pantanal corredor biogeográfico

Transcrição

pantanal corredor biogeográfico
www.neomondo.org.br
Ano 8 - No 65 - Novembro/Dezembro 2014
PANTANAL
CORREDOR
BIOGEOGRÁFICO
Exemplar de ASSINANTE
Venda Proibida
R$ 16,00
100 anos
de Dorival Caymmi
Pantanal
Patrimônio natural da humanidade
Alerta
Desmatamento na Amazônia
TM Rio 2016.
Fale com os Correios: correios.com.br/falecomoscorreios
CAC: 3003 0100 ou 0800 725 7282 (informações) e 0800 725 0100 (sugestões e reclamações)
Ouvidoria: correios.com.br/ouvidoria – SIC: correios.com.br/acessoainformacao
F:B:H:PH:
9:GH>P6H!F>C
Os Correios têm um compromisso com o maior serviço de entrega do mundo: a natureza.
Atitudes sustentáveis como a Coleta Seletiva Solidária, o EcoPostal, os veículos elétricos, e muitas outras, são atitudes
dos Correios para preservar a natureza e permitir que ela continue fazendo o seu trabalho. E, com o Sistema de Gestão Ambiental,
o compromisso com o meio ambiente se tornou ainda maior e mais efetivo.
todos os animais
Os animais são diretamente afetados
pelo comportamento humano.
Podemos ser cruéis e negligentes, mas
também podemos manifestar bondade e
compaixão — valores que exemplificam
o melhor do espírito humano.
Acesse hsi.org/compaixao e veja
como você pode ajudar.
Proteção e respeito a todos os animais
6
Neo Mondo - Julho 2008
Neo Mondo - Julho 2008
7
Seções
EDITORIAL
ÍNDICE
Oscar Lopes Luiz
Presidente do Instituto Neo Mondo
[email protected]
12
Perfil
O que é que o baiano tem?
Uma homenagem especial ao
cantor, compositor, violonista,
pintor e ator.
18
24
Meio ambiente
Uma viagem aos
biomas brasileiros
Pantanal - a maior
planície alagada do
mundo
Artigo
Ulrike Vogi
O centro virou periferia
O Pantanal, maior área continental úmida do planeta e berço de rica biodiversidade, é o tema da edição que encerra
o ano de 2014. E, em clima natalino, são os nossos leitores os agraciados por um presente especial da WWF-Brasil e do
fotógrafo Adriano Gambarini. Nossa capa e páginas centrais estampam fotos da exposição “Pantanal: natureza, conservação
e cultura”, organizada pela WWF-Brasil em homenagem ao Dia do Pantanal, celebrado em 12 de novembro.
Adriano Gambarini (www.adrianogambarini.com) é fotógrafo da Revista National Geographic Brasil e autor de 13
livros de fotografias, sendo dois deles finalistas do Prêmio Jabuti. Com mais de 20 anos de profissão, possui um dos
arquivos fotográficos mais diversificados do país, com mais de 170 mil fotos de ecossistemas, cavernas, vida selvagem,
modos de vida, cultura de grupos étnicos, Antártica e mais 20 países. E, lógico, milhares de imagens do Pantanal, sua rica
biodiversidade, fauna e pecuária, a principal atividade econômica da região.
Muito obrigado, NEO MONDO e seus leitores agradecem o presente!
Nesta edição abordamos ainda a tendência de aumento do desmatamento na Amazônia e um inovador projeto que
se transformou em modelo de pecuária baseado no tripé de sustentabilidade, o projeto Pecuária Verde, realizado em
Paragominas (PA). Por fim, prestamos uma homenagem especial ao cantor, compositor, violonista, pintor e ator Dorival
Caymmi que completaria 100 anos em 2014 e deixou sua marca única na cultura nacional.
Tudo isso e muito mais vocês encontrarão em nossas páginas.
Encerro aqui com votos de Boas Festas para todos e de um 2015 repleto de saúde, paz, luz e conservação.
Tenham uma ótima leitura!
NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
28
Animais
EXPEDIENTE
Ação pretende proteger aves
migratórias do pantanal
Região recebe espécies de
várias partes do mundo
Publisher: Oscar Lopes Luiz
Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)
34
Economia
Pecuária sustentável
Combina pecuária moderna e proteção
de áreas da Floresta Amazônica
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos,
Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos
Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci,
Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly
Martins, Pedro Henrique Passos
Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB
29.146), Lilian Mallagoli
Revisão: Instituto NEO MONDO
Direção de Arte: LabCom Comunicação Total
Projeto Gráfico: LabCom Comunicação Total
Foto de Capa: Cortesia do fotógrafo Adriano Gambarini
Diretora Jurídica - Enely Verônica Martins (OAB 151.575)
Diretora de Relações Internacionais: Marina Stocco
Diretora de Educação - Luciana Mergulhão (mestre em educação)
Diretor de Tecnologia - Roberto Areias de Carvalho
Correspondência: Instituto NEO MONDO
Rua Ministro Américo Marco Antônio n0 204, Sumarezinho
São Paulo - SP - CEP 05442-040
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A Revista NEO MONDO é uma publicação do Instituto NEO MONDO, CNPJ 08.806.545/0001-00, reconhecido como Organização
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de seus autores. Proibido reproduzir o conteúdo desta revista sem prévia autorização.
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Foto Divulgação
O QUE É QUE O
BAIANO TEM?
screvi 400 canções e Dorival
ival Caymmi 70. Mas
ele tem 70 canções perfeitas
rfeitas e eu não.” A
frase de Caetano Veloso
so resume o legado
de Dorival Caymmi. Com suaa voz doce, grave e
musical, dicção impecável e um
m violão sempre ao
seu alcance, Caymmi era reconhecido
nhecido pela habitual
tranquilidade. Sua faceta maiss conhecida era a de
cantor e compositor. Compôss obras como O
que é que a Baiana Tem - imortalizada
ortalizada por
Carmem Miranda -, Saudade
e da Bahia,
Samba da minha Terra, Marina,
na, Modinha
para Gabriela, Maracangalha,
a, Saudade
de Itapuã, O Dengo que a Nega Tem,
Rosa Morena, entre muitas outras. Era
também pintor e ator, facetas
as menos
conhecidas, mas igualmentee marcas
de sua genialidade.
Os três filhos, Dori, Danilo
o e Nana
também são músicos. As canções
ções que
celebrizaram Caymmi
versam na maioria das vezes sobre
Cay
temas praieiros ou
o sobre a Bahia e as belezas da terra.
“Sempre procurei
procure trazer para a minha música os ruídos
da Bahia. Por isso,
iss meu violão tem toque de berimbau e
escapa dos acordes
perfeitos, quadrados. Meus dedos
aco
procuram um som harmônico diferente, esquisito”,
explicou o compositor
na biografia “Caymmi: O Mar e O
comp
Tempo”” (2001).
Reconhecido e premiado em vários países, Dorival
Reconheci
ganhou a fama de 'preguiçoso' por demorar
Caymmi gan
muito tempo para lançar discos e apresentar novas
Nunca compôs sob pressões externas e
músicas. Nu
levar anos na criação de algumas músicas.
chegou a leva
que demorou nove anos para concluir esta
Conta-se qu
estrofe da letra de João Valentão. “E assim adormece
homem/ Que nunca precisa dormir pra sonhar /
este home
não há sonho mais lindo / Do que sua terra
Porque nã
não há!”.
Da Bahia para o mundo
D
orival Caymmi nasceu em Salvador (BA), em
30 de abril de 1914. Faleceu em 16 de agosto
de 2008, aos 94 anos, no Rio de Janeiro (RJ).
Descendente de italianos pelo lado paterno, seu bisavô
chegou ao Brasil para trabalhar no reparo do Elevador
Lacerda. Seu pai era funcionário público e músico amador.
A mãe, dona de casa, mestiça de portugueses e africanos,
cantava apenas no lar.
Eu guardo em mim, dois
“
corações, um que é do mar, um
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Foto Divulgação
Junior, submúsica.
“
das paixões, um canto doce,
um cheiro de temporal,
eu guardo em mim um
Deus, um louco, um
santo, um bem,
um mal.
Sou xiita. Para mim Roberto
“Carlos
é igual a Sandy &
“
“E
NEO MONDO presta uma homenagem especial ao
cantor, compositor, violonista, pintor e ator Dorival
Caymmi, que completaria 100 anos em 2014 e
deixou sua marca única na cultura nacional.
