Prevalência de sobrepeso e obesidade em pré
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Prevalência de sobrepeso e obesidade em pré
Prevalência de sobrepeso e obesidade em pré-escolares de escolas públicas e privadas em Recife, Pernambuco, Brasil Overweight and obesity prevalence among preschoolers of public and private schools in Recife, Pernambuco, Brazil Ana Flávia Granville-Garcia1, Valdenice Aparecida de Menezes2, Pedro Israel Cabral de Lira3, Leopoldina Augusta Serqueira4, Jainara Maria Soares Ferreira5, Alessandro Leite Cavalcanti6 Resumo O objetivo deste trabalho foi verificar a prevalência de sobrepeso e obesidade e sua associação como o gênero e nível socioeconômico (tipo de escola) em 2.651 pré-escolares da cidade do Recife, PE, Brasil. A avaliação do estado nutricional foi realizada através do registro do índice antropométrico peso por altura (p/a) da criança, representado pelo escore-Z expresso pelo número de desvios padrões, a partir do valor considerado normal, comparado à referência do National Center for Health Statistics (NCHS) (1978). Os dados foram avaliados por meio de estatística descritiva e inferencial (teste Qui-quadrado). A prevalência de sobrepeso e obesidade foram 13,1% e 9%, respectivamente, havendo associação dessas patologias com o tipo de escola, porém não houve associação estatisticamente significante com o gênero. Conclui-se que a prevalência de sobrepeso e obesidade em pré-escolares foi elevada e esteve associada à escola privada. Palavras-chave Obesidade, pré-escolares, epidemiologia Abstract The aim of this article was to determine the prevalence of overweight and obesity and their association to gender and socioeconomic level (type of school) in 2651 preschoolers in Recife city, Pernambuco, Brazil. The assessment of nutritional status was carried out by recording the anthropometric index weight for height (p/a) of the child, represented by the Z-score expressed by the number of standard deviations from the value considered normal, compared to the reference of the National Center for Health Statistics (NCHS) (1978). The data were analyzed using descriptive and inferential statistics (Chi-square). The prevalence of overweight and obesity were 13.1% and 9% respectively, with association of these pathologies to the type of school, but there was no statistically significant association with gender. It is concluded that the prevalence of overweight and obesity in preschool children was high and was associated with private school. Doutora em Odontologia. Professora de Odontopediatria da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB. End: Rua Cap. João Alves Lira 1325/410, Bela Vista - Campina Grande, PB. E-mail:[email protected]. 2 Doutora em Odontologia. Professora Adjunta da Universidade Federal de Pernambuco. 3 Doutor em Medicina. Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco. 4 Nutricionista do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco. 5 Doutoranda em Odontopediatria da Universidade de Pernambuco.. 6 Doutor em Estomatologia. Professor Titular da Universidade Estadual da Paraíba. 1 Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 – 989 A n a F l á v i a G r a n v i l l e - G a rc i a , V a l d e n i c e A p a r e c i d a d e M e n e z e s , P e d r o I sr a e l C a b r a l d e L i r a , L e o p o l d i n a A u g u s t a S e r q u e i r a , J a i n a r a M a r i a S o a r e s F e rr e i r a , A l e ss a n d r o L e i t e C a v a l c a n t i Key words Obesity, preschool, epidemiology 1. Introdução No Brasil estudos comprovam que a transição dos padrões nutricionais (aumento do consumo de gorduras, açúcares, alimentos refinados) aliada à redução da atividade física têm provocado alteração nos padrões nutricionais relacionandoos com mudanças demográficas socioeconômicas e epidemiológicas ao longo do tempo, refletindo-se desta forma na diminuição progressiva da