O desenho do tapete_Henry James

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O desenho do tapete_Henry James
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H€ NRY la MEs
desorientadojovem?A melhor Íesposta,talvez,é que ele está
fazendoo possível,ma-saindaécedodemaisparadizer.Quando seu novo livro saiu publicado no outono, Mr' e Mrs St.
Georgeacharam-norealmentemagnífico. St Georgeafuc1'r
não publicou nada,rnasPaul aindanão sesentcseguro.Posso
viesse
dizer a seufavor,no entanto,que se caleventualìdade
'r
o que tl
a
apreciáJa
ocorrer,eleseriarealmenteo primeiro
talvezurna provade que o Mestreestâvâabsolutamentecertt'
e de quc a Naturczao haviadestinadoà paixãoinreÌectual'nii"
O DËSENHO
DOTAPETE
ç
L
u iá haviaproduridoalgumr coisae ganhoalgumdinheiror
rido tempode .omelar a pen(arque er.ì
talrez atè houvesse
melhor do que aspessoas
induÌgentesimaginavâm;mâs!luândo avalioa curta extensãode minha trajetória- um hábito
pois não é límuito longa ainda-, consideÍomeu
apressado,
verdadeirocomeçoa pardÍ danoite em que GeorgeCorvick, ofegântee preocupâdo,veio me pedir um favor.Ele haviaproduzido maisdo que eu, e ganhomaisdinheiro,emboraeu achasseque, àsvezes,perdiaalgumasoportunidadesde mostrarsua
inteligêncìa.Nessanoite,porém,pudeapenascleclararìheque
nunca perderaa oportunidade de mostrâr suâ gentilezâ.Foi
pârâ O
quaseem êxtâseque o ouvi propor-meque escrevesse
assimcharnadopela
Meio
o órgãode nossaselucubraçóes,
posição,na semana,do dia de sua publicação um artigo
pelo qual tinha se responsabilizado
e cujo assunto,amarrado
por um barbantegrosso,colocousobrea mesa.Precipitei-me
sobreminha oportunidade- isto é, sobreo prirneirovolume
acençãoà expÌicaçãode meu amigo
dela- e presteiescassa
sobreseupedido. Que expÌicaçãopoderiaserrnaisperrinente do
que a minha óbvia competênciaparaa tarefà?Eu já escrevera
1lO
NENRY
A V r DA
IAM€5
sobreHugh Vereker,mas rÌuncâ uma paiavrasequerpara O
Mrla, no qual minhasâtribuiçõeseramprincipalmentecom as
mulherese os poetasmenores,Tìatava-sede seunovo romance,um exemplarantecipado,c não importa o muito ou o pou,
co que fizessepor sua repuÌação, tive certezaimediata do
quanto faria pelaminha. Além do rnaìs,sesemprelia seuslivros assimque conseguiadeitarlhes a mão, rinha agorauma
r.rz;oespe.irì par: desej.rr
Ìerer.e:, rr haria aceirou m convire
parapassaro próximo domingo em Bridgese Lady]ane havia
mencìonadoem seucârtãoque Mr. Verekerestariapresente,
Eu era jovem o bastantepara alvoroçar-mecom a icléiade
conhecerum homem com seupr€srígìo,e ingênuoo bâstânte
paraacreciitar
que aocasiãoexigiriaa exibiçãodo conhecimento de seu "ú1timo" lançamenro.
Corvick, que prometerauma critica sobreo Ìivro, não
ti \ e r d r e m p on cm de Iè-Ìo:rinhr fir:do muiro n e rv o s orm
conseqiiênciadc uma notícia que deteÍminâva como julgo u c ì cem r e Íìe r 5 o
pr.cipirada qrredereria p e g a ro n o ru r.
no paraParis.Ele receberaum telegramade GwendolenErme
em respostâà suâcârtaem que sepunha à suaìnteira disposição.Eujáouvira falarsobreGwendolenErme; nuncaa encontrârã, mas tinha minhas convicções,que eram no seoddo de
que Corvick se casariacom ela se, por venrurâ, a rnãe dela
morresse,Essasenhorapareciaesraragoraprest€sa obseqlriálo; depoisde um terrivelenganocom reÌacãoa um clima ou a
uma "curi', ela de repentepioraraào voltar de suaviagem.A
filha, desamparadae
assrrstada,
desejandochegaÍlogo em c;rsâ,
nas hesitandopor causado risco, aceitaraa ajuda de nosso
amigo,e eu rinha asecreraopiniãode que aovêlo, Mrs. Erme
recuperariaa saúde.A opinião delemal podia serdenorninad:r de secreta;de qudquer modo, diferiapeÍceprivelmente
da
minha. EÌe me havia mostrado a fotografia de Gwentlolen
com o comenr"rio dc queel; nro err bonira.nr.rser'.r
rnuirointercssante;
aosdezenoveanoshaviapublicadoum românceen1
PR r vÀD À E Ou ÌÀÁs
H sr ó i
as
1 1 'l
llêsvoIumeq Lá no Funlo, sobreo qual, em O Meio, ele escrevera de forma realmentebrilÌrante.Ele gostoudo meu ardor
prestârivoe proml3reuque o perióclicoem questãonão seempenhâriâmenos;então,no fìnal, com a mão nâ maçânetadâ
portâ, eÌeme disse:
Tenho certezade que sesairábem, é claro.
queeufiqueium poucoconfi.ro,acrescentou:
Percebendo
bobagem.
- Quet dizer,não vai escrever
- Bobagem,sobreVereker!Mas sesempreo acheitre-^-,{ ^* -^.-
;-" -l ;---. - )
Bem, o que é issosenãobobagemìAÍìnalo que quer
dizer 'tremendamenteinteÌigente"ìPeloamor de Deüs, tente
realmenteentcnclê-lo.Náo dcixc que clc saiaperdendocom
essenossotrâto. EscrevasobrceÌe,escreva,
sepuder, como se
eu mesÌÌ10estlvesse
escreveDdo.
Eu fiquei pensandoum instante.
-Você quer dizer,porcxempÌo..."positivamenteo trrelhor de todos"...essetipo de coisaì
CorvicL quasesoÌtouum gemido.
-Ai, não, não os comparodessamaneirâ;issoé coisâ
de crítico principiantelMas eleme causaum prazertão singular; a sensação... ele relleriu um pouco - ... dc qualquer
Eu fiquei pensandonovamente.
Sensação
de que, diga-me?
- Meu caroi issoé justamenteo que quero que você
próprio digal
Antes mesmo dele rer baticlo a porta eu já começara,
livro em punho, a preparar-mepan dizêJo. Passeimetadeda
noite acordado€m companhiade Vereker:Corvick ráo teria
sido capazdcsair-sernelhor'.Verekereratremendamenreinteì ig e n re m: rn rc n ho .er x p r e ( . ã o- . l n . r \ u a o e r a n e m u m
pouco o melhor de todos.Todavia,não Íìz alusãoaosoutros;
âlimentei :Ì esper:Ìnçade estar,nessaocasião,emergindo da
.^" .l i .i ^.J"
-.i ..i .i ..i "
112
HENRY
JÀMEs
- Está tudo ótimo - declararamanimadamentena
editora.
E quandoo número da revistasaiu,sentique tinha uma
basepara pocìeraproximar-medo grandehomem. Senri-me
conÍìantepor un ou dois dias;e entãoessaconfiançadespencou.Eu o imaginaraÌendoo art;gocom prazet masseCorvick
não ficara satisfeìto,como poderiaele,Vereker,ficar! Refleti
mesmo que o entusiasmodo admirador era,àsvezes,mais forte
ainda do que o apetitedo escrevinhadorDe qualquermodo,
de Parisde uma forma um pouco malCorvìck escreveu-me
humorada,Mrs, Erme estavaserecuperando,e eu não dissera
qual eraa sensação
queVerekerlhe causava.
absolutamente
tã
efeito de minha visita a Bridgesfoi proporcionâr-meum conhecimentomais profundo. Como pude veriÍìcar,a comunicaçãocom Hugh Verekereratão destituídade ar€stasque me
envergonheida pobrezadeimaginaçãoque minhastolaspreocupaçõesencerravam.Se estavaalegre,não era por ter lido o
meu aftigo;nâ verdâde,namanhãde domingo, tive certezade
que não o lera,emboraO Meio játivessesaídohá trêsdiase vicomo me certifiquei,no espesso
ceja-sse,
canteirode periódicos
que conferiaa uma dasmesasde bronzeo ar de uma bancade
estação.A impressãoque eÌeme causoupessoaÌmente
foi taÌ
que desejeique o lesse,e com essafinalidaclecorrigi com máo
sub-reprícìao quepoderìaestarerradonaposiçãopouco conspícua da revista,e devo dizer cluefiquei atévigiando paraver
o resulradode minha manobra,masaré:rhora do almoçorninha esperafui inútil.
Depois disso,quando,no decorrerde nossopasseio
gregário,encontrei-medurantemeiahora,náo semoutra manobra possiveimente,ao lado do grandehomem, o efeito de
A V D À PR r va o a
E Ou ÌR As
H sr ô R r Às
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suaamabiìidadefoi um clesejoainda maisintensode que não
continuasseignorando o tratamentojusto e especiaÌque Ìhe
dera.Não que eÌepatecesse
estarsedentodejustica;pelo contririo, eu ainda nio percelrera
em iuâ convcr\âo minilno
murmúrio de ressentimento
- um som que minha pouca
já rne deracapacidade
experiêncìa
de reconhecerUltimamentevinha merecendomaior atenção,e eraagradável,como cosrumlvamosdizerem O Meìa, verihcarcomo issoo roln;r:
maisexpansivo.Ele não erapopular,semdúvida,masacredito
q u e u ma d a 5f o n resd e . e u b o m h u m o r e " r a r ,pr r t . i s a m e n r e .
no fâto de que seusucesso
náo dependiadisso.Entreranto,tornarâ-se,de certâformxl um escdtorem fÌoda; pelo menosos
cÍíticosdenm uma aceÌerada
e o alcançaram.
Havíamosafinal
descobertoo quanto eleera inteligentee ele dnhâ que tirâr o
rnelhor parridoda perdade ser mistério.Enquanto caminhâva a seu laclo, senti-me fortemente tentado a fazêlo sabet
quanto dessârevelâçãoerâ obra minha, e houve um momento em que provavelmentereriaËito issose uma dassenhorâs
de nossogrupo, apoderando-sede um lugar a seu lado, não
tivesse,ness€instant€,solicitâdo sua âtençãonuma atitude
reÌativarnenteegoísta.Foi bastantedesanimador:chegueia
sentir que asliberdadesque ela tomara foram comigo e não
com ele,
Quanto a mim, eu tinhâ na ponta da língua uma otr
duas frasessobre "a palavra certa no momento certo", mas
mais tarde âquei contentede náo ter faÌâdo,pois quando, ao
voltarmos, nos reunìmospara o chá, vi LadyJane, que não
tìnha saídoa passeioconosco,agitaodo O Meio com o braço
levantado.Ela o apanharapan ler duranteseurepoLrso
c estavâ encântâdacorn o que encontriríÌ e eu percebique, como a
muÌher freqüentemente
acerraquanclo
o hom€m erra,elâprâticamenteiria fazerpor mim o que eu mesmo não fora capâz
(el
de lazer."Algum;. rmjveisvcrd,ldczioha.s
que preci5Jv,rm
ditas",ouvi-a declarar,estendendoo perìódicopara um casal
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HENRY
.]ÀM€5
meio àturdido seÌìtadoperto dâ lâreirâ.Agarrou-onovâmente aover reaparecer
Hugh Vereker,que depoisdo passeiotinha
ìdo ao andarsuperiorrrocarqualquercoisa."Sei que em geral
náo olha pârâ essctipo de coisa,mas é uma boa ocasiãopar:r
fazêlo. Não o Ìeu ainda?Precisaler O homem conseg(irlrealmente entendêJo, corno €u mesmâsempreo entendi, sernprc". LadyJanelançouum olhal quepretendia,evidentemente,
dar uma idéiade como elasempreo entendefa;masâcrescentou que não seriacapazde expressíJo.0 crítico da revisr:rexpÌessara-ode umâ mâneira admirável. "Veja só isto aqui, e
aqui, onde sublinhei, como ele ressaltacerfosponros". Ela
haviapraticamenteassinalado
paraeleostrechosmaisbrilhantesde minha prosa,e seeu estavaberncontente,Verekertambém devi:restar,com toda certeza,Ele mostrou quanto estâvâ
quando LadyJanequìsler algumacoisaem voz alta diantede
nós. De qualquerfonna gosteida rnaneiracomo ele frustrou
scuspropósitos arrancandocarinhosamenteo periódico de
suasrnãos.Èlc o levariapara seusaposentosquando fossese
vestir e o examinârixentão.Foi o que fez meiâ hora mais tarde; eu vi a revistana suamão quandosetiirigia parao quarro.
E foi nessemomento que, pensandoestarcausandoprazera
LadyJane,expliquei-lhcque eu erao autor da resenha.Certa,
rnente,causei-lheprazer,acrediro,mastaÌveznão tanto quãnto imaginara.Seo autor'era "apenaseu", a coisanão deviaser
tão admirávc1assim.Pareceque o efcitofoi maisno senddode
diminuir o brìlho do artigo do qüe de aumentâro meu pró,
prio. SuaseÌìhoriaesrâva
sujeitaasmaisextraordinárias
decep,
. o e . . N ao r ình , im po r. n.i.r:o unicoefeiroqu €me in re re 5 . . r.
va erao que teriasobrcVerekerláem cima, sentadoao lado da
Ìareìrade seuquarto.
Durante o jantar espereipelossinaisdesseefeito,tentei
imaginar um brilho maisl_elizem seuolhar; mâs,pala minhâ
decepção,Lady Janenão me deu oportunidadede certiÍìcar'me. Eu tinÌra esperança
que elâgritâssetriunfancementepara
A V D À PR va D A
E Ou r R As
H 5 Ìó R r À5
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rodosnamesã,inquirindo publicamentesenáo tiveranzáo O
clefora também,m:Ìseu rìungrupo erâgrâ[de; hâviapessoas
câ vila umâ mesa,por mais comprida que fosse,câPazde
privar LadyJanede um triunfo. Na verdade,eu estavajustamente refletindo que essâinterÌÌìinávelPeçade madeira iria
pdvâr-me,a mim, de um triunfo, quandoâ convidadââ meu
lado (amível senhora!)- Miss Poyle,irmã do pároco,uma
cfiâturarobustâ,devoz monótona- teveâ felizinspiraçíoe a
insólita coragemde se dirigir a Vereker,que estavâdo outro
lacloda mesa,masnão nasuâfrente,de formâ que quando cÌe
parafre[te. Elâ Perrespondeu,âmbostiveramque inclinar_se
guntou (ingênuacriàtura!)o que eleachavado "panegírico"de
semassociálo,todaviâ,ao seu
LadyJane,o qual havialido
vizinho da direita; e enquânto eu espichâvàos ouvidos pâra
escutarâ resPostarouvi-oi Parameu esPanto,gritâr de voltâ
alegremente,com a boca cheia de pão: 'a!.-aaaa maq: a!tolices
de semprc!".