Por Eleni Lopes
Ainda menino cantava em um coro de igreja como
baixo-cantante. Com treze anos, interrompeu os estudos
e começou a trabalhar como auxiliar, em uma redação
do jornal O Imparcial, . Com o fechamento do jornal, em
1929, torna-se vendedor de bebidas. Em 1930 escreveu sua
primeira música: No Sertão, e aos vinte anos estreou como
cantor e violonista em programas da Rádio Clube da Bahia.
Em 1935, passou a apresentar o musical Caymmi e Suas
Canções Praieiras. Com 22 anos, venceu, como compositor,
o concurso de músicas de carnaval com o samba A Bahia
também dá.
Em abril de 1938, aos 23 anos, Dorival, foi para o Rio
de Janeiro (RJ), para conseguir um emprego como jornalista
e realizar o curso preparatório de Direito. Com a ajuda
de parentes e amigos, fez alguns pequenos trabalhos na
imprensa, exercendo a profissão em O Jornal, do grupo
Diários Associados, e ainda assim, continuava a compor
e a cantar. Apresentado ao diretor da Rádio Tupi, em
nos prometeram um Brasil que nunca aconteceu.
“ Eles
Daí a melancolia da minha geração.
“
Perfil
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Perfil
“
Foto Divulgação
Gostar de si mesmo,
sem egoísmo. Apreciar
as pessoas em volta.
Cuidar da saúde mental
O mar quando
“quebra
na praia
É bonito, é
bonito
O mar... pescador
quando sai
Nunca sabe se
volta, nem sabe
se fica
Quanta gente
perdeu seus
maridos seus
filhos
Nas ondas
do mar.
e física. Gostar dos
seus horários. Não
ficar melancólico, mas
guardar na lembrança
as melhores coisas da
vida. E não abrir mão
de ser feliz. A busca da
felicidade já justifica a
existência.
“
Foto Divulgação
“
24 de junho de 1938, estreou na rádio cantando duas
composições, embora ainda sem contrato. Saiu-se bem
como calouro e passou a cantar dois dias por semana,
além de participar do programa Dragão da Rua Larga.
Neste programa, interpretou O que é que a Baiana Tem?,
composta em 1938.
Símbolo de sabedoria e sucesso, coleciona homenagens,
como títulos (Cidadão Honorário do Município do Rio de
Janeiro e Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal
da Bahia), comendas (Ordre des Arts et des Lettres, Ordem
do Mérito Judiciário do Trabalho e Ordem do Mérito
da Bahia), medalhas (Medalha do Mérito Castro Alves,
Medalha Machado de Assis e Medalha do Mérito Santos
Dumont), e um busto (modelado pelo escultor Bruno Giorgi
nos anos 50) em Salvador, passando pela praça e avenida
Dorival Caymmi em Itapuã, também na capital baiana.
Outra grande homenagem à obra do compositor baiano
aconteceu em 1986, quando a Escola de Samba Mangueira
venceu o Carnaval carioca ao escolher como tema do seu
samba-enredo a vida de Dorival.
Em entrevista ao jornalista e musicólogo Zuza Homem
de Mello, em 1988, publicada no O Estado de S. Paulo,
Dorival Caymmi fez um modesto autoresumo sobre os seus
dotes extramusicais: “Não sou erudito, longe de mim tal
pretensão. Na literatura, fico naquela fórmula de quem
aprendia no ginásio da minha época através da Antologia
de Fausto Barreto e Carlos Laet. Já li aqueles portugueses
clássicos, Almeida Garret, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós,
Camões que a gente não pode deixar, até chegar à
literatura da minha época, José Lins do Rego, Jorge Amado,
Graciliano Ramos e, vindo pela poesia, fico embevecido
com Manoel Bandeira, o Drummond, João Cabral de Mello
Neto, esses homens que eu conheci. A poesia em prosa de
Rubem Braga, que é meu coração, Millôr Fernandes com
seu humor sábio, e esses contistas dos anos 60 para cá, uma
geração nova. Sabendo que a gente já passou por Machado
de Assis, pela poesia de Olavo Bilac, enfim, tudo baseado
no conhecimento da curiosidade pela literatura de minha
época de colégio. Meus ídolos são fáceis de identificar, são
os que todo mundo gosta. E Jorge Amado é meu irmão.”
Na mesma entrevista, comentou sua fama de homem
triste: “Eu não sou de guardar tristezas. Só vou para a
cama quando estou totalmente lavado por dentro. Só
depois me deito, mesmo quando estou de digestão feita,
leio um bocadinho antes de dormir e limpo a cabeça de
todos os problemas do dia. Vou direto até de manhã e me
acordo com a luz do dia. Quem me acorda sempre é o sol.
Por uma greta que haja. Tomo água em jejum desde 16
anos. E acho uma terapia fabulosa, me dá uma energia,
uma tranquilidade. Tenho uma moringa de barro que é
a verdadeira. Primeiro, uns três ou quatro goles. Depois,
aquele copázio. E depois é que vou pensar.”
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Educação
DOIS JOVENS
TALENTOS
EM HARVARD
Duas estudantes brasileiras foram
selecionadas em um programa de
incentivo a projetos inovadores de
empreendedorismo social. Para
custear uma viagem aos Estados
Unidos, estão captando doações
por meio da Internet.
Da Redação
Jannis Tobias Werner / Shutterstock.com
A
s estudantes brasileiras
Georgia
Gabriela
da
Silva Sampaio e Raíssa
Müller, ambas com 19 anos,
foram
selecionadas
em
um
programa de incentivos a projetos
empreendedores
com
ideias
inovadoras, promovido pela Harvard
University, nos Estados Unidos.
Agora estão captando recursos para
custear uma viagem aos Estados
Unidos, na qual representarão o
Brasil apresentando seus projetos
para investidores (mais informações
de como contribuir no box).
Georgia Gabriela da
Silva Sampaio pesquisa
a criação de um método
menos invasivo e mais
barato, por meio de
um exame de sangue,
para o diagnóstico da
endometriose. A doença é
caracterizada pela presença
do endométrio – tecido que
ue
reveste o interior do útero – fora
da cavidade uterina, ou seja, em outros
órgãos da pelve: trompas, ovários, intestinos
e bexiga. Hoje, afeta cerca de seis milhões de brasileiras. De
acordo com a Associação Brasileira de Endometriose, entre
10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva (13 a 45
anos) podem desenvolvê-la e 30% tem chances de ficarem
estéreis.
Giorgia começou a pesquisar o assunto há três anos,
depois que uma tia foi diagnosticada e teve de extrair o
útero. A estudante concluiu o ensino médio no ano passado
e agora vai disputar uma vaga em uma universidade
americana, onde pretende conciliar cursos de engenharia e
algo no campo das ciências biológicas.
Já Raissa Müller é estudante do ensino técnico em
química. Criou uma espécie de esponja que repele água
e absorve óleo e poderia, por exemplo, ser utilizada em
acidentes com derramamento de óleo no mar. Nenhuma
substância química tem esse poder, segundo Raíssa. Lembra
que a palha de milho também é usada para este fim, mas
depois precisa ser queimada. Agora a estudante pretende
fazer testes do produto em grande escala para verificar a
aplicabilidade.
Os vídeos de ambas podem ser visto nos links
https://www.youtube.com/watch?v=5pciCcDipys
e
https://www.youtube.com/watch?v=jdrIz3xHgN8.
Contribua você também
A contribuição para Georgia Gabriela da Silva pode ser feita no link:
https://www.crowdrise.com/villagetoraiseachildprojects/fundraiser/georgiagabrieladasam
eladasam
l d
Para Raíssa Müller pode ser feita por meio do link:
https://www.crowdrise.com/villagetoraiseachildprojects/fundraiser/rassamller
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NEO
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Meio ambiente
UMA VIAGEM
AOS BIOMAS
BRASILEIROS
Considerado como a maior planície alagada
do mundo, o bioma tem a importante
função de corredor biogeográfico entre
as duas maiores bacias da América do Sul.
Da Redação
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P
antanal, maior planície alagada do
mundo, se estende por diversos
países da América Latina, entre
eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando
uma área total de 210 mil km2.
Com a maior parte no território
nacional (cerca de 70%), o bioma está
presente nos estados do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul.
Considerado como um elo de
ligação entre as duas maiores bacias
da América do Sul (do Prata e da
Amazônia), a região pantaneira tem
a importante função de corredor
biogeográfico, permitindo assim a
dispersão e a troca de espécies de
fauna e flora entre os lugares. Por esse
e por outros motivos, grande parte
do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica
do Prata) é considerada Patrimônio
Natural da Humanidade pela Unesco,
além de estar presente na Constituição
Brasileira como Patrimônio Nacional.
