retrospectiva

Transcrição

retrospectiva
www.neomondo.org.br
Ano 8 - No 66 - Janeiro/Fevereiro 2015
RETROSPECTIVA
2014
Exemplar de ASSINANTE
Venda Proibida
R$ 16,00
Doutor Fantástico
Dráuzio Varella
Mata Atlântica
Paraíso Ameaçado
Pantanal
Patrimônio natural da humanidade
COMER PIMENTÃO
TODOS OS DIAS,
AJUDA A PREVENIR
DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
NA VELHICE.
MAS PODE TE CAUSAR
DISTÚRBIO DO
RITMO CARDÍACO
BEM ANTES.
100
91,8%
DOS PIMENTÕES
ESTÃO CONTAMINADOS
0
POR AGROTÓXICOS
PREFIRA ALIMENTOS ORGÂNICOS
Seções
EDITORIAL
ÍNDICE
Oscar Lopes Luiz
Presidente do Instituto Neo Mondo
[email protected]
10
2014 foi um ano conturbado, mais do que qualquer outro recente. Perdemos os escritores Gabriel Garcia Marques,
Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, homens únicos que marcaram a nossa cultura. EUA e Cuba retomaram
relações diplomáticas após 53 anos, mas a situação política no Oriente Médio e na África continua nos enchendo de
preocupações. Tivemos Copa do Mundo, eleições, Operação Lava Jato, surtos de ebola e dengue, crise hídrica, num mix de
avanços e retrocessos nos mais diversos cenários sociais, econômicos e ambientais.
Perfil
Doutor Fantástico
Médico, escritor, comunicador
de sucesso
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27
Meio ambiente
Uma viagem aos
biomas brasileiros
Pantanal - a maior
planície alagada do
mundo
Meio ambiente
Mata Atlântica
Um dos biomas mais
ameaçados do planeta
E, como fazemos há 8 anos, nesta edição trazemos em uma retrospectiva especial, para presentearmos nossos leitores, o que de
mais relevante abordamos nas páginas no ano anterior. Neste número, relembraremos as primeiras paradas das fantásticas viagens
pelos principais biomas brasileiros em 2014: Pantanal, Mata Atlântica e Mangues. Recordaremos também o início da maior crise hídrica
de nossa história, quando, ingenuamente, achávamos que o pior cenário já havia sido alcançado. E, para começar esta releitura de
2014, republicamos a entrevista com o médico, escritor e apresentador Drauzio Varella, por nós carinhosamente apelidado de Doutor
Fantástico.
Para 2015, já estamos a todo vapor na elaboração de pautas para brindarmos os leitores com reportagens especiais abordando
as principais questões que envolvem o tema da sustentabilidade no Brasil e no mundo, sempre na esperança da construção de um
futuro melhor para nós e nosso planeta. Não deixa de ser curioso relembrar que, para quem se recorda do filme De Volta para o Futuro,
lançado em 1989, o futuro era outubro de 2015! Chegamos então ao futuro, mas com muito ainda a conquistar e celebrar!
Tenham uma ótima leitura!
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Especial
NEO MONDO, tudo por uma vida melhor!
8 objetivos do milênio
20% da população mundial
não tem água
EXPEDIENTE
Publisher: Oscar Lopes Luiz
Diretora de Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794)
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Água
Até a última gota
São Paulo vive a maior crise
hídrica dos últimos 84 anos
Conselho Editorial: Oscar Lopes Luiz, Eleni Lopes, Marcio Thamos,
Dr. Marcos Lúcio Barreto, Terence Trennepohl, João Carlos
Mucciacito, Rafael Pimentel Lopes, Denise de La Corte Bacci,
Dilma de Melo Silva, Natascha Trennepohl, Rosane Magaly
Martins, Pedro Henrique Passos
Redação: Eleni Lopes (MTB 27.794), Andreza Taglietti (MTB
29.146), Lilian Mallagoli
Revisão: Instituto NEO MONDO
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Perfil
C
ena rotineira: Drauzio Varella entra no saguão do hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), para mais uma visita a seus
pacientes internados. Imediatamente, um grupo de pessoas
o reconhece e iniciam-se os pedidos de autógrafo, fotos ou até
mesmo um conselho médico.
Quem presencia a cena, impressiona-se com sua timidez e
constrangimento nestas situações. Mas quem tem o prazer de
conviver com o profissional alto, sério, de fala mansa, sabe do
desconforto genuíno em ocasiões como essa, quando faz questão
de ressaltar que não é um astro de TV, mas sim um médico que se
aproveita dos meios de comunicação em massa para contribuir, de
alguma forma, para o esclarecimento da população em questões
relacionadas à saúde. A carreira de escritor de sucesso, por outro
lado, começou com a paixão pela leitura.
Nota desta repórter que vos escreve: tive a satisfação de conviver
por mais de 3 anos com o Dr. Drauzio Varella, por ser o profissional
que tratou do câncer da minha mãe. Pediatra, ela sofria com
a frieza e distanciamento dos médicos ao tratar de colegas.
Após ler o livro o Médico Doente, em que Drauzio conta seu
sofrimento ao se ver na condição de paciente grave ao ser
acometido por uma febre amarela, identificou-se fortemente com
a situação e pediu para conhecê-lo. Por ele e sua equipe, foi
acolhida e tratada com carinho e atenção raros na oncologia.
Além do médico competente, que não troca o exame clínico pela
mais moderna tomografia, conheci um ser humano único.
FANTÁSTICO
Por Eleni Lopes
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TV Globo/Zé Paulo Cardeal
DOUTOR
Médico, comunicador e escritor
A exposição pública de Drauzio Varella causa uma certa
controvérsia, especialmente entre os colegas médicos. Muitos
o acusam de oportunismo, mas sem qualquer fundamento
prático, talvez até com uma pontada de inveja por seu sucesso
e reconhecimento como comunicador e escritor. Quando
conduziu recentemente uma série no Fantástico sobre plantas
medicinais, muitos o acusaram de estar advogando em prol das
indústrias farmacêuticas, desconhecendo seu longo histórico em
pesquisas com plantas amazônicas.
Casado com a atriz Regina Braga, Drauzio Varella é médico
cancerologista, formado pela USP. Nasceu em São Paulo, em
1943. Foi um dos fundadores do Curso pré-vestibular Objetivo,
onde lecionou química durante muitos anos. Por 20 anos,
dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer,
em São Paulo (SP) e, de 1990 a 1992, o serviço de Câncer
no Hospital do Ipiranga.
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Perfil
Foi um dos pioneiros no tratamento da AIDS, especialmente
do sarcoma de Kaposi, no Brasil. Em 1986, sob a orientação do
jornalista Fernando Vieira de Melo, iniciou campanhas que visavam
ao esclarecimento da população sobre a prevenção à AIDS, primeiro
pela rádio Jovem Pan AM e depois pela 89 FM, de São Paulo.
Tornou-se famoso ao participar das séries da Rede Globo,
sobre o corpo humano, primeiros socorros, gravidez, combate
ao tabagismo, planejamento familiar, transplantes e diversas outras,
exibidas no Fantástico.
Em 1989, iniciou um trabalho de pesquisa sobre a prevalência
do vírus HIV na população carcerária da Casa de Detenção do
Carandiru, onde também trabalhou como médico voluntário até
a desativação do presídio, em setembro de 2002. Isso resultou
no best seller Estação Carandiru, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti
e inspirou o filme Carandiru. Atualmente, faz o mesmo trabalho
na Penitenciária Feminina de São Paulo.
É também autor de outros sucessos literários, como Por um Fio
e O Médico Doente. Como seu tempo parece render mais que
o dos simples mortais, faz pesquisas, participa de congressos
internacionais, tem uma coluna quinzenal no jornal Folha de S. Paulo
e ainda escreve artigos periódicos para outras publicações.
Farmácia amazônica
O potencial da biodiversidade brasileira na descoberta de novos
fármacos a partir de plantas é imenso. Por isso, Drauzio Varella
conduz, na Amazônia, região do baixo rio Negro, um projeto de
bioprospecção de plantas brasileiras com o intuito de obter extratos
para testá-los experimentalmente em células tumorais malignas
e em bactérias resistentes aos antibióticos. Esse projeto, apoiado
pela FAPESP, é realizado nos laboratórios da UNIP (Universidade
Paulista), em colaboração com o Hospital Sírio-Libanês.
O trabalho teve início em 1995, quando ele e o colega Riad
Younes decidiram começar uma busca pelo conhecimento de
extratos de plantas e árvores em uma região que contém uma
das maiores biodiversidades do mundo, até hoje sub-pesquisada.
Além dos dois médicos, formam a equipe farmacólogos, biólogos,
técnicos e mateiros.
O trabalho foi o primeiro projeto de bioprospecção a solicitar
autorização junto ao Ibama, e um dos poucos projetos autorizados
a conduzir a extração nas áreas sob a responsabilidade do órgão
governamental.
Ainda de acordo com a autorização do Conselho de
Gestão do Patrimônio Genético, órgão
que conta com representantes
de vários Ministérios,
o projeto não visa nenhum lucro e as eventuais descobertas
reverterão em divisas para a sustentabilidade da própria Amazônia.
Estão previstas ainda pesquisas com plantas da Mata Atlântica.
Trabalho árduo
Em entrevista recente Drauzio contou o progresso do projeto
pioneiro. “Conseguimos 2,2 mil extratos. Metade foi testada contra
células malignas. Cento e noventa demonstraram alguma atividade.
Vinte apresentaram bastante atividade. Separamos oito extratos
para estudar profundamente. É um processo muito lento. O extrato
é um chá. É preciso fazer exames de cromatografia e ressonância
magnética para separar as frações”, explicou. “Aí temos que testar
cada fração para ver qual delas é a responsável pela atividade.
Essa fração é que vai em frente. Vai ser testada em animais, depois
em humanos etc. É tudo muito complexo”.
Na pesquisa, são avaliadas drogas contra os tumores mais comuns
no Brasil: pulmão, mama, colo retal, cérebro e próstata.
LIVROS PUBLICADOS
•
Aids Hoje: 3 volumes em colaboração com os médicos
Antonio Fernando Varella e Narciso Escaleira.
•
Estação Carandiru (Companhia
Prêmio Jabuti de 2000.
•
Macacos (Publifolha): Faz parte da série Folha Explica.
•
Nas Ruas do Brás (Companhia das Letrinhas):
Literatura infantil; Prêmio Novos Horizontes da Feira
Internacional do livro de Bolonha, Itália, e revelação
de autor de literatura infantil na Bienal do Livro do Rio
de Janeiro, em 2001.
•
De Braços Para o Alto (Companhia das Letrinhas):
Literatura infantil, publicado em 2002.
•
Florestas do Rio Negro: Coordenou a elaboração do
livro que, sob a editoria científica de Alexandre de
Oliveira e Douglas C. Daly, reúne trabalhos de vários
colaboradores sobre a biodiversidade botânica da
região amazônica e foi indicado para o Prêmio Jabuti
em 2002.
•
Maré – Vida na favela (Casa das Palavras):
Co-autoria: Paola Berenstein, Ivaldo Bertazzo,
Drauzio Varella, Pedro Seiblitz (imagens).
•
Por um Fio (Companhia das Letras): Publicado
em 2004.
•
Borboletas da Alma (Companhia das Letras):
Publicado em 2006.
