eisFluências Dezembro 2011

Transcrição

eisFluências Dezembro 2011
ISSN 2177-5761
ISSN 2177-5761
9 772177 576008
revista bimestral
dezembro/2011
ano II - núm XIV
POETA RODRIGO OCTAVIO PEREIRA DE ANDRADE
PRESIDENTE DA ACADEMIA CABISTA DE LETRAS ARTES E CIÊNCIAS, NO ARRAIAL DO
CABO/RJ
Entrevistado por Mercedes Pordeus
Este mês a Revista eisFluências traz uma entrevista a Rodrigo Octavio Pereira de Andrade,
pseudônimo RODRIGO POETA, presidente da A.C.L.A.C – Academia Cabista de Letras Artes e
Ciências, no Arraial do Cabo/RJ.
É poeta, professor de Língua Portuguesa, Literatura e Técnica de Redação, palestrante, ministra
oficinas voltadas para Valores Humanos, Ética e Cidadania, pesquisador, ativista cultural,
Membro da Academia Cabista de Letras, Artes e Ciências de Arraial do Cabo/RJ, Membro da
Academia de Artes de Cabo Frio, Membro Correspondente da Academia de Artes, Ciências e
Letras de Iguaba Grande/RJ, Membro Correspondente da Academia de Ciências, Letras e Artes
de Minas Gerais - Sede Manhuaçu/MG, Cônsul de Cabo Frio/RJ pelos POETAS DEL MUNDO
(entidade com sede no Chile). Conselheiro Islâmico de Assuntos Shiita do Centro Estudantil
Árabe Iman Ali de São Paulo/SP, Conselheiro de Assuntos Sociais e Cultural Afro Brasileiro pela
FTABH de São Paulo/SP (FACULDADE DE TEOLOGIA AFRO BRASILEIRA E HOLÍSTICA
LIVRE), Membro Correspondente da Academia Itapirense de Letras e Artes de Itapira/SP,
Membro Correspondente da Academia Barramendense de Letras de Barra do Mendes/BA,
Membro da Academia de Letras e Artes da Região dos Lagos/RJ, Membro Correspondente da
Academia de Letras e Artes de Valparaíso - Chile.
MP: Rodrigo Poeta, você poderia nos falar um pouco sobre o surgimento da Academia Cabista
de Letras Artes e Ciências (A.C.L.A.C)?
RP: A iniciativa da criação da ACLAC partiu de grandes nomes da cultura cabista e de artistas
cabo-frienses. A ACLAC foi inaugurada no dia 12 de dezembro de 2005 em Arraial do Cabo/RJ
numa cerimônia no Tupi E.C. O primeiro e único jornal da Região dos Lagos a documentar este
feito foi o Jornal O Popular de Iguaba Grande/RJ. A entidade é a única da região a ter uma sede
própria. Valoriza a memória cultural e as raízes do povo cabista, tanto que seu patrono é o poeta popular Cecílio Barros Pessoa. Um poeta
de origem humilde, que nos seus versos captou as imagens de um Arraial do Cabo, que poucos conheceram. Nós somos uma entidade
preocupada com o social e com a cultura, somos diferentes de muitas outras que vivem a vender sonhos pelo Brasil. Sonhos como: falsos
títulos de nobreza, medalhas, honrarias, etc. Não somos Mercadores de Sonhos, somos uma Academia de verdade! Somos Cabista!
MP: Como você vê o papel da internet na divulgação da Cultura, e como acontece o equilíbrio entre a A.C.L.A.C. física e a virtual?
RP: A internet ajudou muito a entidade a ser tornar conhecida pelo Brasil e principalmente pela implantação dos Membros
Correspondentes em 2009 feita por mim, quando eu era secretário do presidente Adão Antunes de Castro. Hoje a entidade se relaciona
através do orkut e do facebook, fazendo interação com o Brasil inteiro e divulgando seus feitos no seu blog neste endereço:
http://aclacademiacabista.blogspot.com/ . Este equilíbrio faz com que a entidade passe a ser conhecida e respeitada pelo seu trabalho.
Nestes seis anos já fizemos muito como: Antologia Lítero Cabista (2009), a implantação do quadro de Correspondentes (2009), a
implantação do diploma Mérito Cultural (2009), a implantação do título de Membro Honorário (2011), o projeto Ciclo de Palestras
(2009) e os momentos de Palavra de Sabedoria (2011) e Momento Cultural (2011). Estamos para realizar em 2012 várias atividades, que
em breve serão divulgadas no blog da entidade.
MP: E os membros correspondentes, como desempenham o papel de veículos do lema: "Uma Academia viva e atuante. Uma Academia
onde a memória é respeitada!” ?
RP: Os correspondentes são primordiais para a entidade, pois divulgam a mesma em suas localidades. Eles seguem normas para
desempenharem este papel. Os que não fazem o papel de divulgador e incentivador da entidade perdem a titularidade como
correspondente. Tanto que hoje temos cerca de 30 correspondentes dos 40 que começamos. Aqueles que não seguem o perfil da entidade
perdem suas cadeiras. A ACLAC é uma das poucas entidades acadêmicas do Brasil que não cobra anuidade aos correspondentes. Nós
queremos é a fidelidade, a divulgação e a troca de informações para o bem da entidade e o bem da cultura no Brasil. Lançaremos em breve
um novo edital para correspondentes no Brasil e teremos brevemente os primeiros correspondentes internacionais a divulgar a entidade
em seus países. Já estamos em contatos com escritores, poetas e artistas plásticos dos seguintes países: México, Japão, Grécia e Portugal.
Somos uma entidade atuante, se os correspondentes atuam para o bem da cultura, divulgamos suas atividades em nosso blog e em nossas
assembléias, pois uma academia se faz com a memória cultural de um povo, de uma nação e quiçá do mundo!
02 | eisFluências Dezembro 2011
MP: Falemos agora do Rodrigo Poeta. Tenho acompanhado seu papel incansável em prol da
cultura já há alguns anos consecutivos. Como e quando nasceu esse interesse?
RP: Nasceu em 1993. O primeiro poeta que degustei seus versos foi Vinicius de Morais e de 1993 a
2011 são quase vinte anos promovendo cultura, literatura, resgate cultural em inúmeros projetos
em escolas, entidades acadêmicas e dentro de comunidades carentes em cultural. Hoje tenho a
responsabilidade como presidente em ampliar os ideais socioculturais não só em nossa região, mas
também no país e quem sabe em outros países.
MP: Recentemente você foi eleito Presidente da A.C.L.A.C. Quais são suas metas para sua gestão?
RP: A entidade não se faz só com o presidente. Temos muitos projetos em mente, alguns serão
implantados em janeiro e brevemente divulgados na mídia. Outros projetos serão estudados e de
acordo com a parceria serão realizados para o bem da cultura. Temos projetos voltados para a
comunidade cabista, principalmente os jovens, tanto que sempre em nossos eventos estimulamos e
divulgamos os novos talentos cabistas.
MP: Que mensagem você deixaria para nossos leitores no sentido de incentivar o desenvolvimento e continuidade do trabalho em prol
das artes, da cultura?
RP: "Não seja coadjuvante, nem marionete e fantoche dos donos da vaidade, pois todos nasceram para brilhar com a luz do farol, que guia
para sucesso ao lado de Deus e dos verdadeiros amigos.” (Rodrigo Octavio - 01/11/11)
MP:Rodrigo Poeta, a Revista eisFluências cumprindo seu objetivo traz ao leitor uma visão mais ampla divulgando tão respeitada
entidade que é a A.C.L.A.C. Agradece a sua colaboração e deseja muitas realizações nos seus projetos e empreendimentos junto aos
Acadêmicos e Membros Correspondentes que estão ajudando a preservar e construir e divulgar a história da A.C.L.A.C. - Uma Academia
onde a memória é respeitada!”
Mercêdes Pordeus é membro correspondente da A.C.L.A.C.
Mercedes Pordeus
Recife/Br
VIº CONCURSO POESIARTE DE POESIA
REGULAMENTO
1-Participantes:
Poderão participar do concurso moradores do município de Cabo Frio e demais municípios do Brasil, com idade a partir
de 8 anos e também aceitando participações internacionais, sendo que o poemas sejam escritos em língua portuguesa.
2. Período de inscrição:
Os trabalhos deverão ser entregues para:
Rodrigo Octavio Pereira de Andrade, no seguinte endereço: Rua Jorge Lóssio, n°1478, Vila Nova – Cabo Frio/RJ.– CEP
28907-015, as inscrições serão aceitas de 21 de novembro de 2011 a 7 de janeiro de 2012 ou enviadas por Correio até a
mesma data, valendo o carimbo postal como comprovante do prazo ou para os seguinte
e-mail:
[email protected]
Para mais informações consulte:
http://concursopoesiarte.blogspot.com
FICHA TÉCNICA
Conselho de Redacção
Director
Victor Jerónimo
(Portugal/Brasil)
Abilio Pacheco (Brasil)
Carlos Lúcio Gontijo (Brasil)
Humberto Rodrigues Neto (Brasil)
Luiz Gilberto de Barros (Brasil)
Marco Bastos (Brasil)
Petrônio de Souza Gonçalves (Brasil)
Rosa Pena (Brasil)
Directora Cultural
Carmo Vasconcelos
(Portugal)
Responsável pela Redacção
Mercêdes Pordeus (Brasil)
Design Gráfico e Composição
Victor Jerónimo
Nosso sítio
http://www.eisfluencias.ecosdapoesia.org/
Contacto
[email protected]
Dois Anos 2009-2011
Correspondentes
Alemanha - António da Cunha Duarte
Justo
Argentina - María Cristina Garay
Andrade
Bielorussia - Oleg Almeida
Brasil - Elizabeth Misciasci
Cabo Verde - Nuno Rebocho
Espanha - María Sánchez Fernández
Revista de eventos, actualidades,
notícias culturais, político/sociais, e
outras, mas sempre virada à directriz
cultural, nas suas várias facetas.
Propriedade de
Mercêdes Batista Pordeus Barroqueiro
Recife/PE/Brasil
Tiragem: 100 ex
Distribuição Gratuíta
Divulgação via internet
Depósito legal
LEI DO DEPÓSITO LEGAL LEI N° 10.994, DE 14 DE
DEZEMBRO DE 2004
Biblioteca Nacional
Brasil
ISNN 2177-5761
eisFluências Dezembro 2011 | 03
A IMPORTÂNCIA DE UM ABRAÇO
Por Ary Franco
Em tempos idos era eu gerente da sucursal de uma empresa seguradora, em Belo Horizonte. Estressado pela responsabilidade imposta
pelo cargo e por metas a serem alcançadas, sofri por quatro meses com o distúrbio de uma glândula que me provocava sudorese em
excesso, independente do calor ou frio que estivesse fazendo.
Minhas mãos estavam sempre suadas e por mais que as enxugasse em lenços preventivamente levados comigo, permaneciam úmidas.
Meus contatos profissionais eram muitos, diariamente, e ficava constrangido, na hora do aperto de mãos, nas apresentações ou
reencontros de clientes.
Então, como recurso estratégico, ao ver mãos estendidas para mim, ignorava-as e partia para um abraço, acompanhado de “Muito prazer,
Ary Franco”. Neste período realizei bons negócios e fiz grandes amigos, como nunca dantes.
Depois de “curado”, com tratamento médico adequado, resolvi continuar com meus, agora espontâneos, abraços. Ao meu gabinete de
trabalho eram conduzidos os funcionários novos, contratados pelo RH, para me serem apresentados. Desde o contínuo, até os mais
graduados, eu levantava-me da cadeira, dava a volta na mesa e abraçava o recém-chegado, dando-lhe as boas-vindas. Era o gerente “mais
legal do mundo!”.
Certa feita o gari que varria a minha rua, tocou o interfone e perguntou-me se eu poderia assinar na “listinha de Natal”. Peguei uma nota
(não me lembro mais do valor) e fui ao portão apor meu nome na lista. Ele retirou a luva da mão direita e estendeu-a para mim, desejandome um Feliz Natal. Ignorei aquela mão e abracei-o, retribuindo os votos. Meio acanhado ele disse-me, durante o abraço: “Doutor, estou
sujo e suado” Eu respondi: “Perante Deus, talvez eu o esteja mais que você!”.
Daquele dia em diante, minha calçada era a mais bem varrida e limpa de todas e era na minha casa que ele mitigava sua sede nos dias mais
quentes sob o sol causticante que dificultava a exaustiva tarefa de seu trabalho.