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Mesmo não possuindo um
número muito grande de espécies
endêmicas (exclusivas), o bioma tem
qualidades de uma “ecorregião”, ou seja,
possui características específicas por englobar
diversos outros biomas, como o Cerrado (leste, norte
e sul), o Chaco (sudoeste), a Amazônia (norte), a Mata
Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste).
Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheias e secas,
faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito
grande de espécies.
Em relação ao clima, a região possui temperaturas
quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e
secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade
varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a
outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época
das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em
torno de 1.000 e 1.400 milímetros.
Pantanal Florestal
O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca
de 1.650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura
de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a
estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os
campos pantaneiros são predominantemente
cobertos por gramíneas e vegetações
típicas do cerrado.
Já nos pontos mais altos,
como picos e morros, há
o predomínio da flora
típica da caatinga, com
barrigudas, gravatás e
mandacarus, além da
ocorrência da vitóriarégia, planta típica
da Amazônia.
Nas
partes
alagadas,
as
v e g e t a ç õ e s
flutuantes,
como
aguapé e a salvinia, são
predominantes. Essas,
quando carregadas pelos
rios, formam ilhas verdes,
chamadas de camalotes.
Outra flora existente é a de
mata densa e sombria, normalmente
encontradas em volta das margens mais
elevadas dos rios.
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2
3
Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o
Carandá (Copernicia australis), planta da família das
arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma
silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio.
Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros
de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria
madeireira para construção de postes para linhas telefônicas
e elétricas.
Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do
Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto,
e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar
8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos
mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que
morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.
Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos.
Maior veado da América do Sul, o cervo-do-pantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em
cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em
grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não
sirva para comer, o cervo-do-pantanal é caçado por causa do couro e galhada.
4
Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. O nome
deriva-se de sua habilidade de colher, através do bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em
pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
Pantanal Animal
Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira
também é muito grande, sendo, inclusive, considerada
umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies
de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1.800),
1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de
peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do
bioma:
Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui
plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade,
dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos
vertebrados.
5
Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois e três metros de comprimento
e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas
transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos.
Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é a
temperatura corporal, que varia de 25 a 30 graus.
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Pantanal Social e Econômico
Roberto Tetsuo Okamura / Shutterstock.com
Com uma população aproximada de 1,1 milhão de
pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica
muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes,
como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como
Cuiabá (MT).
Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa
população, destaca-se a pesca, que tem ligação direta
com o turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo
de estimulo econômico é o maior gerador de renda dos
residentes da região, dividido em três categorias: a pesca
de subsistência, que é fonte de alimento das populações
ribeirinhas;
As queimadas são outro problema da região pantaneira.
Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes,
atingem a própria população, que fica contaminada pela
fumaça, lotando os postos de saúde com problemas
pulmonares, e também os pássaros, que acabam se
afastando, também por causa da fumaça.
Um terceiro problema é a exploração incessante de
algumas espécies de animais e de plantas nativas do
bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso, há
o comércio ilegal de madeira, que destrói e acaba com as
árvores do território.
Curiosidades
• A maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos.
A pesca profissional, cuja função é gerar renda
aos pescadores, principalmente, na venda
de espécies nobres, como pintado, dourado
e pacu; e a pesca esportiva, maior atrativo
turístico do Pantanal, que recebe, em média,
450 mil pescadores de fora por ano.
• O tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas.
Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final
do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva,
ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes
animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de
cabeças na área pantaneira) dependem do período de cheia
e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento
das partes baixas, os animais têm que ser levados aos locais
mais altos para se alimentar e procriar.
Outras atividades econômicas são a mineração e a
siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio
Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas têm uma
importante função no crescimento não só da economia
regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais
minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o
calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos
minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres.
• O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores.
Degradação do Pantanal
Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal
também sofre com problemas ambientais de degradação.
Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado
a uma grande fonte de renda da região e do País como
um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade
de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses
gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de
forma impressionante.
• Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do Pantanal.
• As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol
d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas.
• O Pantanal brasileiro possui 144.294 km2 de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram em Mato Grosso do Sul e 38,1%
em Mato Grosso.
• Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça,
Portugal e Holanda.
• A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que
vivem na região.
• O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são
instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas.
• O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai flua
bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal.
• A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira.
• Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes
do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
Receita Típica
p
do Pantanal: Furrundum
Ingredientes:
• 2 cidras médias (cerca de 1 kg)
• 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas ou 3
xícaras de açúcar mascavo
• 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado
• 1 coco grande ralado fino
Preparo:
1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso sem
atingir a polpa;
2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela com água
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O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça e a
venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam com
esses animais, o que influencia diretamente na cadeia
alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive
terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática.
Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente da
pecuária no planalto, fazendo com que diversos sedimentos
rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água. O
sexto problema está ligado às atividades mineradoras, que
acabam contaminando os lençóis freáticos.
fria, trocando a água várias vezes, por algumas horas ou até
eliminar o sabor amargo;
3. Escorra e esprema bem;
4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte a
rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo.
Acrescente o gengibre e leve ao fogo brando;
5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo
da panela começar a aparecer;
6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando,
mexendo sempre, por mais alguns minutos;
7. Tire do fogo e deixe esfriar;
8. Retire pequenas porções da massa e modele formando
bolinhas;
9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa.
Rendimento: cerca de 30 doces.
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
23
Artigo
O CENTRO
VIROU PERIFERIA
Uma viagem para o Pantanal,
paraíso ameaçado no coração
da América do Sul.
Ulrike Vogl
Correspondente especial
de Berlim – Alemanha
S
ou uma mulher da
cidade. Nasci em Viena,
centro cultural, político
e econômico da Áustria e que era, até uns 100 anos
atrás, a capital de um grande império, o da ÁustriaHungria. Não posso me imaginar morando numa cidade
provinciana ou no campo. Às vezes, porém, me apaixono
por uma região periférica que é carente em infraestrutura
e pouco habitada, mas dotada de uma beleza irresistível.
Já aconteceu no Alasca, na Patagônia chilena e nas ilhas
Lofoten na Noruega.
No Brasil, uma das regiões julgadas periféricas é o
Pantanal. O Pantanal faz parte de uma grande planície
com partes localizadas nos estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul, na parte ocidental da Bolívia e no Paraguai.
Em 1981, uma grande parte da região pantaneira foi
transformada em Parque Nacional.
Do ponto de vista geográfico, o Pantanal fica no centro
mesmo da América do Sul. Um lugar a alguns quilômetros
ao norte da região pantaneira foi identificado como centro
geodésico do continente sul-americano. Nesse lugar uma
placa informa que estamos num ponto equidistante entre
o Atlântico e o Pacífico. Esse “centro” porém, é pouco
habitado: a densidade demográfica de Mato Grosso é de
apenas 2,6 habitantes por km2 e a capital, Cuiabá com
482.500 habitantes, é uma das menores capitais estaduais
do Brasil. É uma cidade com pequeno centro colonial,
mas cercada de prédios modernos e altos, o que lhe dá
um pouco de ar de metrópole. De maneira geral, Cuiabá
não tem muito a oferecer aos turistas que normalmente só
passam pela cidade a caminho para o Pantanal.
24
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
A nossa viagem para o Pantanal Norte também começou
em Cuiabá. Lá encontramos o guia Pedro Paulo que iria nos
levar de carro para o interior do Parque Nacional. A intenção
era viajar pela Transpantaneira até a Pousada Rio Claro. A
Transpantaneira foi construída entre 1972 e 1977 durante a
ditadura militar. Na época existiam planos de construir uma
estrada que ligasse Poconé (perto de Cuiabá) a Corumbá
(um trecho de 397 quilômetros). Mandaram milhares
de soldados para realizar o projeto. Falta de dinheiro e
protestos de ecologistas fizeram com que o projeto nunca
fosse terminado. Resta uma estrada sem saída, sem asfalto,
de 149 quilômetros.
O Volkswagen do Pedro Paulo balançava bastante
na Transpantaneira que estava em estado ruim. Fora da
van, estendia-se um vasto terreno verde. Não havia lojas,
propagandas nem postos de gasolina. Entramos em terra
desconhecida. O nosso guia Pedro Paulo, no entanto, parecia
se sentir à vontade. Era óbvio que para ele não se tratava de
terra desconhecida: o Pantanal é o seu centro do mundo.
Segurando bem a direção, estava ao mesmo tempo olhando
para o campo e mostrando animais da seguinte forma:
jacaré Kaiman-caiman, capivaras Wasserschwein-capybara,
martim-pescador Eisvogel-kingfisher. Era como se tivesse
aprendido de cor o nome dos animais em três línguas.
O entusiasmo dele pegou. Descobrimos dois tuiuiús,
símbolos do Pantanal. A apenas alguns metros da
Transpantaneira vimos lontras na água, comendo peixe.
