curso de atualização em ovinocultura

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curso de atualização em ovinocultura
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
EM OVINOCULTURA
Palestrantes:
Carlos Eduardo C. Belluzo
Carlos N. Kaneto
Gustavo Martins Ferreira
Coordenação e Organização:
Prof. Dr. Hamilton Caetano
Prof. Dr. Luiz Eduardo Corrêa Fonseca
Promoção:
UNESP – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA
DEPARTAMENTO DE APOIO, PRODUÇÃO E SAÚDE ANIMAL
CAMPUS DE ARAÇATUBA – SP
Novembro - 2001
ÍNDICE
I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA
1
1. Introdução
1
2. Origem e seleção natural
1
3. Classificação zoológica
2
4. Domesticação
3
5. Clima
3
6. Informações fisiológicas sobre ovinos
6
7. Solo, topografia e qualidade das pastagens
7
II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS
8
1. Raças especializadas na produção de lã fina
8
2. Raças mistas
9
3. Raças especializadas na produção de carne
9
4. Raças deslanadas
11
III. SISTEMA DE PRODUÇÃO
12
IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS
13
1. Pastagens
13
2. Cercas
14
3. Centro de manejo
16
4. Cabanha
19
5. Cochos
19
6. Bebedouros
20
7. Equipamentos
20
V. PASTAGENS PARA OVINOS
20
1. Introdução
20
2. Princípios básicos
23
3. Hábitos de pastejo do ovino
24
4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos
26
5. Forrageiras mais indicadas
27
6. Consorciação de gramíneas com leguminosas
30
7. Manejo e lotação do pasto
32
8. Importância da fertilidade do solo
35
VI. CONSORCIAÇÃO
VEGETAIS
DE
OVINOS
COM CULTURAS
ANIMAIS
E
35
1. Introdução
36
2. Algumas culturas vegetais viáveis
36
3. Consorciação com culturas animais: pastoreio múltiplo
41
VII. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS
45
1. Exigências nutricionais
46
2. Suplementação e rações
46
3. confinamento de cordeiros
48
4. Creep-feeding
51
5. Alimentos para ovinos: suas características
52
VIII. ASPECTOS BÁSICOS EM UMA CRIAÇÃO DE OVINOS
61
1. Reprodução
61
2. Parição e lactação
66
IX. SELEÇÃO E DESCARTE DE OVINOS
71
1. Aspectos gerais
71
2. Principais causas de descarte
72
X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS
76
1. Clostridioses
76
2. Pasteurelose
78
3. Diarréia dos cordeiros
79
4. Podridão dos cascos (foot rot)
79
5. Queratoconjuntivite
80
6. Ectima contagioso
81
7. Mastite
81
8. Controle sanitário: principais recomendações
82
9. Vias de aplicação de medicamentos
84
XI.
SANIDADE:
PRINCIPAIS
OVINOCULTURA
DOENÇAS
1. Considerações gerais
2. Controle
PARASITÁRIAS
NA
89
89
103
XII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
105
APÊNDICE: RAÇAS DE OVINOS
106
OVINOCULTURA
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I. INTRODUÇÃO A OVINOCULTURA
Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993).
1. Introdução
A ovinocultura foi uma das primeiras explorações animais levadas a efeito
pelo homem, no começo da civilização, proporcionando-lhe alimento, em forma de
carne e leite, e proteção através da lã e da pele.
As fibras de origem vegetais têm suas produções limitadas em determinadas
regiões. A lã, ao contrário, é um produto que, em maior ou menor escala, é obtido
em quase todas as latitudes.
Com a reativação da ASPACO (Associação Paulista dos Criadores de Ovinos)
em 1984 e a criação do departamento de Ovinocultura pela CAFENOEL
(Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de São Manuel) em 1985, a ovinocultura
paulista passou a se destacar como mais uma opção agropecuária, lembrando-nos
de que a ovelha foi a primeira espécie domesticada pelo homem, acompanhando-o
pelo mundo inteiro, além de ser considerada, em muitas regiões, fonte de
subsistência para populações desfavorecidas.
