FalandO de VinhO Especial Viagem DiVina

Transcrição

FalandO de VinhO Especial Viagem DiVina
EDIÇÃO 15 ANO III
edição 15 ano III
R$ 12,90
www.revistadivino.com.br
Especial
PRIMUM FAMILIAE VINI
EM DEGUSTAÇÃO NO BRASIL
Viagem DiVina
VIENA: A METRÓPOLE COM MAIS
VINHEDOS URBANOS NO MUNDO
FalandO de VinhO
JEAN-LUC THUNEVIN, UM DOS ÍCONES DA
CORRENTE DENOMINADA “GARAGISTE”
Carta aO Leitor
Um bom anO
Assim como cada nova safra no vinhedo oferece novas possibilidades e expectativas, o mês de janeiro é também considerado um marco para muita gente, que
tem a sensação de recomeço, de disposição para novos planos e de esperança por
novas chances. Mas é importante lembrar que, ainda que novas uvas estejam para
nascer, há muito vinho envelhecendo no barril ou na garrafa já há algum tempo,
num ritmo que não leva em conta datas específicas do calendário, mas nem por
isso pode ser desrespeitado ou apressado. Isso serve para as pessoas também.
Devaneios à parte, nesta edição da diVino não pude deixar de notar uma verdadeira concentração de pessoas admiráveis (que podem servir de boas fontes de inspiração para o novo ano). Jean-Luc Thunevin é uma delas. Ex-DJ e ex-restaurateur,
ele chegou a Saint-Émilion em 1984 e hoje seus vinhos de garagem são ícones na
região. Já Chiara Lungarotti é dessas mulheres que sabem conciliar família com
trabalho – ela é CEO da vinícola fundada por seu pai e viaja o mundo com seus
vinhos quando não está em Perugia, onde mora com o marido e um filho de dois
anos. O agropecuarista e empreendedor gaúcho José Antônio Peterle partiu do
zero e, depois de oito anos, acaba de lançar a primeira safra de seu vinho. E, em
um evento no mínimo memorável, representantes das 11 famílias de produtores
de vinho membros da Primum Familiae Vini vieram para o Brasil, onde apresentaram dois de seus rótulos mais representativos, além de mostrar por que a organização é um sucesso.
Pessoas lutadoras, brilhantes, ousadas e que trabalham bastante. Sorte delas,
que trabalham com vinho.
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4 diVino
Histórias que OVinhO Conta
por Heloisa Whately
Mulher
maraVilha
CHIARA LUNGAROTTI É HERDEIRA DA PRIMEIRA
VINÍCOLA ITALIANA DE PORTE A SER COMANDADA
POR MULHERES. MAS ISSO NÃO É TUDO.
C
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omo ela consegue? Essa era a pergunta que eu me fazia enquanto conversava com Chiara Lungarotti, que comanda,
ao lado de sua mãe e de sua irmã Teresa Severini, a vinícola
Lungarotti, o hotel Le Tre Vaselle e o Museu do Vinho e do
Óleo de Oliva. Isso tudo além de ser presidente do Movimento del Turismo del Vino, associação feita para incentivar
o turismo do vinho na Itália, vice-presidente da Associação
das Mulheres do Vinho (foi presidente por dois anos consecutivos) e conselheira da Fundação Perugia de Música
Clássica. Ah, sim, também é casada, tem um filho de dois
anos, viaja o mundo apresentando seus vinhos e acaba de
inaugurar o bellaUve Spa. Esteve no Brasil para apresentar
seus vinhos, que agora chegam ao País pela Mistral. No roteiro, Rio de Janeiro e São Paulo e nenhum sinal de jet leg
– pelo contrário, entusiasmo de sobra. E a resposta para a
minha pergunta, fui descobrindo aos poucos.
diVino 75
Histórias que OVinhO Conta
Paixão pelo vinho
“Depois da Segunda Guerra Mundial, meu pai decidiu tornar
uma típica fazenda em uma propriedade especializada, pois
acreditava que esse era o futuro da agricultura italiana. Então
ele decidiu se especializar em vinho, que era sua grande paixão.
Em 1935, com um mestrado em viticultura nas mãos, começou
a replantar os antigos vinhedos”, conta Chiara. No início da década de 1960, Giorgio Lungarotti fundou sua vinícola na região
da Úmbria, na Itália. Ele se casou, teve filhos e contagiou todos
ao seu redor com sua paixão pelo vinho. Esse foi sem dúvida o
segredo para o bem-sucedido processo de sucessão no comando da vinícola: em 1999, suas filhas Chiara e Teresa assumiram
o comando da empresa. “Nós crescemos em meio ao vinho e ele
se tornou nossa paixão, não foi algo imposto”, diz Chiara. Giorgio Lungarotti, com seus antológicos Rubesco Riserva 1971 e
1975 colocou a Úmbria no mapa da enoviticultura mundial.
Amor à terra
Amante da terra desde a infância, Chiara formou-se em agronomia pela Universidade de Perugia no anos 1990. “Lembrome de quando éramos criança, meu pai nos encorajava a andar
