escoamento em meios porosos - PGMEC
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escoamento em meios porosos - PGMEC
PROGRAMA FRANCISCO EDUARDO MOURÃO SABOYA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA ESCOLA DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Tese de Doutorado ESCOAMENTO EM MEIOS POROSOS: EFEITO DA TEMPERATURA A ALTAS PRESSÕES E BAIXA PERMEABILIDADE; DEPENDÊNCIA DA PERMEABILIDADE/POROSIDADE EM MISTURAS SÓLIDO-FLUIDO JESÚS ALFONSO PUENTE ANGULO SETEMBRO DE 2015 JESÚS ALFONSO PUENTE ANGULO ESCOAMENTO EM MEIOS POROSOS: EFEITO DA TEMPERATURA A ALTAS PRESSÕES E BAIXA PERMEABILIDADE; DEPENDÊNCIA DA PERMEABILIDADE/POROSIDADE EM MISTURAS SÓLIDO-FLUIDO Tese de Doutorado apresentada ao Programa Francisco Eduardo Mourão Saboya de Pós -Graduação em Engenharia Mecânica da UFF como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências em Engenh aria Mecânica Orientadores: Maria Laura Martins-Costa (PGMEC/U FF ) UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE NITERÓI, 25 DE SETEMBRO DE 2015 ii ESCOAMENTO EM MEIOS POROSOS: EFEITO DA TEMPERATURA A ALTAS PRESSÕES E BAIXA PERMEABILIDADE; DEPENDÊNCIA DA PERMEABILIDADE/POROSIDADE EM MISTURAS SÓLIDO-FLUIDO Esta Tese é parte dos pré-requisitos para a obtenção do título de DOUTOR EM ENGENHARIA MECÂNICA Área de concentração: Termociências Aprovada em sua forma final pela Banca Examinadora formada pelos professores: Profª. Maria Laura Martins Costa (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense – PGMEC/UFF (Orientador) Prof. Heraldo Silva da Costa Mattos (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense – PGMEC/UFF Prof. Felipe Bastos de Freitas Rachid (D.Sc.) Universidade Federal Fluminense Prof. Luiz Nelio Henderson Guedes de Oliveira (D.Sc.) Universidade do Estado de Rio de Janeiro Prof. Rogério Martins Saldanha da Gama (D.Sc.) Universidade do Estado de Rio de Janeiro iii Agradecimentos A Deus todo poderoso, pela vida, benção e proteção. À Professora Maria Laura, pela orientação, paciência, atenção, ensinamentos e conselhos. À minha mãe, ao meu pai, meus irmãos e sobrinhos, por me apoiarem em todos os momentos e me incentivarem a superar as dificuldades. À Maria Gabriela, pelo amor, paciência e incentivos dados em todos os momentos, em especial aqueles em que mais necessitava uma palavra de ânimo. Ao Programa Francisco Mourão Saboya de Pos-Graduação em Engenharia Mecânica, especialmente aos Professores do Laboratório de Mecânica Teórica e Aplicada (LMTA) pela formação e ensinamentos. Aos meus colegas e amigos pelas longas horas de convívio, pela sua amizade, solidariedade e por permitir a troca de conhecimentos culturais e científicos. A todas as pessoas que, por diferentes motivos, foram fonte de inspiração e coragem nessa caminhada e que não é possível identificar. A todos, o meu muito obrigado! Jesús Alfonso Puente Angulo iv Resumo Este trabalho estuda teórica e experimentalmente a possibilidade de causar fratura hidráulica em um meio poroso de baixa permeabilidade devido a pequenas variações de temperatura. Um modelo preliminar considera um material poroso de baixa permeabilidade preenchido com água a alta pressão, no qual são induzidas pequenas variações de temperatura, a fim de provocar alterações na pressão. Estas variações de pressão são provocadas pela variação da compressibilidade do fluido e pela dependência da pressão com a temperatura. Observou-se que as variações de pressão podem provocar o colapso do material poroso, consequentemente, aumentando a sua permeabilidade. Este fenômeno é explicado teoricamente por uma equação de estado proposta neste trabalho e os resultados obtidos mostram um comportamento semelhante aos resultados obtidos experimentalmente. Além disso, este trabalho também analisa o escoamento de um fluido Newtoniano generalizado através de um canal poroso. Equações de balanço são postuladas empregando uma abordagem Teoria de Misturas e termos adicionais que levam em conta a interação entre os constituintes representando o material poroso e o fluido são introduzidos. Uma equação muito simples para modelar a relação entre a porosidade e a permeabilidade é postulada. A comparação com os dados encontrados na literatura indica boa precisão dessa equação proposta. Aproximações numéricas para o escoamento através do canal foram feitas usando o método de Runge-Kutta de quarta ordem combinado com uma estratégia de tiro. Os resultados obtidos com o modelo proposto para o escoamento foram validados pela comparação com alguns casos particulares com soluções exatas. Palavras chave: Teoria de Misturas, Relação Permeabilidade-Porosidade, Fluidos Power-law, Meios porosos com baixa permeabilidade, Fratura Hidráulica. v Abstract This work studies both theoretically and experimentally the possibility of causing hydraulic fracture in a low permeability porous medium due to small temperature changes. A preliminar model considers a porous material of low permeability filled with water at high pressure, to which they are induced small temperature variations in order to cause changes in pressure. These pressure variations are provoked by the compressibility of the fluid and the pressure dependence on the temperature. It was observed that the pressure variations might cause breakdown of the porous material, and therefore increasing its permeability. This fenomenon is theoretically explained by a state equation proposed herein and the results obtained therefrom show a behavior similar to the results obtained experimentally. Besides, this work also analyses the flow of a generalized Newtonian fluid through a porous channel. Balance equations are postulated employing a Mixture Theory approach and additional terms that take into account the interaction between the constituents representing the porous material and the fluid are introduced. A very simple equation modeling the relationship between the porosity and permeability is postulated. Comparison with data found in the literature indicates a good accuracy of the proposed equation. Numerical approximations for the flow through the channel were made using the Runge-Kutta method of fourth order combined with a shooting strategy. The results obtained from the proposed model for the flow have been validated by comparison with some particular cases that have exact solutions. Key words: Mixture Theory, Permeability-Porosity Relation, Power-law Fluids, Low Permeability Porosos Media, Hydraulic Fracture. vi Sumário 1 Lista de figuras ...................................................................................................... x 2 Lista de Tabelas .................................................................................................. xiii 1 Introdução .............................................................................................................. 1 1.1 1.1.1 Fratura hidráulica .................................................................................... 4 1.1.2 Escoamentos em meios porosos.............................................................. 7 1.2 2 Revisão bibliográfica...................................................................................... 4 Conteúdo do trabalho ................................................................................... 13 Equações de Balanço ........................................................................................... 15 2.1 Cinemática.................................................................................................... 15 2.2 Princípios – Mecânica do Contínuo ............................................................. 17 2.2.1 Princípio de Conservação de massa ...................................................... 17 2.2.2 Balanço de Momentum Linear.............................................................. 19 2.2.3 Balanço de Energia ............................................................................... 20 2.2.4 Segunda Lei da Termodinâmica ........................................................... 22 2.3 Princípios – Teoria de Misturas ................................................................... 28 2.3.1 Balanço de Massa ................................................................................. 28 vii 3 2.3.2 Balanço de Momentum Linear.............................................................. 29 2.3.3 Balanço de Energia ............................................................................... 31 2.3.4 Segunda Lei da Termodinâmica ........................................................... 33 Equações constitutivas ......................................................................................... 36 3.1 Tensor parcial de tensão e fonte de momentum para fluido newtoniano generalizado ................................................................................................................ 36 4 3.2 Permeabilidade - Porosidade ........................................................................ 42 3.3 Equação de Tait generalizada ....................................................................... 44 Modelo Matemático Proposto ............................................................................. 47 4.1 5 Modelagem do problema .............................................................................. 47 4.1.1 Modelagem para um fluido submetido a grande mudança de pressão . 47 4.1.2 Modelagem para o escoamento através do canal poroso ...................... 52 Resultados............................................................................................................ 58 5.1 Fluido confinado em um poro ...................................................................... 58 5.1.1 Resultados Analíticos............................................................................ 58 5.1.2 Resultados experimentais...................................................................... 62 5.1.3 Comparação de resultados .................................................................... 65 5.2 Fluido escoando através de um meio poroso ............................................... 70 viii 5.2.1 6 7 Permeabilidade e porosidade ................................................................ 70 Conclusões e sugestões ........................................................................................ 91 6.1 Fluido confinado em um poro ...................................................................... 91 6.2 Fluido escoando através de um meio poroso ............................................... 92 6.3 Trabalhos futuros.......................................................................................... 93 Bibliografia .......................................................................................................... 95 ix 1 Lista de figuras Figura 1.1: Esquema do processo de fratura hidráulica [2] ......................................... 2 Figura 3.1: Curva viscosidade / Taxa de deformação por cisalhamento [59] ............ 38 Figura 4.1: Matrizes porosas com diferente permeabilidade ..................................... 48 Figura 4.2: Poro de um meio poroso.......................................................................... 49 Figura 4.3: Escoamento através de um canal poroso impermeável ........................... 53 Figura 5.1: Variação da densidade com a temperatura .............................................. 59 Figura 5.2: Variação da densidade com a temperatura .............................................. 60 Figura 5.3: Tubo e sistema de controle de temperatura é pressão ............................. 62 Figura 5.4: Detalhes do sistema de controle .............................................................. 63 Figura 5.5: Máquina usada para controlar a temperatura e pressão ........................... 63 Figura 5.6: (a) Variação da pressão no tempo. (b) Variação da ................................ 64 Figura 5.7: Evolução da pressão e da temperatura no tempo .................................... 65 Figura 5.8: Variação da densidade no tempo ............................................................. 68 Figura 5.9: Comparação dos resultados teoricos e experimentais da pressão ........... 69 Figura 5.10: Identificação do parametro a ................................................................. 71 Figura 5.11: Permeabilidade versus porosidade ........................................................ 71 x Figura 5.12: Permeabilidade vs. Porosidade do arenito de Berea. Resultados obtidos com o modelo postulado por Henderson et. al. [47], resultados experimentais obtidos por David et. al. [77] e o modelo proposto. .......................................................................... 73 Figura 5.13: Permeabilidade vs. Porosidade da fibra de vidro randômica. Resultados obtidos com modelo postulado por Henderson et al. [47], resultados experimentais obtidos por Rodriguez et al. [44] e o modelo proposto. ................................................ 74 Figura 5.14: Esteiras de fibra de vidro: (a) esteira costurada. (b) esteira bidirecional [78] ............................................................................................ 75 Figura 5.15: Permeabilidade vs. Porosidade da fibra de vidro bidirecional. Resultados obtidos com modelo postulado por Henderson et al. [47], resultados experimentais obtidos por Yu e Lee [79] e o modelo proposto. ........................................................... 76 Figura 5.16: Permeabilidade vs. Porosidade da esteira de fribra de vidro costurada. Resultados experimentais obtidos por Shih e Lee [78] e o modelo proposto................ 76 Figura 5.17: Permeabilidade vs. Porosidade do arenito de Fontainebleau. Resultados experimentais obtidos por Doyem [80], resultados obtidos com modelo postulado por Henderson e. al. [47] e o modelo proposto. ................................................................... 77 Figura 5.18: Variação de 𝜒 com a permeabilidade, para diferentes indices de powerlaw. ................................................................................................................................. 78 Figura 5.19: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =−0.2 ........... 81 Figura 5.20: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =−0.1 ........... 82 Figura 5.21: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.1 .............. 