As universidades, instituições e órgãos de pesquisa ligados à ovinocultura
têm mostrado que o estado de São Paulo apresenta excelentes condições
tecnológicas e ambientais para produzir racionalmente carne, lã, pele e até leite de
ovinos. A idéia de que ovino lanado só deve ser criado em regiões frias é errônea. A
lã é isolante térmico, protegendo tanto do frio quanto do calor. Temos como exemplo
a Austrália, que com seus rebanhos da raça Merino Australiano, criados em
condições semidesérticas, é a maior produtora mundial de lã fina.
Esta atividade é viável economicamente desde que obedecidas certas
normas, principalmente relacionadas aos manejos reprodutivo, nutricional e
sanitário.
2. Origem e Seleção Natural
O tronco original dos ovinos domésticos deve ser procurado no gênero Ovis e,
dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados pelo Argali (Ovis
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ammon), Urial (Ovis vignet) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon
ainda é encontrado em estado selvagem nas montanhas da Córsega e da Sardenha.
O Urial ainda existe no Irã, Afeganistão, partes da Índia e do Tibet.
É conveniente reconhecer duas espécies de ovelhas selvagens: Ovis
canadensis, a ovelha de corno grosso americana e Ovis ammon, a ovelha selvagem
asiática e européia. A Ovis canadensis nunca foi domesticada e foi eliminada como
antepassado das ovelhas domésticas por razões zoogeográficas. Só restou, como
animal primitivo para a domesticação, a Ovis ammon com suas subespécies.
Atualmente, existem no mundo mais de 800 raças de ovelhas domésticas. A
grande variedade de fenótipos sugeriu investigações sobre quais seriam as
subespécies selvagens da ovelha doméstica, sendo provável que algumas
subespécies tenham mudado de lugar devido a alterações climáticas ao final da
época glacial. Também podem ter desaparecido algumas subespécies anteriores
que intervieram na domesticação.
Durante as migrações dos povos e entre as tribos vizinhas, trocavam-se
animais de cria. Alguns rebanhos de ovelhas domésticas chegaram a regiões nas
quais viviam outras subespécies, e com elas podem ter se cruzado.
Daí ser impossível definir, atualmente, a espécie de ovelha selvagem que deu
origem às raças ovinas atuais.
O menor tamanho dos animais é uma característica da domesticação,
referente às ovelhas que, em algumas estações do ano, sofriam restrições
alimentares, determinando perdas de peso e diminuição da produção de leite.
No início, o homem domesticou as ovelhas por sua carne e depois
demonstrou interesse pelo leite, ordenhando as ovelhas, constituindo uma nova
orientação a cria. Entretanto, a mudança mais importante para o homem, quanto à
domesticação, aconteceu quando o pêlo da ovelha selvagem foi substituído por
fibras de lã. Não se pode demonstrar se o aparecimento da ovelha de lã fina foi
devido à mutação ou seleção, aproveitando-se crias obtidas através de cruzamentos
consangüíneos.
3. Classificação Zoológica
Reino: Animal
Sub-reino: Vertebrata
Filo: Chordata
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Classe: Mammalia
Ordem: Ungulata
Sub-ordem: Artiodactyla
Grupo: Ruminantia
Família: Bovidae
Sub-família: Ovinae
Gênero: Ovis
Espécie: Ovis aries (ovinos domésticos)
4. Domesticação
A ovelha foi domesticada pelo homem primitivo, no período neolítico, quatro
ou cinco mil anos a.C.
Quase todos os animais domésticos têm seus antecedentes selvagens na
Europa e na Ásia. A ovelha e a cabra parecem ser os primeiros animais a serem
domesticados. O homem domesticou a ovelha selvagem em seu habitat, facilitada
pela redução do estresse de adaptação.
5. Clima
5.1. Temperatura
O clima é um dos principais fatores que determinam as possibilidades de êxito
em uma criação de ovinos.
O comportamento e a adaptação dos ovinos ao clima é variável com o
indivíduo, a raça e o manejo que lhe é dispensado.