•
NEO MO
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0155
Letras):
O Médico Doente (Companhia das Letras): Publicado
em 2007.
•
12
das
Globo / Zé Paulo Cardeal
Cabeça do Cachorro (Editora Terrabrasil):
Drauzio Varella, Araquém Alcântara e
Jefferson Peixoto; ensaio publicado
em 2008.
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Ecossistema
NO QUINTAL DO NOSSO
MANGUE
Por Andreza Taglietti
Considerado um dos ecossistemas mais
produtivos do planeta, os manguezais
contribuem para a biodiversidade, mas são
menosprezados pelos projetos de conservação
Q
uando se fala em ecossistemas ameaçados pela ação humana,
logo vêm à mente a Floresta Amazônica e a Mata Atlântica, que
sofrem desmatamento acelerado. Menos lembrados são os
manguezais, embora tenham importância crucial para a manutenção
da vida na costa de forma geral. Considerados um dos ecossistemas
mais produtivos do planeta, contribuem para a biodiversidade de
relevância mundial, asseguram a integridade ambiental da faixa
costeira e são responsáveis pelo fornecimento dos recursos e serviços
ambientais que sustentam atividades econômicas.
O Brasil abriga a terceira maior área de manguezais do planeta
(162 mil km2). Cerca de 26 mil km2 (cerca de 16% do total) estão
distribuídos por 16 estados do território brasileiro, desde o Amapá até
Laguna, em Santa Catarina, e são a base da biodiversidade no litoral.
Em Pernambuco, existem cerca de 270km2, espalhados por Goiana e
Megaó, Itapessoca, Jaguaribe, Canal de Santa Cruz, Timbó, Paratibe,
Beberibe, Capibaribe, Jaboatão e Pirapama, Massangana e Tatuoca,
Ipojuca, Macaraípe, Sirinhaém, Ilhetas e Mamucabas, Uma e Meireles
e Persinunga. Na costa do Amapá, Pará e Maranhão, os manguezais
chegam a ter 40 quilômetros de largura e suas árvores alcançam mais
de 40 metros de altura.
Apesar de sua importância, esse ecossistema é cada vez
mais vulnerável a uma série de ameaças, tais como a perda e
fragmentação da cobertura vegetal, a deterioração da qualidade
dos habitats aquáticos, devido, sobretudo, à poluição e à mudanças
na hidrodinâmica, o que tem promovido a diminuição na oferta
de recursos dos quais muitas comunidades tradicionais e setores
dependem diretamente para sobreviver. Outros fatores que causam
alterações nas propriedades físicas, químicas e biológicas do
manguezal são: aterro e desmatamento; queimadas; deposição de
lixo; lançamento de esgoto e de efluentes industriais; dragagens;
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construções de marinas; pesca predatória.
Estima-se que 25% dos manguezais brasileiros tenham sido
destruídos desde o começo do século 20. Além disso, muito dos
que ainda existem são classificados como vulneráveis ou ameaçados
de extinção. A situação é particularmente séria no Nordeste e
no Sudeste, que apresentam um grande nível de fragmentação.
Estimativas recentes sugerem que cerca de 40% do que foi um dia
uma extensão contínua de manguezais foi suprimido. Hoje, no Brasil,
a faixa mais ameaçada é a área conhecida como apicum, palavra
de origem tupi que significa “brejo de água salgada”. Os apicuns
ocorrem geralmente nas regiões onde as marés têm dificuldade em
avançar na costa por encontrar terras elevadas. A água que chega a
essas terras se evapora rapidamente e o chão acumula tanto sal que
nele sobrevive apenas a vegetação rasteira.
Ecossistema-chave
Manguezais são inquestionavelmente considerados como uma
das organizações mais produtivas do planeta. Na América Tropical,
na qualidade de zonas úmidas, são reconhecidos como “ecossistemachave”, cuja preservação é crítica para o funcionamento de outros
grupos maiores e mais diversos que se estendem além dos limites
de um bosque de mangue. Desempenham importante papel como
exportador de matéria orgânica para o estuário, contribuindo para
a produtividade primária na zona costeira.
Cerca de 70% das espécies de peixes, moluscos e crustáceos
pescados comercialmente no litoral brasileiro têm relação com os
manguezais em alguma fase de sua vida. É nessa área que encontram
as condições ideais para reprodução, berçário, criadouro e abrigo
para várias espécies de fauna aquática e terrestre, de valor ecológico
e econômico. É comum a coleta dessas espécies que vivem enterradas
na lama para o comércio. A manutenção é vital para a subsistência
das comunidades pesqueiras que vivem em seu entorno.
Esse ecossistema também serve de refúgio para aves migratórias.
Os mangues do Maranhão e Pernambuco, e também os da região
de Cubatão, no litoral paulista, recebem batuíras e maçaricos, aves
típicas do norte do Canadá e Estados Unidos, que se recuperam ali
após a longa viagem.
A vegetação dessas áreas serve para fixar as terras, impedindo
assim a erosão e, ao mesmo tempo, estabilizando a costa. As raízes
do mangue funcionam como filtros na retenção dos sedimentos.
Constitui, ainda, importante banco genético para a recuperação de
áreas degradadas.
Falta de projetos de preservação
O manguezal é considerado, no Brasil, área de preservação
permanente, incluído em diversos dispositivos constitucionais
(Constituição Federal e Constituições Estaduais) e infraconstitucionais
(leis, decretos, resoluções, convenções).
Mas sua deterioração é também resultado da ausência de iniciativas,
em escala nacional, que visem à sua preservação e ao uso sustentável.
Durante muito tempo, os únicos trabalhos produzidos sobre o tema
eram de cunho científico, com circulação limitada às universidades e
com foco em regiões restritas.
O primeiro mapeamento nacional foi feito apenas em 2008, pelo
Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis). Um projeto lançado há três anos pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), batizado de
Manguezais do Brasil, recebeu financiamento do PNUD, órgão das
Nações Unidas que cuida do combate à pobreza e também lida com
questões ambientais.
Foram escolhidas cinco regiões na costa brasileira, no Pará,
Maranhão, Piauí, Paraíba, São Paulo e Paraná, onde
serão feitas experiências de gestão e preservação
dos recursos. O mapeamento do ecossistema
também será atualizado, em parceria com
o Ibama e o Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais). Espera-se que
a iniciativa ajude a preservar os
berçários da vida do litoral
brasileiro.
Erro conceitual
Em outubro de 2012, a presidente Dilma Rousseff sancionou
32 modificações no Código Florestal. Determinou que os manguezais
de todo o País passassem a ser Área de Preservação Permanente (APP)
e também vetou os dois parágrafos da lei que permitiam a municípios
e estados decidir sobre a proteção de manguezais e dunas.
Os vetos da presidente Dilma Rousseff, no entanto, ao Código
Florestal não incluíram o trecho da nova lei que tratava da
carcinicultura, a técnica de criação de camarões em viveiros. Segundo
especialistas, esta falha é desastrosa para o manguezal no Nordeste,
que terá 35% de sua área suscetível a aterros para a implantação de
fazendas de camarão.
No texto aprovado pelo Congresso Nacional em setembro de
2012, que não sofreu interferência do executivo federal, a prática é
permitida em até 10% na Amazônia e até 35% nas demais regiões,
inclusive no Nordeste, em apicuns. Para especialistas em ecossistema,
um erro conceitual possibilitou a abertura de uma “brecha” para
parlamentares que defendiam os interesses dos carcinicultores.
Devido a esta falha, a crescente conversão de apicuns em viveiros de
camarão reduzirá a produtividade dos estuários. Um exemplo claro
é quando consideramos o caso de crustáceos como os caranguejos,
que fazem as tocas nestes locais, revolvendo o solo e trazendo
nutrientes para a superfície. Quando a maré enche, esse material
é transportado para o estuário, contribuindo para
a manutenção da cadeia alimentar
do estuário e dos mares.
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Ecossistema
O MANGUEBEAT E A MANGUETOWN
O Porto do Capim é uma comunidade de baixa renda localizada
às margens do rio Sanhauá, em João Pessoa, na Paraíba.
São cerca de 350 famílias pobres vivendo sob condições precárias,
morando em casas simples de alvenaria ou barracos de madeira
à beira do mangue. Os moradores, em geral, trabalham em oficinas
mecânicas e madeireiras próximas, ou como descarregadores
de caminhão, entre outras ocupações. Muitos recebem o Bolsa
Família, que, porém, não é suficiente para o sustento das famílias.
Na comunidade não há posto de saúde, quadra poliesportiva
ou equipamentos culturais. E a única escola pública atende
apenas alunos da primeira à quarta série do ensino fundamental.
A total ausência de opções de lazer e cultura e a necessidade
de complementar a renda se traduzem numa triste realidade que
acompanha o Porto do Capim há anos. Crianças e adolescentes
passam horas coletando caranguejos-uçás e guaiamuns – outro
tipo de caranguejo – nos mangues locais para depois vendê-los
para a população da cidade. Durante o ano inteiro, eles armam
a ratoeira pela beira do mangue para pegarem o guaiamum
e depois comercializarem. Durante a andada do caranguejouçá, há muitas crianças dentro do rio. A andada é o período
em que há o acasalamento e a desova dos caranguejos-uçás,
o que os leva a ficarem mais tempo fora da toca, tornando-os
presas fáceis. A cata desses crustáceos é proibida durante essa
época. Os meninos também pegam os caranguejos para comer.
Muitas vezes precisam levar alguma comida para casa.
Mas Porto do Capim é uma amostra da realidade de um universo
muito maior. E um problema também. A atividade em mangues é
considerada uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo
com o decreto presidencial 6.481, de 2008. Segundo o documento,
nesse tipo de trabalho, crianças e adolescentes são expostos
à umidade e excrementos, ferimentos ocasionados por caranguejos,
perfurações e picadas de serpentes. Além disso, podem contrair
doenças como rinite, resfriado, bronquite, dermatite, leptospirose
e hepatite viral. Por isso, é importante reforçar a fiscalização da
incidência de trabalho infantil nos mangues, para que as crianças
sejam encaminhadas, por exemplo, ao Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (Peti) e ao Centro de Referência de Assistência
Social (Cras), ambos do governo federal.
Um estilo musical muito interessante e cheio de ideias inovadoras surgiu no Recife
por volta dos anos 1990: o Manguebeat (algo como “ritmo do mangue”, “batida
do mangue”). Uma mistura de rock, hip hop e música eletrônica, quase uma música
de contestação, para protestar sobre o descaso sofrido pela cultura local, a desigualdade entre
as pessoas e também sobre o abandono sofrido pelo mangue. Apesar das raízes do Manguebeat
existirem desde a década de 70, com discos do guitarrista Robertinho de Recife, o estilo foi associado
à figura do músico Chico Science (1966-1997), que era vocalista da banda Nação Zumbi, em atividade até
os dias de hoje. Mesmo depois da morte de Chico Science, o movimento continua vivo e forte, sempre
ligado ao seu papel social e representado por bandas como Mundo Livre S/A, Nação Zumbi, Sheik Tosado
e Eddie. Inclusive, muitas homenagens foram prestadas a esse ritmo tão especial, como é o caso da
estátua do caranguejo - animal símbolo do movimento - construída na rua da Aurora, bairro do Recife.