desnutrição e aumento da obesidade (Mondini & Monteiro, 1998; Francichi et al., 2000). Fatores associados à obesidade em pré-escolares possuem caráter comportamental e incluem dieta, atividades físicas, cultura, ambiente e percepção dos pais (Hudson, 2008). O aumento do sedentarismo propiciado pelo lazer inativo do uso constante da televisão, computador e videogame; a substituição do aleitamento materno pelos formulados e alimentos infantis e a preferência por alimentos industrializados de maior densidade energética e melhor sabor em detrimento aos alimentos processados domesticamente são fatores que contribuem para o crescimento da obesidade infantil (Taddei, 1993; Escobar & Valente, 2007). A prevalência de sobrepeso em crianças parece ser mais elevada que a obesidade nacionalmente e mundialmente. Internacionalmente, foi observado que a prevalência de sobrepeso varia entre 0,2% e 20,5% e a obesidade entre 0,2% e 16,3% (Wake et al., 2007; Dieu et al., 2007; Senbanjo & Adejuyigbe, 2007; Kumar et al., 2008; Onyango et al., 2007). No Brasil, esses números modificam entre 8,6% e 21,2% para sobrepeso e 4,6% e 24,0% para obesidade (Motta & Silva, 2001; Silva et al., 2003; Ronque et al., 2005; Oliveira et al., 2003; Corso et al., 2004; Silva, 2008; Santos & Leão, 2008; Pinto & Oliveira, 2009). Em adição, o Ministério da Saúde (2006) relatou que o excesso de peso em relação à altura foi encontrado em 7% das crianças brasileiras menores de cinco anos, variando de 6% na região Norte a 9% na região Sul, indicando exposição moderada à obesidade infantil em todas as regiões do país. O desenvolvimento do sobrepeso e da obesidade tem sido constatado em idades cada vez mais precoces, especialmente em pré-escolares. Este fenômeno nesta fase demonstra associação com a obesidade na idade adulta e consequentemente está relacionado com as doenças crônicas associadas (Dietz, 1998; Escobar & Valente, 2007). Em adição, a epidemia desta doença tem crescido assustadoramente em diferentes populações (Mei et al., 1998; Karp, 1998; Ronque et al., 2005; Wake et al., 2007; Kain et al., 2007). 990 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 Prevalência d e s o b r e p e s o e o b e s i d a d e e m p r é - e sc o l a r e s d e e sc o l a s p ú b l i c a s e p r i v a d a s e m Recife, Pernambuco, Brasil Devido à escassez de estudos locais e diante da importância do conhecimento da realidade nutricional de pré-escolares do Recife para o planejamento de estratégias de promoção, proteção e recuperação da saúde infantil, o presente estudo objetivou determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade entre préescolares de escolas públicas e privadas da cidade do Recife, Brasil. 2. Metodologia Segundo dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a população de crianças com idades entre 0 e 6 anos do Recife é de 167.398 (IBGE, 2004). Participaram deste estudo descritivo e analítico crianças na faixa etária de 1 a 5 anos das 84 instituições (creches e pré-escolas) públicas (n = 38) e particulares (n = 48) na cidade do Recife-PE, Brasil. A amostra foi aleatória, estratificada e proporcional ao número de alunos por escola, por meio de sorteio por conglomerados (instituições) das 6 regiões político-administrativas da cidade do Recife. Participaram desta pesquisa 2.651 pré-escolares a partir de um universo de 38.202 crianças institucionalizadas, sendo este trabalho parte integrante de um estudo que buscou verificar a prevalência de patologias na idade préescolar (Granville-Garcia et al., 2006; 2008). Mesmo assim, foi verificada a representatividade da amostra para sobrepeso/obesidade, por meio de cálculo amostral no programa Epi Info™ 6, baseado na estimativa da prevalência de sobrepeso e obesidade a partir do estudo de Motta e Silva (2001), considerando a prevalência de 10,1% para sobrepeso e 4,6% para obesidade, erro máximo aceitável de 2,5% e nível