*--T.1Ììã1"p,"do
o olhar de VereLer quando fâlou, ma.s
a surpresade Miss Poylefoi uma feliz proteçãoparaa rninha
- O senhorquer dizer que ele não lhe fez justiça?Perguntouã cxc€lentecriâturà.
Verekerdcu uma risadâ,e Êqueicontenteem poder fâzer o mcsmo,
- É um artigo encanrador- dise eledescuidadamente
Miss Poyleesticouo queixoquaseatéo meio d3 toâlhã
eÌajnsistiu.
- Corno o senhoré profundol
Profunclocomo o oceano!Tirdo que desejoé clueo
v e i-. . .
-u ro r n : o
Mas nessemomento pâssaramumâ trâvessapol sobre
seuombro e tivemosque esperârenquantoseselvlâ
continuou elà.
- Não vejao quêì
Não veia nada.
Meu Dì Lrs.luãi gnr,r-rntel
116
f rNRy
lÀMrs
- Nem um pouco
disseVereker,rindo novamente
ninguém
vê.
Á scnìroraa seulado requereusuaatençãoe Miss poyle
,
volcouà sua posiçãonorrnalao meu lado.
- Ninguém vê nadal- declarouelaanìmadamente.
Ao que respondiquecu tambrmsemprepensara
a,,irn.
mas que de quaÌquerforma consideravaessemodo de pensar
como prova de que, de minha parte,eu possuíauma e"traor_
d ì n , í ria .r i w o.
N ão lh( conrcique o aligo €ram e u :e p e rc e b i
q u e I àd yJì nc. o L uprddrìoourroex(remo
dd m e \ a ,n io t in h , l
escutadoaspaÌavrasde Vereker.
Procureievitá-Ìodepoisclojantar,pois confessoque ele
me.pareceuinsensívele presunçoso,e essarevelaçáofoi peno_
sa.'As tolicesde sempre",o meu pequcnc,e peneüanreestu,
do crícico!O fato de que nossaaãmiraçãoincluíssealgumas
pequenasrestricõcsdeveriairrirá-lo a esseponto?Eu o julgara
r,rlsuperfiiieerr o crisr,rl
'ereno,e elecla b"rrrntesereno:
d'uro
e pglig!5u c er.errera asqLrirrquilh:ril de ,* ,ria^a. t, ."
t a v aÍ eâ tm en r a
c b orrccrdo,
e meu único conso loe rr q u e s e
ninguémvìanada,Geol€eCorvickestavâtão porfora de tudo
quanto eÌr.Esseconsolonão foi, todavia,suficientepara,de_
pois que assenhorassedispersaram,conduzir-medc maneira
apropriada isto é, usancloumajaquecamalhadae cantaro_
lando umacanção- atéo salío de fumar.Um tanro deprirni_
do, tomei o caminhotlâ camâ;masno corredorencont;i Mr.
Vereker,quc subiramaisumavez parasetrocar,saindode sctr
quarto.Ele rambérnestavacantarolandouma cançãoe vestia
umajaquetamdhada, e logoque meviu esrremeceu
de âlegria.
- Meu queridojovem - exclamouele._ Esro;táo
contenteem encontrálol Receiotêlo Êeridode maneiracom_
pl.eram,
nLeinrolunrjliacom aquelr_s
p,:l.rvras
qrrrrroqueicom
Miss Poyleno jantar Há apenaimeiahorafiq,r.i."bàdo po.
Lady Janeque é o autor do pequenocomenúrjo em O M)io.
Assegurei-lheque não quebraranenhum osso;mas ele
caminhoucomigo âté â porta do meu quarro,com a mão
A V r DÁ
PR r vÀD À € Oú ÍR Âs
H sr ó R
Ás
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sobre meu ombro, apalpando delicadamenteà procura de
uma frârura; e ao saberque eu dnha subido para ir dormir,
pediu-me permissãopârâ cruzff â soÌ€irade minha porta e
dizer-meem apenastrês palavraso que haviam representado
suasressalvalaosmeus comentáios. Erâ evidenteque ele estavarcalmentecom medo de ter me magoadoe o significado
de suasoÌicitudefoi mÌrito importante paramim. Minha insignificanteresenhabateuaJâJe sumiu no espaço,e âsmelhorescoisasque dnhaescritonelâtornârâm-seinsípidasperto do
brilho de suapresença.
Ainda possovêJo ali, sobremeu tâpete, à luz do fogo, com suajaquetr mâlhadae seu belo rosto
claro iluminado pelo desejode ser carinhosocom minha juvenrude.Não sei o que pretenderadizer de início, mâs âúo
que a visãodo meu alívio deixou-oemocionado,agitado,fez
brotaremdos seusiábiospaÌavrasvindaslá de dentro. Foi aspaÌavrarÌogo rne comunicaramâÌgoque, como
sim qlre essas
soubemais tarde,ele nuncâ tmnsmitirâ a ninguém. Sempre
âprecieidevidâmenteo impulso generosoque o fez falar; foi
simplesmentearrependimentopor uma descortesia
dirigida a
um homem de letrâsernposiçíoinferior à suâ,umhomem d€
letras,além dìsso,no flâgranteato de Ìouvá-lo.Muito acertadamenteconversoucomigode iguaÌparaigualsobreo assurìto
que maisamívamos.Ahora, o lugar,o inesperadointensiÍìcavam â impressão:eÌenão poderia ter agido de mâneirâmâis
^-^Â,-J----.- -rì--,,,
áo sei bem como lhe explicat- disseele.- Mas foi o próprio fâto de suâcríricâsobremeu livro mostríÌrumâ centelhâ
de inteligência,foi justamentesua excepcionalacuidadeque
despertouem mim o sentimento uma história antigaque
semprese repetecomigo, imploroJhe que acredite- sob a
114
HÈNRY.Ja MEs
momentâneaiÌrÍÌuênciado qual pronunciei,ao falar com
âqueÌaboâ senhorâ,âspalavrasque você naturalmentetanto
ressentiu.Eu não leio os escritosque saemnos jornais, a não
serque me sejamìmpostoscomo foi aquele...E sempreo nos_
so meÌhor amigoque seencarrega
disso!Mastinha o hábito de
Ìô-losàs vezes...dez anosatrás.Sen dúvida eram, em geral,
bem maisÊracos
então;de qualquermodo,scmpreme pâreceu
que eÌesomitiam uma pequenapeculiaridademinha com uma
maestria igualmente admirável, tanto quando me davam
pancadinhasnascostas,como quandome atingiamascanelas.
Desde enrão,toda vez que aconteceude eu dar uma oÌhada
neÌes,elescontinuâvâmatirândo...e não acertendo,de uma
m a n ei r lm uir o diverridr.V ocerambéma omi t iu , me u t a ro ,
com segurançainimitável; o fato de sertremendarnenre
inteÌigentee de seuartigoseÌtremendamentesimpático,não faza
mínima diferença.É exatamentecom jovensem começo de
carreiracomo você Verekerriu - que sinto maiso fracasso que soul
Eu our ia com viro inrere\\e.
que5erorna\âmris vivo a
câdainstanre.
- O senhor,um fracasso,
DeusmeulAfinal, o que pode
vir a sersua"pequenapeculìaridade"?
-E precisoque eu lhe contedepoisde todos esses
ânos
de Ìura?
Havia algo na amávelcensuradessafrase,jocosâmence
exagerada
que,sendoeu um ârdenteejovem anante daverdade, me fez corar até a raiz dos cabelos.Como sempre,estava
compleramenteàsescuras;embola,de cerromodo, tenhame
acostumadoà minha obtusidade,aindaassim,naqueleinstante, o tom alegrede Verekerme fezsentìr,e eleprovavelmente
concordariacomigo,um verdadeiroasno.Eu estavaaponto de
excÌamar,"ah, claro, não me conre; pela minha honra, pela
honra do nossoofício, não me diga nada!",quando ele lo.,tinuou de umâ maneira que mosrravaque havia lido meus
A V D A PR ÌvÁD Á E Ou ÌR Às
H 5 r ó R r Às
119
pensamentose dnhãsuasprópriasidéiassobrea possibilidade
de, algur:rdia, nos redimirmos:
Quando falo de minhâ pequenapecuÌiaridâdeestou
ponto espeme referindoàquele...como podereicharná-lo?...
cíficoque é aprincipaÌrazáode eu ter escritomeuslivros.Acaso não eriste em cadaescritorum Ponto assimespecíÍìco,no
qual elemais se concentra,que sem o esforçopara alcançáJo
nadâescreveiâ,o amor de seusâmores,a partedo trabalhona
qual, paraele,a chamada arrebrilha com maior intensidade?
Poisbem, é exatamenteeste!
palavras
Eu penseiuminstante,isro é, acompaoÌreisuas
quasesemtespiràr.Estavafascinaâ uma distâncierespeitosai
do, naturalmente,mas,apesâÍd€ tudo, não iame deixâÌpegar
desprevenido.
- Suadescriçãoé reaÌmentebeÌâ,mâsnão torna o que
descrevemuito cÌaro.
a compreender
Assegurolhe que seriaclarosechegasse
Percebique parameu companheiroo fàscíniode nosso
ÌÌuma emoçãotão intensaquanto a minhâ.
tefìa extrâvâsâva-s€
De qualquerrnodo continuou ele-, possodizer
o seguinte:lìá em minha obra uma idéia sem à quâl eu Dáo
daria um tostãopelo trabalhointeiro. E a intençáomâiscompleta e mais perfeitade todas,e suâ utilizâçãofoi, na minha
opinião, um triunfo da paciência,da inventividade.Eu deveisso;mâs o fâto de que ninria deixar que outros dissessem
guém o faz é precisamenteo âssuntode nossaconvetsa.Esse
de um Ìivro pata outro, e tudo o
melr truquezinhoestende-se
ernsuasuperfície.TalvezaÌgum
rnais,relativamente,reflete-se
P o n t o llu e râ De ro (r l t l c o p r o c u rla' Jr r, e c e _ m e m c s m om e u
que é o ponto que cabeao
visitânteâcrescentousorrindo
crítico encontrâr,
Pareciamesmouma responsabilidade.
120
HrNRY Ja Mrs
Chama-o de truquezinho?
Issoé apenasminha humilde modéscia.Na verclade,
trata-sede um esquemarequintâdo.
E o senhorafìrmaque executouesseesquema?
- O modo como o executeié uma dascoisâsnâ vida
que me deixamaissatisfeitocomigo mesmo.
Fiz uma pausa.
- Não achaque deveria...só um pouquinho... ajudar
os críticosì
- Ajudáìos?Que outra coisatenhofeito em cadalinha
I
escrwoì
Bradeiminha inteoçáono carãoatônito delesl
lQue
Ao dizerisso,Vereker,rindo novamente,colocoua mão
sobremeu ombro para mostrar que a alusáonão se referiaà
minha aparênciapessoal.
- Mas o senhorfala em iniciados.Deve haverentão...
devehaver.. uma iniciação.
- E que outra coisaa crítìcatern obrigaçãode ser,pelo
âmor de Deos?
Receioter coradonovamente,mas esquivei-mede responder, repetindo que a descriçãode seupreciosoconreúdo
apresentavaqualquer deficiênciaque o impedia de ser reco,
nhecido pelo homem comurn.
Ìssoé justamenteporquevocênuncadeuumaolhada
nglç- 1s11uç9u. SetivesseolhadoumavezJo elemento€m
quesraologoviria a s.r pr;ricamenLe
a únicacoisaqrreveri:.
Paramim, é tão palpávelcomo o mármoredessachaminé.De
mais a mâis, o crítìco náo é absolutamenteum homem comum: sefosse)diga-me,o que esrariafazendorìa horta do vizinho?Vocô mesmo é tudo menos um homem comumj e a
próp|a raisanzl'êtrede todos vocêsé que são uns demoniozinhosde sutileza.Semeu grandetemaé um segredo,é sìmplesmenteporqte virou um segredosemquerer:um resultadosurp r e e nd e n Íeo to r n ou iì.'im. fu náo 'omente n u n c , rro me i
a menor precâuçãopara conservá-losecretocorno também
A VrDA
PR r vÁD Â È Oú r ÀÀ3
H sÌó R
Âr
121
nuncâsonheicom umâ contingênciadessas.
S. ti.,..r..orrh"- I
(ido
do. eu. de antemao,nao teria
a cordgemde continuar. /
Aconteceque só tomei consciênciado fato aospoucos,e nes- /
J
seínt€rim, eu dnha produzidomeu trabalho.
- E agoraestá muito sadsfeitocom ele?- arrisquei
Perguntaf.
- Com meu trabalhoì
- Com seusegredo.É â mesmâcolsâ.
O fato de presumirisso- replicouVereker- é uma
provade clueé tão inteljgeotequanto penso.
Senrime encorajado
com eisJrerposid.
a ponlo de co.
m€ntâr que ele iria c€rtàmentesofrer ao separar-sede serÌ
segredo,e ele confessouçlue,no presentemomentor esseerâ
rcâlmenteseugràndediverrimenrona vida.
-Mvo praticamenteparaver seserádescobertoalgumdia.
Ele olhou-me com ar de alegredesaÍìo;lá no fundo cie
seusolhos algopareciabrilhar
- Mas não precisopreocupar-m€:issonão vai acontecer!
O senhorme estimulacomo nunca fui estimulado
211s5- ds6lxrsi.- px2-mesentir determinadoa v€ncerou
morrer,
Em seguidapergunrei:
-frx13-5g dç Ììrnx çspéciede mensagemesotérica?
Ele assumìuuma expressão
consternada;
estendeu-mea
máo como sefossedizer boa-noite.
Ah, meu caro,não sepodedescrevêJo
em linguagêm
de jornalismo baratol
Eu sabiatnaturalmente,que eledevlaserextremamenre
sensível,mâsnossaconversame fezsentir quânto seusnervos
estâvâmà mostre.Eu náo estavaconvencido;continuei segurardo suamão.
Então não vou usar a expressãono artigo em que
fìnalmente anunciaÍ minha descoberta,embora acredite
que vai ser difícil prescindirdela.Mas enquantoisso,só pârâ
122
HENRY
laMEs
apr€ssar
esseparto difícil, náo podeme cir uma pista? perguntei, sentindo-memuito maisàvontâde.
