegado aos seguintes resultados: 37,7% da inflação
era explicada pelo excesso de despesa, 55,1% pelos custos de produção, 12,5% por
razões aleatórias e 28,2% por especulação.
O que é que se passa actualmente com o comportamento dos preços internos que
não permite que se baixe a inflação para menos de um dígito? Será que esta estrutura da
inflação se aplica ao processo de elevação dos preços?
Claro que incorrem sobre a estrutura de custos empresariais diversas
imponderabilidades e estrangulamentos que contribuem para aumentar os preços finais
ou intermédios dos produtos. Imponderabilidades e estrangulamentos que podem ser
designados de baixa produtividade dos factores de produção.
Por outro lado, embora sem quantificação possível, há um excesso de despesa
veiculada pelos rendimentos mais elevados das classes ricas nacionais, aos quais se
adicionam os salários elevados dos expatriados.
Mas, seguramente que, quando os preços dos produtos são multiplicados por
quase sete vezes desde a sua origem até ao utilizador final, são os comportamentos
explicativos que prevalecem. No entanto, deve assinalar-se que os comportamentos
especulativos só aparecem quando se dá espaço para tal. A existência duma lei de
concorrência e preços é fundamental para se regularem os mercados, controlar o
processo de formação dos preços e privilegiar os mais competitivos.
A presente política cambial e a restrição do crédito determinada pela elevação do
valor dos parâmetros relacionados com os depósitos obrigatórios dos bancos comerciais
são, igualmente, situações que ajudam os comportamentos especulativos a
representarem uma percentagem razoável no processo de formação dos preços na
economia nacional.
9.2.- O comportamento da inflação em 2009
Em 2009, a taxa de inflação, medida pelo índice de preços no consumidor na
cidade de Luanda, voltou a subir, atingindo os 14%. Já em 2008, a variação dos preços
se tinha afastado da tendência de estabilização registada desde 2002. Daí que o ritmo de
desinflação se tenha alterado nestes dois últimos anos.
De qualquer modo, a tendência de longo prazo permanece francamente
decrescente e a subida da inflação em 2008 e 2009 pode ser que represente, apenas, um
pequeno episódio do processo de crescimento, reestruturação e reforma da economia
nacional. Tudo vai depender do peso relativo da conjuntura interna (sujeita, ainda, a
diversas vicissitudes estruturais impeditivas da obtenção de ganhos mais expressivos no
caminho da desinflação) e externa (o receio de os preços voltarem a subir é muito
concreto nas economias mais avançadas).
197
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base no IPC do INE.
Do ponto de vista da política monetária, a desvalorização do kwanza em 2009
(nominal e efectiva) desencadeou uma determinada pressão sobre os preços, que não foi
suficientemente compensada pelo aumento da oferta interna de bens e serviços. Este
desajustamento no domínio da economia real (traduzido por um decréscimo de 79,9%
no ritmo de crescimento do PIB de 2008 para 2009) – explicado pelos efeitos da crise
económica internacional e pelas inúmeras imponderabilidades produtivas internas –
pode ter sido a causa essencial do descontrolo dos preços.
Na verdade, a política monetária foi bem restritiva, tendo-se expressado por
diminuições no ritmo de variação de M1 e M2 de 2008 para 2009. Com efeito, em 2008
o primeiro agregado variou 71,8%, enquanto em 2009 o incremento foi de apenas
28,1% (para M2 as variações foram de 63,7% em 2008 e 58,8% em 2009).
198
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base nas informações monetárias do BNA..
O crescimento dos agregados monetários em 2008 esteve em consonância com a
taxa de crescimento do PIB de 13,8%. Em 2009, apesar da redução de M1 e M2,
induzido por um decréscimo da taxa de variação do PIB para 2,7%, a taxa de inflação
subiu de 13,2% para 14%.
Poderão jogar a favor duma inflação mais controlada, os factores seguintes:
(a)
(b)
(c)
(d)
A taxa de desemprego é, ainda, bastante elevada, tendo
permitido – a despeito de alguma pressão sobre a procura de
mão-de-obra por parte das empresas – manter em níveis não
inflacionários os salários nos diferentes mercados de trabalho.
O nível de rendimento médio da população continuou baixo –
não apenas o valor em si mesmo, mas porque também ocorreu
uma quebra de 17,2% de 2008 para 2009 – e a maioria da
população permaneceu pobre e muito pobre e a desigualdade
na repartição do rendimento agravou-se (o decréscimo do PIB
por habitante ocorreu com menores actualizações nas despesas
públicas na saúde, educação e transferências a título de
pensões, reformas e abonos de família68).
Também, o nível médio do consumo privado per capita é,
ainda, relativamente, baixo, tendo o seu crescimento baixado
em termos reais.
A curva da oferta agregada interna continua a apresentar, por
enquanto, uma elasticidade rendimento-preço inferior à
unidade.
A velocidade de desinflação tem vindo a atenuar-se depois de 2004,
comportamento natural a partir de níveis mais baixos da taxa de inflação. Em 2008 e
2009, a economia perdeu a sua capacidade de deflacionar os preços, comprovando a
influência de alguns factores desestruturantes da economia nacional, tais como a falta de
infraestruturas, as desarticulações sectoriais, o excesso de burocracia, etc. Por isso, as
metas governamentais de inflação têm sido, sistematicamente, excedidas em vários
pontos percentuais.
Foi a partir de 2001 que se entrou num processo sustentável de desinflação da
economia: duma taxa de inflação anual acumulada de 268,35% em 2000, passou-se para valores
68
Os valores percentuais (PIB como referência) foram, para a educação, de 3,3%, 3%, 3%, 2,8%, 2,2%,
2,4%, 2,9%, 2,7% e 3,8%, respectivamente para 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008 e 2009.
Para a saúde o comportamento, para os mesmos anos, foi de 2,8%, 2%, 2,3%, 1,8%, 1,5%, 2%, 1,8%,
1,8% e 2,5%. Estas cifras constam do documento do FMI intitulado “Angola – Selected Issues and
Statistical Appendix”, July 2006, para os anos de 2001 a 2003, sendo que para os restantes se basearam
em cálculos do CEIC tomando como referência a execução financeira do Estado para 2007, 2008 e 2009.
199
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
sucessivamente menores, 116,07% no ano seguinte, 105,59 em 2002, 76,56% em 2003, 31,01%
em 2004, 18,53% em 2005, 12,21% em 2006 e 11,79% em 2007.
Graficamente percebe-se melhor a intensidade da diminuição da variação dos
preços em Angola, medida pelo Índice de Preços no Consumidor na cidade de Luanda.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base no IPC do INE.
A taxa de inflação em 2009 foi de 14%, em contra ciclo com a queda do nível
geral de crescimento económico de 79,8% (duma taxa de 13,6% em 2008, a economia
registou um crescimento médio de 2,7% em 2009), mas, provavelmente, compaginável
com algumas das grandes insuficiências do sistema produtivo. Para os sectores mais
fracos da estrutura económica, como a agricultura e a indústria, esta taxa de inflação é
incompatível com propósitos de melhoria das respectivas competitividades em situação
de garantia de estabilidade cambial69.
69
“O dogma da estabilidade cambial seria mais defensável se tivéssemos uma taxa de inflação do
Primeiro Mundo, na ordem entre os 3 e 5%. Ou seja, vai ser inevitável um ajustamento da taxa de câmbio
do kwanza, face à situação de crise que a economia mundial atravessa….”, José Cerqueira, entrevista ao
Semanário Expansão de 30 de Abril de 2009.
200
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
TAXAS MENSAIS DE INFLAÇÃO (%)
MESES
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Janeiro
6,98
3,07
1,94
0,83
0,82
0,85
Fevereiro
7,68
2,93
2,04
0,71
0,86
0,86
Março
5,63
2,16
1,96
0,79
0,8
0,72
Abril
7,32
2,38
1,43
0,85
0,78
0,92
Maio
5,23
4,49
1,29
0,81
0,88
1,02
Junho
5,37
1,96
1,01
0,77
0,79
1,00
Julho
3,97
1,45
1,13
0,91
0,95
1,16
Agosto
5,04
1,60
1,15
0,80
0,78
1,03
Setembro
2,75
1,55
1,09
0,84
0,75
0,86
Outubro
1,50
1,56
0,97
0,87
0,81
1,08
Novembro
2,35
1,89
1,19
1,43
1,06
1,16
Dezembro
4,60
2,32
1,93
1,97
1,92
1,78
2009
0,94
1,03
0,93
1,09
0,95
1,11
1,18
0,87
0,81
0,92
1,18
Taxa inflação
anual
76,56
31,01
18,53
12,21
11,79
Taxa média
mensal
4,85
2,28
1,71
1,16
0,93
13,17
2,16
13,99
1,04
1,1
Ritmos de
des-
6,0
12,0
Inflação (%)
-27,5
-59,5
-40,3
-34,1
-3,4
FONTE: INE – Índices Mensais de Inflação.
Os ritmos de desinflação da economia vão-se reduzindo à medida que a taxa geral de
inflação se acomoda em valores cada vez mais baixos.
No Relatório Económico do ano passado esperava-se que 2008 representasse apenas um
episódio no longo processo de redução da inflação em Angola. Porém, tal não foi o caso,
temendo-se que seja muito difícil dentro de 3 anos ter-se uma taxa de inflação bem abaixo de
10%. Enquanto os estrangulamentos a um funcionamento normal, racional e eficiente do
sistema económico não forem removidos, dificilmente se trará a inflação para níveis mais
adequados à disputa concorrencial das exportações e das importações. O Governo tem-se
mostrado preocupado com o binómio preços/competitividade, enquanto factor importante para a
diversificação da produção nacional. A aquisição de competitividade pela via da política
cambial tem limites teóricos e práticos, sendo facilmente ultrapassada por países (África do Sul,
Maurícias e Botswana) com estruturas económicas mais consolidadas e sistemas de valorização
dos recursos humanos (gastos em investigação & desenvolvimento) mais sólidos e consistentes.
201
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base no IPC do INE.
Comparando-se a inflação com o comportamento de algumas variáveis
económicas correlacionadas, verifica-se que os agregados monetários e cambiais
deixaram de exercer a influência registada num passado ainda recente, comprovada por
diferentes estudos elaborados por instituições nacionais e estrangeiras. Parece que
depois de se ter implementado o modelo de desinflação centrado na esterilização exante das receitas fiscais petrolíferas, a variação geral dos preços passou a depender mais
das variáveis reais do sistema económico.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base no IPC do INE.
202
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base no IPC do INE.
203
CEIC/UCAN
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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10.-POPULAÇÃO, CONDIÇÕES DE VIDA E POBREZA
10.1.- População
A população tem sido, por norma, avaliada enquanto um factor decisivo de
desenvolvimento das economias, não apenas enquanto suporte básico do crescimento do
consumo, como e principalmente no seu papel de factor de evolução tecnológica e
cultural das sociedades.
O capital humano é hoje reconhecidamente o elemento decisivo da evolução
económica, verificando-se uma relativa desvalorização dos recursos naturais. O capital
humano é um conceito vasto que engloba as capacidades de um indivíduo susceptíveis
de contribuírem para a sua eficácia produtiva, como o nível de educação, a qualidade da
saúde e do bem-estar, as capacidades físicas, a experiência pessoal e a inteligência.
Quando as sociedades conseguem um nível crítico de capital humano estarão, a partir
daí, em condições de, além da produção de bens e serviços de qualidade, começarem a
produzir saber e conhecimento. Parece que a partir deste limiar o desenvolvimento
económico e o progresso social serão imparáveis, sobretudo porque: a produção de
saber pode ter rendimentos à escala crescentes, porquanto se realiza à custa de saber já
acumulado; o custo do desenvolvimento do saber dos indivíduos é tanto mais pequeno
quanto maior for o volume de conhecimentos acumulados (lei do decrescimento dos
custos marginais); a produtividade dos investimentos na educação dos jovens e na
formação dos trabalhadores é tanto mais elevada quanto maior o nível de capital
humano do país; a produção de saber cria externalidades: as capacidades, os
conhecimentos e a inteligência desenvolvem-se mais facilmente quando uma proporção
crescente da população tiver um nível elevado de capital humano.
Todavia, a importante questão que se coloca é: a população é um factor de
desenvolvimento ou um entrave ao progresso da humanidade? Jeffrey Sachs (Common
Wealth, 2008) entende que o número de habitantes no planeta continua a crescer em
grande escala e, sobretudo, nas regiões que menos condições apresentam para garantir
saúde, educação, estabilidade e prosperidade aos cidadãos. Os receios deste economista
americano residem na escassez de recursos, na pressão do crescimento populacional
sobre ecossistemas cada vez mais frágeis (em particular nas regiões mais pobres do
planeta), no aumento da pobreza e na ameaça da estabilidade política global. Concluiu
que o mundo devia adoptar um conjunto de políticas para ajudar a estabilizar a
população global, vendo-se na China um exemplo a seguir.
O crescimento populacional obedece a determinadas regras que, aparentemente,
são difíceis de reverter. Os demógrafos apontam três regimes de crescimento da
população. A fase arcaica, em que elevadas taxas de natalidade coexistem com altas
taxas de mortalidade, a fase moderna, em que ocorre o contrário, isto é, coincidência
204
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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entre baixas taxas de natalidade e fracas taxas de mortalidade e uma fase de transição,
onde elevadas taxas de natalidade se perfilam ao lado de baixas taxas de mortalidade.
Praticamente, não existem países a viver o primeiro estádio de desenvolvimento
demográfico, enquanto todos os países desenvolvidos se encontram na segunda etapa,
começando a ter problemas colossais com a reprodução dos seus sistemas de
previdência social.
O crescimento demográfico em África tem sido considerado como um dos
obstáculos ao desenvolvimento económico, justamente porque o continente africano é o
último espaço regional no mundo a viver a fase aguda da crise da transição dum regime
demográfico arcaico, para um regime demográfico moderno, no sentido dado
anteriormente.
A corrente demográfica identificada como “os pessimistas populacionais”
acredita numa catástrofe do planeta, pela via do excessivo crescimento demográfico,
particularmente no que concerne aos serviços fornecidos pelos ecossistemas, como água
doce, habitats, recolha de plantas e de animais. Os “optimistas populacionais” têm uma
fé inabalável e incomensurável no desenvolvimento tecnológico, apresentando-o como
o exemplo mais acabado da não verificação das teses de Malthus. Finalmente, os
defensores da “aceleração da transição demográfica”, ou seja, a aplicação de políticas
demográficas e económicas tendentes a promover o equilíbrio demográfico ao nível dos
países e do planeta, como um meio para se acelerar o progresso das pessoas e a
melhoria das suas condições de vida. (Sachs, 2008).
As consequências de crescimentos demográficos incontroláveis são desastrosas:
diminuição da subsistência alimentar, a despeito duma percentagem elevada da
população se dedicar à agricultura, em particular nos casos em que a taxa de
crescimento demográfico supera a da produção agrícola, feita em solos degradados e
gastos; êxodo rural maciço (a média da população urbana em África passou de 8% para
45% em menos de 30 anos); deterioração das condições gerais de vida, muito em
especial nos centros urbanos e crescimento das economias informais.
Qual a dimensão óptima da população em Angola? Isto é, a partir de que limiar a
população pode ser um factor importante de crescimento e desenvolvimento? A
pergunta é de resposta difícil. Há estudos internacionais, liderados pelas Nações Unidas,
que admitem que o nosso país só entrará na fase de estabilidade demográfica a partir de
2020.
Que critérios devem ser considerados, em Angola, para se raciocinar sobre o
nível aconselhável para a dimensão da população?
A situação demográfica de partida de 2009 é: população total de 18409010
habitantes (existem estimativas a apontar para mais de 22 milhões de pessoas), taxa de
crescimento demográfico de 2,9%, taxa de fecundidade de 5,8, densidade populacional
205
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
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de 14,7 habitantes por quilómetro quadrado, população rural de 45%, PIB de 67,8 mil
milhões de dólares e PIB por habitante de 3684,3 dólares (cerca de 10 dólares por dia).
Um critério possível é o da ocupação do imenso espaço territorial – por razões
de equilíbrio regional, reconciliação nacional e limitação da emigração fronteiriça –
podendo-se, então, estabelecer um valor desejável para o rácio população/superfície, de,
por exemplo, 25 habitantes por quilómetro quadrado, devidamente bem distribuídos.
Em condições de política demográfica inalterável (mantendo-se a mesma taxa de
crescimento demográfico), Angola atingiria 31,2 milhões de habitantes em meados de
2028.
Que significado tem este quantitativo de população em termos de condições de
vida? Admitindo um crescimento médio anual de 8% do PIB até 2027, o rendimento
médio por pessoa seria de 8684 dólares, ou seja, um incremento de 136% em 18 anos.
No entanto, um rendimento médio diário de 24 dólares por cada cidadão não
corresponde ao objectivo estratégico de transformar Angola num país rico, educado e
desenvolvido.
Considere-se, então, um rendimento médio anual de 25 mil dólares (68,5 dólares
por dia). Tomando-se uma taxa de crescimento económico de 10% ao ano até 2027, esta
meta só seria possível se a população diminuísse 1,1% ao ano (15,1 milhões de
habitantes).
A conciliação dos dois objectivos para 2027 conduz a uma taxa média anual de
crescimento do PIB de 14,5% (780,4 mil milhões de dólares e 31,2 milhões de
habitantes).
Todavia, um rendimento médio de 25 mil dólares anuais não é garantia de
igualdade e equilíbrio.
A situação em Angola é agravada pelo facto da agricultura ter sido abandonada
por força da guerra e a sua recuperação debater-se com problemas decorrentes da maior
ou menor irreversibilidade no movimento populacional campo-cidade e das condições
de segurança para o desenvolvimento das actividades agrícolas e pecuárias. Este estado
de mal nutrição a que o balanço agricultura-população conduz contém germens de crises
sociais endémicas, francamente impeditivas da constituição dum capital humano
nacional, no sentido dado mais atrás, e geradoras de insegurança, quando aumentam os
fluxos migratórios para as cidades e aqui fomentam a criação de sectores económicos
informais submersos importantes.
A aplicação da regra demográfica 2-4-8 (proporção relativa de crescimento entre
a taxa demográfica, a taxa de urbanização e a taxa das zonas degradadas) ao nosso país,
permite concluir que o quantitativo de população estimado para 2027 corresponderia a
uma taxa de crescimento da população urbana de 5,8% e de 11,6% dos “muceques”
206
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
(neste caso particular, a média africana situa-se no intervalo 12-14 %). Facilmente se
compreende que num cenário como este os problemas das cidades jamais terão solução,
tal a forte pressão sobre os seus equipamentos colectivos. E é também neste quadro que
se deve falar de desenvolvimento rural como uma atitude política e uma nova cultura de
desenvolvimento, cuja chave de sucesso é a pluriactividade. O êxodo rural deve ser
combatido no campo, com desenvolvimento integrado e muito menos nas cidades, com
a construção de infraestruturas urbanas e serviços colectivos diversos.