Embora a espécie ovina se encontre difundida em todas as regiões do
mundo, verifica-se que as maiores concentrações populacionais desta espécie estão
nas zonas de clima temperado frio, isto é, em latitudes de 25º a 40º em ambos os
hemisférios. Exceções a esta regra são observadas quando a redução da latitude é
compensada pela altitude, como no Peru, em zona equatorial (clima tropical), onde
ovinos são criados nos altiplanos da cordilheira dos Andes a mais de 3000 metros de
altura.
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A temperatura tem atuação preponderante sobre os ovinos, principalmente
nas propriedades da lã.
Altas temperaturas contribuem para a congestão permanente das partes
superficiais da derme, podendo as camadas profundas da derme ficar com má
circulação, o que se contrapõe à nutrição dos folículos pilosos, com fibras tendendo
a se tornarem finas e curtas. Com frio permanente, os fenômenos são inversos,
tornando as fibras mais grossas e longas.
Na América do Sul, há uma região que se estende do trópico de Capricórnio
ao paralelo de 38º de latitude Sul que apresenta clima subtropical úmido (clima de
transição). Abrange o Sul do Estado de São Paulo, grande parte do Estado do
Paraná, os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o Uruguai, várias
províncias da Argentina e pequena área do Paraguai, caracterizando-se por verão
quente e inverno fresco.
A Austrália, um dos países de grande concentração de ovinos no mundo, tem
grande parte do seu rebanho na área de clima subtropical úmido, análogo ao da
América do Sul. Por outro lado, as áreas secas do Oeste dos Estados Unidos, as
extensas regiões semi-áridas da Austrália e da Patagônia podem impedir a criação
de bovinos, suportando uma certa população ovina.
5.2. Umidade Relativa
Umidade relativa alta diminui a produção de lã, afetando suas propriedades,
principalmente a suavidade ao tato.
A umidade baixa torna a lã menos elástica e resistente, pela diminuição da
suarda.
Os ovinos adaptam-se e produzem melhor sob temperaturas medianas, com
umidade relativa média.
5.3. Precipitação Pluviométrica
Precipitação pluviométrica elevada e alto grau de umidade do ar dificultam a
evaporação da água do solo, favorecendo, com isso, a proliferação de agentes
patológicos, prejudiciais a espécies ovina.
A Tabela 1 mostra as condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e Nova
Zelândia.
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Tabela 1. Situação geográfica e condições climáticas do Sul do Brasil, Austrália e
Nova Zelândia.
Local
Situação
geográfica
(latitude sul)
Precipitação
pluviométrica (m)
Temperatura
média (ºC)
Brasil (Sul)
19º 34º
800-2000
18.0
Austrália
11º 39º
400-2000
18.0
Nova Zelândia
34º 47º
1500-2000
16.5
As seguintes condições são próprias para a criação de ovinos:
- temperatura: mínima = 5º C
máxima = 25º C
- precipitação pluviométrica = 75 mm a 115 mm por mês, ou seja, 900 mm a 1380
mm por ano.
- umidade relativa entre 55 a 70% em altas temperaturas e entre 65 e 91% em
baixas temperaturas.
5.4. Fotoperíodo
As ovelhas são, de modo geral, poliéstricas estacionais, apresentando cios
em determinado período do ano, não havendo uniformidade quanto ao início e
duração da estação reprodutiva. Nas diferentes raças, a amplitude do período
reprodutivo é determinada pela origem geográfica das mesmas.
O fator que controla o início e o término da estação de reprodução nos ovinos
é a variação entre as horas diárias de luz e de escuridão (fotoperíodo), através do
estímulo exercido sobre a hipófise. O decréscimo da luminosidade, além de
aumentar a fertilidade das ovelhas, estimula o desejo sexual e ativa a produção
espermática dos carneiros.