Perto delas, inúmeros jacarés meio escondidos no capim
alto. E sobretudo pássaros de todas as cores e tamanhos do
mundo. Lembramos de um trecho num guia turístico onde
o autor chama o Pantanal de “jardim zoológico gigante”.
Dizem que o Pantanal tem a fauna e a flora mais diversas da
América do Sul: foram identificadas mais de 260 espécies de
peixes, 656 espécies de pássaros e 50 espécies de répteis.
Depois de 42 quilômetros na Transpantaneira, viramos à
esquerda e seguimos numa pequena estrada que nos levou
à Pousada Rio Claro. De novembro até março só se pode
chegar lá de barco. O Pantanal é cercado de planaltos e, na
época das chuvas, quase toda a água dos planaltos se reúne
na planície do Pantanal e faz com que grandes partes de
terra sejam inundadas.
A Pousada estava lotada de turistas: da Holanda,
da Bélgica, da Inglaterra, da Alemanha e da Polônia;
mas nenhum do Brasil. Ao perguntarmos por que havia
poucos turistas brasileiros no Pantanal, disseram-nos que
“brasileiros preferem praia”. Acrescentaram que “se não
tivesse existido a novela Pantanal nos anos 90, ainda menos
brasileiros teriam visitado a região”.
Por um lado compreendo bem que os brasileiros em
geral prefiram passar as férias no litoral. Sendo de um país
sem acesso ao mar, sempre sonhava em visitá-lo quando
era criança. Até hoje tenho saudades do mar e gosto muito
de passear na orla. Por outro lado, sei por experiência
própria que férias no “interior” podem também ser muito
divertidas. Quando era pequena, sempre passava as férias
na Áustria que só tem “interior”, não tem litoral. Ia para
as montanhas com a minha família, nadava em lagos e
aproveitava bastante.
Essa situação me fez pensar que talvez exista uma
diferença profunda entre a Europa e os outros continentes
no que se refere à relação entre centro, periferia,
interior e litoral. Na Europa, regiões periféricas podem
ser situadas tanto longe quanto no litoral mesmo. E não
se liga automaticamente periferia (política, econômica
e cultural) com interior e litoral com a ideia de centro
(político, econômico e cultural) como é comum no Brasil.
Ao contrário, na história da Europa, países localizados no
centro do continente viram nisso um sinal de poder.
Essa metáfora que compara o centro geográfico a um
coração poderoso é menos corrente no caso do Brasil. Sem
Por exemplo, uma linha do hino nacional da
minha terra, a Áustria, diz: ‘fervorosamente
disputada, furiosamente desejada, está no
meio do continente, igual a um coração
poderoso’.
dúvida
isso tem a ver
com a história da colonização
e, em específico, com a direção da colonização. Os
colonizadores se aproximaram pelo mar e se instalaram no
litoral. Na historiografia brasileira, a colonização do interior
é descrita como empreitada dura e perigosa que perseguia
um objetivo principal: descobrir metais preciosos. Em
busca de ouro os bandeirantes descobriram e exploraram
o interior, fundando colônias no caminho. Ouro Preto é
o exemplo mais conhecido. Um outro exemplo é Cuiabá,
pois a cidade foi fundada em 1719, nas margens do Rio
Cuiabá, quando bandeirantes encontraram ouro na região.
Os bandeirantes são descritos como heróis que superaram
o clima desagradável e sobreviveram a doenças tropicais
e conflitos com a população indígena. Talvez seja essa
imagem do interior como um lugar desconhecido e hostil
que ainda impede a maioria dos brasileiros de escolher o
interior como destino de viagens de lazer.
Porém, é mais do que a imagem do bandeirante em
ambiente hostil que sobreviveu até hoje. A tradição da
exploração do interior também continua. Hoje em dia,
grandes partes do interior estão sendo exploradas por causa
das suas riquezas naturais. Fora do Parque Nacional do
Pantanal, a savana foi desmatada para dar lugar a criações
de gado e plantações de soja onde pesticidas contaminam
os rios da região.
Ao voltarmos para Cuiabá, perto de Poconé, descobrimos
o que pareciam ser colinas. Porém, o nosso guia explicou
que eram áreas degradadas para dar lugar ao garimpo. O
solo devastado nos fez lembrar que de fato, a mineração
de ouro ainda não terminou. Até hoje garimpeiros usam
mercúrio para extrair ouro da terra. O mercúrio contamina
o solo e a água o que representa uma ameaça à saúde dos
habitantes do Pantanal. O centro geográfico do continente,
longe de ser aceito como ‘coração’ do país, é um paraíso
em perigo.
Continuamos a nossa viagem em direção à costa baiana.
No final das contas, sou como os brasileiros: gosto de praia.
Passamos o resto das férias na Praia do Forte, sonhando
com a beleza do Pantanal e refletindo porque, no Brasil, o
centro virou periferia.
Professora e Pós-doutoranda
na Freie Universität (FU) em Berlim
Doutora em Filologia Holandesa
e Mestre em Linguística Aplicada
(Universidade de Viena, Áustria)
E-mail: [email protected]
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
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Cultura
Exposição "Pantanal: natureza, conservação e cultura”, uma parceria do WWF-Brasil com Adriano Gambarini
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NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
27
AÇÃO PRETENDE
PROTEGER AVES
MIGRATÓRIAS
DO PANTANAL
A
s aves
migratórias
necessitam
extremamente das planícies
alagadas do Pantanal e de
seu ciclo de cheias e secas, tanto
para local de descanso como para
reprodução, porque a região oferece alimento
em abundância. No entanto, segundo pesquisa
realizada pelo ornitólogo Alessandro Pacheco Nunes,
cerca de 25% das espécies de aves que ocorrem no Pantanal
estão ameaçadas de extinção em outras regiões do Brasil,
sendo que 70% delas estão seriamente em perigo em
São Paulo. Um exemplo dessa situação é o tuiuiú (Jabiru
mycteria), ave símbolo do Pantanal que ainda possui
populações viáveis na região, embora já tenha ocorrência
reduzida em outras partes do país. Com o objetivo de
ampliar o conhecimento sobre essa realidade e sensibilizar
a população sobre a importância dessas aves, a Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza realizou, com o
apoio de Nunes, uma exposição interativa sobre o assunto.
Os visitantes poderão participar de uma exposição
temática e conhecer mais sobre o príncipe
(Pyrocephalus rubinus), o colhereiro
(Platalea ajaja), a águia-pescadora
(Pandion haliaetus), a marreca-caneleira
(Dendrocygna bicolor) e o talha-mar
(Rynchops niger), além do tuiuiú.
Conhecer para conservar
A exposição sobre as aves migratórias conta com cubos
interativos, que se acendem com o toque do visitante,
iluminando uma imagem da ave
retratada, além
de emitir seu canto.
Cada
um
dos cubos apresenta
informações
como
características
físicas,
biologia,
área de ocorrência, hábitos e curiosidades de cada
espécie.
Além disso, foi projetado um grande mapa com as rotas
das espécies por toda a América. Ao clicar em botões, é
possível visualizar as regiões e a época do ano que a ave
28
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
Região recebe espécies de várias
partes do mundo para reprodução
e descanso após longas distâncias
percorridas em rotas migratórias.
escolhida
se reproduz,
nidifica e descansa.
Algumas aves chegam a
viajar oito mil quilômetros em oito
dias. “Pretendemos que as pessoas compreendam
melhor a importância do Pantanal num contexto mais
amplo de conservação das aves migratórias. Muitas vezes,
a população local e até mesmo os visitantes frequentes se
acostumam a vê-las, mas desconhecem o caminho que
tiveram que percorrer para chegar ao Pantanal ou mesmo
a importância que têm no equilíbrio ecológico”, explica
o administrador da Estação Natureza Pantanal, Gustavo
Malheiros.
Segundo ele, é preciso conscientizar a população e
o poder público sobre a importância de proteger essas
espécies. “Ações de educação ambiental para a comunidade
se aproximar da natureza são ótimas ferramentas. O
conhecimento sobre a realidade de conservação do Pantanal
e das espécies que nele ocorrem pode contribuir para a
população cobrar melhores políticas públicas relacionadas
ao bioma, como a criação de mais unidades de conservação
ou maior incentivo a pesquisas”, ressalta Malheiros.