Parece, portanto, que se justificam preocupações quanto ao crescimento
demográfico em Angola e à distribuição da população pelo território nacional. A
abordagem estratégica do fenómeno populacional, de modo a não comprometer o
desenvolvimento económico e o progresso social, aparece como uma das prioridades
fundamentais das políticas nacionais, pressupondo, por outro lado, um esforço solidário
e coordenado de vários grupos de actores. Caso contrário, a população poderá
transformar-se mais num obstáculo, do que num factor de desenvolvimento.
E um dos sinais de que assim possa suceder é o extraordinário ritmo de
urbanização demográfica que tem sido registado desde que o conflito militar interno
provocou avalanchas migratórias em direcção às cidades do litoral e a obtenção da paz
não foi suficiente para reverter, sustentadamente, o fenómeno imigratório nacional. Pelo
contrário, a livre circulação de pessoas que a paz veio possibilitar depois de Abril de
2002 intensificou a procura de oportunidades de trabalho, negócio e sobrevivência nas
principais cidades, com destaque para Luanda.
Embora não existam dados censitários sobre o comportamento da população
depois da independência, é, no entanto, possível, utilizar alguns indicadores
demográficos que ajudam a entender o processo demográfico do país.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia, com base em dados do MINPLAN.
207
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
É provável que a população total do país ronde os 18,5 milhões de habitantes em
2009 (estimativas feitas na base dos resultados do recenseamento eleitoral de 2008 e
duma taxa de crescimento demográfico de 2,9%), com uma incidência de população
muito jovem (idade igual ou abaixo dos 15 anos) de 47,8% do total.70 Em termos de
população jovem (menos de 30 anos) aquela percentagem ronda os 62%.
Em contrapartida, o peso da população idosa (mais de 65 anos) não é mais do
que 2,6%, não sendo, portanto, estranho que a idade média da população angolana
ronde 22,8 anos.
Outro aspecto é o da qualificação da força de trabalho – cuja taxa anual média de
crescimento tem rondado os 3,2% - cuja medida é dada, na generalidade, pela
percentagem de população sabendo ler e escrever (o básico exigível para um domínio
mínimo de processos de perodução exigentes em tecnologoa e organização). Em 2007, o
seu valor foi de 67,4%, com uma evolução positiva desde 1995.
Ainda dentro da qualificação dos recursos humanos é usual medir a sua
especificidade pela taxa de escolarização bruta combinada, estimada em 36,1% em
2009. A mão-de-obra qualificada e altamente qualificada depende do valor deste
indicador e apesar da sua evolução se apresentar ascendente, o seu valor absoluto é
muito baixo (98,6% para a Noruega, 114,2% para a Austrália, 101,4% para a Finlândia,
76,8% para a África do Sul, 70,6% para o Botsuana, 67,2% para a Namíbia, 87,4% para
as Maurícias, 48,2% para a RDC, 35,9% para a Etiópia).
FONTE: UNDP, Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano..
70
Dados para 2007 do Human Development Report 2009, do PNUD.
208
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A despeito dum comportamento crescente do PIB por habitante (em dólares
correntes e em paridade do poder de compra), a esperança de vida à nascença não tem
melhorado, significando que o intenso crescimento económico não se tem traduzido em
melhoria das condições de vida da população, sujeita a maleitas endémicas, umas
relacionadas com condições de habitabilidade e saneamento (malária) e outras com a
fome, a pobreza, a falta de medicamentos e de condições de assistência sanitária, como
a tuberculose. O HIV-SIDA pode vir a ter incidências económicas e sociais
devastadoras se, entretanto, não for circunscrito e debelado.
A esperança de vida à nascença está estimada em 47 anos em 2007 (UNDP,
Human Development Report, 2009).
10.2.- Condições de vida e poder de compra
Como se sabe, não são realizados inquéritos sistemáticos às condições de vida da
população. Desde 1975 até hoje, conhecem-se, tão-somente, dois inquéritos, um datado
de 1991 e outro de 2002, tendo sido na base deste último que se pôde conhecer a taxa de
pobreza de Angola.
Alguns indicadores muito genéricos apontam para uma ligeira perda de bemestar geral da população em 2009, tais como o aumento da pobreza (a taxa de pobreza
projectada para 2009 ronda os 58,9% da população total), o aumento da inflação, a
desvalorização do kwanza e a queda do PIB por habitante.71
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
71
O PIB per capita, a preços correntes, foi de 1843,6 dólares em 2005, 2837,2 dólares em 2006, 3478,8
dólares em 2007, 4691,2 dólares em 2008 e 3801,6 dólares em 2009.
209
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
No entanto, é possível descortinar alguns outros sinais contrários, como o
sucesso do sistema do micro-crédito, o aumento da produção agrícola dos produtos de
consumo mais tradicional, o aumento do emprego nos sectores que melhor remuneram a
força de trabalho72.
Como quer que seja, umas e outras não são medidas exactas da melhoria das
condições de vida, porque nenhuma delas informa sobre a distribuição do rendimento
nacional (o índice de Gini em 2005 registou o valor de 0,64, indicativo duma muito
acentuada desigualdade na distribuição do rendimento).
Resta, portanto, verificar como se comportou o poder de compra dos salários da
Função Pública – tomando-os, como se frisou já, como referencial dos salários médios
da economia –, os quais, entre 2003 e 2008, haviam registado uma perda acumulada de
30,88%, conforme consta do Relatório Económico Anual de 2008, com os parciais de
24,2% em 2003 (acumulado desde 2000), 7,83% em 2004, 0,67% em 2005, 0,54% em
2006.
Esta sequência de registos de uma perda acumulada no poder de compra do
salário médio da Função Pública confirma que a estratégia de ajustamentos salariais –
baseada na inflação esperada, sistematicamente inferior à registada no final de cada ano
– não tem sido adequada à recuperação do poder de compra perdido em anos anteriores.
Mesmo que os ajustamentos salariais cobrissem a taxa de inflação acumulada em
Dezembro de cada ano, a taxa média anual de inflação tem sido superior à taxa de
inflação homóloga, donde se concluir que a perda do poder de compra dos salários tem
sido ainda maior.
Em 2007, registou-se, pela primeira vez nesta sequência temporal, um ganho de
poder de compra dos salários médios da Função Pública de 0,801%, parcialmente
consumidos pela perda verificada em 2008, de aproximadamente, 0,43%, perfazendo
uma perda acumulada, desde 2003, de 30,88%.
Em 2009, a perda de poder de compra cifrou-se em 1,15%, dando um acumulado
2003/2009 de – 31,27%.
As informações relevantes estão no quadro seguinte:
ESTUDO DO COMPORTAMENTO DO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA
EM 2009
Taxa mensal
MESES
de inflação
Índice preços
acumulado
Salário nominal
Salário real
Variação do sa-
Perda acumula-
Médio mensal
médio mensal
lário real(%)
da poder cmpra
72
Conforme em capítulo próprio se deu conta, as informações sobre a criação de emprego no país em
2009 são controversas e discutíveis.
210
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Janeiro
0,94
3,93
35139,5
8944,7
0,059
-30,43
1,03
3,97
35490,9
8942,0
-0,030
-30,45
0,93
4,01
35845,8
8948,2
0,069
-30,40
1,09
4,05
36204,3
8940,3
-0,089
-30,47
0,95
4,09
36566,3
8944,7
0,050
-30,43
1,11
4,13
36932,0
8935,0
-0,109
-30,51
1,18
4,18
37301,3
8919,1
-0,178
-30,63
0,87
4,22
37674,3
8930,6
0,129
-30,54
0,81
4,25
38051,1
8947,4
0,188
-30,41
0,92
4,29
38431,6
8954,5
0,079
-30,36
1,18
4,34
38815,9
8938,6
-0,178
-30,48
2,16
4,44
39204,0
8837,1
-1,135
-31,27
13,99
13,99
1,10
4,16
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Acumulado
-1,145
Média
37138,1
8931,8
FONTES: INE-Índice de Preços no Consumidor; MAPESS – Informações sobre os salários nominais médios
mensais. Cálculos do CEIC.
Verifica-se ainda que:
•
•
•
O salário real médio mensal de 2009 correspondeu a 112,2
dólares (contra 119,1 dólares em 2008, 117,6 dólares em 2007 e
123,4 em 2003), o que equivale a uma perda do poder de
compra do dólar como consequência directa da apreciação
ocorrida no kwanza;73;
Uma sequência de ganhos mensais do poder de compra do
salário médio da Função Pública registou-se entre Agosto e
Outubro, tendo nos meses restantes alternando-se ganhos com
perdas de poder de compra.
O aumento acumulado dos salários nominais na Função Pública
foi de 12,7% em 2009 (semelhante ao verificado em 2008),
insuficiente para cobrir a variação anual acumulada dos preços,
que foi de 13,99%; a estratégia de ajustamento salarial foi
desajustada, tendo culminado numa perda de 1,15% de poder de
compra, precisando de ser muito mais pró-activa, o que passa
por ganhos mais substantivos na produtividade administrativa;
73
Em 2009, o dólar desvalorizou-se 7,1% (contra 14% em 2008, 14,8% em 2007 e 11,4% em 2006; em
2005 a perda tinha sido de 11,9%, 17,3% em 2004 e 22,1% em 2003). Ou seja, uma perda acumulada,
entre 2003 e 2009, de 150,2% (uma cadência média anual de desvalorização de 10,7%).
211
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
•
CEIC/UCAN
Os aumentos nominais forma feitos duma forma faseada, como,
de resto, aconselha a prudência e a experiência do passado.
Como conclusão genérica, assinala-se que deve ter permanecido em valores
baixos a produtividade administrativa dos serviços da Administração do Estado.
QUADRO RESUMO DO COMPORTAMENTO DO PODER DE COMPRA DOS SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA
ANOS
Salário real
médio
Perda anual do
poder
compra(%)
mensal em Kz
Perda
acumulada
poder compra
(%)
2003
9759,50
-24,15
-24,15
2004
9060,52
-7,83
-30,09
2005
9032,27
-0,67
-30,56
2006
8900,91
-0,54
-30,85
2007
8995,9
0,801
-30,38
2008
9013,9
-0,431
-30,88
2009
8931,8
-1,145
-31,27
Salário real
mensal em
dólares
Taxa média de
câmbio
referência
123,41
79,08
108,59
83,44
111,81
80,78
110,90
80,26
117,59
76,5
119,91
75,17
112,18
79,62
FONTE: Núcleo da Macroeconomia, CEIC.
Em termos gráficos visualiza-se, duma forma mais sugestiva, a tendência de
comportamento do salário real médio da Função Pública.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
212
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
10.3.- Pobreza
Se os rendimentos do trabalho representam entre 30% a 40% do Rendimento
Nacional74, então a pobreza não se tem alterado duma forma sustentável. Aquela
repartição do rendimento significa que duma taxa de crescimento do PIB de 10%,
apenas 3% é encaminhada para o pagamento de salários e outras remunerações do
trabalho e o incremento do emprego (cobertura de novos postos de trabalho). Só ganhos
expressivos de produtividade podem atenuar o trade-off entre melhoria salarial e
acréscimo significativo de emprego.
Com os salários a representarem entre 30% a 40% do Rendimento Nacional não
se constituiu uma massa crítica de procura nacional para a diversificação da economia, o
que significa que este processo tem de ser essencialmente aberto, com a conquista do
mercado internacional pelo aumento das exportações e a melhoria da competitividade.
A criação de mais de 385000 novos postos de trabalho em 2009, anunciada pelo
Governo, só é compatível com um decréscimo do salário médio nacional, de modo a
acomodar a repartição do Rendimento nacional de 40% em favor do trabalho. A ser
assim, a pobreza não pode ter beneficiado, de modo significativo, do intenso
crescimento económico que tem ocorrido.
Parece que é consenso que Angola é um país de pobres, embora se não
disponham de informações actuais sobre este fenómeno (como se sabe, as últimas
remontam a 2001/2002). Por exemplo, a revista The Africa Report escreve: “Angola is
indeed a classical example of the resource curse, a country which is so rich but still has
so much poverty. In Angola’s case, the World Bank says that two-thirds of population
lives on less two dollars a day. One in six children die before they reach their fifth
birthday and more than half the population has no access to sanitation. The government
has acknowledged the challenges it faces in terms of tackling poverty, and since the end
74
CEIC, Núcleo de Macroeconomia, Estudos de Repartição do Rendimento.
213
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
of war, billions of dollars have been poured into social schemes including for health
and education”75.
Apesar da elevada taxa de exclusão, pobreza e condições de vida degradadas de
mais de 60% da população, a quantidade de serviços de saúde, educação, saneamento,
água, electricidade, habitação, etc., oferecida à população permanece muito deficitária.
AFECTAÇÃO ORÇAMENTAL AOS SECTORES SOCIAIS
EDUCAÇÃO
ANOS
SAÚDE
SEGURA. SOCIAL
HABITA.COMUIDA
TOTAL
%PIB
% total
%PIB
% total
%PIB
% total
%PIB
% total
%PIB
% total
2004
2,8
7,3
1,8
4,8
1,0
2,7
0,9
2,3
6,5
17,1
2005
2,2
6,3
1,5
4,3
5,2
14,8
1,0
2,9
9,9
28,3
2006
2,4
6,0
2,0
4,9
5,0
12,3
2,2
5,3
11,6
28,6
2007
2,9
8,4
1,8
5,3
5,5
15,9
1,8
5,3
12,3
35,6
2008
2,7
7,0
1,8
4,7
3,6
9,3
1,1
2,9
10,8
28,0
2009
3,8
7,8
2,5
5,1
6,6
13,7
2,4
5,0
15,3
31,6
FONTE: Ministério das Finanças, Relatórios de Execução de 2006, 2007, 2008 e 2009.
A região de Luanda, especialmente a cidade capital, é caracterizada por grandes
contrastes em matéria de repartição do rendimento. Os sinais exteriores de riqueza são
mostrados através da aquisição de apartamentos e moradias de 2 a 10 milhões de
dólares, da circulação de carros de topo de gama, de acesso a restaurantes de luxo de
preços inacessíveis e rendimentos médios mensais de mais de 25000 dólares. Os sinais
exteriores de pobreza são a proliferação dos muceques, os vendedores ambulantes, o
desemprego, o emprego precário, a falta de água, electricidade e saneamento, o difícil
acesso aos cuidados básicos de saúde, etc. Estima-se que cerca de 60% dos 6 milhões de
habitantes de Luanda vivam com menos de dois dólares por dia. Segundo o The Africa
Report “Luanda is a mishmash of great wealth and great poverty. While life in Luanda
is getting better for some – those who can afford the stellar rents of up to $25000 a
75
The Africa Report, December 2009-January 2010.
214
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
month and the overpriced restaurants – for most it remains a story of day-to-day
survival.”76
A crise mundial – com o cortejo de desempregados que desencadeou e a quebra
dos rendimentos mais débeis – fez aumentar as taxas de pobreza por esse mundo fora.
Os cenários mundiais sobre a pobreza são perturbadores77: em 2005, 3935
milhões de seres humanos (mais de 42% da população total do planeta) viviam (?) com
menos de dois dólares diários. Na África subsariana eram 945 milhões os pobres em
2005, uma percentagem de 77% da sua população total. Absolutamente confrangedor.
As Nações Unidas, através do seu competente departamento, opinam que “The
reduction in employment and income opportunities has led to a considerable slowdown
in the progress towards poverty reduction and the fight against hunger. Estimates by
the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations (UN/DESA)
suggest that, in 2009, between 47 and 84 million more people have remained poor or
will have fallen into poverty in developing countries and economies in transition than
would have been the case had pre-crisis growth continued its course. This setback was
felt predominantly in East and South Asia, where between 29 and 63 million people
were likely affected, of whom about two thirds were in India. By these estimates, the
crisis has trapped about 15 million more people in extreme poverty in Africa and almost
4 million in Latin America and the Caribbean. In the outlook for 2010, the economic
recovery is expected to encourage a resumption of the declining trend in global poverty
in the years prior to the crisis. Nonetheless, as growth in income per capita is expected
to fall well short of pre-crisis levels, poverty reduction will still be significantly less
than it would have been under pre-crisis trends.78
E o futuro não augura alterações a esta situação. Bem pelo contrário. O Banco
Mundial projecta um quantitativo de 941 milhões de africanos subsarianos pobres em
2015 (com menos de dois dólares por dia), correspondente a uma taxa de pobreza de
78,5%. E estas previsões do Banco Mundial não levaram em atenção os efeitos
dilacerantes da crise económica mundial, que vai afectar as populações mais vulneráveis
e trazer mais gente para o universo dos pobres.
Afinal o que se passa no mundo e em África? Com excepção de 2007 e
provavelmente de 2008, o crescimento económico mundial tem sido bastante aceitável,
mas, aparentemente, não o suficiente para melhorar as condições de vida da população,
arriscando-se, assim, a estruturalizar-se as situações de desemprego e pobreza. Na
África subsariana, os registos estatísticos do crescimento do PIB têm, igualmente, sido
positivos desde 2004, mas, uma vez mais, insuficientes para mitigar a pobreza, quanto
mais para revertê-la.
76
The Africa Report, December 2009-January 2010.
77
Banco Mundial, World Economic Prospects, 2010.
78
World Economic Situation and Prospects, United Nations January 2010.
215
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
São conhecidos estudos, baseados em análises temporais ou cross-section, que
crescentemente reconhecem que a qualidade do crescimento económico conta muito
para a redução das situações de pobreza. Com efeito, a igualdade de oportunidades e a
melhoria na distribuição do rendimento são factores essenciais para o sucesso das
estratégias de redução da pobreza.
A taxa de pobreza em Angola – aquela que se encontra estatisticamente validada
pelo inquérito às receitas e despesas familiares de 2002 – é de 68,2%, aguardando-se,
com grande ansiedade, os resultados do Inquérito às Receitas e Despesas Familiares
lançado em 2008.
Que efeitos teve a crise mundial e a redução da taxa de crescimento do PIB em
Angola? O gráfico seguinte apresenta os resultados dum possível cenário de
comportamento da pobreza em 2009.
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
216
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
11.- PERSPECTIVAS
11.1.- Economia mundial
Teme-se que a economia mundial possa, de novo, entrar num processo de
retracção do crescimento económico. Três factores determinarão se estes receios são
justificados.
O primeiro, é a força da recuperação, se auto-sustentável ou se ainda apoiada em
incentivos dos Governos.
O segundo, é a proporção dos problemas da dívida soberana, ou seja, se a Grécia
constitui um problema isolado, em termos de má situação financeira ou se os
investidores perdem confiança noutros governos seriamente endividados (Portugal,
Espanha e Irlanda na Europa).
O terceiro, é a destreza com que os Bancos Centrais e os Ministros das Finanças
a nível mundial concebem e coordenam as políticas de retirada dos incentivos
concedidos durante o pico da crise.
O quadro sobre o crescimento mundial está cada vez mais dividido. As grandes
economias emergentes (China, Índia, Brasil, Rússia, Coreia) estão em melhor estado,
com um forte crescimento da procura interna e pouca capacidade produtiva ociosa.