Na Figura 1, é apresentada a curva teórica de fertilidade das raças produtoras
de lã no Rio Grande do Sul. Observa-se que, no momento em que a curva de
luminosidade está começando sua ascensão, em julho (a), a curva de fertilidade
decresce. Quando o incremento das horas diárias de luz é muito acentuado, (agosto
– setembro), as ovelhas paralisam a atividade sexual (b). Ao contrário, de março a
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maio, quando é intensa a diminuição da luminosidade, a fertilidade atinge seu ponto
máximo (c).
Figura 1. Curva da fertilidade de ovelhas no Rio grande do Sul, Brasil, em função da
luminosidade.
6. Informações fisiológicas sobre ovinos
6.1. Zona de termoneutralidade
Temperatura crítica inferior: -15ºC a + 5ºC
Temperatura crítica superior: 40ºC
6.2. Temperatura corporal (retal)
Ovinos com mais de um ano de idade: 38,5 a 40ºC
Ovinos até um ano de idade: 38,5 a 40,5ºC
6.3. Freqüência respiratória
Normal: 12 a 20 movimentos/minuto
Sob altas temperaturas: 400 movimentos/ minuto
O estresse térmico (câmara climática) aumenta a freqüência respiratória e a
radiação solar direta aumenta a taxa de sudorese.
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6.4. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina
Tabela 2. Valores fisiológicos normais do sangue da espécie ovina.
Valor de referência
Hemácias (106/mm3)
8 a 16
Hemoglobina (g/100mL)
8 a 16
Hematócrito (%)
24 a 50
Leucócitos (103/mm3)
4 a 12
Basófilos (%)
0a3
Eosinófilos (%)
1 a 10
Neutrófilos Bastonetes (%)
0a2
Neutrófilos Segmentados (%)
10 a 50
Linfócitos
40 a 75
Monócitos
1a6
7. Solo, Topografia e Qualidade das Pastagens
O solo tem fundamental importância tanto na quantidade como na qualidade
das pastagens. A sua composição química deve reunir os elementos indispensáveis
ao desenvolvimento das plantas que serão ingeridas pelos ovinos.
Os solos arenosos são geralmente secos, muito permeáveis à água e, por
isso, incapazes de fixarem os elementos minerais. Neles, a vegetação é pouco
variada e de baixo valor nutritivo. São chamados campos pobres, onde não é
possível criar raças especializadas para carne ou de dupla aptidão (carne e lã), mas
somente raças pouco exigentes e produtoras de lã fina, como a Merino Australiano e
a Ideal.
Solos de topografia acidentada, com pequenas camadas de terra arável, por
serem pouco profundos, dificilmente permitem o estabelecimento de pastagens
cultivadas, apesar da relativa fertilidade. Nesses campos, adaptam-se bem os ovinos
de porte pequeno e médio, especialmente os de raça Merino, que são pouco
exigentes nutricionalmente, mas sensíveis à umidade.
Os solos argilosos, de um modo geral, são profundos, pouco permeáveis,
porém com maior fertilidade. A vegetação predominante é de maior valor nutritivo,
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bastante variada e densa, permitindo o cultivo de forrageiras e a criação de raças de
dupla aptidão e as especializadas na produção de carne.
A topografia deve permitir o fácil escoamento das águas de chuva e um certo
abrigo contra ventos frios. Os solos baixos, pouco permeáveis não são indicados,
favorecendo as afecções dos cascos e as infestações parasitárias dos ovinos.
II. PRINCIPAIS RAÇAS OVINAS
Este capítulo foi extraído de Carvalho (2001). As fotos de animais de cada
raça se encontram, em anexo, no final da apostila.
1. Raças especializadas na produção de lã fina
1.1. Merino Australiano
Raça que apresenta lã de excelente qualidade e elevado valor econômico,
destinada à fabricação de tecidos finos. Adapta-se perfeitamente às condições de
alta temperatura e vegetação pobre em vista de seu pequeno porte e velo muito fino
e denso, que funciona como verdadeiro isolante térmico. Não tolera, todavia,
umidade excessiva. Em termos teóricos, teria 70% de potencial para produzir lã e
30% para carne. A lã atinge, via de regra, as classes merina e amerinada.