Importância das aves
migratórias
Para o pesquisador Alessandro Nunes, doutorando
pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS),
é importante conservar essas espécies. “As aves migratórias
fazem uma troca muito grande de nutrientes entre
Da Redação
os hemisférios norte e sul. Além disso, relacionam-se com
diversas espécies, alimentando-se de algumas e servindo
de alimento para outras, participando intensamente do
equilíbrio da biodiversidade”, comenta. De acordo com
ele, as aves também atuam como reguladores de insetos
e invertebrados. “Se mexermos com esse equilíbrio, não
saberemos a consequência que isso pode gerar, por isso é
tão importante as pessoas saiberem da importância desses
animais para ajudar em sua conservação”, conclui.
Exposição Permanente
Além da exposição especial sobre as aves migratórias, a Estação Natureza Pantanal oferece uma mostra permanente
sobre a natureza pantaneira. Localizada em Corumbá (MS) – a 400 quilômetros da capital Campo Grande – ocupa um prédio
histórico datado de 1908, às margens do emblemático Rio Paraguai. O espaço representa uma verdadeira imersão no bioma
pantaneiro, reunindo mais de duas dezenas de elementos interativos com explicações e fotos de espécies-bandeiras do bioma
- como a onça-pintada, o tuiuiú e o jacaré-do-pantanal – e de seus habitats. Também é possível ouvir registros de canto e
vocalização de aves típicas do Pantanal, além de conferir uma maquete explicativa do ciclo das águas pantaneiras, entre
outras atrações. A iniciativa foi implantada em 2006 pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
Serviço
Endereço: Ladeira José Bonifácio, 111 – Porto Geral – Corumbá (MS).
Telefone: (67) 3231-9100
Horário de funcionamento: De terça a sexta-feira, das 9h às 12h e das 14h às 18h. Sábados, das 14h às 18h.
Ingressos: Inteiro: R$ 3,00 Estudantes: R$ 1,50 Moradores de Corumbá e Ladário: R$ 1,00
Isentos: Maiores de 60 e menores de seis anos / grupos de instituições públicas agendados com antecedência.
Email: [email protected] - Site: www.fundacaogrupoboticario.org.br
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
29
Tecnologia
ARCA DE NOÉ
NACIONAL
Da Redação
M
ilhares de espécies animais e vegetais estão
ameaçadas de extinção em todo o planeta. Mas
se depender de cientistas da Empresa Brasileira
de Agropecuária (Embrapa), essas nunca vão desaparecer.
Os pesquisadores criaram um enorme arquivo genético a
serviço da humanidade, na sede da Embrapa, em Brasília.
A arquitetura não é mera coincidência. A Embrapa quis
dar a forma de uma grande arca ao maior banco genético
da América Latina: um prédio com tecnologia de última
geração para guardar sementes, mudas de plantas, sêmens
e embriões e também micro-organismos, como fungos,
bactérias e até vírus.
Ao todo são 750 mil diferentes espécies que estão hoje
espalhadas em laboratórios da Embrapa em todo o Brasil e
até no exterior.
30
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
As instalações compõem a infraestrutura e têm
capacidade para abrigar até 750 mil amostras de sementes,
dez mil vegetais in vitro, além das coleções mantidas a
180ºC negativos por meio de nitrogênio líquido, método
conhecido como criopreservação, que manterá mais de 200
mil amostras vegetais, animais ou de micro-organismos.
Ao todo, o prédio terá capacidade para abrigar mais
de um milhão de amostras nos diferentes métodos de
armazenamento. A obra envolveu investimentos da ordem
de R$ 13 milhões oriundos de emendas parlamentares e da
própria Embrapa.
"Os recursos genéticos são a base da pesquisa e o pilar
central da agronomia brasileira," explica o presidente da
Embrapa, Mauricio Lopes, ressaltando que a capacidade do
novo Banco Genético da Embrapa colocará o Brasil entre
os três maiores repositórios mundiais do gênero. Para ele,
as grandes conquistas da pesquisa agropecuária nacional se
deram graças ao domínio da genética. "Adaptamos bovinos
da Índia, soja da China e gramíneas da África às condições
brasileiras porque soubemos trabalhar com a diversidade
genética, daí a importância de um empreendimento como
este", afirma.
Após a inauguração, foi realizado um passeio pelo novo
espaço que engloba quatro câmaras frias para conservação
em longo prazo, sala de recepção de sementes, câmaras
de espera e secagem, laboratório de fitopatologia, salas de
coleção de base in vitro, e salas de tanques de criogenia
para armazenamento de germoplasma vegetal, animal e de
microrganismos. Além de expandir as categorias de materiais
a ser guardados, o novo prédio já conta com infraestrutura
laboratorial, facilitando a logística de várias pesquisas.
O prédio ainda possui um showroom com exposição
permanente de tecnologias da Embrapa e da história da
conservação da empresa. Na laje, foi instalada uma fábrica
de nitrogênio líquido, elemento fundamental para
a conservação de amostras a temperaturas
ultrabaixas.
“
O Brasil ingressa no grupo dos grandes
países que preservam o patrimônio
genético da humanidade
“
Embrapa inaugura terceiro maior banco genético do mundo. Um prédio
com tecnologia de última geração para guardar sementes, mudas de
plantas, sêmens e embriões e também micro-organismos, como fungos,
bactérias e até vírus.
comemora o chefe geral da Embrapa Recursos
Genéticos e Biotecnologia, Mauro Carneiro, para quem
o banco recém-inaugurado impulsionará pesquisas e será
um importante repositório de segurança para materiais
de interesse agropecuário. O Banco Genético de Brasília
receberá cópias de todos os bancos da Embrapa instalados
em suas unidades de pesquisa distribuídas pelo
Brasil, funcionando como um backup
dessas coleções. "Não é
possível
pensar
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
31
Tecnologia
num país que seja grande produtor de alimentos sem possuir uma forte coleção de base", acredita o chefe geral.
As novas instalações irão disponibilizar amostras para a realização de pesquisas voltadas a diferentes aplicações
como o desenvolvimento de novas tecnologias e produtos, o estudo de micro-organismos que podem controlar
pragas e doenças das lavouras e ainda devolver ao campo espécies que foram perdidas ao longo do tempo.
Gerenciamento de dados genéticos
Os depósitos de materiais de toda a coleção genética da Embrapa serão gerenciados por um sistema de
informação desenvolvido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, em parceria com a Embrapa Informática
Agropecuária (Campinas, SP). Batizado de "Alelo ", o sistema indica a localização de armazenamento de cada
amostra e apresenta seus dados de caracterização como, por exemplo, indicação do local e data de coleta,
quantidade armazenada etc.
De acordo com Carneiro, o sistema Alelo terá diferentes níveis de acesso a depender do usuário que acessálo. "Um cidadão que quiser conhecer a coleção genética terá um nível de acesso mais genérico, enquanto um
pesquisador que trabalha com o Banco contará com informações aprofundadas", explica o gestor.
32
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
Embrapa Sede - Parque Estação Biológica - PqEB - Brasília, DF - Brasil
33
Economia
MODELO DE
PECUÁRIA
SUSTENTÁVEL
Tripé sustentável
O conceito de pecuária verde está baseado em três ações estratégicas coordenadas
por pesquisadores que são referência nas suas áreas específicas de estudo:
• Adequação ambiental das propriedades rurais
Averbação das áreas de Reserva Legal, Área de Preservação Permanente (APP),
bem como a regularização dos passivos ambientais (déficits de Reserva Legal e
recuperação de APPs degradadas).
Projeto Pecuária Verde combina
pecuária moderna e proteção
de áreas da Floresta Amazônica.
Por Eleni Lopes
P
aragominas é um dos principais polos da pecuária na
Amazônia. Situado no nordeste do Pará, o município
tem fazendas e rebanhos imensos e, durante muito
tempo, esteve entre os campeões do desmatamento no
Brasil.
Nos anos 60 e 70, a região atraiu pecuaristas e
madeireiros em busca de terra barata e crédito público.
Desta forma, muitas fazendas desmataram de maneira
descontrolada. Em 2008, esse avanço desequilibrado foi
barrado na força: Paragominas entrou para a lista dos
municípios que mais destroem a Floresta Amazônica, a
chamada lista negra do desmatamento do Ministério do
Meio Ambiente. A fiscalização apertou, serrarias foram
fechadas e fazendas de gado multadas.
Para sair da crise, os criadores assinaram um pacto
com o Ministério Público para reduzir derrubadas e fazer
o cadastramento ambiental das propriedades. Com apoio
da Prefeitura e entidades não governamentais, as medidas
foram adotadas e, em 2010, Paragominas foi o primeiro
34
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
município a ser retirado da lista negra do desmatamento.
O desafio então era encontrar uma nova maneira para a
atividade agropecuária na região.