82 xi Figura 5.22: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.2 .............. 83 Figura 5.23: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.3 .............. 83 Figura 5.24: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.4 .............. 84 Figura 5.25: Perfil de Velocidade do Escoamento através do canal poroso para valores de n ≤ 0 ........................................................................................................................... 85 Figura 5.26: Perfil de Velocidade do Escoamento através do canal poroso para valores de n ≥ 0 ........................................................................................................................... 85 Figura 5.27: Variação da velocidade máxima com o indice power-law .................... 86 Figura 5.28: Curvas de Tensão cisalhante em uma dimensão versus taxa de deformação cisalhante para diferentes valores de n ........................................................................... 88 Figura 5.29: Perfil de Velocidade Adimensional através do canal poroso para valores de n ≤ 0 ........................................................................................................................... 89 Figura 5.30: Perfil de Velocidade Adimensional através do canal poroso para valores ........................................................................................................................................ 90 xii 2 Lista de Tabelas Tabela 5.1: Variação das propriedades da agua ......................................................... 59 Tabela 5.2: Parametros materiais médios sugeridospara pressões acima de 100 bar 61 xiii Capitulo 1 1 Introdução Processos de extração, refino e distribuição de petróleo têm um papel fundamental nos preços da energia e dos transportes no mundo todo. Por esse motivo, cientistas, engenheiros e políticos procuram constantemente meios para diminuir os custos de produção, extração e transporte de petróleo e gás natural, sendo esta uma das motivações para o desenvolvimento deste trabalho. Ao longo desta tese serão estudados dois problemas com objetivo de analisar processos relacionados ao transporte de fluidos através de meios porosos, estes problemas são: o efeito de uma pequena variação de temperatura em um meio poroso de baixa permeabilidade (com o objetivo de estudar a Fratura Hidráulica) e o escoamento através de um meio poroso saturado por um fluido newtoniano generalizado, modelado via Teoria de Misturas. A Fratura Hidráulica é uma técnica frequentemente usada em processos de extração de petróleo e gás de xisto, presentes na rocha sedimentar. A técnica consiste em furar verticalmente a rocha a uma profundidade de até 3000 metros, em seguida, usando equipamentos especiais, os operadores conseguem mudar a direção do furo, que a partir desse momento se estenderá horizontalmente por aproximadamente 600 metros. Após efetuado o furo, injeta-se fluido a uma pressão muito alta de modo a forçar a fratura da rocha, aumentando desta forma sua permeabilidade, e permitindo o escoamento do gás ou de outro fluido [1]. Todo o processo da fratura hidráulica é apresentado na Figura 1.1. 1 Figura 1.1: Esquema do processo de fratura hidráulica [2] Esta metodologia tem alguns detratores, pois algumas empresas empregam misturas de fluidos que contem ácidos e outros materiais que podem poluir aguas subterrâneas, o que consequentemente será um fator contaminante para rios e oceanos. O método empregado neste trabalho visa substituir o uso de materiais poluentes na fratura hidráulica. Para isso os métodos experimentais e analíticos que serão propostos visam provar que é possível aumentar a permeabilidade da rocha mediante o aumento de pressão que resulta do incremento da temperatura do fluido. Para a solução analítica do problema serão postuladas as clássicas equações de balanço de massa, momentum, energia (ou primeira lei da Termodinâmica), e a segunda lei da Termodinâmica empregando a Mecânica do Contínuo. Estas equações serão combinadas com hipóteses constitutivas para a energia livre de Helmholtz e uma versão da equação de Tait para a permeabilidade, a fim obter uma expressão que modele o problema. Em seguida, será mostrado, empregando a segunda lei da Termodinâmica, que o modelo descreve adequadamente o processo estudado. 2 Na segunda parte deste trabalho será estudado o escoamento de um fluido newtoniano generalizado através de um meio poroso. Este tipo de escoamento está presente em diversos processos como: a extração de gás e petróleo, a indústria de mineração, tecnologias de sinterização e biomecânica. Na indústria de recuperação de petróleo especificamente, existe a necessidade de desenvolver técnicas de extração mais eficientes e métodos de simulação mais avançados a fim de aumentar a produção de petróleo. Além do petróleo apresentar características de fluido não newtoniano, polímeros injetados também têm comportamento não newtoniano. Nestes casos a clássica lei de Darcy não é adequada para modelar estes escoamentos de forma apropriada. Além da lei de Darcy existem diferentes teorias para estudar escoamentos através de meios porosos, mas a maioria dos trabalhos que analisam fenômenos de transporte de misturas empregam a média volumétrica para descrever quantidades como temperatura, pressão, concentração e componentes da velocidade [3] empregando Mecânica do Contínuo. Esta metodologia tem sido empregada para analisar diferentes tipos problemas como por exemplo: escoamentos de fluidos com mudança de fase em meios porosos [4], convecção forçada em um canal poroso [5] e convecção mista [6], [7] entre outros. Na análise do problema de escoamento através de um meio poroso saturado, apresentado neste trabalho, será usada a Teoria Continua de Misturas [8]–[11]. Esta teoria pode ser considerada uma extensão da Mecânica do Continuo Clássica, com ela é possível tratar os constituintes de uma mistura como uma superpesição de constituintes contínuos, cada um de estes elementos ocupando totalmente o volume da mistura. Outra característica do uso da Teoria de Misturas é que ela permite uma aparente independência termomecânica entre os constituintes da mistura, por isso requer termos de fonte de momentum e energia, que promovem o acoplamento termomecânico. 3 A permeabilidade, que é uma propriedade dependente de diversas variáveis como a estrutura dos poros, o tamanho e a forma dos poros, foi relacionada por muitos anos com a porosidade apenas por modelos empíricos. Mais recentemente, o método Lattice Bolzmann permitiu analisar meios porosos com geometrias complicadas, conseguindo assim simular as equações de Navier-Stokes considerando a permeabilidade [12] [13]. Determinar uma relação que permita relacionar a porosidade e a permeabilidade é uma tarefa difícil, mas de muita importância cientifica e econômica para diversas industrias, especialmente a indústria do petróleo. O modelo de Kozeny-Carman [14] é um dos mais empregados, devido a sua simplicidade. Essencialmente ele relaciona as propriedades da matriz porosa com a resistência ao escoamento causado pelo meio poroso. Neste trabalho é postulada uma equação que permite relacionar a permeabilidade com porosidade de forma simples, num contexto de Teoria de Misturas. Para isto é desenvolvida uma teoria constitutiva completa que permite obter uma equação fisicamente consistente relacionando permeabilidade e porosidade. Esta equação depende de dois parâmetros constitutivos de fácil calculo quando conhecidos pelo menos dois valores de permeabilidade e porosidade, que podem ser obtidos a partir de pontos dois pontos experimentais. 1.1 Revisão bibliográfica 1.1.1 Fratura hidráulica Desde que a fratura hidráulica começou a ser empregada na indústria muitos pesquisadores vêm dedicando esforços a fim de melhorar sua técnica, compreendê-la e 4 melhorá-la. A maioria dos trabalhos encontrados na literatura trata questões relacionadas ao tipo de fluidos usados na fratura hidráulica, o material da matriz porosa e o cálculo de pressões e esforços. Como a fratura hidráulica serve como motivação para uma parte deste trabalho, será apresentada a seguir uma breve descrição de alguns trabalhos relevantes para seu desenvolvimento, a maioria com aplicações na indústria do petróleo. Na prática a fratura hidráulica é usada para aumentar a porosidade de rochedos e poços ou para aproveitar a energia geotérmica armazenada nas rochas. A técnica mais usada para conseguir este resultado é o método “Hot dry rock” (HDR). Este método consiste basicamente em injetar água fria a alta pressão na rocha. As fraturas obtidas são resultado de esforços gerados pela pressão do fluido, a contração térmica e a resistência mecânica da rocha. A seguir apresenta-se um pequeno resumo de alguns trabalhos baseados na técnica de fratura hidráulica ou o método HDR e que foram importantes para o desenvolvimento deste trabalho. Em 1961, Perkins e Kern [15], usaram um balanço de energia para calcular a pressão necessária para fraturar materiais frágeis. O resultado deste cálculo foi usado para provar que o tamanho das trincas pode ser controlado se a diferença de pressão usada for regulada de alguma forma. Os resultados analíticos foram obtidos para fluidos newtonianos e não newtonianos, tanto em escoamentos laminares quanto turbulentos. Uma análise analítica para estudar as trincas, empregando teorias clássicas de elasticidade foi feita por England e Green [16]. Eles postularam equações para calcular os esforços bidimensionais devido às pressões. O objetivo dos autores foi avaliar a troca de energia interna, devido à abertura das trincas na matriz porosa para os diferentes casos considerados no trabalho. 5 A técnica de fratura hidráulica massiva na montanha Rocky – nos Estados Unidos – foi aplicada por Simonson et al. [17], em 1978. No trabalho foram determinados o efeito das propriedades dos materiais que compõem a montanha, o efeito e as caraterísticas das variações de esforços e os efeitos dos gradientes de pressão. Os autores concluem que os resultados do estudo podem ser aplicados em outros problemas envolvendo fratura hidráulica massiva. Alguns anos depois Nolte e Smith [18] estudaram como a variação de pressão afeta a fratura da matriz porosa. Neste estudo experimental, os autores coletaram os dados para um arranjo de tubos através do qual era bombeado um fluido a uma determinada pressão capaz de iniciar uma fratura. Os resultados obtidos apresentaram semelhança com os apresentados por Perkins e Kern [15]. Em 1982, van Eekelen [19] analisou os efeitos da fratura hidráulica e observou que a formação de trincas pode depender de diversos fatores, como esforços, propriedades elásticas, tenacidade à fratura, ductilidade e permeabilidade. Mesmo assim, concliu que existiam outros fatores causados pela rigidez e pelos esforços que modificavam o limite de penetração da fratura. Experimentos para determinar os parâmetros de controle da fratura hidráulica foram realizados por Warpinski et al. [20]. O objetivo do estudo era determinar as condições capazes de limitar o tamanho da fratura e a direção de propagação. Cinco experimentos foram realizados, mas mostraram ser insuficientes para determinar o tamanho e a profundidade das trincas. Mesmo assim, os testes foram capazes de mostrar o comportamento dos esforços na fratura hidráulica e melhoraram as técnicas de medição aplicadas na recuperação de óleo e gás natural. 6 Mais recentemente, Weijers et al. [21] testaram em diferentes lugares dos Estados Unidos um método desenvolvido para calibrar o crescimento das trincas. No estudo foram consideradas variáveis como fraturas hidráulicas múltiplas, os efeitos da deformação plástica, a viscosidade do fluido e a formação de micro fraturas. Os autores afirmaram que, embora a metodologia usada seja moderna e sofisticada, será necessário compreender melhor a geologia das rochas analisadas para calibrar e controlar o crescimento da fratura. Em 2009, Pater e Dong [22] realizaram experimentos em laboratório usando como materiais porosos misturas de areia e pó de quartzo e de areia e cimento. O objetivo dos testes realizados era observar a influência da permeabilidade da matriz porosa na propagação de trincas. No estudo foi empregada uma máquina que permite observar a geometria e a propagação da fratura. Os resultados experimentais foram comparados com os resultados numéricos obtidos com o software FLAC, mostrando ser qualitativamente semelhantes. Os autores concluíram que a propagação de fraturas é menor para altos valores da permeabilidade. 1.1.2 Escoamentos em meios porosos Fenômenos de transporte em meios porosos têm atraído muitos pesquisadores devido a possível aplicação destes processos em diversos campos de Engenharia, como mineração, tecnologia de sinterização, biomecânica e na indústria de petróleo, resultando em uma considerável quantidade de trabalhos publicados na área. A maioria dos trabalhos tratando escoamentos em meios porosos emprega a clássica técnica de média volumétrica desenvolvida por Whitaker em [3], que já permitiu incontestáveis avanços. 