PROJETO MANGUEZAIS DO BRASIL
O Projeto Manguezais do Brasil foi criado pelo Ministério do Meio
Ambiente com o objetivo de melhorar a capacidade do Brasil de
promover a efetiva conservação e uso sustentável dos recursos em
ecossistemas manguezais, baseado no fortalecimento do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e na designação de
áreas de preservação permanente a todos os manguezais do Brasil.
O projeto é executado pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade que, para cumprir tal objetivo,
busca elaborar uma estratégia de gestão de áreas protegidas
para a conservação efetiva de uma amostra representativa dos
ecossistemas manguezais no Brasil.
UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL
DOS MANGUEZAIS
Muitas atividades podem ser desenvolvidas no manguezal
sem lhe causar prejuízos ou danos, entre elas:
•
•
•
•
•
Pesca esportiva e de subsistência, evitando a sobrepesca,
a pesca de pós-larva, de juvenis e de fêmeas ovadas
Cultivo de ostras
Cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias)
Criação de abelhas para a produção de mel
Desenvolvimento de atividades turísticas, recreativas,
educacionais e pesquisa científica
Para celebrar a riqueza deste ecossistema,
a revista NEO MONDO desenvolveu um aplicativo
especial de Realidade Aumentada, em que você
terá a oportunidadede se surpreender com
o equilíbrio existente nos mangues.
Acesse http://trinitymidia.com.br/
meioambiente.html
Antonio Cícero/FotoArena/AE
Lixo, caranguejos e urubus
O manguezal foi sempre considerado um ambiente pouco
atrativo e menosprezado. No passado, as manifestações de aversão
eram justificadas, pois a presença do mangue estava intimamente
associada à febre amarela e à malária. Embora estas enfermidades
já tenham sido controladas, a atitude negativa em relação a este
ecossistema perdura em expressões populares em que a palavra
mangue adquiriu o sentido de desordem, sujeira ou local suspeito.
A destruição gratuita, a poluição doméstica e a química das águas,
derramamentos de petróleo e aterros mal planejados são os grandes
inimigos do manguezal.
Nessas regiões, as condições físicas e químicas existentes são muito
variáveis, o que limita os seres vivos que ali habitam e as frequentam.
Os solos são formados a partir do depósito de siltes (mineral
encontrado em alguns tipos de solos), areia e material coloidal
trazidos pelos rios.
Estes solos são muito moles e ricos em matéria orgânica em
decomposição. Em decorrência, são pobres em oxigênio, totalmente
retirado por bactérias que o utilizam para decompor a matéria
orgânica. Como o oxigênio está sempre em falta nos solos do
mangue, as bactérias se utilizam também do enxofre para processar
a decomposição.
O fator mais importante e limitante na distribuição dos manguezais
é a temperatura. Um fato interessante de se observar é a altura das
árvores. Na região Norte, podem alcançar até trinta metros. Na região
Sul, dificilmente ultrapassam um metro. Quanto mais próximas da
linha do Equador, maiores. As plantas se propagam a partir das
plantas filhas, chamadas de propágulos, que se desenvolvem ligadas
à planta mãe. Esses propágulos soltam-se e se dispersam pela água,
até atingirem um local favorável ao seu desenvolvimento. As plantas
típicas do mangue se originaram na região do Oceano Índico e se
espalharam a partir daí para todos os manguezais do mundo.
CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHAM
NA CATA DE CARANGUEJOS
Divulgação
Além disso, os apicuns, da forma como está no novo Código
Florestal, não são considerados Área de Preservação Permanente
(APPs), apenas o mangue. Mas o manguezal não é só a floresta de
mangue - é nos apicuns que se espraia a água no estuário, na maré
alta. Com a ocupação deles, essa água vai invadir as áreas habitadas.
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Meio ambiente
UMA VIAGEM
AOS BIOMAS
BRASILEIROS
Considerado como a maior planície alagada
do mundo, o bioma tem a importante
função de corredor biogeográfico entre
as duas maiores bacias da América do Sul
Da Redação
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P
antanal, maior planície alagada do
mundo, se estende por diversos
países da América Latina, entre
eles Brasil, Bolívia e Paraguai, ocupando
uma área total de 210 mil km2.
Com a maior parte no território
nacional (cerca de 70%), o bioma está
presente nos estados do Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul.
Considerado como um elo de
ligação entre as duas maiores bacias
da América do Sul (do Prata e da
Amazônia), a região pantaneira tem
a importante função de corredor
biogeográfico, permitindo assim a
dispersão e a troca de espécies de
fauna e flora entre os lugares. Por esse
e por outros motivos, grande parte
do Pantanal (e da Bacia Hidrográfica
do Prata) é considerada Patrimônio
Natural da Humanidade pela Unesco,
além de estar presente na Constituição
Brasileira como Patrimônio Nacional.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Mesmo não possuindo um
número muito grande de espécies
endêmicas (exclusivas), o bioma tem
qualidades de uma “ecorregião”, ou seja,
possui características específicas por englobar
diversos outros biomas, como o Cerrado (leste,
norte e sul), o Chaco (sudoeste), a Amazônia (norte), a
Mata Atlântica (sul) e o Bosque Seco Chiquitano (nordeste).
Essas peculiaridades, somadas ao regime de cheias e secas,
faz com que o Pantanal possua uma variabilidade muito
grande de espécies.
Em relação ao clima, a região possui temperaturas
quentes e úmidas no verão (média de 32 graus) e frias e
secas no inverno (em torno de 21 graus). Já a umidade
varia de acordo com os meses do ano, sendo, de junho a
outubro, a época de secas e, de novembro a maio, a época
das cheias. Desta forma, sua precipitação anual gira em
torno de 1.000 e 1.400 milímetros.
Pantanal Florestal
O Pantanal possui uma vegetação muito rica, com cerca
de 1.650 espécies de árvores e arbustos. Por ter a mistura
de vários biomas, sua paisagem varia de acordo com a
estação e/ou local. Por exemplo, nos períodos de seca, os
campos pantaneiros são predominantemente
cobertos por gramíneas e vegetações
típicas do cerrado.
Já nos pontos mais altos,
como picos e morros, há
o predomínio da flora
típica da caatinga, com
barrigudas, gravatás e
mandacarus, além da
ocorrência da vitóriarégia, planta típica
da Amazônia.
Nas
partes
alagadas,
as
v e g e t a ç õ e s
flutuantes, como o
aguapé e a salvinia,
são
predominantes.
Essas, quando carregadas
pelos
rios,
formam
ilhas verdes, chamadas de
camalotes. Outra flora existente
é a de mata densa e sombria,
normalmente encontrada em volta das
margens mais elevadas dos rios.
20
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
2
3
Entre as plantas mais famosas do Pantanal está o
Carandá (Copernicia australis), planta da família das
arecáceas, de rápida germinação e abundante na forma
silvestre, principalmente por ser muito resistente ao frio.
Podendo chegar aos 20 metros de altura e 40 centímetros
de diâmetro, seu tronco é muito utilizado na indústria
madeireira para construção de postes para linhas telefônicas
e elétricas.
Tuiuiú (Jabiru mycteria): é uma ave pernalta da família Ciconiidae. Considerada a ave-símbolo do
Pantanal, o tuiuiú tem pernas de coloração preta, com plumagem do corpo branca, pescoço nu e preto,
e papo nu e vermelho. Chega a ter 1,4 metro de comprimento e mais de 1 metro de altura, além de pesar
8 quilos. Sua alimentação é basicamente composta por peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos
mamíferos. Também se alimenta de pescado morto, ajudando a evitar a putrefação dos peixes que
morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca.
Cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus): é um mamífero ruminante da família dos cervídeos.
Maior veado da América do Sul, o cervo-do-pantanal tem uma galhada bifurcada, com cinco pontas em
cada haste. Muito arisco durante o dia, ficando escondido na maior parte dele, sai à noite às clareiras em
grupos de cinco ou mais para alimentar-se de capim, juncos e plantas aquáticas. Embora sua carne não
sirva para comer, o cervo-do-pantanal é caçado por causa do couro e galhada.
4
Colhereiro-comum (Platalea leucorodia): é uma ave pernalta da família Threskiornithidae. O nome
deriva-se de sua habilidade de colher, através do bico, animais aquáticos para alimentação. Vive em
pequenos bandos ou solitariamente e se alimenta de peixes, crustáceos, insetos e moluscos.
Pantanal Animal
Assim como a flora, a diversidade da fauna pantaneira
também é muito grande, sendo, inclusive, considerada
umas das mais ricas do planeta. São cerca de 656 espécies
de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1.800),
1.132 de borboletas, 122 de mamíferos, 263 espécies de
peixes e 93 de répteis. Conheça alguns dos animais do
bioma:
Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus): é uma ave da família Psittacidae, que possui
plumagem azul com um anel amarelo em torno dos olhos. Reproduz-se a partir dos 3 anos de idade,
dando cria a dois filhotes por vez. Alimenta-se, basicamente, de sementes, frutas, insetos e pequenos
vertebrados.
5
Jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): é um réptil que mede entre dois e três metros de comprimento
e seu padrão de coloração é bastante variado, sendo o dorso particularmente escuro, com faixas
transversais amarelas, principalmente na região da cauda. Alimenta-se de peixes, moluscos e crustáceos.
Suas fezes servem de alimento para muitos peixes. Uma característica interessante sobre este animal é a
temperatura corporal, que varia de 25 a 30 graus.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Pantanal Social e Econômico
Roberto Tetsuo Okamura / Shutterstock.com
Com uma população aproximada de 1,1 milhão de
pessoas, o Pantanal apresenta uma distribuição geográfica
muito desigual, com cidades variando de 12 mil habitantes,
como Porto Murtinho (MS), até 500 mil habitantes, como
Cuiabá (MT).
Entre as atividades econômicas desenvolvidas por essa
população, destaca-se a pesca, que tem ligação direta com o
turismo e com a sobrevivência da área. Esse tipo de estimulo
econômico é o maior gerador de renda dos residentes da
região, dividido em três categorias: a pesca de subsistência,
que é fonte de alimento das populações ribeirinhas;
A pesca profissional, cuja função é gerar renda
aos pescadores, principalmente, na venda
de espécies nobres, como pintado, dourado
e pacu; e a pesca esportiva, maior atrativo
turístico do Pantanal, que recebe, em média,
450 mil pescadores de fora por ano.
Outra atividade é a pecuária, que expandiu-se no final
do século XIX. Em sua maioria, é feita de maneira extensiva,
ou seja, de maneira livre, sem cuidado de manejo. Estes
animais (calcula-se que existam cerca de 3,2 milhões de
cabeças na área pantaneira) dependem do período de cheia
e seca para serem criados, já que, quando há o alagamento
das partes baixas, os animais têm que ser levados aos locais
mais altos para se alimentar e procriar.
Outras atividades econômicas são a mineração e a
siderurgia. Expandidas, principalmente, na bacia do Alto Rio
Paraguai, estas formas de arrecadação de verbas têm uma
importante função no crescimento não só da economia
regional, mas também do resto do Brasil. Entre os principais
minérios retirados destacam-se o manganês, o ferro, o
calcário, o ouro e o diamante, encontrados nos complexos
minerais de Maciços do Urucum e de Cuiabá-Cáceres.