de confiança de 95%, onde a amostra seria representativa a partir de 551 crianças para sobrepeso e 268 para obesidade. Neste ensaio foi adotado como critério de discriminação socioeconômica o tipo de instituição na qual a criança estava inserida, critério este previamente adotado por Maltz e Silva (2001). Com relação à alimentação das crianças durante sua estadia na escola, apenas as escolas públicas forneciam refeições orientadas por nutricionista. Nas escolas privadas as refeições eram oferecidas pela escola geralmente sem orientação de nutricionista e raramente trazida de casa. Tanto crianças de escola pública como privada possuíam acesso à atividade física recreativa, porém o espaço físico para realização desta atividade era maior nas escolas privadas. A avaliação do estado nutricional foi realizada por um único examinador, em formulário específico, através do registro do valor antropométrico peso por altura (p/a) da criança, representado pelo escore –Z expresso pelo número de desvios Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 – 991 A n a F l á v i a G r a n v i l l e - G a rc i a , V a l d e n i c e A p a r e c i d a d e M e n e z e s , P e d r o I sr a e l C a b r a l d e L i r a , L e o p o l d i n a A u g u s t a S e r q u e i r a , J a i n a r a M a r i a S o a r e s F e rr e i r a , A l e ss a n d r o L e i t e C a v a l c a n t i padrões em que o dado obtido está afastado de sua mediana de referência, possuindo significado em termos de estado nutricional. A interpretação do valor obtido foi realizada conforme os valores de referência do National Center for Health Statistics (NCHS) (1978): Desnutrição = z < -2; Risco de desnutrição = -2 < z < -1; Eutrofia = -1 < z < +1; Sobrepeso = +1 < z < +2; Obesidade = z > +2 (WHO, 1995). Para a determinação do peso, utilizou-se uma balança eletrônica tipo “plataforma” Personal Line E-150 (Filizola Balanças Industriais Ltda. São Paulo, Brasil), com carga máxima de 150kg e precisão de 0,1kg. A determinação da altura foi realizada por meio de dois procedimentos distintos: para crianças menores de 2 anos, conforme preconizado por Jelliffe (1968), empregou-se um infantômetro (Infantometer Harpenden, Holtain, Ltd. Crymych, UK). Por sua vez, nas crianças maiores de 2 anos, a aferição da estatura foi feita com fita métrica não distensível fixada à parede, com esquadro de acrílico colocado sobre o topo da cabeça para se obter um ângulo reto. O examinador foi devidamente treinado para coletar as medidas antropométricas. Neste sentido, a medição foi realizada duas vezes e, caso houvesse diferenças entre os valores, realizaria-se uma terceira. A criança foi pesada em pé, na posição ereta, de forma a sentir que o peso foi distribuído em ambos os pés, descalços, braços soltos lateralmente, com o mínimo de vestuário (bolsos vazios, sem boné e possíveis acessórios que possam aumentar o peso). Antes que a criança subisse na balança foi ajustado o mostrador, até que o mesmo exibisse “0,0” quilos. Foi certificado ainda que a criança não estivesse, no momento da medição, segurando em algo para apoiar-se. O peso da roupa não foi subtraído do peso observado. Para a pesagem de crianças menores de dois anos ou daquelas que não conseguiam ficar paradas durante o processo de pesagem, um adulto as acolhia nos braços e depois contabilizava-se a diferença de peso. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco, protocolo 082/02, respeitandose as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos (Resolução 196/96) do Conselho Nacional de Saúde. A associação significativa entre as variáveis foi verificada por meio de análise bivariada (teste Qui-quadrado de Pearson), ao nível de significância de 0,05. O software utilizado foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 11.0. 