Foi neste contexto que nasceu em 2011, o projeto
Pecuária Verde, iniciativa do Sindicato de Produtores Rurais
de Paragominas, que três anos depois se transformou em
modelo para a pecuária na Amazônia. Com patrocínio do
Fundo Vale e da Dow AgroSciences, conta com o apoio
técnico de organizações não governamentais, Instituto
do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e
da The Nature Conservancy (TNC), além da consultoria de
pesquisadores da Esalq/USP e da Unesp.
O projeto visa o desenvolvimento de práticas mais
sustentáveis na pecuária bovina, baseado em soluções
tecnológicas e no fortalecimento da agropecuária para
aumento da eficiência produtiva. A ideia é aumentar a
capacidade do setor para atender tanto as exigências do
mercado quanto a maximização dos benefícios sociais,
ambientais e econômicos da atividade.
• Manejo de pastagem
Modelo de manejo e melhoria da produtividade de pastagens desenvolvido sob
a liderança do consultor Moacyr Corsi, professor da Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq).
• Bem-estar animal e da propriedade
Liderado pelo consultor Matheus Paranhos, professor do Departamento de
Zootecnia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, da UNESP/Jaboticabal.
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2201
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35
Economia
As seis propriedades selecionadas para
participar do projeto Pecuária Verde foram
aquelas que apresentaram melhores notas e
maiores avanços na adoção de boas práticas
agrícolas, além de critérios técnicos e acadêmicos
que permitissem ao modelo ser testado
adequadamente. Outro critério essencial para a
escolha das propriedades foi a não existência de
passivos sociais ou trabalhistas.
O uso de ferramentas para o desenvolvimento
de um modelo de pecuária menos extensiva e
mais eficiente que considere a mitigação dos
seus impactos através da adequação ambiental
ajuda a liberar áreas para outras atividades
e, principalmente, evita a expansão extensiva
baseada no desmatamento ou na conversão de
áreas de floresta nativa.
Além da disseminação de práticas sustentáveis
de criação bovina, a capacitação dos empregados
e a disciplina no trabalho foram importantes
para o aumento dos índices de produtividade
e lucratividade e da redução dos custos das
fazendas. Em três anos, a produção aumentou
de sete para 36 arrobas. Outro fator importante
foi a adequação ambiental e produtiva por meio
da recuperação das áreas de reserva legal, onde
jatobás, ipês, cedro e andiroba foram plantados
com cacau e cupuaçu em sistema agroflorestal.
36
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Três anos
depois, o projeto
Pecuária Verde
comprovou
sua eficácia e
aplicabilidade.
O desafio, agora,
é divulgar esse
modelo para
outras fazendas
e regiões da
Amazônia.
Neo Mondo - Julho 2008
11
37
Meio ambiente
DESMATAMENTO
NA AMAZÔNIA VOLTA
A AUMENTAR
De acordo com a ONG Imazon, a dimensão da
área devastada põe em dúvida a eficácia das atuais
políticas de prevenção e controle ao desmatamento.
Da Redação
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O
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na
Amazônia
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aumentou 467% em outubro de 2014 em
relação a outubro do ano passado, de acordo
com a ONG Instituto Imazon. A área desmatada equivale
a mais de 24.000 campos de futebol.
Segundo o Sistema de Alerta do Desmatamento
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(SAD), da Imazon, o desmatamento nos
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em dúvida a eficácia das atuais políticas de prevenção e
38
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
controle ao desmatamento. O Brasil conseguiu
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o desmatamento, que alcançou 27.000 km
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para 4.571 km2 no período
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período
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2012/2013, atingiu 5.981 km2 (+29%).
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Para enfrentar o desmatamento
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Conheça, abaixo, mais detalhes
alh s sobre os
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dados
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parciais do período 2013-2014
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o SAD
A
em comparação às informações,
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pare
e
contraditórias divulgadas pelo Projeto de Monitoramento
contraditórias,
nit
do Desmatamento na Amazônia Legal (Prodes):
1) Os últimos dados divulgados pelo Sistema de
Alerta do Desmatamento (SAD) do Imazon se referem
à nova estação de desmatamento – compreendendo
ompreendendo
o período de agosto a outubro de 2014. Logo não é
possível comparar diretamente os dados do Projeto de
Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal
(Prodes) relatados recentemente, pois são de períodos
diferentes.
2) Os dados preliminares da taxa de desmatamento
da Amazônia, divulgados pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) por meio do Prodes, se referem
ao período de agosto de
e 2013 a julho de 2014, o que
apontou uma redução
reduçã do desmatamento em relação ao
período anterior.
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NEO MONDO - Novembro/Dezembro
bro 2014
39
40
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
41
NEO MONDO INFORMA
Por Eleni Lopes
Mais de 700 milhões de pessoas
não têm acesso à água potável
U
Emissões de carbono no Brasil
atingem o maior valor desde 2008
E
missões brasileiras de carbono
atingiram 1,57 bilhão de
toneladas
em
2013,
um
aumento de 7,8% em relação ao
ano de 2012. Trata-se do maior
valor desde 2008, de acordo com o
Sistema de Estimativa de Emissões de
Gases de Efeito Estuda (SEEG 2.0),
do Observatório do Clima.
Este incremento observado em
2013 representa uma reversão de
tendência registrada desde 2005,
quando as emissões vinham caindo
ano a ano devido a sucessivas quedas
nas taxas anuais de desmatamento.
Em 2012, atingiram o seu menor
valor, com 1,45 milhão de toneladas
de CO2.
42
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
Segundo o estudo, todos os
setores apresentaram aumento de
emissão em 2013, com destaque
para as Mudanças de Uso da Terra
(16,4%), puxado pelo aumento
do desmatamento na Amazônia
e Cerrado, e Energia (7,8%),
influenciado pelo aumento do uso
de energia termoelétrica de fontes
fósseis e do consumo de gasolina e
diesel para transporte.
O aumento das emissões por
queima de combustíveis fósseis
tende a se intensificar como
reflexo do maciço investimento em
energias fósseis, redução e poucos
investimentos em novos combustíveis
renováveis e na própria participação
de energias renováveis na matriz
energética brasileira, que caiu de
48% para 41% nos últimos 5 anos.
O Sistema de Estimativa de
Emissões de Gases de Efeito Estufa
(SEEG) foi lançado em 2013, por
iniciativa do Observatório do Clima,
como uma ferramenta desenvolvida
para calcular anualmente as emissões
brasileiras e identificar sua origem.
O trabalho técnico é desenvolvido
pelo IEMA, IMAFLORA, IMAZON
e ICLEI. O sistema conta com o
apoio da Fundação Avina, da Latin
America Regional Climate Initiative,
da Fundação OAK, da Climate and
Land Use Alliance e da parceria
com o GVCEs. O estudo pode ser
consultado na íntegra pelo endereço
www.seeg.eco.br.
m total de 748 milhões de pessoas não tem
acesso à água potável de forma sustentada em
todo o mundo e calcula-se que outros 1,8 bilhão
usem uma fonte contaminada com fezes, segundo
relatório divulgado pela Organização Mundial da
Saúde (OMS).
O estudo mostra que 2,5 bilhões de pessoas não
têm acesso a saneamento adequado e que 1 bilhão
defecam ao ar livre, nove em cada dez, em áreas
rurais. Os dados constituem as principais conclusões
do relatório Glass 2014, estudo feito a cada dois
anos pela OMS. O texto destaca que o acesso à água
potável e ao saneamento adequado tem implicações
num amplo leque de aspectos, desde a redução da
mortalidade infantil, passando pela saúde materna, o
combate às doenças infecciosas, a redução de custos
sanitários e no meio ambiente.
No entanto, apesar de alarmante, este cenário
mundial já comemora avanços. O estudo mostra
que, nas duas últimas décadas, 2,3 bilhões de
pessoas conseguiram ter acesso às fontes de águas
melhoradas. No mesmo período, o número de
mortes de crianças devido às doenças diarreicas –
relacionadas com o saneamento precário – caiu de
1,5 milhão em 1990 para 600 mil em 2012.
Segundo dados da OMS, se o acesso à água
potável melhorasse e se fossem implementados
serviços de saneamento adequado, as mortes por
diarreia poderiam ser reduzidas em cerca de 70%.
O estudo calcula que a cada dólar investido em
serviços de água e saneamento pode-se obter um
retorno de 4,3 dólares, com a redução dos custos de
saúde, o aumento da produtividade no trabalho e a
criação de novos empregos em indústrias relacionadas
com a gestão de resíduos.
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
43
NEO MONDO INFORMA
Por Eleni Lopes
Bagaço de cana pode ser usada como
matéria prima para transporte de frutas
P
Invista na microgeração de energia
O
uso de fontes renováveis já é uma realidade
do sistema elétrico do Brasil, porém, muitos
brasileiros ainda desconhecem as vantagens
da mini e microgeração de eletricidade através da
energia eólica ou solar.