Então, aí ficou para mim uma lição de vida, transformando uma adversidade em um grande aprendizado, certamente ministrado pelo
nosso Deus Criador.
Ary Franco
Rio de Janeiro/BR
NÃO ME IMPORTO!
OH PASSADO! POR QUE NÃO VOLTAS?
Ary Franco
Ary Franco
Não me importo de ser um idoso.
Só não quero jamais envelhecer.
Desejo sentir-me sempre ditoso,
Renovar-me a cada amanhecer!
Por onde andará aquele romantismo de outrora?
Hoje, só os poetas admiram uma noite enluarada.
Uma troca de olhares com a pulsação acelerada,
Flerte e aproximação. Nada disso subsiste agora!
Não me importo se mais uma ruga aparece.
Cada uma delas tem sua estória pra contar.
Somente uma única coisa me entristece,
Saber que um dia, todo este eu vai acabar!
Pra onde foram os namorados que passeavam de mãos dadas?
Aqueles apaixonados que levavam flores para suas amadas?
Os encontros escondidos porque o pai da moça era zangado?
Dentro do cinema, a mão no ombro e um beijo roubado?
Não me importo com as mãos enrugadas.
Minha pele sem aquele viço de outrora.
Se já não mais aproveito as madrugadas,
Mas quero a vida viver, até a última hora!
As orquestras tocando em bailes pra casais com rostos colados?
Nada de DJs arranhando discos e os pares pulando separados!
Os trovadores cantando sob as sacadas canções apaixonadas?
Quase sempre isso ocorria em noites lindamente estreladas...
Não me importo se já durei o bastante;
Continuarei a aproveitar cada instante,
Buscando inspiração para meus poemas,
Achando solução pra os meus dilemas!
Onde estão as praças em que ficavam os rapazes conversando
E as moças passeando em torno dela e por nós desfilando...?
Aguardávamos sempre a volta seguinte daquela que nos atraiu
Quem sabe na próxima ela vai sorrir mostrando que me viu?
Não me importo se nada mais concretizar,
Mas faço questão de continuar a sonhar.
Feliz quero viver. Mas o dia que me for
Levar no peito o coração cheio de amor!
Meu Deus, concedei-me o retrocesso dessa cruel “evolução”.
Dê-me de volta o lindo passado de minha saudosa geração.
Em meu peito bate um pobre coração morrendo de saudade,
Mas ufanoso de ter vivido grandes amores na jovem idade!
Não me importo se comigo não te importas.
Olvidarei teu desdém e abrirei outras portas.
Um dia não mais hei de ti me lembrar.
Fiques como estás, não precisas me amar!
Rio de Janeiro/BR
Ary Franco, escritor e poeta, nasceu em 25 de Novembro de 1933, na Rua Cardoso Marinho nº 17,
no Bairro de Santo Cristo, na cidade do Rio de Janeiro – Brasil, pelo que, orgulha-se de ser um
carioca legítimo. Cursou a Faculdade de Letras, curso que interrompeu para casar-se. Casamento
que mantém feliz há 54 anos, com seus 3 filhos e 4 netos.
Mais tarde completou o bacharelato em Letras. Desde cedo atraído pela poesia, já em garoto
brincava de fazer rimas. Hoje, aposentado, confessa-se um contumaz devorador de livros que sofre
de uma necessidade compulsiva de escrever. É autor de vários romances, crónicas e poesia que
publica essencialmente na Internet. É membro da Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores
(AVSPE).
04 | eisFluências Dezembro 2011
A POESIA DA FOTOGRAFIA
LANÇAMENTO: TECA MIRANDA – JUIZ DE FORA – MG – 10/11/2011
Por Marco Bastos
Em 10/11/2011 deu-se o lançamento no Museu de Arte Moderna
Murilo Mendes, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, do
excelente trabalho artístico de TECA MIRANDA contido no livro
A POESIA DA FOTOGRAFIA editado pela All Print Editora/SP,
Brasil. Tive a honra e o prazer de prefaciar a obra e comparecer a
esse evento cultural.
Nesse livro, a poeta, pintora e fotógrafa trabalha com duas formas
de expressão – com o concreto no abstrato da poesia e a abstrata
fotografia do concreto cotidiano.
Na arte da fotografia, no branco e preto das cores, Teca ressalta os
contrastes: o brilho intenso do sol, da lua de prata testemunha,
romântica confidente, lua-cheia, seus reflexos na praia, nos lagos,
na pele e nos cabelos; nos seus escuros dos montes e na
exuberância da mata; nas cascatas que despencam nos rios quais
arminhos de prata. Céus profundos de sua terra alterosa, ora altos
cirros flamejantes, ora nimbos de chuva grossa. Suas carreiras de
casas hospitaleiras que adivinho naquelas cidadezinhas que
cismam por trás dos montes. E as pessoas se apresentam na
verdade dos seus trabalhos ou nos sonhos dos seus amores.
Cidades-silhuetas sob clarões estupefatos. A fotografia registra só o que existe no mundo. A artista cria os momentos, os animais, as
flores, as fantasias. E tudo se integra em sua poesia.
Aqui não me contenho, e apresento nessa pequena amostra uma página do livro onde o leitor encontrará na exuberância original da
linguagem dela, da fotógrafa que é poeta, o seu caudaloso rio de encantamento, insinuando o estro
*
A poesia de Teca é moderna. Sua linguagem encaixa-se nas principais características propostas por Ítalo Calvino para as letras do
milênio: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade, consistência. Escreve com liberdade e precisão, sem se preocupar com os
aspectos formais de metrificação e de rimas. Seu estilo é elegante e bem trabalhado, poesia ritmada, cadenciada e candente, na qual capta
e expressa seus sentimentos, apresentando sua visão de mundo polimórfica. A cuidadosa leitura da obra de Teca Miranda revela um
conjunto de vivências e abstrações onde a poeta, mulher moderna, atual e prática, altamente franca e verdadeira, se mostra veladamente
romântica.
Teca Miranda é têmpera_mental, lúcida, sensual e cristalina. A poeta traz da poesia minimalista que também escreve, a cunha do
inesperado, as sínteses, as metáforas, as metonímias; a beleza que expressa não se traduz em jogos de palavras – em seus versos livres
quase não rima. A estética de seus versos encontra-se na capacidade de fazer afluírem e interagirem autor e personagens, e sensíveis
associações para os seus temas variados e recorrentes: natureza, sol, lua, o social esse trem sociedade, carinho, atemporalidade,
eternidade, introspecção, o amor e a afetividade, jeito mineiro de ser, a chuva dentro de si, a estrada, a liberdade, a inspiração e o
encantamento.
eisFluências Dezembro 2011 | 05
E poesia, a boa poesia é isso, sínteses, metáforas e estranhamento – aquela faísca que estalou na cabeça do poeta e a partir dela nada mais
foi tudo igual e o mundo é diferente.
No seu processo criativo, algumas vezes nos deixa ver a alternância do embate entre a racionalidade que conduz a poesia e o
arrebatamento que submete o autor à obra.
Convido-os a conhecerem “A poesia da fotografia” citando Mikhail Bakhtin em “Estética da criação verbal”, na tradução da versão
francesa por Maria Ermantina Galvão G. Pereira:
“Mas como dar-lhe (ao autor) de novo a palavra? Reconhecendo o parentesco de nossos discursos, vendo em sua justaposição, não a da
metalinguagem e da linguagem-objeto, mas o exemplo de uma forma discursiva muito mais familiar: o diálogo.”
“Para a crítica dialógica, a verdade existe, mas não a possuímos.”
***
Concluindo, pressinto o prazer que os leitores terão ao entrarem no mundo de formas, luzes e letras, acompanhando a inspiração da
poeta. O mesmo prazer senti ao conhecer o livro e sinto agora ao divulgar a obra.
***
REGISTROS DO LANÇAMENTO
A CIDADE DE JUIZ DE FORA:
http://www.youtube.com/watch?v=o8cZB9ldI_w&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=BlMDcyGqdGA&feature=related
REPERCUSSÃO LOCAL DO TRABALHO DE TECA MIRANDA:
http://www.dig-foto.net/2011/11/lancamento-do-livro-poesia-da.html#...
http://jfemfoco.blogspot.com/2011/11/teca-miranda-e-sua-fotopoesia....
FOTOGRAFIAS DO EVENTO:
APRESENTAÇÃO, AUTORIA, PREFÁCIO
O EVENTO
TECA MIRANDA
06 | eisFluências Dezembro 2011
AS CARACTERÍSTICAS DA ARTE MODERNA
Por Clóvis Campêlo
Segundo José Guilherme Merquior no livro "Formalismo e tradição moderna: o problema da arte na crise da cultura", de 1974, é dentro da
própria consciência geradora do saber da cultura ocidental que a estética moderna encontrará campo para dar vazão ao sentimento de
insatisfação que a invade. Mostra-nos o autor que nada "poderia ser mais eloquente do que a simples menção da influência de duas
ciências humanas na arte moderna: a psicanálise e a antopologia". E ambas se prestam a esse papel por provocarem constantes
"deslocamentos" no pensamento que as gerou. Assim, munidos de novos "instrumentos", os artistas modernos encontram condições de
manifestar a negação e a perplexidade da arte em relação aos caminhos dos tempos contemporâneos. Valorizando os impulsos libertários
do inconsciente, bloqueados pela ética do pensamento conservador, os modernos passam a salientar o "caráter repressivo do princípio da
realidade" como uma limitação às possibilidades vitais do homem. Assumem, desse modo, uma postura "vocacionalmente surrealista",
instalando, no bojo do seu pensamento, a "mística da liberdade espiritual", fonte da contracultura de vanguarda no final do século
passado.
A desconfiança da arte moderna ante os valores da cultura ocidental faz com que, juntamente com a vontade de ruptura cultural,
desenvolva-se, na primeira, uma tendência ao hermetismo. Tal tendência intensifica o isolacionismo cultivado pelo artista a partir do
pós-romantismo, afastando, com desdém, a estética moderna das massas (muito embora estas se mostrem cada vez mais alfabetizadas) e
encaminhando a arte moderna para uns postura semântica elitista. O poeta moderno cerca de obstáculos o acesso ao significado da
mensagem poética e, almejando alcançar um público seleto, cria obras que jogam com significados incertos, esquivos e obscuros.
Por compreender que o fácil entendimento das obras significa a banalização e a alienação da informação (tal assertiva torna-se
interessante em um mundo caracterizado pela "democratização" da informação e pela proliferação do simulacro enquanto meio de
consciência cósmica, ao mesmo tempo em que serve para desnudar mais um aspecto contraditório das artes modernas), o bardo moderno
envereda por caminhos esotéricos e inusitados (mudança quanto ao conteúdo), enquanto adota contra a linguagem comum (alteração
quanto à forma) o que Ramon Jakobson, numa tentativa de definir a literatura sob a ótica dos formalistas, classificou como "violência
organizada".
Concomitantemente a esse movimento de afastamento das massas verificado na estética moderna, a arte de vanguarda experimenta uma
"universalização dos horizontes mentais", estabelecendo entre os artistas modernos uma comunicabilidade definitivamente diluidora do
sentimento de "cor local" dos românticos e que, transcendendo as nacionalidades, provoca o cruzamento de temas e estilos, em que pese
cada literatura estar irremediavelmente ligada ao espírito da sua língua.
Desse modo, segundo a ótica de Merquior, são quatro os movimentos que caracterizam a passagem da arte romântica para a arte
moderna: a mudança de uma concepção mágica de arte para uma concepção lúdica, desdobrada em visão grotesca (jogo quanto ao
conteúdo) e experimentalismo (jogo quanto à forma); transformação da oposição cultural romântica em ruptura; afastamento das
grandes massas e tendência para o hermetismo, e, encaminhamento da poética atual para o cosmopolitismo e para um futuro planetário.
No entanto, se o primeiro movimento faz com que a arte moderna manifeste uma saudável tendência de revigoramento e renovação, ao
mesmo tempo em que nega os valores culturais que contradizem a afirmação humana, tendência essa confirmada no movimento de
ruptura (afastamento), o terceiro movimento (elitização e hermetismo) é contraditório e caminha em sentido inverso aos anteriores. Por
seu lado, o quarto movimento (cosmopolitismo) parece nos indicar que a grande arte, perdida a sua função mágica e situada em uma
cultura de massa onde prevalece a divisão de classes (característica supranacional), exercita essa permeabilização universalista como
forma de uma adaptação necessária à sua sobrevivência.