.
- Toda a minha lúcida produçãoforneceessapista...
Cada página, cada linha, cadaletra. A coisaé tão concreta
corìlo um p:issâronuma gaiola, uma iscano anzol, um pedaço
de queijo numa ratoeira.Está enÊadaem cadavolume como
seupé estáenfiadoernseusapato.Dirige todasaslinhas,escoihe rodasaspalavras,põe os pingosem todos os is, coÌocâtodasasvírgulas.
Espicheio pescoço.
- Tèm âlgumâcoisââ ver com o €stilo,ou com o pensaf
L mento?Um elementoda forma ou um eÌementoda emoçãoì
EÌe apertouminha mão mais uma vez, com ar condescrrm g ro s . e irae' mic e n d r n r ee. sen tiqueminh.l pergunr'r.
nhasdistinçóesdesprezíveis.
È^.
\ótu tàyét...r.JoseP Í e o c u P ceo m
-^i,- - ,,
isso.Apesarde tudo vocêgostarealmentede mim.
E uma pequenainformaçãopoderiaprejudicar?perguntei,detendo-oainda.
EÌevacilou.
ÊBem, temosum coraçãono corpo.É um elementoda
Íòrmaou daemoçãolp que alegoé que ninguémnuncamencionouem meu {raballroo órgãoda vidr.
Já sei...é algumaidéiaa respeitoda vida, algum tipo
com a animação
de filosofin.A menosque sela- acrescentei,
alegreainda- algum tipo
de uma lembrançapossivelmente
de jogo que está querendofazercom seuestilo,âÌgumâcoisa
que está procurandona linguagem.Talvezsejaumapreferênarrisquei,de modo irreverente.- Papai,
cia pelaletra"P"l
pepino, pêssego...
essetipo de coisa?
tolerante:dìsseapenasque eu
Ele foi convenientemente
não tinhr acertadoa letra.Mas a graçatinha acabadoparaele;
pude perceberque estavaentediado.Havia,porém,outra coisa
que cu dnha necessidade
absolutade saber.
A V r D Á PR r vÀo À
€ O u Ì R À5 H r sÌó R
as
123
- O senhormesmoseriacapazde pegarnâ pene e
claramente...de citálo, intitulá-lo, formulálo?
expressá-lo
Ah!-suspirou eÌemm algumaexaÌtação.
-Se pelo
menosâo pegârna penaeu fosseum de vocês!
-É clatotìueseriauma grandeoportunidade.Mas por
que nos desprezârpor não fazermoso que o senhor mesmo
não conseguefazet?
- Não consigo?
Ele arregalouos olhos.
- Não o fiz em vinte volumes?Faço-odo meu rnodo
- disseele.- Vocêsque continuem com a tolice de não o
fazeremdo seu.
dificil
oÌ:serveicom
- Q n655e{ s111çmarnenre
brandura.
SemcoâO meu também!Cadaum com suxescoÌhâ.
ção.Não quer descerpara fumar?
- Náo; quero refletirsobretudo isso.
Vai entãome dizer amanhãde marúã que me decifrouì
-Vou vcr o que possofazer Vou dormir pensandosobre o assunto.Só mais uma palavra...
Tínhamos saído do quarto. Caminhei alguns pâssos
comp! pelo corredor
Essaextraordinária"intençãogeral",como a chama
I
- pois essaé a descriçãomaisviva que consigoinduzi-lo a fazer , éentão,em princípio,umaespécie
detesouroescondidoì
iluminou-se.
Seurosto
- É, châÌne-aâssim,sebem que não cabea mim dìzê-lo.
disseeu rindo. -Sabe rnuito bem que
-Bobagem!senteimensoorgulho dela.
Bem, não pretendiadizer-lhe,masé realmentea alegria da minhavida.
Quer dizer que é de uma belezamuito grande, muito
rara?
Ele esperouum instantepararesponder:
124
I
'
HENRY
lÀMÉs
A coisamaisÌindado mundol
palavras,
eledeiNóstíúamos parado,e, aodizeressas
xou-me;masno fim do corredor,enquantomeu oÌharo segr.ria
com ansiedade,virou-se e avistoumeu semblanteperpÌexo.
Issoo fez sacudira caì:eçacom ar sério;na verdade,acheiaté
quc ba.ranteangustiado.
e brrndir o dedopar; mim.
Desista,desista!
Não erauma provocação;era um òonseìhopaternal.Se
eu pudesseier em mãosum de seuslivros,teria repetidomeu
metadeda noite com ele.À três
ato defé recente;teriapassado
horasda rna.lrugada,não conseguindodormir, e aÌémdo mais
lembrando-me do quanto ele era indispensáveÌpara Lady
Jane,esgueirei-meem direçãoà bibliotecacom uma vela na
rnão. Segundopude colstatat não havia na casauma Ìinha
sequerde seusescfltos,
lLt
etornando à cidade,pus-meagitadamentea reunir todos os
seuslivros;pegueium de cadavezde acordocom suaordem e
o aproximeide uma luz. Issome custouum mêsenlouqueceváriascoisas.Uma delas,a
dor, no cursodo qual aconteceram
írltima, parece-merazoávelmencionar imediatamente- é
que aceiteio conselhode Vereker:renuncieiao meu ridículo
intento. Na verdacle,náo conseguientendernadado assunto;
foi um completo fracasso.Apesarde tudo, como ele mesmo
notour eu semprcgostaradeÌe;e o que estavaocorlendoâgorâ
erasimplesmentequemeu novo coúecimento evã preocuPação estavamprejudìcandominha avaliaçáo.Não apenâseu
não conseguirâd€tectara intençáogeraÌ,como percebitamqueâpreciâra
anteriormente
se(Lrndiriâ(
bêmque ar intençoer
estavâmme escapândo.SeusÌivros perderamate o encanto
que sempretiveram paramim; a exasperação
da minha busca
a v oÀ PR vaDÁ E ouÌ ÀÀs
H sÌ óRr as
125
deixou-medescontentecom eles.Em vez de ser urrr pmzer a
mais tornaram-seum recursoa menos; pois a partir do momento em que Âri incapazde investigara indicaçãodo autor,
senti,naturâlmente,serum ponto de honra não fezerusoprofissionaldo meu conhecimentodeles.Na verdade,não tinha
conhecimentoalgum; ninguém tinha. Era humilhante, mas
conseguisuportar;agoraelesapenasme aborÌeciam.No fim
atéme entediâvâm,e eu explicavaa causade minha perturbaçáo - injustamente,admito - com a idéia de que Vereker
fizera-mede bobo. O tesouro escondidoera uma piada de
mau gosto,e a intenção,uma afetaçãomonstruosa.
O que importa nissotudo, porém,é que conteia Geoge
Corvick o que tinha me acontecidoe minha informaçãotwe
um enormeefeitosobreele.Ele tinha voltado afinaÌ,mas,infeiizmente,Mrs. Erme tambémvoltara,e, segundopude perceber,não havia,por hora)nenhumâperspectivâcom relãção
àssuasnúpcias.A históriaque eu lhe uouxerade Brìdgesdeicompletamenteà
xou-o extremâmenteexcicado;adaptava-se
idéiaoue tiveradesdeo início de ouehaviamaisem Verekerdo
quea visrapodiaalcançar.
paQuandopondereique,sequndo
para
seÍ
inventada
tecia,a páginaimpressatora expressamente
alcançadapela vista, eÌeirnediatamenteacusou-mede estar
detP el l ado P or nâo ler I lO o eXlt o, l\ o\ ! Jl t eiaçO eSSem Pr e Í lVe
--ÌdfiÌssããÉãÍéIÏSerdãüe.
O que Verekerme havia mencionacodo eraexatamente
o queele.Corvick.queriaqueeu (ives\e
mentado em minha resenha.Quando sugeri, por fim, que
com a ajudaque eu agoralhe deraestariacertamentepreparado para fazer ele mesmo os devidos comentários, admitiu
queantesde fazê-losprecisariaentendermeespontaneârnente
Ihor certorarpecto'.O que eìereriadiro. çe rives.ee"ctiroa
reseúa do novolivro,é quehavia.evidenremenLe.
naartemaic
íntima do autor, algumacoisaa serrealmenteentendida.Eu
nem insinuaraisso:não admiraque o escritornão tivesseficado satisfeito!Pergunteia Corvick o que elerealmentepensava
' 126
HENRY
lÀMEs
e ele,evidenque queriadizer coÌì suâprópria supersutilezà,
tcmcnte inspirâdo,resPo11deu:
Não é paraqualquerum... não é paraqualqueruml
Ele agarraraalgumacoisapelorabo:ia agarrarfirme, náo
ia soltar Extraiu-merodaa estranhacolfidência deVerekere,
proclamandome o mai. rforrunadodo. morrri\. mencionou
ardentemente
uma meia dúzia de questões,âs quâisdesejava
que eu civ€sse
tido a iniciativade colocar.Por outro lado, potudo: estragarìa
o prazerdever
rém, não queriaqueÌhc dissesse
nãoerâ.nr oc,ì
o queaduiria.O fracarro
Jo mçu p,r"sarempo
siáo de nossoencontroJcompletoi mas pude antevê-lo,e
CorvicÌ<percebeuisso.De minha pate, percebiigualmenre
que uma dâs primeìrascoisasque ele faria seriair correndo
contar minha hìsróriapara GwendoÌen.
No mesmo dia de minha conversacom Corvick tive a
surpresade receberum bilhete de Hugh Vereker,que, como
mencionou, lembrara-sede nosso encontro em Bridges ao
dcparar-se,
em uma revista,com utr artigoque levavaa minha
assinatura:"Li-o com grandeprazer",escreveuele,"e sob sua
influênciarecordeinossaanimadaconversaao lado da lareira
de seucluarto.A conseqüênci:r
dissoé que começoa avaliara
temeridadede têlo sobrecarregado
com uma informaçáoque
talvezconsiderequaseum estorvo.Agorâ que voltei a min,
n á o . o r .i goi m r gin;rcomopudemedeixrrlevrrp a rat ; o ì o n
ge dos meushábitos.Eu nuncahaviamencionadoantes,não
importa em que estadocÌeexpalsividade,a existênciâde meu
pequenosegredo,e nunca falareinessemistério novamente.
Com você eu fui, aciclentalmcnte,táo maìs explícito do que
planejaraser,como partedo meu jogo que,percebo- refiromc ao prazerde jogá-io , sofreuconsideráveldano.Ern reprejudiqueibastantemeu divertisumo,seé possíveÌ
entender',
mento. Eu realrnentenão desejooferecera ninguém o que
acreditoque vocês,.jovens
inteligentes,chamamde'dicJ. Tiata-sc,naturalmente, de urna preocupaçãoegoísca,e faço-o
A V L D A PR r vÀD Á E Ou ÌR À,
H r 5 Ío R
Ás
127
sabedordissoparaque Ìhe possaserde aiguna valia Seremintençáode atenderà minha vontade,não reproduzaminha revelação.Considere-msdsÌnçDgs- ç5çi em seudireito; mas
não conte a ninguém o motivo".
O resultadodessacomunicaçáofoi que, na manhá seguinte,ftri diretobaterà porrade Ml. Vereker,tão cedoquanto
permitiu minha ousadia.Nessaépocaeleocupavauma dasauRecebeu-me
imetênticâscâsâsantìgasde KensìngtonScluare.
o
não
havìaperdido
que
entrei
percebique
diatamente,e logo
poder de contribuir parasuââlegria.Ele Íiu âover mìnha cara
que, indubitavelmente,exprirniaminha perturbaçáo.Eu fora
indiscreto;meu arrependimentoera grande.
O casoé que eu contei a alguérn dissecom voz
ofegante.- E tenho certezade que a essaalturaessapessoãjá
deveter conradoamaisalguémlEuma mulher aindapor cina.
A pessoaâ quem vocêcontou?
- \!6, 1 6uç1x.fsnÌro certezade que eÌecontou a ela.
- Apesar da vant"gem que traga a ela (ou mesmo a
mìm), uma mulher nunca adivinhará!
- Não, masvai espalharparatodo mundo: fará exatamenle o que o senhofnão quer.
Verekerrefletiu um inscante,mas náo estavatão Perturbado como eu temera:sentiaque seo pior âconteceraeleo
havia merecido.
- Não tem importância,não sepreocupe.
Fareio possível,prometo-Ìhe,paraque suaconversa
comigo não passeadiante.
Muito bem; façao que for possível.
prossegui-, quanro a George
- Nesseínterim
que
seu conhecimento da informação
CoruicL, é possível
resultereâÌmenteem aÌgumacoisa,
Seráum dia extraordinário.
Eu lhe faleisobrea inreligênciade Corvick, suaadmiração,a ìntensidadede seuinteressepela minha história; e sem
124
HENRY
A V r D Á PR vÀD À r O u ÌR Às
iÀM€3
exag€rârmuito as divergênciâs€ntre nossasrespectivâsâvâliâçóes,mencioneique melr amigo acreditavâsercâpâzde Penetrar mâislongeno íntimo de um determinadoassuntodo que
Estavatão entusiasmadoquanto eu esa maioria daspessoas.
tivera em Bridges.AIém disso,estavaapâixonadopelajovem
dama:talvezos dois juntos encontrariamalgumasolução.
com isso:
Verekerprreceuimpre'sionado
- Você quer dizer que eÌesestãoparaseca-sari
- Provavelmenteé o que vai acontecer
admitiu ele.- Mas precisa- Issopode ajudíJos
mos darJhestempo.
Falei-lhesobreo recomeçode minha própria investidae
confesseiminhasdificuldades;ao que elerepetiuseuconselho
anterlor:
- Desista,desistal
Evidentemente,náo rne julgavaintelectualmenteequipado paraa aventura.Fiquei lá meiahorae elefoi muito amável, mas não pude deixarde considerálo um homem de humoresinstáveis.Dependendodelesele,numahora, abtira-se
e agota,tornara-seindiferencomigo; noutra, arrependera-sq
te. Essainconstânciagerallevou-meâ âcredirarque,no tocante ao assuntoda "dica",não haviagrandecoisaali. Consegui,
porém, fazê-lorespondera mais algumasperguntas,embora ele
o fizessecom visíveiimpaciência.Paraele,semdúvidaaìguma,
qLren05dei\rvd(àoperplexo'ertdvanitidamenrcìj.
o asDec(o
[Err rlgu-i .oi.r, i-rginei. no pianoorigirra|algocornoum
l_desenhocomplexo num tapete persa.Ele aprovou com elogios
a imagemque useie elemesmousououtra:
no qualminhaspéro- L o própriofio - disseele =--l--+
_,->
-,1
''- --Alaácdeíeu bilhetefora que eÌerealmentenão queiia
nos dar nem um grão de ajuda: nossaignorância era, a seu
modo, absolutademaisparaserinfÌuenciada.Ele acostumara!e â confârcom issoe seeraparao entanLosequebrerque se
H I sÌ0 R r Ás
129
quebrasse
por suaprópria força.Ele mevem à lembrançadesde essaúltima ocasião- pois nunca mais foi me dado falar
corn elenovamente , como um homerncom aÌgumasreservx segurasde bom humor. EnquaDtome retiravafiquei imaginando onde elepróprio conseguirasua "dica'.