Devido ao grande potencial brasileiro de produzir
energia limpa, o valor investido em painéis solares
e geradores eólicos retorna em até oito anos.
O investimento está associado basicamente à
disponibilidade do recurso natural, ao tipo de solução
(solar, eólica ou mista), e ao custo do financiamento
do equipamento, que dura de 20 a 25 anos.
Atualmente o cliente residencial ou comercial
de energia de baixa tensão paga à concessionária
R$ 0,52 o KWh, em média. E com uma solução
eólica ou solar, o KWh pode chegar a R$ 0,19.
A expectativa do setor elétrico no País é que,
com o aprimoramento da Resolução Normativa nº
482/2012, que trata das regras destinadas para
a instalação de geração distribuída, aconteça um
aumento da geração própria no País. Uma das
vantagens para o consumidor é que além de produzir
energia elétrica, possa obter descontos em sua conta
de energia ou até zerá-la, por meio da compensação
da produção excedente.
Fundo Verde da ONU para o Clima
arrecada US$ 9,3 bilhões
R
eunidos em Berlim, na Alemanha, trinta e
dois países, se comprometeram a repassar
US$ 9,3 bilhões para o Fundo Verde para o
Clima (FVC) das Nações Unidas, criado para ajudar
os países em desenvolvimento a lutar contra as
mudanças climáticas. Desta forma, a entidade tem
um orçamento assegurado para os próximos quatro
anos. A maioria dos contribuintes são países ricos
como Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Japão.
O Fundo Verde, com sede na Coreia do Sul,
foi criado oficialmente em 2010 pelos acordos de
Cancún para ajudar os países em desenvolvimento
44
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
$
a lutar contra o aquecimento global. Tem como
objetivo ajudar os países mais vulneráveis às
mudanças climáticas a realizar projetos específicos
como, por exemplo, reduzir as emissões de gases do
efeito estufa, conter o desmatamento e se proteger
contra o aumento dos níveis do mar.
O principal objetivo é limitar a 2°C o aumento
da temperatura global, pois para além deste nível
poderia causar desequilíbrios climáticos severos. O
FVC receberá fundos públicos e privados, doações
e empréstimos. Faz parte da meta da ONU obter
US$ 100 bilhões para ações contra as mudanças
climáticas até 2020.
esquisadores do Núcleo de Apoio à Pesquisa
em Materiais para Biossistemas da Faculdade de
Zooctenia e Engenharia de Alimentos da USP,
em Pirassununga (SP), desenvolveram embalagens
biodegradáveis e autodesmontáveis para transporte
de frutas, hortaliças e bebidas, a partir de painéis
produzidos com resíduos de bagaço de cana-deaçúcar e resina poliuretana à base de óleo de mamona.
Além de ocuparem menos espaço e de serem uma
alternativa às caixas de madeira, as embalagens
biodegradáveis representam mais uma opção para
reaproveitar os resíduos da indústria sucroalcooleira.
O projeto “Embalagens biodegradáveis para
transporte de alimentos produzidas com painéis de
partículas de bagaço de cana-de-açúcar” obteve
o 2º lugar na Olimpíada USP do Conhecimento em
2013. “Apesar de produzidas em escala laboratorial,
as embalagens apresentam potencial para terem um
custo inferior aos materiais utilizados atualmente”,
destaca um dos coordenadores do trabalho, o
professor Juliano Fiorelli.
Fiorelli conta que a ideia era desenvolver uma
embalagem biodegradável oriunda de resíduo
agroindustrial resistente ao sol e a água. Após a
secagem em estufa, o bagaço de cana foi moído
para obtenção de partículas de até 8 milímetros. Em
seguida, misturado à resina poliuretana à base de
óleo de mamona. A mistura foi colocada em molde e
posteriormente em uma prensa termo-hidráulica para
dar forma e estrutura de painel. Foram realizados
vários ensaios físicos e mecânicos para determinar
densidade, inchamento em espessura, a absorção de
água e resistência à flexão.
A partir desses painéis foram fabricados 3 modelos
de embalagens: transporte de bebidas, e de
frutas médias (laranja, pera e maçã) e embalagem
autodesmontável para transporte de frutas pequenas
(morangos e uvas).
Pesquisa estuda o uso de membranas
para tratamento de água e efluentes
U
ma pesquisa em parceria com a Université
Laval, do Canadá, e a Universidade Feevale
investiga uma tecnologia para tratamento de
efluentes. O estudo consiste em utilizar uma das
técnicas de separação por membrana – a eletrodiálise
– que emprega membranas íons-seletivas. A técnica
proporciona uma alta qualidade ao efluente tratado,
o que possibilita a reutilização deste pela indústria e,
ainda, a recuperação de íons metálicos.
De acordo com o professor Fabrício Celso,
colaborador no projeto, a ideia principal é desenvolver
membranas que possam ser produzidas no Brasil a
custo competitivo com as atuais, que são importadas.
“A sustentabilidade decorre da aplicação da técnica
de eletrodiálise, principalmente nos tratamentos de
água potável, de efluentes industriais, de esgoto
municipal, entre outras aplicações da técnica”,
explica.
Ainda conforme o professor Celso, a principal
diferença da técnica de eletrodiálise para outros
métodos de tratamento de água e efluentes
industriais e municipais está relacionada à maior
eficiência na remoção de poluentes persistentes
de pequeno tamanho como, por exemplo, os
metais pesados. No Brasil, a Petrobras é pioneira
no emprego dessa técnica, globalmente conhecida
e difundida, com aplicação em diversos mercados,
desde tratamento de água, efluentes industriais e
esgoto municipal, até a separação e concentração
de insumos de alto valor agregado na indústria
alimentícia, farmacêutica e de suplementos
esportivos, entre outros.
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
45
NEO MONDO INFORMA
Por Eleni Lopes
Fecha o cerco ao desmatamento ilegal
para grilagem de terras no Pará
Crise econômica ainda afeta
a inovação em escala global
A
mais recente crise econômica global afetou
severamente os investimentos em pesquisa,
desenvolvimento e inovação nos países
industrializados e seus impactos ainda não foram
completamente absorvidos. No período posterior
ao início da crise – de 2008 a 2013 –, a taxa de
investimento em pesquisa, desenvolvimento e
inovação (PD&I) nos países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) foi de
1,6%, correspondendo à metade da registrada entre
2001 e 2008, antes do início da recessão econômica
mundial.
A conclusão é do relatório OECD Science,
Technology and Industrial Outlook 2014, que analisou
tendências em políticas científica e tecnológica e
desempenho no setor em mais de 45 países, incluindo
os da OCDE e economias emergentes.
“A recuperação dos investimentos em pesquisa,
desenvolvimento e inovação dos países industrializados
tem sido modesta e ainda não retornou aos patamares
observados antes do início da crise”, explica Sandrine
Kergroach, analista de política da diretoria de ciência,
tecnologia e indústria da OCDE. De acordo com ela,
a crise econômica global fez com que o orçamento
público para PD&I de muitos países estagnasse ou
diminuísse a partir de 2008.
A participação dos países da OCDE em
investimentos globais em PD&I caiu de 90% para
70% em uma década, quando as economias mais
avançadas cortaram orçamentos no setor. Por outro
lado, os investimentos da China dobraram entre
2008 e 2012 e o país pode se tornar até 2019 um dos
que mais investem no setor no mundo, superando a
União Europeia e os Estados Unidos, de acordo com
o relatório.
O relatório também mostra que, em 2012, a
despesa em PD&I dos BRIICS, grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do
46
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
O
Sul, foi de US$ 330 bilhões, contra US$ 1,1 trilhão
dos países da OCDE. O bloco de países emergentes
produziu cerca de 12% das publicações científicas
de alto impacto no mundo em 2013, ante 28% dos
Estados Unidos.
Em relação ao Brasil, o documento destaca que o
país resistiu bem à crise econômica mundial e registra
um crescimento em trajetória ascendente. O total de
gastos em ciência, tecnologia e inovação em relação
ao PIB registrado pelo País em 2008 – de 1,08% –
está abaixo da média dos países da OCDE, mas acima
de outras grandes economias da América Latina,
como Argentina, Chile e México.
A síntese do relatório OECD Science, Technology
and Industrial Outlook 2014 pode ser lida no site
http://www.oecd.org/sti/sti-outlook-2014-highlights.pdf.
governo do Pará passou a divulgar na
internet uma lista atualizada das áreas
desmatadas ilegalmente no estado. A Lista do
Desmatamento Ilegal – LDI começa com cerca de 200
áreas irregulares identificadas por imagens de satélite
e já embargadas. Têm, em média, 300 hectares, e
pelo tamanho, provavelmente foram desmatadas
para a prática de grilagem.