Para finalizar, consideremos que o conceito de arte moderna, ainda segundo Merquior, prende-se muito mais aos fatores internos
observados nas obras de arte do que a sua contemporaneidade. Tal fato se deve a permanência, ainda hoje, na tradição da arte moderna de
elementos românticos não submetidos ao novo estilo e que atuam como fatores de estreitamento e de enfraquecimento da arte moderna,
reduzindo a sua capacidade de elaboração de uma crítica da cultura e diminuindo a sua energia criadora. Dessa maneira, nem toda a arte
contemporânea pode ser considerada "arte moderna", assim como podemos estabelecer a existência de diversos graus de
"modernidade".
Clóvis Campêlo
Recife/Br
http://cloviscampelo.blogspot.com/
http://geleiageneral.blogspot.com/
A SERPENTE E A MAÇÃ
A SÍNTESE
Clóvis Campêlo
Clóvis Campêlo
Era só monotonia
a vida no paraíso,
tudo correto e preciso,
sem tristeza ou alegria.
Neguei todos os preceitos
como quem renega a vida,
atingindo o próprio peito,
dilacerando a ferida
Eis que um dia, de repente,
em pleno sol da manhã,
a suculenta maçã
desperta o olhar da serpente.
(a mesma mão que afaga
acende o fogo e o apaga).
Por que, então, preservá-la,
negando-se ao prazer?
Mas, para poder prová-la
preciso será romper
a lei e não acatá-la,
desafiando o poder.
Fiz do mundo o seu avesso,
vestido de manto espesso
para ser inacessível,
e conclui o desfecho
na imensidão do impossível.
Recife, 2011
eisFluências Dezembro 2011 | 07
Quando nossa segunda pele é poesia
Manifesto do poeta
Por Rosa Pena
Por Rosa Pena
Para uma poesia alegre um buquê com flores viçosas coberto de
pétalas frescas orvalhadas, rimas mais preciosas que esmeraldas e
rubis do anel que tu me destes, uma lua bem cheia e a mais bela
cadente envolvendo nosso porta-retrato sobre o criado-mudo de
espanto com todo o amor que a foto traduz.
A gente se veste dela para apaziguar o apetite de comer a lua; para
dizer um tchau sorridente ao sol que se finda mais cedo; para
brindar o cheiro que exala dos cabelos de algum apego; para
gritar as frases não ditas, impróprias para uma platéia descrente
de ternura; para jogar água sanitária no luto do passado; pintar
de verde a desistência e o cansaço; sorrir do vermelho, no rosto,
depois daquele beijo; para achar aquele suspiro esquecido
embaixo da cama; para desamarrar o cadarço do sapato da razão;
para sentir a umidade da terra que fecunda a ilusão de que nada
foi em vão; pra tecer com o canto dos colibris um novo nó na
gravata do juízo que adora sufocar o grito: -Te amo!
Para uma poesia triste um buquê de flores murchas, mortas vivas,
rimas artificiais como bijuterias, um minguante de lua e um
cometa decadente sobre o criado-surdo ao amor que tu me tinhas,
que era pouquíssimo e babou, o amor, não a poesia, pois alegre ou
triste ela não deve sofrer à síndrome do descaso.
Poetas, ainda que de celular, falam com borboletas, pedras,
estrelas...
Ah! Na poesia? Qualquer dia tem confissão e comunhão.
Amantes se vestem da nudez e estendem as línguas para receber a
hóstia da paixão.
***
***
Paris
-maria da graça almeida-
Maluca com certeza
Rosa Pena
Paris tem certa magia,
nem bem posso explicar...
É uma coisa que indicia
o elã, livre, no ar.
É a alma que se amplia,
como um raio de luar,
é a cor da fantasia,
que se espalha no lugar.
Sem Beleza!
Estamos todos malucos
Sociedade desamparada
Todo mundo fala tudo
Ninguém diz nada com nada.
Quem sabe daqui há dez mil
O mundo descubra
Que nunca soube demais.
Volte a dançar
Rock com as aranhas
Viaje num trem das sete
Refaça o corcel 73
Decrete o amor a bola da vez.
É a arte do imortal,
ou o ofício do mambembe,
é a tinta natural,
da mão firme, que não treme.
É a torre colossal,
férrea, que o espaço não teme.
É um arco triunfal,
das avenidas, o leme.
Tomara que a ciência
Descubra a vacina eficaz
Para tanta estupidez.
O grito da paz?
É o sonho que corro atrás.
Rosa Pena
RJ/BR
http://www.rosapena.com/
É o perfume, o olor
da mulher que não se apressa,
é, no Sena, o rumor
dos barcos, fazendo festa.
Paris tem certa magia,
nem bem posso explicar...
É uma coisa que indicia
o elã, livre, no ar. ...
Maria da Graça Almeida, nascida em Pindorama - São
Paulo. Escritora, poetisa, professora, pedagoga e formada
em Educação Artística.
http://esperasazuis.blogspot.com
(Divulgação de Rosa Pena)
"Aprendi que um homem só tem o direito de olhar
um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se"
(Gabriel Garcia Marques)
q
q
q
"O escritor original não é aquele que não imita ninguém, mas aquele a quem ninguém pode imitar. "
(Visconde de Chateaubriand )
08 | eisFluências Dezembro 2011
OFÍCIO DE TRADUTOR
Por Oleg Almeida
Quem é o tradutor, aquela pessoa afeita à caneta e, nos dias de hoje, ao laptop, cujo trabalho consiste em transpor – frase por frase, ideia
por odeia – os mais diversos textos de um idioma para o outro? Brilhante linguista que se empenha em decifrar os mistérios das épocas
remotas e dos países longínquos, levando-os ao conhecimento do curioso público, ou escritor frustrado que se contenta em popularizar os
livros de outrem por lhe faltarem sorte ou coragem na promoção dos seus? Artesão das palavras que preza pela qualidade formal de suas
versões longa e pacientemente lapidadas a ponto de subestimar a profundeza espiritual dos originais vertidos, ou provedor da
aproximação cultural entre os povos, que muitas vezes nada têm em comum, senão a literatura traduzida e, dessa maneira,
compartilhada? Não sou adepto de nenhuma destas opiniões, sejam corretas ou não... Para mim, o tradutor é, antes de tudo, um bom
professor incumbido de ensinar aos autores estrangeiros uma língua bem diferente da que deu asas à criatividade deles. Há professores
que, por algum motivo, tomaram conta de uma só turma escolar; assim foi o poeta russo Nikolai Gnêditch que dedicou a vida inteira à
tradução da grandiosa Ilíada de Homero. Há mestres que criaram uma plêiade de discípulos talentosos; este seria o caso de Tadeusz Boyeleñski, cujo labor incansável brindou os leitores poloneses com a chamada “biblioteca de Boy” composta de quase 100 tomos
traduzidos do francês. O mesmo se refere aos virtuais alunos – há quem estude aplicado e obediente (tais são as obras de Dickens,
Flaubert e Tolstoi, facilmente lidas e interpretadas em qualquer parte do mundo) e quem se mostre cheio de rebeldia (os colegas que já
tentaram traduzir, digamos, Guimarães Rosa com seus inúmeros neologismos, herméticos até para os conterrâneos dele, não me
deixariam mentir acerca das dificuldades técnicas desse tipo de tradução). Em resumo, a figura do tradutor é tão humilde e, ao mesmo
tempo, sublime quanto a do educador: seu nome vem impresso em letras miúdas, seus honorários nem se comparam aos de uma estrela
literária, porém o mérito e a glória de sua profissão se revelam incontestáveis. Igual ao pedagogo entusiasmado com o sucesso dos antigos
pupilos, eu me sinto todo orgulhoso de ter ensinado Baudelaire e Púchkin a falar português. E este é o maior estímulo para cumprir em
rigor meu ofício modesto e nobilíssimo!
***
Traduzido por Oleg Almeida
CXLVI
LA MORT DES AMANTS
CXLVI
A MORTE DOS AMANTES
Nous aurons des lits pleins d'odeurs légères,
Des divans profonds comme des tombeaux,
Et d'étranges fleurs sur des étagères,
Écloses pour nous sous des cieux plus beaux.
Nós teremos leitos a manar olores
E divãs profundos, nossas sepulturas,
E, pelas estantes, as estranhas flores,
As que, noutros tempos, viram mais ternuras.
Usant à l'envi leurs chaleurs dernières,
Nos deux coeurs seront deux vastes flambeaux,
Qui réfléchiront leurs doubles lumières
Dans nos deux esprits, ces miroirs jumeaux.
Esbanjando à farta os últimos ardores,
Far-nos-emos duas tochas, às escuras,
Que refletirão os seus duplos fulgores
Nos espelhos gêmeos, nossas almas puras.
Un soir fait de rose et de bleu mystique,
Nous échangerons un éclair unique,
Comme un long sanglot, tout chargé d'adieux ;
Uma noite feita de azul e de rosa,
Trocaremos uma chama vagarosa :
Dois adeuses juntos num clarão final.
Et plus tard un Ange, entr'ouvrant les portes,
Viendra ranimer, fidèle et joyeux,
Les miroirs ternis et les flammes mortes.
E depois um anjo, ao soabrir as portas,
Virá reanimar, firme e jovial,
Os espelhos baços e as centelhas mortas.
Oleg Almeida
Brasília/DF, Brasil
www.olegalmeida.com
eisFluências Dezembro 2011 | 09
TEMPO DE DOAR PALAVRAS
Por Carlos Lúcio Gontijo
A palavra escrita é sagrada como veículo de comunicação, pois foi o instrumento usado pelo Criador para se comunicar conosco, dando
origem à Bíblia, que é o caminho e o norte religioso, social e moral da humanidade desejosa de criar condições de convivência fraterna,
dentro dos valores e princípios cristãos ensinados por Jesus Cristo, filho de Deus.
Defendemos a tese de que, sem a comunicação gráfica, o mundo jamais teria avançado material e espiritualmente, uma vez que não
experimentaria o refrigério eficiente para suas atribulações e instintos de violência, que se amenizam (e até se desfazem) diante da leitura
de um poema verdadeiro, marcado por antíteses e imagens metafóricas, ou perante a trama amorosa e a mensagem filosófica de um
romance bem escrito.
Deus poderia ter destinado a cada ser humano alguma fonte de riqueza definida e tangível – moedas de ouro, pedras preciosas ou
qualquer outro bem material –, mas não, o Senhor do Universo optou pela caridade da palavra, que nos consola e ilumina nossa
caminhada no planeta Terra.
Em várias ocasiões do transcorrer de nossa trajetória literária, tivemos que editar por conta própria, pois sempre encontramos
dificuldades na busca de patrocínio, pela comprovada razão de serem poucos e raros os detentores de capital que se nos apresentam
dispostos a despender recursos na impressão de livros (mas graças a Deus eles existem!). O procedimento natural é de injeção de dinheiro
tão-somente em produtos alimentícios, agindo como se a doação de palavras de conscientização e esperança não fizesse parte da cesta
básica da caridade voltada à igualdade e ao pleno desenvolvimento do ser humano.
Escrevemos imbuídos do desejo de contribuir para a construção de um mundo melhor, que não tem como surgir por intermédio do
simples suprimento das necessidades tidas ou havidas como básicas à sobrevivência das pessoas, que são muito mais que ocupantes de
espaço físico, existindo, portanto, uma quântica energia cósmica, que habita cada uma delas e que não se alimenta de prato de comida,
roupas de grife, joias, conta bancária, notoriedade, prestígio ou fama.
A palavra escrita, ferramenta da poesia, da literatura, da informação e do conhecimento é muitas vezes menosprezada, mas se não fosse
por ela o mundo seria um longo e ininteligível filme sem legenda. Dessa forma, ousamos apontar o exercício da arte da palavra como uma
atividade revestida de poder de caridade e capaz de propiciar um destino mais digno à raça humana, levando-nos assim a conduzir nosso
trabalho literário com humildade e disposição para direcioná-lo, preferencialmente e sem qualquer ganho nem lucro financeiro, a
bibliotecas comunitárias, escolas de zona rural, escolas de periferia etc., locais em que os exemplares de obras literárias quase nunca
chegam.
Em síntese, dentro do nosso idealismo, gostaríamos que as pessoas, em todos os momentos comemorativos – nos aniversários, nos natais
e nas festas de fim de ano –, doassem palavras de amizade, perdão, estímulo e consolo umas às outras, presenteando seus amigos e
conhecidos com livros e dedicatórias feitas de próprio punho, sob a crença de que a leitura revigora a mente e agrada aos desígnios do
Criador, que tem no verbo bíblico o seu mecanismo de transformação do gênero humano.