descalças pelos vinhedos para sentir a terra, sentir o solo.”
Chiara não hesita em responder qual a sua parte preferida do
trabalho na vinícola: “A terra, o vinhedo. Eu seria a pessoa mais
O Le Tre Vaselle foi o vencedor em 2008
na categoria Luxury Country Hotel,
do World Luxury Hotel Awards
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feliz do mundo se pudesse ficar em meio ao vinhedo o tempo
todo, andando por ele, observando. É a minha paixão e gostaria
muito de transmitir isso ao meu filho, da mesma maneira como
foi transmitido para mim”. Para a CEO da vinícola, um dos
principais desafios é “trabalhar para representar o melhor que a
Úmbria pode oferecer, tornando-a conhecida ao redor do mundo. A Úmbria é um segredo muito bem guardado”. Hoje com
propriedades em Torgiano e Montefalco, a vinícola produz
vinhos de grande tipicidade. “Queremos manter a identidade
do vinho, as características de seu terroir. Pelo bem do vinho
italiano. Os vinhos europeus são uma expressão da região de
onde vêm. Seria mais simples seguir para um estilo mais fácil,
mas somente a identidade faz um vinho singular, único.”
Entusiasmo
Chiara começou a trabalhar na vinícola quando tinha 20 anos e
ainda estava na universidade. “Nessa época eu passei pelas diferentes áreas da empresa para entender como tudo funcionava
e isso foi muito importante, pois, quando eu me tornei CEO, eu
conhecia todo o processo: o trabalho nos vinhedos, a colheita, o
trabalho do enólogo, os fornecedores de rolhas e rótulos”. Desde
os tempos de universidade, ela faz questão de passar uma semana todos os anos em Bordeaux para se atualizar. “Denis Dubourdieu, um grande amigo, produtor e nosso consultor desde que
Histórias que OVinhO Conta
Chiara e Teresa com
a mãe, Maria Grazia
Tradição e inovação
Bem antes de Chiara e Teresa assumirem o comando da Lungarotti, sua mãe já trazia inovações para a propriedade da família. Em 1974, ela inaugurou junto da vinícola o Museu do
Vinho e do Óleo de Oliva, pelo qual é responsável desde então. “Na volta de uma viagem à França e à Alemanha nos anos
1960, meus pais repararam que todos os lugares relacionados
a vinho que haviam visitado tinham um pequeno museu, um
local para receber visitantes e fomentar a economia local. E
resolveram fazer algo assim em Torgiano. Minha mãe estudava
história da arte desde aquela época e sabia que um museu era
coisa séria. Então ela se dedicou ao projeto do museu como
se fosse um filho – ele é realmente meu irmão mais novo.”
78 diVino
O museu foi aberto ao público em 1974, tem um acervo de
objetos de até 5 mil anos e recebe cerca de 20 mil turistas por
ano. “Como não havia sequer um restaurante em Torgiano para
receber os turistas que vinham visitar o museu ou os clientes
que vinham à vinícola, meu pai decidiu abrir, em 1978, um pequeno restaurante, que logo expandiu para um hotel-butique”,
conta Chiara sobre o Le Tre Vaselle, que hoje tem mais de 50
quartos e é considerado um dos hotéis mais charmosos da Itália. “A cultura do vinho e do azeite tem um papel fundamental
no desenvolvimento econômico, histórico e cultural da região
da Úmbria e de toda a Itália”, conclui ela. E o mais recente
projeto concretizado é o bellaUve Spa, inaugurado em 2010 e
resultado de uma parceria com Daniela Steiner, dona de uma
marca de beleza e spas em várias partes do mundo.
Valor ao tempo
Pergunto então como ela administra seu tempo. “A coisa
mais difícil é conciliar os negócios e a família. Cada momento livre que tenho é para meu filho e meu marido. Cada
minuto é muito valioso. Eu não tenho mais vida social em
Perugia, pois o tempo todo lá é dedicado a eles dois. Mas
isso pode esperar.”
FOTOS: JOSÉ HENRIQUE VIEIRA E DIVULGAÇÃO
meu pai morreu, é professor de enologia em Bordeaux. Então,
nessa viagem, eu combino férias com aprendizado.”
Por seu cuidado com o meio ambiente, a Lungarotti foi selecionada para fazer parte do Projeto Biomassa da Universidade de
Perugia. No projeto, eles vão utilizar os subprodutos para gerar
toda a energia consumida pela vinícola. “Meio ambiente tem
de ser prioridade. O futuro depende dele e nós fazemos a nossa
parte nos vinhedos, com uma viticultura sustentável.”

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