,
uandofaleicom GeorgeCorvicLsobrea advertênciâque recebera,eleme fez sentir que qualquerdúvida sobreseuzelo seiia quaseum insulto. Ele contaraa Gwendolen,mâs a reâção
apaixonadade Gwendolenera,em si, uma garantiade discrie oferecer-lhes
um pasçáo.O problemairia agoraabsorvê-los
satempopreciosodemaisparasercompartilhadocom asmassas.Eìes pareciam ter-se apossadoda importante idéia de
entretenirnentode Vereker.Seu orgulho intelectual,porém,
não erade calordem a ponto de tornáJosindiferentesa qualquer Ìuz adicionalque eu pudesselançarsobreo assuntoque
tinham em mãos.Os dois erarnrealmentedotadosde "temperamentoartístico"e fiqueivivamenteimpressionado
corn acapacidadedo meu colegadeieemocionarcomum problemade
arte-Ele-lbe-d+ria-o-oomç-el,qlitçra.t.ura-ss-Lüa,_eaqçl+-r
umacoisasó.De acordocom o que dizia,passeientãoaenten|
der que elerulâvârguâlmenre
por Cwendoìen.;quem,arsim
que Mrs. Errne meÌhorou o suficientepara permitir-lhe um
pouco de folga,fez questáode apresentar-me.
Lembro-me de
termosidojuntos, em um domingo de agosto,ã uma casaem
desordemem Chelsea,e da rninha renovadainvejade Corvick
poÍ possuiruma amigaque tinha algumasidéiaspara semisturar com âsdelepróprio. Ele podia dizer a ela coisasque eu
nunca poderiadizera ele.Na verdade,elanáo tinha nenhum
seosode humor e, com suamaneira graciosade sustentara cabeçade urn lado,eraumadessas
pessoas
que nos dãovontade,
-1--"""'7'|
' l30
A V r DA
HENRY la MÊs
literalmente,de sacudir,ma-sque aprenderamo idioma húngaro sozinhas.É possívelque convemasse
com Corvick em
húngaro; seu ingÌêsera extremamenteinsufìcientepara seu
amigo. Posteriormente,Corvick disse-meque eu ârrefecera
bastanteseuentusiasmocom minha aparentefalta de disposiçãode obsequiáìoscorn mais detalhessobreas coisasque
Verekerme dissera.
Admiti que achavaque rinhadadoatenção
suficientea essarevelação:
eu não chegaramesmoà conclusão
de que eravã e náo levariaa nada?A importânciaque lhe derarn era irritante a agravavademaisminhas dúvidas.
Essadeclaração
parecepouco âmável,e o que provaveÌmenteaconteceué queme sentiahumilhadodeverouoaspessoasdivertindo-seintensamentecom uma experiênciaque só
me ttouxeradissabores,
Eu estavado lado clefora, no frio, en,
quanto eles,ao pé do fogo, ì luz de velas,;'ers€guÌama caça
paraa qual eu mesrnosoaraatrombeta.Elesfizenm o mesmo
que eu fi2, apenasde forma rnaissociávele deliberada:examinaram o autor detalhadamentedesdea primeira obra. Náo
havia pressa,disseCorviclq o futuro estavaà frente delese o
fascíniosó poderiaaumentar;eleso examinariampáginapor
página,como se faziacom os autoresclissicos,e o inalariâm
em pequenasdoses,deixando-oentranhar,sero!âlmente.Pro,
vavelmentenáo teriam s€ interessadotanto, imagino, se não
estivessem
apaixonâdos:a iitenção secr€rado pobre Vereker
forneceu-lhesocasiões
sem Êm pârâcolocâre manter suasjovenscabeçasunidas.Todavia,ela representava
o tipo de probÌemaparaoqualCorvickdnhauma aptidãoespecial,podendo desenvolvera penetrantepaciênciapessoaÌda qual tivesse
elevivido mais, teria nos dado exemplosmais admiráveise,
espera-se,
maisproveitosos.Ele, pelo rnenos,era,naspalavras
deVereker,um demoniozinhode sutiÌeza.Tínhamoscomeça,
do disputando,mas logo percebique, sem minha ajuda,sua
vaidadeiria passarpor maus momentos.Ele se arirâriâsobre
PR r va D Á
E O!ÌÂÀ5
H L sr ó R
as
131
pistx falsascomo eu o Êzera;aplaudirianovasluz€ssó paravêlas apagaren-secorn o deslocamentode ar da páginavirada.
lo. . omo Ihedirre,a rlaosercornaqueNio .e podiacomparzlesmaníacosque abraçâmâlgumateoriadoida sobrea identide Shakespeare.
A issoeleretrucouque setivéssedadesecrera
próprio
Shakespearede que sua
mos rido a palavra do
eleateriaaceitoimediatamente.O caso
identidadeerasecreta,
aqui era completementediferente:não tínhâmos nâdâ a não
que estâvâpâsser a palavrado Mr BrincaÌhão.Eu repÌiqr.rei
assim
às palavrasde
mo de vê-lo atribuir tanta importânciâ
âsPaÌavns
Mr. Vereker Ele quis entáosaberseeu consid€râva
prepârâdo,nâ
de Mr Verekermentirosâs.Talveznão estivesse
minhainfeliz reação,parairtão longe,mâsinsistique atéprova em contrário, eu asconsiderâÌiacomo produto de uÍna imaginaçãoingênuademais.Eu não disse,confesso(eu não sabia
bem nessaépoca),tudo o que sentiâ.Bem Iá no frlndo, como
No cernede
diria Miss Erme, eu estavainquieto,esperânçoso.
(pois
minhahabitual curiosidameu confusoestâdode ânimo
cinzâs)
esravâ
a sensaçáo
agudade que
de sobreviviasob suas
Corvick provavelmenteiria, aÍ:ìnal,chegara âlgum resultado.
o fâto de
Em defesade suacredulidade,eleressaltouba-stânte
<cu\
e5tudo.sobrees'egènio.c:pque.hj muito tempo.em
e.inxi\ de não 'ei o qur. dibei' nor.. p.rdìãã
ràrdexrlàçõe5
-ffifiìilãã.ult*
t**r-"",.
,i ; qïe á,rii,aaiaridadã
e à b e le ràd o là ro :t ud o5 er j u \ r r v al a o D e ma o q u ee u r e l r l a r r l
Se em diversasocasióesvoltei à casinhade Chelsea,é
possívelque o tenha feito tanto para ter notíciasde Vereker
como dã enfermâprogenitorade Miss Erme. As horasque lá
paiseifaziam-meimâginârCorvick como urn silenciosojogador de xadrez,de semblantesombrio, curvado,durante todo
o inverno e ì luz de ìampióes,sobreseutabuleiroe suasjogâdas.Na medidaemque minha imaginaçãoampÌiavao qua&o,
esreme âbsorviacompletamente
a atenfo. No Ìadoopostoda
132
llENRY.lÁM!s
mesaÍìcavaumâ figura maisfanrâsmagórica,
a Íìguraindisrinta de um antagonisrâconfiante e bem-humorado, mas urn
poucoentediado;um anrigonistaqu€seinclinavaparâtrál em
suacadeiracom asmáosnos bolsose um sorrisono rosto belo
e sereno.Pertode Corvick, atrás<lele,Íìcavaa moçâque no comeco me pârecerapáÌida e debilitadr c depois,num exarne
maisínrimo, bem bonita, equeseapoiavaem seuornbro e dejogada".tle pegavaum.rpecíìe màrìribruçara-,e
'obre.ua,
nhâ-âsuspensa
por âlgumtempo sobreum dospequenosquâdrados, e então colocâva-âclevolta em seu lugar com um
suspirode desaponcanìento.
Nisso,ajovem damaconúafeita
mudavaligeiramence
cleposiçãoe lançavaao indistinto parricipanteclojogo um olhar muito intenso,muito longo, muiro
estranho.Numa fasemais inicial do caso,eu ihes havia perguntado se não podetia contribuir para seu êxito estabelccer
um convívìomaisíntimo com Ver€ker.As circunsrânciâs
especiaisseriamcertamenterespeitadas
no sentidode me daremo
direito de apresentáìos.Corvick imediatamenreícpÌicou qu.:
não tinhavontadede aproximar,sedo altaranresde ter prepxradoo sarrifí<io. Con(ordrvainleirrm(nrecom no\\o dmigo
tanto quânro com o pmzercomo quanto com e honÌadezda
caçada;abateriao animal com seupróprio rifle, Quando lhe
pergunteiseMiss Erme era umâ atindorâ:Ìssimtão ciosa,ele
dissedepoisde pensarum pouco:
- Não, tenho vergonhade dizer,mas o que ela quer é
armarumâ cilxcla.FariaqualquercoisaparaconhecéJo;diz que
necessita
de outra "dica'. O assuntodeixa-arearmenreooeite.
Mas ela precisaaceitaras regrâsdo jogo: não vai conhecê-lo
de forma alguma!- acrescentou
eleem tom enÊático.
Fiquei imaginandose elesnão reriam aÌé discurido um
pouco por causado assunto- uma suspeitanão retificada
pelamaneiracomo eÌeexclamoumaiscleuma vez:
- Ela é de fato incrivelmente...fantasticamente...Ìitcrárial
A V D À PR va D A
È Ou ÌR Ás
H sr ÕR a r
133
Lembro-me de ouvi-lo dizer que elasentiaem itálico e 1
t^
ì pensavaem marusculâs,
t/
Quanclo Ênalmente o tiver clecifrado dìsseele
também -, então bâterei em suâ porta. Mais exatâment€i
acredite-me)ouvirei de seuspróprios lábios: "Você acertou
meu rapaz,dessavezconseguiu!".EÌe mc cingirácom x coroa
da vicória....o laurelda crícica.
Ne 5 . eme iot em p o( l c r e a l m e n rper o c u r o ret ' r 1 u i r a r . ' e
clasopottunidadesque a vida londrina lhe ofereciade conhecer o ilustre romancistâ.Esseperigo deixotl, no entanto, de
da InglaterraPor um pe_
existir,quandoVerekerausentou-se
ríodo indetcrrninado,como os jornâisanuìciârâm, indo Pârx
com a saúdedeslramuÌhe! que
o sulpormotivos relàcionados
já há longo tempo mantinha-seâfastadado convívjo socìâl
Um ano...maisde um ano...hâviasepassâdodesdeo incidente de Bridges,mas eü não o vira mais Acho que no ftudo estâvaum Poucoenvergonhâdo:detestavalembrar-lheque ernbora tivesse,de maneirairremediável,falhadona identi{ìcação
de suapeculiaridade,estavârâpidamenteadquidndo a reputaEsseesdúpulocausou-meProçãode serun críticopersPìcaz.
blemas;mantevc-rneafastadodacasade LadyJane,fez_meaté
declinar (quando, apesarde minha falta de modos, ela teve
pelasegundavez.Ì gentilezade me fazerum aceno)um convite parasu:ÌbelacasãdecÌmpo. tÌmâ veznotei a presençadela,
escoltadapor Vereher,em um conceltoJe tenÌrocertezadeque
Senti,nessaocaserPercebido.
elesme viram, mâsescâPeisem
siáo,enquânto me âfàstavachâpinhandonâ chuva,que não
poderiater agido dc outra maneirâ;mesmoâssimlembro-me
de dizerparacomigo que eradificil- eraatécruel.Eu não só
perderâos livros, mâs também o próprio Ìromem: os livros e
iguâimenteinúteisparamim. Sabìa
seuautor tornâram-se
tarnbémqual a perdaque maislamentâvaEu me âfeiçoâraao
homem muito mais do que jâmaisme âleiçoaraa serÌslivros
I
134
A V , DA
,,
eis mesesdepoisde nossoâmigo ter deixadoa IngÌaterra,
foi contrataGeotgeCorvick, que vivia do ofício de escrever,
do paraum trabalhoque lhe impunha uma ausênciamais ou
menoslongae umaviagemmaisou menospenosa,e do quaÌ,
paramiúa grandesurpresa,
resolveuincumbir-se.Seucunhagrandejornaì
regionâI,e essegrândo tornara-sediretor de um
de jornal regional,num belo rasgode imaginação,concebera
a idéia de enviar um "correspondenteespecial"à índia. A
especiais
tiverainício na "imprenmoda closcorrespondentes
jornal
questão
deveter sentidoque
sametropolitana",e o
ern
decorreratempo mais que suficientepara um simplesprimo
interiorano adotála. Corvick, na minha opinião, não tinha
talento para asfortespinceladasde um correspondente,mas
issoeraproblemade seucunhado,e o fato de uma determinada tarefanão fazcrpartedeseuramo de atividadepodia ser,de
suaparte,exatamentea mzáoparaaceitáJa.EÌeestavadisposto a esbravejar
maisdo que a imprensametropoÌitana;tomou
sériasprecauçóesconrrâ o sencimenmlismo,infringiu habiimente o bom gosro.Ninguém nunca soube:essecricérioda
injúria erauma de suaspeculiaridades.
Além dasdespesas
pes(e
soais,Corvick deveriaserconvenientementepago descobri
que podia ajudíJo) pelo livro volumoso de sempre(conseguindo um acordorazoávelcom o volumoso cditor de scrnpre). Inferi, natura.lmente,
que seuóbvio desejode ganharalgum dinheiro não eraalheioì perspectivrde uml união com
GwendolenErme. Eu erasabedorde que as objeçõesda máe
principalmenteà suaescassez
derecnrsos
dajovem referiam-se
e de habilidadeslucrativâs,mâs aconreceuque na última vez
que o vi, aodizerqualquercoisaque serelacionavacorn o problemade suaseparaçáo
de nossajovemdama,eleexpressou-se
com uma ênfaseqr.reme surpreendeu:
PR ,vÀD À E Ou ÍR Á5
H r sÌó R r Às
135
- Não tenho nenhurn comprornisso de casamento
com elâ,nenhum.
porquea mãedela
-Oficialmente náo-respondi-,
não gostade você. Mas sempredei como certo de que havia
um acordoParticulâr.
- Bem,de larohavir;masnãohi mais.