Então, em nome da sensibilização dos seres humanos, da paz e da prática do efetivo amor ao próximo nos relacionamentos sociais,
tomamos a liberdade de conclamar, em alto e bom som: Poetas, escritores, mãos à obra, cumpram com sua missão solidária de escrever e
lançar livros a mancheias, multiplicando o milagre da sublime doação de palavras!
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br
Nó de Pedra
Bateia do amor
Carlos Lúcio Gontijo
Carlos Lúcio Gontijo
Quero a pedra no caminho
Colher a verdade da pedra
Tecer de pedra a fibra moral
Cozer a pele no coral da pedra
Amolar na pedra o suor nascente
Ser refletida pedra por fora
Transparente pedra por dentro
Talhadeira lapidando gente
Pronta pra luta de pedra atiradeira
Batalha naval em mar de lágrimas
Sacristia pantaneira ungindo navalha
Para nos livrar da democracia retireira
Liberdade que fenece na hipocrisia
E não nos guarnece de asas para voar
Mas se na esteira da luta estradeira
Soldado dessa pedreira tombar
Cada estilhaço, um nó de pedra em pedaço
Verdadeira pedra em pó
Que solta ao vento nunca andará só
Pois não há quem a pedra desuna
Nem esteja prestes a maldizer essa coluna.
Venha, abraça-me forte
Faça sentir-me úmido de desejos
Encha-me o ventre de pantanais
Quero véu de alagados pelo corpo
Abrir nesgas de céu em meus pecados
Sentir conforto de relva em corte de canaviais
Deixar-me quase morto na bateia do amor
Fazer ferver todo o sangue na veia
E afogar-me no mangue das libidos alvadias
Feito se entregam as estrelas ao raiar dos dias.
(Do livro PELAS PARTES FEMININAS – CLG)
***
AMORES EM QUEDA
Carlos Lúcio Gontijo
(Do livro AROMA DE MÃE - CLG/1993)
O rio saliva cachoeira
Assim como eu desejo
O beijo do meu amor
Pro rio é queda-d'água
Pra mim é quebra-mágoa
O beijo do meu amor...
www.carlosluciogontijo.jor.br
www.carlosluciogontijo.jor.br
10 | eisFluências Dezembro 2011
NOITE DE JÚBILO PARA A POESIA
“NOITE POÉTICA JOSEFENSE”
Por Maura Soares
Em um teatro do município de São José, Santa Catarina, inaugurado
em 1856 que leva o nome do célebre violinista José Adolpho Ferreira
de Mello, dos Ferreira de Mello da Ilha de São Jorge, Açores-Portugal,
aconteceu no sábado, dia 22 de outubro de 2011, o Sarau literomusical “Noite Poética Josefense”, em comemoração ao Dia
do Poeta, ocorrido dia 20 de outubro.
Num Projeto idealizado, formatado e apresentado pela Acadêmica
Hiamir Polli Mathias, tendo como apoiadores a Fundação Municipal
de Cultura e Turismo de São José e a Associação dos Cronistas, Poetas
e Contistas Catarinenses (ACPCC), a noite de sábado, 22, engalanouse com o desfile de talentos da literatura da Grande Florianópolis, ou
Região Metropolitana, como querem as autoridades.
Hiamir Polli Mathias, membro da referida Associação, uma das
fundadoras do GPL e também das Academias Desterrense de Letras
(ADL) e Alcantarense de Letras (ACALLE), conduziu o cerimonial com
tranquilidade e competência, tendo em Augusto de Abreu (ACPCC) e
Rosinha Schmidt (Secretária de Cultura e Turismo de São José) como
apoiadores na hora do cerimonial quando da entrega de Diplomas e
Placas alusivas ao evento.
Desfilaram pelo palco do pequeno e aconchegante teatro as mais
diversas formas de dizer poesia, pois cada poeta extravasa seu
sentimento à sua maneira.
Participaram quase todos os segmentos das letras da Grande
Florianópolis, citando associações e academias: ACPCC, ADL, ACALLE, Grupo de Poetas Livres (GPL), Academia Catarinense de Letras e
Artes (ACLA), Associação Literária Florianopolitana (ALIFLOR), Academia São José de Letras (ASAJOL), Academia de Letras de
Biguaçu (ABL), Academia de Letras de Governador Celso Ramos, Academia Catarinense de Letras e Grupo Literário A Ilha.
Tendo em vista o número de pessoas a se apresentar, a cada qual foi reservado o espaço para dois poemas ou uma canção e um poema.
Citando, tentando não esquecer todos os que abrilhantaram a Festa da Poesia: Marli Terezinha dos Santos Luz (GPL) interpretando ao
violão, de Geraldo Pereira Lopes, “Adubando nossas raízes”; seguida dos declamadores com suas próprias criações, Osmarina Maria de
Souza (ADL,ACPCC,ACALLE,ASAJOL,ALB); Paulo Berri (ASAJOL,ALB,ACLA,ACPCC); Inês Carmelita Lohn
(ACPCC,ACALLE,ALGCR); Celso João de Souza (GPL,ACALLE); Deyse de Abreu Teodoro (ACPCC); Artemio Zanon
(ACL,ASAJOL,ADL); Susana Zilli de Mello(ACPCC, ACALLE); Valter Manoel Gomes, presidente da ADL; Neide Elliot(ACPCC); Augusto
de Abreu(ACPCC,ADL,ASAJOL); Hiamir Polli Mathias (ACPCC,ADL,ACALLE); Geraldo Pereira Lopes(GPL,ADL); Jurema Munareto;
Vanda Lúcia Sens Schäffer (ALB,ASAJOL); Leatrice Moellmann (ACL, ALB, ASAJOL, GPL).
A professora Maura Soares, do Grupo de Poetas Livres, leu “A Coerente Incoerência dos Poetas”, de Carmo
Vasconcelos, poetisa de Portugal e Directora Cultural da Revista “eisFluências”, e um poema de sua autoria, “Beijos”.
O Atelier de Dança de São José, com o casal de bailarinos Bruno Bittencourt e Gabriela Ferreira, apresentou o belíssimo número musical
“Loving you”.
A cantora Nini (Apolônia), natural de São José, interpretou as melodias Palmeira à Beiramar e Quem sabe, esta de autoria de Carlos
Gomes.
A Associação Coral do Hospital Florianópolis, sob a regência do maestro Fernando Di Carli apresentou o Hino da Cidade de Florianópolis
“Rancho de Amor à Ilha”, Ave Verum Corpus, Deixa meu povo ir (negro spiritual), Cantigas do Boi-de-Mamão, adaptação do folclore
Ilhéu por Carlos Lucas Besen.
A noite foi encerrada com a premiação às instituições literárias presentes, cada qual recebendo Diploma e Placa de
Prata.
De parabéns está a Acadêmica Hiamir Polli pela iniciativa em promover a festa e pela oportunidade de mostrar os talentos da Região da
Grande Florianópolis, em uma noite inesquecível que, espero, seja a primeira de muitas outras.
Profa. Maura Soares
Grupo de Poetas Livres e Academia Desterrense de Letras
Florianópolis/Br
http://www.poetaslivres.com.br/
http://www.lachascona.blogspot.com/
Passagem das Horas
Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
eisFluências Dezembro 2011 | 11
AL CAPONE
Por Fahed Daher
A historia do cinema Norte Americano nos brindou com filmes maravilhosos, muitos deles históricos, embora, na tônica da história tenha
havido algumas fantasias para levantar emoções.
Recentes histórias, do nosso mundo político, nos levaram para a lembrança da história de Chicago, pela apresentação do filme os
intocáveis, filme de grandes atividades emocionais.
Com os intocáveis a história da máfia, a “Honorata Societá”, também chamada de “Cosa Nostra”, onde pontificavam imigrantes italianos,
entre eles, a figura que se tornou famosa, chamada Al Capone, com ele o crime organizado.
Al Capone nasceu na Itália em 1889 e faleceu em 1947 nos EEUU
Consta que o serviço de segurança, juntamente com a polícia federal americana, sempre muito eficientes, somados ao judiciário, nunca
conseguiram provar qualquer participação de Al Capone em todos os processos de criminalidade, havidos no comando da sua “Cosa
Nostra”.
Inclusive consta que nunca ele portou uma arma. Apenas os seus auxiliares e seguidores portavam as armas, metralhadoras, as vezes
transportadas em um saco de golfe ou sob as vestimentas.
Consta que as atividades de gangsters, comandadas por ele, faturava cerca de três e meio bilhões de dólares por ano, com capacidade de
subornar policiais e juizes, despendendo cerca de duzentos e cinqüenta milhões de dólares anuais.
Nunca houve provas para puni-lo, pois nunca estava presente nos acontecimentos. Nem suspeitas materiais ficavam nos atos de
ilegalidade, nas disputas de grupos ou domínio de territórios de tráfico de drogas, prostituição, clandestinidade de bebidas especialmente
durante a promulgada lei seca que proibia o comércio de bebidas alcoólicas, também no oferecimento compulsório de proteção a
comerciantes e empresários e pessoas de muitas posses.
Este tipo de proteção era uma forma de extorquir dinheiro sob pena de receberem a agressão da própria organização e, quando pagavam
para não serem agredidos pelo próprio grupo, eram também defendidos contra a agressão de outros.
Al Capone, oficialmente, nunca sabia de nada e nunca aparecia qualquer comprovação das suas participações ou comandos.
Conseguia ser recebido nos altos círculos sociais, relacionava-se bem com as autoridades. Alem dos subornos concedia belos presentes na
forma de gentileza de boa amizade.
Seus auxiliares, os que se deixavam ser suspeitos e sujeitos a investigações maiores, por fracasso em determinadas ações, eram
imediatamente eliminados, eliminação que era comandada com ordens para outros subordinados, tal como fazia Stalin na Rússia,
quando recebia no gabinete algum elemento pelo qual não nutria simpatia, à saída deste, chamava um outro auxiliar de confiança e
apenas dava um sinal para eliminar o visitante que acabara de sair, sem nada dizer,
A punição de Al Capone lhe veio por algum deslize na declaração do imposto federal, o que deu a oportunidade para o governo puni - lo.
Não é necessário ser letrado para ser um chefe de máfia.
Nem ser culto ou erudito. Basta ter a capacidade de penetrar na psicologia dos auxiliares, conhecer a psicologia do medo, para impor a
tirania.
Conhecer a gula de cada um para satisfazer suas exigências e, se aproveitando de todas estas fraquezas, saber dizer a cada um o que cada
um gosta de ouvir, assim distribuir algumas benesses e dominar, mantendo o ar de nobreza e de protetor, se fazendo ausente e
desconhecedor dos acontecimentos comprometedores.
A massa da população gosta de protetores, mesmo fantasiosos.
A classe média gosta de fantasias. A camarilha gosta de participar do lucro fácil.
Há boas condições para a máfia manter o domínio entre nós.
O Brasil não precisa da “Lei Seca” igual a adotada pelos EE UU.
Diante de tanta complacência e indignidade, nossas leis já são secas para os poderosos. Fogosas para os opositores.
Fahed Daher – Médico
Governador de Rotary 1995/1996
Academia de Londrina – Centro de Letras do Paraná
SOBRAMES- Soc. Brás. De Médicos Escritores (vice pres. PR).
Academia de Letras de Londrina – Acad. José de Alencar (Curitiba)
FRUSTRAÇÃO
Fahed Daher
LUCIANO E O RETRATO
Fahed Daher
No olhar tens um malévolo reflexo,
no sangue tens volúpia de conquista,
não amas a ninguém, queres que exista
sempre um novo arlequim para o teu sexo.
Entre, meu filho, venha ter comigo,
saia do quadro preso nesse espaço.
O seu sorriso é franco e meu amigo,
o seu olhar suplica o meu abraço.
Buscas um novo beijo e um novo amplexo
no afã que o teu fulgor ninguém resista.
És a irmã de Don Juan, és a egoísta
deixando a cada afago alguém perplexo.
Você sentiu na vida que o persigo,
segui sua existência passo a passo,
o carreguei no colo, e não consigo
esquecer que há entre nós um grande laço.
Alma boêmia ! Cópia de Narciso !
Tens canto de sereia no teu riso,
ferros de Prometeu nos teus carinhos.
Eu vejo o seu retrato me espreitando
e sinto a sua vida palpitando
no bem querer, no amor, na vibração.