Os empreendimentos, propriedades ou posses
rurais que estiverem na lista ficam embargadas.
Perdem o direito a financiamento bancário, concessão
de licenças, autorizações, serviços ou qualquer outro
tipo de benefício ou incentivo público por parte
de órgãos ou entidades da administração pública
estadual enquanto permanecerem nela.
A inclusão na lista dos desmatadores segue
critérios elaborados ao longo de um ano de trabalho
pelo Comitê Técnico da LDI. Entre eles, está o
tamanho mínimo das áreas a serem embargadas, o
intervalo de tempo na análise dos dados de satélite
e outras características da localidade do imóvel rural.
O grupo técnico é formado por especialistas
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE,
Ministério Público, Ibama, Imazon, Secretaria de Meio
Ambiente do Pará e Programa Municípios Verdes.
O alvo principal da lista são os grandes
desmatadores, que agem com a finalidade de grilar
terras públicas no território paraense. Nos últimos
meses, os dados de satélite apontaram o aumento
do desmatamento na região sudoeste do estado,
sobretudo em terras públicas devolutas, que são áreas
ainda não destinadas pelo poder público estadual ou
federal. O desmatamento nessas áreas ocorre com
propósito especulativo e fundiário. O infrator avança
sobre a floresta pública, desmata e implanta alguma
atividade produtiva – geralmente a pecuária – para
tentar justificar a ocupação da área.
O esquema é sofisticado e envolve investimentos
como a contratação de trabalhadores, movimentação
de máquinas, equipamentos e construção de estradas
no intuito de remover a floresta e se apoderar da
área. A operação acontece no período chuvoso para
escapar à fiscalização, devido à incidência de nuvens
que dificultam a detecção do desmatamento por
satélite.
Quando o alerta de desmatamento chega aos
órgãos de fiscalização, no período de seca, o dano
já foi causado e o fiscal dificilmente encontra o
responsável no local. Mesmo quando consegue se
antecipar, em função de denúncia ou patrulhamento
aéreo, poucas vezes chega ao autor do dano, que
se esconde atrás dos empreiteiros contratados para
fazer o desmatamento, conhecidos popularmente
como “gatos”.
Depois de um tempo, o real interessado,
mandante do desmatamento, tenta legalizar sua
atividade e legitimar a ocupação. Para isso, abre um
cadastro sanitário e passa a ter acesso à Guia de
Transporte Animal – GTA. Busca ainda a inscrição
junto à Secretaria de Fazenda para a emissão de
Notas Fiscais que acobertem sua produção.
Em seguida, faz a declaração e o pagamento de
Imposto Territorial Rural – ITR e ingressa com o pedido
de regularização no órgão fundiário, seja estadual
ou federal. Com isso, tenta obter o domínio sobre
a área e a titulação do imóvel rural, transformando
o apossamento criminoso da área pública em uma
propriedade privada.
Com o novo sistema, o governo quer tornar a
regularidade ambiental uma exigência ou condição
para a prestação de serviços públicos ou concessão de
benefícios ou incentivos da parte do Estado, suprindo
a falta de conexão entre a política ambiental e outras
áreas da Administração Pública.
Para o procurador da República, Daniel Cesar
Azeredo Avelino, do Ministério Público Federal,
a estratégia do governo do Pará deverá impactar
no preço das terras. “Sem perspectiva de serem
regularizadas, as áreas griladas não serão atrativas
para o mercado”, diz ele
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
47
NEO MONDO INFORMA
Por Eleni Lopes
Holanda testa ciclovia
capaz de gerar energia
Nova espécie de ave é descoberta
no Brasil, mas corre risco de extinção
U
ma nova espécie de ave da ordem Passeriformes –
que engloba os animais conhecidos popularmente
como pássaros ou passarinhos – foi descoberta
numa estreita faixa de Mata Atlântica junto ao litoral
da Bahia. O Scytalopus gonzagai recebeu o nome
popular de macuquinho-preto-baiano. A descoberta
foi reconhecida oficialmente em agosto deste ano,
pela revista The Auk, periódico científico da American
Ornithologists’ Union (União dos Ornitólogos
Americanos), voltada para estudos e pesquisas de aves.
O passarinho, de 12 centímetros e cerca de 15
gramas, passou muito tempo na natureza, despercebido
pelos pesquisadores e ornitólogos. Apesar de a descrição
acontecer em 2014, o estudo que levou à descoberta
da nova espécie começou há mais de 20 anos, quando
uma expedição com pesquisadores da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou a primeira
coleta de exemplares e gravações das vozes da espécie.
No entanto, estudos sistemáticos e exaustivos dirigidos
para investigar e descrever a nova espécie começaram
somente em 2004, culminando com uma grande
expedição em 2006, com apoio da Fundação Grupo
Boticário de Proteção à Natureza.
O primeiro exemplar da espécie foi encontrado em
1993. Inicialmente os pesquisadores acreditavam que o
pássaro era um macuquinho-preto comum (espécie do
48
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
sul e sudeste do Brasil), pela grande semelhante. "Ao
longo do estudo, porém, percebemos que se tratava de
uma nova ave do gênero Scytalopus”, explica Giovanni
Nachtigall Maurício, professor do curso de Gestão
Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (RS) e
primeiro autor do artigo de descrição da espécie. Os
outros autores são Ricardo Belmonte-Lopes e Marcos
Ricardo Bornschein (ambos da UFPR), José Fernando
Pacheco (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos),
Bret Whitney (Louisiana State University, Estados Unidos)
e Luís Fábio Silveira (USP).
O Scytalopus gonzagai apresenta ritmo de canto
mais forte e diferentes vocalizações – como se fossem
vários tons da fala humana – diferenciando-se das
outras aves do mesmo gênero. De acordo com Marcos
Ricardo Bornschein, do setor de Ciências Biológicas da
UFPR e do Instituto de Pesquisas Ambientais de Curitiba
(PR), a nova espécie é encontrada exclusivamente num
trecho de montanhas do litoral baiano, numa área de
florestas de 5.865 hectares, no bioma Mata Atlântica. A
estimativa dos pesquisadores é de que vivem ali pouco
menos de três mil indivíduos – número considerado
baixo para aves. O macuquinho-preto-baiano já é
considerado em perigo de extinção.
A
Holanda anunciou recentemente um teste para
a criação de uma ciclovia capaz de gerar energia
limpa. O projeto, denominado SolaRoad, consiste
em um novo bloco inteligente que substitui o asfalto
e produz energia a partir da captação de raios solares.
O protótipo, dotado de 70 metros de extensão, foi
instalado na cidade de Krommenie, a 25 km da capital
Amsterdam, e pode produzir energia suficiente para
abastecer as casas de três famílias durante um ano.
Funciona assim: o SolaRoad é um módulo especial
de concreto coberto por uma camada de vidro resistente
e células fotovoltaicas, que captam a energia do sol e a
convertem em eletricidade. No entanto, os módulos no
chão são até 30% menos eficientes que as placas solares
instaladas nos telhados, devido à inclinação. A iniciativa
é da TNO, uma organização holandesa independente
que promove a inovação. A ideia é aumentar a extensão
para 300 metros até 2016. O projeto tem um custo
estimado de 3 milhões de euros.
Greenpeace denuncia exportação ilegal
de madeira da Amazônia para Europa
O
Greenpeace denunciou que árvores da
Amazônia brasileira estão sendo cortadas
clandestinamente
e
transportadas
em
caminhões para serralherias que, em seguida, tratam
e exportam a madeira como se fosse produto legal
para França, Bélgica, Suécia e Holanda.
Estes quatro países europeus tiveram, entre janeiro
e agosto deste ano, uma relação comercial direta com
três serralherias, segundo investigação do Greenpeace
em Santarém (norte do Pará).
A investigação da ONG - que escondeu aparelhos
de GPS debaixo dos caminhões que transportam
madeira para vigiar seu trajeto - revelou, ainda, "que
os documentos oficiais não são nem sequer capazes
de garantir a origem legal da madeira".
Segundo dados do Instituto Imazon, entre agosto de
2011 e julho de 2012, 78% das regiões de atividade
florestal no Pará não tinham autorização para cortar
madeira. A madeira de ipê, muito cobiçada na Europa,
sobretudo para construir deques de piscinas, chega a
custar US$ 3.200 o metro quadrado. O Greenpeace
pediu ao governo brasileiro que revise todas as
autorizações entregues às madeireiras.
NEO MONDO - Novembro/Dezembro 2014
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