Brasil e Índia já puseram a crise para trás das costas. Considerando a escala da sua
concessão de financiamentos estatais, a economia chinesa está vulnerável a um aperto
repentino por parte dos burocratas. É possível, mesmo desejável, um abrandamento no
ritmo de crescimento da China, mas um deslize grave é improvável.
Nos países mais desenvolvidos há ainda poucos indícios de um forte crescimento
da procura privada.
Nos Estados Unidos, os últimos valores do PIB, ainda que optimistas, são
enganadores. O Produto aumentou a uma taxa anualizada de 5,7% no último trimestre
de 2009, principalmente porque as empresas estavam a recompor as suas existências,
consumidas durante o período de recessão. Com a economia ainda a dispensar empregos
– embora a um ritmo inferior –, os preços das acções a caírem, o mercado imobiliário
ainda vacilante e a dívida das famílias a encolher, é provável que as despesas correntes
permaneçam inalteradas. Nem será provável que as firmas, com tanta capacidade por
utilizar, realizem novos investimentos em 2010.
Na Europa e no Japão a situação é bem pior. Embora as exportações se
encontrem em vias de recuperação, o Japão voltou a cair na deflação dos preços (pouco
incentivo para o aumento da produção). Na Zona Euro, a recuperação já vacilava muito
antes da crise financeira grega rebentar e a procura interna estagnou, mesmo em países
como a Alemanha, onde as famílias não têm dívidas a pagar.
217
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Esta disparidade entre o mundo rico e o mundo emergente deve reflectir-se nas
respectivas políticas macroeconómicas.
As economias emergentes podem retirar os incentivos e subir as taxas de juro
antes que a inflação arranque. Mas nas grandes, fracas e ricas economias é ainda cedo
para apertar. Os perigos de repetição dos erros cometidos nos Estados Unidos em 1937
e no Japão em 2997 – quando aumentos prematuros dos impostos e uma política
monetária mais restritiva empurraram as frágeis economias novamente para a recessão –
são maiores do que os riscos de inacção. Com o PIB tão abaixo do seu potencial e o
crescimento do crédito estagnado, há poucas hipóteses para uma inflação sustentada. Na
sua reunião de 6 de Fevereiro, os Ministros das Finanças do G-7 concluíram,
acertadamente, que é demasiado cedo para se iniciar o processo de retirada de
incentivos. No entanto, nenhum destes países apresentou um plano orçamental credível
a médio prazo. No topo da lista devem estar as reformas, como, por exemplo, o aumento
da idade de reforma ou os benefícios futuros para carência de recursos, que melhoram
as perspectivas fiscais dos países, sem encrespar a procura actual.
No final de 2009, um estudo do World Economic Forum (WEF), identifica os
riscos que afectam a economia mundial e o seu crescimento. Este estudo – já no seu
quinto ano de publicação – intitulado “Global Risks 2010”, apresenta uma matriz de
riscos, desenha um mapa de interconexões de riscos e analisa os efeitos sistémicos e de
dominó de cada um tomando em linha de conta 158 países e mais de 30 riscos globais.
Os dois maiores riscos em 2010 e com efeitos para os anos seguintes são
económicos: primeiro, a continuação do estoirar de bolhas no terreno bolsista,
imobiliário e nos mercados de commodities; em segundo lugar, o comportamento da
economia chinesa, actualmente o motor do crescimento mundial, caso a respectiva taxa
de crescimento desça, subitamente, para uma média de 6% ao ano.
A ocorrência destes dois riscos tem uma probabilidade superior a 20% e
acarretarão efeitos em dominó na economia mundial, cada um acima dos 250 mil
milhões de dólares (sensivelmente o PIB português). No caso das derrocadas em
mercados de activos financeiros ou outros, o efeito poderá estar acima de 952 mil
milhões de dólares.
Ainda dentro dos riscos económicos surgem as crises orçamentais e os
problemas relacionados com as dívidas soberanas dos países desenvolvidos e do G20.
Os défices orçamentais dos países do G20 representam 7,9% do PIB combinado desses
vinte países, mais de duas vezes acima do famoso limite europeu de Maastrichdt (cerca
de 2%).
A maioria dos riscos assinalados é de natureza económica (cinco), distribuindose os três restantes pela área da saúde (doenças crónicas), da geopolítica (problemas de
governação global) e da tecnologia (situação de vulnerabilidade das infraestruturas
218
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
críticas de tecnologias de informação com interconexão directa aos sistemas militares,
financeiros, logísticos, de água e electricidade e de emergência.
O ónus do desencadeamento de crises globais a partir dos problemas do défice
fiscal e de refinanciamento da dívida, segundo o WEF, teria passado do mundo
emergente (apesar de situações extremas como na Venezuela, na Argentina e na
Ucrânia), para o mundo desenvolvido (incluindo neste os antigos tigres asiáticos, os
reinos e emirados do petróleo e, naturalmente, os países europeus que têm estado em
foco, como a Islândia e os designados por PIIGS (Portugal, Irlanda, Islândia, Grécia e
Espanha).
Os riscos geopolíticos, associados à Coreia do Norte e ao terrorismo
internacional têm probabilidade de risco inferior a 5%.
Os oito riscos: colapso de bolhas de activos, abrandamento económico da China,
peso crescente das doenças crónicas, crises orçamentais e da dívida soberana dos países
desenvolvidos, problemas de governação global, aumento das políticas proteccionistas,
volatilidade dos preços dos produtos alimentares e rupturas nas infraestruturas críticas.
Em termos geográficos, Dubai, Abu Dhabi, Bahrain, Líbano e parte da Europa
Báltica e do Leste são considerados países de alto risco em 2010, segundo o Royal Bank
of Scotland79. O relatório “Predicting Sovereign Debt Crisis: 2010”, da equipa de
Timothy Ash, chefe do grupo de análise do banco inglês para a região da Europa, Médio
Oriente e África, colocou 14 países da área na lista das economias com predisposição
para a crise em 2010.
O grupo de risco divide-se em três blocos geoeconómicos: Próximo e Médio
Oriente (Líbano, os Emiratos Árabes Unidos e Baharain), uma larga franja da União
Europeia que ainda está fora do euro (Bulgária, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia,
Roménia e Polónia), ou umbilicalmente ligada à União Europeia (Islândia) e a nova
zona política cinzenta, mais a leste (Croácia, Ucrânia e Cazaquistão).
11.2.- As grandes economias
Talvez o desafio mais importante para as economias mais desenvolvidas, em
2010 e 2011, venha a ser o desemprego. O aumento dos gastos públicos como tentativa
de contrariar a quebra do PIB em 2009 e alavancar o crescimento da economia e a
diminuição do desemprego associado, não produziu os resultados esperados.
79
O Royal Bank of Sctoland classifica anualmente 39 economias emergentes, usando um
conjunto de critérios definidos por um estudo do Fundo Monetário Internacional realizado por Nouriel
Rubini.
219
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
A economia do euro está em sérias dificuldades financeiras e cinco países
defrontam-se com problemas dramáticos relacionados com o défice fiscal e a dívida
pública interna, que podem arrastar uma nova crise de crescimento a nível global. A
sistemática desvalorização do euro ocorrida em Março e Abril de 2010 – podendo ter
efeitos positivos na competitividade das exportações europeias – pode, do mesmo
modo, desencadear reacções por parte da China, que tem na Europa um dos seus mais
importantes clientes. De resto, as autoridades monetárias chinesas já fizeram saber a sua
intenção de desvalorizar o yuan. Claro que uma nova crise internacional é um mau
cenário para a economia angolana, cujas exportações de petróleo se concentram na
China, Estados Unidos e União Europeia.
As previsões quanto à taxa de desemprego para 2010 são arrasadoras, ficando
comprometida a recuperação do crescimento pela via do consumo das famílias. Na
União Europeia, a taxa de desemprego pode chegar a 10%, com destaque para a
Espanha (19%), Alemanha (8,2%), Bélgica (12,1%), França (10,1%), Grécia (10,2%) e
Portugal (10%). A recuperação económica da Europa vai articular-se em torno da
redução da taxa de desemprego, uma vez que, a despeito dos excelentes sistemas de
protecção social existentes, os países não suportam durante muito tempo tamanho
desperdício na utilização deste factor de produção.
Os Estados Unidos e o Canadá – as duas maiores economias da NAFTA –
também se encontram afectados pelo desemprego. Nos Estados Unidos prevê-se que em
2010 continuem sem emprego 9,7% da força de trabalho disponível e no Canadá um
pouco menos, cerca de 8,2%. Ou seja, o crescimento económico previsto (3,1% em
2010 e 2,6% em 2011, para os Estados Unidos e 3,1% e 3,2% para os mesmos anos para
o Canadá) não vai ser suficiente para arrastar as taxas de desperdício de mão-de-obra
para os níveis registados antes da crise 2008/2009.
Caso não ocorram incidentes de percurso – improvável face à crise europeia – as
taxas de crescimento do PIB apontadas podem ter efeitos positivos na economia
angolana.
As previsões de crescimento na Europa são bem mais modestas para 2010 e
2011. O FMI, nas suas previsões de Primavera80, aponta, por exemplo, para a
continuação da recessão económica em Espanha em 2010 (-0,4%), sendo que mesmo
em 2011 a sua economia nem sequer ao nível de 1% irá crescer. A Espanha começa a
partilhar com Angola muitos projectos de investimento e a recuperação da sua economia
é relevante para a dinâmica da angolana.
80
International Monetary Fund – World Economic Outlook, April 2010.
220
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
No mesmo sentido se coloca Portugal, a braços com uma crise financeira interna
provocada pelos excessivos défices orçamentais que se transformaram numa dívida
interna próxima dos 100% do PIB.
FONTE: IMF, World Economic Outlook, April 2010.
11.3.- As economias emergentes
Dentre as economias emergentes, as mais fortes são a China, Índia, Rússia,
Brasil, Argentina e África do Sul.
A China é, desde há já algum tempo, um dos motores da economia mundial,
tendo, apesar da crise mundial, crescido 8,7% em 2009. No entanto, não conseguiu
evitar que a taxa de desemprego chegasse aos 9,6% (qualquer coisa como 63 milhões de
desempregados, um verdadeiro exército). As expectativas de crescimento do PIB para
2010 e 2011 são óptimas (respectivamente, 10% e 9,9%), o que é útil para Angola.
A Índia é a segunda maior economia dos emergentes e que também conseguiu
resistir à crise internacional, com uma taxa de variação percentual do PIB de 5,7% em
2009. A taxa de desemprego em 2010 ultrapassou a da China, tendo-se fixado em
10,7%.
A Rússia esteve em recessão económica em 2009 (-7,9% de crescimento do
PIB), tendo o desemprego reagido em conformidade (taxa de desemprego de 8,6%. Para
2010 e 2011 estão previstos crescimentos do PIB, embora relativamente modestos,
respectivamente, 4% e 3,3%.
Finalmente, o Brasil, que depois de se ter bem adaptado a um crescimento
negativo de 0,2% em 2009, prepara-se para reencontrar a sua rota tendencial de
221
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
crescimento. Para 2010 e 2011, o FMI prevê 5,5% e 4,1%, expectativas muito boas e
que poderão ter impacto em Angola.
FONTE: IMF, World Economic Outlook, April 2010.
11.4.- A economia africana subsariana
Espera-se que a forte recuperação dos fluxos do comércio internacional registada
no último trimestre de 2009 possa, em conjugação com a estabilização das condições
financeiras, alimentar expectativas de retoma do crescimento do PIB africano para
patamares mais consentâneos com as necessidades de vencimento da pobreza e
melhoria geral das condições de vida da população (a redução da taxa de pobreza em
50%, de acordo com os Objectivos do Milénio das Nações Unidas, exige uma taxa de
crescimento média anual do PIB de cerca de 7,5% durante 10 anos consecutivos).
Assim, em 2010, o PIB da África subsariana deverá crescer em torno de 4,7%,
acima da média mundial de 4,2%. Destacam-se os crescimentos previstos para a Argélia
(3,7%), Marrocos (3,2%) e Líbia (5,2%). Nos PALOP, Angola é a economia que mais
vai crescer em 2010 (8,3%), mas Moçambique (5%) e Cabo Verde (4%) irão estar na
rota de crescimento médio do continente.
Acima de tudo, a recuperação dum relativo dinamismo económico em África em
2010 deverá depender duma melhoria da conjuntura do mercado das commodirties,
sustentada, em parte, pela Ásia emergente, da manutenção de taxas de investimento
elevadas (não se prevê que os países africanos que decidiram apoiar as suas economias
pela via dos investimentos públicos e da sustentação dos sistemas bancários abdiquem
desses estímulos já em 2010), duma certa recuperação dos fluxos de entradas de capitais
do exterior e das ajudas externas.
222
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
FONTE: IMF, World Economic Outlook, April 2010.
11.5.- A economia angolana
A despeito de existirem determinados factores abonatórios duma retoma do
crescimento económico para os próximos anos, persistem, no entanto, certos factores de
risco político e económico que importa levar em devida consideração81.
APRECIAÇÃO DOS FACTORES DE RISCO DE ANGOLA
Risco político de curto
prazo
ANGOLA
Risco político de longo
prazo
Risco económico de
curto prazo
Risco económico de
longo prazo
Índice
Ranking
Índice
Ranking
Índice
Ranking
Índice
Ranking
69,0
11
38,6
33
58,5
11
50,2
12
Fonte: Business Monitor International, Angola-Business Forecast Report, First Quarter 2010.
Notas: Quanto mais elevado o valor do índice melhor a situação do país.
De acordo com os autores do relatório, o maior risco político de longo prazo está
associado à fraqueza da democracia interna e aos receios quanto à estabilidade política
trazidos pela sucessão presidencial. Entre 37 países africanos, o risco político de longo
prazo de Angola é dos maiores, só superado pelo da RDC e do Zimbabwe.
Pelo contrário, o posicionamento do país quanto aos riscos económicos é bom,
situando-se no primeiro terço da tabela do Business Monitor International. Os aspectos
81
Por exemplo, o Angola Business Forecast Report, já citado, no capítulo reservado às projecções, não
considera possível o país voltar às taxas reais de crescimento de dois dígitos até 2019. Para o período em
referência no Relatório Económico de 2009, o ABFR estabelece como taxas possíveis: 8% em 2010,
6,9% em 2011, e 9,9% em 2012. As razões dadas radicam, exactamente nos factores de risco político e
económico.Este relatório serve de referência para os investidores privados e homens de negócios.
223
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
tidos em consideração para estas classificações prendem-se com a excessiva
concentração nas actividades petrolíferas e com a lentidão do processo de diversificação
da economia.
Para efeito das projecções sobre o provável comportamento da economia
angolana no triénio 2010-2012 foram considerados os seguintes factores de
crescimento:
•
Aumento das exportações e do preço do petróleo.
•
Expansão dos projectos agrícolas e das obras de irrigação (estão
previstos investimentos de 1,2 mil milhões de dólares para o
desenvolvimento da agricultura entre 2009 e 2012). Estes
investimentos serão cobertos com empréstimos chineses e o
principal objectivo é o aumentar a oferta de bens agrícolas para
o mercado interno, melhorar a segurança alimentar e reduzir as
importações (às quais está associado um elevado preço)82.
•
Investimento de 220 milhões de dólares numa plantação de
cana-de-açúcar de 30 mil hectares, visando-se a produção de
280 mil toneladas de açúcar e 30 mil metros cúbicos de etanol
por ano.
•
Entrada em funcionamento da fábrica de montagem de
automóveis, em Viana, com produção de 10 mil carros por ano
até 2012, prevendo-se um aumento para 30000 a partir daí.
•
Expansão da construção.
•
Aumento do investimento, público e privado.
•
Entrada em funcionamento dos pólos industriais.
•
Alteração da política monetária e cambial (expectativas quanto
à potencial liberalização do regime cambial).
•
Melhoria dos circuitos e sistemas de distribuição da produção.
A assunção fundamental das projecções é a de que o modelo de crescimento
económico tem de se desviar da economia petrolífera e dar mais espaço aos sectores
82
Uma das metas deste programa agrícola é a de se aumentar a produção de cereais para 15 milhões de
toneladas no final do período, o que se afigura difícil, atendendo ao facto de em 2009 a produção não ter
ultrapassado as 1,8 milhões de toneladas.
224
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
estruturantes duma diversificação profunda, consistente e sustentável e mais
vocacionados para ajudar a reduzir a pobreza.
QUADRO DE HIPÓTESES DAS PROJECÇÕES
VARIÁVEIS E PARÂMETROS
2010
2011
2012
715400
737300
766500
66
71
80
38,9
36,6
34,6
Produção de petróleo (milhões de barris)
Preço do barril de petróleo (dólares)
PIB petrolífero/PIB (%)
Alguns comentários ao quadro de hipóteses:
•
As projecções sobre o comportamento do preço do petróleo
foram compiladas de diversos artigos de opinião, das
informações do FMI, Banco Mundial, OCDE e Agência
Internacional de Energia83. O denominador comum é o elevado
grau de imprevisibilidade, não só devido às incertezas da
retoma do crescimento mundial, como das consequências das
políticas de substituição do petróleo por fontes energéticas mais
limpas. Daí as projecções conservadoras do Relatório
Económico84.
•
A produção de petróleo baseia-se nas informações do
Ministério dos Petróleos.
•
Os valores da relação PIB petrolífero/PIB têm em consideração
o desejo de diversificação da economia nacional. Daí ter-se
admitido a sua redução no período considerado.
A introdução destes – e, naturalmente, de outros – elementos no modelo do
CEIC permitiu a obtenção dos seguintes resultados previsionais.
PROJECÇÕES DO PIB
(taxas reais de variação em %)
83
IMF (World Economic Outlook, April 2010), World Bank (Global Economic Prospects 2010), OCDE
(African Economic Outlook) e IEA (World Energy Report 2009).
84
O FMI considera possíveis preços de 80 dólares em 2010 e 83 dólares em 2011, que são óptimos para
as economias produtores de petróleo, mas péssimos para o processo de recuperação da economia mundial
e dos países africanos importadores do crude. Já o Banco Mundial prevê um preço de 76 dólares para
2010 e 76,6 dólares para 2011.
225
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
SECTORES ECONÓMICOS
Agricultura,silvicultura,pescas
Petróleo e refinados
Diamantes e outros
Indústria transformadora
Energia eléctrica e água
Obras públicas e construção
Comércio,Bancos,Seguros,Servi
Outros
PIB
PIB não petrolífero
PIB por habitante em dólares de 2002
CEIC/UCAN
2009
27,0
-5,1
4,6
10,3
19,4
12,8
4,3
5,7
2,0
7,2
2010
13,2
8,3
4,6
16,9
20,9
15,8
4,5
2,8
8,8
9,1
1738,6
2011
20,4
3,1
7,3
18,7
18,0
19,4
9,5
7,0
9,5
13,7
1850,8
2012
19,9
4,0
10,0
21,2
10,0
12,0
10,5
8,6
10,0
13,4
1977,9
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
Em termos gráficos a situação é a seguinte.