Sorvi um trago de beijo nessa taça
onde o amor teve a forma da fumaça,
e levo a tua sombra em meus caminhos.
Trocando olhares com o seu retrato
muitas lágrimas turvam-me a visão
e o seu abraço vem-me ao coração.
Fahed Daher - 1952
Fahed Daher - 11/12/01
12 | eisFluências Dezembro 2011
SEMANA CULTURAL EN ÚBEDA
Por María Sánchez Fernández
En los primeros días de noviembre el Centro Cultural del Hospital de Santiago de Úbeda se ha visto colmado de música,
poesía, filosofía, humanismo, misticismo…
El día cinco, y en el gran Auditorio, fue inaugurada la Semana Sanjuanista en honor del poeta místico de Fontiveros
(Ávila) San Juan de la Cruz, Patrón Universal de la Poesía en Lengua Castellana, en la que han intervenido conocidos
músicos y grandes oradores venidos desde varios puntos de nuestra geografía mundial.
El programa de esta gran Semana encierra temas tan interesantes como la vida, obra y andadura de este inquieto fraile
carmelita que llegó al cenit de lo sublime con la sencillez de su palabra y pureza en su poesía.
Han sido unos maravillosos días dedicados al gran poeta carmelita que vino a vivir a Úbeda a un convento de su Orden.
para morir en una humilde celda muy cerquita del Guadalquivir en la madrugada del 14 de diciembre de 1591. Antes de
expirar se dice que repitió la última estrofa de su Noche Oscura:
“Quedéme y olvidéme;
el rostro recliné sobre el Amado,
cesó todo y dejéme,
dejando mi cuidado
entre las azucenas olvidado”
A San Juan de la Cruz
Patrón Universal de la Poesía en Lengua Castellana
¡Juan de la Cruz! ¡Divino enamorado!
Pequeño ruiseñor que dice amores.
Te derramas en trinos y candores
anegando los campos del Amado.
Tu música callada me ha calado
el alma de dulcísimos sabores,
y así, ya traspasada, sin temores,
mi soledad, sonora se ha tornado.
***
Quisiera de una forma muy sencilla hacer también mi
homenaje a Juan de la Cruz, mi poeta predilecto, con un soneto
que compuse hace algún tiempo y al que musicalicé.
¡Juan de la Cruz, mi amigo en la distancia!
Tu noche nunca ha visto mi alborada,
mas mi noche es tu noche, ¡oh dulce calma!,
que inunda los sentidos de fragancia
al borde de una fuente plateada,
y tu llama de amor me embriaga el alma.
En esta primera gran semana de noviembre, en el Centro Cultural del Hospital de Santiago no todo ha sido religiosidad, música y elevación del espíritu,
también el alma humana necesita a veces evadirse de lo sublime para hacerse ancha y grande, como la tienen los niños pequeños. Qué paradoja ¿verdad?
El día 5, a distinta hora de la apertura de la Semana Sanjuanista, en la Sala de conferencias Julio Corzo y con gran afluencia de público se presentó una obra
para niños y para personas que se sientan niños. Se trata del libro didáctico “CANCIONES INFANTILES”. Me siento muy orgullosa de ser su autora pues lo
he compuesto con todo el amor a los más pequeños.
A continuación incluyo la presentación que hago al principio del mismo:
Presentación
Queridos profesores y queridos niños: Cuando pensé escribir este libro de canciones infantiles, además
de moverme el deseo de reencontrarme con mi niñez —nunca se es tan feliz como cuando se es niño—,
también deseaba construir algo positivo, algo que aportara al mundo infantil un mucho de alegría; de
fantasía; con historias divertidas que se pudieran cantar y también gesticular.
A mí me parece que lo logré, pues fui ahondando y escarbando muy dentro de mí, y vi con alegría que
era muy posible encontrar —y lo encontré—, ese mundo maravilloso de colores y de inocencia que
dormía en mi interior desde hacía tantos años. Y lo desperté. Y lo saqué a la luz. Y aquí está. Y os lo
ofrezco con toda la ilusión del mundo, porque ahora soy una niña más que juega y se divierte con
“Pelusín”; con el perrito “Coco” —que es real—; con “Perico”, que siendo burro es amigo de una
mariposa; con don “Plimplim”, que vive en un jardín fantástico lleno de animalitos y de colores; con el
bravo “Filipón” que, en su barco pirata de velas amarillas, surca los mares en busca de aventuras; con el
pájaro y el pez, que son “Amiguitos” aunque nunca llegarán a abrazarse;
con “El conejito” que le gusta ir a la escuela; con el “Patito marinero”; con
“El pingüino” que baila en la nieve; con “El barquito de papel” que juega
con los delfines; con el “Osito goloso” y con tantos y tantos más...
También están las canciones que entran dentro del grupo más didáctico como son: “El reloj de mi papá” donde el niño puede
aprender, divirtiéndose, el movimiento de las agujas marcando las horas del reloj; la rotación del tiovivo, en donde se
persiguen, jugando, unos personajes a otros; en “La fiesta”, el pequeño toma conciencia de los distintos instrumentos
musicales, como son: el tambor, la pandereta, la flauta, el acordeón..., familiarizándose con ellos mientras juega
gesticulando; En “Mi burrito” sabrá qué es lo positivo y qué es lo negativo; “Mi Andalucía”, que resalta el colorido y la
estampa andaluza dentro de un aire de fiesta, donde despuntan, en los dos estribillos, unos toques de sevillanas —en esta
canción he querido hacer como un himno infantil a Andalucía—. Y “Las notas musicales”..., ¡ay!, cómo me recuerdan mis
primeras clases de solfeo recibidas de mi padre —tendría yo cinco o seis años—; mi padre..., gran músico y compositor, y
también un niño grandote, que pensaba, reía y se divertía como el más feliz de los niños. Desde estas páginas, desde lo más
hondo de “Canciones Infantiles”, que está en la pequeña alma de sus personajillos, mi más cariñoso recuerdo y homenaje
para él .
En esta canción: “Las notas musicales”, hermano a las siete notas del pentagrama con los siete colores del Arco Iris. Por
consiguiente, el niño se inicia en el mundo fantástico de la música, así como en el mundo también fantástico de los colores. La
Música es color. Y el Color es música.
Quiero resaltar —y también agradecer—, la valiosa colaboración de las Maestras de Educación Infantil María del Mar Navajas Fernández e Inmaculada
Colacios Moreno, que han estudiado y analizado con gran entusiasmo este libro de canciones, aportando con sus conocimientos el carácter pedagógico que
yo pretendía para mi trabajo. Puntualizaría. Más bien que carácter pedagógico —que suena como más técnico y más serio en un libro infantil— creo que
sería más entrañable decir el calibre preciosísimo de unas profesionales que han elegido la hermosa y difícil tarea de ayudar al niño —al hombre—, entre
fábulas, juegos y canciones, a ir escalando, desde los primeros peldaños, la inmensa escalera multicolor y multiforme que es la vida.
También quiero destacar la dedicación entusiasta de mi hermano Emilio, pues gracias a su infinita paciencia y cariño este Cancionero ha tomado forma.
Deseo con toda mi alma que mi libro “Canciones Infantiles”, entre de lleno en el corazón de todos vosotros.
María Sánchez Fernández
Úbeda – España – Noviembre de 2011
eisFluências Dezembro 2011 | 13
EL ESTIGMA O SEÑAL DE CAÍN
LA VIOLENCIA DE GÉNERO, DE-GENERÓ EN VIOLENCIA
Por María Cristina Garay Andrade
Podemos aseverar que la violencia es una acción destructiva hacia
múltiples individuos al mismo tiempo o hacia una persona en
particular y puede dispararse de varias formas ya sea físicamente
o psicológicamente pero la finalidad es la misma aplicar con
frenesí el fanatismo de demolición de su autoestima o el
exterminio físico del individuo.
Hablar en esta fecha que próxima al 25 de noviembre como día
internacional de la violencia hacia la mujer instituyo
afirmativamente que la debemos enfocar en una realidad de
violencia mucho más generalizada y extendida en todos los
ámbitos de la sociedad colectiva.
Sorprendentemente la violencia es una depravada cadena
indestructible que sobrecargamos desde los tiempos más remotos
hasta la actualidad, difícilmente podamos cortar con ella en la
medida que el hombre no tome otro camino basado en el respeto
por la vida misma y renovar valores de su propia esencia que se
fundamenten en un generoso porvenir colmado de nobleza, amor
en todas sus jerarquías, y que tristemente pareciese hablar de una
utopía irracional, pero insisto que no hay otro camino que nos
lleve a la paz sino modificamos los parámetros en los que nos
manejamos en la actualidad, que tienen una connotación de
negatividad terminante.
Los sistemas económicos mundiales están llegando al final de su
mezquina efectividad. La acumulación de bienes especialmente
financieros por grupúsculos inescrupulosos de acumulación
indiscriminada de riquezas, que al final de cuentas son
quiméricas, es lo que produce en las sociedades la división
insoslayable entre los globalizadores y globalizados, porque de esa
globalización de la que tanto nos hablan no es otra que una vil
mentira de los poderosos manejadores del mercado financiero
con bolsas repletas de valores que solo ellos conocen.
Muchos o algunos podrán poner en tela de juicio mis palabras,
más aun también puedo aseverar la coincidencia de numerosos
convencidos que coinciden con este solapado criterio
encubiertamente enigmático.
Entre la desconfianza por la pérdida de los capitales acumulados
indiscriminadamente o como la consecuencia de su propia
inseguridad a la pérdida de esas exuberantes sumas son las que
produce el caldo de cultivo de la violencia y los que por
resentimiento no toleran vivir en la marginación siendo
conscientes de que ese estado es provocado por los mencionados
acumuladores anteriormente, es la principal consecuencia para
desatar un clima de hostilidad generador indiscutiblemente de
beligerancia próxima a detonar en un caos de hartazgo 12natural.
Todo este mundo así estructurado es el que provoca permanente
desasosiegos, pánicos, perturbación en los estados de ánimo,
exponiendo a los individuos que componen esta sociedad belicosa
dejarla al borde de una explosión demográfica de indignación
humana y de la cual no sabemos como podría terminar realmente
su control. Porque cuando los pueblos se cansan, hacen tronar el
escarmiento. La deshumanización puede explicar a la perfección
la justificación y la propagación de la violencia. Terriblemente la
atmosfera social esta contaminada por el pánico, el crimen y la
violencia.
Vivimos lastimosamente en una era colosalmente violenta,
potencialmente latente en la historia del mundo, dejar de
reconocer esto sería una forma de ceguera social arriesgadísima.
Imposible es dejar de ver en los titulares de los medios de
comunicación masiva, periódicos, revistas sensacionalistas, y
programas televisivos como la violencia en todas sus variedades
ocupa siempre por lo general las primeras planas, o noticias
estridentemente exageradas de acuerdo a la gravedad que sea
considerado el caso.
¿Podemos acaso romper con esas cadenas de eslabones
fuertemente enlazados históricamente y encadenados en la
sociedad a modo de grifos legendarios como algo común y
corriente? Nos hemos acostumbrado a convivir con ellos y
tomarlos como un reglamento de nuestras vidas.
Lamentablemente tenemos como vieja costumbre instaurada
socialmente que se trata de moderar ciertos hechos monstruosos
a nivel d e resultados de procesos psicológicos individuales y
aislados, comúnmente ante estos acontecimientos siempre se
trata de encontrar un culpable antes de asumir una situación
generalizada. Pero las guerras no están compuestas por un solo
individuo desequilibrado.
La violencia en nuestros días es en sí un tema patéticamente
agobiante. Podemos tomar como ejemplo los riegos que corren
jovencitas y mas de regreso a determinadas horas del anochecer.
Consideran que deben estar prevenidas para defenderse de
cualquier robo o ataque sexual, así como la brutalidad y violencia
que se presenta con frecuencia en calles y edificios utilizados
como ratoneras para efectuar cualquier inmoralidad explicita a
una persona. Quienes ejecutan estos actos de crueldades son
generalmente jóvenes alienados por la droga o por la formación
impartida por los medios masivos formadores de violencia
generalizada implícita la cual inconscientemente penetra en el
inconsciente humano dejando su rastro siniestro de esta es la
única forma de coexistir y de convertirse en un superhéroe.
Por que ellos a su vez han sido expuestos a la estimulación de
medios masivos de propagandas y diversión que en continua e
insistentemente se les presentan imágenes de violencia en todos
los contextos e indumentarias posibles. Ninguna civilización
anterior llego a un grado de brutalidad semejante de enseñanza
como la que vivimos actualmente.