1.2. Ideal ou Polwarth
Originária da Austrália, a raça Ideal possui em sua formação ¾ de sangue
Merino Australiano e ¼ de sangue Lincoln, raça inglesa de grande porte e de lã
grossa. O trabalho de seleção efetuado pelos Australianos deu como resultado uma
raça com excelente capacidade para produzir lã, aliada à produção de carcaça com
desenvolvimento satisfatório. A lã é um pouco mais grossa que a da raça Merino
Australiano, em decorrência da infusão de sangue Lincoln, conservando, no entanto,
excelente qualidade em termos de classificação, enquadrando-se, basicamente, nas
classes prima A e prima B.
A raça Ideal apresenta 60% de potencial para lã e 40% para carne.
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2. Raças Mistas
2.1. Corriedale
Raça mista por excelência (50% de potencial para lã e 50% de potencial para
carne). Foi formada na Nova Zelândia, também a partir das Raças Merino
Australiano e Lincoln, possuindo, porém, ½ sangue de cada. Em vista disto, sua lã
se apresenta mais grossa que a da raça ideal (classificada como cruzadas 1 ou 2).
Um pouco mais exigente que as raças anteriormente referidas, adapta-se bem,
todavia, ao regime extensivo de exploração. É um fato natural que, à medida que
aumenta o tamanho do animal, estarão se elevando, paralelamente, seus
requerimentos nutritivos.
2.2. Romney Marsh
Originária da Inglaterra, caracteriza-se pela produção de lã bastante grossa
(predominantemente cruzas de 3 e 4) e boa aptidão para a produção de carne. Um
aspecto que cabe salientar, diz respeito a sua adaptabilidade a solos mais úmidos,
tendo em vista que sua região de origem é baixa e tem bastante umidade. Exige,
porém, melhor nível nutricional que as raças já citadas. Apresenta 40% de potencial
para produção de lã e 60% para produção de carne.
3. Raças especializadas na produção de carne
Este grupo é sabidamente mais exigente em termos nutricionais e de
ambiente em geral, adaptando-se melhor às criações mais intensificadas, como no
caso das pequenas propriedades. Nestas, em virtude da impossibilidade de se
trabalhar com grandes rebanhos, o retorno econômico propiciado pela lã não seria
tão significativo.
3.1. Ile de France
Originária da França, foi formada através de cruzamentos de raças inglesas
com Merino Rambonillet. Foi introduzida no Brasil por volta de 1973 e teve uma boa
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aceitação em virtude de produzir lã de melhor qualidade, em relação às demais
raças de carne. São animais de grande porte, com bom desenvolvimento de massa
muscular nas regiões nobres (pernil, lombo e paleta).
As fêmeas apresentam altos índices de fertilidade e prolificidade, com média
de 1,40 a 1,70 cordeiros por parto.
Os cordeiros são bastante precoces, apresentando ótimo ganho de peso, o
que propicia a obtenção de carcaças de boa qualidade.
3.2. Hampshire Down
Raça originária do Sul da Inglaterra através de cruzamentos entre carneiros
Wiltshire e Berkshire. Também pertence ao grupo dos “Cara Negra” e expandiu-se
bastante em determinadas regiões do Brasil, tendo se adaptado bem dentro das
condições de meio ambiente já comentadas. Possui grande capacidade para
produção de carne de excelente qualidade.
3.3. Poll Dorset
Raça introduzida recentemente no Brasil por uma cabanha paulista, no ano
de 1991. É uma raça de carne, originária da Austrália. Em sua formação, entraram
principalmente as raças Ideal, Dorset Horn e Poll Merino. Embora de origem
Australiana, os melhores rebanhos são Neozelandeses, os quais sofreram um
grande melhoramento para produção de carne.
Suas principais aptidões são a produção de carne de excelente qualidade,
velo sem fibras meduladas e pigmentadas e não estacionalidade de cio, sendo essa
uma característica ainda não testada em condições brasileiras.