7 Neste trabalho, os escoamentos em meios porosos serão descritos empregando uma modelagem de Teoria de Misturas, uma generalização da Mecânica do Contínuo clássica, especialmente desenvolvida para tratar fenômenos multifásicos. No caso de escoamentos em meios porosos saturados, esta metodologia trata o fluido e a matriz porosa como constituintes contínuos de uma mistura binária, quimicamente não reagentes, cada um deles ocupando, simultaneamente, todo o volume da mistura. A Teoria de Misturas leva a uma aparente independência termomecânica, pois para uma mistura de n constituintes são permitidas n velocidades e n temperaturas distintas, simultaneamente, em cada ponto do espaço, que requer a proposição de relações constitutivas termodinamicamente consistentes para relacionar as variáveis cinemáticas e dinâmicas. Num escoamento isotérmico, a interação dinâmica é garantida por um termo de fonte de momentum (análogo ao termo darciano numa descrição via técnica de média volumétrica) e para o tensor parcial de tensões (análogo ao tensor de cauchy numa descrição via Mecânica do Contínuo). A seguir são apresentados resumos de algumas pesquisas relacionadas com este tipo de problema, algumas delas muito importantes no desenvolvimento deste trabalho. O primeiro trabalho conhecido no qual foi estudado escoamento através de meios porosos foi publicado por Henry Darcy em 1856. No livro deste reconhecido cientista francês, titulado “The public fountains of the city of Dijon” [23], foi postulada a conhecida lei de Darcy para escoamento da água através de areia. Com esta lei é possível estudar a porosidade, a vazão da agua e a permeabilidade em aquíferos. Ao longo da história inúmeros autores publicaram trabalhos empregando a lei de Darcy, dentre os quais podem ser citados: Sundaravadivelu e Tso [24], que estudaram a influência da viscosidade na transferência de calor por convecção forçada através de um canal poroso dividido em 8 duas regiões de escoamento com diferentes porosidade, permeabilidade e condutividade térmica. Os autores estudaram analiticamente o problema empregando a lei de Darcy e concluíram que o perfil de velocidade é fortemente afetado pela variação das características da matriz porosa e da viscosidade do fluido. O problema de convecção forçada através de uma matriz porosa num duto circular com paredes isotérmicas foi estudado por Ranjbar-Kani e Hooman [25], eles empregaram o modelo de Darcy para calcular a velocidade. As aproximações numéricas foram calculadas na região de entrada e na região desenvolvida considerando números de Darcy altos e baixos usando diferenças finitas. O modelo Brinkman-Darcy-Forchheimer foi usado por Jiangand Ren [26] para postular as equações para um fluido bidimensional escoando através de um meio poroso. O problema foi estudado considerando as condições de contorno postuladas em [13–16] a fim de calcular aproximações numéricas que permitissem a comparação com resultados experimentais, permitindo observar que o modelo proposto apresenta boa exatidão. A Teoria de Misturas foi empregada por R.M. Bowen [10] para apresentar modelos que descrevem a mistura de sólidos e fluidos. O autor inicia o trabalho com uma descrição completa da cinemática e das equações de balanço de massa e de momentum. Também é feita uma análise termodinâmica para os casos de mistura de sólidos elásticos incompressíveis e fluidos incompressíveis, mistura de sólidos rígidos e fluidos incompressíveis, onde se verifica que a entropia é maior ou igual a zero, recuperando, desta forma, a segunda lei da termodinâmica. O estudo de múltiplos fluidos imiscíveis escoando através de um meio poroso foi estudado por Wei e Muraleetharan [31], usando a Teoria de Misturas. No modelo a 9 equação que descreve o escoamento é função de um potencial químico e de uma força de arrasto que está sujeita à energia dissipada no escoamento. Os autores provaram que a Teoria de Misturas pode ser deduzida a partir do princípio de potências virtuais. Saldanha da Gama e Martins-Costa [32] simularam a transferência de momentum e de energia num meio poroso insaturado por um fluido incompressível, modelado via Teoria de Misturas levando a uma descrição matemática de quarto equações diferenciais não lineares. A simulação do problema foi feita através da aplicação de um esquema de Glimm, combinado a uma técnica de fatoração do operador para o problema hidrodinâmico, que permite transformar um problema simultâneo num sequencial. O problema homogêneo associado (equações hiperbólicas) é aproximado um esquema de Glimm e a parte não homogênea é tratada como um termo de fonte. A solução do problema hidrodinâmico é usada como dado de entrada para o problema térmico, aproximado via diferenças finitas. A Teoria de Misturas foi empregada por Ristinmaa M. et al. [33] para estudar o escoamento em um sólido poroso termoelasto-plástico. No modelo proposto são considerados a troca de massa entre as fases líquida e vapor. As equações de balanço de massa, de momentum e também a equação da energia livre de Helmholtz foram postuladas para cada fase. Foram considerados os efeitos térmicos, os efeitos da deformação tanto na fase sólida quanto na fase líquida, da difusão e condução, evolução plástica e a troca de massa. Como resultados, foram obtidas as curvas de equilíbrio considerando os seguintes casos: que o sólido absorve massa, que o sólido cede massa e que o sólido nem absorve nem cede massa. Um modelo para estudar a transferência de calor numa matriz porosa saturada empregando Teoria de Misturas foi postulado por Martins-Costa et al. [34]. Foi necessário 10 introduzir relações constitutivas as fontes de momentum e de calor relativas à interação entre o fluido e o sólido. Os resultados numéricos para os perfis de temperatura dos constituintes fluido e foram obtidos empregando diferenças finitas. Um modelo local para estudar a transferência de calor num duto dividido em duas regiões de escoamento foi proposto por Martins-Costa e Saldanha de Gama [35]. No problema proposto foi empregada a Teoria de Misturas e foi necessário introduzir equações constitutivas que levassem em conta a interação entre os constituintes e as condições de compatibilidade na interface para a velocidade, tensão, temperatura e também para o calor. O sistema de equações que descreve problema foi resolvido empregando a técnica numérica de volumes finitos. Hanyga [36] empregou a Teoria de Misturas para estudar o escoamento de dois (ou mais) fluidos imiscíveis através de uma matriz porosa. Para formular o modelo matemático foi necessário introduzir algumas equações constitutivas para a energia, o tensor tensão, o momentum e o fluxo de calor. Efeitos como a capilaridade e as forças de arrasto responsáveis pelo aumento da difusão foram incluídos na formulação apresentada para descrever o problema. Uma formulação da Teoria de Misturas capaz de modelar o crescimento intersticial foi postulado por Cowin e Cardoso [37]. No caso descrito, os autores modificaram as equações de balanço para levar em conta possíveis mudanças no desenvolvimento cinemático e permitir incrementos de massa e momentum na mistura. Entretanto, para o balanço de entropia os autores consideram a mistura como um todo. O trabalho apresenta um conjunto de equações de balanço completo, porém não apresenta hipóteses constitutivas e por tanto nenhum resultado numérico ou experimental permite validar essas expressões. 11 Um modelo macroscópico, considerando rochas insaturadas e isotérmicas, foi postulado por Chen e Hicks [38], que usaram a teoria de Biot e elementos de não equilíbrio termodinâmico para obter um modelo (denominado pelos autores Teoria de Misturas modificada) onde são consideradas as três fases: sólida, líquida e gasosa. Os autores afirmam ser possível com este modelo descrever o grau de saturação, a pressão nos poros, a tensão e a deformação em função do tempo e da distância. Massoudi [39] explicou a importância das condições de contorno para resolver problemas empregando a Teoria de Misturas. O trabalho estuda o caso de misturas de um sólido e um líquido. Condições de simetria foram apresentadas para a velocidade, mas também para a fração de volumes. O caso de condições de contorno nas paredes sólidas também foi estudado, sendo introduzida uma velocidade de deslizamento, considerando que, de fato, alguns fluidos escorregam na parede. O autor afirma que existem outros casos para os quais é possível obter condições de contorno experimentalmente. Um trabalho analítico muito interessante publicado por P. D. Kelly [40], apresenta as tradicionais equações de balanço de massa, momentum, energia e entropia assim como também são postuladas equações de balanço de carga elétrica e fluxo magnético, considerando reações químicas. Neste trabalho são introduzidos termos que levam em conta a interação entre os constituintes existentes antes ou depois dessas reações. O autor afirma que as equações postuladas por ele são as mais gerais existentes na literatura. Outra relação que dever ser levada em conta no escoamento através de meios porosos é a relação entre porosidade e permeabilidade. Na bibliografia encontram-se estudos deste tipo onde a equação de Kozeny-Carman é empregada [1-4]. Essa expressão que relaciona a porosidade e a permeabilidade requer uma constante que depende do material e do tamanho dos grãos que compõem a matriz porosa. Esta constante tem um papel 12 fundamental na aplicação da equação, o valor deste parâmetro muda para cada tipo de material poroso. Diferentes versões da equação Kozeny-Carman têm sido postuladas [35–37] com o objetivo de facilitar o uso da equação. Entre as versões mais recentes da expressão encontra-se a postulada por Henderson et. al. [47] em 2010. Neste trabalho foi usado um método indireto numérico-experimental de estimação de parâmetros para calcular as constantes da equação generalizada de três parâmetros de Kozeny-Carman postulada pelos autores. Nos resultados numéricos obtidos a partir das observações de estruturas fractais, foi observado que a equação é capaz de modelar aceitávelmente a permeabilidade e porosidade de diferentes materiais. Apesar da maioria dos trabalhos anteriormente referidos apresentar ou propor modelos matemáticos, apenas alguns deles apresentam resultados numéricos que permitam fazer comparações de nossos resultados com trabalhos encontrados na literatura. 1.2 Conteúdo do trabalho Este trabalho é divido em 6 capítulos, sendo o capítulo 1 a Introdução, onde é mostrada uma visão geral da tese, além disso são feitas definições necessárias para a compreensão do trabalho. Ainda neste capítulo são postuladas as motivações que originaram as pesquisas necessárias para o desenvolvimento deste trabalho. O capitulo 2 inicia-se com uma introdução à cinemática, onde são feitas algumas definições necessárias para o desenvolvimento do trabalho. Em seguida, são apresentadas as equações de balanço de massa, balanço de momentum linear e as equações da primeira 13 lei e da segunda lei da termodinâmica, empregando duas abordagens, a mecânica do continuo clássica e a teoria de misturas. No capitulo 3 são apresentadas equações constitutivas necessárias para a solução das equações de balanço. Entre elas a equação do tensor parcial de tensões, a fonte de momentum, uma expressão que relaciona a permeabilidade e a porosidade e a equação de Tait modificada para levar em conta pequenas variações de temperatura. O capítulo 4 destina-se a descrever os problemas propostos e apresentar os modelos matemáticos que são usados para analisar os fenomemos de interesse. No desenvolvimento deste capítulo foi necessário introduzir variáveis e fazer hipóteses que permitiram obter resultados fisicamente possíveis. Os resultados obtidos a partir dos modelos propostos são apresentados no capítulo 5. Neste capítulo também são apresentados o equipamento e o corpo de prova que foi usado para obter uma parte dos resultados obtidos no desenvolvimento do trabalho. No capítulo 6 são apresentadas as principais conclusões obtidas neste trabalho e as sugestões para futuros trabalhos de pesquisa. 14 Capitulo 2 2 Equações de Balanço Neste capítulo serão apresentadas as equações de balanço de massa, balanço de momentum linear, a primeira lei da Termodinâmica e a segunda lei da Termodinâmica. Os dois primeiros princípios serão postulados empregando tanto a Mecânica do Continuo Clássica quanto a Teoria de Misturas. As equações obtidas pela Mecânica do Continuo Clássica serão usadas para estudar analiticamente a expansão de um fluido newtoniano em um poro (caso idealizado), devido a variação de temperatura. Enquanto que equações obtidas pela Teoria de Misturas serão usadas para modelar o escoamento isotérmico de um fluido newtoniano generalizado através de uma matriz porosa. Em ambos os casos será necessário introduzir equações constitutivas para permitir a solução do problema. 2.1 Cinemática Em trabalhos de Atkin e Craine [8], Bedford e Drumheller [9], Rajagopal e Tao [11] e Bowen [48] foi definida a cinemática do movimento dos corpos, quimicamente reagentes ou não reagentes. Nestas definições um corpo (Bi) é formado por um conjunto de partículas que podem ser denotadas pelo movimento desta partícula é descrito por um conjunto de configurações paramétricas χt, onde o tempo t, pertence ao intervalo [0,∞). 15 Supõe-se que em cada instante de tempo t, todo o volume é ocupado, simultaneamente, por cada um dos componentes da mistura. Supondo uma mistura com componentes (Pi), sendo Xi a posição da partícula Pi, na configuração de referência, então os movimentos, supostos biunívucos, contínuos e inversíveis são denotados por xi = i Xi , t (2.1) Define-se a derivada material que segue o movimento de um dado constituinte i como Atkin e Craine [8] Di vi grad Dt t (2.2) onde vi é a velocidade do constituinte i, e é uma variável escalar, vetorial ou tensorial A equação (2.1) está cinematicamente associada aos seguintes parâmetros vi Di i Dt (2.3) ai Di vi Dt (2.4) 16 Li vi xi Di 1 Li LTi 2 Wi 1 Li LTi 2 (2.5) (2.6) (2.7) onde, vi e ai representam a velocidade e a aceleração do constituinte i. Enquanto os parâmetros Li, Di e Wi representam o tensor gradiente de velocidade sua parte simétrica e sua parte anti-simétrica respectivamente. A partir das equações postuladas acima é possível obter as equações tradicionais da mecânica do continuo clássica, para isso basta não utilizar os índices, considerando um único constituinte. 2.2 Princípios – Mecânica do Contínuo 2.2.1 Princípio de Conservação de massa Inicialmente será apresentado o balanço de massa empregando a Mecânica do Contínuo Clássica. Esta formulação é parte importante na análise de um fluido confinado em um poro (caso idealizado) que é submetido a mudanças de temperatura ao longo do tempo. Este problema será explicado em detalhes no próximo capítulo. 17 Seja Ω uma região arbitrária fixada com volume V limitada por uma superfície ∂Ω de área A na qual a lei de conservação da massa é postulada. Considerando um volume material de massa m a equação para o balanço de massa tem a seguinte forma (2.8) dm 0 dt Desta forma é possível calcular a massa m, no volume material com a integral m dV (2.9) t A quantidade de massa na região arbitraria do volume Ω na configuração atual é dada por d dV 0 (t) Bt ( B, t ) e t (0, ) dt (t ) (2.10) Empregando o teorema de transporte de Reynolds [49][50] é possível expressar a equação (2.10) por d dV v n dA 0 dt (t ) ( t ) tr L dV 0 (2.11) (t ) onde denota a derivada temporal: d /dt e L já foi definido anteriormente como o gradiente de velocidade. Embora, a equação da continuidade acima esteja definida em 18 uma forma geral, neste trabalho será feita uma simplificação da equação acima onde será desconsiderada a parte antissimétrica do gradiente de velocidade L, permitindo escrever D : I 0 (2.12) Na equação (2.12) e representam a massa especifica e a derivada da massa especifica respetivamente. D é o tensor taxa de deformação e I representa o tensor identidade. 