992 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 Prevalência d e s o b r e p e s o e o b e s i d a d e e m p r é - e sc o l a r e s d e e sc o l a s p ú b l i c a s e p r i v a d a s e m Recife, Pernambuco, Brasil 4. Resultados Das 2.651 crianças, 1.390 eram do sexo masculino (52,4%) e 1.261 pertenciam ao sexo feminino (47,6%). A desnutrição foi vista em 1,1% da amostra (n = 28). No que concerne ao sobrepeso, 13,1% das crianças foram enquadradas nesta categoria, ocorrendo maior frequência entre as meninas (13,9%) do que meninos (12,4%). Em relação à prevalência de obesidade, 9% das crianças foram consideradas obesas (n = 240), das quais 8,6% (n = 120) eram meninos e 9,5% (n = 120) eram meninas, conforme demonstrado na Tabela 1. Não houve diferença estatisticamente significante entre gênero e estado nutricional das crianças (p > 0,05). Tabela 1 Distribuição das crianças segundo o gênero e o estado nutricional. Sexo Estado Nutricional Desnutrido Risco Desnutrição Eutrófico Sobrepeso n % n % n % n % Obesidade n % Total n Valor de p1 % Masculino 17 1,2 140 10,1 940 67,6 173 12,4 120 8,6 1390 100,0 p = 0,3597 Feminino 11 0,9 106 8,4 849 67,3 175 13,9 120 9,5 1261 100,0 Total 28 1,1 246 9,3 1789 67,5 348 13,1 240 9,0 2651 100,0 (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson. Em relação ao tipo de escola (Tabela 2), verifica-se um percentual mais elevado de crianças eutróficas na escola pública do que na escola particular (72,4% versus 62,4%), seguido da categoria de obesos que apresentou-se mais elevada entre os alunos da rede particular (13,6% versus 4,6%), e comprova-se associação fortemente significativa entre as duas variáveis (p < 0,05). Tabela 2 Distribuição das crianças segundo o tipo de escola e o estado nutricional. Escola Estado Nutricional Desnutrido Risco Desnutrição Eutrófico Sobrepeso n % n % n % n % Particular 11 0,8 108 8,2 Pública 17 1,3 138 10,3 Total 28 1,1 246 Obesidade n % Total n Valor de p1 % 820 62,4 196 14,9 178 13,6 1313 100,0 969 72,4 152 11,4 62 9,3 1789 67,5 348 13,1 240 4,6 1338 100,0 p<0,0001* 9,0 2651 100,0 (*) – Diferença significativa ao nível de 5,0%. (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson. A Tabela 3 revelou a prevalência de obesidade segundo a faixa etária e o tipo de escola, onde os maiores percentuais de crianças obesas do grupo total foram registrados entre aquelas com 1 (11,8%) e 5 anos (13,0%) de idade, quando Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 – 993 A n a F l á v i a G r a n v i l l e - G a rc i a , V a l d e n i c e A p a r e c i d a d e M e n e z e s , P e d r o I sr a e l C a b r a l d e L i r a , L e o p o l d i n a A u g u s t a S e r q u e i r a , J a i n a r a M a r i a S o a r e s F e rr e i r a , A l e ss a n d r o L e i t e C a v a l c a n t i comparada às demais faixas etárias. No que se refere ao tipo de escola, as faixas etárias de 1 (RP = 2,56; IC95% 1,27-5,13 e p = 0,0139), 3 (RP = 2,476; IC95% 1,16 a 5,27 e p = 0,0249), 4 (RP = 3,56; IC95% 1,95 a 7,65 e p < 0,001 ) e 5 (RP = 3,00; IC95% 1,88 a 4,80 e p < 0,001) anos da escola privada apresentaram taxas de obesidade superiores quando comparadas às escolas públicas. Observouse numericamente comportamento similar nos dois tipos de escola para a faixa etária de 2 anos, porém sem associação estatisticamente significante. Tabela 3 Avaliação da presença de obesidade segundo o tipo de escola por idade. Idade Estado (em anos) Nutricional Tipo de Escola Particular Pública n % n % n % 1 Obeso 13 21,3 14 8,3 27 11,8 Não-obeso 48 78,7 154 91,7 202 88,2 2 Obeso 7 4,6 7 2,6 14 3,4 145 95,4 257 97,4 402 96,6 3 Obeso 22 7,5 9 3,0 31 5,3 271 92,5 287 97,0 558 94,7 4 Obeso 57 15,2 12 4,3 69 10,5 319 84,8 270 95,7 589 89,5 Não-obeso Não-obeso Não-obeso 5 Obeso Não-obeso Total Total 79 18,3 20 6,1 99 13,0 352 81,7 308 93,9 660 87,0 1313 100,0 1338 100,0 2651 100,0 Valor de p1 RP (IC 95%)(2) 0,0139* 2,56 (1,27 a 5,13) 0,4344 1,74 (0,62 a 4,86) 0,0249* 2,47 (1,16 a 5,27) 0,0001* 3,56 (1,95 a 7,65) 0,0001* 3,00 (1,88 a 4,80) (*): Diferença significativa a 5,0%. (1): Através do teste Qui-quadrado de Pearson com correção Yates. (2): Razão da prevalência de obesidade da escola particular em relação à pública. 