FONTE: Núcleo de Macroeconomia do CEIC.
As disparidades de previsões quanto ao provável comportamento da economia
angolana são muitas, valendo a pena cotejar algumas delas.
COMPARAÇÃO ENTRE ALGUMAS PREVISÕES DE CRESCIMENTO DO PIB ANGOLANO
FONTES
2010
2011
FMI
7,1
8,3
World Bank
6,5
8,0
OCDE
7,7
9,3
Governo (antes da revisão em curso)
8,6
10,4
CEIC
8,8
9,5
Quanto à taxa de inflação, as projecções basearam-se em pressupostos como:
226
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
•
Uma reconstituição segura do stock de reservas internacionais85,
propiciada pelo comportamento ascendente do preço do
petróleo e pela manutenção de níveis elevados de exportação do
crude. Este pressuposto baseia-se nas actuais tendências de
recuperação da economia mundial, puxada pelos Estados
Unidos, a China, a Índia e alguns outros países emergentes.
•
A circunstância anterior pode permitir utilizar a política cambial
como âncora da inflação, procedendo a uma valorização
gradual e cuidada da moeda nacional, de modo a não criar
expectativas negativas sobre a diversificação da economia, na
sua componente externa.
•
O controlo da política monetária em níveis compatíveis com as
necessidades de crescimento da economia e a estabilidade de
preços. Admitiu-se que a agregado M2 se expandisse cerca de
30% em média anual.
Assim sendo:
2010
2011
2012
Taxa de inflação
13,0
11,8
9,8
Taxa de câmbio
82,5
82,5
77,9
Agregado monetário M2
30,0
30,0
30,0
8,8
9,5
10,0
Taxa real de crescimento PIB
As previsões do FMI quanto à taxa de inflação apontam para 15% em 2010 e
9,8% em 2011.
85
No final de Abril de 2010, o seu montante ascendeu a 15,4 mil milhões de dólares, segundo as
estatísticas monetárias do Banco Central.
227
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
ANEXOS ESTATÍSTICOS
RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS (milhões de dólares)
2008
2009
11.306,80
16.655,80
11.882,02
15.353,97
12.605,88
13.731,03
13.369,7
12.434,45
15.300,09
12.201,46
15.353,84
12.148,71
16.477,02
12.380,00
19.316,89
12.608,41
19.250,13
12.809,41
19.415,84
12.116,15
20.059,15
12.912,61
18.011,97
12.422,20
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
FONTE: BNA, Direcção de Estudos e Estatísticas.
VENDAS LÍQUIDAS DE DIVISAS (milhões de dólares)
2008
2009
809,3
657,00
558,56
1.668,00
635,75
1.116,65
724,38
972,00
634,47
484,03
479,30
474,65
352,70
142,93
657,10
572,37
685,41
583,12
971,10
1.350,55
406,60
1.171,04
1.915,84
250,00
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
FONTE: BNA, Direcção de Estudos e Estatísticas.
228
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
MONTANTE DE CRÉDITO À ECONOMIA (stock em milhões de dólares)
2008
2009
6.799,2
11.433,37
7.084,4
11.382,79
7.586,1
11.912,04
7.970,1
12.293,13
8.211,2
12.485,57
8.708,1
12.812,52
9.314,7
13.050,6
10.993,0
13.365,5
10.172,4
13.986,39
10.540,5
14.048,25
10.918,2
14.870,77
11.452,8
14894,90
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
FONTE: BNA, Direcção de Estudos e Estatísticas.
PRODUÇÃO MENSAL DE PETRÓLEO (milhares de barris)
2007
2008
2009
49104
58733,4
54768,7
45181
55641,3
46543,6
50825
57686,6
51014,1
50367
57947
51813,6
52349
60274
54575,0
49164
58954
54047,6
50920
60398
58074,1
53792
58809
58590,4
51539
53642
57028,3
55894
57689
59768,5
54251
56032
55266,0
56140
59877
58780,8
1707
1927
1823
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Média diária
FONTE: Ministério dos Petróleos.
229
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
PREÇO MENSAL DO BARRIL DE PETRÓLEO (dólares)
2007
2008
2009
50,7
89,7
37,9
63,6
93,4
41,3
58,8
101,1
46,3
57,7
94,7
49,5
62,6
108,5
56,0
63,3
130,5
66,7
67,0
126,9
63,8
64,3
107,4
71,4
74,1
95,0
66,8
67,7
64,9
74,6
74,7
46,7
76,1
72,2
35,6
80,0
64,7
91,2
60,9
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Média anual
FONTE: Ministério dos Petróleos.
PRODUÇÃO MENSAL DE DIAMANTES (quilates)
2007
2008
2009
753716
808343
208176
693836
850346
740685
675703
690609
852105
801693
773115
773057
688926
851014
617104
717085
835158
1316924
458420
855612
781507
1151397
835134
986432
801015
786976
700745
872342
805212
765412
851191
704321
742340
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
230
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Dezembro
1279041
95530
835142
FONTE: Ministério da Geologia e Minas.
PREÇO MENSAL MÉDIO DO QUILATE DE DIAMANTES (dólares)
2007
2008
2009
126,4
144,2
130,3
122,3
163,0
68,5
151,4
162,4
77,2
133,4
156,5
89,5
134,0
141,2
75,8
129,7
128,3
74,5
132,9
144,4
77,6
132,2
138,0
93,4
166,8
145,6
78,7
112,1
140,5
93,4
114,6
123,9
78,7
131,2
136,7
83,2
132,2
143,7
85,1
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Dezembro
Preço médio anual
FONTE: Ministério da Geologia e Minas.
TAXAS REAIS DE CRESCIMENTO (%)
Agricultura,silvicultura,pescas
Petróleo bruto e gás
Diamantes e outras
Indústria transformadora
Energia e água
Construção
Serviços mercantis
Serviços não mercantis
PIB
2002
13,4
20,6
-2,1
10,3
21,3
10,0
11,6
2,5
13,2
2003
11,7
-2,2
19,8
11,9
0,2
12,6
9,9
1,9
5,2
2004
14,1
13,1
0,8
13,5
11,5
14
10,4
2,5
11,3
2005
17,0
26,0
16,2
24,9
17,4
16,9
8,5
2,6
20,6
2006
9,8
13,1
30,9
44,7
13,2
30,0
38,1
8,2
18,6
FONTE: Ministério do Planeamento: Relatório do Balanço de Execução de 2009.
ANGOLA E A ÁFRICA EM 2008
RNB
RNBpc
População
Txcres89/08
Txvari08/07
África do
Sul
283,4
5820,0
48,7
3,3
3,4
Nígéria
176,9
1170,1
151,2
5,4
29,0
Egipto
146,7
1799,7
81,5
5,6
19,7
Argélia
144,1
4190,3
34,4
3,5
20,7
Marrocos
79,6
2519,6
31,6
4,8
14,7
Líbia
78,0
12380,1
6,3
3,7
40,5
231
2007
27,39
20,36
5,1
32,57
8,60
37,06
29,47
11,59
20,86
2008
1,86
12,29
-8,19
11,0
26,1
25,6
26,90
1,896
13,61
2009
29,0
-5,1
4,6
10,0
18,3
23,8
-1,5
5,9
2,7
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
Angola
62,5
3340,4
18,7
11,6
CEIC/UCAN
43,3
FONTE: World Development Report 2010, World Bank.
INDÚSTRIA TRANSFORMADORA (valores acrescentados em milhões de dólares correntes)
SECTORES
Alimentares
Bebidas
Tabaco
Têxteis
Confecções
Couro e Calçado
Madeira
Química
Plásticos
Minerais não metálicos
Metais comuns
Produtos metálicos
Embalagens metálicas
Máquinas e equipamentos
Máquinas e aparelhos
eléctricos
Equipamento de transporte
Indústria Transformadora
2004
504,0
343,0
4,9
0,0
0,0
0,0
5,9
10,4
14,0
11,6
0,0
5,1
8,6
0,7
2005
594,3
522,4
8,1
0,0
0,0
0,0
11,9
20,5
19,2
39,8
0,0
7,9
13,5
1,1
2006
710,0
1026,9
19,7
0,0
0,4
0,0
29,4
36,5
35,7
115,1
0,0
12,8
30,2
9,5
2007
722,5
1716,4
32,8
0,0
0,0
0,0
42,3
240,7
73,8
153,3
0,0
94,3
50,5
6,0
2008
974,1
2348,3
64,7
0,0
0,0
0,0
25,5
160,1
91,3
280,5
0,0
97,4
0,0
0,0
2009
1092,0
3063,2
0,0
0,0
4,2
0,0
43,6
132,3
28,6
328,8
0,0
101,1
0,0
0,0
1,5
0,0
909,7
2,0
0,0
1240,8
3,5
0,0
2029,8
10,7
11,7
3155,2
0,0
0,0
4041,8
0,0
0,0
4793,9
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC, com base em informações dos Ministérios do
Planeamento e da Indústria.
ESTRUTURA DA DESPESA NACIONAL (%)
SECTORES
Exportações/PIB
Importações/PIB
Consumo Público/PIB
Consumo Privado/PIB
Investimento Público/PIB
Investimento total/PIB
Investimento privado não petrolífero
Investimento petrolífero/PIB
2004
74,5
-57,4
21,1
18,4
4,7
43,4
3,5
35,1
2005
80,2
-50,0
20,1
18,2
5,1
31,5
2,4
24,0
2006
79,7
-38,9
16,4
6,4
12,9
36,5
1,9
19,7
2007
75,2
-42,0
15,6
19,0
12,0
32,3
2,0
14,4
2008
78,2
-52,5
17,0
24,9
14,5
32,4
2,2
12,7
2009
58,7
-58,0
26,1
51,6
4,3
21,7
2,6
5,5
FONTE: Cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC, com base em informações do Ministério do
Planeamento e do BNA.
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO EM ANGOLA
ANOS
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
População
13134000
13553934
13947000
14351463
14767655
15252000
15694300
17385700
17889885
18408692
População activa
6344000,0
6477117,0
6861924,0
7060919,8
7265686,3
7503984,0
7721595,6
8432064,5
8676594,4
8928215,6
FONTE: MINPLAN e cálculos do Núcleo de Macroeconomia do CEIC com base nos dados do recenseamento
eleitoral de 2007.
232
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
APROXIMAÇÃO AO COMPORTAMENTO DA POBREZA EM ANGOLA NOS ÚLTIMOS ANOS
Taxa real crescimento
ANOS
Taxa de pobreza (%)
População pobre
População
PIB por habitante (%)
2003
67,9
10521,7
15507,1
2,2
66,6
10624,6
15956,8
8,2
64,0
10502,4
16419,6
17,2
61,7
10429,7
16895,7
15,3
59,3
10302,5
17385,7
17,5
57,8
10349,0
17889,9
10,4
58,9
10846,4
18408,7
-0,8
2004
2005
2006
2007
2008
2009
FONTE: CEIC – Cenários de Redução da Pobreza em Angola, 2009, Núcleo de Macroeconomia.
233
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
12.-RECAPITULAÇÃO DOS PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS ECONÓMICOS EM 2009
Janeiro
• O programa de médio e longo prazo do Ministério da Agricultura e
Desenvolvimento Rural para o quadriénio 2008/2012 prevê uma produção de
mais de 15 milhões de toneladas de cereais, para suprir o défice de alimentos na
ordem das 600 mil toneladas. O Director Nacional de Agricultura, Pecuária e
Floresta, Domingos Nazaré Veloso, que falava durante uma entrevista, que
decorreu no acto de cumprimentos de fim de ano, afirmou que o actual défice de
alimentos, em particular o milho e o trigo, têm sido supridos pelas importações.
• Amadeu Maurício, Governador do Banco Nacional de Angola, na cerimónia de
cumprimentos de fim de ano, afirmou que a acumulação das Reservas
Internacionais Líquidas de Angola atingiu o nível recorde de 18,9 mil milhões
de dólares americanos, acima do stock da dívida externa pública. Até Novembro
de 2008, estava avaliada em 13,6 mil milhões de dólares americanos. Afirmou
ainda que, fruto da estabilidade macroeconómica, o risco do país registou uma
queda, tendo saído da última para a penúltima posição do ranking do Clube de
Paris. Essa posição pode ser ainda melhorada quando o país terminar a
liquidação de juro de mora avaliado em 1,8 mil milhões de dólares americanos.
• Para o governador do Banco Nacional de Angola, Amadeu Maurício, se na
maioria dos países desenvolvidos o sistema bancário enfrentou dificuldades no
decurso do ano de 2008, a banca angolana registou níveis de crescimento
significativos. O Banco Nacional autorizou em 2008 a abertura de 7 Casas de
Câmbios e de 2 Instituições Bancárias, elevando para 19 o número de bancos no
mercado no fim de 2008. Estão ainda em análise pedidos de autorização para a
constituição de 7 bancos e de 2 casas de câmbios.
• O preço de petróleo no mercado de Nova York fechou o último dia de
negociação do ano tão instável como o foi ao longo de 2008. Ignorando o
aumento das reservas americanas, o preço do barril disparou e teve um ganho de
mais de 14 %. O barril para entrega em Fevereiro ficou cotado a 44,60 dólares
americanos, com um avanço de 14,27 % sobre o fecho do dia anterior.
• Segundo o Secretário do Conselho de Administração do Banco de Poupança e
Crédito, António Panguila, o seu banco prevê elevar para 30 milhões de dólares
americanos, em 2009, o valor do micro – crédito para acudir a pessoas de baixos
rendimentos.
• A Capitania do Porto do Namibe arrecadou para os cofres do Estado em 2008
39.515.772 Kwanzas, mais de 13.886.846 em relação ao ano de 2007. A
informação foi prestada pelo capitão António Germano.
234
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• A Direcção Provincial do Comércio e Hotelaria do Namibe licenciou 86
estabelecimentos comerciais em 2008, sendo 6 estabelecimentos grossistas, 63
retalhistas e 17 estações de serviços. Foram ainda licenciados 43 agentes do
comércio ambulante. A informação foi prestada pela Directora Provincial Maria
Pombal.
• As Linhas Aéreas de Angola (TAAG) passam a escalar, a partir do primeiro
trimestre de 2009 a cidade de São Paulo, Brasil, no quadro do reforço do seu
desempenho comercial, anunciou o membro da Comissão de Gestão da
Companhia, Rui Carreira.
• De acordo com o Director Nacional das Alfandegas, Sílvio Franco Burity, o país
perde todos os meses cerca de 3 milhões de dólares americanos, como
consequência da exportação ilícita de moeda, fenómeno que tende a aumentar.
Segundo aquele Director foram feitas muitas apreensões de moeda de pessoas
que tentavam exportá-la ilicitamente, alertando para a abstenção dessa prática a
quem viaja.
• O Governo ajustou as receitas e as despesas ao preço actual do petróleo bruto na
Programação Financeira do Tesouro para o primeiro trimestre do ano 2009. O
documento foi aprovado pelo Conselho de Ministros, durante a sua primeira
sessão extraordinária de 2009.
• A China passou a ser a terceira economia do mundo, atrás apenas do Japão e dos
Estados Unidos, depois do anúncio, por Pequim, de um crescimento, em 2007,
mais forte que o previsto, o que coloca o país, automaticamente, à frente da
Alemanha. Os números relativos ao desempenho de vários sectores foram
revistos em alta. Assim, o crescimento económico da China em 2007 foi de 13%
e não de 11,9% como antes estimado, confirmou o Escritório Nacional de
Estatística da China, destacando que esta percentagem é definitiva.
• O pacote para estimular a economia americana, proposta pelo presidente Barack
Obama, avaliado em 819 mil milhões de dólares, foi aprovado no dia 29 de
Janeiro de 2009 pela Casa dos Representantes. Sem o apoio dos deputados
republicanos, o projecto foi aprovado com 244 votos a favor e 188 contra.
• A norte americana Ford registou em 2008 um prejuízo de 14,6 mil milhões de
dólares americanos, que é agora a maior perda anual de sempre do principal
fabricante de automóveis dos Estados Unidos, depois do resultado negativo de
12,6 milhões em 2006.
• A OPEP anunciou que pode efectuar novos cortes de produção, caso o preço do
petróleo continue baixo. Segundo Addalla Salem El Badri, Secretário-Geral da
OPEP, a procura de petróleo diminui, o que fez com que o preço do barril
tivesse caído de 147 dólares americanos para cerca de 40, hoje.
235
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• A economia americana sofreu uma queda acentuada no quarto trimestre de 2008,
com uma contracção de 3,8%. Trata-se do pior desempenho trimestral desde o
primeiro trimestre de 1982, que chegou a 6,4%.
• O grupo português Unicer vai construir em Luanda, no primeiro trimestre de
2009, uma fábrica de cerveja com capacidade, numa primeira fase, de 120
milhões de litros por ano, num investimento de 100 milhões de euros. Segundo o
presidente do grupo, António Pires de Lima, a unidade vai empregar 150
trabalhadores e até 2013 a capacidade de produção será de 200 milhões de litros.
• O embaixador indiano em Angola, Ajjampur Rangaiah Ghanashyan, disse que
empresários indianos querem investir em Angola nos ramos da indústria, da
agricultura e da educação. O embaixador falava num encontro com o Ministro
da Indústria Joaquim David.
Fevereiro
• A Chanceler alemã, Ângela Merkel, propôs na 39ª reunião anual do Fórum
Económico Mundial, que teve lugar em Davos, Suiça, a constituição de um
Conselho Económico no seio das Nações Unidas, para responder à necessidade
de uma maior regulação financeira internacional.
• George Soros, investidor multimilionário, afirmou que a existência do euro
poderá estar em perigo caso a União Europeia não dê passos firmes para retirar
do mercado os activos considerados tóxicos.
• O Primeiro-ministro japonês, Taro Aso, anunciou em Davos, que o seu país vai
disponibilizar 17 milhões de dólares americanos para apoiar o crescimento
económico dos países asiáticos, pois segundo ele será necessário reforçar a
cooperação regional, fortalecendo o potencial de crescimento da Ásia e
aumentando a procura doméstica.
• Morais Pascoal, responsável de micro-crédito do Banco Sol, disse que de um
total de 1.697 cidadãos da Província do Bengo num crédito de 2,5 milhões de
dólares americanos em 2008 e em 2009, o Banco perspectiva injectar 1,2 milhão
de dólares americanos para a concessão de créditos às comunidades rurais com o
objectivo de melhorar as culturas e o aumento da produção agrícola.
• A Comissária para o Comércio e Indústria da União Africana, Elizabeth Tankeu,
declarou, em Addis Abeba, que a União Africana mobiliza-se para reunir os
produtores agrícolas africanos a fim de controlar efectivamente a fixação dos
preços dos produtos agrícolas e contrapor à dominação dos países ricos que se
ocupam desta situação desde sempre. Ela adiantou ainda que a União Africana
começou a convencer a América Latina de que os produtores devem propor
mecanismos que possam permitir aos Estados Unidos e a outros países
consumidores dos nossos produtos básicos a oferecerem-nos preços melhores.