Foi tudo o que eledissecom €xceçãode algo sobreMrs
Erme ter recuperadonovamentea sâúdeda Íòrma mais exque, a meu ve! levavaà contraordinátia- uma observação
clusáo de que acordospârticülaressão de pouca utilidade
quandoos médìcosnão compartilhamdeles.O que tomei aliberdadede inferir rnaisacuradamenteé que a moça poderia,
de algumamaneira,ter ferido seussentimentos.Bem, se,por
exemplo, ele tivesseâgido por ciúmes,seriapouco provável
que fossepor ciúmesde mim. Nessecaso- além do absurdo
da coisa-, elenão iria seafastarjustamenteParanos deixara
sós,um com o outro. Por algumtempo antesde eÌepartir náo
nos permitíramosalusóesaotesouroescondido,e, deseusilêncio, que a minha discriçãosimplesrnenteemulava,eu havia
tirado uma conclusáobem definida:suacorâgemtinhâ seesgotadolsemardo! seguiraomesmocamiúo que o meu; pelo
menos essafoi a exterioridadeque me permitiu perscrurar.
Mais do que issoelenáo podia fazer;não seriacapazde encarar o ar de triunfo com o qual eu teria acolhidouma confissão
expÌícita.Ele náo precisavater tido essereceio,pobre coitado,
devanglopois a essaalturaeu haviaperdidotodanecessidade
riar-me.Na verdade,acheique fui magnânimonáo censurando-o por seu malogro, pois a idéia de ele ter renunciado ao
jogo me fez sentit mais do que nunca o quanto eu afinal deeu nunca Êcariasabendo;
pendia dele.SeCorvick Êracassasse
ninguérn rnaisconseguirianada se ele, Corvick, não conse_
verdadeque eu tivessecessâdo
guisse.Não era absolutamente
pelo assunto;poucoa pouco,minha curioside interessar-rne
dade não apenashaviacomeçadoa doer novamentecomo se
136
HÉNRY
A v D À PR va D A
iaMEs
tornãrao tormento lìabirualdos meusdiase dasminhas noites.Indiscutiv€lmente,há pessoas
paraquem tormentosdess:r
oÌdempàrccemÌÌlenosnaturaiscìoqueasconrorçóesde dor de
uma enfennìdade;masaÊnalde conras,não sei porque deveri:Ì scquermencionálasa essepropósiro.De qu:rlquermanci,
r . . .p JL rr \ po u cJ\p\\.ors.anornr.ri,
orrn;r', co m rs q L t . ri.
mi.
nÌrahistóriaseocupa,a lirerattuaé urn jogo de habilidacles,c
habilidadesignifìcacoragem,e coÌagemsignificahonra, e
honra significapaixão,vida. O prêmio em consideraçáo
tinha
um
e.pc,
i
r
Ì
L
e.t
rolcr.'
eram
no',r' menl( a g irà t .m: r,
' . r r tid o
s e r ì r J\
Jm o -Ììo\enI volLado prno vcrdetio aL(lllrm(n t c(lu ,nr .
to ossorurnosjogadorcsde Montc Carlo.Dc Íàro,Gwcndolen
Erme, com suasfèiçõespílidas e olhar fixo, eriÌo mooeroexato
daquelasmulheresmacilcntasenconuadasnesscstemplos da
fortune. Na ausênciade Corvick notei que elaesrimulavâcsse
analogia.Era cxtravagante,admito, o Ìnodo como elâ vivia
parâa ârte de escrever.
Suapaixãoatormcntava-âvisivelmente, e cÌlì suil prescnça,eu me sentiâqLlaseinerte. Resolvircler
Lí no Funda:cra um deseftono qual ela se perdera,mas no
q u , r ì r ::m b e m ;br irrurnrurprcrndenrebrr ra c o n . r. rre
i. r ,
L rmf
cavidadcda qual Corvick, mais extraordinariamenteainda,
No começode março,reccbiurn relegramadela,em
conseqüência
do qual clirigi-meimediar:rmcnte
a Chelsea,
orde a primeira coisaque me dissefoi:
' LIedescobriu,
eledcscobriuj
5 u ae m ,,ça o.
com,,pudever.: ringirralir rre n . id z dqerre
Llr ,ó p61lç;i2
6,1rr rele-indoru grand,2conlerimcnro.
""
A idéiadc VereÌ<er?
- Suaintençãogcral.Georgetelegrafoude Bombairn.
EÌa tinha em máos a mcnsagem,abertajera enfíticn e
concisa:Ìomesrnorempo:"Eureka!Imensa!".Issoeratudo; ele
haviaeconomizadoo custodaassinâtura.
Compartilhei de sua
emoçáo,mâs estavadccepcionâclo.
E Ou ÌR Ás
H sÌó n
as
137
EÌe não diz o que é.
num telegramaÌELevâiescrever'
Cornoscriapossível...
é
que
ele
sabc?
M:Lscomo
AÌr, tenho ccÍtezâde
Sabequc é :r idéia verdadeira?
panrìt deat*
que ao descobri-laÊcarásabcndo.Verainrcssu
Você d que é urna "veri' amìgapor mc dar essanotícial - eu lazia o PossíveÌpar:rrne rnostrarentusiasmado.
cle
Vixenu!
no
temPlo
nossa
deusâ
inagine
encontrâr
Mas
Não é estranho(ìcorge ter-senovâmentejnteÌessâdoPeÌoase tão diferentcs?
tão Poderosâs
sunto no meio de soÌicitaçóes
Não foi cle quem se intcÍessou;foi o pfóPrio âssulrto que,deixadoigorosÌmente de lâdo duranteseisÌÌeses,sim- .'i.1.i
ro da Ílo-'plc.menrerrlto,rìobreeìeLomou mr liglet.-dcdc-nt
leçott
Verr
k( | com ele, d( -i
tteuliur''lìvro de
ÃÌT]Eteìfiõ
de
fazê-lo:conhe- '
tcria
necessidade
rra
verdade,
não
pffisito;
ce todas as páginasde cor, como eu.'lodâs elaspenetrarân-Ì ' '.' i
;'i'l
neleao mesmotempo,e unÌ dia, em um lugar quaÌquc! qu:Ìn-\
ern toda
do não estavanem peosando,elâsseúans€ormârâm)
O decombinãção
certâ.
na únìca
suasobcrbâcomplexiclade,
;p:Ìreceu.EÌesabiâque eraassimque ìaìïóììl"
serho do. -.tapete
..:_*...-ì.
rc . õ i e e ' r. rlo i , r \ . r d J d e i r r - ê / . 1 ô v o . è n a o , r l e n d e ur ì e m
um pouco,mâsàcredìtoque PossâllÌecoÌìtarâgorâ Por que
elesc foi e por que consenrique setôsse.Sabíamoscluea mudançaresulrarianisso;que a diferençade pensamento,de ceo toquemágico.Tínhanário,produziriao choqueÌìecessário,
rnos tudo câlculado,com admir:ívelperfeiçiro.Os elementos
estavâmtodosem suirmenre,e na Jc,?z$?de uma experiê4ciâ^.
tïtfrâC
novâ e ìntensxelcssimplesmentei-ôìIúminìr"-.\
Positivamenteelatambémseilrrminou: seurostoEstava
Murmurei qllxlquer coisesobrc
literalmenreresplandeccnte.
e
e
l
d
.oììrirì.rou:
, ( re b rJ ç J irc
o o n ' ci e n r
- Elc vìr:i direto patacâsâ...Issoo tfará clcvoltâ.
vocêquer dizerÌ
- Parr ver Verelcer,
-
' leÌo rrdar r'dscrverdrdeirr deusi'NngiÌio,t.i&).
134
H€NÀY lÁMEs
A V D Á PR va D A
- Paraver Verekere paraver a rnim. Penscno quc ele
tem parame dizer!
Eu fiquei ern dúvid:r:
ì olì r c , r in d i .ra
Qr r el nd i' n. d. i rol,reV rreker..oL rc ,J, c ' c rlro d o
tlÌPetc.
-Mas
como vocêdisse,elecertrmenrevarnos cscrever
Fìlaficou pensativa,com ar inspirado,e me lembrci clc
como CoÍvick mc disscrâ,lÌá algum tempo, que seurosro erâ
iuteressante.
-Glvez não caibanurna carta,se for "ìrnenso".
Tah'eznão, se l:or uma imcnsaasneira.Se ele possui
aìgrrrrr:
ver.
cui'aq uerr.rocrbenumr , Jrlr. nJopo*ri :r, ,
'i\.,
que
próprio
dadeira.O
o
Verekeimc esscverou
é exatarÌenre
que o oelcnnô c:geltanLLlllJ
cJrta,
Bem,j:i passcium telegramaão George...duaspÌlì\rri
di'reCrvenclolen.
- Sctiaindiscretode milha parteperguntârqueissão?
Eia demorou um pouco mas finalmente enunciou-:ìs:
exclàmci.- (f timol
enviar-Ìheum tcÌcgnma iguaì.
Vr)u irì.ìstir também; vou
v:i
coloq u eoi u rr. rc n ì .r
1 ; i n l r r , pr lr r r ..' n .r ololm. lor.m. igu.ris:
(p r\ ' r, , t iL o L rp J J. V l r r o I u g,'r d,':r '1 ,. :e. oo,reriormerìre.om(u
tecendoatémaisapropriado,pois qtancÌo finalnente tivemos
notícir de nossoviâjânteÍòi paraficarmossimplcsc comple,
tamcntctantalizados.
Ele foimagníÍìcocm seutriunfo, descreveu suadescoberracomo scncÌograndiosa;mas seu rcbâtxmento só :r ocultou: não haveriapormenoresâtó que tivesse
€ Ou r R As
H sÌo R r a 5
139
submetidosu:ridéiaà autorìdadesupremâ.EÌc desistirade sua
nissão, desistirado livro, desistirxde tudo nìerÌosda necessionde
dadeimediatadc correrpâraRapaÌlo,na cost:Ìgcnovesâ,
uma cartaque deveriafìcar
seenconrrâvàV€reker.F,screvi-lhc
minha anà suaesperaem Aclen;nelarogavaJheclueaÌiviassc
sieclade.O indícìo de cluereccberÌminlÌa cartafoi-me clado
por um telegramaque, tendo chegadoàsmìnhasmãosdepois
de dias tediosose sem que tivesserecebidoquâÌquerresposta
à lacônicamensagemenviadaa Bombrim, rinha aevidenteitrtençãode servircomo rcspostàâsduascomunicrçõcs.Estâvâ
escÍitoenì frâncêscoloquial,francêsatuxl,cloqual Con'ick faziâ uso freclüenteparamostmr que não era pedante.SobrcaÌo efeito era o contrátio, mas su:rmensagem
gumas pesso:Ìs,
"Tenhapacìência;quero
pode perfeitamentescrpârâfrâseâda:
ver a cxri que vai fazerquando ficâr sâbenclo!"("Tellement
envieclevoir ta rêtel",foi o que tive quc agüentarem siLêncio).
Não sc pode dizerque me tenharcalmentemânddo em silênc io .p o i. ì . n rh ro Í Ì ìcd e q u e .n e . . . ré p " c : . r i v i . rm o v i m e n r " n '
do-mc ruidosamenteentte minha cu:r e a casinhade ChelseaNossairnpaciência,a dc Grvendolene a minhaJerascmeÌh:Ìnte, maseLÌcontinuâvâcomespennçasde qucseLlconhecimenclenoss:Ìs
to fossemaior. Durântc csseepìsódio,para pessoas
posscsig:Ìst:Ìmosmuito dinheiro cm telegrâmase canos de
lrluglreÌ,e eu coÌÌtâvarecebernoticias dc R:rpalloirnediatamente após:Ì rcunião do descobridorcorn o dcscobcrto.Esse
intervalo p:rreceuclurâr uÌÌ século,mas urrr dia bem târdc,
ouvi um veículoprecipitar-seem clircçãoì minÌra porta com
por unìa sugestãode magnanimio estardaÌhaço
ocasiorìâclo
cladc.Eu vir'ìa corn o coraçáotrasmáos e dessemodo pulei
pâraajanela,um Ìnovimcnto que me proporcìonouavisáode
umã jovem senlìorade pé no estribode um cabrioléolÌr:rnclo
paramìnha casa.Ao rnever elabrandiu um paârÌsiosamente
pel com um gestoclLr. fcz descerimeài"t"rtr.ní., o gè"tã
-e
140
HrNÂY laM.s
A
com o qual,em melodramal,brandeÌr-selerÌçose comLltâções
clóTërããoÈ-ídõìü;f:ii":õ.
.--"
!Acã'bõtle nrc crcontrar con Vcrckcr: Nem um:Ì virgula
erreda.Abrâçou-meforrernenre.Flospcda-mcum mês".Foi o
que li no papeÌenquantoo cocheirodo dto de seupoicifo nos
lançavaum sorrisodìvertido. Na niÌìha excirlção,paguci-o
gcncrosxmcntc,c eÌa,na dela,consentiu;então,erÌqu:Ìntoele
seretifava,começamosa caminharde um ÌâcìopÌra o outro c
a conversar;jÍ tínhamosconvcrsadobastanteantes,só Deus
sabequanto,masdessavezfoi urÌÌaeuforir meravilhosa.Imaginamostoda ir cenaem RapaÌlo,paraoncìctcria cscrito,rnencionaÌrcÌollleu noure,pedìncloperrnissãopar:rf:rzerrLnu visitr; isto l, cu ó <1ue
imagineiascoisasassim,tendo mais dados
do qrLca minÌra companheira,que sesenriâpresaàs minhas
paÌavrasenquantoparávamosde propósito dianre de virrinc._
cluenão ollìávaÍÌos.De uma coisatínhamoscertezã:se ele ia
esreÌÌdersu:Ìesr:Ìdjxcom vistasa um diálogo rÌÌaiscornplero,
deveríamos,
peÌomenos,recebeÍúmx cartxque nos ajudasse
a
ârÍÌvess:Ìros peÍcâÌçoscÌacÌcmora.Compreendiamosque quisesscproÌongatsuaestadia,e no enranto,cadâum de nós pcrcebìa,creio,que o oLLtroodiavacssapossibilidade.
A carta,que
tínÌumos cerrez:r<lercccbcrchcgoui era para Grvendolen,e
âprcssci-mca irvisitá-la paraihe poupero tr:rbalhodc trazôla
ató minha casa.EÌa não a leu pare mim, o qLlcó b:ÌstanteÌìatúrâÌ; m:rstransmitiLr-meseuconteúdoprincipal. Esscconsistia na extraordináriadeclaraçãocleque clcpoisclecasadoseLe
Ìhe contariamiruciosamentetudo o que ela querìas:Ìbcr.