Degradação do Pantanal
Assim como todos os outros biomas já vistos, o Pantanal
também sofre com problemas ambientais de degradação.
Um dos processos mais acelerados de destruição está ligado
a uma grande fonte de renda da região e do País como
um todo: o gasoduto Brasil-Bolívia. A grande necessidade
de carvão vegetal para abastecimento dos fornos desses
gasodutos faz com que a taxa de desmatamento cresça de
forma impressionante.
As queimadas são outro problema da região pantaneira.
Além de destruirem o solo, que perde todos os nutrientes,
atingem a própria população, que fica contaminada pela
fumaça, lotando os postos de saúde com problemas
pulmonares, e também os pássaros, que acabam se
afastando, também por causa da fumaça.
Um terceiro problema é a exploração incessante de
algumas espécies de animais e de plantas nativas do
bioma, que causa a extinção das mesmas. Além disso,
há o comércio ilegal de madeira, que destrói e acaba com
as árvores do território.
Curiosidades
• A maior cobra do Pantanal, a sucuri amarela mede até 4,5 metros e se alimenta de peixes, aves e pequenos mamíferos.
• O tuiuiú, ave-símbolo do Pantanal, tem mais de 2 metros de envergadura com as asas abertas.
• Com 1,5 metro de comprimento e 120 quilos, o jaú (bagre gigante) é o maior peixe do Pantanal.
• As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e transformam a região em um impressionante lençol
d’água, afastando parte da população rural que migra temporariamente para as cidades ou vilas.
• O Pantanal brasileiro possui 144.294 km2 de planície alagável, 61,9% dos quais se encontram em Mato Grosso do Sul e 38,1%
em Mato Grosso.
• O Pantanal atrai cerca de 700 mil turistas por ano, 65% dos quais são pescadores.
• Os 210 mil quilômetros quadrados do Pantanal equivalem à soma das áreas de quatro países europeus – Bélgica, Suíça,
Portugal e Holanda.
• A onça pintada do Pantanal chega a pesar 150 quilos, alimentando-se de, aproximadamente, 85 espécies de animais que vivem
na região.
• O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera. Essas reservas, declaradas pela Unesco, são
instrumentos de gestão e manejo sustentável integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas.
• O reduzido desnível da região produz a inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai flua
bem devagar. Uma canoa à deriva no rio demoraria cerca de seis meses para atravessar o Pantanal.
• A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície pantaneira.
• Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes
do que na Europa (263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
Receita Típica
p
do Pantanal: Furrundum
Ingredientes:
• 2 cidras médias (cerca de 1 kg)
• 1 rapadura com cerca de 400 gramas de raspadas
ou 3 xícaras de açúcar mascavo
• 1 colher (sopa) de gengibre fresco ralado
• 1 coco grande ralado fino
Preparo:
1. Lave bem as cidras e rale a casca no ralador grosso
sem atingir a polpa;
2. Deixe a casca ralada de molho em uma tigela
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
O quarto problema vem do mar. O tráfico, a caça
e a venda de peixes, chamados de sobrepesca, acabam
com esses animais, o que influencia diretamente na cadeia
alimentar da região, já que muitos outros bichos, inclusive
terrestres e voadores, se alimentam da fauna aquática.
Outro problema é o assoreamento dos rios, decorrente
da pecuária no planalto, fazendo com que diversos sedimentos
rolem terreno abaixo até chegaram aos leitos de água.
O sexto problema está ligado às atividades mineradoras,
que acabam contaminando os lençóis freáticos.
com água fria, trocando a água várias vezes,
por algumas horas ou até eliminar o sabor amargo;
3. Escorra e esprema bem;
4. Coloque a casca ralada em uma panela e junte
a rapadura ou açúcar mascavo, misturando bem o conteúdo.
Acrescente o gengibre e leve ao fogo brando;
5. Deixe cozinhar, mexendo de vez em quando, até o fundo
da panela começar a aparecer;
6. Acrescente o coco ralado e continue cozinhando,
mexendo sempre, por mais alguns minutos;
7. Tire do fogo e deixe esfriar;
8. Retire pequenas porções da massa
e modele formando bolinhas;
9. Coloque em um prato de servir e leve à mesa.
Rendimento: cerca de 30 doces.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
23
Cultura
Exposição "Pantanal: natureza, conservação e cultura”, uma parceria do WWF-Brasil com Adriano Gambarini
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Meio Ambiente
UMA VIAGEM
PELOS BIOMAS
BRASILEIROS:
AMEAÇAS AO
PATRIMÔNIO
NACIONAL
Segundo bioma mais ameaçado de extinção do
planeta, a Mata Atlântica abriga uma das maiores
biodiversidades do mundo
da Redação
A
Mata Atlântica, segundo bioma mais
ameaçado de extinção do planeta
(ficando atrás apenas das florestas
de Madagascar), é a região do Brasil que
se estende por 17 estados e mais de 3
mil municípios. Considerada Patrimônio
Nacional pela Constituição Federal, ocupa
cerca de 102 mil km2 do território nacional.
Isso representa apenas 8% do total de mata
que existia na chegada dos portugueses
ao Brasil, em 1500 (a área de florestas
ocupava 15% do território brasileiro, ou
seja, 1.306.421 km2).
Apesar de tais dados, levantamentos
recentes divulgados pelo Governo
Federal apontam um crescimento de
12% na área florestal do bioma. Isso
porque a Mata Atlântica possui uma
alta propriedade de regeneração. Outros
26
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
dados, divulgados pela fundação SOS
Mata Atlântica, mostram uma queda
no desmatamento da floresta em oito
estados brasileiros. No entanto, alguns
estados, como Santa Catarina e Paraná,
continuam com altos níveis de destruição.
Esse desmatamento e degradação
mostram-se como grandes problemas,
principalmente porque as 120 milhões
de pessoas que vivem na região do
bioma dependem da manutenção e
dos serviços ambientais prestados tanto
na proteção de nascentes e fontes que
abastecem as cidades e comunidades do
interior, como na regulação do clima, da
temperatura, da umidade e das chuvas,
na fertilidade do solo ou na proteção
das escarpas e encostas de morros de
eventuais processos erosivos.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Meio Ambiente
Mata Atlântica Florestal
Independente da área reduzida, a Mata Atlântica
continua na lista dos biomas mais ricos do mundo em
diversidade de plantas e animais. Entre os vegetais, levando
em consideração apenas o grupo das angiospermas
(plantas que possuem sementes protegidas dentro dos
frutos), acredita-se que a Mata Atlântica possua cerca
de 20.000 espécies, ou seja, aproximadamente 35% das
existentes em todo o Brasil. Desse total, cerca de 8 mil
são endêmicas (exclusivas do bioma). Esses dados fazem
com que a floresta seja a mais rica do mundo em árvores.
Um exemplo da tamanha diversidade está no sul da Bahia.
Em apenas um hectare de terra, foram encontradas 454
espécies distintas de árvores (Veja o quadro comemorativo
ao Dia da Árvore).
Entre as espécies de frutas exclusivas da Mata Atlântica,
destaca-se a jabuticaba (Myrciaria trunciflora), cujo o nome
vem da palavra tupi iapoti-kaba, que significa “frutas em
botão”. Outras frutas típicas do bioma são a goiaba, o
araçá, a pitanga e o caju. Já entre as árvores, o destaque
fica para a erva-mate. A partir de suas folhas é produzido o
chimarrão, popular bebida da Região Sul do país.
No entanto, da mesma maneira que há o lado positivo
de se encontrar tantas plantas endêmicas no bioma, há
também o lado negativo: grande parte das espécies está
ameaçada de extinção. Entre os fatores que contribuem
para o desaparecimento das plantas está o consumo
exaustivo, como é o caso do pau-brasil, espécie que deu
origem ao nome do nosso país.
Outros fatores são as queimadas dos terrenos para
a criação de gado, o desmatamento e o comércio ilegal.
Este último é um dos principais causadores da destruição
da vegetação, mesmo com leis que proíbem o plano de
manejo. Espécies como o palmito-juçara, as orquídeas e
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
as bromélias, quase entraram em extinção por causa da
exploração intensiva. Plantas medicinais também sofrem
muito com o comércio ilegal, sendo retiradas sem quaisquer
critérios e planos de reposição.
tridactyla) e o muriqui, também conhecido como mono-carvoeiro
(Brachyteles arachnoides).
Os motivos para essa ameaça variam muito. Um dos principais é
o tráfico de animais. O comercio ilegal no Brasil movimenta cerca de
10 bilhões de dólares por ano. A cada 10 animais traficados, apenas
um resiste às pressões da captura e cativeiro.
Outro problema é a perda do habitat para outras espécies. Estes
“estrangeiros” invadem regiões de onde não são nativos por terem
perdido seu próprio lar. Em outra situação, o próprio homem solta
espécies não-nativas em locais inapropriados, prejudicando o
desenvolvimento das espécies locais. Isso porque os animais
de outras regiões multiplicam-se de maneira muito mais
acelerada, pois não têm predadores e encontram
alimentos abundantes.
Um exemplo da soltura indevida aconteceu
no Parque Estadual da Ilha Anchieta, em
São Paulo. Foram soltas pelo governo, em
1983, 8 cutias e 5 micos-estrelas. Essas
espécies multiplicaram-se muito rápido,
chegando a ter populações de 1.160
e 654 indivíduos, respectivamente.
Como consequência, cerca de 100
espécies de aves, cujos ninhos
são predados por esses animais,
foram extintas na ilha.
Mata Atlântica Animal
A Mata Atlântica possui uma grande diversidade de
fauna. Vivem no bioma aproximadamente 1,6 milhão de
espécies de animais, incluindo os invertebrados. Grande
parte dessas espécies é endêmica, ou seja, não podem
ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta.
Ao todo, estão catalogadas 270 espécies de mamíferos
(73 endêmicas), 849 espécies de aves, 370 espécies de
anfíbios, 200 de répteis e cerca de 350 espécies de peixes.
O destaque entre os animais fica para o mico-leão-dourado.
Confira sobre esse animal no quadro.
Extinção Animal
Os anos passam e as espécies ameaçadas de extinção
aumentam. Em 1989, a lista publicada pelo Ibama já trazia
dados impressionantes, mostrando que 202 espécies de
animais eram consideradas oficialmente ameaçadas no
Brasil, sendo que 171 viviam nas florestas atlânticas. Em
2003, dados ainda piores foram liberados pelo Ministério
do Meio Ambiente. O total de espécies ameaçadas no país
subiu para 633, sendo que a maioria reside na região da
Mata Atlântica.
Das 265 espécies de vertebrados ameaçados, 185
ocorrem nesse bioma (100 endêmicas). Das 160 aves da
lista, 118 vivem na região atlântica (49 endêmicas). Das 69
espécies de mamíferos, 38 residem no bioma (25 endêmicas).
Dos anfíbios da lista, todas as 16 espécies ameaçadas
são exclusivas da Mata Atlântica. Exemplos de animais
ameaçados são o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
29
Meio Ambiente
Mata Atlântica Social
A Mata Atlântica abriga quase 65% de toda a população
do Brasil, ou seja, cerca de 120 milhões de pessoas. Isso
porque foi na área original do bioma que os primeiros
aglomerados urbanos, pólos industriais e principais
metrópoles foram formados.