2.2.2 Balanço de Momentum Linear A quantidade de movimento linear de um corpo é equivalente à aplicação da segunda lei de Newton a um volume material. Em outras palavras, a taxa de variação da quantidade de movimento linear de um corpo é igual à soma das forças externas agindo sobre o corpo mencionado. Se o corpo ocupa a região Ω, no instante de tempo t, a taxa de variação de movimento linear do corpo é calculada a partir da soma de forças externas (2.13) d v dV t dA g dV dt (t ) ( t ) (t ) Considerando a relação entre o vetor tensão t, e o tensor de tensão de Cauchy σ , o Teorema de Cauchy afirma que o vetor tensão é linear na normal exterior n, t x, t ; n σ x , t n , onde σ representa tensor tensão de Cauchy, a equação acima adquire a seguinte forma 19 (2.14) d v dV σ n dA g dV dt Finalmente, o balanço da quantidade de movimento linear na forma local é obtido aplicando o teorema de transporte as equações acima, resultando em v grad v v div σ g t (2.15) Ou ainda em uma forma mais geral a equação pode ser expressa como (2.16) Dv div g Dt onde grad(•) é o gradiente da grandeza (•) e D(•)/Dt representa a derivada material da grandeza (•). 2.2.3 Balanço de Energia A equação de conservação de energia estabelece que a soma da variação das energias cinética e interna, é igual à soma da potência mecânica (potência das forças internas – de superfície e potência das forças externas – de corpo) e da taxa de troca de calor (fluxo de calor através da fronteira e geração de energia sob forma de calor na região ). A primeira lei da Termodinâmica pode ser expressa como 20 d d 1 e d V v v d V dt dt 2 σ n v d A g v d V q n d A q d V (2.17) onde g representa a força gravitacional, e representa a energia enterna específica, q é a geração de energia por unidade de massa e q é o vetor fluxo de calor por unidade de tempo atravessando a fronteira do corpo, o sinal negativo representa o fluxo de calor que entra no volume de controle. Usando as equações de transporte [49], [50] e a equação de continuidade é possível obter a equação da energia na forma local D 1 De Dv v e v v Dt 2 Dt Dt div σ g div σv + g v div q q div σ v+ σ grad v (2.18) De σ grad v div q q Dt Uma outra forma de escrever a equação de primeira lei da termodinâmica na forma local, desprezando a geração de energia por unidade de massa q , é apresentada a seguir [51], [52]. e div q (2.19) Na equação (2.19) 𝑒̇ denota a derivada material da energia interna por unidade de massa, representa a massa específica, σ é o tensor de tensões de Cauchy, 21 D = 1 / 2 [ grad ( v ) + grad ( v )T ] é o tensor taxa deformação (sendo v a velocidade) e q é o vetor fluxo de calor. É interessante notar que esta equação é uma consequência da simetria do tensor de Cauchy. 2.2.4 Segunda Lei da Termodinâmica A segunda lei da Termodinâmica, que pode ser expressa pela desigualdade de Clausius-Duhem, permite uma distinção entre os processos reversíveis e irreversíveis e possibilita determinar quais processos são possíveis ou impossíveis, enquanto a primeira lei da termodinâmica trata da possibilidade de conversão de energia mecânica em calor e vice-versa. Para definir se o processo analisado é reversível ou irreversível deve-se verificar se existe alguma fonte de irreversibilidade que produza um incremento de entropia S. As principais causas de irreversibilidade são transferência de calor com diferença finita de temperatura, processo com atrito, expansão livre ou parcialmente resistida e mistura de correntes fluidas. O cientista alemão Rudolf Julius Emmanuel Claussius definiu a variação de entropia como [53] dS qrev (2.20) onde qrev é a variação do fluxo de calor reversível em um sistema fechado e θ é a temperatura (absoluta) do sistema. Entretanto, é necessário introduzir um novo termo na 22 equação acima a fim de calcular a entropia em um sistema fechado submetido a processos reversíveis e irreversíveis, desta forma obtém-se. dS qrev diS (2.21) Sendo diS=0 para processos reversíveis e diS>0 para processos irreversíveis. A partir das definições apresentadas acima, é possível expressar a variação de entropia com a seguinte equação d dt sdV 1 q n dA q dV (2.22) A equação (2.22) estabelece que a taxa de geração de entropia em um corpo é maior ou igual ao fluxo de entropia para esse corpo. Sendo que na desigualdade apresentada acima q é o fluxo de calor atravessando a fronteira do corpo, 𝑞̇ é a variação do fluxo de calor e a temperatura. A equação (2.22) também pode ser escrita na forma local, para isso a expressão acima deve ser combinada com a equação da continuidade e o teorema da divergência. O resultado desta operação é a desigualdade conhecida como a desigualdade de ClausiusDuhem, em homenagem aos pesquisadores que a desenvolveram 𝐷𝑠 𝒒 𝑞̇ ≥ −𝑑𝑖𝑣 ( ) + 𝐷𝑡 𝜃 𝜃 (2.23) 23 As expressões postulados até agora encontram-se na sua forma mais geral, mas para analisar o problema proposto neste trabalho é conveniente introduzir uma nova variável conhecida como a energia livre de Helmholtz. A energia livre de Helmholtz (chamada assim em homenagem ao pesquisador alemão Hermann von Helmholtz), ou potencial de Helmholtz, pode ser descrita como quantidade máxima de trabalho obtido a partir da transformação de calor aplicado a um sistema. Este conceito e frequentemente usado na análise de processos químicos, térmicos e aplicações de engenharia. A energia livre de Helmholtz (𝜓) é uma propriedade termodinâmica, como a energia interna ou a entalpia e pode ser calculada pela seguinte expressão [54] [53]. 𝜓 = 𝑒 − 𝜃𝑠 (2.24) onde 𝑒 é a energia interna por unidade de massa, 𝜃 a temperatura absolura e 𝑠 a entropia total por unidade de massa. A energia livre permite calcular o trabalho disponível que pode ser obtido em um sistema termodinâmico fechado a temperatura constante. A seguir será apresentado um modelo da energia livre para fluidos compressíveis. Neste trabalho são estudados apenas fluidos invíscidos embora a teoria possa ser estendida para postular equações constitutivas para outros casos [55][56]. , (2.25) A função energia livre para fluidos invíscidos é uma função diferenciavel da temperatura absoluta θ, e da densidade ρ. 24 O sistema de equações a seguir representa a dissipação total (d), onde a equação (2.27) é usada para calcular a dissipação intrínseca no processo (d1), enquanto a equação (2.28) representa a dissipação devido aos efeitos térmicos (d2). 𝑑 = (𝑑1 + 𝑑2 ) ≥ 0 d1 : D s (2.26) (2.27) 1 𝑑2 = − 𝒒 ∙ 𝒈𝒓𝒂𝒅𝜃 𝜃 (2.28) Esta versão local da segunda lei da Termodinâmica não exclui possíveis comportamentos anormais como, por exemplo, a diminuição da temperatura quando calor é adicionado ao sistema. (É importante observar que, nas equações (2.26)-(2.28), assim como nas equações a seguir, ( ) denota a derivada material no tempo). A fim de excluir a possibilidade desses comportamentos acontecerem, garantindo que as equações (2.26)(2.28) sejam satisfeitas uma restrição adicional será imposta 𝑑1 ≥ 0 𝑒 𝑑2 ≥ 0 (2.29) Garante-se, desta forma, que o fluxo de calor acontecerá sempre da região de maior temperatura para a região de menor temperatura quando q for paralelo ao gradiente de temperatura. Uma relação de parâmetros dissipativos pode ser introduzida a partir do potencial de dissipação ϕ que é uma função diferenciável, convexa e isotrópica de e θ. Neste ponto, 25 a dissipação intrínseca d1 e a dissipação térmica d2 são consideradas funções de e θ que tem a seguinte forma d1 (2.30) 1 d2 q q k q grad (2.31) Sendo o parâmetro k a condutividade térmica e o potencial ϕ dado por ( , ); ( , ) 0 ( 0, ) 0 ( , ) (2.32) A equação na segunda linha significa que no caso de a taxa de variação da densidade ser nula 0 então o potencial ϕ será igual a zero, isto implica que a dissipação devido à compressibilidade seja também igual a zero (d1 = 0) o que representa um fluido Pascaliano. Combinando as equações (2.27) e (2.30) obtém-se = :D s (2.33) Esta equação ainda pode ser usada substituindo nela a equação da conservação da massa na forma local (eq. (2.12)) para obter 26 2 0= I :D s (2.34) A equação (2.34) tem que ser válida para qualquer processo possível, permitindo concluir que as seguintes relações constitutivas são sempre válidas s= (2.35) pI (2.36) com p= 2 + (2.37) onde a pressão termodinâmica p é apresentada como a soma de suas partes reversível 2 / , e irreversível / . A equação (2.37) é a equação de estado geral para esta classe de superfluidos compressíveis. É interessante notar que usando a equação (2.28) e a definição da dissipação térmica dada pela equação (2.31), a clássica lei de Fourier vem como consequência q= k grad (2.38) 27 2.3 Princípios – Teoria de Misturas 2.3.1 Balanço de Massa A cada constituinte i da mistura é associada uma densidade mássica ρi, que representa a densidade média do constituinte i, tomada para um pequeno volume da mistura. A densidade mássica da mistura como um todo é expressa pelo somatório da densidade mássica de cada constituinte da mistura ρi (2.39) n i i1 Logo a conservação da massa para o constituinte i pode ser expressa como: (2.40) d i dV 0 dt (t ) Empregando o teorema de transporte de Reynolds [49] obtém-se (2.41) d i dV i vi n dA 0 dt (t ) ( t ) Supondo que as funções sejam regulares e considerando que Ω é uma região arbitrária fixa na mistura, obtém-se a equação da continuidade em forma local para cada um dos constituintes, sendo i = 1, n 28 di i vi 0 dt 2.3.2 (2.42) Balanço de Momentum Linear A conservação de momentum linear é postulada de forma análoga à empregada na Mecânica do Contínuo clássica, aplicando-se o primeiro axioma de Euler [49] a cada constituinte da mistura. Além das forças de corpo por unidade massa atuando em cada constituinte da mistura, fi , os efeitos das forças da superfície dos demais constituintes da mistura sobre o constituinte i devem ser levados em consideração. A fim de considerar estes dois efeitos, é introduzido o vetor parcial de tensões ti x, t; n , definido em e medido por unidade de área de , que desempenha um papel análogo ao vetor tensão da Mecânica do Contínuo Clássica. Define-se, ainda, a força de interação mi , aplicada ao constituinte i pelos demais constituintes da mistura. A força de interação local mi é um termo de geração de momentum linear, por unidade de volume [8] e representa a transferência de momentum, devido aos efeitos de interação entre os constituintes e ao movimento relativo dos constituintes. Supondo que o vetor parcial de tensões integrado sobre a superfície seja a força de contato sobre o constituinte i, o tensor parcial de tensões, que depende linearmente da orientação do elemento de superfície, além de depender da posição e do tempo pode ser definido como: 29 ti xi , t; n σi xi , t n (2.43) O vetor parcial de tensões integrado sobre a superfície ∂Ω representa a força de contato sobre o constituinte i. Neste caso, a conservação da quantidade de momentum linear para cada constituinte (i =1, n) pode ser postulada como d i vi d V i vi vi n d A dt i (2.44) fi mi d V i ni d A No caso de um fluido escoando através de uma matriz porosa, a força de interação atuando no constituinte sólido pode ser fisicamente interpretada como a soma do arraste do fluido na matriz e o efeito das forças capilares, que surgem, devido a uma distribuição não-uniforme do fluido no interior da matriz porosa. Este último efeito está presente somente em escoamentos insaturados. A forma local da equação de balanço de momentum linear para cada constituinte (i=1, n) é dada por v i i vi vi σi mi i fi t (2.45) A equação apresentada acima descreve o balanço de momento linear para cada elemento da mistura, já uma expressão válida para a mistura como um todo pode ser expressa como segue 30 n m 0 i (2.46) i=1 Neste trabalho os tensores parciais de tensão ( σ i ) serão considerados simétricos, satisfazendo automaticamente o balanço de momentum angular. 2.3.3 Balanço de Energia Para postular o balanço de energia, denota-se por ei a energia interna específica do constituinte i, por qi a geração (externa) de calor por unidade de massa e por qi o vetor fluxo parcial de calor (por unidade de tempo e de área) de tal forma que o fluxo de calor conduzido para o constituinte i, através da superfície seja dado por qi n . Define-se, ainda, uma função escalar i representando a geração de energia relativa ao constituinte i, ou seja, a energia (por unidade de tempo e de volume) fornecida ao constituinte i, devido a sua interação térmica com os demais constituintes da mistura. Desta forma, tem-se a energia trocada com os outros constituintes representada por i dV . Considerando as hipóteses anteriormente mencionadas de ausência de reações químicas entre os constituintes da mistura e simetria do tensor parcial de tensões, o balanço de energia – correspondendo à Primeira Lei da Termodinâmica – para um dado constituinte pode ser expresso como 31 1 1 i ei v i v i dV i ei v i v i v i n dA t Ω 2 2 Ω Ω i dV i qi i bi mi v i dV Ω t i vi qi n dA (2.47) Ω onde 1 2 vi vi representa a energia cinética por unidade de massa associada ao constituinte i, os termos i bi vi e mi vi representam, respectivamente, as potências das forças (externas) de corpo e das forças de interação por unidade de volume e ti vi representa a potência das forças de contato por unidade de área. Um procedimento análogo ao empregado anteriormente, considerando ti σi n , permite obter a forma local da conservação de energia para um constituinte i di ei i qi qi i σ i Di dt i 1, n (2.48) A conservação de energia para a mistura, considerando ausência de geração de massa e tensores parciais de tensão simétricos, é dada por n n 1 1 i ei vi vi dV i ei vi vi vi n dA t i 1 2 2 i 1 n q b m v dV t v q n i 1 (2.49) n i i i i i i i 1 Fazendo 32 i i i dA n e i ei i 1 n q i qi i 1 n q qi i 1 n σ D σi Di (2.50) i 1 com e denotando a energia interna específica da mistura, q a geração (externa) de calor por unidade de massa fornecida à mistura, q o vetor fluxo de calor (por unidade de tempo e de área) associado à mistura, e σ D a dissipação viscosa, pode-se expressar a forma local da conservação de energia para a mistura como de q q σ D dt (2.51) Observa-se que a equação (2.51) apresenta a mesma forma do balanço de energia para um meio contínuo. Uma forma equivalente de expressar o balanço de energia para a mistura, considerando as hipóteses simplificadoras descritas anteriormente e a validade da equação (2.48), é [57]: n i 1 2.3.4 i 0 em (2.52) Segunda Lei da Termodinâmica A expressão da Segunda Lei da Termodinâmica, a noção básica de entropia, sua definição como grandeza primitiva ou derivada e o significado da temperatura ainda são debatidos entre diversos autores, mesmo no caso de Mecânica do Contínuo clássica. No 33 caso de misturas, além destes temas controversos, não existe consenso sobre a necessidade de satisfazer a desigualdade entrópica para cada constituinte ou para a mistura como um todo [11]. No presente trabalho supõe-se a Segunda Lei da Termodinâmica dada pela desigualdade de Clausius-Duhen, que deve ser válida localmente para a mistura como um todo. A cada constituinte de uma mistura associa-se uma temperatura absoluta i (por hipótese positiva) e uma entropia específica si de forma a ter-se a entropia total do constituinte i, S i , ocupando a região i num dado instante t dada por Si i si dV (2.53) i Define-se, ainda, a entropia específica de uma mistura como s 1 n s i 1 (2.54) i i A forma global da desigualdade de produção de entropia para a mistura como um todo é postulada, supondo que o fluxo de entropia devido ao fluxo de calor, qi , seja dado por qi / i – de forma a ter-se o fluxo de entropia associado à mistura dado por q n i 1 i / i e que a geração de entropia devido à presença do termo de geração externa de energia, qi , seja qi / i , como [11] 34 n n n qi n i qii n s dV s v n dA dA dV i i i i i t Ω i 1 i i Ω i 1 Ω i 1 Ω i 1 (2.55) Observa-se que a desigualdade (2.55) permite que a cada constituinte seja associado um campo de temperaturas diferente. Sua forma local é dada por n i 1 i q q di si i i 0 dt i i (2.56) 35 Capítulo 3 3 Equações constitutivas Para a solução das equações de conservação apresentadas no capítulo anterior será necessário introduzir hipóteses constitutivas que permitam levar em conta o tipo de material dos elementos da mistura, a interação entre eles e as vizinhanças assim como também considerar os efeitos da compressibilidade dos materiais. Estas hipóteses dependem das condições nas quais o problema é analisado. Neste trabalho são propostas algumas equações constitutivas com o objetivo de apresentar uma nova opção para resolver problemas reais de engenharia, mas também serão usadas algumas hipóteses encontradas na bibliografia e que têm sido usadas na indústria na análise de problemas. 3.1 Tensor parcial de tensão e fonte de momentum para fluido newtoniano generalizado A lei de viscosidade de Newton [58], dada pela equação a seguir, impõe que cada componente do tensor extra de tensões τ, é proporcional ao tensor taxa de deformação D, na direção normal a essa componente (a taxa de deformação por cisalhamento do fluido, ). 36 (3.1) A partir desta lei é possível traçar a curva que será uma linha reta para fluidos newtonianos, e todos os fluidos cuja curva não seja linear ou não passe pelo origem do sistema de coordenadas serão chamados de fluidos não-newtonianos. Esta classificação, em oposição ao comportamento newtoniano, foi originada quando as propriedades dos fluidos não-newtonianos eram consideradas anômalas. Hoje em dia, a tendência é considerar os fluidos não-newtonianos como um caso especial de uma categoria mais geral de fluidos: os chamados fluidos newtonianos generalizados. Os fluidos newtonianos generalizados são considerados fluidos inelásticos. Estes fluidos têm a capacidade de acumular energia interna por deformação de suas moléculas para devolvê-la ao escoamento posteriormente, devido a alguma mudança de características. A principal propriedade dos fluidos não-newtonianos é a viscosidade viscométrica ou de cisalhamento. Esta propriedade é definida como (3.2) O comportamento da viscosidade viscométrica com a variação da taxa de deformação por cisalhamento é observado na Figura 3.1. Nesta curva é possível notar que para baixos valores da taxa de deformação por cisalhamento do fluido , a viscosidade viscométrica η é constante. Logo, para valores médios de a curva decresce aproximando-se a uma linha reta, e finalmente para valores mais altos da viscosidade viscométrica observam-se valores de η constantes. Em outras palavras, quando o fluido tem alta viscosidade 37 viscométrica o fluido não pode escoar facilmente e o contrário acontece quando a viscosidade viscométrica do fluido é baixa. Existem diferentes modelos que permitem relacionar a viscosidade viscométrica com a taxa de deformação por cisalhamento. Alguns dos modelos mais usados são: o Bingham e o power-law, este ultimo empregado no desenvolvimento deste trabalho. . Figura 3.1: Curva viscosidade / Taxa de deformação por cisalhamento [59] O modelo de Ostwald-de Waele, também chamado power-law é capaz de modelar fluidos newtonianos, pseudoplásticos ou dilatantes. Neste modelo, descrito pela equação (3.3) [60], τ representa a tensão cisalhante aplicada ao fluido, κ é o índice de consistência do material, m o índice de power-law e representa a taxa de cisalhamento. 38 m1 D (3.3) Por conveniência, estes índices serão redefinidos como η = 2(m−1)/2κ e n = (m−1)/2. Neste caso valores de n negativos (n < 0), representarão um comportamento pseudoplástico, valores positivos (n > 0), um comportamento dilatante e quando for zero (n = 0) o fluido representado terá comportamento newtoniano. A partir desta breve revisão sobre fluidos newtonianos generalizados, serão considerados fluidos power-law, num contexto de Teoria de Misturas. Neste sentido, serão apresentadas equações constitutivas não apenas para o tensor tensão σ , mas para o tensor parcial de tensões σF , atuando no constituinte fluido de uma mistura sólido-fluido que modela um escoamento isotérmico em um meio poroso saturado pelo fluido. Como a matriz porosa é suposta rígida, apenas as equações para o constituinte fluido necessitam ser solucionadas. As equações constitutivas que caracterizam o escoamento de uma classe particular de fluidos não-newtonianos através de um meio poroso são propostas a seguir σ F pI 2 mF 2 vF K DF 0 0 (3.4) K Kˆ , , vF DF (3.5) onde ω é uma função escalar diferenciável, estritamente convexa e positiva, DF é o tensor taxa de deformação atuando sobre o constituinte fluido da mistura m F é a fonte de momentum, responsável pelo acoplamento mecânico, K 39 é uma função estritamente positiva, φ representa a porosidade, e v F é a velocidade constituinte fluido da mistura. As equações constitutivas (3.4) e (3.5) podem ser obtidas empregando os mesmos princípios usados por Costa Mattos et al. [61] e são suficientes para garantir que uma versão local da segunda lei da Termodinâmica seja sempre satisfeita. A função ω para um fluido newtoniano generalizado tem a seguinte forma particular [55] DF DI ; DI DF DF 1 K DI F p I 2 2 DF DI (3.6) com , , n, K d 2 m F vF vF dDI K (3.7) 2 O termo d dDI normalmente é denominado viscosidade dinâmica. Ele permite modelar a dependência da viscosidade da taxa de deformação (e da temperatura nos processos não isotérmicos). Por outro lado, é uma função estritamente positiva da porosidade φ, da viscosidade η, de um índice relacionado ao coeficiente power-law n e da permeabilidade do meio poroso K. Enquanto esta permeabilidade K depende apenas da matriz porosa, K depende também do escoamento do constituinte fluido (velocidade material, velocidade local, e gradiente de velocidade). É importante observar que a porosidade e permeabilidade estão conectadas, dependendo uma da outra. Porém a porosidade é estática, mas a permebilidade pode ser aumentada. 40 A fim de postular o tensor de Cauchy de forma adequada para analisar o problema de escoamentos através de meios porosos serão introduzidas as definições das funções ˆ (DI ) e ˆ( , , n, K ) a serem utilizadas neste trabalho [30], [36, 37] ˆ (DI ) 2n (DI ) n n 1 1 (3.8) (3.9) ˆ ( , , n, K ) 4n 3 K 2n 4n 3 K 2n 3 1 3 1 2n 1 2n 1 n 6K vF 2n (3.10) n (3.11) 6K Combinando as equações (3.8) a (3.11) com as equações do tensor parcial de tensões e a fonte de momentum, definidos nas expressões (3.4) e (3.5) respectivamente, obtémse as novas equações para o Tensor parcial de tensões σ F e a fonte de momentum m F . σF p I 2 2 mF K (DI )n D 4n 3 2n 1 2n 1 1 3 6K (3.12) n vF 2n vF 41 vF 2n vF (3.13) 3.2 Permeabilidade - Porosidade A permeabilidade pode ser calculada conhecendo-se a distribuição de tamanho dos poros, a distribuição de tamanho dos grãos e a área superficial interna. Destas propriedades a distribuição de tamanho de grãos é a mais complexa a ser relacionada com a permeabilidade [65]. Para a simulação de escoamento de um fluido não-newtoniano através de meios porosos, é importante que se tenha um modelo para determinar a permeabilidade que seja função de propriedades macroscópicas de fácil obtenção. A porosidade é dada por F / , onde F representa a densidade mássica do constituinte fluido na mistura (definida como a razão entre a massa do constituinte fluido e a massa total de mistura) e representa densidade mássica do fluido (massa específica), sob um ponto de vista de Mecânica do Contínuo. Muitas pesquisas têm realizado esforços para estabelecer relações entre porosidade e permeabilidade tanto para escoamentos de fluidos newtonianos quanto para escoamentos de fluidos não-newtonianos através de meios porosos. Neste trabalho sugere-se uma expressão, simples, mas eficaz, para relacionar a permeabilidade K com a porosidade φ. O modelo proposto neste trabalho tem como objetivo simplificar o cálculo da permeabilidade. A principal hipótese empregada é que a permeabilidade K depende apenas da porosidade e de dois parâmetros denotados por a e b, sendo dada por a b K 1 a (3.14) 42 na qual os parâmetros a e b são positivos e dependentes da temperatura, e podem, eventualmente, variar também com a pressão. Estes parâmetros refletem características microscópicas da matriz porosa como por exemplo: a forma do poro e como os poros estão distribuídos. Uma interpretação física da equação (3.14), num contexto de Teoria de Misturas pode ser obtida usando as equações constitutivas (3.15) à medida que a porosidade cresce a permeabilidade cresce e a força de interação torna-se desprezível; enquanto a força de interação cresce e a permeabilidade torna-se desprezível à medida que a porosidade decresce, como explicitado a seguir 0 K 0 mF 1 K mF 0 (3.15) Os parâmetros a e b podem ser facilmente obtidos de uma curva experimental K × φ. Também é possível obter os valores das variáveis usando dois valores experimentais de permeabilidade e porosidade (K1, φ1) e (K2, φ2). Para fazer o cálculo procede-se da seguinte forma 1a b K1 1 1a a2 b K2 1 a2 (3.16) A partir da equação (3.16) é possível escrever 43 K1 1a 1 2a K 2 1 1a 2a (3.17) O valor do parâmetro a será a raiz da função f (x) definida a seguir f x K1 1x 1 2x K 2 1 1x 2x K a 1 a f a 1 1 a a 2 K 2 1 1 2 0 (3.18) Uma vez calculado o valor de a, é possível obter facilmente o valor de b usando uma das relações proposta na equação (3.16). Empregando estas expressões também é possível provar a existência de uma relação linear entre log (φ) e log(K). 3.3 Equação de Tait generalizada O matemático e físico escocês Peter Guthrie Tait participou de uma expedição científica onde conseguiu coletar dados que permitiram mais tarde postular a equação que leva o seu nome. O resultado das observações de Tait permite fazer uma análise comparativa da compressibilidade em gases, líquidos e sólidos para diferentes valores de temperatura [66]. A equação de estado de Tait para fluidos compressíveis (ou equação de estado de Murnaghan no contexto de um sólido elástico [67]–[69]) modela líquidos barotrópicos como uma função que depende apenas da densidade e parâmetros relacionados à pressão. 44 Esta equação apresenta um comportamento altamente não linear, envolvendo apenas pressão e densidade como variáveis [70] p p0 B B (3.19) 0 onde p e denotam a pressão e a densidade, respectivamente, p0 e e a densidade num estado de referência e B e 0 são a pressão são parâmetros positivos. A equação de Tait generalizada considera aspectos termodinâmicos como comportamentos dissipativos e pequenas mudanças de temperatura em relação a uma temperatura de referência. (Ao contrário dos itens anteriores deste capítulo, que consideraram equações constututivas para um constituinte fluido de uma mistura binária sólido-fluido, neste item apresenta-se uma equação num contexto de Mecânica do Contínuo). Neste caso, os potenciais de energia livre de Helmholtz e de dissipação devem ter a seguinte forma: ( , ) (po B) 1 1 1 1 ( o) 1 B 1 ; 0 (3.20) o onde p0 e ρ0 são a pressão termodinâmica e a densidade no estado de referencia e B, γ e η são parâmetros positivos. É necessário frisar que a equação a (2.20) é valida apenas para pequenas mudanças de temperatura, ( 0 ) 45 Esta equação pode ser escrita em função da pressão termodinâmica a partir da equação (2.37) obtendo-se desta forma a versão generalizada da equação de Tait [71] que será usada neste trabalho p (po B) 1 ( o) 1 B o o p po 46 B B (3.21) 1/ 1 ( o) Capítulo 4 4 Modelo Matemático Proposto 4.1 Modelagem do problema Nos capítulos anteriores foram introduzidas as equações de balanço de massa e de balanço de momento linear usando tanto a Teoria de Contínuo Clássica como a Teoria de Misturas. Também foram postuladas as equações de primeira e segunda lei da Termodinâmica para um contínuo. Contudo, apenas estas equações não são suficientes para conseguir resolver os problemas propostos, por causa disto foram introduzidas hipóteses constitutivas necessárias para conseguir modelar e consequentemente resolver as equações que descrevem os problemas escolhidos. Neste capítulo serão melhor descritos os problemas a serem resolvidos e ao mesmo tempo as equações básicas da mecânica serão combinadas com equações constitutivas postuladas no capítulo anterior. 