236
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• José Madruga, Director da Empresa Procafé UEE, anunciou que cerca de 138
toneladas de café mabuba foram comercializadas na Província do Uige. O Café
foi comprado a produtores de oito municípios da Província: Uige, Quitexe, Púri,
Sanza Pombo, Mucaba, Milunga, Bungo e Buengas.
• Paixão Júnior, Presidente do Conselho de Administração do Banco de Poupança
e Crédito, inaugurou na vila de Camabatela, Município de Ambaca, Província do
Kwanza Norte, mais um Balcão, elevando para 166 o número de balcões em
todo país.
• O Banco de Negócios Internacional (BNI) inaugurou, em Luanda, a agência sede
da Rede Expresso 24. Foi um investimento na ordem de 1 milhão de dólares
americanos.
• O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou as suas previsões para 2009,
nas quais estima que o crescimento mundial para 2009 será de 0,5%, o menor
desde a segunda guerra mundial, enquanto que para 2010 estima que o
crescimento poderá se aproximar de 1%.
• O Ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Pedro Canga, disse que o
seu Ministério vai aplicar um sistema de estatística a nível nacional, de modo a
ter uma ideia mais clara de como estão a ser conduzidas as políticas agrícolas.
• A Associação de Hotéis, Restaurantes, Similares e Catering de Angola
(Ahoresia) assinou um protocolo de cooperação com a Mundiserviços
Internacional Consulting e a Sociedade Angolana de Estudos e Consultoria
(Consult), visando dinamizar e desenvolver o sector de hotelaria e turismo
nacional.
• Um hotel de 3 estrelas, com um total de 60 quartos, será construído em Mbanza
Kongo, Província do Zaire. O hotel vai contar com todos os serviços inerentes a
uma unidade hoteleira moderna. A informação foi prestada por Bernardo Pedro
Lukunga, gerente da Empresa Topegel Comércio Geral que irá construir o Hotel.
• A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê
uma diminuição na produção mundial de cereais em 2009, principalmente na
América Latina, onde já caiu a produção de trigo e persiste a falta de chuvas.
• Os Ministros das Finanças dos 7 países mais industrializados do mundo, que
estiveram reunidos em Roma, prometeram trabalhar em conjunto para apoiar o
crescimento económico e o emprego e reforçar o sistema bancário mundial.
• A empresa Japonesa de Automóveis, Toyota, reviu para baixo as previsões da
empresa para o exercício 2008-2009, que terminará com um prejuízo
operacional de 3,9 mil milhões de euros, 3 vezes maior do que o previsto.
237
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• O preço do barril de petróleo está a ser negociado a 38 dólares americanos,
mesmo depois da Organização dos Países Exportadores de Petróleo ter admitido
novos cortes de produção para fazer subir o preço.
• Dominique Strauss-Kahn, Director Geral do FMI, considerou que o principal
problema actual que o sistema financeiro mundial deve resolver é a
reestruturação dos bancos e a criação de uma estrutura que os possa libertar dos
seus activos tóxicos.
• O Fundo Monetário Internacional (FMI) concedeu à Gambia 19,3 milhões de
dólares americanos para ajudar o país a atenuar o impacto da crise económica
mundial.
• A União Europeia pretende conceder, durante três anos, 39 mil milhões de
francos CFA (o equivalente a 78 milhões de dólares) ao governo do Congo para
o financiamento de um projecto de segurança alimentar e nutricional.
• O presidente norte-americano, Barack Obama, disse que a sua administração vai
adoptar em relação ao Congresso um novo código de conduta para o sector
financeiro, a fim de impedir uma nova crise.
• Ben Bernanke, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, disse que a
economia do seu país, a maior do mundo, está a atravessar uma contracção
severa e alertou que a recessão pode-se prolongar até 2010, a menos que sejam
tomadas medidas que possam estabilizar o sistema financeiro.
• As acções do sector automóvel deslizam e atingem novos mínimos. O índice
europeu stoxx para o sector está a perder mais de 4,5% e a negociar em mínimos
de mais de cinco anos.
• Botelho de Vasconcelos, Ministro dos Petróleos, disse na cidade de Lobito,
Província de Benguela, que a construção da Refinaria de Petróleo do Lobito
custará aos cofres do Estado cerca de 8 mil milhões de dólares americanos e
constitui uma das estratégias para o relançamento da economia do país nos
próximos anos.
• Um laboratório para testagem da qualidade dos alimentos entrará em
funcionamento no primeiro trimestre de 2009 em Luanda. A informação foi
prestada por Hélder de Sousa, presidente do Grupo Cafago, durante a reabertura
do complexo turístico Tropicana, na ilha do Mussulo.
• António Briffel Neto, administrador comercial da Angola Telecom, garantiu que
a sua operadora vai criar, neste ano 2009, um fundo de pensões para garantir
melhores condições sociais por reforma ou invalidez.
238
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Março
• Portugal e São Tomé assinam um acordo relativo à abertura de uma linha de
crédito no valor de 50 milhões de euros, que se destina ao financiamento das
exportações de origem portuguesa.
• Agricultores que se dedicam ao cultivo de cacau e caju na Africa Subsaariana
obtiveram uma subvenção de 48 milhões de dólares americanos da fundação Bill
e Melinda Gates que lhes permitirá aumentar os rendimentos e fazer face ao
efeitos da crise alimentar.
• O embaixador holandês em Angola, Corvan Honk, disse haver um grande
interesse dos Países Baixos no gás de Angola. Segundo ele, a Holanda produz
gás, mas não o bastante para o fornecer a 17 milhões de habitantes. Por isso,
quer comprar o gás angolano.
• A quarta edição da Feira Internacional de Alimentação e Bebidas conta com a
participação de 92 empresas, entre nacionais e estrangeiras. Menos 38 em
relação à edição anterior.
• O governo italiano anuncia a sua intenção de dar mais meios às empresas
italianas para exercerem as suas actividades no continente africano e investirem
mais de um milhão de euros em África, este ano, para desenvolver as economias
africanas.
• Chefes de Estado e Governo dos 10 países do Sudeste Asiático, estiveram
reunidos na Tailândia, onde defenderam a cooperação e a rejeição do
proteccionismo no quadro da crise mundial que ameaça directamente as
economias da região.
• O grupo César e Filhos, liderado pelo empresário Armindo César, está a
construir na zona do Benfica, a sul de Luanda, um hotel com quinhentos quartos,
incluindo 20 suites presidenciais, um investimento estimado em 300 milhões de
dólares americanos.
• Comerciantes do município do Quimbele, Província do Uige, reclamam a
ausência no município de agências bancárias.
• O secretário americano do tesouro, Timothy Geithner, afirmou que o plano de
salvação da banca norte-americana pode custar mais do que os 700 mil milhões
de dólares estabelecidos. Segundo ele, é necessário chegar a um acordo para
determinar a dimensão e a forma apropriada de novos planos de salvação.
• Segundo a Ministra do Comércio, Idalina Valente, o consumidor angolano
mantém confiança no mercado, apesar da crise económica mundial, e que a
banca nacional continua a dar acesso ao crédito sem necessidade de uma maior
intervenção do Estado. A Ministra falava na abertura do workshop sobre
239
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Participação de Angola nas Negociações do Acordo de Parceria Económica
entre a SADC-APE e a Comunidade Europeia.
• Conforme Valter Barros, Administrador do Banco de Desenvolvimento de
Angola (BDA), a sua instituição irá abrir uma dependência em Ndalatando,
Província do Kwanza Norte, no decurso do primeiro semestre de 2009. A
unidade irá facilitar a obtenção de créditos bancários pelos empresários locais,
permitindo o incremento dos investimentos na província, fundamentalmente no
sector da agricultura
• Empresas americanas despedem 700 mil trabalhadores no mês de Fevereiro,
devido à crise financeira e económica mundial.
• O Presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, advertiu para um
novo corte na taxa de juro de referência da zona euro para 1,5%.
• O Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, afirmou que o governo vai
continuar a apoiar o empresariado nacional, facilitando o acesso ao
financiamento a cadeias produtivas e à formação contínua dos gestores. O
Ministro falava na abertura do Programa de Alta Direcção de Empresas para
executivos promovido pelo Fórum Angolano para o Conhecimento e as Escolas
de Negócios de Espanha e de Portugal.
• O maior banco privado português, Millennium BCP, vai investir cerca de 250
milhões de dólares americanos na abertura de 120 sucursais em Angola, e criar
mais de mil postos de trabalhos. A informação foi passada, em Lisboa, pelo
Presidente do Conselho de Administração, Armando Vara.
• O Presidente do Brasil, Luís Inácio da Silva, volta a defender o livre comércio e
diz que o proteccionismo é um desastre para a economia mundial.
• O Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, convida empresários
portugueses para investirem em Angola, onde, segundo ele, há muito para
explorar na reabilitação urbana, nas sinergias, no sector da energia, nos portos e
aeroportos, etc.
• A estiagem que assolou o Município do Tomboco, Província do Zaire, entre os
meses de Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, causou a destruição de culturas
de ginguba e milho, informou o administrador local, Gouveia da Silva Pedro.
• Os Ministros do Trabalho do G-8 e de economias emergentes, entre os quais
Brasil e México, analisam em Roma as consequências humanas da actual crise
económica mundial
• Autoridades reguladoras federais americanas assumem o controlo do Omni
National Bank of Atlanta, que foi à falência. Trata-se do 21º banco, este ano, a
entrar em processo de falência nos Estados Unidos.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Petróleo negociado a 48,41 dólares americanos, o WTI e o Brent a 47,99.
• O Director Geral da Organização Internacional de Trabalho (OIT) defende em
Roma, durante a cimeira social do G-8, um pacto global para proteger o
emprego em todo mundo.
Abril
• O Governo angolano lança títulos de tesouro para captar poupanças, anuncia o
Ministro das Finanças, Severim de Morais. As taxas de juros vão de 4,72% a
6,72%, com maturidades de um a quatro anos.
• Governo aprova a revisão do Orçamento Geral do Estado para combater os
reflexos internos da crise.
• Ministério da Industria promove conferência nacional sobre o relançamento da
indústria transformadora no quadriénio 2009-2012.
• Aguinaldo Jaime, Coordenador da Comissão de Reestruturação da Agência
Nacional de Investimento Privado (ANIP), reafirma que Angola tem um quadro
legal de incentivos ao investimento privado e um mercado com inúmeras
oportunidades de negócios. O governante discursava no Fórum Económico
Empresarial Angola-Países Baixos.
• Augusto Tomás, Ministro dos Transportes, diz que Angola e Holanda vão ter
ligações aéreas assim que estejam concluídos os acordos de ligação Amesterdão
- Luanda. O Ministro falava no encontro com a Ministra de Economia da
Holanda, Maria Van der Hoeven.
• Cabo Verde apresenta publicamente o Plano de Acção para o Desenvolvimento
da Agricultura nas quatro ilhas de maior vocação agrícola do país, Santiago,
Fogo, Santo António e São Nicolau.
• Samuel Jerónimo, Presidente do Conselho Executivo da Coca-Cola Botling
Angola, diz que a sua empresa pretende investir na produção de sumos e água
engarrafada em 2009, dois segmentos de negócios com grande margem de
expansão no mercado angolano.
• Presidente norte-americano, Barack Obama, promete não deixar desaparecer a
indústria automóvel, ao anunciar um plano de recuperação do sector que inclui
ajudas aos construtores e incentivos à compra.
241
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• G-20 se reúne em cimeira em Londres para traçar planos para reverter o quadro
económico mundial e promete mobilizar 1,1 mil milhões de dólares americanos,
através das instituições financeiras internacionais, para promover o comércio,
socorrer os países em dificuldades com as balanças de pagamentos e apoiar os
países mais pobres.
• António dos Santos, presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Angola,
considera que o país, apesar da crise económica mundial, continua a ser um
mercado de oportunidades viáveis.
• Paixão Júnior, Presidente do Conselho de Administração do Banco de
Desenvolvimento de Angola (BDA), defende que a diversificação da economia
nacional deve ser vista como o caminho para o desenvolvimento sustentado do
país.
• Maria do Carmo do Nascimento, Presidente da Federação das Mulheres
Empreendedoras de Angola (FMEA), defende a dinamização do sector
produtivo nacional, com destaque para as áreas de agricultura, indústria e pescas.
Maria do Carmo falava na abertura do 5º encontro nacional da Mulher
Empresária de Angola, no Zaire, Município do Soyo.
• Membros do sector privado norte-americano formulam recomendações à
Administração Obama, num documento de 56 páginas intitulado “ Estados
Unidos e África: recomendações Políticas do Sector Privado Norte-Americano
para a Administração Obama”, para reforçar as relações económicas entre os
Estados Unidos e África.
• O Director do Planeamento e Investimentos da Endiama, Alberto Fançony,
garante que a companhia vai manter os postos de trabalho, apesar da crise que
afectou o sector diamantífero.
• A Direcção Nacional de Inspecção e Investigação das Actividades Económicas
proíbe a venda dos medicamentos Hemoglobine eBeviplex, de origem
Congolesa, pois a sua composição é duvidosa.
• Banco de Portugal divulga que as remessas dos trabalhadores portugueses em
Angola triplicaram nos últimos quatro anos para 70,9 milhões de euros, em
consequência de um grande aumento de trabalhadores lusos no mercado
angolano.
• Manuel da Cruz Neto, vice-ministro das Finanças, anuncia que o governo vai
investir, a partir deste mês, 3 milhões de dólares americanos na construção de
um centro de conservação e armazenamento de produtos agro-pecuários, na
Huíla, no âmbito do programa de mecanismos provisórios de observação da
produção interna, a ser implementado em Junho de 2009.
242
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Assembleia-Geral da ONU anuncia a organização da cimeira sobre a crise
económica mundial, de 1 a 3 de Junho de 2009.
• Zimbabwe é considerado como o país mais endividado em 2008, com a dívida a
ascender os 241% do Produto Interno Bruto. A seguir vem o Japão, com dívida
avaliada em 170% do PIB.
• Países membros da Associação de Produtores de Petróleo Africanos estiveram
reunidos, em Luanda, num seminário internacional sobre contratos petrolíferos.
• Bélgica aceita subvencionar um programa de 6 milhões de dólares americanos
da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura destinado à
ajuda de emergência aos agricultores africanos.
• Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional anunciam que a crise
económica mundial transformou-se em catástrofe humanitária, em desastre, nos
países em desenvolvimento.
• Banco de Inglaterra anuncia a redução da taxa de juro para 0,5%, ao mesmo
tempo que vai imprimir dinheiro para combater a recessão.
• Fábrica de refrigerantes SEEFA, localizada na província do Huambo, com
entrada em funcionamento da nova linha de enchimento, vai produzir, a partir de
Setembro de 2009, gasosas de marca Sprit, segundo o Director comercial
Nlwemba Casumiro Tati.
• O Primeiro-ministro, Paulo Cassoma, estima que para 2009 a produção total de
culturas alimentares estão avaliadas em 18,8 milhões de toneladas e a produção
pecuária em 67,5 mil toneladas. Discursando na abertura da Conferência
Nacional sobre o Programa Executivo do Sector Agrário, disse ainda que os
objectivos a médio e longo prazo é aumentar as áreas de cultivo em 4 milhões de
hectares e produzir mais de 15 milhões de toneladas de cereais.
Maio
• Banco Mundial alerta, na Reunião de Primavera, que a África pode ser o
continente mais atingido pela crise económica mundial, com consequências
humanas devastadoras e defende a concessão de 20 mil milhões de dólares
americanos aos países africanos mais atingidos. Segundo o Banco Mundial se
verificar uma desaceleração do crescimento que tem sido típica no passado,
calcula-se que mais de 700 mil crianças vão morrer antes de atingirem um ano
de idade.
• Abdoulaye Wade, Presidente do Senegal, propõe a descentralização das
estruturas do Banco Mundial, com a concessão de poderes reais de decisão às
duas representações em Africa.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• O Fundo Monetário Internacional pensa financiar-se vendendo Obrigações a
vários países em desenvolvimento, China e o Brasil estão entre os países que
manifestaram interesse em comprar as Obrigações. O FMI nunca emitiu
Obrigações desde que foi criado em 1944.
• Governo do Zimbabwe recebe 400 milhões de dólares americanos de linhas de
crédito dos países vizinhos como ajuda para o relançamento da economia.
Metade da verba provém da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral
(SADC) e a outra do Mercado Comum para a Africa Oriental e Austral
(COMESA)
• O Instituto Internacional da Agricultura Tropical (IITA) anuncia que
investigadores nigerianos elaboraram um método biológico, natural, seguro e
capaz de eliminar a contaminação com a aflatoxina (venenos químicos) dos
produtos alimentícios agrícolas.
• Títulos do petróleo negoceiam a 51,27 dólares americanos o brent e a 51,62
dólares o WTI.
• OPEP baixa a previsão da procura do petróleo para 2009 em 0,2 milhões de
barris dia, para os 84,03 milhões, contra os 85,59 milhões em 2008; A revisão
em baixa do produto interno bruto mundial levou à revisão da previsão da
procura mundial do petróleo.
• Silverton Bank, da Geórgia, declara falência. É o 32º banco americano a declarar
falência este ano. O banco geria activos avaliados em 4,1 mil milhões de dólares
americanos.
• A Inspecção-Geral do Estado do Burundi anuncia que cerca de 23,9 mil milhões
de francos burundeses (aproximadamente 23,9 milhões de dólares americanos)
foram roubados do Tesouro Público em 2008.
• Fernando Teles, Presidente do Conselho de Administração do Banco
Internacional de Crédito, diz que o seu banco está a efectuar investimentos em
projectos agro-pecuários nas províncias de Malanje (onde estão a ser investidos
5 milhões de dólares americanos), Huíla e Benguela.
• Empresários canadianos manifestam, em Dakar, Senegal, vontade de investirem
em África. Segundo eles África é um continente que está a desenvolver-se e com
o qual o Canadá pode cooperar.
• Victor Rodrigues, director geral da fábrica de cimento do Lobito (Secil Lobito),
diz que a sua fábrica prevê aumentar, em 2009, a sua capacidade de produção
para as 350 mil toneladas, contra as 280 mil toneladas produzidas em 2008.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Refriango, empresa de refrigerantes, lança novos refrigerantes no mercado
nacional, a Red Cola e a Flash.
• António Henrique da Silva Moutinho, director provincial dos transportes do
Kwanza Sul, diz que o governo vai construir, a curto prazo, um porto comercial
em Porto Amboim com dimensões maiores do que o actual e com uma zona para
a acostagem de navios de médio porte.
• Empresa Nacional de Diamantes (Endiama) promove um encontro de
padronização de contratos de prospecção e de exploração.
• Manuel Nazareth Neto, presidente o conselho de administração, em exercício, do
porto de Luanda, anuncia a criação de uma Comissão Nacional de Facilitação do
Comércio para atenuar alguns dos problemas que afectam a comunidade
portuária, alfandegária e restantes serviços que lhe são ligados.