- Só errtão,só quancloeu for sLl:rmL hcr; antesÌrãoexplicouela. Issoequivalea dizcrque precjsome casarcorÌì
eleirrredi.rr..menrcl
Ela sorrìaenqu:rntoeu Íìcavevcrmelho de contrariedade corn o espectrodc um novo adiarnento,o qrrc, no início,
não me permitiu ter consciênci:r
de minha surpresa.
PâÍeciàsct
m:risdo quc um indiciode quetambéma mim eleilia impor
II
:
V LD A
P R Lv À o^
E OuÌR Â 5
È 5ÍoR
as
141
aÌguma aborreciclacondição. l)c repente, cnquânto ela mc
lelatavaalgunsoutrosdetalhcsda carta,lembrei-medo cluccÌe
haviame dito :rntesde viajar AcharaMr. VereLerum:r Pessoa
vcrdadeirementc
e sentia_sc
extraofdinâriaÌrentcinteressaÌìte
O tesourocsconexultanrecom su:rprópria possedo segreclo.
Agora que cstâv.Ìdìandido eratodo ouro e pedr:rspreciosas.
te dele pareciãÌLLmentarcad:Ìvez Ìrais; tornâr-se-ia,atlnvés
todosos idionas, um dos mais
dos tempose considerândo
orDamcntosda artc literárie.Acima de tudo,
maravilhosos
frentea fienre,via-secluenáo Poder;atcr
depoisde o tet a.ssirn
sido realizadode urna ÌlraneirâmaisPcrleitâ.QuanclochegouI
â vez de ap ece! apareccu;Íìcou ali, com uÌr espÌc[dor que i
envefgonlÌava;e não hxvia a mílimà razão- s:rlvona vulga- 'i
corrompiclâse selÌì I
ridadeinsondávelda épocx,com aspessoâs
- per:rque tivessc i
gosto cstético,a scnsibìlidadeparalislç13
tão simPles;
c
no
entanto
Em
grandioso
sido negÌigcnciado.
era simplese no cntinto táo grandioso;e o conhecinÌento
fi nel deleela umaexperìênciainteìranentc independente.LìÌc
o clescjode esgotá_
insinuou que o encantodessaexPcriência,
la em scu frescol até ì írltima gota, era o que o mântinha lá
perto de fonte. (ìrvendolen, oslensivalncntceufórica ao mc
diantc de uma
exibiao elrtusiasmo
fragmentos,
ariraresscs
expccrâtivalllais certado quc a minha. Issome trouxe de voÌra ao problemade seucâsimento,ìmpeÌìu-rnea pcrgunrarse
o que elaqucià dizerconì o que há Poucome causaìasrÌrPresacrà que ela cstavânoiva dc Corvick.
- Vocênãosabiâ?
- Claro queestoul- IcsPondeueL:r'
cstrÌvâ
mais aindâ, pois
mas
eu
Ela pareciaespanrada,
Corvick havia nc diro justamentco contrário.Não mencionci o fâto, porém;àpenaslembrci-lhequáopoucoeu gozaracLe
srÌaconÂclênciacom resPeitoa essclÌssunto,ou lììcsmo da
cleCorvick, e, além disso,eu não ìgnoravaa ploibiçiro de sua
mãe.No Àmdo eu estevacmbâraçadocoÌÌ rÌ disparidadeclas
cluasversões,rn:rspassaLloüm ìnsaantescnri que era da cÌc
142
A V o À PR va D A
IIEN RY l ÁM r s
CorvickqueeudrLvìdavameios.
Issosimplesmenrecompeliu,
Dlea indagar-meseâ moça não haviaimprovisadoum noivado naquclc exatomonento
rememor:rndoum antigo ou
lascunhandounÌ rÌovo a fim dc alcançara sarisfação
descjada. EÌa deveter tido recursosque me fâltxvamJmas tornou
seucasoum pouco maìsinteligíveiexplicandoem seguida:
Asituaçãoé que nossentìrÌosrÌâturâÌmentcn:Ì obì ig.rç,-'o
de n.-'oLr,,^rr'-Jr. n,1ua'rro
maÌÌìnee.ri\ervi\.r.
Mas agorevocêachaque poder dìspensaro conscntiÌì1entoda mxÌnáeÌ
A h hh- '
" " -.h " -" "
'
i " .-l
Eu fiquei imaginandoaondepoderiachegar,e elâ continuou:
-Pobrezinha, épossívcÌquc eÌaengulair pílula.Na vercladc,..- acrescentoucom ì.rmxrisâdi , cla realmentevai
ter que engoli-Ìa! uma aiìrmaçãocuja fòrça, enÌ Ììonle dc
todâsâì^pessoas
eDvolvidas,admiti plcnamente.
\í1i,
adamaisvexrtório jamaìsme aconrecera:
anresda chegadade
Corvick à lnglaterra,dei-me conrade quc náo estafialá püa
recebêlo.Fui chrm:rdoabruptamenteà Alemenlu por causa
claaÌarmantcdoençade meu irmío mais moço, que, conrrÌ,
rianclomeusconselhos,
rinhaiclocstuclaremMunique aertc cla
pìnruraa riÌeo,como discípulodc um gnnclemesüe.Apârenrâ
próxìm:rqrLcÌhc davauma mes:Ìdaameâç:Ìrnretirále se,sob
quaisquerpretextos,
elclbsscàprocurade algurnavenlaclcsuperior em Pâris sendoParis,de algumaforma,paraunra tia cle
ChcÌtenharr,a própria escolado mal, o abisno. Deplorci €sse
tipo de preconceirona ocr,sìáo
e seuprofundo e danosoefèito
fazia-sever :rgora:prineiro pelo fato de quc não salvariro pobre menino, que erirralenroso,m:rsfracoe tolo, da infìamação
I
l
E o u r R Ás
H 5 Ìó R
À5
143
dos pulmõesie, segundo,pelâmaiof distânciade Londtesa
. Ì u ( o e \ e , ì ron ì e \ un d e l ì . 1 -çr:.n l oJ i / e r . ì L ro q u e r r : i ' n r er i de ansiedadecra
nha à cabeçadurantetodis aqucl:ÌssernarÌâs
elÌÌ Paris,podetiacìar
a impÍessãodc que,selÌo rnenosestivesse
e i, a Londfcs encontrâr-meconì Corvick. Isso
uma escapada
erx reaimenteimPossívcl,sob todos os pontos dc vista: mctl
deu-nos,a mim c a ele, mutto o quc
irmão, cuja recuperação
fazer,frcou doenretrêsmeses)durânteos quaisnão saído seu
lado c ao ténlìno dos quaistivemosque nos clefrontarcorn a
proibição :rbsolut:rde um retorno à In8ÌífeÍra () morivo do
clina impôs-sce rneu irmão não estavâem condiçõesde suì:nÌeter-sea elcsozinlÌo.Levei-oparaMcrano e Ì:í passeio veráo
corn ele,tentãndoensinarJhe,por cxemplo,coÌllo volt a ttâ_
uÌn liPo de ràìvaquc rbsolutementenáo
balhar,e crrlcivanclo
tentei lhe cnsinar.
'loda a siruaçáodemoÌìstrouserâ primeira de uma série
dc fenômcnosintcrligadosde um modo táo esrranfroque, to_
ÍÌados em conjunlo - que erâ corno eu tinha que tomá-los
-! coDstituemum exemplo,tão bom quanto PossalÌe lembra! da maneiracomo,palâ o bem de suaalmâProvavclmente,
o destinoàsvezestrataâ ìvìdez de unÌ Ììomern Essesincìdcnrc ' rr' e , ' m re . u l' . , d oI ', a i ' . . r n p , ' < 1 oq u . ' c o t r t p ar r i r ' r t n e r r '
' e r-, r' lí o c re , , , n . e r l ü .i r. 'c o c . q u ' l n , ^ o c u p r m o ' q u i . m
bor:reu considelecssaconscqiiênciacomo algo a sertambém
tratâdocom respeìrc.É sob csseàsPectoPrincìpalrnente,confruto de rrreu
fofmâ, que o desagfad:ível
fesso,de qua1,1.ter
exilio é lembradopor mim agora Mesmo no começo,é vercladc, o espírito com o qual minlÌa avidez,coÌno â denoninei,
me fez consideraresseresdtâdo, náo devianem unìa PÌrceÌa
de tr:rnqüìlitladeao fato de qüc ântesclevoÌtat de RapaÌÌo,
GeorgcCorvick escreveu-nede Lün.lrneneiraque náo gostei.
Suecarta nadatinha dâ açãotr.ÌnquìlizâdoraqlÌc, devo recoatribuirlhc, e a marchàdos âcontenhecerhoje, ele clesejara
cimentosnão €oi táo ordenadaa ponto c1ecoÌÌPensaro que
144
HÈNRY
laMÉj
faltava.Ele começaraa escrcverimediaEmenre!para uma publicaçãorrimestral,a última e definitiva palavrasobrea obra
de Vereker,e esseestudoexaustivo,o único a ser levado em
conta, .Ì existi! âcenderiauma novâ luz e expressaria
- ah,
com tanta discriçío! - a verdadeinimaginível. Em ourras
palavras,reconsrituiriao dcseohodo tapeteem todasassuas
convoluçõese o reproduzjriaem todosos seusmârizes.O rc_
sultado, seguDdomeu amigo, seriao maior retrato licerário
.jamaispintado, e o que eleme pediaerâcxatamenteque Íòsse
bem bonzinho e não o percurbasse
com pergunmsareque ele
pendurasse
suaobra-primadiantede mim. Ele deu,mc ihonrâ de declararque,pondo de lacloo eminelte moclelo,pairando nasalturasem suaindiferença,eu eraindividualmenteo especiaÌisca
a quem seutrabalhomaisse dirigia. Èu tinhr então
que me compoftar couro um bom meniuo e não tenrir olhar
por baixo da cortina antesdo espetáculoconeçârj eu o âpreciariamujto maisse espera.sse
sentado,bem quierinho.
Eu fiz rodo o possívelp:rraesperarientado bem quieto,
masnão pude deixarde dar um pulo tluando li no The Times,
depoisde estarhá uma ou duassemanajem Municlue,e, como
eusabia,antesque Corvick rìvesse
chegadoa Londres,o anúncio da morte súbitada pobre Mrs. Erme. Imediarameite,por
cârtajpedì pormenoÌesa Gwendolen,e eÌa
...r.u"., .àrl,
-"
tândo quc sua mãc r;nha sucumbicloà insuÍìciência
cardíaca
que a ameaçavahá longo tempo. EÌa não disse,mas tomei a
Ìiberdadede Ìer nasenrelinhas quc do ponto de vir^tade seu
câsâmento,e também de sua impaciência que fazia uma
boa parelhacom a minha-, essaerauma soÌuçãomais rápidado que se esperavac mais simples d,_,,1ucesperarclre a
veÌhasenhoraeugolissea pílula. Na verdade,admito Íì.anca,
mcrre que neç\depuc.r poi\ me (orrespondi.r
com ej.rcom
freqüência li algumascoisassingularesem suaspalavrase
outrasmeisexrrâoÌdinátias
ainda em seussilêncios.Dcsse
modo, pegandoda pena,revivo esserempo, c cre me rrâz oe
A V L D Á PR vÁÒÁ E O u Ì ÂÀ5 H r sÌo R a s
145
voÌtÌ â estranhajmpressáode eu ter sido,duriÌnremeses,e sem
que o desejasse,
umâ espéciede espcctadorforçado.Toda minha vida refugiara-seem meus ollÌos, os quais o dcsfile de
acontecimentospareciaempenhacÌoem manter alrcgalados.
Houve diasen que penseiem escrevera Hugh Velcl<cre simplesmenteapelârpâmsuabenevolência.
Mas tinha a mris profunda consciência
de cllrenáo decaíratântoassim,rlinr <loque
ele,muìto aproprìadamenre,
iria mandar-metratar dc nrinha
vida.A morte de Mrs. Elne trouxeCorvickdirero parl cirsire
durante urn mês ele reuniu-se"mu;to discretamerÌte"- tÍo
discretamentecomo, deduzi,elepretendia,em seuartjgo, fcvefu srlLtraatai/le- coÌn a jovem damaque elehavia anrirdo e abandonado.Useì esseúltimo termo, possodizer entrr
porque postedormentetive cadavezmarscertczrr
Parênteses,
de que na épocaem que elefoi paraa india, na épocada grande notíciaquemandou de Bomblim, náo hâviaabsolunmente nenhum compromissoexpÌícitoentle eles.Não hâviâ nen h u m n o mo n ' c n toe m q u e e l J m e J f i r m , . v ,jìu ' f . r m c n ( eo
contrário.Por outro lâdo, tenhocertezade que ficaramnoivos
no dia de seuretorno.O feliz casalfoi passara lua-de-meÌem
Torquay,e lá, num momento de irresponsabilidade,
ocorreu
ao pobre Corvick levarsua noiva para um p:rsseiodc tílburi.
Ele não sabiaconduzir essetipo de veículo:tiveraprovadisso
há muito tempo numa pequenaviagemque fizemosjunros.
Em um tílburi eleempoleirousuacompanheirae sâiuem LLm
p:rsseioruidosopelascolinasde Devonshire.Em uma dasmais
apropriadasparaesseÊm, dcrrubouseucavalocom tâl violênciâ é bernverdadeque essedisparara qtc osocupantesdo
cârro foram arremessados
para a frente e ele bateu com a cabeçano chão.Ele rnorreu na hora; Gwendolenescapousem
ferirnentos.
Vou passarrapidrmcnte sobreo problemadessaimplacáveltragédia,sobreo que a perdade meu melhor amigo
146
HENRÍ
l^M!s
sìgnificou para mim, e vou comPletara Pequenahistórii de
e da mìnha dor com a afirmâçãosincerudc
minha persisrência
gue,em vn postscriptun à minha primeiríssimacarcaparaeÌa
dcpoìsda tertívelnoticia, eu pergunteia Mrs. Corvick seseu
o impo rL ; n t , rr' rig o
ma r i <]or r :o r cr i : :o ttrennstertttirlado
tãoimediataquantominhaper_
Suarcspostafoi
sobreVereker
gunta:o artigo,que malfora inìcìaclo,craapenasun fragmenÈla explìcouque nossoamigo, ailda no exto constrangedor.
terior, tinha acabldo de se acomodarpara escrevêìoquando
fora ìnterrompido pelarrorte de suamáee que então,âo voltar, Êcaraimpcciidode t.abalharpelasocupeçõesàs qu:ris
os arrastara.As páginasiniciaiseram tuclo
cal.rrnidade
a<1uela
rnasnão
etam Promissoras,
o que existie;elaseramatlmirár'eis,
ol'viamenÌirerárìa
iria,
o ídolo.A grandefaçanhe
desvelavam
EÌanão dissemaisnada,nadaqueme
constituiÌ
sct1clímax.
tc,
sobrea condiçío de seupróprio conhecimentodo
esclarecesse
e u . r irn a g inrrr
i ì \ 5 u nr o co r h c,itnentop.'r''cujr colrqui'r.r
Acima de tudo eu queriasaberamandode forma assornbrosa.