4.1.1 Modelagem para um fluido submetido a grande mudança de pressão Nos capítulos anteriores foram apresentadas as equações da mecânica do contínuo e as equações constitutivas que serão consideradas na análise do problema proposto. No capítulo relativo a equações constitutivas observou-se a existência de uma relação entre a porosidade e a permeabilidade. Contudo, existem casos onde dois materiais possuem a 47 mesma porosidade, mas a permeabilidade pode ser muito diferente. Um desses casos é representado na Figura 4.1, na qual os dois meios porosos possuem a mesma quantidade, tamanho e distribuição de poros (representados pelos círculos) – portanto a mesma porosidade, porém diferentes permeabilidades. Observa-se que na matriz da direita existem trincas de volume desprezível e, portanto, o valor da porosidade não é alterado, embora o escoamento de fluidos possa ser facilitado devido às fissuras que conectam os poros. Figura 4.1: Matrizes porosas com diferente permeabilidade Nesta seção será analisada a possibilidade da criação de trincas numa matriz porosa devido às mudanças de pressão do fluido contido nos poros. A variação de pressão será resultado de pequenas mudanças de temperatura no fluido que é considerado compressível. A fim de simplificar o problema será considerada uma matriz porosa composta por apenas um poro, como é mostrado na Figura 4.2, permitindo a utilização das equações da mecânica do continuo clássica. 48 Figura 4.2: Poro de um meio poroso Anteriormente foi introduzido na segunda lei Termodinâmica o potencial de dissipação (ϕ), permitindo escrever as equações da dissipação intrínseca d1 e da dissipação térmica d2, dados pelas equações (2.30)-(2.32), possibilitando determinar que d1=0 quando 0 . Lembrando que este termo representa a taxa de dissipação de energia devido à compressibilidade sempre que div(v) . Combinando o princípio de conservação de massa com a equação (2.33), obtem-se a equação (2.34) que pode ser empregada para qualquer processo possível. A pressão termodinâmica p é modelada pela equação constitutiva (2.37), uma equação de estado para superfluidos compressíveis, constutuída por um termo representando a parte reversível da pressão termodinâmica e o outro sua parte irreversível. Considerando os fluidos Pascalianos anterioremente definidos, o acoplamento termomecâncico pode ser muito importante. Após a escolha adequada de expressões para a energia livre ( ) e o potencial de dissipação (ϕ), as equações constitutivas (2.35)- (2.38) combinadas aos princípios de conservação de massa, energia e momentum, formam um conjunto completo de equações que descreven o escoamento do fluido. 49 Alguns pontos relevantes sobre a equação de calor merecem ser melhor comentados, o que será feito a seguir. A partir da definição da energia livre ( e s ) e da dissipação intrínseca (d1), pode-se obter uma forma local alternativa para a primeira lei da termodinâmica – o princípio da conservação de energia numa forma local, dada por div q = d1 thc (4.1) sendo a definição na termodinâmica clássica do calor específico ( ) para processos irreversíveis dada por 2 (4.2) 2 Por outro lado, o termo de acoplamento thc, que pode ser considerado como uma fonte de calor na equação de energia, tem a seguinte forma thc 2 (4.3) Os termos d1 e thc, são responsáveis pelo acoplamento termomecânico na equação de energia, funcionando como fontes ou sumidouros na equação de energia, de acordo com seu sinal. É necessário frisar que, o termo d1 é sempre não negativo enquanto o termo thc pode ser positivo ou negativo durante um processo. Caso não exista acoplamento entre a temperatura e a densidade, no potencial de energia livre, denotado por 50 : ˆ( , ) onde m e m( th ) th ( ) (4.4) são as partes mecânica e térmica da equação da energia livre, respectivamente; então o termo thc será nulo. As definições anteriormente apresentadas possibilitam reescrever a equação da energia postulada para este problema na forma local – que será denominada equação do calor, esclarecendo o papel dos termos responsáveis pelo acoplamento termomecânico. div(k grad( ))= d1 thc (4.5) As hipóteses constitutivas propostas no capítulo 2, dada pelas equações (2.35)-(2.38), formam um conjunto completo de equações constitutivas termodinamicamente admissíveis. A seguir serão propostas condições suficientes para assegurar que a segunda lei da Termodinâmica (equações (2.26)-(2.28)) será satisfeita para qualquer conjunto de equações obtidas através da metodologia empregada neste trabalho, seja qual for o processo. É importante notar que a equação (2.32) explicita as duas condições suficientes para garantir a validade das equações postuladas para a descrição do nosso problema ( , ) 0 ( , )e ( 0, ) 0. A equação (2.32) está garantida pois o potencial ϕ é uma função convexa e diferenciável de . Já o resultado clássico da análise convexa [72], [73], apresentado a seguir, permite concluir que, para todos os processos, d1 ≥ 0. 51 0, (4.6) A fim de analisar o comportamento do fluido combinam-se as equações de balanço de momento linear e a equação constitutiva do tensor tensão (2.36) com a equação (2.37), obtendo-se a seguinte equação para o fluido 1 v grad 2 b (4.7) onde b é a força de corpo externa aplicada sobre o fluido. Desta forma completa-se o conjunto de equações necessárias para estudar o comportamento do fluido. Neste ponto é necessário escolher expressões para os potenciais e ϕ, o qual será feito a partir da equação de Tait generalizada [70]. No caso em análise, (fluido compressível submetido a pequenas mudanças de temperatura), esta equação tem um papel muito importante uma vez que com ela é possível considerar pequenas variações da temperatura (θ) em relação a uma temperatura de referência (θ0). A equação foi explicitada no capítulo anterior ((3.20)-(3.21)). Após a definição dos potenciais e ϕ, eles serão substituídos na equação (2.27) para obter a expressão final que será usada para calcular a pressão termodinâmica, dada pela equação (3.21). 4.1.2 Modelagem para o escoamento através do canal poroso Um dos problemas analisados neste trabalho é o escoamento de um fluido nãonewtoniano através de uma matriz porosa. O fluido do tipo power-law é considerado incompressível e o escoamento totalmente desenvolvido. Uma matriz porosa limitada por 52 duas placas paralelas é saturada pelo fluido, obtendo-se desta forma uma fração volumétrica igual à porosidade. Na vizinhança das placas paralelas a velocidade será considerada igual a zero, recuperando-se desta forma as clássicas condições de não deslizamento no contorno. O esquema do problema é apresentado na figura a seguir Figura 4.3: Escoamento através de um canal poroso impermeável Na Figura 4.3 observa-se que o canal com altura 2H está preenchido por um material poroso, através do qual o fluido escoa. Nos capítulos anteriores foram apresentadas as equações básicas de conservação (balanço de massa e de movimento linear) empregando a Teoria de Misturas. Usando a mesma metodologia foram também postuladas as equações constitutivas que serão combinadas com as equações de conservação para resolver o problema. Vale a pena frisar que a equação de conservação de movimento angular não foi postulada já que os tensores parciais de tensão são supostos simétricos. Considerando as hipóteses expostas acima obtém-se o modelo matemático que será usado para analisar o problema. 53 F ( F vF ) 0 t v F F v F v F t (4.8) F mF F g (4.9) onde F é a massa especifica do constituinte fluido, dada por F , sendo φ a porosidade e a massa especifica do fluido (considerando um ponto de vista de Mecânica do Contínuo). Além disso, v F representa a velocidade do constituinte fluido e F é o tensor parcial de tensões associado ao constituinte fluido, e 𝒎𝐹 representa uma fonte de momentum que considera a força de interação entre o constituinte fluido o constituinte sólido, que representa a matriz porosa [64] . Neste ponto é necessário combinar as equações acima com as hipóteses constitutivas para o tensor parcial de tensão (Eq. (3.12)) e a fonte de momentum (Eq. (3.13)) a fim de construir o modelo matemático do problema, o que resulta no seguinte sistema de equações. vF p I vF (4.10) 0 0 em y (D F D F ) n D F 2 vF 2n vF Fg 0 (4.11) (4.12) H 54 Na descrição do problema foi ressaltado que o escoamento é considerado laminar, totalmente desenvolvido e, portanto, é possível desprezar os efeitos da força gravitacional. Esta consideração permite escrever a velocidade do fluido da seguinte forma v F vF i , e o modulo da velocidade será v F w , e consequentemente o sistema composto pelas equações (4.10) a (4.12) é expresso como segue dp dx w 2n 1 22 n 0 dp dx wmax em 2 2n dw dy y d dw dy dy 1 dp dx 2n d 2w dy 2 w 2n w 0 H y H H 2n dw dy (4.13) (4.14) w 2n w (4.15) 1 2n 1 (4.16) onde wmax a velocidade máxima do fluido e dp/dx é a queda de pressão no canal. Na análise de muitos problemas da engenharia são frequentemente usadas as equações adimensionais. Para realizar este tipo análise no problema estudado é conveniente introduzir os seguintes parâmetros 55 x* x H y* y H w* w wmax p p* wmax / H 2n 1 (4.17) Na equação (4.17) os parâmetros 𝑥 ∗, 𝑦 ∗ , 𝑤 ∗ e 𝑝∗ representam as componentes adimensionais do comprimento do canal na direção x, do comprimento do canal na direção y, da velocidade do fluido e a pressão adimensional respectivamente. Usando estas variáveis a perda de pressão no canal poroso é expressa pela seguinte equação adimensional dp* 1 d dw* = dx* 22 n dy* dy* 2n dw* dy* H 2n 2 w* 2n w* (4.18) 1/ w* 0 em y* 1 (4.19) Na equação acima é possível definir um termo que caracteriza os efeitos combinados da porosidade e da permeabilidade. Este termo será denominado como 1 ⁄ 𝜒, e para a sua definição é necessário utilizar as expressões postuladas no capítulo 3, onde foram introduzidos os parâmetros α e β. Desta forma 𝜒 é expresso por 1 H 2n K 2 4n 2n 3 1 2n 1 1 3 6K n (4.20) Sendo a inversa desta equação dada por 56 K H 2n 2 2n 4n 1 3 2n 1 3 6K n 3 H 2n 2 2n 4n 1 3 2n 1 6 n Kn 1 (4.21) A equação da permeabilidade K (Eq. (3.14)) obtida no capítulo 3 pode ser combinada com a equação (4.21) a fim de determinar uma expressão para o parâmetro 𝜒, em função da porosidade e de outras propriedades tanto do fluido como do próprio canal. a 3 H 2n 2 1 b a 2n 1 4n 3 2n 1 6( 1 a 1 b) n (4.22) a A expressão do número adimensional 𝜒, apresentada anteriormente, foi postulada para modelar o escoamento de um fluido newtoniano generalizado através de uma matriz porosa. Note-se que para fluidos newtonianos (n=0) a expressão seria reduzida a uma função do parâmetro , da altura do canal H e da permeabilidade K. 57 Capítulo 5 5 Resultados 5.1 Fluido confinado em um poro 5.1.1 Resultados Analíticos Nesta seção serão apresentados resultados obtidos a partir da modelagem matemática postulada nos capítulos anteriores. Deve ser frisado que para o problema estudado supõese um líquido compressível, barotrópico cuja massa específica é função da pressão. Empregando a equação (3.21), podem ser levadas em conta pequenas variações de temperatura a partir da temperatura de um estado de referência. Apesar dos parâmetros B e γ dependerem da pressão, para os cálculos feitos foram empregadas as seguintes aproximações para esses parâmetros presentes na equação de Tait [74]: B = 2.9 ×10 3bar e γ = 7.15 . A Tabela 5.1 mostra os valores da densidade e o módulo de compressibilidade da agua para uma pressão de 1 atmosfera. Observa-se na tabela que a temperatura da água aumenta de 10 em 10 graus Celsius (ºC) até os 100 ºC, o que provoca um decréscimo na densidade. Já o módulo de compressibilidade tem um comportamento diferente, aumentando nas primeiras cinco medições e diminuindo nas medições restantes. O comportamento da densidade em relação à temperatura pode ser observado melhor na Figura 5.1 e na Figura 5.2. 58 Tabela 5.1: Variação das propriedades da agua a pressão de 1 atm Temperatura θ (K) Densidade ρ (kg/m3) Modulo de Compressibilidade K (bar) 283.15 (10ºC) 1000 19900 293.15 (20ºC) 998 22100 303.15 (30ºC) 996 22600 313.15 (40ºC) 992 22900 323.15 (50ºC) 988 22900 333.15 (60ºC) 983 22800 343.15 (70ºC) 978 22400 353.15 (80ºC) 972 22000 363.15 (90ºC) 965 21400 373.15 (100ºC) 958 20700 Figura 5.1: Variação da densidade com a temperatura 59 Figura 5.2: Variação da densidade com a temperatura As curvas acima, além de mostrar o comportamento de densidade em relação à temperatura, permitem também identificar a importância do parâmetro η, usado na equação (3.21). O valor deste parâmetro no problema analisado é η = 0.00065 K-1 uma vez que a curva da Figura 5.2 pode ser aproximada pela equação linear ( / 0) 1 ( / 0 ) . Para os cálculos feitos com esta equação foram usados os parâmetros de referência 0 = 353.15K (80ºC) e a curva 0 = 972 kg/m3. Deve ser ressaltado que tem um comportamento não linear, contudo, ela pode ser aproximada a uma função linear para valores de temperatura (θ), próximos da temperatura de referência ( 0 ). Note-se que na equação (3.21) os parâmetros 0, 0, η e γ foram definidos acima, faltando apenas definir o valor de B. Este valor pode ser obtido experimentalmente a partir 60 dos valores mostrados na Tabela 5.1, combinados com a definição do modulo de compressibilidade K, postulado na equação a seguir. K p (p 0 B) 1 ( 0 0) 1 (5.1) Desta forma, é possível obter B = 3075 bar, que é bastante aproximado ao valor sugerido por Farhat et al. [74]. Deve ser ressaltado que os valores destes parâmetros são suscetíveis a mudanças de pressão, portanto é recomendado o uso de corretores médios de valores para pressões muito elevadas. Na Tabela 5.1, encontra-se o valor sugerido para o parâmetro B que deve ser usado quando o fluido está sob pressões acima de 100 bar. Tabela 5.2: Parametros materiais médios sugeridospara pressões acima de 100 bar (K-1) B (bar) 2.9 × 103 Entre 5 e 6 6.5 × 10-4 Uma vez que todos os parâmetros da equação (3.21) estejam definidos será possível obter resultados analíticos da pressão para alguns valores limites do parâmetro γ. Para os cálculos foi suposto que ρ/ 0 ≈ 1. Esta aproximação está desprezando variações da densidade da água, mesmo para pressões muito altas. Baseado nestas hipóteses foram plotadas as curvas apresentadas na próxima seção. 