Ficha 1 – Ciências/ 8ªsérie

Transcrição

Ficha 1 – Ciências/ 8ªsérie
Disciplina: Ciências
9o ano
Ficha nº _____
Turma: _____
AQUECIMENTO GLOBAL – parte 2
Texto 1
Livro: A longa marcha dos grilos canibais, de Fernando Reinach. Companhia
das Letras, 2010.
O clima dos últimos 650 mil anos
Nosso planeta está esquentando e muitos acreditam que isso se deve à
queima de combustíveis fósseis. Por outro lado, é possível que a Terra esteja
simplesmente passando por um ciclo natural de aquecimento. Uma possível
solução para esse dilema vem de um experimento no qual se pôde determinar a
variação da quantidade de CO2 e da temperatura da atmosfera nos últimos 650 mil
anos.
A neve sequestra amostras da atmosfera em que se formaram pequenas
bolhas de ar. Essas bolhas de ar ficam preservadas na estrutura do gelo. A cada
ano, surge uma nova camada de gelo na Antártida contendo amostras do ar
daquele ano. Coletando essas camadas de gelo, teoricamente é possível
reconstituir as alterações ocorridas na atmosfera ao longo dos anos. Para tanto,
basta fazer um poço e retirar o gelo do buraco. A primeira camada corresponde
à neve de 2004, a segunda à de 2003, e assim por diante.
Um grupo de cientistas realizou um estudo desse tipo em uma região da
Antártida chamada Dome Concórdia. O poço foi construído no topo de uma
cordilheira de gelo de 3.200 metros de altura. Para recolher o gelo acumulado ali
nos últimos 650 mil anos, foi necessário fazer um furo de 3 mil metros de
profundidade. Uma operação difícil, pois é necessário cavar o poço em uma das
regiões mais frias do planeta. Além disso, cada naco de gelo retirado teve de ser
cuidadosamente preservado.
O ar preso nas bolhas das camadas de gelo foi analisado. Primeiro mediu-se a
concentração de CO2 no ar das bolhas, depois a razão entre o deutério e o
hidrogênio, o que permitiu calcular a temperatura do ar no ano em que ele foi
sequestrado. O resultado final originou um gráfico que mostra como variaram a
quantidade de CO2 e a temperatura do ar ao longo dos últimos 650 mil anos.
Esse gráfico permite várias conclusões. O perfil obtido no Dome Concórdia
confirma os dados de outro perfil, obtido na estação de Vostok. Os dois perfis
demonstram a existência de ciclos de aquecimento e resfriamento com duração de
100 mil anos. Durante cada ciclo, a atmosfera esquenta e esfria, acompanhando o
aumento e a diminuição da quantidade de CO2. Também se observou que em
nenhum dos seis ciclos que cobrem os 650 mil anos a quantidade de CO2 passou
de 300 ppm (partes por milhão), variando de 190 a 300 ppm. O último ciclo, iniciado
há 25 mil anos com baixas temperaturas e 190 ppm de CO2, estava no seu pico,
com 280 ppm de CO2, no início da Revolução Industrial. A partir de então, a
quantidade de CO2 continuou a aumentar e hoje está em 370 ppm.
São duas as conclusões. Primeira: os níveis atuais de CO2 na atmosfera são
os mais altos dos últimos 650 mil anos. Segunda: esses níveis foram atingidos
após iniciarmos a queima de combustíveis fósseis, o que ocorreu exatamente
quando a atmosfera já estava na sua temperatura máxima. Esses resultados
reforçam a teoria que responsabiliza a queima de combustíveis fósseis pelo
aquecimento global.
Nas últimas seis vezes em que houve um aumento de CO2, um mecanismo
ainda desconhecido reverteu o aquecimento. Vamos torcer para que esse
mecanismo ainda esteja em ação, porque no ritmo que a humanidade vem
queimando petróleo, e dada a resistência mostrada por diversos países em reduzir
suas emissões, só nos resta pagar para ver.
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Mais informações:
“Stable carbon cycle – climate relationship during the late Pleistocene”.
In: Science Magazine, vol. 310, n. 5752, 2005, p. 1313-1317.