• Uma fábrica de ração animal, com capacidade para produzir entre cinco a dez
toneladas por hora, está a ser montada na Fazenda do Pungo Andongo, 142
quilómetros a oeste da cidade de Malanje, declarou Cláudio Pimentel, director
da Fazenda.
• Ministério das Pescas elabora um plano director para o desenvolvimento da Baía
dos Tigres na província do Namibe, anuncia o vice-ministro Guido Valdemar
Cristóvão.
• O Banco de Poupança e Crédito assumiu, na pessoa da sua administradora Maria
de Fátima Silveira, a presidência da Associação das Instituições Africanas do
Financiamento ao Desenvolvimento (AIAFD), para a região central. A eleição
ocorreu em Dakar, Senegal, no fim 36ª assembleia anual.
Junho
• Banco Mundial promete a Moçambique 100 milhões de dólares americanos para
financiar parte dos seus projectos energéticos, no quadro das medidas para fazer
face à crise económica mundial.
• Fundo Monetário Internacional aprova um empréstimo de 209 milhões de
dólares americanos para o Quénia a fim de ajudar o país a limitar o impacto da
recessão económica mundial que provocou a diminuição das capacidades de
importação.
• Assembleia-Geral da ONU adia para os dias 24,25 e 26 de Junho deste mês a
cimeira sobre a crise económica e financeira mundial, inicialmente prevista para
os dias 1,2 e 3 de Junho.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Caixa Geral de Depósitos de Portugal concretiza o aumento de capital de mil
milhões de euros anunciados em Dezembro de 2008 pelo Primeiro-Ministro José
Sócrates. O capital social subiu para 4,5 mil milhões de euros.
• É inaugurada em Malanje uma fábrica de chapas de zinco, com capacidade de
produzir 3.840 chapas caneladas por dia.
• Pedro Firmino, director provincial da Indústria do Kwanza Sul, diz que em breve
abrirá duas unidades de tijolo cerâmicos na província.
• Bernard Coulais, director geral da cervejeira CUCA, diz que o grupo Castle
investiu 200 milhões de dólares americanos na edificação da fábrica de cerveja
Nocal, localizada em Bom Jesus, província do Bengo, na perspectiva de
expandir a sua actividade no país. O grupo Castle produz as cervejas cuca, eka e
nocal.
• A Repartição Fiscal e de Finanças da província da Lunda Sul arrecada, durante o
primeiro trimestre de 2009, o valor de 205 milhões e 800 mil Kwanzas
resultantes da cobrança de impostos.
• O director provincial da Energia e Águas da província do Zaire afirma que a
implantação de unidades fabris na província passa necessariamente pela
construção de centrais hidroeléctricas em alguns municípios da província.
• Ministros das Finanças do G-8, reunidos em cimeira na Itália, dizem que há
sinais de estabilização nas suas economias, incluindo numa recuperação das
bolsas, uma diminuição da expansão das taxas de juro e uma melhoria da
confiança dos consumidores e dos negócios.
• Ministro das Finanças da Rússia, Alexei Kudrin, afirma ter plena confiança no
dólar americano e que não existe plano imediato para uma nova moeda
internacional, pois é demasiado cedo para falar de uma alternativa ao dólar. O
ministro falava ao sair da cimeira dos ministros das finanças do G-8.
• China renova o pedido de que o dólar americano deixe de ser a divisa
internacional de referência, apelando à criação de uma moeda super soberana
para o mundo e que não esteja ligada a nenhuma economia.
• Director-Geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn,
pede que todos se mantenham muito prudentes, apesar dos sinais positivos de
retoma económica, e adverte que o impacto social da crise chegará ao cume em
2011.
• Construtora norte-americana de aviões Cessa, filial do grupo Textron, anuncia a
supressão de 1.300 postos de trabalho, aumentando para 8.200 o número de
demissões desde Novembro.
246
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Governos da União Europeia comprometem-se com 5,3 milhões de euros para
ajudar o sector financeiro.
• Mais de 350 especialistas do mundo inteiro reúnem-se na cidade do Cabo, África
do Sul, para traçar estratégias que permitam desenvolver o sector agrícola e
combater a crise alimentar no continente africano, que afecta mais de 70 milhões
de pessoas.
• Transportadora aérea alemã Lufthansa aumentou o número de voos semanais na
rota Luanda-Frankfurt e vice-versa. A companhia adicionou o voo LH561, que
parte às sextas-feiras de Luanda a partir da 21h25 e chega a Frankfurt no sábado
às 6h50, e sai de Frankfurt aos domingos para chegar segunda-feira a Luanda.
• Elisabeth António, directora provincial de Industria e Geologia e Minas do
Cunene, diz que a província vai ser dotada de uma fábrica de aproveitamento e
transformação de peles e chifres, avaliada em 374 milhões de Kwanzas, no
Âmbito do Programa Executivo do Sector da Indústria Transformadora para o
período 2009-2012.
• O Conselho de Administração do Banco Árabe para o Desenvolvimento
Económico em Africa (BADEA) anuncia a concessão de 55 milhões e 295 mil
dólares americanos para financiar novos projectos de desenvolvimento em
África.
• Sonangol investe mais de 11 milhões de dólares americanos para aderir ao
programa da SAP, a empresa gestora de sistemas integrados de informação, com
o objectivo de melhorar a eficiência e a eficácia de gestão da multinacional
angolana.
Julho
• Assembleia Nacional aprova, na generalidade, os Projectos de Lei de Revisão do
Orçamento Geral do Estado e do Plano Nacional para 2009. O défice fiscal
previsto na revisão é de 15,2% do PIB, contra os 7,7% do PIB inicialmente
previsto.
• Chefes de Estado e de Governo da União Africana reúnem-se em Cimeira na
Líbia e abordam questões relacionadas com a segurança alimentar em África;
estiveram ainda presentes na cimeira o presidente do Brasil, Lula da Silva e o
Secretário-Geral da ONU, Ban Kimoom.
• Ministros das Finanças da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)
reúnem-se, em Lisboa, para debaterem em conjunto estratégias de resposta aos
feitos da crise financeira e económica mundial.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Banco Central Europeu preocupado com os elevados défices na zona euro quer
que os governos comecem a planear estratégias para os reduzir, especialmente a
partir de 2010.
• Segundo a Agência Internacional de Energia, a procura mundial de gás caiu 4%
no primeiro trimestre de 2009, o que leva a crer que pela primeira vez em mais
de meio século o consumo mundial de gás vai reduzir este ano devido à crise
financeira.
• 17 Núcleos de pescadores artesanais da Província de Malanje beneficiam de
materiais de pesca distribuídos pelo Instituto de Pesca Artesanal. Receberam
canoas (26), bóias, anzóis, redes, caixas térmicas e botas de borracha.
• Província do Kwanza Norte apresenta dados da campanha agrícola 2008/2009
que resultou na produção total de 816.447 toneladas de produtos diversos, dos
quais mandioca (763.775), banana (27.160), batata-doce (11.210), milho
(4.269), feijão macunde (4.102), e outros.
• Director provincial da agricultura do Kwanza Sul, Domingos Afonso Mário
Huambo, diz que a província está a produzir grandes quantidades de hortícolas,
mas não conseguem escoar para outros mercados. Apela ao investimento em
pequenas fábricas de transformação para melhor conservação dos produtos e que
por sua vez irá estimular o aumento da produção. Este ano prevê-se colher mais
de 55 mil toneladas de hortícolas.
• Administrador comunal do Sumba, município do Soyo, Província do Zaire,
Francisco Nascimento, convida os empresários a investirem no sector agropecuário na região, pois ela beneficia da drenagem natural das aguas do rio
Zaire, cuja margem esquerda é absorvida pelo território da comuna. Nesta região
há potencialidades para a criação de gado e para se desenvolver as culturas de
arroz, mandioca, batata-doce, feijão, milho e banana.
• Projecto Angola LNG inaugura no Soyo, província do Zaire, o seu escritório
principal, onde vão funcionar todos os serviços administrativos ligados à
execução da fábrica de processamento de gás natural liquefeito.
• Ministro das Finanças, Severim de Morais, garante que o governo espera
alcançar uma poupança de 15 milhões de dólares americanos no leilão da
segunda fase do projecto do Programa Nacional de Compras Públicas
Electrónicas, coordenado pelo próprio ministério das finanças.
• Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) concedeu um empréstimo avaliado
em 19,6 milhões de dólares americanos para financiar um Projecto de Apoio ao
Sector Ambiental. O acordo prevê um período de carência de 10 anos, a ser
reembolsado em 40 anos com taxa de juro de 0,75%. Foi assinada pela Ministra
do Planeamento, Ana Dias de Lourenço e pela Vice-presidente do BAD, Zeinab
El-Bakri.
248
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• A repartição das Finanças da província do Uije arrecadou para 384 milhões de
Kwanzas no primeiro trimestre de 2009, enquanto que a do Cunene arrecadou
344 milhões, 155 mil e 509 Kwanzas.
• Segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura (FAO) Angola é o sétimo
produtor mundial de mandioca, com uma produção anual de 8 milhões de
toneladas.
• Sebastião Augusto, delegado provincial da Associação dos Industriais de Angola
(AIA) do Bié, informou que o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA)
financiou projectos empresariais ligados à mecanização agrícola e unidades
industriais agrárias na cidade do Kuito, com um total de 68 máquinas agrícolas.
• O director do Grupo Drago, Gentil Viana, defende a criação de um instituto da
mandioca e do milho, e que o seu grupo vai criar uma sociedade anónima para
investir nos dois produtos alimentares.
• A Secretária-Geral da Organização Inter-Africana do Café, Josefina Correia
Sacko, diz que Angola deve incentivar o empresariado nacional a desenvolver a
área de torrefacção para aproveitar o café transformado e abastecer o mercado da
África Central e Austral.
• 15 Empresários de Singapura procuram Angola para investirem nas áreas da
agricultura, indústria e serviços.
• Os accionistas da Angola LNG Limited anunciam a constituição da Sociedade
Operacional de Angola LNG (OPCO) e a Sociedade de Operações e
Manutenção de Gasodutos (SOMG).
Agosto
• O vice-ministro da Indústria, Kiala Gabriel, afirmou que o seu sector está a
negociar com entidades de vários países, sobretudo japonesas, no sentido de
apoiarem projectos de recuperação de algumas unidades industriais ligadas ao
sector têxtil.
• Banco Internacional de Crédito (BIC) inaugura a quarta agência no município de
Maquela do Zombo, província do Uije.
• O governador do Huambo, Albino Malungo, diz que o seu governo pretende
fazer recurso às centrais mini-hidrícas, eólicas e solar, para apoiar o sector
industrial, enquanto se espera pela conclusão e entrada em funcionamento da
barragem do Gove.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Fundo Monetário Internacional considera que a zona euro deve conhecer uma
retoma modesta no primeiro trimestre de 2010, mas com fortes incertezas e sem
excluir um pequeno risco de deflação para os 16 países da moeda única.
• Fundo Monetário Internacional injecta 250 mil milhões de dólares americanos
nos bancos centrais de todo mundo para reforçar as reservas de divisas e
aumentar a liquidez do sistema financeiro internacional.
• A Nigéria é ultrapassada, pela primeira vez, por Angola ao nível africano da
produção petrolífera. No mês de Junho Angola produziu 1,82 milhões de barris
dia, enquanto a Nigéria produziu 1,73 milhões. A informação foi passada pela
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
• Secretário de Estado do Comércio e Serviços de Portugal, Fernando
Serrasqueiro, pediu aos empresários portugueses para olharem para o mercado
angolano como uma oportunidade de investimento e de incremento de negócios.
• Produtores e transformadores de sal do Lobito, Benguela, criam a Associação
dos Produtores e Transformadores de Sal de Angola com o objectivo de
defender e promover os direitos dos associados e o desenvolvimento das salinas.
• A Sumol e a Compal anunciam ter assinado um memorando com a Genius para
criar uma sociedade de direito angolana que vai operar em Angola. A nova
sociedade tem a designação de Sumal+Compal Angola e o seu capital é detido
50,1% pela Compal e Sumol Portugal e 49,9% pela Genius.
• A Empresa Nacional de Mecanização Agrícola (Mecanacro) preparou 30 mil
hectares de terras em todo país, durante a campanha agrícola 2008/2009.
• O Ministério das Finanças disponibiliza 350 milhões de dólares americanos para
um programa de crédito agrícola, com o objectivo de facilitar o acesso ao crédito
a pequenas e médias cooperativas agrícolas, para promover uma agricultura
comercial moderna, competitiva e próspera capaz de gerar rendimentos com
base em produtos diferenciados.
• O Ministro das Pescas, Salomão Xirimbimbi, diz que o sector das pescas prevê
criar 12 mil postos de trabalho até o final de 2009 nas várias áreas, incluindo a
da pesca continental.
• Cooperativas agrícolas do município de Ngonguembo, província do Kwanza
Norte, carecem de apoio para o aumento da produção de hortícolas e cereais.
Precisam de máquinas para o desbravamento dos campos, de alfaias e de outros
instrumentos agrícolas.
• O município do Tomboco, província do Zaire, necessita de agências de bancos
comerciais, de modo a impulsionar o desenvolvimento económico da região,
afirmou o administrador local Gouveia da Silva Pedro.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• A Empresa de Abastecimento ao Sector Cafeícola, Procafé, necessita de
financiamento para a construção de um complexo industrial de torrefacção,
empacotamento e comercialização de café, no município de Negaste, província
do Uije. A informação foi prestada pelo director geral Romualdo Traça Dias dos
Santos.
• O Grupo Espírito Santo, através da empresa Escom, reforçou a sua presença na
exploração de diamantes em Angola com a compra de 14 concessões
diamantíferas à multinacional australiana BHP.
• 16 Unidades fabris serão construídas nos próximos quatro anos, na província do
Zaire, no âmbito do programa do Governo que visa relançar a indústria
transformadora em todo território nacional, declarou o director provincial da
indústria, Adão Aberto Sofia.
• O Vice-governador do Banco Nacional de Angola, Ricardo Viegas d´Abreu,
informou que o Banco Central está criar a central de informação de risco de
crédito.
• Um entreposto frigorífico pesqueiro, orçado em 6 milhões de dólares
americanos, com capacidade de conservar mil toneladas de pescado, foi
inaugurado na cidade do Huambo, para abastecer, igualmente, as províncias do
Bié e Kwando-Kubango.
• O Vice-governador para a área económica da província da Huíla, Fernando
Pontes Pereira, defendeu a necessidade de serem feitos contratos com as
unidades hoteleiras, serviços prisionais e unidades militares para o fornecimento
da batata produzida no município da Matala e evitar as constantes reclamações
dos camponeses sobre a falta de compradores.
Setembro
• A Federal Reserva de Chicago informa que o seu índice de actividade nacional
ficou em menos 0,74 pontos em Julho, frente a menos 1,82 em Junho, atingindo
o maior nível desde Janeiro de 2008. A leitura inicial de Junho foi de menos
1,80 pontos, o índice é negativo desde Junho de 2007.
• Director Geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn,
apelou, em Berlim, aos governos para reformularem estratégias claras de saída
da crise, de modo a não enfraquecer a recuperação.
• Presidente norte-americano, Barack Obama, diz que as maiores economias
mundiais avançaram na estabilização do Sistema Financeiro Mundial mas ainda
precisam fazer muito pelo emprego e pelo crescimento económico. Segundo ele,
251
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
o encontro do G-20 vai oferecer uma boa oportunidade para se avaliarem os
passos que cada nação deu para quebrar as costas desta crise.
• Preços do crude encontram-se em baixa nos mercados internacionais pela
primeira vez em três sessões, devido ao aumento das reservas de produtos
destilados nos Estados Unidos. O brent recuava 0,58 para 72,21 dólares
americanos, em Londres; enquanto o WTI descia 9,54 dólares para 72,20
dólares, em Nova York.
• O conselheiro comercial do Departamento dos Assuntos Africanos e da Ásia
Ocidental do Ministério do Comércio da China, Xie Yajing, afirmou que durante
o primeiro trimestre de 2009 o volume de negócios entre China e África baixou
30,5%
• A 45ª edição da Feira Internacional de Maputo FACIM-2009 juntou 700
empresas nacionais e a participação de 14 países, maioritariamente da SADC.
África do Sul, Angola, Tanzânia, Malawi, Zimbabwe, Suazilândia, Zâmbia,
Quénia, Portugal, Espanha, Itália, Brasil, Indonésia, Vietname e a Região
Autónoma de Macau.
• A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), o órgão que garante os
depósitos bancários nos EUA, revela que o número de “bancos-problema”considerados perto da falência chegou a 416 no segundo trimestre de 2009.
• O Instituto Nacional do Café de Angola (Inca) perspectiva que o país possa
alcançar, num prazo de 5 anos, níveis satisfatórios de produção de óleo de
palma, com vista a inverter a importação deste produto actualmente calculado
em 3 mil toneladas por ano. A informação foi adiantada pelo Director do
Instituto, João Ferreira da Costa.
• Grupo ESCOM apresenta, em conferência de imprensa, um novo edifício da
capital, situado no Kinaxixi, com 24 andares para escritórios, comércio e
habitação. O prédio com 102 metros de altura, tem uma área total de 50 mil
metros quadrados, que já estão todos comercializados a 7.500 dólares
americanos o metro quadrado.
• Fábrica de Supergesso no Sumbe, Kwanza Sul, produz cerca de 10 mil toneladas
de pedras de gesso, mensalmente, com vista à produção de cimento, informou o
director técnico Francisco Nunes.
Outubro
• Governo angolano e o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinam um acordo
de financiamento, cujo valor, não revelado, terá atingido 1,3 mil milhões de
dólares americanos, referido como o maior financiamento, dos últimos anos,
concedido por aquela instituição internacional a países da África Subsariana.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, diz que o nível global de
eficiência dos bancos angolanos tem estado a evoluir positivamente, estando já,
em alguns casos, ao nível de bancos dos mercados sofisticados mais maduros
que o nacional. O ministro falava no acto da divulgação do relatório da banca
nacional elaborado pela Deloitte.
• A Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol E.P) e a BP
Exploration (Angola) Limited anunciam, em comunicado, a descoberta de mais
um poço de petróleo, o Tebe-1, no bloco 31, em águas ultra-profundas do
offshore angolano.
• Presidente do Conselho de Administração da ENSA, Manuel Gonçalves, apela à
adesão do seguro de responsabilidade civil obrigatório, que entra em vigor a 12
de Fevereiro de 2010.
• Mais de cem empresários angolanos participaram, em Washington, na VII
Cimeira Africana organizada pelo Conselho Corporativo para África, sob o lema
“ Reconhecendo a Capacidade de Investimento em África”.
• Cimento hidráulico lidera a lista dos produtos mais importados no segundo
trimestre de 2009. Em segundo lugar segue o granito, porfírio e basalto e em
terceiro lugar vem o açúcar e em quarto o arroz.
• Novo Banco celebra um protocolo de entendimento com o Instituto de
Desenvolvimento Agrário (IDA) e a União dos Camponeses Angolanos - Unaca,
confederação sindical, com vista a financiar os camponeses e as associações
camponesas.