61 5.1.2 Resultados experimentais Ensaios hidrostáticos de longa duração foram feitos a fim de observar o comportamento da densidade da água e da pressão quando o fluido é submetido a pequenas mudanças de temperatura. Estes ensaios foram feitos usando o sistema Flutrol FLUASF100-MS7, conectado a um compressor Schulz de 7,5 kW. A precisão do transdutor de pressão (tanto o erro estático quanto o de banda) é de 0.5 bar. O corpo de prova usado para estes experimentos foi feito a partir de um tubo de aço Schedule 80 API 5L, grau B de 2” (50.8 mm) de diâmetro, ao qual foi enroscado um sistema de controle de temperatura e pressão em uma das extremidades. O tubo e os controles de temperatura do líquido e de pressão no interior do tubo são feitos pelo dispositivo mostrado na Figura 5.3. O sistema de controle é composto pela resistência elétrica, um termopar do tipo J com precisão de ±0, 75% × temp (K) . A resistência elétrica enroscada a uma extremidade do cilindro (corpo de prova) está conectada tanto ao pressurizador de água quanto ao termostato, como mostrado na Figura 5.4, na qual o número 1 indica o pressurizador de água, número 2 o termostato e o número 3 a resistência elétrica. Figura 5.3: Tubo e sistema de controle de temperatura é pressão 62 Figura 5.4: Detalhes do sistema de controle A resistência elétrica é ligada a uma extremidade do corpo de prova e é conectada ao compressor de água e ao termostato. A massa de fluido no interior do corpo de prova é constante (o duto permanece firmemente fechado) e a variação de volume do cilindro é muito pequena (a deformação do tubo é desprezível). Tanto a pressão quanto a temperatura são registradas simultaneamente. A máquina usada nos ensaios é mostrada na Figura 5.5. Figura 5.5: Máquina usada para controlar a temperatura e pressão 63 Para iniciar o experimento coloca-se água no interior do tubo e enrosca-se na extremidade do duto o sistema de controle de temperatura e pressão. A linha de pressão e o fio que conduz a energia elétrica são conectados à máquina a qual foi previamente programada para permitir uma variação de temperatura de até 6 K. O dispositivo de controle é monitorado por um computador que registra a temperatura e a pressão a cada segundo. Com os dados obtidos a partir destes experimentos é possível plotar as curvas de variação de temperatura e pressão com o tempo, que são mostradas a seguir. Figura 5.6: (a) Variação da pressão no tempo. (b) Variação da temperatura no tempo Empregando os dados obtidos da forma descrita anteriormente foi plotado o gráfico mostrado a seguir. Nesta figura observa-se com maior detalhe a evolução da temperatura e da pressão com o tempo. A importância deste gráfico deve-se principalmente ao fato de que nele é mostranda a variação dos três parâmetros (t, p e θ). 64 θ(K) P(Bar) t(s) Figura 5.7: Evolução da pressão e da temperatura no tempo 5.1.3 Comparação de resultados A fim de testar a precisão do modelo proposto nas seções anteriores será feita uma comparação entre os resultados analíticos e os resultados experimentais, provando-se desta forma que as hipóteses feitas têm sentido físico e fornecem a informação necessária para aplicações em problemas de Engenharia. No desenvolvimento do modelo matemático proposto neste trabalho supõe-se que a variação da densidade é desprezível, em outras palavras, a razão entre a densidade a uma determinada temperatura e a densidade referência é aproximadamente igual a 1 65 1 . Esta hipótese pode ser validada a partir dos valores de pressão registrados 0 nos ensaios e as equações de mecânica dos sólidos apresentadas a seguir. Para uma determinada temperatura a relação 0 pode ser resumida a uma relação de volumes internos em relação à pressão 0 V (p 0 ) V (p ) (5.2) No caso de corpos cilíndricos com raio interno a, raio externo b e comprimento L, o volume pode ser aproximado pela seguinte expressão. V R)2 (L (a L) (5.3) Sendo ∆R a variação do raio interno e ∆L a variação de cumprimento para uma determinada pressão. Supondo que o cilindro deforma elasticamente, o tensor de tensão é dado por rr zz p ˆrr (r ) (5.4) p ˆ (r ) (5.5) p ˆzz (5.6) com 66 a2 ˆrr (r ) b2 a2 a2 ˆ (r ) ˆzz 1 b2 1 a2 b2 (5.7) r2 b2 (5.8) r2 a2 b2 (5.9) a2 As expressões (5.7) - (5.9) podem ser combinadas com as equações de deformação a seguir ur r zz 1 [ E uz z 1 [ E { zz rr }] zz { }] rr onde E é o módulo de Young e (5.10) (5.11) o coeficiente de Poisson. Estas equações possibilitam postular as equações de variação de raio interno e de comprimento em função da pressão p. R(p) pa [ˆ (a ) E L(p) L [ˆ (a ) E zz {ˆ zz (a ) ˆ rr (a )}] {ˆ rr (a ) + ˆ (a )}] (5.12) (5.13) 67 Com isto a equação (5.2) pode ser reescrita como 0 V (p0 ) V (p) (R (R R(p0 ))2 (L 2 R(p)) (L L(p0 )) (5.14) L(p)) Uma vez conhecidos o módulo de Young e o coeficiente de Poisson do material que contém o líquido, no caso estudado aço API 5L grado B, com 50.8 mm (2”) de diâmetro e 5.54 mm de espessura, é possível plotar a curva (ρ / ρ0 )× p através do tempo. As propriedades do tubo de aço usado no experimento são E=182 GPa, 0.3 Figura 5.8: Variação da densidade no tempo Observa-se, no gráfico acima, que a hipótese que permite desprezar a variação de densidade é aceitável. Os seguintes gráficos permitem validar o modelo teórico proposto nas seções anteriores. Para facilitar a comparação dos resultados foram plotadas as curvas obtidas tanto pelo método experimental quanto pelo modelo teórico proposto. Os valores das 68 variáveis teóricas usadas para plotar as figuras apresentadas a seguir foram: B = 2.9 × 10 3 , η = 6.5 × 10-4 para o gráfico da esquerda γ = 5 e para o gráfico da direita γ=6 Figura 5.9: Comparação dos resultados teoricos e experimentais da pressão Nestes gráficos é possível observar que os resultados analíticos são bastante próximos aos resultados obtidos experimentalmente. Como é de esperar existe uma pequena divergência que poderia ser resultado das hipóteses simplificadoras. Mesmo assim, os resultados mostram que o modelo é valido podendo ser de muita utilidade em aplicações de engenharia. 69 5.2 Fluido escoando através de um meio poroso 5.2.1 Permeabilidade e porosidade Nos capítulos anteriores foram postuladas equações referentes a permeabilidade e porosidade que podem representar uma solução rápida e eficiente para a solução do problema apresentado neste trabalho. Do mesmo modo, foi ressaltada a necessidade da introdução de equações constitutivas requeridas para resolver o problema proposto neste trabalho. Neste ponto são apresentados os resultados obtidos principalmente a partir das equações (3.14) a (3.18), que modelam o comportamento da permeabilidade e da porosidade. Para os cálculos foram usados valores de referência. A escolha destes valores foi baseado no fato de que no Litoral do Golfo nos Estados Unidos a variação da porosidade está entre 10% e 30% e que algumas bacias do interior podem apresentar porosidades entre 5 e 15% [75]. Portanto, serão usados os seguintes valores bastante razoáveis: ϕ1=0.2, ϕ2=0.3, K1=1000μD e K2=10000μD. A partir dos valores de referência e as equações indicadas anteriormente é possível obter dados importantes para continuar com os cálculos requeridos na solução do problema. No caso particular mencionado anteriormente, empregando as equações (3.16) e (3.17) obtem-se: a=5.68 e b=9334759 μD. O valor de a, é igual ao valor da raiz da equação (3.18), cujo comportamento pode ser observado na Figura 5.10, que mostra a identificação do parâmetro a. 70 Figura 5.10: Identificação do parametro a Figura 5.11: Permeabilidade versus porosidade Na Figura 5.11 observa-se o comportamento da permeabilidade em função da porosidade. As tendências de permeabilidade e porosidade sâo observadas na Figura 5.11(a), enquanto na Figura 5.11(b) o gráfico log-log associado é apresentado. Nota-se que, como era previsto, quanto maior o valor da porosidade maior o valor da 71 permeabilidade. Outro ponto importante é que para valores pequenos de porosidade a permeabilidade é próxima de zero, ou seja, quando a permeabilidade é muito baixa qualquer fluido estará praticamente impedido de escoar através da matriz porosa. A fim de validar o modelo proposto que relaciona a porosidade com a permeabilidade serão comparadas a seguir curvas de permeabilidade versus porosidade, obtidas a partir do modelo proposto neste trabalho com curvas obtidas a partir da extensão da equação de Kozeny-Carman proposta por Henderson et. al. [47] para meios porosos analisados com geometria fractal e alguns dados experimentais encontrados na literatura. A equação de Kozeny-Carman é uma relação tradicional entre permeabilidade e porosidade muito utilizada em escoamentos em meios porosos. Henderson et. al. [47] deduziram uma equação de Kozeny-Carman a três parâmetros a partir da estrutura fractal, capaz de generalizar diversos modelos analíticos. A comparação foi feita para varios materiais, os primeiros casos apresentados são os da fibra de vidro e o arenito de Berea (Berea sandstone em ingles). O arenito de Berea é um material poroso composto por quarzo e sílica encontrado em reservatórios de petróleo no estado de Ohio nos Estados Unidos [76]. Na Figura 5.12 são apresentadas as curvas de permeabilidade contra porosidade para o arenito de Berea. Os parâmetros a e b presentes nas equações (3.14) a (3.18) foram calculados como foi explicado anteriormente e os valores obtidos neste caso foram a=1.01266, b= 0.00907613 μm2. A curva obtida pelo modelo proposto neste trabalho esta próxima dos resultados experimentais representados por pontos na Figura 5.12, além disso, a curva também apresenta um comportamento similar ao mostrado pelo resultado obtido a partir do modelo postulado por Henderson et al. [47]. Apesar da pequena divergência observada nas curvas, os resultados apresentam boa precisão. 72 Uma comparação similar à mostrada anteriormente foi feita considerando fibra de vidro. Neste caso, para obter os resultados a partir do modelo proposto foram usados os parâmetros a=1.19833 e b=0.118249 μm2 e obsevou-se que a permeabilidade aumenta de forma exponencial com o incremento da porosidade tanto no modelo usado para compração [47], quanto no modelo proposto neste trabalho e que ambas as curvas de porosidade versus permeabilidade obtidas para a fibra de vidro apresentam boa concordância com os resultados experimentais obtidos por Rodriguez et al. [44]. Figura 5.12: Permeabilidade vs. Porosidade do arenito de Berea. Resultados obtidos com o modelo postulado por Henderson et. al. [47], resultados experimentais obtidos por David et. al. [77] e o modelo proposto. 73 Figura 5.13: Permeabilidade vs. Porosidade da fibra de vidro randômica. Resultados obtidos com modelo postulado por Henderson et al. [47], resultados experimentais obtidos por Rodriguez et al. [44] e o modelo proposto. Os cálculos descritos anteriormente foram feitos também para esteiras de fibra de vidro bidirecional e esteiras de fibra de vidro costuradas. A principal diferença entre estas esteiras é a maneira em que os fios de fibra de vidro são tramados para construir a forma desejada. A Figura 5.14 mostra como estas como esteiras são tecidas. Do lado esquerdo observa-se a esteira de fibra de vidro costurada, neste caso empregas-se um fio de nylon para unir as fitas de fibra de vidro. Do lado direito é mostrada a esteira de fibra de vidro bidirecional. Esta esteira é fabricada com fitas de fibra de vidro entrelaçadas em duas direções. 74 (a) (b) Figura 5.14: Esteiras de fibra de vidro: (a) esteira costurada. (b) esteira bidirecional [78] Os resultados para os casos mencionados anteriormente são apresentados na Figura 5.15 e na Figura 5.16 respectivamente. Nas curvas obtidas no gráfico de permeabilidade contra a porosidade para a fribra de vidro bidirecional não é possível observar uma divergência entre os resultados teóricos e os obtidos com o modelo proposto, o modelo de Henderson et al. [47] e os pontos experimentais. Nota-se que ambas as curvas (curva do modelo proposto e do modelo de Henderson et al.) crescem exponencialmente à medida que aumenta o valor da porosidade. Os parâmetros usados para obter os resultados numéricos calculados usando o modelo proposto foram os seguites a=10.1406, b=70.6487 μm2. Na análise para esteiras de fibra de vidro costuradas foram obtidos os seguintes valores para os parâmetros numéricos da equação postulada neste trabalho foram, a=9.21362 e b=46.9601 μm2. 75 Figura 5.15: Permeabilidade vs. Porosidade da fibra de vidro bidirecional. Resultados obtidos com modelo postulado por Henderson et al. [47], resultados experimentais obtidos por Yu e Lee [79] e o modelo proposto. Figura 5.16: Permeabilidade vs. Porosidade da esteira de fribra de vidro costurada. Resultados experimentais obtidos por Shih e Lee [78] e o modelo proposto. 76 O gráfico apresentado a seguir, o ultimo usado para verficar o modelo proposto, foi comparado com os resultados analíticos de Henderson et al. [47] e os resultados experimentais obtidos por Doyen. P. M. [80]. O material testado neste caso foi o arenito de Fontainebleau, este material é composto por um grão muito fino de quarzo bem organizado e pode ser encontrado na França a uma profundidade de até 100 metros [81]. As curvas que relacionam a permeabilidade e a porosidade do arenito de Fontainebleau são apresentadas na Figura 5.17. Observa-se neste caso, que é analisado apenas para baixas porosidades, que a curva obtida empregando o modelo proposto não apresenta uma diferença apreciável comparada com os resulados experimentais obtidos por Doyen [80]. Observando-se as curvas obtidas pelos modelos analíticos propostos neste trabalho é no de Henderson e colaboradores [47], verifica-se que os resultados são muito próximos para os valores de porosidade analisados. Como o arenito de Fontainebleau tem um grão muito fino sempre terá uma porosidade muito baixa. Os parâmetros obtidos para calcular os valores numéricos da permeabilidade foram a=0.581305 e b=0.0080932 μm2. Figura 5.17: Permeabilidade vs. Porosidade do arenito de Fontainebleau. Resultados experimentais obtidos por Doyem [80], resultados obtidos com modelo postulado por Henderson e. al. [47] e o modelo proposto. 