Além da população urbana, nela vivem diferentes tribos
com culturas tradicionais, o que faz com que a área tenha
uma das maiores diversidades culturais brasileiras. Entre os
indígenas, destacam-se os Guaranis. Já entre as culturas
tradicionais não-indígenas, o destaque fica com os caiçaras,
os quilombolas, os roceiros e os caboclos ribeirinhos.
Mesmo possuidora de tal patrimônio cultural, a Mata
Atlântica também é muito excludente. Muitas vezes as
comunidades ficam marginalizadas da sociedade. Isso ocorre
por causa do processo de desenvolvimento desenfreado
das redes urbanas, que acabam por deixar de lado essas
populações e até, muitas vezes, acabam expulsando
os moradores de seus territórios originais.
Desmatamento e Degradação
Muitos são os fatores que implicam na destruição
da Mata Atlântica. Um deles é o avanço das cidades
espontâneas, ou seja, aquelas que não são planejadas
e acabam por crescer “desgovernadamente”. Esse tipo de
crescimento não leva em conta os remanescentes florestais,
o que faz com que o bioma seja destruído. Além disso, sem
um prévio estudo da melhor maneira de se expandirem,
muitos desastres acabam por ocorrer, como deslizamentos
e enchentes.
Outro fator é o da construção de hidrelétricas, em
especial em duas regiões: na da Bacia do Rio Uruguai, que
fica na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul,
e na da Bacia da Ribeira de Iguape, divisa de São Paulo
com Paraná. Quando foram construídas, as hidrelétricas
alagaram grande parte das áreas ao redor, acabando com a
biodiversidade daqueles pontos.
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
21 de setembro: Dia da Árvore
Um terceiro fator é a atividade mineradora. As regiões
do sul de Santa Catarina e as áreas de Minas Gerais e
Espírito Santo têm essa atividade ocupando um alto número
de hectares da floresta, o que significa que os montantes de
impactos ambientais negativos também são grandes.
Outra questão importante é o avanço das monoculturas
de árvores exóticas e da própria agricultura feita sem
planejamento, ordenamento ou controle dos governos
estaduais. O desmatamento feito para o plantio de exóticas
e de grãos é responsável pela maior parte da atividade
destruidora dessas áreas.
No dia 21 de setembro, comemoramos
o Dia da Árvore. Formalizada há 30 anos no
Brasil, esta data relembra os laços do nosso povo
com a cultura indígena. Um desses laços é o amor
e respeito pelas árvores.
Dia 21 marca também a chegada da primavera
no hemisfério sul. Uma das mais belas estações
assinala um novo ciclo para o meio ambiente,
na qual se recupera a vida na natureza, após os
meses de silêncio do inverno.
Fontes:
Almanaque Brasil Socioambiental - ISA 2008 - Mundo
de Sabores - www.mundodesabores.com.br
WWF Brasil - www.wwf.org.br
Instituto Ambiental Nova - www.diadaarvore.org.br
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Meio Ambiente
CURIOSIDADES
A cobertura florestal da Mata Atlântica já ocupou
quase 15% do território nacional. Hoje, apenas
8% da cobertura original está intacta.
Segundo as metas da Conservação da
Biodiversidade, precisamos ter 10% de cada
bioma preservado em unidades de conservação
para que este não entre em extinção em poucos
anos. No entanto, o índice da Mata Atlântica mal
chega a 3%.
A Reserva Biológica de Uma, na região sul da
Bahia, possui a maior diversidade de árvores do
mundo: cerca de 450 espécies diferentes em
apenas um hectare de mata. (dados obtidos
através de um estudo realizado por técnicos do
Jardim Botânico de Nova Iorque, em 1993)
A UNESCO reconheceu, no começo da década
de 90, parte da Mata Atlântica como Reserva
da Biosfera. Com uma área total de 290 mil
km2, a Reserva estende-se por cerca de 5 mil
quilômetros ao longo da costa brasileira.
Ao todo, existem quatro espécies de micos-leões,
todas exclusivas do Brasil: o mico-leão-dourado,
residente da Mata Atlântica de Baixada Costeira
do estado do Rio de Janeiro; o mico-leão-dacara-dourada, que mora na região cacaueira do
sul da Bahia; o mico-leão-preto, residente do
Morro do Diabo, Pontal do Paranapanema (SP);
e o mico-leão-da-cara-preta, encontrado
na região do Lagamar (Paraná e São Paulo).
Destaque para o último, que foi descoberto
apenas em 1990.
w w w. n e o m o n d o. o r g . b r
A Mata Atlântica abriga o primeiro parque
nacional brasileiro: o Parque Nacional de Itatiaia.
Criado em 14 de junho de 1937, entre os estados
do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, abriga 360
espécies de aves e 67 espécies de mamíferos.
32
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
Mondo - Setembro
2008
NEO MONDONeo
- Janeiro/Fevereiro
2015
Te l . : ( 1 1 ) 2 6 1 9 - 3 0 5 4
A
33
Especial
METAS DO MILÊNIO
Outro destaque do relatório é a correlação entre a água
e as 8 metas de desenvolvimento do milênio.
Conheça, abaixo, os principais pontos:
ERRADICAR A EXTREMA
POBREZA E A FOME
A água é fator crucial de produção, desde a agricultura até o setor de serviços. Segurança
alimentar e nutrição adequada reduzem a suscetibilidade às doenças, incluindo diarreia,
HIV/AIDS, malária e outras. O acesso à eletricidade é essencial para aprimorar a qualidade
de vida. Um dos principais alvos é reduzir pela metade, entre 1990 e 2015, a proporção
de pessoas cuja renda diária é inferior a US$ 1 e alguns indicadores estão diretamente
relacionados ao emprego de recursos hídricos.
ATINGIR O ENSINO
BÁSICO UNIVERSAL
A promoção de um ambiente escolar saudável é primordial para atingir o ensino básico
universal. Neste aspecto, o acesso à agua potável e saneamento básico nas escolas é
essencial.
A ÁGUA E OS 8 OBJETIVOS
DO MILÊNIO DA ONU
por Eleni Lopes
Relatório Water, a Shared Responsibility traça paralelo entre o
uso da água e as Metas de Desenvolvimento Global do Milênio
Foto: Shutterstock, Copyright: Klemen Misic
C
erca de 20% da população mundial ainda não tem acesso
à água potável em razão de políticas fracassadas, afirma
o Relatório “Water, a Shared Responsibility” (Água,
uma Responsabilidade Compartilhada), desenvolvido pela
Organização das Nações Unidas (ONU).
O documento afirma ser preciso melhores lideranças para que
se cumpram as metas de diminuição do número de pessoas
sem água até 2015. Descrito como o mais amplo levantamento
já feito sobre as fontes de água potável no mundo, o relatório
afirma que políticos, empresas e agências de ajuda humanitária
têm todos um papel a cumprir para sanar o problema.
A ONU alerta ainda que, a não ser que exista um aperfeiçoamento,
34
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
PROMOVER A IGUALDADE ENTRE OS
SEXOS E A AUTONOMIA DAS MULHERES
Garantir a participação feminina nas decisões relacionadas aos recursos hídricos é
um dos requisitos levantados pelo relatório da ONU para o alcance desta meta,
especialmente pela sua representividade nos esforços pelo desenvolvimento.
regiões como a África subsaariana não vão alcançar as Metas de
Desenvolvimento Global do Milênio de cortar pela metade a
proporção de pessoas sem acesso à água potável entre 1990 e 2015.
As mudanças climáticas globais também estão tendo impactos.
O relatório descobriu que rios e depósitos de água de muitas
regiões estão secando devido à pouca quantidade de chuva e
índices de evaporação mais altos.
A rápida urbanização em países em desenvolvimento está
afetando a habilidade de seus moradores de conseguirem
água, segundo o relatório. Governos e autoridades locais não
conseguiram expandir rapidamente as redes de distribuição de
água para atender a todos que se mudam para as cidades.
REDUZIR A MORTALIDADE INFANTIL
Melhorias no acesso à água potável e saneamento básico são fundamentais na
prevenção da diarreia, uma das principais causas da mortalidade infantil, bem
como da esquitossomose e outras doenças infantis.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
35
Especial
CURIOSIDADES E ESTATÍSTICAS
MELHORAR A SAÚDE MATERNA
Complicações na gravidez ou no parto matam mais de meio milhão de mulheres
por ano e cerca de 10 milhões ficam com sequelas. O relatório destaca a
importância da água limpa no pré e pós-parto, além da alimentação adequada e
do saneamento básico na gravidez.
COMBATER O HIV/AIDS,
A MALÁRIA E OUTRAS DOENÇAS
E, mais uma vez, água potável, alimentação adequada e saneamento básico são essenciais para
que este objetivo seja alcançado.
Irrigação e produção de alimentos constituem as maiores pressões sobre os recursos de água doce. A agricultura
é responsável por cerca de 70% do emprego mundial de água doce.
O custo de adaptação aos impactos de um aumento
de 2°C na temperatura média global pode variar de
US$ 70 a US$ 100 bilhões por ano entre 2020 e
2050, segundo o Banco Mundial.
De acordo com o Relatório Mundial de
Desenvolvimento da Água da ONU, é por meio da
água e sua qualidade que as pessoas vão sentir o
impacto da mudança climática mais drasticamente.
A coleta de água deve se tornar cada vez mais difícil
devido às mudanças climáticas. As pessoas que vivem
num raio de 60 quilômetros da costa marítima - um
terço da população do mundo - serão especialmente
atingidos, pois são mais suscetíveis ao aumento da
salinidade das fontes de água potável costeiras.
Para o Programa Mundial de Avaliação da Água, a
variabilidade climática, a gestão dos recursos hídricos
e o desenvolvimento econômico estão intimamente
ligados. Vulnerabilidade aos desastres naturais
que afetam o abastecimento de água prejudica o
desempenho econômico.
Segundo a Unesco, existem 276 bacias hidrográficas
transfronteiriças no mundo (64 na África, 60 na
Ásia, 68 na Europa, 46 na América do Norte e 38 na
América do Sul).
O volume total de água na Terra é de cerca de 1,4
bilhão de km³. O volume de recursos de água doce
é de cerca de 35 milhões de km³ , ou cerca de 2,5%
do total. Desses recursos de água doce, cerca de
24 milhões de km³, ou 70%, estão na forma de
gelo e cobertura de neve permanente em regiões
montanhosas, na Antártida e no Ártico.
A ONU sugere que cada pessoa precisa de 20 a 50
litros de água por dia para garantir suas necessidades
básicas. Hoje 2,5 bilhões de pessoas - quase um
bilhão de crianças - vivem sem saneamento básico.
A cada 20 segundos, uma criança morre por
complicações decorrentes da falta de saneamento.
Cerca de 90% das águas residuais nos países em
desenvolvimento flui sem tratamento para rios,
lagos e zonas costeiras.
GARANTIR A SUSTENTABILIDADE
AMBIENTAL
Ecossistemas saudáveis são essenciais para a manutenção da biodiversidade e do
bem-estar humano. Dependemos deles para água potável, segurança alimentar e
uma grande gama de bens e serviços.
ESTABELECER UMA PARCERIA MUNDIAL
PARA O DESENVOLVIMENTO
A importância estratégica dos recursos hídricos deve ser fator-chave nas decisões governamentais,
uma vez que contribuem para o desenvolvimento social, ambiental e econômico. Parcerias para
o desenvolvimento devem reconhecer o papel fundamental da água potável e do saneamento
básico para o desenvolvimento social e econômico.