• Banco Espírito Santo Angola (BESA) é distinguido com o prémio “Banco do
Planeta”, atribuído pelo Comité Internacional de Desenvolvimento do Planeta
Terra, da UNESCO, em reconhecimento da política activa de apoio ao
Desenvolvimento Sustentável, promovida pelo banco.
• Banco Millennium Angola e o Banco Privado Atlântico, no âmbito da sua
parceria estratégica, disponibilizam uma linha de crédito de 10 milhões de
dólares americanos, com vista a promover projectos de investimento produtivo.
• Governo angolano aprova a liberalização do sector
armazenamento, transportação e distribuição de petróleo bruto.
de
refinação,
• O director geral do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn,
diz que o G-20 tem de alterar a composição para se tornar num fórum de
discussões mais representativo. Segundo ele, precisa-se da presença de mais
países africanos, pois é difícil organizar uma economia global deixando de fora
do processo mil milhões de pessoas de África.
253
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Ministros das Finanças do G-7 e bancos centrais afirmam, em comunicado após
encontro em Istambul, que China deve fortalecer a sua controlada moeda para
ajudar a corrigir os desequilíbrios no comércio global, que foi culpado por
abastecer a crise global.
Novembro
• Governo angolano autoriza a emissão de Obrigações do Tesouro, de médio e
longo prazo, num valor nominal até 4 mil milhões de dólares americanos, e a
respectiva colocação nos mercados internacionais de capital. As Obrigações
serão colocadas em duas parcelas, entre Dezembro de 2009 e Junho de 2010.
• É aprovado o Plano Nacional do Governo para 2010-2011, que visa a promoção
do emprego, a estabilidade macroeconómica e dos preços, a melhoria da
repartição do rendimento nacional, a implementação de infraestruturas para a
atracção e reanimação dos investimentos, estimular o desenvolvimento do sector
privado, apoiar o empresariado nacional e reforçar a inserção competitiva no
contexto internacional. Inclui ainda a implementação de uma política de
desenvolvimento rural e peri-urbano, assegurando a rápida urbanização dos
musseques e a modernização das comunidades urbanas, bem como promover um
acelerado desenvolvimento industrial, com vista a substituir as importações.
Contempla ainda a modernização do sistema financeiro e a transformação de
Angola numa praça financeira forte.
• Sonangol, empresa nacional de combustível, e suas associadas anunciam a
descoberta, em águas profundas, de mais um poço de petróleo – Cabaça Norte,
no bloco 15- tendo os testes de produção atingido mais de 6.500 barris/dia. Um
outro poço foi descoberto no Bloco 18/06-explorado pela empresa brasileira
Petrobrás, denominado Manganês 01.
• Ministério das Pescas prevê entregar 300 embarcações de pesca por província, a
pescadores, cooperativas, associações, até o final de 2009. Neste programa
prevê-se ainda a criação de 12 mil empregos directos.
• Empresários argentinos do sector avícola visitam Angola com objectivo de
estabelecerem parcerias com empresários angolanos, dos sectores produtivo e
comercial.
• Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) anuncia que
disponibilizará, a custo zero, 50 milhões de dólares americanos para apoiar
projectos do ramo da agricultura em Angola, no triénio 2010-2012.
• Banco de Fomento Angola (BFA) disponibiliza 5 milhões de dólares americanos
para concessão de créditos e financiamento do sector agrícola com 80 milhões
de dólares, visando apoiar os pequenos e médios produtores ligados às
associações e cooperativas agro-pecuárias do país.
254
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Banco Africano de Investimento (BAI) promete financiar a produção e
fornecimento, por gráficas angolanas, de mais de 40 milhões de livros escolares,
para o ano lectivo 2010.
• Transportadora aérea nacional, TAAG, abre uma nova rota aérea entre Luanda e
a cidade do Cabo, África do Sul, com duas frequências semanais.
• Governo disponibiliza 200 milhões de dólares americanos para o Programa de
Urbanismo e Habitação, a executar em reservas fundiárias do Estado, nas 18
províncias do país. Para a implementação deste programa foi criada uma
comissão coordenadora, a Comissão Nacional de Habitação, liderada pelo
primeiro-ministro, com o objectivo de materializar a política estratégica
adoptada pelo governo para o período 2009-2012.
• Abre mais uma empresa seguradora em Angola denominada Garantia Seguros,
elevando para 7 o número de seguradoras. A seguradora ora criada conta com
um capital social avaliado em 10 milhões de dólares americanos, distribuídos
entre investidores nacionais e portugueses. A aposta principal vai para os
seguros de acidente de trabalho, incêndio e automóvel.
• Uma comissão de empresários moçambicanos visitam Luanda com o objectivo
de conhecer mais a fundo o mercado angolano, os trâmites legais necessários
para fazer negócios e mostrar as oportunidades de negócios existentes em
Moçambique.
• Sonangol está prestes a adquirir o controlo de uma petrolífera brasileira, um
investimento de 180 milhões de dólares americanos. O negócio inclui a
aquisição do controlo da Startfish Oil & Gás, na qual a Sonangol já tem uma
participação de 18%, transformando a empresa angolana numa operadora de
blocos no litoral brasileiro.
Dezembro
• Grupo dos países mais desenvolvidos, G-8, disponibiliza 20 mil milhões de
dólares americanos para apoio de 15 países africanos mais desfavorecidos.
Angola poderá fazer parte deste conjunto, desde que tenha programas claros na
área da segurança alimentar, nutrição e produção agrícola, que permitam a
resolução dos problemas básicos das populações rurais.
• É aprovado o memorando de entendimento entre os governos de Angola e
Portugal para a constituição de uma instituição bancária em Angola, com filial
em Portugal, detendo cada uma das partes 50% do capital social. A Sonangol e a
Caixa Geral de Depósitos foram constituídas entidades responsáveis pela
implementação do projecto, criação do banco e da respectiva filial.
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RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Banco Mundial e Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola afirmam
co-financiar com o governo angolano um projecto de agricultura familiar,
orientada para o mercado. O projecto, envolvendo 126 mil famílias, visa
aumentar a produção agrícola e melhorar o acesso aos mercados, através da
prestação de serviços aos pequenos produtores rurais, nas províncias do Bié,
Huambo e Malanje.
• Ministério da Ciência e Tecnologia garante que vão se construir, no próximo ano
de 2010, parques tecnológicos nas províncias de Luanda, Huambo e Uíje.
• Realiza-se em Luanda, sob a presidência de Angola, a conferência ministerial da
Organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP) bem como a reunião
da respectiva Subcomissão de Monitorização, responsável pela análise do
cumprimento das quotas de produção decididas pelo cartel. Foi decidida manter,
até Março de 2010, a continuidade da quota de produção, a qual, relativamente a
Angola, corresponde a 1,65 milhões de barris/dia, face a um potencial de 2
milhões.
• Sonangol garantiu junto do governo do Iraque a exploração do campo petrolífero
de Qaiyarah, na província setentrional de Nínive. Esta será a primeira presença
da petrolífera angolana no Iraque.
• Sociedade gestora do Perímetro Irrigado do Caxito está a instalar duas fábricas,
uma de aproveitamento da banana e outra de concentrado de tomate.
• Transportadora aérea, TAAG, recebe uma certificação de Segurança da
Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), podendo assim voltar a
operar nos países europeus, a partir de Março de 2010.
• ECA internacional considera Luanda, pelo segundo ano consecutivo, como a
cidade mais cara do mundo para expatriados.
• É assinado um acordo entre os governos de Angola e dos Estados Unidos que
estabelece os termos de referência para a colocação de um consultor residente do
Departamento do Tesouro dos EUA em Luanda. Foi assinado ainda o acordo
sobre a melhoria do sistema de emissão de títulos do Banco Nacional de Angola
e da gestão da dívida pública.
• Governo promete construir 4 matadouros de grande, média e pequena dimensão
nas províncias de Luanda, Kwanza Norte, Kwanza Sul e Malanje. Dois dos
matadouros serão industriais, para abate de animais de grande porte.
• Procana, uma empresa afecta ao Projecto Aldeia Nova, prevê produzir até 2014
toneladas de açúcar equivalentes a 60% do consumo interno do produto em
Angola. A Procana é uma empresa agro-industrial angolana que vai se dedicar à
produção em larga escala de cana-de-açúcar no município da Quibala, província
do Kwanza Sul, e a sua respectiva transformação em açúcar.
256
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
• Produção de peixe seco em Benguela em queda devido aos elevados custos de
produção provocados pela necessidade imperiosa de continuar a usar meios
tradicionais na transformação do pescado. Por outro lado, os empresários
preferem comercializar o peixe congelado que comporta custos relativamente
mais baixos, em relação ao peixe seco.
257
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ANEXOS 1: Estatísticas do Sector Monetário
Angola: Meios de Pagamento
(Em milhões de Kz)
Meios de Pagamento M3
Variação
Dez-03
Dez-04
Dez-05
Dez-06
Dez-07
Dez-08
Mar-09
Jun-09
107,633
180,283
269,257
431,321
689,305
1,024,912
2,097,754
2,010,627
2,156,321
2,209,326
2,547,956
67.5%
49.4%
60.2%
59.8%
48.7%
104.7%
-4.2%
7.2%
2.5%
15.3%
177,922
243,705
391,245
616,674
850,367
1,417,449
1,292,056
1,724,782
1,902,734
2,303,840
158.7%
Meios de Pagamento M2
Variação
106,983
Set-09
Variaç.
Anual
Dez-02
Dez-09
21.5%
62.5%
159.1%
66.3%
37.0%
60.5%
57.6%
37.9%
66.7%
-8.8%
33.5%
10.3%
21.1%
Moeda M1
69,440
126,983
189,326
313,668
475,281
706,304
1,234,733
1,104,247
1,370,794
1,395,836
1,635,300
Variação
130.5%
82.9%
49.1%
65.7%
51.5%
48.6%
74.8%
-10.6%
24.1%
1.8%
17.2%
20,879
35,408
45,933
59,693
71,341
86,396
126,079
99,173
111,784
121,838
169,748
34.6%
23,497
40,592
56,346
78,542
93,503
113,508
168,373
139,761
155,174
165,299
213,937
27.1%
Notas e moedas em p. púb.
Notas e moedas en circul.
-Caixa nos bancos comerc.
32.4%
-2,619
-5,184
-10,413
-18,850
-22,162
-27,112
-42,294
-40,588
-43,390
-43,461
-44,189
4.5%
Depósitos à ordem - MN
11,124
33,907
52,046
94,678
126,234
224,642
510,544
428,813
553,747
624,418
608,952
19.3%
Depósitos à ordem - ME
37,438
57,668
91,348
159,297
277,707
395,266
598,108
576,261
705,262
649,580
856,600
43.2%
Quase-moeda
37,543
50,938
54,378
77,577
141,393
144,063
182,413
187,809
353,988
506,898
668,540
266.5%
Variação
236.0%
35.7%
6.8%
42.7%
82.3%
1.9%
26.6%
3.0%
88.5%
43.2%
31.9%
Depósitos a prazo - MN
1,900
3,867
5,027
17,919
18,288
40,037
42,240
33,130
101,841
225,443
259,730
Outras Obrigações - ME
7,509
7,769
13,508
12,170
6,944
6,676
12,164
21,389
38,955
31,105
32,044
163.4%
Depósitos a prazo - ME
28,134
39,302
35,843
47,488
116,160
97,350
128,010
133,291
213,192
250,350
376,766
194.3%
649
2,362
25,552
40,076
72,631
174,545
680,306
718,571
431,538
306,592
244,116
-64.1%
38,789
70,871
104,696
182,553
265,958
461,272
495,545
491,933
667,662
740,196
849,888
71.5%
109.3%
82.7%
47.7%
74.4%
45.7%
73.4%
7.4%
6.6%
35.7%
10.9%
14.8%
Outros Instrum. Financeiros
Reserva Monetária
Variação
Base monetária
514.9%
33,349
58,631
91,406
152,098
153,593
246,574
400,014
411,815
604,940
640,058
702,136
117.8%
75.8%
55.9%
66.4%
1.0%
60.5%
62.2%
3.0%
46.9%
5.8%
9.7%
23,497
40,592
56,346
78,542
93,751
113,508
139,761
155,174
165,299
213,937
27.1%
9,852
18,035
35,059
73,556
60,090
133,066
272,054
449,766
474,759
488,198
110.8%
163
277
2,075
1,686
1,185
2,152
168,373
1,690
1,683
1,687
1,935
10.2%
5,278
11,778
11,216
28,768
109,766
212,546
231,641
78,429
61,039
98,452
145,818
55.5%
MPME
73,081.00
104,739.26
140,699.05
218,955.46
400,810.86
499,291.48
738,281.41
730,940.97
957,409.59
931,035.10
1,265,410.11
71.4%
M2 em MN
33,902.43
73,182.25
103,005.48
172,289.11
215,863.23
351,075.44
678,863.57
561,115.32
767,372.69
971,699.36
1,038,430.37
53.0%
M3 em MN
34,551.66
75,543.88
128,557.56
212,365.46
288,494.13
525,620.24
1,359,169.52
1,279,686.17
1,198,911.03
1,278,290.86
1,282,546.19
-5.6%
107,632.66
180,283.13
269,256.62
431,320.92
689,304.99
1,024,911.72
2,097,754.47
2,010,627.14
2,156,320.61
2,209,325.97
2,547,956.31
21.5%
Variação
NMCirculação
Depósitos instit. financeiras
Outros depósitos
Títulos do Banco Central
75.5%
Itens de Memória
MPT
FONTE: BNA
264
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Sintese Monetária
(Em milhões de Kz)
Dez-02
Dez-03
Dez-04
Dez-05
Dez-06
93,520
142,257
224,030
386,980
890,000
1,594
1,799
2,616
4,791
11,088
18,990
49,295
117,521
257,638
655,923
Em milhões de US$
324
623
1,372
3,189
8,172
11,191
Variação (em US$)
-207
300
745
711
2,355
Activos Externos Líquidos
Em milhões de US$
Reservas internacionais liquidas
Dez-07
Dez-08
Mar-09
Jun-09
Set-09
Dez-09
Var.anual
1,014,364 1,481,174
1,140,031
1,068,366
1,048,788
1,128,908
-23.8%
19,705
15,102
13,731
13,480
12,628
-35.9%
839,578 1,315,406
998,248
945,243
996,649
1,128,335
-14.2%
17,499
13,224
12,149
12,809
12,621
-27.9%
3,019
-1,751
-4,275
-1,075
661
-188
-89.3%
13,521
Outros Activos exter.liq. Do B.C.
Activos externos liquidos dos
bancos
-3,318
-1,442
-1,425
-1,438
-1,439
-1,350
-1,320
-1,326
-1,274
-1,366
-1,570
18.9%
77,847
94,405
107,934
130,812
235,516
176,136
167,088
143,109
124,397
53,505
2,143
-98.7%
Em milhões de US$
1,327
1,194
1,260
1,619
2,934
2,348
2,223
1,896
1,599
688
24
-98.9%
316
-133
-64
273
-586
-194
-327
-297
-911
-664
242.8%
Activos internos líquidos
14,113
38,026
45,227
44,341
10,548
616,277
870,596
1,087,955
1,160,538
1,419,055
130.3%
Credito interno liquido
26,730
64,357
73,726
60,817
82,737
594,344
868,072
1,132,201
1,292,470
1,728,126
190.8%
2,056
6,379
-22,969
-88,598
-425,813
-263,216
-33,967
135,311
204,245
395,658
-250.3%
2,052
5,431
-24,331
-88,834
132
200,695
168,923
458,048
458,558
-425,967
-264,557
-34,289
133,227
202,150
395,112
-249.3%
24,674
57,978
96,696
289,124
289,124
508,551
857,560
902,039
996,891
1,088,225
1,332,468
55.4%
Em milhões de US$
421
733
1,129
3,579
3,602
6,779
11,408
11,949
12,813
13,986
14,905
30.6%
Outros Activos e Passivos
-26,331
-24,588
-28,500
-31,771
-31,771
-72,189
21,933
2,524
-44,247
-131,932
-309,071
-1509.2%
Meios de Pagamento M3
107,633
180,283
269,257
431,321
689,305
1,024,912 2,097,451
2,010,627
2,156,321
2,209,326
2,547,956
21.5%
58.6664
79.0815
85.6423
80.7795
80.2644
75.0230
75.1690
75.4880
77.8060
77.8060
89.3980
135.0%
66.8%
199.0%
0.0%
75.9%
68.6%
57.6%
51.9%
42.0%
55.4%
Variação (em US$)
Credito ao Governo Geral (liqui)
Credito ao governo central (liqui.)
Credito a economia
Itens de Memória
Taxa de câmbio
Crescimento do Crédito a
economia 12 meses
Crescimento do M3 12 meses
67.5%
49.4%
60.2%
59.8%
48.7%
104.6%
62.9%
54.0%
22.7%
21.5%
Crédito economia /M3
23%
32%
36%
67%
42%
50%
41%
45%
46%
49%
52%
Crédito Total /M3
25%
36%
27%
14%
-25%
8%
28%
43%
53%
59%
68%
FONTE: BNA
265
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Crédito à Economia e Depósitos
(Em milhões de Kz)
Dez-02
Dez-03
Dez-04
24,610
57,978
96,696 149,415 289,124 508,551
857,560 1,332,468
55.38%
crédito MN
10,707
23,266
37,122
85,821 145,564
321,829
479,816
49.09%
crédito ME
13,904
34,712
59,574 106,449 203,304 362,987
535,731
852,652
59.16%
Crédito à Economia
Dez-05
Dez-06
Dez-07
Dez-08
Dez-09
Var.anual
P/Moeda
42,967
P/Sector Económico
Empresas Públicas
Sector Privado
1,367
4,914
23,244
53,064
8,225
12,410
17,266
24,474 63,277.96 65,580.98
3.64%
794,282 1,266,887
59.50%
86,105 142,514 197,771 331,552 545,333 763,971 1,291,066 2,134,092
65.30%
Depósitos MN
13,024
868,682
57.15%
Depósitos ME
73,081 104,739 140,699 218,955 400,811 499,291
738,281 1,265,410
71.40%
Depósitos Totais Excl.
Governo
88,471 137,006 271,858 484,077
P/Moeda
37,774
57,072 112,596 144,522 264,679
552,784
FONTE: BNA
Angola: Taxas de Juro Médias Ponderadas do Sistema Bancário
Dez-04
nom inal
Inflação últim os 12 m eses
real
Dez-05
nom inal
31.02%
Dez-06
real
nom inal
18.53%
real
Dez-07
nom inal
12.20%
real
11.78%
Dez-08
nom inal
real
13.18%
Dez-09
nom inal
real
Var.nom.