77 A partir das equações adimensionalisadas para o parâmetro 𝜒, apresentado no capítulo anterior, obtiveram-se as seguintes curvas para diferentes índices power-law. No gráfico da Figura 5.18 é possível observar que o valor do número adimensional 𝜒, cresce com aumento da permeabilidade. Para os cálculos foi considerada uma altura de canal H=1, porosidade ϕ=0.5 e foram usados valores do índice de power-law entre n=-0.4 e n=0.5. Observa-se que as curvas crescem com o aumento da permeabilidade e que o valor máximo que elas atingem depende do índice de pawer-law usado. Esse comportamento pode ser resultado da dificuldade que os fluidos pseudoplásticos têm para escoar, mesmo em dutos sem materiais porosos, como foi mostrado por Martins-Costa et al. [62]. Figura 5.18: Variação de 𝜒 com a permeabilidade, para diferentes indices de powerlaw. O modelo proposto é definido no sistema formado pelas equações (4.13) a (4.16), que descrevem o escoamento analisado neste trabalho, estas equações representam um problema de valor de contorno. A aproximação numérica do sistema será feita 78 transformando-se, inicialmente, o problema de valor de contorno em um problema de valor inicial. Isto permitirá empregar o método numérico selecionado, que neste trabalho foi o método de Runge-Kutta de quarta ordem [82]. Por conveniência, são introduzidas as seguintes variáveis, para tratar o problema expresso pelas equações (4.13)-(4.14): z1 w (5.15) z2 dw dy (5.16) Desta forma o problema pode ser reescrito da seguinte forma dz 2 dy dz 1 dy z1(y 22n 2n 1 z2 2n dp dx (5.17) z2 (5.18) H) 0 e z1(y H) 0 (5.19) Embora o sistema que descreve o problema tenha sido simplificado, ele continua sendo um problema de valor de contorno. Requerer-se então o cálculo da derivada da velocidade e para isto será empregado o método do Tiro. A aproximação é feita pelo cálculo da raiz da função escalar :R R; t z1 y H ,t para todo 𝑡 ∈ R, que representa uma estimativa inicial. A solução do seguinte problema de valor inicial fornecerá o valor da derivada da velocidade z 1 no ponto inicial 79 dz 2 dy dz 1 dy z1 z2 z2 0 t 22n 2n 1 z2 em H em em y= 2n y dp dx em H y H H (5.20) (5.21) H (5.22) y= H (5.23) O procedimento de iteração, descrito anteriormente, é usado para estimar o valor t, que no caso analisado representa o valor da derivada da velocidade no ponto inicial, é conhecido como o método do tiro. Como era necessário um método incondicionalmente convergente para o cálculo do valor da raiz da função Φ, neste problema foi usado o método da bisseção [83] e o cálculo da velocidade foi feito pelo método de Runge-Kutta de quarta de ordem [82]. É necessário frisar que o procedimento de mudança de variáveis descrito é adequado apenas se 𝑧2 ≠ 0. No caso do problema em questão, z 2 y 0 em 0 , porém o valor da velocidade pode ser calculado analiticamente. A fim de ter uma estimativa do valor da raiz 𝑧2 , foi feita uma análise do comportamento da função Φ. Esta análise possibilitou observar a forma não linear da função, característica que era esperada devido à forma das equações que descrevem o problema, e, ao mesmo tempo, obter o intervalo de valores onde o método da bisseção será usado. As figuras 5.19, 5.20, 5.21, 5.22, 5.23 e 5.24 mostram as curvas da derivada da velocidade do escoamento do fluido power-law considerado através da matriz porosa 80 saturada. Nestas curvas é possível notar que para valores negativos do índice power-law, o valor da raiz é próximo de zero e que o valor da raiz cresce quando o valor de n aumenta. As curvas obtidas fornecem informação valiosa não apenas para determinar o intervalo que será usado para calcular a raiz da função mas, também para ter uma estimativa da ordem de grandeza do passo (Δ𝑦), que deve ser usado na aplicação do método da bisseção em cada caso. Por exemplo para valores de 𝑛 ≥ 0,2 o calculo da raiz requer um valor de Δ𝑦 muito baixo uma vez que as curvas da derivada aproximam-se a pontos de sela. Este comportamento dificultaria a obtenção das raízes da função Φ, se o método numérico implementado não fosse incondicionalmente convergente. Figura 5.19: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =−0.2 81 Figura 5.20: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =−0.1 Figura 5.21: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.1 82 Figura 5.22: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.2 Figura 5.23: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.3 83 Figura 5.24: Derivada da Velocidade no contorno do canal poroso n =0.4 Uma vez determinadas as condições de contorno necessárias para a solução do problema descrito pelas equações (5.17) a (5.19), é possível utilizar um método numérico (no caso o método Runge-Kutta de quarta ordem), para calcular a aproximação numérica da velocidade do fluido escoando através do meio poroso. Os cálculos foram feitos empregando os seguintes parâmetros: dp/dx=10-2 Pa/m, 𝜂 = 10−3 Pa.sn, 𝜑 = 0.5, 1 , = 0.5 × 10−3 Pa.sn e K= 10−3 . 𝑚−2 . Os resultados obtidos permitiram plotar os perfis de velocidade mostrados nas figuras 5.25 e 5.26. Na primeira figura foram plotados os perfis de velocidade calculados usando o parâmetro 𝑛 ≤ 0 enquanto a segunda mostra os perfis de velocidade (w), para 𝑛 ≥ 0. Em ambos os casos as curvas que representam as velocidades do fluido no canal tendem a um perfil “achatado” e o valor máximo de w se aproxima de zero à medida que o valor de n diminui. O comportamento destas curvas pode ser resultado de duas características do escoamento; em primeiro lugar a presença da matriz porosa, que dificulta o escoamento do fluido, e 84 em segundo lugar as características do fluido não-newtoniano considerado que muda suas propriedades segundo o valor do parâmetro n, sendo que quando n < 0, o fluido apresenta características pseudoplástico e quando n > 0, o fluido se comporta como dilatante. Figura 5.25: Perfil de Velocidade do Escoamento através do canal poroso para valores de n ≤ 0 Figura 5.26: Perfil de Velocidade do Escoamento através do canal poroso para valores de n ≥ 0 85 No capítulo anterior foram apresentadas as equações que descrevem o comportamento do fluido escoando através um canal poroso. Apesar deste problema não apresentar solução analítica, é possível apenas para calcular o valor da velocidade máxima (𝑤𝑚𝑎𝑥 ) que é expressa por wmax = 1 dp α dx 1 2n+1 (5.24) A partir desta equação pode ser plotada a curva da variação da velocidade máxima contra o índice power-law, apresentada a seguir. Nota-se que o valor da velocidade máxima aumenta exponencialmente enquanto n cresce. Observa-se também que para valores de n menores que zero a velocidade é muito baixa, atingindo valores próximos de zero quando 𝑛 < −0.1. Figura 5.27: Variação da velocidade máxima com o indice power-law 86 Para o problema analisado neste trabalho o tensor parcial de tensões, para o constituinte fluido, definido na equação (3.12) tem a seguinte forma σF = -pφ τ 0 τ -pφ 0 0 0 -pφ (5.25) onde a tensão de cisalhamento pode ser expressa como η dw τ= 2 n dy 2n+1 (5.26) A partir da equação anterior é possível obter as curvas τ × dw / dy , considerando diferentes valores do índice power-law, como mostra a Figura 5.28. O comportamento das curvas muda com o incremento da taxa de deformação ( dw / dy = γ ) e do valor de n. Observa-se por exemplo, que para valores de n > 0 e taxas de deformação pequenas os valores da tensão de cisalhamento são menores que para fluidos newtonianos (n = 0). O contrário é observado para valores de n < 0, nestes casos os valores da tensão de cisalhamento são maiores que para o fluido newtoniano. Nota-se também na figura que as curvas tendem a τ = 1× 10-3 , quando dw / dy = 1 . A partir deste ponto, à medida que a taxa de deformação cresce a tensão de cisalhamento tem um comportamento inverso ao mostrado para baixos valores de γ . Outra característica das curvas da Figura 5.28 é que os fluidos com n < 0, precisam de uma pressão maior para escoar através da matriz porosa. Nota-se que para pequenos valores da taxa deformação (dw / dy = γ) o valor da tensão de cisalhamento tende à infinito se n < 0 e a zero se n > 0. 87 Figura 5.28: Curvas de Tensão cisalhante em uma dimensão versus taxa de deformação cisalhante para diferentes valores de n O cálculo da velocidade adimensional para o fluido escoando através do canal plano apresentado na Figura 4.3 foi feito a partir da equação postulada nas seções anteriores sendo apresentada novamente na equação (5.27). w* = w (5.27) wmax Esta expressão permite obter os valores numéricos para plotar os perfis de velocidade adimensional do constituinte fluido na mistura. Os resultados numéricos da velocidade foram obtidos para diferentes valores do índice power-law, considerando os seguintes parâmetros presentes nas equações que descrevem o problema: dp/dx=10-2 Pa/m, η = 10 3 Pa.s n , 𝜑 = 0.5, 1, 0.5 10 3 Pa.s n e K 10 3.m 2 . As curvas mostradas na Figura 5.29 e a Figura 5.30 representam os perfis de velocidade adimensional do fluido para 𝑛 < 0 e 𝑛 > 0, respectivamente. Observa-se que todas estas 88 curvas apresentam uma forma plana ou “achatada”, e este comportamento fica ainda mais definido para valores de n pequenos. Esta característica, como foi comentado anteriormente, é causada principalmente pela resistência oferecida pelo meio poroso ao movimento do fluido. Contudo, as propriedades do fluido têm um papel fundamental nas curvas apresentadas. Note-se, por exemplo, que nos perfis de velocidade obtidos com valores do índice power-law negativos (Figura 5.29) as velocidades são praticamente constantes ao longo do canal, apresentando uma pequena variação nas vizinhanças do contorno, o suficiente apenas para satisfazer a condição de não deslizamento. Figura 5.29: Perfil de Velocidade Adimensional através do canal poroso para valores de n ≤ 0 89 Figura 5.30: Perfil de Velocidade Adimensional através do canal poroso para valores de n ≥ 0 90 Capitulo 6 6 Conclusões e sugestões Como foi observado ao longo deste trabalho, dois problemas foram analisados de forma independente. Um deles empregando uma abordagem de Mecânica do Continuo Classica e o outro empregando a Teoria de Misturas. Neste capítulo serão apresentadas as principais conclusões obtidas a partir dos estudos feitos e para um melhor entendimento elas serão apresentadas de forma similar ao feito nos capítulos anteriores. Primeiro serão apresentadas as conclusões para o problema do fluido confinado em um poro e seguidamente as conclusões para o escoamento do fluido newtoniano generalizado através de uma matriz porosa. 6.1 Fluido confinado em um poro Um dos problemas propostos neste trabalho foi motivado pela necessidade que existe em diferentes áreas da indústria, especialmente na indústria do petróleo, de provocar fraturas no material poroso. Neste trabalho foi modelado um fluido confinado em um poro fechado e foram postuladas equações de balanço de massa, balanço de momentum linear, a primeira e a segunda lei da Termodinâmica, numa abordagem de Mecânica do Contínuo. Estas equações foram combinadas com uma generalização da equação de Tait proposta neste trabalho para permitir a resolução numérica de um problema no qual um fluido pascaliano está sujeito a altas pressões e uma pequena variação de temperatura. Também 91 foi comprovado, empregando a Segunda Lei da Termodinamica, em que tipos de processos este modelo é valido. É necessário frisar que a pressão no interior do tubo pode gerar variações de volume, sendo a variação de densidade da agua através do tempo estimada através da Mecânica dos Sólidos Elásticos, verificando-se uma variação desprezível de densidade. Experimentalmente foi empregado um tubo fechado, preenchido com água para modelar um poro fechado. O controle da temperatura foi feito com ajuda de uma resistência elétrica e um termopar, enquanto a pressão foi controlada por um compressor e uma máquina usada especialmente para ensaios hidrostáticos. Os resultados obtidos tanto teoricamente quanto experimentalmente permitem observar que o modelo analítico proposto pode fornecer informações importantes para solução de problemas de fratura hidráulica. Com isto é provado que existe uma alternativa para minimizar o uso de produtos químicos em processos de fratura hidráulica, o que poderia diminuir a poluição de fontes de agua subterrânea proximas lugares de extração de gas natural. 6.2 Fluido escoando através de um meio poroso Para o estudo do problema de um fluido newtoniano generalizado escoando através de um canal poroso limitado por duas placas planas foi empregada uma abordagem de Teoria de Misturas. Baseado nesta teoria foram postuladas as equações básicas da mecânica (Balanço de Massa, Balanço de Momentum Linear, Primeria e Segunda leis da Termodinâmica). Posteriormente foram empregadas algumas hipóteses constitutivas que permitem levar em conta a interação entre o fluido e o meio poroso. Ainda neste trabalho, foi postulada uma equação que relaciona a permeabilidade e a porosidade da matriz 92 porosa que depende apenas de dois parâmetros escalares que podem ser calculados facilmente a partir de alguns dados experimentais. Os resultados obtidos a partir da expressão proposta para relacionar a permeabilidade e porosidade foram comparados com resultados obtidos na bibliografia observando-se boa concordância entre eles. A partir das equações diferenciais que modelam o escoamento foram determinados os perfis de velocidade do fluido escoando através da matriz porosa. Para fazer a aproximação numérica foi necessário empregar o método de Runge-Kutta de quarta ordem combinado com o método do tiro. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que a metodologia proposta fornece informações validas e importantes para a solução de problemas práticos, além de ter baixo custo computacional e ser de fácil aplicação. 6.3 Trabalhos futuros A seguir apresentam-se algumas sugestões uteis para dar continuação ao desenvolvimento de trabalhos futuros: Projetar um experimento de longa duração que possibilite a completa validação do modelo apresentado para água liquida submetida a pequenas mudanças de temperatura. Testar experimentalmente a equação de Tait generalizada, proposta neste trabalho, usando um material poroso. Empregar a teoria de misturas no escomanto através de uma matriz porosa para investigar os efeitos de um gradiente de temperatura devido à dissipação viscosa. 93 Analisar um fluido escoando em um meio poroso considerando transferência de calor. Empregar métodos numéricos alternativos para obter a aproximação da solução dos problemas. 94 Capitulo 7 7 Bibliografia [1] D. Rahm, “Regulating hydraulic fracturing in shale gas plays: The case of Texas,” Energy Policy, vol. 39, no. 5, pp. 2974–2981, May 2011. [2] H. Chris, “EPA Issues New Standards for Hydraulic Fracturing,” 2011. [Online]. Available: http://www.texastribune.org/. [3] S. Whitaker, “Advances in theory of fluid motion in porous media,” Ind. Eng. Chem., vol. 61, pp. 14–28, 1969. [4] K. Vafai and S. Whitaker, “Simultaneous heat and mass transfer accompanied by phase change in porous insulation,” J. 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