De manera que si queremos estudiar la solución para evitar que se
frene definitivamente esta sociedad de violencia generalizada
para lograr un mundo no-violento es preciso e imperativo que
dirijamos la mirada hacia el futuro que queremos, pero sin duda
dejando atrás definitivamente el pasado de la barbarie, con la
grave dificultad de limpiar nuestras mentes del pasado reciente y
esto no resultará nada factible. Forjar un mundo nuevo no
resultará viable es necesarios deponer mentalidades formadas
bajo esos conceptos y despojar sentimientos negativos creados
para fermentar la cultura del odio, rencor, sed de venganzas,
furias, antipatías, hostilidad, humillaciones jamás superadas,
envidias y racismo colmados de animadversión. Resulta ficticio
verdad pero no hay alternativa alguna que no se logre esa
consecuencia si pretendemos un mundo realmente de paz.
Ya no nos resulta posible hablar de violencia de género hacia la
mujer con exclusividad. La violencia se ha convertido en una
característica de convivencia masiva que podemos vislumbrar
con solo detenernos por pocos instantes en la rutina diaria como
peatones de paso sin intervención en las escaramuzas comunes y
diarias que en muchos casos resultan motivos realmente
intrascendentes fuera de pretextos embarazosos.
Cave aclarar en este tema de tanta magnitud, que los niños no
están dotados de una mentalidad destructiva, pero la industria de
los juguetes están haciendo todo lo posible para que la adquieran,
en lo que simplifica su mensaje que el asesinato es divertido y la
guerra un placer, solo con observar los video juegos. Estoy
convencida que si las suculentas sumas de dinero que se emplean
en todo el mundo para armamentos y guerras se destinaran en
regiones azotadas por el hambre y la pobreza en sus peores
formas, muchos de estos flagelos se eliminarían definitivamente.
Inclusive pequeños gastos servirían para aliviar muchas de estas
necesidades. ¿Pero como cambiar esta cultura de destrucción
masiva? ¿Como hacerle entender al hombre impío que los fines de
inversión planetaria pueden aplicarse de otra forma mas
humana? Y mucho mas al servicio de la humanidad misma!!!
¿Cómo hacer entrar en razones a estas bestias andariegas? Matar
a no combatientes incluyendo mujeres y niños se ha convertido en
una práctica común y corriente y de por mas agresiva, los civiles
nos hemos convertido en el blanco principal de cualquier
contienda bélica y seremos quienes suframos mayor número de
bajas.
El eslabón de la violencia generalizada reúne un sinfín de
circunstancias, por ejemplo podemos citar el trabajo de esclavos
que tiene una descomunal y aun subestimada importancia como
medio de matar personas por agotamiento, explotación de niños
por debilidad resultan solamente como métodos para obtener
ganancias económicas a costa de la vida misma.
No se trata entonces de un problema exclusivamente de vidas
14 | eisFluências Dezembro 2011
expuestas a la muerte casi segura sino también a que esas muertes den como
consecuencia utilidades comerciales.
La gente superflua, los inadecuados, los improductivos, los pacientes con
enfermedades mentales en grados graves, lisiados, mutilados, los
indeseables, todo este cuadro se comprende como la mejor identificación y
la exterminación del débil.
Nosotros los poseedores de un gran poder y prosperidad, llenamos la mente
de los niños con una corriente interminable de imágenes de violencia a
menudo atractiva y siempre excitante. Si se quisiera hacer una lista de todas
las variedades de métodos de asesinar, torturar, herir o matar, no se
encontraría un repertorio más completo que el que presentan los medios
modernos de comunicación de masas y en especial la televisión.
En consecuencia a todos estos resumidos antecedentes hablar de violencia
de género hacia la mujer resulta corolario de la vida cotidiana que vemos a
diario. Sintéticamente la cantidad habitual de feminicidios que se
incrementan en forma indiscriminada se presentan bajo la brutalidad, la
tortura, el sadismo, la conexión entre la crueldad y la sexualidad y la
debilidad frente a la brutalidad.
La violencia es presentada en la pantalla de televisión como método o forma
de vida normal y corriente. Por lo general la representación del hombre resulta violento y victorioso. El culto al héroe es un fenómeno
natural y se ha convertido a consecuencia en el culto a la violencia más inhumana.
María Cristina Garay Andrade
Monte Grande – Buenos Aires – Argentina
Noviembre 21 de 2011
http://mariacristinadesdemissilencios.blogspot.com/
UNIVERSO SOLITARIO
María Cristina Garay Andrade
PORQUÉ TE PIENSO TANTO
María Cristina Garay Andrade
En la soledad del universo me siento bañada de estrellas
La noche de afarolada luz comulgo luces junto a ellas
No hay un semejante compartiendo coincidencias
Y extraño entonces algunas sentidas ausencias
Refleja tu retirada un toque en mi melancolía
Que será de tu vida tan lejos ahora de la mía
Qué del crepúsculo sin rosas de amor florecidas
Por donde andará tu risa entre nubes escondida
Dios me mira mientras regalando milagros de vida
Entre los matices de verdes y las flores adormecidas
Con sonidos de selvas abrigándose siento apagarse el día
Y me pregunto en el ocaso ¿que fin entonces cumple la mía?
Cargando solitaria esta angustia del querer
Abandono tan sentido que no puedo comprender
Es que te pienso tanto en el desierto de tus manos
En el calvario solitario de tus recuerdos lejanos
En este universo de misericordias mi pequeñez implora
La plenitud de mis ojos que incansablemente adora
Tanto mundo desaparecido, tantos afectos en mi abrigo
Que en esta soledad me pregunto y ahora que hago conmigo
Qué evoca la nostalgia el sin sabor de tu partida
Que de pesar se carga la doliente anochecida
Deshojan vacías jornadas de hastío las postrimerías
Por la ventana lluviosa en las madrugadas sombrías
Desde mis silencios fue mi forma de ser insólitamente
Amé sin ser amada, amé incondicionalmente
No importa si estoy triste, si el sonido es la calma
Guardo en tanto camino inmortales amores en el alma
Cierra el silencio definitivo la frecuencia
Palpitante queda retenida en tu ausencia
Quisiera volver a vivir aquellas locas travesías
Que inspiraban los manantiales de mis poesías
Deja los plomizos para hermanar al sufrimiento
Que en gamas felices lo convierta servil el viento
Define del arcoíris a tu paso uno que con alegría atesores
Eligiéndolo sencillo y que llene tu vida dé flores multicolores
Si soy parte en el pasado de tu olvido
Consciente de percibir el haberte perdido
Aun sigo amándote con sutil encanto
Debe ser entonces el porqué te pienso tanto
Monte Grande - Buenos Aires – Argentina
Monte Grande _ Buenos Aires – Argentina
Al principio vienen necesariamente a la mente la fantasía y la fábula. Desfilan después lo
cálculos matemáticos, y sólo al final la realización corona el pensamiento.
Konstantín Eduardovich Tsiolkovski (1857-1935) Científico e inventor ruso
eisFluências Dezembro 2011 | 15
BRINCAR É CRIAR VÍNCULO(¹)
Por Abílio Pacheco
Em Belém (do Pará), o Natal tem uma data para chegar: logo após o Re-círio. Duas semanas após o círio, é o dia em que se faz algo muito
semelhante ao dia de reis. Todo e qualquer elemento decorativo, principalmente o cartaz de nossa senhora colocado na porta de casa, é
retirado.
Eu fiz isso este ano e fui zanzar numa importadora pertinho de onde moro. Sai carregando comigo uma palestra que havia assistido em
DVD. Perca tempo com seu filho, de Pe. Léo – Canção Nova. Carregando comigo na memória e junto com ela uma cena que havia visto no
condomínio há poucos dias. Sabe esses carros de brinquedo que cabe a criança dentro? Pois bem, vi um desses a controle remoto. A minha
hipótese de que os pais compram brinquedos para si depois que os filhos nascem já havia encontrado respaldo ao ver pai e mãe brincando
com um helicóptero de modelismo junto com o filho de 14 meses.
Ouvindo as lições de Padre Leo sempre vindas com boas narrativas ou interpretações de narrativas bíblicas ou não (no DVD citado, a
história da chapeuzinho vermelho interpretada sob a ótica das relações familiares é digna de nota), fez-me – mais tarde – lembrar-me de
um episódio quando eu lecionava numa escola particular em Marabá.
Eu lecionava redação e a proposta de atividade do livro era para ser feita junto com os pais, aliás com o pai. Os pais desses meus alunos
eram muito ocupados e não tinham tempo a perder com baboseiras de escola ou de ficar de conversa com os filhos. A atividade, portanto,
tinha tudo para não dar certo. Só o autor do material didático não havia percebido isso. Alguns alunos nitidamente haviam falseado a
entrevista (eles mesmo me confessaram depois), poucos realmente haviam feito a atividade com o pai, mas tinha uma menininha
tristezinha que não fizera. Professor, papai é muito ocupado.
Fico pensando hoje o quanto a gente pode ser grosseiro, indelicado e inconveniente. Eu fui. Olhe, seu pai tem uma secretária, não tem? Ela
respondeu que sim. Pois bem, ligue para a secretária do seu pai e marque com ele uma hora.
Eu passei pelos corredores da importadora observando os brinquedos. Muitos brinquedos novos pecam pela falta de possibilidade de
interação da criança com os pais ou com outras crianças. Existem brinquedos que são mesmo para o divertimento dos pais e não dos
filhos. O carro a controle remoto com a criança dentro parece mais uma extensão dos brinquedos infantis dos pais, que algo para a
diversão da criança. Ademais não favorece o contato: os pais controlam o carro à distância e o filho fica sozinho no cockpit balançando-se
feito um joão teimoso.
Neste Natal e também no decorrer do ano, dê dois presentes para seus filhos: um brinquedo que possibilite o contato com outro ser
humano e dê a se mesmo de presente para brincar com ele. Afinal, brincar é criar vínculo (¹).
¹) A palavra brincar vem do latim vinculum, que significa ligação, atadura e passou pelo seguinte processo de modificação até chegar
no português atual: vinculum > vinculo > vinclo > vincro > vrinco > brinco > e o verbo brincar.
Abilio Pacheco, professor, escritor.
www.abiliopacheco.com.br
Memórias de Março
(A Paulo Cardoso)
Abilio Pacheco
Luzes da Cidade
(A Charles Chaplin)
Abílio Pacheco)
Quando amanheço... leito manso e lento
Nesta manhã sob este sol silente
A cidade desperta calmamente
Ao meu olhar atônito e em tormento.
Deambulo em trapos pelas ruas...
E vejo você, serena e cega, alva e bela,
com uma cesta plena de flores claras.
Uma canoa tangida pelo vento
Com as lembranças da última enchente
Em mim desliza e a cidade sente,
À margem, nos degraus, um leve alento.
Mas a tristeza morre neste instante
Quando, no Pontal, o Itacaiúnas
Vem, farto de canoas, desaguar...
E sou, portanto, este olhar brilhante
Cheio de lembranças, de botos, de buiúnas...
Que corre lento assim de encontro ao mar...
Súbito amo-te! como uma criança a outra.
Simples como a rosa branca
que recebo e ponho na lapela.
Faço de tudo para que
— mesmo vendo-me trapalhão —
você contemple as luzes da cidade.
In Mosaico Primevo.
Belém/BR
Retrato II (A Cecília Meireles)
Abílio Pacheco
In Mosaico Primevo.
Belém/BR
No Prelo
Abilio Pacheco
Se a minha palavra é a minha busca
de uma vida inteira, em todo mundo
e ela dorme encantada à sombra
de um livro raro, quiçá
encontrá-la-ei num alfarrábio,
num sebo, numa biblioteca pública...
Quem sabe minha resposta ainda
esteja no prelo.
In Mosaico Primevo
Belém/BR
Eu também não tinha este rosto
assim tenso, assim denso, assim calvo,
nem olheiras e rugas
nem cabelos alvos.
Eu não tinha estes olhos de agora
tão rubros, tão turvos, tão vagos,
nem esta mão incerta,
nem dedos fracos.
Mal venho notando esta mudança
que lenta, constante e suave
do espelho vem desbotando
a minha face.