5. Discussão Embora atualmente o Índice de Massa Corporal (IMC) recomendado pela International Obesity Task Force (IOTF) possua maior sensibilidade e especificidade quando comparado ao escore-Z preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para detectar excesso de peso em crianças a partir de 2 anos (Kuczmarski et al., 2000), a classificação do estado nutricional infantil em base populacional conforme os critérios da WHO (1995) ao utilizar medidas antropométricas de fácil obtenção e baixo custo, como peso e altura, ainda parece ser uma opção viável em Saúde Coletiva. Em adição, Abrantes et al. (2003) mostraram que os índices propostos pelo IOTF e OMS têm boa concordância entre pré-escolares, principalmente entre sobrepesos. 994 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 Prevalência d e s o b r e p e s o e o b e s i d a d e e m p r é - e sc o l a r e s d e e sc o l a s p ú b l i c a s e p r i v a d a s e m Recife, Pernambuco, Brasil Apesar de a comparação entre estudos sobre estados nutricionais que utilizam medidas antropométricas com diferentes indicadores e pontos de corte diferentes ser difícil, ela não se torna inviável, pois a partir do confronto de semelhanças e diferenças em relação à área estudada, pode-se estimular a busca do entendimento de fatores determinantes da doença e a busca de soluções (Motta & Silva, 2001). A prevalência de sobrepeso e a obesidade em nosso estudo foram consideradas elevadas, 13,1% e 9%, respectivamente, assemelhando-se ao estudo de Silva (2008). O excesso de peso da população infantil tem gerado preocupação, não apenas pelas complicações clínicas (morbidade e mortalidade) relacionadas à obesidade, como também devido às consequências psicossociais (Oliveira et al., 2003). Já a prevalência de desnutrição mostrou-se sob controle (1%), corroborando com os pensamentos de Mondini e Monteiro (1998); Kain et al. (2007); Santos e Leão (2008). Em nosso trabalho, foi observada diferença estatisticamente significante entre escolas públicas e privadas em relação à presença de obesidade segundo o tipo de escola por idade, onde a escola privada apresentou taxas de obesidade superiores quando comparadas às escolas públicas, em todas as faixas etárias. Corroborando com nossos resultados, estudos apontam influência do fator socioeconômico no estado nutricional, no qual o maior percentual de excesso de peso corresponde ao maior nível socioeconômico (Mondini & Monteiro, 1998; Monteiro & Conde, 2000; Taddei et al., 2002; Ronque et al., 2005). Não foi verificada associação entre o estado nutricional e o gênero em nossa pesquisa. Estes resultados corroboram com o estudo de Silva (2008) e Santos e Leão (2008). Independente da metodologia empregada é preocupante a elevada prevalência de obesidade e sobrepeso na população infantil, bem como suas consequências na saúde do indivíduo tornam-se aparentes na vida adulta. É fundamental, porém, ter a visão que refletem, na verdade, hábitos adquiridos na infância (Escobar & Valente, 2007). Sua associação com diversas condições mórbidas e associação a aspectos psicossociais (Bernardi et al., 2005) fazem com que a obesidade posicionese atualmente como um grave problema de saúde. O aumento de peso na infância muitas vezes está associado culturalmente à “saúde”. É frequente pais desejarem que o filho esteja cheio de dobrinhas e bem gordinho, “o bebê Johnson”, assim o alimento é oferecido de forma indiscriminada ao menor sinal de necessidade manifestada pela criança, e não percebem que a criança chora por outros motivos além de fome, frio, calor, cansaço, sono etc. (Fisberg, 1995). Este comportamento induz ao desenvolvimento de indivíduos obesos, os quais se alimentam para