ì 'l-criahavìdo uma
o seguinte:elaafinâl\,ireo ídolo ciesvelado
cerimônia particular para um palpitante públìco dc uma só
pcssoa?
Por quc outra razáoa não seressrcerimôniativcram
lug:rrasbodas?ìÌrLnão queriâPressioná_la
Por enquanto,cmenttc nós com referônno quc sepàssara
boraquandopcns:rva
cia ao assuntodurantea ausênci:rde Corvick, suasreticências
Por essar:rzáonão foi senáomuito mais
rne surprcendessenì.
tarde, de Merano, que arrìsqueìfazeroutro tpeÌo, arristluci
pois eÌacontinurva náo mc dizendo
com algumaapreensão,
fènada."Vocêouviu naquelesseuspoucosdiasdc desgraçada
tanto ouvir?".
Ìiciclade",escrevi,"aquilo tlue nós desejávamos
Eu escrevi"nós" para fàzer-lheurla ligcira insinuaçáo;e ela
mostroLrquc eràcapazclccntendetuma Ìigeirainsinuaçáo
"Eu ouvituclo", respondeueÌ:l,"e não pretcÌìdocontar nad:Ì:l
ninguém!".
A V D Á Pi vÁo À
E Ou Ìn Àr
Fi sÌó R r Ás
147
1v
f , ra imp " * iv c l n io . er . r [ e u d op e ì , '' . n r i m e n r od e g r r n d e . o m l: p : i' ju
p o r e lae . " o r e g r e ' . air I n g l . r r e r r ; . . u m u l e id- ae r o d - r
asgendlezâsâo meu alcance.A morte da mãe a deixaracom
rendimentossuíìcientese elafora morar num ÌocaÌmaisapropriaclo.Mas sofrerauma grandcperdae suaprovaçãofora cnrel; nunca mc teriaocorrido, aÌérndo mais,suporque elaviessea ter a idéia de cluca possede uma infôrmaçáotécnim, de
um fragmentode experiêncialiterária,poderìasctvit cÌccontrapesoì sua dor. Por mais csttanhoque pareçalno entantoi
náo possodeixarde acreditar,depoisde têlavisitado algumas
vezes,que vislumbreialgumacoisasinguÌr nessesentido.
Apresso-mca acrescentarque houvc ourrascoisasnas quais
não pude deixattlc:rcredirar,ou, pelo menosrpensàr;e coÍìo
nuncâsentique a5entendiacom clareza,entáo,no que diz rcspeito ao assunroque mencionei,admiro que não possoduvidar de sua inocência.Sofrìdae só, trruito inteÌigente,e agora
- em suâtristezaprofunda,suagraçarnaismadura,seusoftibcÌa,eÌapareciaestar
mento resignâdo ìncontestavelmente
e
dignidade.
A princlpio
vivendo uma vida de singularbclcza
eu encontr:uaurn meio de me convencerde que logo Ìevariaa
melhor sobrea ressalva
formulaclana semanaseguinteà cat:ístrofc crn su:rrespostaa um apeÌo,a tcspeirodo quaÌeu mesrno
náo ignoravaque deviaterJhe parecidoinoportuno. Sem dúalgum abaÌo;sem dúvida
vìda aquelaressalvâ
câLlsou-me
, e'mo
q u I n ro Í n J i\ p e n . ar : r r e l a .n ' a i . , ì r m c i n r r i g a v . rm
quandocu tcntavaexplicála atribuindo-aa serìtimentosexâlsupersaìcìosos,
a algumrequintcde lealdade.
tados,cscríLpulos
Ao mesmotempo, sem dúvida, eÌaaurnentâvâcnorÌÌcmente
o preçodo segredodeVereker,por maispteciosoquc essemishumildementequc
Dcvo tambémconfessar
tériojá parecessc.
arituclede Mrs. Corvick foi a irltima martcÌ:rdano
a inesperada
144
HENRY lÁMrs
pregoque deveriaprenderÊrmementea mìnha infelizfantasia,
da qual tenho eternaconsciência.
convertendo-ana obsessáo
Mas issosó me levoua ficar maisastuto,maisengenhoantesde renovf meu peso, a permitir que o tempo passasse
a faze! e uma
dido. Nesseínterim havia muitas especulâções
delaseraprofundamenteabsorvente.Corvick havia ocultado
a inforrnaçãoàsuajovemamigaatéa remoçãodo último obstáculo à intimidade entreeles:só entãotirara o coeÌhodx cârtola. Foi idéiade Gwendoleo,aceitandoumâ sugestãodeÌe,a
delìberarcsscadrnal apenascom baseno rentamentode tal relaçãoìSeráque o desenhodo tapetesó poderiaserpercebido
e descritopormaridos e suasmuÌheres- poramantesunidos
pelollço supremo?Veio-meàmemória, de uma maneiraconfusa,que em KensingtonSquare,quando mencioneique
Corvick poderiater contadoa nossaconvetsaà moçâ por
quem estavaapaixonado,\&reker dìsseraqualquer coisaque
sugeriaessapossibilidade.Podianão havernada de sério nissereriâque me
.o. mrr haviro sufi.ientep;ra me la;crpens,ìr
casarcom Mrs. Corvick paraconseguiro que quedâ. Ësrâriâ
preparadoparaoferecerJheessepreçopelagraçade suainforrnaçáo?"4h, essccaminhoconduzàloucural", pelo menosera
de perpìexid;def-Eno que eu diziaa mim mcsmÊn4.
\oras
veríìJlocrìr
queelase
pas\rr
quanrol\(u, eu.pod(fir
recu\avâa
, . . .i< '
adiantecontinuâÍ âcesano recinto de sua memória e emitir,
atravéscleseusoÌhos,urna luz que brilhavaem suacasadesert1\Ao fim cleseismesestive c€rtezaabsolutada compensaçáo
qË essapresençacalorosalhe dava.Tínhamos repeddasvezes
convers"dosobrco homem que nos unira- sobreseutalento, sua personalidade,seuencantopessoaÌ,sua carreiravitotiosa,seu terrível destino,e mesmo sobreseu ptopósito brilbante naquelenotávelestucloque deveriater-setorrradoum
supremo,um
reoaroliteLario
um Velásouezcrítico.Ela rne deraa entendercom insistência
q r r ee sL a r .,.r
r r n p ossibilirâda
de lalarpor su.ro b ' lrn r(in . s u rì
A
V DÀ
PR VADA
!
OU TR Á s
H s ÌóR ]À s
149
lealdade;que nuncaquebrariao silêncio,que não fora dado à
"pessoacerta'- como dizia paraque o quebrasse.
A hora,
porém, chegouÍìnalmente.Uma noite em que me encoÌÌtrava a seuladonumavisitamaìslongado que de costume,apoiei
minha mão com firmezano seubraço'
Mas afinaÌ o que é, realrnenteì
Elalez um longo.demoradoe silencio'omeneiocom a
cabeça,generosoapenaspelo fato de serinarticulado.Essagenerosidadenão a impediu de me atirar o maior, o mais agudo
e o maisdesanimador"Nunca!" quejáreceberanodecorrerde
e tive que recebêumavidâ que conhecerainúmerasrejeiçóes,
lo ern plenacara.Recebi-oe sentique com o duro golpemeus
olhos se encherarnde lágrimas.Então, por algunsinstantes,
permanecemos
sentadosollìãndo-nosmutuamente;ernseguida, levantei-meern silêncio.Eu estavaimaginandose ela rne
em paÌavras.
aceitariaalgumdia; nas não foi issoclueexpressei
Eu disseenquantoalisavameu chapéu:
-Já sei o que pensarentão.Não é nada!
compaixáopoÌ mim forUma lorgínqua e desdenhosa
mou-seem seusorrisovago;e entãoelafalou com um com de
voz que ouço até agora:
f É minha própriavidal \
E.rqo".,o .u ..p.r"u" p..dd" port4 .1"
"crescentou:
- Você o insuÌtou!
- Está se referir,do a Vereker?
- Estou me referindoao faÌecido!
Quando aìcanceia rua, reconheciajustiçade suaacusação.E, erasuavida, reconheciissotambém;mas suavida,no
(orn o p.r..rrdo tempo.deu Iugara outro inLererse,
enLanro.
Um ano depoisda morte de Corvick eÌapubÌicou, num únisobreo qualme
co volume, seusegundoromaoce,Subjugaàa,
precipiteina esperança
de encontrarnelealgum ecodenunciador,ou algumaexpressão
rweladora.Tircloque encontreifoi
melhor
do
que o que produziraquando mais
um livro mqito
A
150
HENRY
V rDA
P R !À D Á
E O!ÌR A s
ll
i ÍoÂ
a5
151
iÀM€5
jovem,-nostr:rndo,pensci,que aÌldarâerÌÌ melhorcscompaintricado, eraum tâPetecon
rhias.lDe tcciclorazoavelmente
um dcsenhopróprio; mas o dcsenhonão cra o que elr PÍoctlrava.ìAo cnviar uma críricasobrecle para O Meia, tive a sur'
pÃi.1. fi.". snlt.rldo na tcdaçãoque um comentárioi:i es.ava pronto pâraserpüblicado.Qu:rndo a revistasaiu náo tivc
dúvida cm :rrribuiro artigo, quc consicleÍeino geraÌbastante
exagelado,:r Drayton Deane, cluc nos velhos ternposhavi:r
sido amigo t1eCowick, mas que só há poucr'ssemanasÍicar:r
conhccendosuaviúva. Eu rcccberaun dos primeiros exemplaresdo livro, rnasDeane,cvidenteÌrentc,receberaum:rnrerìor ao meuSssim nresmoelenão possuíaamáo lcvecorn que
Corvick doulavaornatosde gesso;eleaplicavâo ouro fâlsoàs
borradclas.I
x
(- ei, rnr,c, m.1,.rarJ(.ìn-feceu
J. ,uìdnadc Pn"agen.t i|ritn.'
. l'l'ofJn.ìo\uultc\\eerrtdoq,rcn o ' ' e ri' . l' c l'
J o p . , rrun i,ìr d eer
clcnos redimitmos.Esclito inreiramentcdurantea esrâdiade
Verekerno exterìor,o livro foraanunciadoem centenasdc perágrafos,com astolicescostumeiras.Leveiimediatamenteum
vez alimcntava
dos primeiros excmplaresscm dírvida (cÌcss:r
a Mrs. Corvick. Esseeraa ítnicaurilidadetlue
essaespcr:rnça),
rinlra paracle; cleixeia inevitár'elhornenagemdc O Meio pa,rtr
alguémde rnenteum pouco maisengenhosac de humot um
pouco rnenosirrirado.
- Mas já o reccbi disseGwendolen. Drayton
Deanc tevea gentilezade trazô-loontem, c acabode tcrmírar
leiLur:.
'u,L
Ontcm? Como é que eleo conscguiutáo dcpressaÌ
Ele é que vai fàzcra
- ÌJleconseguetudo tão depressa!
resenhado Ìivro em O,41ela.
- 81e...Dteyron Deane...resenh:rndoo livro cìe
Vereker?
Eu não podia acrcditarno qlÌe ouvra
Por que nãoi lgnorârc;apor ignorânciâqrÌalqlÌcr
F-uestremeci,nas disseJhelogo em seguida:
Você é quem dcveriaescrcvera rescdrado livrol
- Eu ÌÌáo "rescnho"- clisseeÌar'indo.- Eu sou resenhada'l
Nesseinst:rnte,a porta abriu_sede pat cm par'
é issomesmo,e aqui estáscu resenhadorl
-Al,
Draycon Dcane lá estâvâcom sL1âs
PerÌìascomprÌdasc
suatestaalta; ele tinha vintlo p:rrasabcro que eÌaacÌrarade
Seruldãa& Passagrtne traz-crlhe uma norícia especialmentcrelevante.Os jornais vcspertinostinhânr acâbadode seir com
ern lìoma, encono autordcssaoì:ra,<1ue,
um telegramasobrc
comLunataquecìemaláril.
trava-sehá algunsdiasaclocnrado,
graveno comcço)nÌas,clÌ conO casonão Íòra consiclcr:rdo
tornaraum rumo quc poderiadcsseqüênciade compiicaçóes,
de fàto começaraÌìl1Ì
Essaspreocupaçóes
peftaf Preocupxções.
aparecernasúÌtìmashoras.
notícias,com a in!-iquei inpressionatlo,diantedessas
diferençafundamcnttl de quc a apalenteafliçãode Mrs.
issome deu a medidade
dissimular;
Corvicknão conseguia
sua consumadaindependêncìa.Iiss:rindependênciaatestava
seuconhecimentoclosegredo,conhecinento cluenadapoderia desttuiragorac que nadapoderiamodifìcar O dcsenhono
tapetepodcria aprescntarun," o.Lduasvoltasclifelentcs,mas
a palavr:rfinal fora virtualmente esctita.O esctitor poderia
descerà scpultura;ela era no mundo a pesso:ÌParaqlrcm
como sefor"sueherdeiraprir'ìlegìada a continuaçãode sr'ra
Issomc lrezlembrarcomo
existênciaer:rde mcnor necessiclacle.
eu percebera,cm um dado momento - clePoisdâ morle de
Corvick , a diminuição de seudesejode cnconrrá-loficnre
152
HrNRY lÀMEs
a frente.Ela conseguirao que queriasemisso.Eu tinha certeza de que senáo o tivesseconseguidoeÌanão iria privar-sedo
por causadaquelasresrriempeúo de sondáJopessoalmente
nos homensdo que nas
ç6essuperiores,mais compreensíveis
mulheres,que, no meu caso,só serviramcomo fator de inibiçáo.Não que o meu caso,porém, apresso-mea acrescentar,
apesardacomparaçáoinjusta,náo fossebastanteambíguo.Áo
pensarque VerekerpoderiaestarmorrenclonessemomentoJ
uma onda de angústiaenvolveu-metor{o,uma dolorosasensaçãodo quão contraditoriamenteeu ainda dependia clele.