In Mosaico Primevo – Belém/BR
16 | eisFluências Dezembro 2011
A ELA, POR ELA, PARA ELA E COM ELA
Por Petrônio Souza Gonçalves
Um dia li pichado em um muro do tempo, os versos que não se perdem mais: “Deus fez primeiro o homem e depois a
mulher, porque antes de uma grande obra, se faz um rascunho qualquer”. Os homens a procuram, muitos se perdem
por ela, outros tantos se descobrem ao seu lado e para bem poucos ela se revela. Ah, nunca se perca de mim... Caminhe
sempre ao meu lado, desse lado ensolarado que achei para namorar... Cigana, mãe, diva, musa, santa, mártir ou
donzela, está em tudo e tanto, acima e dentro de cada um de nós. Ouço seu sofrido canto na hora do parto sentindo a dor
futura do novo rebento. Já menina, brinca de casinha. Tem a nobreza de ser entrega e resignação. Triste como um
girassol em dia nublado, deu ao universo o seu maior bocado, trino, uno, múltiplo e indivisível. Quanto do seu amor é
perdão que Deus, toda noite, sopra-lhe o coração. O principio de todos os mistérios, a ligação do invisível elo. Derramo
em meus versos todas as minhas lágrimas, essas que estão aqui separadas, represadas, que se evaporam, perdidas no
tempo sem um afago seu. Sou nada, vivo a seguir sua pegada. Sua fenda é o principio do tempo, o portal da história. Só
as mães são felizes, sua alma precisa de cicatrizes... Ah, quantas tardes amanheci com os cabelos negros da noite caindo
sobre meus ombros. Outras, me trazia poemas em balaios de flores, doces e amores. Era a divindade encarnada
segurando a mão namorada. Como te amo, e nem sei quanto o tanto que vivo por ti. Mulher, início e fim de todos os
impérios, fonte original das grandes obras da Humanidade. Ao redor de seu pequeno ponto, gira o mundo. Sem ti, a
palavra seria nada, poesia apagada, sentimento negado, dor impensada. Sem ti, haveria paisagem, mas não haveria poesia. Ao seu lado aprendi a
ver não o reto, mas a amplitude do caminho. Foi ao seu ombro que chorei quando seu dedo me descortinou a paisagem. Era bem menino.
Parafraseado o poeta: de dia fico admirado seguindo os passos delas. À noite fico acordado pensando nelas, depois durmo para sonhar com elas.
Fez-me ver o todo quando enxergava o nada. Abriu-me a porta que sempre me pareceu fechada. Fez-me menino, homem, e até um tolo que
acredita em versos. Como é bom poder desfrutar os seus mistérios. Muito poderia se dizer de ti, mulher. Mas todo o universo se cala diante de seu
dom de reinventar o mundo. De dar aos homens os sentimentos mais profundos. De, com uma lágrima, parar o tempo. Muito se poderia escrever,
mas nada, nada, poderia descrever a sublime razão de ser: Mulher!
***
“Gosto de pontes e horizontes...
Gosto de me perder e saber que posso voltar!”
(Petrônio Gonçalves)
QUINTAL DA POESIA
Petrônio Souza Gonçalves
Ele ia tecendo as canções e colocando-as para secar no varal do tempo. Molhadas de sentimentos, ficavam para lá e para cá, ao sabor dos ventos. O
vento vinha, soprava e elas cantavam. A tarde era uma sinfonia, enquanto as canções faziam sua festa no quintal da poesia. A valsa bailava, o
samba requebrava e o baião rodopiava pelo terreiro inteiro. O sol era apenas uma clave, na pauta afinada do horizonte infindo.
Petrônio Gonçalves
Belo Horizonte/MG/BR
http://petroniosouzagoncalves.blogspot.com/
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
Padroeira de Portugal e sua História no Brasil
Por Augusta Schimidt
Foi nas cortes celebradas em Lisboa, no ano de 1646, que D. João IV, El Rei, declarou a Virgem da Conceição, Padroeira
de Portugal.
Em todo território lusitano, assim como em suas colônias, a festa da Virgem Conceição, tornou-se oficial e obrigatória.
No Brasil, a historia da Virgem Imaculada da Conceição, teve origem em meados de 1717, quando chegou a
Guaratinguetá a notícia de que o conde de Assumar, D. Pedro de Almeida e Portugal, governador da então Capitania de
São Paulo e Minas de Ouro, iria passar pela povoação a caminho de Vila Rica (atual cidade de Ouro Preto), em Minas
Gerais. Desejosos de obsequiá-lo com o melhor pescado que obtivessem, os pescadores Domingos Garcia, Filipe
Pedroso e João Alves lançaram as suas redes no rio Paraíba do Sul. Depois de muitas tentativas infrutíferas, descendo o
curso do rio chegaram ao Porto Itaguaçu, a 12 de outubro. Já sem esperança, João Alves lançou a sua rede nas águas e
apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem a cabeça. Em nova tentativa apanhou a cabeça da
imagem
A imagem retirada das águas do rio Paraíba em 1717, é de terracota e mede quarenta centímetros de altura. Em estilo
seiscentista, como atestado por diversos especialistas que a analisaram (Dr. Pedro de Oliveira Ribeiro Neto, os monges
beneditinos do Mosteiro de São Salvador, na Bahia, Dom
Clemente da Silva-Nigra e Dom Paulo Lachenmayer), acreditase que originalmente apresentaria uma policromia, como era
costume à época. A cor de canela com que se apresenta hoje deve-se à exposição secular à
fuligem produzida pelas chamas das velas, lamparinas e candeeiros, acesas pelos seus
devotos.
Nota: A Catedral Metropolitana de Campinas, inaugurada em 1883, localiza-se na Praça
José Bonifácio - popularmente conhecida como Largo da Catedral, no centro da cidade de
Campinas, no interior do estado de São Paulo, Brasil. É dedicada a Nossa Senhora da
Conceição e foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (CONDEPHAAT) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural
de Campinas (CONDEPACC). O edifício é tido como o maior no mundo construído em
taipa de pilão, com seus 4.000 m², e também um dos mais altos.
Dezº/08/2011
Augusta Schimidt
Campinas/SP/BR
http://www.coletaneadosaber.net/
eisFluências Dezembro 2011 | 17
CONSERVATÓRIA
Por Jorge Cortás Sader Filho
Acompanho um passeio que vai visitar, de sexta-feira a domingo, fazendas
do tempo imperial em Conservatória, pequena cidade de quatro ruas,
situada no norte fluminense.
Conservatória, como cidade, é pequena, mas sua área é bastante grande,
quando envolve centenárias fazendas que produziam café nos tempos
imperiais.
Sinto-me deslumbrado; a palavra não pode ser outra. As fazendas estão
impecavelmente conservadas e restauradas, e ando no tempo. Vejo uma
mesa de oito metros feita por uma só tábua de madeira nobre. Os donos, um
simpático casal já idoso, encarregam-se de fazer as apresentações do lugar.
Na mesa de oito metros já se sentaram o Conde D'Eu e a Princesa Isabel. A
sede tem setenta e oito janelas, e penso imediatamente quem limpa aquilo
tudo agora. Quando produzia café, eram os escravos, hoje possivelmente é
alguma firma especializada, pois esta é apenas uma das fazendas do lugar. Os
donos silenciam e não comentam nada sobre o assunto.
Conheço outras fazendas, não imponentes como esta, mas que nada devem
em matéria de conforto. Em todas é servido um lanche. Bolos e queijos
deliciosos, e champanhe modesto: Veuve Clicquot, na temperatura certa, certíssima, taça de cristal antigo, leve e para a minha satisfação,
a quantidade é farta, podendo repetir.
Se insistir com a descrição das fazendas, acabo fazendo uma monografia.
Um bom passeio pela cidade vai mostrar bem o lugar onde estou. Ar puríssimo, nada de carros circulando nas ruas, jardins arborizados,
ruas calçadas com pedras, trabalho invejável. A temperatura é de 20 graus centígrados. Sem edifícios. Em cada esquina, poucas, o nome
de um compositor ou poeta. A tabuleta indicativa tem pauta pequena, onde estão escritas músicas famosas. A cadeia, vazia.
Vejo passarem homens de idade e alguns poucos jovens, que estão no Rio de Janeiro, estudando. Grande parte deles carrega o violão e um
sorriso franco.
Acordes são ouvidos, pequenas cantorias, afinações dos instrumentos. Muitos estão sentados com um caderno à frente. Poetas. Como
têm poetas aqui. Poetas e seresteiros. Continuamos andando e entramos numa loja. A especialidade é a venda de cerâmica muito bem
feita, objetos de primeira qualidade. A maioria, feita em Conservatória mesmo. Um casal de idade, os donos da loja nos dão bom dia e
continuam os dois com papel escrevendo. Ficamos livres para olhar as peças à vontade, sem o vendedor nos seguindo e perturbando.
Escolhidas as peças, fomos no balcão pagar. Recebem sorridentes, agradecem e perguntam se vamos à seresta. Claro que vamos!
Aproveito a parada e vejo se na minha mochila estão bem acondicionadas as duas garrafas de cachaça que comprei numa das fazendas,
produção artesanal, envelhecida no tonel de carvalho que foi usado para fazer vinho tinto. Estão perfeitas, e não vou abrir nenhuma, até
chegar em casa. Abrir para que, se em cada bar – parece que têm muitos – parece, somente. Entro num e como a hora do almoço estava
próxima, peço uma especial. Não é tão boa como a que tomei e estou levando, mas de ruim não tem nada.
O almoço? Feijão cozido na panela de barro, fogo a lenha, com os complementos típicos: arroz, farofa pura ou com couve, farofa de todos
os tipos, torresmo, linguiça, carne seca, meu Deus, é comida demais. Vou devagar. Faço um prato pequeno. Qual! Repeti duas vezes!
Como deixaria de fazer extravagância? Feijão não combina com vinho. Cerveja, que venha...
Depois de um sono de duas horas, banho e roupa limpa, mais elegante.
Fomos todos para a praça; o tempo estava bom e permitia que os violões, violas e flautas dessem início a serenata. Músicas que eu não
ouvia há muito tempo eram cantadas num magnífico coro. Parava a musica e um poeta dizia seus versos.
Tudo terminou com “O luar do sertão” de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco. Eu pensei que não mais cantaria esta música
com coro e acompanhamento. Fiz muitas subidas em montanhas, quando jovem, e nas mais fáceis, as que não têm escaladas, é comum
uma espécie de fogo do conselho, onde escoteiros e bandeirantes rezam, recitam poesias e cantam alegremente. Sempre fui uma das vozes
mais altas, tomado pelo entusiasmo. Repeti com muito prazer.
Conservatória... Breve eu volto.
Jorge Cortás Sader Filho
22/11/2011
http://aduraregradojogo24x7.blogspot.com/
A EDUCAÇÃO VAI MAL
por Jorge Cortás Sader Filho
Não me agrada coisíssima alguma estar fazendo coluna como esta.
Mas calando, faço pior. Compactuo com o desmando federal, estadual e municipal, desmando grave, como o total abandono em que se
encontra o ensino no país.
Os professores são desprezados, maltratados e mal pagos. Não tomando cuidado, são agredidos moral e fisicamente pelos alunos. A
maioria deles sai do primário ser saber ler e escrever. Se alguém escrevesse isso há vinte anos, seria considerado doente mental em delírio.
Hoje, os doentes mentais são outros. São os donos do poder.
Não é possível que num país que tenta levantar a cabeça ocorra tal fato. Mas é a realidade e todos sabem disso. Ainda tem mais, que é o
problema do tóxico dentro das escolas. Aqui o fato se torna extremamente grave. É difícil saber se a quantidade de usuários é grande, ou
está limitada a um grupo de moleques.
Conto um caso sério. Escrevo para vários sites literários. Lendo para comentar, a pedido do autor, deparei-me com um “haverão dias de
trevas...” Imediatamente comuniquei o fato ao poeta, com cuidado para não melindrar.
Veio a resposta e a correção foi feita. “Há-verão dias de trevas...” e seguiu o poema. Realmente, os dias foram de trevas mesmo, como
acontece com o nosso ensino fundamental. Convém não esquecer que este disparate ocorreu num site literário. Daí imaginamos o que vai
pelas escolas.
Mas está tudo dentro da normalidade. Como digo sempre, povo analfabeto e desarmado, é fácil de ser controlado.
Jorge Cortás Sader Filho
18 | eisFluências Dezembro 2011
DIVULGAÇÃO
POETAR CONTEMPORÂNEO
Colectivo de Poetas Contemporâneos Lusófonos, Vol I
Foi lançada em Lisboa, por Edições Vieira da Silva, no passado dia 15 de Outubro a obra poética POETAR
CONTEMPORÂNEO - Colectivo de Poetas Contemporâneos Lusófonos, Vol I, que contou com a
participação de cerca de 100 autores.