36
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
Foto: Shutterstock, Copyright: Gary Yim
37
Água
ATÉ A ÚLTIMA
GOTA
Olivia Alonso | Valor
Represa Jaguarí - Sistema Cantareira
Por Lilian Mallagoli
São Paulo vive a maior crise
hídrica dos últimos 84 anos.
Ainda que a falta de chuva tenha
contribuído, poluição, vazamentos,
falta de planejamento e a
cultura de abundância são causas
determinantes para esse panorama
D
os 43,6 milhões de habitantes do estado de São Paulo,
9,8 milhões, ou mais de 22%, recebem água do reservatório
do Sistema Cantareira. Em maio, sua capacidade chegou
a apenas um dígito pela primeira vez na história: 9,2%, segundo
a Companhia de Saneamento Básico (Sabesp). Um ano antes, esse
índice era de 60%.
A taxa em constante declínio passou a ser acompanhada
diariamente pela população, como em uma contagem regressiva.
Chegando a zero, como será o abastecimento? O que houve para
o estado mais rico do Brasil perder o controle sobre um dos seus
principais reservatórios em um período tão curto?
De fato, choveu menos no sistema formado principalmente
pelos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A média histórica de
chuvas é de 259 mm em janeiro e, este ano, foram registrados
87 mm. Nunca choveu tão pouco desde o início da medição,
há 84 anos.
Especialistas afirmam, contudo, que a chuva não pode ser a única
culpada. Outros países passam por estiagens e seus cidadãos não
ficam sem água potável. “O fenômeno meteorológico ocorrido faz
parte dos ciclos naturais de variação da frequência e intensidade
das precipitações que não podem ser ignorados nos projetos dos
sistemas de abastecimento de água, que devem ter capacidade
para atender os usuários”, divulgou em seu blog o engenheiro
e consultor em saneamento e meio ambiente Julio Cerqueira Cesar
Neto, um dos maiores nomes na área. “A seca no Cantareira se
deve à ausência de investimentos pelo governo estadual (Sabesp)
em novos mananciais para a Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) após a conclusão do próprio Sistema Cantareira, há
30 anos, período no qual a população aumentou de 12 milhões
para 22 milhões de habitantes”, completou.
Pelo ralo
O Brasil é o quarto maior consumidor de água no mundo, atrás da
China, Índia e Estados Unidos. Pode-se dizer que o País tem posição
de vantagem – concentra 12% da água doce do globo, mas apenas
3% da população mundial. Porém, boa parte dessa água está em
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- JJan
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Água
FERNANDO DE NORONHA:
PROBLEMAS NO PARAÍSO
www.ulbra.br/gravatai
Volume morto
Em março, a Sabesp iniciou obras de R$ 80 milhões para
a captação do “volume morto”, água que fica no fundo do
reservatório, abaixo dos tubos que puxam e mandam água para
as estações; serão 200 bilhões de litros retirados dos 400 bilhões
existentes.
Começou a ser usado em 15 de maio, quando o nível do
sistema pulou de 8,2% para 26,7%. Porém, chegou a 25,7%
no dia 19, mesmo depois de ter chovido no sistema. Técnicos
afirmaram que a chuva não recuperaria a água porque o solo,
totalmente seco, a absorveria no primeiro momento. Até o chão
tem sede.
Também em março, foi anunciado que a ilha de Fernando de
Noronha sofria a pior seca dos últimos 50 anos. A região estava
sem chuva desde junho de 2013, o que secou seu principal
açude, e os mais de 3 mil habitantes e turistas estavam sujeitos
a cortes de água e sobreviviam com o que vinha da única usina
dessalinizadora do local, que transforma água do mar em
potável, insuficiente para todos. A prefeitura dividiu o território
em oito áreas, e cada uma passou a receber água a cada nove
dias. Houve protestos e o bloqueio da única estrada da ilha.
Com produção de 27 m3 por hora, a água da dessalinizadora
é distribuída por caminhões-pipa nos 17 km da ilha.
A Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa)
propôs então uma obra emergencial de ampliação, com custo
de R$ 4,7 milhões, que permitiria a dessalinização de 60 m3 por
hora, e que acabaria com o problema. A obra tem previsão de
ficar pronta em setembro.
Mas talvez São Pedro seja mais amigo do administrador-geral
de Noronha do que do governador de São Paulo: do fim de
março a 15 de abril, choveu 240 mm na ilha, o correspondente
a 85% da média para todo o mês.
Açude do Xaréu
Divulgação
Marcelo Jorge Loureiro
regiões remotas, e áreas urbanizadas são consideradas propensas
a enfrentar escassez e exigem mais planejamento e ação, de acordo
com a Agência Nacional de Águas (ANA). Ainda que haja bacias em
volta da capital, a água tem péssima qualidade devido ao esgoto não
tratado e lançado diretamente em rios próximos. Esses rios também
correm para o interior, espalhando poluentes. A saída é buscar
o bem em regiões ainda mais distantes.
Técnicos estimam que entre 20% e 25% de toda a água produzida
no estado não chega a ser consumida por ninguém: simplesmente se
perde em vazamentos nas tubulações. A quantidade parece razoável
quando comparada à média brasileira de 40%, mas está longe das
de outros países: 10% na Europa e Estados Unidos e 8% no Japão.
Um levantamento da Sabesp mostrou que o sistema de
abastecimento tem mais de trinta anos de uso. Para atualizar essa
rede, é preciso investimento, os custos podem se tornar incalculáveis
quando se considera a interrupção de circulação e a quebra das vias.
Trazer água de cada vez mais longe pode ser o meio mais barato
de prover abastecimento, mas é também o mais atrasado e, agora,
o menos possível.
Assim, o primeiro passo para economizar é evitar o desperdício
e reeducar a população brasileira acostumada à abundância.
É necessário trocar equipamentos hidráulicos antigos: os vasos
sanitários, por exemplo, foram projetados para eliminar 20 litros de
água por descarga; em 1982, uma norma passou a recomendar seis
litros.
Em larga escala, o reúso da água é a melhor solução para a crise.
É possível tratar a água usada no chuveiro ou na máquina de lavar
para usar em carros e quintais. Pode-se também purificar o que vai
para o esgoto; apesar de soar anti-higiênica, a técnica funciona
e leva água potável para as torneiras. Os 3 milhões de habitantes
de Orange County, na Califórnia (EUA), bebem dessa água
há décadas, além dos turistas que visitam o local
e que não são poucos: a cidade abriga
a Disneylândia.
Estação de Dessalinização
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Reuters | Paulo Whitaker
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Aquecimento global
DESESPERO
NO GELO
De acordo com o Painel Intergovernamental em
Mudança do Clima (IPCC), da Organização das Nações
Unidas (ONU), o século XX foi o mais quente dos
últimos cinco, com aumento de temperatura
média entre 0,3°C e 0,6°C
Por Eleni Lopes
42
NEO
O MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
Onda de calor? Culpa
do aquecimento global.
Esfriou demais? Debita
na conta do efeito
estufa. Tsunamis?
Furacões? Seca? El Niño?
Aumento do nível dos
mares? O responsável
é sempre o mesmo.
P
ara melhor entender este cenário, imagine a
Terra como um carro estacionado sob o Sol.
Os raios solares entram pelas janelas do carro;
uma parte do calor é absorvida pelos assentos,
painel, carpete e tapetes. Quando esses objetos
liberam o calor, este não sai pelas janelas por
completo. Uma parte é refletida de volta para o
interior do carro. O calor irradiado pelos assentos
é de um comprimento de onda diferente do da luz
do Sol que entrou pelas janelas. Então uma certa
quantidade de energia entra e menos quantidade de
energia sai. O resultado é um aumento gradual na
temperatura interna do carro. No nosso paralelo com
a Terra, quando os raios solares chegam à atmosfera
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
43
Aquecimento global
e à superfície do planeta, aproximadamente 70% da
energia fica no planeta, absorvida pelo solo, pelos oceanos,
pelas plantas e outros. Os 30% restantes são refletidos no
espaço pelas nuvens e outras superfícies refletivas. Mas,
mesmo os 70% que passam, não ficam na Terra para
sempre (se isso acontecesse ela se tornaria uma bola de
fogo). Parte vai para o espaço e o resto é refletido em gases
ao redor da atmosfera, tais como dióxido de carbono, gás
metano e vapor de água (conheça mais no box). O calor
que não sai pela atmosfera terrestre mantém o planeta mais
quente do que o espaço sideral, porque mais energia está
entrando pela atmosfera do que saindo. Isso tudo faz parte
do chamado efeito estufa.
Desta forma, o aquecimento global é uma consequência
das alterações climáticas ocorridas no planeta. De acordo
com o Painel Intergovernamental em Mudança do Clima
(IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), o século
XX foi o mais quente dos últimos cinco, com aumento de
temperatura média entre 0,3°C e 0,6°C. Esse aumento
pode parecer insignificante, mas é suficiente para modificar
todo clima de uma região e afetar profundamente a
biodiversidade, desencadeando vários desastres ambientais.
Cenário alarmista?
Em 1997, em busca de alternativas para minimizar o
aquecimento global, 162 países assinaram o Protocolo de
Kyoto. Nele, as nações desenvolvidas se comprometiam
a reduzir as emissões de gases que provocam o efeito
estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990.
Essa meta teria que ser cumprida entre 2008 e 2012.
Dezessete anos depois da assinatura, uma certeza: muito
pouco foi feito.
Qual o impacto de promessas não cumpridas, iniciativas
que não saíram do papel? Alguns exemplos:
- O derretimento das calotas polares é um fenômeno
verificado nas últimas décadas e está diretamente relacionado
ao aquecimento global. Estudo recente divulgado pela
também merece atenção. No Nordeste, o aumento das temperaturas poderá oscilar, nas próximas décadas, entre 2ºC e 4ºC.
De acordo com o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o principal e mais alarmante efeito possível do aquecimento
global no Brasil é a redução da Floresta Amazônica, que poderá perder entre 30% e 50% de seu território durante o século XXI.
Um estudo do Banco Mundial, intitulado “Impactos da Mudança Climática na Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e
Oportunidades no Nordeste do Brasil”, aponta ainda que a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas no Nordeste
continuarão aumentando até 2050, com graves efeitos para a população, caso os governos locais não invistam em infraestrutura
e gestão hídrica.
Gases tóxicos
Conheça um pouco mais dos gases que contribuem para o aumento do efeito estufa:
revista Science mostra que o derretimento anual de 4.260
bilhões de toneladas de gelo na Antártida e na Groenlândia,
em um período de quase 20 anos, aumentou em 11
milímetros o nível do mar — o equivalente a um quinto do
aumento observado no período.
- Os efeitos mais devastadores e também os mais difíceis
de ser previstos são aqueles na biodiversidade. Muitos
ecossistemas são delicados e a mais sutil mudança pode
matar várias espécies. E mais: a maioria dos ecossistemas
são interconectados então a reação em cadeia dos efeitos
é hoje imensurável.
- Outras consequências do aquecimento global
são a desertificação, alteração do regime das chuvas,
intensificação das secas em determinados locais, escassez
de água, abundância de chuvas em algumas localidades,
tempestades, furacões, inundações, alterações de
ecossistemas, redução da biodiversidade, perda de áreas
férteis para a agricultura, além da disseminação de doenças
como a malária, esquistossomose e febre amarela.