Questão
1) Os dados do estudo descrito no texto poderiam, em vez de reforçar a teoria
citada pelo autor, apoiar uma outra teoria que procura explicar o aumento do
gás carbônico? Explique.
Texto 2
Livro: A longa marcha dos grilos canibais, de Fernando Reinach. Companhia
das Letras, 2010.
Um cientista que sabia medir
Raros são os cientistas que se dedicam a medir um único fenômeno. Mais
raros ainda são aqueles que alteram o comportamento da humanidade com suas
medições. O norte-americano Charles D. Keeling passou a vida medindo a
quantidade de gás carbônico existente na atmosfera. Foram suas medições que
demonstraram que a quantidade de gás carbônico está aumentando na atmosfera.
Essas medidas iniciaram as investigações sobre mudanças climáticas.
Em 1958, muito antes do surgimento dos movimentos ecológicos, Keeling
desconfiou que o gás carbônico (CO2) produzido pela queima de petróleo talvez
estivesse se acumulando na atmosfera. Decidiu, então, medir como variava a
concentração de CO2. Para realizar suas medidas, escolheu o topo de uma
montanha no Havaí, longe das grandes fontes de emissão de CO2, instalando no
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pico do Mauna Loa um aparelho capaz de medir continuamente a quantidade de
CO2 na atmosfera. Em 1958, existiam 316 partes de CO2 na atmosfera para cada
milhão de partes de gases. Durante os primeiros anos, Keeling descobriu que a
quantidade de CO2 aumentava no inverno e diminuía no verão, como reflexo da
atividade das plantas, cuja fotossíntese depende da temperatura e da quantidade
de luz.
A curva parecia uma montanha-russa. Foram mais de dez anos de medições
contínuas até se descobrir que a montanha-russa, na verdade, apresentava a cada
ano um pico um pouco mais alto que no ano anterior. Finalmente foi possível
demonstrar que o CO2 estava de fato aumentando. Entre 1958 e 2002, os níveis de
CO2 na atmosfera cresceram 17%.
Os resultados de Keeling formam a base para toda a discussão sobre o efeito
estufa e o aquecimento global. Apesar de ainda haver discórdia sobre como os
níveis de CO2 influenciam o clima, o degelo das calotas polares e o aumento do
nível dos oceanos, a veracidade dos dados de Keeling jamais foi posta em dúvida.
Na última década, a hipótese de Keeling ficou comprovada através da análise
da quantidade de CO2 presente em bolhas de ar retidas no gelo polar. Os cientistas
analisaram bolhas retidas no gelo há centenas de anos e determinaram a
quantidade de CO2 que existia na atmosfera antes de o homem começar a queimar
petróleo. O gelo dos furos feitos nos pólos revelou que durante centenas de anos a
concentração de CO2 permaneceu inalterada, só começando a aumentar a partir
do fim do século XIX. A intuição de Keeling, portanto, estava correta: o homem
realmente está modificando a atmosfera terrestre.
A maioria das destruições observadas no meio ambiente é constituída de
fenômenos locais que ocorrem em um período de tempo relativamente curto. É o
caso do desmatamento da Amazônia, da poluição de um rio ou da mudança da
qualidade do ar em uma cidade. Mas o que realmente põe em risco a sobrevivência
do homem são os fenômenos globais, que ocorrem ao longo de décadas e são
difíceis de reverter. Com a medição da quantidade de gás carbônico acumulada na
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atmosfera, Keeling foi o primeiro cientista a identificar de maneira incontestável um
desses fenômenos.
Ele provavelmente foi um homem realizado, pois viveu tempo suficiente para
ver a maioria dos países assumir o compromisso de combater o aumento do CO2.
Mas deve ter morrido decepcionado, pois seu país, os Estados Unidos, o maior
consumidor mundial de petróleo, recusou-se a assinar o Protocolo de Quioto.
Mais informações: http://cdiac.ornl.gov/new/keel_page.html
Questões
2) Qual era a hipótese de Keeling?
3) Modificar a atmosfera terrestre é o mesmo que modificar o clima? Use um
fragmento do texto para sustentar a sua explicação.
Q:\editoracao\2013\Ped2013\Ciências\6º ao 9º\Ficha 11-9º ano.docx
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