resolver ou compensar problemas dos quais, às vezes, não têm consciência. Dois terços dos obesos consomem carboidratos, não Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 – 995 A n a F l á v i a G r a n v i l l e - G a rc i a , V a l d e n i c e A p a r e c i d a d e M e n e z e s , P e d r o I sr a e l C a b r a l d e L i r a , L e o p o l d i n a A u g u s t a S e r q u e i r a , J a i n a r a M a r i a S o a r e s F e rr e i r a , A l e ss a n d r o L e i t e C a v a l c a n t i somente para aliviar a fome, mas para combater tensões, ansiedade, fadiga mental e depressão (Bernardi et al., 2005). Embora muitos acreditem que o crescimento do sobrepeso e da obesidade tenha sido causado apenas pelo aumento do consumo de alimentos com alto valor energético e, sobretudo, ricos em lipídios e carboidratos simples, pobre em fibras, esse fator, de forma isolada, provavelmente não consiga explicar o aumento exponencial das taxas de prevalência de sobrepeso e de obesidade no mundo. A redução dos níveis de atividade física diária parece exercer, também, um papel fundamental nesse processo (Márquez-Lopez et al., 2004; Ronque et al., 2005, Bellows et al., 2008). O que pode ter contribuído para tal fato é o aumento da violência induzindo ao confinamento das crianças em seus lares, sentadas ou deitadas diante da TV, jogando videogame ou mesmo na internet, o que leva a um desequilíbrio na balança energética, com aumento do consumo de alimentos e pouco gasto calórico (Taddei et al., 2002). Portanto, mostra-se necessária a implantação de programas de educação alimentar e incentivo à prática de atividades físicas nas escolas, especialmente nas escolas privadas, assim como uma revisão de prioridades e estratégias de intervenção da saúde pública, visando à prevenção precoce com o intuito de controlar doenças crônicas na vida adulta (Escobar & Valente, 2007; Alves et al., 2009). 6. Conclusão Conclui-se que a prevalência de sobrepeso e obesidade em pré-escolares foi elevada e esteve associada à escola privada. A necessidade de direcionar programas educativos visando à educação alimentar e à prática de exercícios como rotina no âmbito escolar, bem como tratamento, se faz necessária para sanar esse eminente problema de saúde pública. Referêcias Abrantes, M. M.; Lamounier, J. A.; Colosimo, E. A. Comparison of body mass index values proposed by Cole et al. (2000) and Must et al. (1991) for identifying obese children with weight-for-height index recommended by the World Health Organization. Public Health Nutrition, v. 6, n. 3, p. 307-311, 2003. Alves, J. G. B.; Siqueira, P. P.; Figueiroa, J. N. Excesso de peso e inatividade física em crianças moradoras de favelas na região metropolitana de Recife, PE. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 85, n. 1, p. 67-71, 2009. 996 – Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 17 (4): 989 - 1000, 2009 Prevalência d e s o b r e p e s o e o b e s i d a d e e m p r é - e sc o l a r e s d e e sc o l a s p ú b l i c a s e p r i v a d a s e m Recife, Pernambuco, Brasil Bernardi, F.; Cichelero, C.; Vitolo, M. R. Comportamento de restrição alimentar e obesidade. Revista de Nutrição, Campinas, v. 18, n. 1, p. 85-96, 2005. Bellows, L.; Anderson. J.; Gould, S. M.; et al. Formative research and strategic development of a physical activity component to a social marketing campaign for obesity prevention in preschoolers. Journal of Community Health, New York, v. 33, n. 33, p. 169-178, 2008. Corso, A. C. T.; Viteritte, P.; Peres, M. A. Prevalência de sobrepeso e sua associação com a área de residência em crianças menores de 6 anos de idade matriculadas em creches públicas de Florianópolis. Revista Brasileira de Eidemiologia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 201-209, 2004. Dietz, W. H. Childhood weight affects adult morbidity and mortality. 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