- O IPCC estima que o nível do mar tenha subido 17
centímetros durante o século 20. Projeções feitas por
cientistas mostram que até 2100 o nível do mar vai subir
de 18 a 55 cm.
Impacto no Brasil
O Brasil, por ser um país com dimensões consideradas
continentais, acaba, inevitavelmente, ficando mais
exposto aos riscos provocados pelo aquecimento
global. Além disso, uma considerável parte
de seu território encontra-se próxima à
Linha do Equador, zona da Terra que
recebe os raios solares de forma
mais intensa. Além disso,
o fato de o território
brasileiro apresentar
uma
extensa
faixa litorânea
- Dióxido de carbono (CO2): gás incolor, subproduto da combustão de matéria orgânica. A atividade humana bombeia
enormes quantidades de CO2 na atmosfera. O aumento de sua concentração é considerado o fator primário no aquecimento global, porque o CO2 absorve radiação infravermelha.
- Óxido Nitroso (N2O): embora as quantidades liberadas pela atividade humana não sejam tão grandes quanto as de
CO2, o óxido nitroso absorve muito mais energia do que CO2 (cerca de duzentas e setenta vezes mais). Por esse motivo, os
esforços para que sejam reduzidas as emissões de gás estufa têm sido direcionados para o N2O também.
- Metano: principal componente do gás natural, ocorre naturalmente, oriundo da decomposição de material orgânico.
Atividades desenvolvidas pelo homem produzem o metano de várias formas, como, por exemplo:
• extração do carvão;
• a partir de grandes rebanhos de gado (por exemplo, gases digestivos);
• decomposição do lixo em aterros.
Urso polar: vítima inocente
Habitante das terras geladas do Ártico, o urso polar
sobrevive a uma temperatura que varia de -37°C a -45°C,
graças a duas camadas de pele e uma camada de gordura
de 11,5 cm de espessura que fazem o isolamento térmico
de seu corpo. O animal é encontrado apenas em cinco
países: Estados Unidos, Canadá, Rússia, Noruega e
Groenlândia.
Carismáticos, são considerados os símbolos do
aquecimento global. A espécie está classificada como
“vulnerável” pela União Internacional para a Conservação
da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), com oito das
dezenove subpopulações em declínio.
O principal perigo causado pela mudança climática é
a desnutrição e inanição devido à perda do habitat. Os
ursos-polares caçam focas nas plataformas de gelo, e a
elevação da temperatura pode fazer com que o gelo do
mar derreta mais cedo a cada ano, levando os ursos para
a costa antes de terem constituido reservas de gordura
suficientes para sobreviver ao período de carência
alimentar no final do verão e início do outono. A redução
da cobertura de gelo também força os ursos a nadarem
longas distâncias, o que esgota ainda mais seus estoques
de energia e, ocasionalmente, leva ao afogamento.
Além de criar estresse nutricional, o aquecimento
climático afeta vários outros aspectos da vida do ursopolar, como a capacidade das fêmeas grávidas em construir
tocas de maternidade adequadas devido às mudanças nas
plataformas de gelo. Doenças causadas por bactérias e
parasitas também podem se estabelecer mais rapidamente
num clima mais quente, afetando a espécie.
China, Estados Unidos, Rússia, Índia, Brasil, Japão, Alemanha, Canadá, Reino Unido
e Coreia do Sul são os principais emissores dos gases do efeito estufa.
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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À NOVA FASE
DE ABROLHOS
Localizado no extremo sul da Bahia, na região de maior biodiversidade
do Atlântico Sul e um dos principais berçários de baleias jubartes do
mundo, o Parque Nacional Marinho de Abrolhos, com 880 km², recebe
recursos para consolidação das unidades de conservação
Por Andreza Taglietti
A
quisição de botes e lanchas.
Manutenção
de
motores.
Equipamentos
de
vigilância.
Segurança. Poluição ambiental. Mudanças
climáticas. Reservas extrativistas. Pesca
predatória. Peixe budião-azul. Baleia
jubarte. Fiscalização. Uso sustentável
dos recursos naturais. Conservação de
uma extensão de 880km2. Medida certa
do turismo. Legislação. Mobilização da
sociedade civil. Colaboração. Pessoas.
Mais pessoas.
Como faz?
Todos esses itens estão no dia a dia dos
gestores do Parque Nacional Marinho
dos Abrolhos, localizado no extremo Sul
da Bahia - em uma das regiões de maior
biodiversidade do Atlântico Sul e um dos
principais berçários de baleias jubarte do
mundo. O Parque é um Posto Avançado
da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
desde 2003 e Sítio RAMSAR desde 2010,
títulos que evidenciam a importância do
local mundialmente.
Há três meses, outro assunto entrou na
pauta dos gestores de Abrolhos - uma
fatia do investimento de US$ 116 milhões
que serão destinados às áreas protegidas
costeiras e marinhas do País nos próximos
cinco anos por um programa chamado
GEF Mar. O valor inclui R$ 18 milhões
do Fundo Global para o Meio Ambiente
(GEF) e US$ 98 milhões em recursos de
contrapartida da Petrobras e do governo
brasileiro (US$ 90 milhões da empresa e
US$ 8 milhões somados do ICMBio e do
Ministério do Meio Ambiente).
De acordo com Ricardo Jerozolimski, chefe
do Parque, esse investimento será muito
importante para o apoio à consolidação
das unidades de conservação (UCs)
envolvidas no programa. Ajudará também
na aquisição de mais embarcações,
instalações e manutenção de centro de
visitantes, contratação de serviços e nos
projetos de ampliação da proteção das
áreas marinhas.
Abrolhos Hoje
Em 2013, Abrolhos recebeu 4.344 visitas, 6% a mais que no
ano anterior. Foram realizadas doze pesquisas científicas, sendo
duas expedições para realização do monitoramento recifal
(Reef-Check). Além disso, o Conselho Consultivo foi renovado e
foi publicada a Portaria de Autorização de Uso para as empresas
que operam turismo no Parque.
expedições e os
monitoramentos
acontecem já há
muitos anos, como
a observação de aves,
baleias e corais”.
Foto: Divulgação
Meio Ambiente
que
recebe
estudantes do
ensino médio e superior
de várias escolas brasileiras e do
exterior para atividades de, no mínimo,
vinte dias acompanhando os monitores
no arquipélago e no continente.
“Além do turismo, nós prestamos apoio
para a realização de pesquisas científicas
e monitoramentos da biodiversidade ao
longo de todo ano”, conta Jerozolimski.
“Mantemos um alojamento no arquipélago,
o que possibilita a realização de diversas
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
Hoje, o conselho é formado por 22
instituições que representam diferentes
setores da sociedade civil e governo.
Ao longo dos 30 anos de existência, as
relações com a população local tiveram
diferentes momentos. “Atualmente,
temos desenvolvido e apoiado diversas
atividades de educação ambiental
e comunicação comunitária junto à
comunidade local, buscando uma
Segundo Jerozolimski, o ICMBio tem
investido bastante na capacitação de
seus servidores em diversas áreas do
conhecimento. Para trabalhar no Parque,
o profissional deve ter afinidade com
assuntos relacionados ao bioma marinho,
principalmente turismo, pesquisa e
fiscalização. As unidades de conservação
marinhas da região estão iniciando um
planejamento integrado de ações que
possibilitará aumentar a efetividade dos
resultados da gestão.
Pesca
A equipe é composta hoje por três servidores, sendo dois analistas
ambientais e um técnico ambiental. Há também funcionários
terceirizados que dão suporte para as atividades que são
desenvolvidas - vigilantes patrimoniais, serviços gerais, monitores
ambientais e tripulação, somando cerca de vinte funcionários.
O parque conta também com o Programa de Voluntariado,
A crise mundial da pesca está forçando
pescadores a recorrer a soluções
questionáveis em busca dos melhores
peixes. Em Abrolhos, a pesca ilegal e a
sobrepesca são constantes, os pescadores se
arriscam bastante e há populações marinhas
que estão sendo reduzidas a menos de
50%. “A comunidade local trabalha muito
e ajuda a manter e criar as reservas. O
grande problema são os pescadores que
não fazem parte desse grupo. Eles têm a
filosofia de “pescar até acabar” e não estão
interessados num diálogo mais amplo”,
diz Guilherme Dutra, diretor do Programa
Marinho da organização Conservação
Internacional (CI Brasil).
“Colaboração e incentivo são necessários
para que as pessoas entendam que manter
algumas áreas onde a pesca seja proibida
pode ser benéfico, pois, esses locais, ao
serem protegidos, permitem às espécies
terem lugares para se alimentar, abrigar e
reproduzir”, ressalta Jerozolimski. O peixe
budião-azul, por exemplo, corre risco de
46
Algumas
atividades
são
realizadas em conjunto com a
Resex do Corumbau e com a Resex do
Cassurubá, o que permite a integração de
planejamentos para otimizar a infraestrutura
e de pessoal nas unidades de conservação
marinhas da região. As parcerias com
instituições
colaboradoras
também
fortalecem a gestão destas unidades.
aproximação cada vez maior”, conta
Jerozolimski. Esse relacionamento deve se
intensificar com a retomada das discussões
sobre a ampliação e criação de novas
unidades de conservação federais na
região. O ICMBio tem também uma grande
aproximação com a população local, por
meio da gestão das reservas extrativistas da
região, que possuem o objetivo principal de
manter áreas para as populações tradicionais
beneficiárias fazerem o uso sustentável dos
recursos naturais.
extinção. “Ele é um peixe importante
porque se alimenta de algas que crescem
nos corais. Sem o budião-azul, há um
desequilíbrio nos recifes, as algas crescem
muito, sufocam e matam os corais”,
explica Guilherme Dutra.
mais tempo debaixo d´água - o tempo
que quiserem. E traz à tona uma série
de riscos para os pescadores, tais como
mortes, ferimentos e outras sequelas, por
conta da respiração coordenada de
forma incorreta.
Pesca de mergulho ou pesca de
compressor. O porto de Alcobaça é o maior
centro dessa prática na região. O pescador
mergulha em altas profundidades,
com apenas um arpão na mão e uma
mangueira de ar entre os dentes, em
busca de badejos e garoupas entocados
nos recifes, os quais nem as redes
e nem os anzóis conseguem levar
para a superfície - e praticamente
já desapareceram de água mais
rasas, pescados à exaustão. O ar
é bombeado da superfície por
compressores acoplados ao
motor do barco, em vez de
carregado nas costas de um
cilindro. Isso permite que os
pescadores passem muito
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Meio Ambiente
O problema no caso das garoupas e
badejos, o alvo favorito dessa atividade, é
que os peixes mais visados pelos caçadores
são justamente aqueles que não se
deveria matar. Eles são hermafroditas.
Todos nascem fêmeas e apenas alguns
indivíduos se tornam machos dentro de
uma população.
São os peixes maiores e, portanto, os
mais cobiçados pelos caçadores. Nessas
espécies, a proporção é de um macho
para cada dez fêmeas. Quando um
macho é removido da população, uma
região e de outras
partes
do
país
para atividades de
Educação Ambiental.