Nesta obra poderá o leitor encontrar variadas formas de expressar sentimentos e emoções, num aglutinado
poético de diferentes sensibilidades, que, extraídas do mais íntimo dos poetas, ultrapassam a mera vivência
objectiva, levando-nos a conceitos mais elevados, no âmbito da espiritualidade e da defesa primordial do amor,
não só individual, como universal. Cada leitor as interpretará segundo a sua visão e modo de sentir a existência.
Divulgar sentires poéticos, emanados de seres que conseguem ver para além da instalada vulgaridade materialista
do mundo que nos cerca, faz-se cada vez mais necessário, como contraponto às linhas desumanas, ambiciosas e
insensíveis que pretendem impor-se neste mundo conturbado em que vivemos. É nesta óptica que vos aconselho
momentos de lazer e paz na leitura deste livro, onde tenho o prazer de integrar as minhas humildes letras. Nele
encontrarão também a qualidade profissional de uma editora portuguesa, na apresentação requintada de suas
obras.
De ressaltar o pendor altruísta que move Editora e Autores, fazendo a doação de todos os direitos
de autor a uma obra particular de solidariedade social que é a “AJUDA DE BERÇO”.
http://www.ajudadeberco.pt/ab/
Ao adquirirem este livro, estarão a contribuir para que algumas crianças entre os 0 e os 3 anos de idade, beneficiem de mais amor e protecção,
melhores condições de vida e desenvolvimento.
O Livro pode ser adquirido através da Editora - www.edicoesvieiradasilva.pt – ou numa livraria perto de si, em Portugal. (vide lista de
livrarias no site).
Lisboa/Portugal
Carmo Vasconcelos
(uma autora no “Poetar Contemporâneo”)
NÃO MAIS QUE DOIS MINUTOS
por Marcelo Sguassábia
Caros encarnados iludidos, só tenho dois minutinhos para permanecer neste plano atrasado de vocês e transmitir uma ou outra notícia que dê
rumo e alento à crescente legião de humanos sem fé. Por isso falarei o que for lembrando e que seja de relevância, no escasso tempo que me é
permitido.
Chico Xavier exerce função contrária à que se dedicava quando estava no horrendo planetinha de vocês, ou seja, psicografa os pensamentos e
lamúrias dos vivos dirigidos aos que já foram dessa pra melhor.
Hitler serve uma reconfortante canja diária a todas as vítimas do holocausto (são mais de cinco milhões de refeições a cada 24 horas, o que
transformou o seu sono eterno em insônia eterna). Além disso, o dito cujo sofre de LER, devido ao incessante movimento da mão direita levando a
colher do prato à boca dos ex-prisioneiros. Por compreensível falta de tempo, o monstro nazista não é frequentador assíduo das barbearias
celestes, e seu célebre bigodinho hoje rivaliza com o de Nietzsche.
Suas orações-decoreba são inúteis, pois se perdem nos círculos do purgatório muito antes de alcançarem o mais rasteiro dos planos superiores. É
claro que um Pai Nosso bem rezado opera milagres, mas quase sempre é recitado no piloto automático. Não percam mais tempo com fórmulas e
mantras, abram o coração e digam o que querem dizer do seu jeito. Dá muito mais resultado e não cansa a beleza do santo de plantão.
Bin Laden não chegou onde vocês imaginam que esteja, ou seja, no inferno não há nem sinal do ex-amiguinho do Bush. Tem alguma coisa errada
na informação que seus elementares meios de comunicação difundiram.
Darwin tem passado os últimos cem anos tentando entender e codificar a criação do mundo em 7 dias, pois foi isso o que de fato aconteceu, por
mais que ele relute em admitir. O louvado cientista britânico debruça-se numa teoria que denomina provisoriamente de “Evolução dos Espíritos”,
e não mais das espécies. Aliás, lá em cima o Charles Darwin não desgruda da Gioconda, aquela do famoso sorriso enigmático que Da Vinci
perpetuou no Louvre. Diga-se de passagem que o tal sorriso da moça não tem nada de enigmático, pelo menos depois de morta, embora o Darwin
ache lá sua graça. Falar em Da Vinci, o multimídia do Renascimento, ultimamente anda morrendo de rir dos códigos, significados ocultos e
símbolos maçônicos presumivelmente embutidos nos seus quadros. Diz que esse tal de Dan Brown é um zombeteiro de marca maior, a quem o
Filho do Homem e Maria Madalena irão chamar pra uma conversa séria depois que bater com as botas.
Michael Jackson descobriu que é na verdade fruto da relação extraconjugal que Miles Davis teve com uma pipoqueira carioca, que por sua vez era
tida e havida na Cinelândia como amante do Nelson Cavaquinho. A roupa suja ainda está sendo lavada, porém aos poucos os ânimos dos
envolvidos vão se serenando com a intercessão de Cleópatra. Contudo, a forma como o rebento nascido em Madureira foi parar no Jackson Five
permanece um mistério a ser elucidado.
Quanto à anunciada proximidade do fim do mundo, que alguns vigaristas anunciam como sendo favas contadas, é preciso que se diga que há um
fundo de verdade na boataria, já que…
Opa…. espera aí, agora não, eu preciso terminar… mas já passaram dois minutos? Devagar, não me puxa, deixa pelo menos eu me despedir…
_______________________
Marcelo Pirajá Sguassábia é redator publicitário e colunista em diversas publicações impressas e eletrônicas.
www.consoantesreticentes.blogspot.com (contos e crônicas)
www.letraeme.blogspot.com (portfólio)
eisFluências Dezembro 2011 | 19
A VOZ DOS POETAS
PORTUGAL/BRASIL
MÚTUO AMOR
A OUTRA FACE
Amilton Maciel Monteiro
António Castelbranco
Ó Deus que nos concedes este mútuo amor,
que dá encantamento lindo à nossa vida,
queremos nestes versos te prestar louvor
e agradecer a graça que é de ti fluída!
Esquece o teu passado, olha o presente,
instante que não mais consegues ter,
fugaz na transição do tempo ser,
futuro que se anseia e não se sente.
Anima muito e sempre este nosso ardor!
Que nossa caminhada seja revestida
de um afago recíproco, revelador
do verdadeiro amor que em ti tem a guarida!
As lágrimas toldando a tua mente,
memórias agarradas de sofrer,
com agulhas de sangue vais coser
as mágoas desse tempo já ausente.
Que possamos viver em constante alegria,
felizes com o que temos e esta vida encerra,
amando-nos de fato em nosso dia-a-dia.
Da dor assim liberta, podes ver
quão rica te tornaste no viver,
quão forte transformaste a tua vida.
Por certo é o prenúncio da eterna ventura,
ainda maior que esta que nos dás na terra,
conforme prometeste à humana criatura!
Nessa doce lembrança doutro amor,
anseias novamente por penhor...
com minh'alma não mais serás ferida.
São José dos Campos/BR
Lisboa/Portugal
UM VERSO PERFEITO
SER LIVRE
Sá de Freitas
Tito Olívio
Por ser poeta minha mente avança,
Desde há muito, buscando um universo,
Que se agasalhe, num perfeito verso,
Cheio de fé, de paz e de esperança.
Ser livre, para quê, se ninguém é?
As aves só o são parcialmente.
Pena é que ande enganada tanta gente,
Porque só acredita quem tem fé.
Um verso que ao descrente dê confiança,
Dê compaixão ao coração perverso;
Que salve o amor, no ódio submerso,
E retire, do mau, qualquer vingança;
Livre era o escravo, a trabalhar de pé,
Mas só de respirar, se lho consente
O dono que mandava, mesmo ausente
Da roça onde crescia o seu café.
Que mostre, sem errar, o rumo certo,
Aos que, do abismo, encontram-se tão perto,
Aos que não veem a verdadeira Luz.
E sendo diferente a escravatura,
Somos escravos, nesta vida dura,
De leis, trabalho, impostos, carestia.
Mas só Jesus fez verso tão profundo,
Para ajudar a humanidade e o mundo...
E... Como prêmio, recebeu a Cruz.
Sempre o Homem viveu sobre a ilusão
Do mito o transportar à perfeição,
Mas ser livre é só mais uma utopia.
Avaré-SP-Brasil
Faro/Portugal
SER MONTANHA
O CAMINHO
Lino Vitti
Humberto Soares Santa
Eu sou o caminho, a verdade e a vida… (João 14-6)
Anseio de infinito, oh! cósmica montanha,
que buscas nesse afã silente, e pétreo, e vão?
Queres talvez deter, numa invasão estranha,
esse pálio estelar luzindo em profusão?
Vais abraçar o sol? Que impossível façanha!
Beijar, quem sabe, a lua em toques de emoção ?
E quando o temporal em chuva e vento banha
o mundo, não te faz bater o coração?
Quando vejo surgir no horizonte o teu porte,
qual vontade do pó de se elevar na altura
fugindo desta terra onde comanda a morte,
um profundo desejo a erguer-se me acompanha:
quero ser como tu, fugir desta clausura
e não ser nada mais que uma simples montanha!
Príncipe dos Poetas Piracicabanos
http://poeta-linovitti.blogspot.com/
Após o caminhar de toda a vida,
Chegou ao fim da estrada, o ancião.
O coração parou. Com emoção,
Hesitou, por não ver qual a saída.
E agora?! – exclamou com voz dorida
- Os anjos e os arcanjos, onde estão ?!
Será que o meu percurso foi em vão
E a alma que em mim foi, está perdida?
Sentou-se a descansar da caminhada
E sentiu que não estava ali sozinho.
Olhou prò infinito, para o nada,
Quando uma mão se ergueu devagarinho
E uma placa de luz foi levantada:
“Fim da estrada, início do CAMINHO.”
Cotovia-Sesimbra-Portugal
20 | eisFluências Dezembro 2011
NOTÍCIA
O FADO - PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE
O FADO é Património Imaterial da Humanidade, segundo decisão tomada durante o VI Comité
Intergovernamental da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), reunido em
27/Novº/2011, em Bali (Indonésia).
A candidatura da expressão maior do género musical português, chega assim a bom fim, alcançando o
mesmo estatuto já alcançado em 2009 pelo tango (ligado ao Uruguai e à Argentina) e em 2010 pelo
flamenco (ligado a Espanha).
Portugal está de Parabéns! O seu sucesso é também o sucesso de todos os que, ao longo de
mais de um século, viveram, trabalharam, escreveram e cantaram o Fado. Estão de
parabéns os fadistas, os poetas, os músicos, os compositores, os estudiosos e todos os que contribuíram para fazer do
Fado uma melodia universal.
O Fado – Azulejos de Sintra
VEJA O VÍDEO que serviu para apresentar a candidatura deste EMBLEMA DA CULTURA MUSICAL PORTUGUESA
http://www.youtube.com/watch?v=5JJktDWWOLs&feature=player_embedded#
Divulgação de Carmo Vasconcelos
Lisboa/Portugal, em 27/11/2011
NAÇÕES AJOELHADAS
por António da Cunha Duarte Justo
Numa altura em que são sistematicamente destruídos os nossos biótopos culturais não se respeitando países nem
identidades culturais; numa época em que elites obtusas pisam a nossa vida negando-nos o direito de erguer os olhos, não
deixemos que a terra nos alague nas lágrimas da emoção que “Ó minha pátria, tão bela e perdida” (1) testemunha. Emoção
sim, mas que iluminada pela razão dê lugar à revolução. Amigos, “eles comem tudo e não deixam nada” como cantava
outrora o Zeca Afonso. Hoje até a flor mais bela do nosso jardim comem: a nossa esperança. Já não se contentam em tirarnos a terra como o ar espiritual da nossa respiração, nos dificultando uma vida digna. Primeiro levaram-nos a honra de
pessoa deixando-nos solitários como indivíduos à disposição do seu mercado; agora violam a honra das nossas nações.
Lembremos com Emmanuel Levinas: “ Aquele que levou a sua tarefa até ao anoitecer – aquele que acreditou num mundo
melhor, na eficácia do bem, apesar do cepticismo dos homens e apesar das lições da História, aquele que não se desesperou.
Aquele que não procurou nem distracção, nem suicídio, que não fugiu da tensão na qual vive como responsável, o único que
merece, talvez mais adequadamente, o nome de revolucionário”.
(1) http://www.youtube.com/embed/G_gmtO6JnRs
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António Justo em “Pegadas do Tempo”
13/Setº/2011
http://antonio-justo.eu/
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