2008/2009
13.99%
Créditos em Kw anzas
Até 180 dias
70.42% 30.07% 46.87% 23.91% 14.85%
De 181 a 1 ano
74.77% 33.39% 68.68% 42.31%
Mais de 1 ano
73.38% 32.33% 62.59% 37.17% 13.28%
8.35%
2.37% 13.94%
1.93% 11.97%
-1.07% 15.62%
1.43%
3.65%
-3.43% 10.62%
-1.04% 10.70%
-2.19% 19.39%
4.74%
8.69%
-2.74% 10.48%
-2.39% 19.02%
4.42%
8.54%
2.56% -10.02%
-0.39%
0.96%
8.72%
Aplicações em Kw anzas
Dep.ordem
9.99% -16.05%
Dep. Prazo até 90 dias
14.42% -12.67%
Dep. Prazo de 91 a 180 dias
28.48%
9.95%
-
-7.24%
-
-1.94% 15.64%
-2.44%
3.27%
3.37%
2.92%
-8.27%
3.02%
-7.84%
2.95%
-9.04%
3.22%
-8.01%
7.43%
-3.89%
8.63%
-4.02% 12.06%
-1.69%
3.43%
2.56%
-8.60%
7.79%
-3.57% 12.58%
-0.53% 12.59%
-1.23%
0.01%
Moeda estrangeira (ME)
Inflação últim os 12 m eses (EUA)
3.26%
4.10%
0.07%
2.72%
Créditos em USD
Cred.Até 180 dias ME
9.82%
6.34%
8.43%
4.90%
8.11%
4.69%
8.66%
4.38%
9.09%
9.01% 11.32%
8.37%
2.23%
Cred. De 181 a 1 ano ME
9.73%
6.26%
8.90%
5.35%
4.27%
0.97%
8.67%
4.39%
8.07%
7.99%
9.90%
6.99%
1.83%
Cred. Mais de 1 ano ME
8.58%
5.14%
9.52%
5.95%
4.53%
1.22%
8.36%
4.09%
7.84%
7.76%
8.57%
5.69%
0.73%
Aplicações em USD
Dep.ordem
0.86%
-2.33%
0.97%
-2.32%
0.86%
-2.32%
0.79%
-3.18%
-----
-----
Dep. Prazo até 90 dias
1.02%
-2.18%
1.61%
-1.70%
3.07%
-0.19%
5.25%
1.10%
8.63%
8.56%
4.05%
1.29%
-4.58%
Dep. Prazo de 91 a 180 dias
0.56%
-2.62%
2.85%
-0.50%
3.73%
0.45%
4.27%
0.16%
4.83%
4.76%
4.91%
2.13%
0.08%
Dep. Prazo de 181 a 1 ano
0.83%
-2.36%
1.53%
-1.78%
3.31%
0.04%
3.55%
-0.53%
3.83%
3.76%
5.78%
2.98%
1.95%
FONTE: BNA
266
0.95%
-1.72%
-----
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
ANEXO 2: Estatísticas da Agricultura
Tabela – Distribuição da mão-de-obra por província, segundo o sector de actividade
Província
Cabinda
Zaire
Uige
Malanje
Kunaza Norte
Bengo
Luanda
Kuanza Sul
Benguela
Huambo
Bié
Huila
Namibe
Cunene
Lunda Norte
Lunda Sul
Moxico
Kuando Kubango
Nacional
Sexo M
8.0374
77.575
199.617
74.164
38.728
66.876
23.525
226.049
258.288
245.288
136.996
229.086
38.137
106.437
96.729
61.496
89.615
56.878
2.105.860
Sector Camponês
Sexo F
87.071
77.575
191.790
157.597
90.365
78.507
20.165
226.049
238.420
202.629
171.264
303.671
31.505
124.948
79.906
50.801
93.274
46.986
2.272.525
Total
167.445
155.151
391.407
231.761
129.093
145.383
43.690
452.099
496.708
447.917
308.260
532.757
69.642
231.385
176.635
112.298
182.889
103.864
4.378.384
Sector
Empresarial
747
130
2.271
408
873
2.501
9.859
7.599
5.259
13.877
4.766
9.751
3.285
966
266
499
78
206
63.340
Total
168.191
155.281
393.679
232.169
129.966
147.884
53.549
459.698
501.967
461.794
313.026
542.508
72.927
232.351
176.901
112.797
182.968
104.070
4.441.725
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
Tabela – Preparação de terras em ha, segundo os meios utilizados
Província
Cabinda
Zaire
Uige
Malanje
Kunaza Norte
Bengo
Luanda
Kuanza Sul
Benguela
Huambo
Bié
Huila
Namibe
Cunene
Lunda Norte
Lunda Sul
Moxico
Kuando Kubango
Nacional
Uso de
Instrumentos
Manuais
118.740
62.967
344.477
290.423
214.182
84.306
13.983
569.566
418.203
260.452
555.924
57.888
70.619
19.494
122.528
113.895
171.546
161.859
3.561.220
Uso de Maquinaria
Mecanagro
Empresas
Empresa
Privadas
Pública
121
1.493
585
1.826
0
14.043
328
11.838
4.070
4.515
1.429
3.793
64
11.879
3.407
64.334
1.287
36.154
1.094
40.326
629
16.227
1.500
63.334
359
13.355
2.800
863
5
5.144
0
8.516
150
7.813
0
1.620
17.828
307.073
Tracção Animal
0
0
0
5
0
0
0
1.331
41.113
373.837
12.327
428.582
0
134.343
0
0
85
14.105
1.005.728
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
267
Total
120.354
65.378
358.520
302.594
132.767
89.528
25.926
638.638
496.756
675.709
585.106
551.304
84.333
157.500
127.677
122.411
179.594
177.585
4.891.849
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Efectivos Pecuários, segundo espécie por cabeça
Provincias
Bovinos
Cabinda
Zaire
Uige
Malanje
Kuanza Norte
Bengo
Luanda
Kuanza Sul
Benguela
Huambo
Bié
Huila
Namibe
Cunene
Lunda Norte
Lunda Sul
Moxico
Kuando Kubango
Nacional
Suinos
Ovinos
Caprinos
Equinos
Asininos
Aves
9.370
57.700
72.430
121.700
15
7
671.000
1.805
30.445
2.100
126.000
10
5
980.000
5.955
54.000
47.000
144.300
20
10
1.220.000
3.325
50.400
83.000
197.300
50
75
700.000
2.300
54.580
71.000
78.600
10
20
500.000
16.640
54.200
27.300
145.000
50
45
900.000
16.200
68.100
16.000
36.000
350
30
5.000.000
103.000
135.200
108.306
218.200
1.200
300
1.000.000
140.000
252.400
118.000
217.000
50
150
1.500.000
65.500
240.000
44.000
420.900
100
650
379.000
46.000
350.000
13.000
150.000
60
100
1.750.000
1.530.760
316.100
261.700
1.127.100
1.500
1.420
1.200.000
634.500
183.300
237.000
518.600
1.760
1.210
235.000
1.400.000
216.100
46.900
742.100
6.100
2.700
300.000
4.300
40.500
27.440
33.000
25
22
280.000
7.450
52.500
15.000
35.000
40
35
290.000
27.950
18.000
15.450
28.471
324
978
416.000
484.550
57.900
16.580
438.600
3.300
1.250
250.000
4.499.605
2.231.425
1.222.206
4.777.871
14.964
9.007
17.571.000
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
Tabela – Repartição de custos, rendimentos e valor da produção
Cultura
Milho
Mandioca
Batata
Feijão
Amendoim
Total
Produtividade
(Kg/ha)
Preço de
Produção
(Kz/ha)
Preço
Médio de
Referência
produtor
(KZ/ha)
Custo
médio
produção
(Produt/ha)
Valor médio
Produtividade
Kz/produt/ha
Balanço
Rendimento
(Kz/ha)
721
86,38
65,57
62.279,98
47.275,97
112.797
2,22
29,36
28.409,34
7.558
13,37
38,80
345
160,00
388
…
Produção
Total (t)
Valor da
produção total
(Kz)
-15.004,01
1.200.248,00
78.700.261,36
375.719,92
347.310,58
13.000.649,00
381.699.054,64
101.050,46
293.250,40
192.199,94
587.874,00
22.809.511,20
98,87
55.200,00
34.455,15
-20744,85
224.090,00
22.379.868,30
77,78
101,00
30.178,64
39.188,00
9.009,36
108.202,00
10.928.402,00
…
…
…
…
…
…
516.517.097,50
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
268
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Evolução numérica da mão-de-obra por província, segundo o sector de emprego
Província
Cabinda
Zaire
Uíge
Malanje
Kuanza
Norte
Bengo
Luanda
Kuanza Sul
Benguela
Huambo
Bié
Huila
Namibe
Cunene
Lunda Norte
Lunda Sul
Moxico
Kuando
Kubango
Nacional
Sector
Familiar
162.347
2007/2008
Sector
empresarial
723
163.070
Sector
Familiar
167.445
2008/2009
Sector
empresarial
747
150.426
102
150.528
155.151
130
155.281
379.491
2.086
381.577
391.407
2.271
393.679
224.705
316
225.021
231.761
408
232.169
125.163
873
126.036
129.093
873
129.966
140-956
2.450
143.406
145.383
2.501
147.884
25.200
8.730
33.930
43.690
9.859
53.549
438.336
6.321
444.657
452.099
7.599
459.698
481.587
5.051
486.638
496.708
5.259
501.967
0
7.606
7.606
447.917
13.877
461.794
301.875
3.198
305.073
308.260
4.766
313.026
516.537
9.503
526.040
532.757
9.751
542.508
0
3.252
3.252
69.642
3.285
72.927
224.340
947
225.287
231.385
966
232.351
0
266
266
176.635
266
176.901
0
499
499
112.298
499
112.797
177.321
76
177.397
182.889
78
182.968
0
206
206
103.864
206
104.070
3.843.148
52.205
3.895.353
4.378.384
60.338
4.438.772
Total
FONTE: MINAGRI – Relatório Sectorial de Balanço das Actividades Desenvolvidas 2008 e 2009
269
Total
168.191
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
ANEXO 3: Estatísticas do Emprego
Tabela - Distribuição dos funcionários por províncias e sexo
2008
Província
Cabinda
Zaire
Uíge
Luanda
K. Norte
K. Sul
Malanje
L. Norte
L. Sul
Benguela
Huambo
Bié
Moxico
K.Kubango
Namibe
Huíla
Cunene
Bengo
TOTAL
H
6.462
4.630
14.435
45.956
5.531
11.121
7.230
6.467
4.225
17.971
14.232
15.750
6.807
4.871
5.782
17.613
4.534
4.839
198.456
M
3.405
1.202
2.264
27.535
1.956
6.094
3.585
439
775
13.792
9.825
4.612
2.917
1.859
2.464
10.735
4.193
1.463
99.115
T
9.867
5.832
16.699
73.491
7.487
17.215
10.815
6.906
5.000
31.763
24.057
20.362
9.724
6.730
8.246
28.348
8.727
6.302
297.571
2009
%
3,3
2,0
5,6
24,7
2,5
5,8
3,6
2,3
1,7
10,7
8,1
6,8
3,3
2,3
2,8
9,5
2,9
2,1
100,0
H
6.650
4.738
15.546
50.370
5.772
11.620
8.025
6.081
4.206
21.228
14.927
17.058
7.301
4.738
5.210
19.177
4.220
4.972
211.839
M
3.781
1.068
2.350
30.754
1.852
5.925
3.906
490
866
16.510
9.668
5.176
3.226
2.089
2.702
11.734
3.786
1.281
107.164
T
10.431
5.806
17.896
81.124
7.624
17.545
11.931
6.571
5.072
37.738
24.595
22.234
10.527
6.827
7.912
30.911
8.006
6.253
319.003
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
270
%
3,3
1,8
5,6
25,4
2,4
5,5
3,7
2,1
1,6
11,8
7,7
7,0
3,3
2,1
2,5
9,7
2,5
2,0
100,0
Variação
2008/2009
%
5,7
-0,4
7,2
10,4
1,8
1,9
10,3
-4,9
1,4
18,8
2,2
9,2
8,3
1,4
-4,1
9,0
-8,3
-0,8
7,2
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Distribuição dos funcionários por províncias e sexo (estrutura vertical)
2008
2009
Província
Cabinda
Zaire
Uíge
Luanda
K. Norte
K. Sul
Malanje
L. Norte
L. Sul
Benguela
Huambo
Bié
Moxico
K.Kubango
Namibe
Huíla
Cunene
Bengo
TOTAL
Homens
Mulheres
Total
Homens
Mulheres
Total
3,3
3,4
3,3
3,1
3,5
3,3
2,3
1,2
2,0
2,2
1,0
1,8
7,3
2,3
5,6
7,3
2,2
5,6
23,2
27,8
24,7
23,8
28,7
25,4
2,8
2,0
2,5
2,7
1,7
2,4
5,6
6,1
5,8
5,5
5,5
5,5
3,6
3,6
3,6
3,8
3,6
3,7
3,3
0,4
2,3
2,9
0,5
2,1
2,1
0,8
1,7
2,0
0,8
1,6
9,1
13,9
10,7
10,0
15,4
11,8
7,2
9,9
8,1
7,0
9,0
7,7
7,9
4,7
6,8
8,1
4,8
7,0
3,4
2,9
3,3
3,4
3,0
3,3
2,5
1,9
2,3
2,2
1,9
2,1
2,9
2,5
2,8
2,5
2,5
2,5
8,9
10,8
9,5
9,1
10,9
9,7
2,3
4,2
2,9
2,0
3,5
2,5
2,4
1,5
2,1
2,3
1,2
2,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009, Cálculos do CEIC
271
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Distribuição dos funcionários por províncias e sexo (estrutura horizontal)
2008
2009
Província
Homens
Mulheres
Homens
Homens
Mulheres
Total
65,5
34,5
100,0
63,8
36,2
100,0
79,4
20,6
100,0
81,6
18,4
100,0
86,4
13,6
100,0
86,9
13,1
100,0
62,5
37,5
100,0
62,1
37,9
100,0
73,9
26,1
100,0
75,7
24,3
100,0
64,6
35,4
100,0
66,2
33,8
100,0
66,9
33,1
100,0
67,3
32,7
100,0
93,6
6,4
100,0
92,5
7,5
100,0
84,5
15,5
100,0
82,9
17,1
100,0
56,6
43,4
100,0
56,3
43,7
100,0
59,2
40,8
100,0
60,7
39,3
100,0
77,3
22,7
100,0
76,7
23,3
100,0
70,0
30,0
100,0
69,4
30,6
100,0
72,4
27,6
100,0
69,4
30,6
100,0
70,1
29,9
100,0
65,8
34,2
100,0
62,1
37,9
100,0
62,0
38,0
100,0
52,0
48,0
100,0
52,7
47,3
100,0
76,8
23,2
100,0
79,5
20,5
100,0
66,7
33,3
100,0
66,4
33,6
100,0
Cabinda
Zaire
Uíge
Luanda
K. Norte
K. Sul
Malanje
L. Norte
L. Sul
Benguela
Huambo
Bié
Moxico
K.Kubango
Namibe
Huíla
Cunene
Bengo
TOTAL
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009, Cálculos do CEIC
272
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Distribuição dos funcionários por género
Género
2008
Homens
Mulheres
Total
%
2009
Variação
2008/2009
%
198.456
66,7
211.839
66,4
6,7
99.115
33,3
107.164
33,6
8,1
297.571
100,0
319.003
100,0
7,2
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
Tabela – Distribuição dos funcionários por âmbito
Âmbito
Central
Local
Total
2008
%
2009
%
32424
10,9
35090
11,0
Variação
2009/2008
8,2
265147
89,1
283913
89,0
7,1
297571
100,0
319003
100,0
7,2
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
Tabela – Distribuição dos funcionários por sector
Sector
2008
Educação
Saúde
Justiça
Outros
Total
%
162.766
60.887
4.470
69.448
297.571
2009
54,7
20,5
1,5
23,3
100,0
Variação
2008/2009
%
174.461
65.876
4.703
73.963
319.003
54,7
20,7
1,5
23,2
100,0
7,2
8,2
5,2
6,5
7,2
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
Tabela – Distribuição dos funcionários por categorias
Sector
Educação
Base e Médio
Superior
Saúde
Justiça
Outros
Total
Pessoal
Técnico
139.898
137.828
2.070
41.378
3.267
21.181
205.724
2008
Pessoal
não
Total
Técnico
22.868
162.766
21.908
159.736
960
3.030
19.509
60.887
1.203
4.470
48.267
69.448
91.847
297.571
%
54,7
53,7
1,0
20,5
1,5
23,3
100,0
Pessoal
Técnico
149.482
147.306
2.176
48.748
3.433
22.189
223.852
2009
Pessoal
não
Técnico
24.979
23.980
999
17.128
1.270
51.774
95.151
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
273
Total
%
174461
171286
3175
65876
4703
73963
319.003
54,7
53,7
1,0
20,7
1,5
23,2
100,0
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Síntese dos principais indicadores
Emprego na
Administração Pública
2007
2008
2009
Género
291997
297571
319003
Homens
194182
198456
211839
Mulheres
97815
99115
107164
Âmbito
291997
297571
319003
Central
32528
32424
35090
Local
259469
265147
283913
Sector
291997
297571
319003
Educação
164008
162766
174461
Saúde
57825
60887
65876
Justiça
3556
4470
4703
Outros
66608
69448
73963
291997
297571
319003
Huambo
24142
24057
24595
Huíla
27612
28348
30911
Luanda
73908
73491
81124
Benguela
33974
31763
37738
132361
139912
144635
Província
Outras
FONTE: MAPESS – Relatório Sectorial, Balanço do Programa Geral do Governo 2008/2009
274
RELATÓRIO ECONÓMICO DE ANGOLA 2009
CEIC/UCAN
Tabela – Mercado do emprego
2008
Agricultura
Priv.
5491295
Instit.
2009
Total
5491295
%
82,0
Priv.
5637098
164434
2,5
169534
Instit.
Variação
Total
5637098
%
79,6
2008/2007
3,9
2009/2008
2,7
169534
2,4
3,2
3,1
15421
0,2
-6,9
-0,1
Pescas
164434
Petróleo
15178
260
15438
0,2
15178
Diamantes
16589
265
16854
0,3
16589
16589
0,2
2,5
-1,6
Outras Extract
26684
0
26684
0,4
27104
27104
0,4
2,1
1,6
Energia/Água
2345
132
2477
0,0
8741
8741
0,1
0,4
252,9
42214
270
42484
0,6
45222
45222
0,6
6,1
6,4
Construção
240117
248
240365
3,6
303929
303929
4,3
12,3
26,4
Serv. Mercantis
334551
283
334834
5,0
459821
459821
6,5
21,1
37,3
18700
0,3
21652
21652
0,3
10,0
15,8
296113
4,4
318760
4,5
1,9
7,6
45645
0,7
55917
55917
0,8
12,6
22,5
6695323
100,0
6704868
7079788
100,0
4,9
5,7
Industria
Transformadora
Sectores
Sociais
18700
Sect.
Institucional
Outros
Total
296113
45645
6397752
297571
243
318760
319003
FONTE: Valores do Balanço Programa Geral do Governo 2008 e 2009, corrigidos pelo CEIC
275

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