Turismo
O mergulho autônomo
no interior do Parque pode
ser realizado em recifes ao
redor das ilhas, chapeirões
(que são estruturas recifais que
só existem em Abrolhos), naufrágios
e mergulho noturno. Para isso, a
presença de condutores de mergulho
é obrigatória. Eles são mergulhadores
profissionais da comunidade local treinados
para levar os turistas para mergulhar no
Parque, contribuindo para uma maior
segurança e controle de possíveis impactos
ambientais. O turista também pode fazer
uma caminhada em uma das ilhas do
arquipélago e ver de perto colônias de aves
marinhas, a vegetação e a geologia do
local.
A visibilidade e temperatura da água, aliada
a grande diversidade de vida, fazem do
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos
um dos melhores lugares para a prática do
mergulho contemplativo do Brasil. O Parque
está aberto à visitação e lá o turista tem a
oportunidade de conhecer e mergulhar
num local repleto de vida e história. De
julho a novembro, a região recebe a visita
de milhares de baleias jubarte, que vêm
dos mares da Antártida para se acasalar e
reproduzir e se tornam a grande atração
para os turistas, que podem vê-las a cem
metros de distância. O Centro de Visitantes
em Caravelas é uma grande atração do
extremo sul baiano e recebe escolas da
O turismo pode gerar, além de empregos
e renda para a população local, a
conscientização das pessoas e motivar a
vontade de conhecer cada vez mais e se
engajar na conservação do meio ambiente.
Todavia, como qualquer outra atividade,
precisa ser controlada e bem administrada.
Para isso o Parque tem um Plano de Uso
Público desde 2005, que organiza e define
os locais para visitação, as normas e as
atividades. As operadoras estão alinhadas
com os gestores e estão passando pelo
momento de credenciamento, segundo
as novas prerrogativas da Portaria de
Autorização de Uso. Os barcos privados
que levam os turistas partem de Caravelas
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
Perspectivas
fêmea dominante muda de sexo para
ocupar seu lugar, mas a transformação
não é imediata, e só terá efeito prático na
reprodução do ano seguinte.
Os profissionais envolvidos na gestão do Parque têm boas
perspectivas para o novo momento de Abrolhos. Em janeiro,
foi lançada a campanha “Adote Abrolhos” (vide box), além
do investimento anunciado pelo Fundo Global para o Meio
Ambiente (GEF). Ricardo Jerozolimski diz que o pior momento
de uma unidade de conservação é quando ela não tem
perspectivas de curto, médio ou longo prazos. “No caso do
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, com a perspectiva
“A expectativa é mudar o que temos hoje e
adotar um modelo de pesca sustentável na
região. Para isso, o primeiro passo é fazer
um diagnóstico – como está a pescaria
hoje? Como mudar a prática da pesca
dentro de um equilíbrio considerando
estoque e capacidade de reposição das
espécies?”, diz Guilherme Dutra.
atual da entrada de recursos, com a vinda prevista de mais dois
servidores, com a crescente gestão integrada entre as áreas
protegidas da região e com o grande apoio das ONGs envolvidas
em campanhas como a Adote Abrolhos, vejo a unidade em
um momento bem promissor”. Guilherme Dutra aposta numa
mudança de realidade. Segundo ele, também é preciso olhar
para a ampliação da proteção das unidades, criar outras reservas
e fazer uma gestão integrada das áreas protegidas.
Vale visitar:
Acervo Museu da Pessoa
O Museu da Pessoa, que há 20 anos registra histórias de indivíduos para
transformá-las em fontes de conhecimento, destacou em seu acervo
histórias de quem cultiva uma estreita ligação com o mar e, desde cedo,
aprendeu a respeitar as espécies marinhas. O Museu da Pessoa é um
museu virtual e colaborativo de relatos de vida. Toda e qualquer pessoa é
convidada a contar histórias e a explorar o acervo de narrativas em textos,
imagens, vídeos e áudios. http://www.museudapessoa.net/
(Bahia) e têm dispositivos para minimizar
a poluição ambiental. “O turismo é uma
atividade muito importante para Abrolhos e
gera renda para a região. Temos conversado
muito com as operadoras para incentiválo e fomentá-lo de forma responsável.
Precisamos viabilizar outras maneiras
de acesso ao parque. Hoje o aeroporto
mais próximo é o de Porto Seguro”,
diz Guilherme Dutra.
Saiba Mais:
Campanha
Adote Abrolhos
Os hotéis da região, restaurantes e postos
de gasolina contribuem para que o turista
faça um bom passeio ao Parque. Os
governos municipais e estaduais estão
mostrando cada vez mais interesse em
impulsionar o turismo no local, como a
implementação da Câmara de Turismo da
Costa das Baleias pelo Governo do Estado
da Bahia, as parcerias com o SEBRAE e os
programas do Ministério do Turismo.
Com o objetivo de aumentar a proteção da região de Abrolhos,
importante para a biodiversidade e a economia brasileiras, a
Aliança para a Conservação Marinha – uma parceria entre as ONGs
Conservação Internacional (CI) e Fundação SOS Mata Atlântica –
lançou em janeiro a campanha “Adote Abrolhos – É do Brasil.
É do mundo. É nosso”.
Foto: Divulgação
A pesca de mergulho com compressor
tem potencial para ser a forma mais
seletiva e sustentável de pescaria no mar,
desde que a seleção dos peixes seja feita
de forma ecologicamente correta, sem
prejuízo para a reprodução das espécies.
Do ponto de vista legal, a pesca de
compressor não é regulamentada, mas
também não é proibida explicitamente
em nenhuma lei para a captura de peixes,
apenas de lagosta.
Por meio de ferramentas online, como um álbum de figurinhas
virtual e um concurso cultural que selecionará quatro ganhadores
para visitar a região, a iniciativa tem o objetivo de engajar o público
em ações que contribuam para a conservação de Abrolhos, para
apoiar a implementação e criação de áreas marinhas protegidas e
para o desenvolvimento sustentável da pesca e do turismo.
A campanha foi criada para aumentar a proteção da região com a
maior biodiversidade marinha de todo o Atlântico Sul. No entanto, a
área sofre diversas ameaças, como a pesca excessiva, o desmatamento
nas bacias hidrográficas, as mudanças climáticas, entre outras.
“Criamos a campanha pela necessidade de ampliar a proteção da
região, melhorar a saúde do nosso oceano e tornar a pesca uma
atividade sustentável. Os ambientes marinhos oferecem inúmeros
serviços para a sociedade. Por isso, criamos o mote ‘É do Brasil. É do
mundo. É nosso’. Precisamos protegê-los com urgência”, afirma
Guilherme Dutra, diretor do programa marinho da Conservação
Internacional (CI-Brasil).
O público-alvo da campanha são jovens conectados com as mídias
sociais, pessoas sensibilizadas pela causa ambiental, moradores
de grandes centros urbanos e da zona costeira, turistas de
verão e formadores de opinião. A ação informará e sensibilizará
a sociedade por meio de campanha publicitária e um concurso
cultural que selecionará quatro ganhadores para visitar Abrolhos.
Haverá ainda uma petição para pedir apoio dos internautas pelo
efetivo funcionamento das Unidades de Conservação (UCs) na
região e retomada do processo de ampliação da proteção de
Abrolhos com a criação de outras reservas.
“Adote Abrolhos – É do Brasil. É do mundo. É nosso.” conta
com o apoio de diversas organizações, como a Foundation Veolia
Environment e o The Pew Charitable Trusts, além de doadores
individuais. Empresas que investem na conservação da região,
como a Alpargatas/Havaianas, também ajudaram a tornar possível
a realização da campanha. A agência de publicidade Africa foi a
responsável pela concepção da campanha e a fez de forma pro
bono, como as atrizes Camila Pitanga e Maitê Proença, que também
abraçaram a causa. Preocupado com a qualidade do bem natural
que é base do esporte que pratica, o velejador Torben Grael gravou
um vídeo. Com isso, a campanha já começa com o apoio de um
importante grupo, como diversas instituições parceiras: Instituto
Baleia Jubarte (IBJ), Movimento Cultural Arte Manha, Ecomar,
Patrulha Ecológica, Instituto Amigos Reserva da Biosfera, Gambá –
Grupo Ambientalista da Bahia, Pangea e da operadora de turismo
de Caravelas, Horizonte Aberto. Diversos fotógrafos participarão da
iniciativa, publicando galerias de fotos da região.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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Lazer e Turismo
26 ANOS DE
UM PARAÍSO
Parque Nacional Marinho Fernando de
Noronha corresponde a cerca de 70% do
arquipélago de Fernando de Noronha
por Eleni Lopes
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO
O Parque está localizado num dos mais belos destinos
turísticos do Brasil, com grande beleza cênica, seja pelos
recursos naturais existentes no arquipélago ou pelos sítios
arqueológicos que contam mais de 500 anos de história do
País. Diante de um patrimônio tão rico, o controle e gestão da
visitação é um dos objetivos do ICMBio.
Uma das maiores áreas marinhas protegidas do Brasil, Araújo
lembra a singularidade da biodiversidade presente no Parque.
“A fauna aquática é composta por uma grande diversidade de espécies
de peixes, corais e vida associada. Temos também várias espécies endêmicas
no Parque, como as aves Sibito e a Cocoruta, a Mabuya, que é um lagarto
muito comum em todos os lugares”.
A área de educação ambiental para as crianças da ilha é apontada como o
desafio para os próximos anos. “As crianças são os futuros agentes sociopolíticos do
arquipélago. Devem ter maior acesso a programas extracurriculares e outras iniciativas que auxiliem
na sua formação. São os futuros agentes de transformação da ilha”, finaliza Araújo.
A PRAIA MAIS BONITA DO MUNDO
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O
Parque
Nacional
Marinho
Fernando de Noronha completou
26 anos em setembro. Há três anos
como chefe do parque, Ricardo Araújo ressalta
as melhorias conquistadas desde então. Entre elas,
o fortalecimento na relação com a comunidade da ilha
e a implantação do serviço de concessão, como enfatiza
Araújo, possibilitaram novas instalações para os visitantes.
“Hoje temos uma comunidade muito participativa na
preservação da unidade. Esta integração ocorreu desde a
criação do Parque”, pontua o chefe.
A criação do Parque tinha como objetivo a preservação
do exuberante cenário natural e a riqueza histórica que
tornam o arquipélago um destino cobiçado por turistas de
todo o mundo. A gestão é realizada pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) desde
sua criação, em 2007. “Estamos dando continuidade a
um trabalho de equipe que trouxe importantes mudanças,
como a implantação da concessão do parque, um maior
diálogo com a comunidade noronhense, a implantação
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NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
de um sistema de monitoramento
de atividades de uso público, além
de outras pequenas atividades do dia a dia que mudam
a vida dos usuários”, comenta Araújo.
Ao longo destes 26 anos, foram realizados
investimentos em Noronha que possibilitaram melhoria na
infraestrutura do parque, assegurando melhor qualidade
para os visitantes, requalificação das trilhas, equipamentos
para acessibilidade e ações voltadas para a redução do
impacto ambiental. Ainda, o ICMBio está constantemente
promovendo projetos de reforma e manutenção de trilhas,
folheteria, sinalização interpretativa, implementação
e manutenção do Centro de Visitantes etc.
NEO MONDO - Janeiro/Fevereiro 2015
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