Um problernade saúdedelicadado qual a minha única compensaçáofoi permitir que me refreasse
haviadeixadoosÂÌpes
e osApeninosentrenós,masaconsciênciada aproximaçãodo
Íìrn sugeriaque em meu desespero
poderiater ido, afinal, ao
seuencontro.E claro que náo teria feito nada disso.Esperei
sobre
uns cinco minutos enquantorneusamigosconversavam
o novo Ìivro, e quando Dralton Deaneinvocou minÌra opinião, respondi-ihe,levantando-me,que detestavaHugh
Verekere que simple-smente
Ìlão conseguiaÌê-lo. Parti com a
certezamoralde que ao fechar-seaporraarrís de rnim, Deane
me :rcusaria
de serterrìvelmentesuperficial.Suaanfitriã náo o
contestaria,nesseponto pelo menos.
Vou continuar a regisrrarnum ritmo maisligeiro a profundamenteestranhasucessão
de acontecimentos.
Tiês semanasdepoisdissoveioa morte de Verekere antesdo ano terminar,amorte de suamulher Eu não conheceraa pobresenhora,
mas tinha avá teoriade clueseelativessesobrevividoao marido o remposuficienre
prra rornar-se
con\enientemente
a.e'sível,eu poderiater-meaproximadodelacom âtênue esperânça de neu apelo.Ela conhecerìao segredoìE se o conhecia,
falarìa?Era de sepresumirque, por inúmerasrazóes,náo teria
nadapara dizer;mas cluandoelasaiucompletamentefora do
m e u al.an .e 'e n ti re;lrnentcqLiea rcnún(i2 c r. ì , r mâ rc , l
do meu destino.Eu estavaparasempreaprisionadoà minha
A V rDA PÂr vÀDÀ r O úr ÀÁs Hr r r óÀ Ás
153
meus carcereiroshaviam partido e levadoa chave.
obsessáo;
S in t o -meq u rs elà o c o n f u \ o q u a n r ou m p r i , i o n e i r on u m a
masmorra com relaçãoao tempo que passouantesde Mrs.
Corvick tornar-sea esposade Drayton Deane. Eu antevira,
atravésdasgradesdaminhaprisão essedesenlace,
emboranão
tivessehavido precipitaçáoirnoraÌ e nossaamizadetivessearrefecidobastante.Ambos eram tão "tremendamenteintelectualizados" que o casamentopareceuadequadoàspessoas,mas
eu calcuÌaramelhor do que ninguém a riqueza de conhecimento com a quaÌ a noiva contribuiria pârâ essauniáo.
Jamais,em um casamentonos círculosliterários assimos
jornais descreveram
a união , uma noiva receberaum dote
tão rnagnífico.Com a devidarapidezcomeceiaprocurarpeio
eleitodo evenro.i'ro d, aquelee[eitocujo.sinrom:rs
premonitórios seriamespecialmente
visíveisno marido.Admitindo-se
o esplendordo presentenupcial da outra partícipe,esperavâ
vê-lo fazeruma demonstraçãoproporcional à ampliaçãode
seu're.ursor.Eu .abìaqurir eramseu.re.ursos:seuanigo'obre \eruidàode Pas,agen
haviarrosdado uma imagempreci"r.
Como eÌeseencontravââgomexâÌâmentena posiçãona qual,
mâisexâtamente
aindõ eu não me enconüâvâ,Êqueiàespreita
nos prováveisperiódicos,mês apósmês, tentendo âvistara
mensagemde grândeimpacto que o pobreCorvick não pudera transmitir e cuja responsabilidade
teriasido affibuída a seu
sucessorA viúva e esposa,ao lado da Ìareirareacendida,teria
quebradoo silêncioque sornenteuma viúva e esposapoderia
qlrebrar,€, Deane teria ficado tão infÌamadocom o conhecimento do segredoquanto Corvick na sua própria hora, ou
Gwendolenna dela.Bem, eleinflamou-sesem dúvida,mas o
fogo aparentementenão viria a tornar-seuma fogueira.Exarninei os pedódicosem vão: Drayton Deaneenchia,asde páginas exuberântes,mâs retinha a página que eu mais febrilmente ptocurava.Ele escreviasobre
milharesde assuntos,mas
nuncasobreVereker.Suaespecialidade
eradizerverdadesque,
A VrDA
154
HENRY
PR r vÀD À E Ou ÌR À5
H L sÌó A
a5
155
lÀMÊs
ou receavamou ignoravam,mas nuncâ
como dizia,âsPessoas
dissea única verdacleque me pãreciarelevantenaqueÌesdias
Encontreio casalnaquelescírcuÌosÌiteráriosmencionadosnos
círjornais:já dei indíciossuficientesde que eraapenasnesses
culos que rínhamosestabelecidonos encontrar'GwendoÌen
estavamais que nunca compromedd:Ìcom elespela publicaçãode seuterceiroromancee €u mesmome juntei deÊnitivamente ao grupo mantendoa opinião de que essetrabalhoera
Era pior porqueelaestavaandaninferior ao que o precedera.
do em pior companhiaìSeseusegredoera,como me disserâ,
viço. um .rr
em seucrescenre
rua uida- um lato discernivel
com
inteligeotemente
de privilégioconscienteque, corrigido
amáveisgestosde boavontade,davadistinçãoà suaaPârência
-não tinhaporém uma ìnfluênciadiretasobrcsuaobra. Isso
maispor ele;
apenasfazia- tudo fazia- com que seansiasse
apenasenoolvia-onum mistério maisrefinrtlo e maissutil
X'
oipor issoque não conseguimaistirar os olhosde cirÌlade seu
de ral maneiraque devotêlo deixadoconmarido: assediei-o
com
trafeito.Chegueimesmoâtéao Pontode travarconversas
como
o
segredo,
ele.Ele oão sabiamesmo,oão tinhaherdado
Essaperguntazumbiano meu cérebro.CÌaerade seesperar?
ro que sabia;casocontrário não retribuiria meu olhar de mâneira tão estranha.Suamulher contaraa ele o que eu queria
sabere elesedivertiaamigavelmentecom minha impotência.
Ele não ria, não erado tipo que ri: seumétodo eÍasubmeterà
cruamenteiumâ '
minhairritação,afimde queeu me eÍpusesse
conversade urn vaziotáo vastoquântosuaenormetesta.Sernde eu me afastarcom uma firme convicçãodespre aconceceu
sasvastidões despovoadas,que pareciam completar uma
e iuntas simboìizara deficiênciade
à outra geograficamente
e àparênciaem Drâyton Deane: eÌesimplesmente
expressáo
náo tinha a habilidadeparausaro que sabia,era literalmente
incompetentepararetomaro serviçoondeCowick parara.Fui
maisalém erao único lampejode fqlicidadeque dnha: connáo.stavainteressado,
venci-mede que o seruiço.reàá
"t "f
não seimportava.Éverdade,confortava-mebastanteconsidecom aquilo que me faìráJo escúpidodemaispararegozijar-se
tava.Continuavatáo estúpidocomo semPrefora, e isso,para
mim, realçavao esplendordouradoem que seenvoÌviao mistério. E cÌaro,entreranto,que eu precisavater em mente que
sua mulher poderia ter imposto suascondiçõese exigàrcias.
Acima de tudo, rinha que lembrar a min mesmoque com a
EÌe aí
morre de Verekero incentivo principaÌ desaparecera.
que
sobre
ele;
paraser
gloriÊcado
no
escrevessem
estavaainda
masnão estavamaisaí paradar suaaprovação.E quem, a não
serele,tinha autoridadeparaissoì
Nasceramcloisfilhos ao casal,mas o segundocustou a
vida da máe.Depois dessegolpepareceu-mevislunbrar uma
outm oportunidade.Pulei sobreela em pensamentormas espereialgumtempoparaa ação;finaÌmenterniúa oportunidade chegoudc umn manetrau;nLaìo"r.faria um ano que 'ua
rnulher falecera qlrãndo encontrei Drayton Deane no
salãode fum,rr de um pequenoclube do qual amboséramos
sócios,mas onde eu não o via há meses,calvezporque o frerârârnente.O saÌãoestava
vazioe a ocasiãoerapropíqüentasse
para
acabârcom o assunto
ofereci-lhe,
cia. Deliberadamente
pala seÌnpre,â oPortlrnidadea quaÌ sentique eleestiveraprocurandohá longo tempo.
Tendo conhecidosuafalecidamuÌher antesainda do
que você- comecei , permita-me dizerJhe ãlgo que me
preocupa.Terei prazerem fazerqualqueracordo que queira
propor pela informaçãoque ela deveter recebidode George
Corvick, a informação,você sabe,que eÌepróprio recebera,
pobre rapaz,em um dos momencosmais felizesde suavida,
diretamentede Hugh Vereker.
ç
156
i
I
:
HENRÌ
A V o^
lÁMÉs
Pn va D A
! Ou ÌR ^ 5
H sÌÓR
^s
157
Palavrade honr:r?
P:rlavrirclchonral Quc diabo est:í âconiecctdo com
resmungouele.
Eu querit rirá-lo
Flstouatônito...estoudccepcionado.
Ele olhou pararrim como un obtusobusrofrenológico:
A ìnformaçío. .?
- O segredode Vcrcker,rneu caro,â intencãogeraldc
seuslivros:o Íìo no qualaspérolâsestãoenfiadas,o tesouroescondido, o ciesenhoclo talrcte.
os númerosn:rssaliênciasclcr
Êic corneçoua enrubcscer,
scucrânÌocomeçâràmiÌ aParecer.
Os livros dc Verekertinham urna intençáogcralì
Ioì minhe vcz de olhar espantado.
-Você não vai qucrerrne dizerquc não sabedisso?
brincendocomigo.
Porum momcnropenseique cstivesse
- Mrs. Deanesabìa.Éleobtevea infòrmaçãocomo disse,direramentede Corvick, que, pot suavez, depoisde uma
buscainfinita e paraa alegrìado próprioVerekcr,descobriraa
f)cpois
verdadeiraentradad:rcavetne.Onde fìcacssaentrada?
elecortou, e contou unic:ÌmerÌteà pcssoaque,
de casaclos
quandoascircunstàrciasforan reproduzidas,devctcr contacloavocê tamblnl. Estouelrado ern suporquc elao fez participar,como um dosm:risaltosprivilégiosda reìaçáoque tinha
com ela,do scgredoclo qual era a única dcposirárìadepoiscì:r
morte dc Corvic]<?Tütloque eu reaÌmenteseiéquc cssesegre_
do é infinitamenteprccioso,e o quc queroque compreendaé
que se,porsuavczrme fizerparticipardelc,far-me-áuma gcrrtilczl pelaqual sereieternarnenreagradecido.
Ele Íìcara,afinal,completamenterubro;acteditoque no
começotenha pensadoque eu cnlouquecela.Poucoa pouco
eleÍôi entendendo;quantoã mirn, olhei_omais espantado
ainda.Então eÌefalou:
- Não sei o que está tlucrendodiz-er
eraa absurdrverdade.
Ele nío estavarcpresentando;cssa
- EÌa niro lhe contou rnesmo...?
- Nada sobreHugh Vereker'
Iiquei estupefato;a salaconeçou a rodar' Eta bom denaìs, apesarde tudo.
você?dc você.
- Não está comigol - eleriu desajeitadarrcnte- E
mesmoque estivesse,..
vocêpermitiri:rque o usasse. ah, pcrmtSecsrivesse,
tiria sim...peloberr cornum.Mas actcditoem você.Enten_
do... entendol
Eu estavaconsciente,com a virada conplcte da situaçáo,do meu grandeengano,da minha visáolìlsa sobrea etitude do pobre homcm. O que percebì,cmbora náo Puciesse
dizêìo, é que sua mulher não o julgaramerecedorde ur
Issome patcceuestranhotratando-sede unì:Ì
esclarecimento.
pessoaque o jrLlgaramcrecedorclcser seu nurido Por fìm'
acheìuma cxplicaçáo,refÌetindoqrreelanáo poderiacieforma
alguma cer-secasadocom clc por seuinreiecto EÌ:rse casara
com eÌc por aÌguna outra tazão
mas est:Ìvâ
Até certo ponto cle estavaagoraesclarecido,
levoualgum temPo
aindarnaisperpÌexo,m:risdesconcertado;
Ìemcomparando minÌra história com as suasressuscitadas
dìzer
etn
scgrLi0 rcsultadodc suasmeditaçõesfbi elc
br:rnç:rs.
da com aparênciabastanreapawalhacla:
- É a primcira vez que ouço fàìarno assurìtoâ que se
refcre.Acho quc cleveestarenganadoquanto ao fàto de Mls.
Deaneter tido quaÌqucr conhecimento,não rnencionadoc,
menos:rinda,náo mencìonável,sobreHugh Verekcr'Ela certamentetcria desejado,câsotivesserelacãocom suaperson:llid:rdeliterária,que fosseutiÌizâdo.
- Foi utilizado sim. EÌa mcsm:ro utilizou. Ela me disse com scuspróprios lábiosque "vivia' àscustm disso.
Eu malacabarade falare jáme arrependiade minhaspalavr:rs;eleficou tão pálidoquesenticomoseo tivessegolPeado
7
I
154
HENRY
-
laMEs
Ah, "vìvia'...1
- murrnutou ele,afascando-se
um
POUCOClemlm.
Meu remorsoerâsincero;coloqueiuma mão no seu
ombro.
- Peçoìhe que me perdoe...eu me enganei.Você não
sabemesmo o que penseique soubesse.
Você poderia, se eu
esrivesse
cerro, rer-me presradoum serviço;e tinha minhas
razõespâr-âsuporque estariaem condiçõesde me atender
- Suasràzõcs- ecooueie.- Quaiseramsuasrazócs?
Olheì bem paraele;hesirei;pensei
- Venhasentar-seaqui comigo e vou lhe contar.
Lcvei-o até um solí, acendioutto charuto e, começando com a históriada únicadescidadeVerekerdasnuvens,nar,
rei-lhea extraordináriacadeiade eventosque,apesârdo clarão
iniciaÌ,havja-rnedeixadono escuroatéaquelemomento. Em
suma, contei-lhe exatâmenteo que escreviaqui. Ele ouviu
com profunda arençãoe percebi,para minha surpresa,por
suasexcÌamaçóes,
suaspergrÌntas)
que ââÌralelenão teriasic{o
indigno de merecera confiançade sua muÌher. O conÌrecimento tão âbrupto d€ suâ fxlta de confiançateve um efeito
perturbadorsobreele;mas eu vi o choqueiosta[tâneo ir deixando de doer pouco a pouco € entãoavolumâr-senovaJnen
te em ondasde espanroe curiosidade- ondasque prometiam, eu podia perfeitamenteavaliar,arrebeltar no finaÌ ao
encontro da fúria das minhas mais altasmarés.Hoje posso
âlÌrmar que como vírimas de um insaciáveldesejonão há
nuita clifereuçaencrenós dois. O cstadodo pobre homem é
quâseum consolopâramim; hí momentosreâlmerÌteem que
me sìnto completamentevingado.
A VIDA PRIVADA

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