3.4. Texel
De origem Holandesa, foi introduzida no Brasil por volta de 1972. São animais
que, também, apresentam lã branca e, por isso, são muito utilizados no cruzamento
industrial com matrizes laneiras ou mistas. São animais bastante precoces,
caracterizando-se pela produção de carcaças de boa qualidade, com baixo teor de
gordura.
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3.5. Suffolk
Raça originária da Inglaterra através de cruzamentos entre ovelhas Norfolk
(animais nativos da região sudeste da Inglaterra) com carneiros da raça Southdown.
Foi aceita como raça a partir de 1859. Pertence ao grupo dos “Cara Negra”,
apresentando cabeça e membros totalmente desprovidos de lã e cobertos por pelos
negros. Adaptou-se bem ao Brasil, sendo criada nas mais diferentes regiões.
As fêmeas têm boa habilidade materna, com grande produção leiteira,
permitindo alimentar bem mais de um cordeiro. São animais bastante precoces,
produzindo carcaças magras e de boa qualidade.
4. Raças deslanadas
As raças deslanadas se apresentam como alternativa para regiões onde não
é conveniente a exploração da lã, como, por exemplo, regiões de vegetação
inadequada ou com carência de mão-de-obra para tosquia.
Destacam como produtoras de pele de ótima qualidade, sendo que em São
Paulo estão representadas principalmente pelas raças Santa Inês e Morada Nova.
4.1. Morada Nova
Raça nativa do Nordeste, resultante possivelmente de seleção natural e
recombinação de fatores em ovinos Bordeleiros e Churros trazidos pelos
colonizadores portugueses. A ação continuada do ambiente quente e seco do
Nordeste promoveu a perda da lã e a adaptação do animal. Apresenta pelagem
vermelha ou branca.
São animais bastante rústicos, que se adaptam às regiões mais áridas,
desempenhando importantes funções sociais.
Produzem carne e, principalmente, peles de ótima qualidade, são ovelhas
muito prolíferas.
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4.2. Santa Inês
Existem muitas hipóteses em relação à origem da raça Santa Inês, como a
que diz que esta é o resultado do cruzamento entre as raças Bergamácia (raça
italiana) e Morada Nova; e a que cita a descendência de ovelhas africanas, trazidas
pelos escravos negros.
O Santa Inês é um ovino de grande porte, produzindo boas carcaças e peles
fortes e resistentes. As fêmeas são ótimas criadeiras, parindo cordeiros vigorosos,
com freqüentes partos duplos e apresentando excelente capacidade leiteira.
A raça é caracterizada por quatro pelagens: branca, chitada, vermelha ou
marrom e preta.
III. SISTEMA DE PRODUÇÃO
Este capítulo foi extraído de.Carvalho et al. (2001).
Sendo o ovino ruminante, o mesmo é capaz de transformar as forragens
inviáveis para consumo humano em proteína animal de elevado valor biológico. O
mais indicado para a sua criação é explorar os recursos pastoris, principalmente se
levarmos em consideração o clima extremamente propício ao desenvolvimento das
forrageiras em nosso País.
Em São Paulo, o sistema de produção que apresenta maior eficiência em
pasto é aquele que visa a obtenção dos principais produtos oriundos da ovelha:
carne, lã e pele. Esta eficiência é obtida quando se realiza o cruzamento industrial,
ou seja, ovelhas de raça de lãs, mistas ou deslanadas são cobertas por carneiros de
raça de carne. A lã de boa qualidade seria produzida pelas ovelhas. Todos os
cordeiros ½ sangue, independentemente do sexo, seriam abatidos após desmame e
terminação, originando carcaças de boa qualidade.
A prática deste sistema de produção possibilitará a existência de, no mínimo,
três tipos de criadores:
•
Os cabanheiros de raças mistas, que se encarregariam de produzir reprodutores
melhoradores para rebanhos comerciais;
•
Os cabanheiros de raças de carne, encarregados de produzir reprodutores tipo
carne para utilização nos rebanhos comerciais;
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•
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O criador comercial de rebanho base de raça mista, adquirindo reprodutores
submetidos a constante processo de seleção e melhoramento.
Mais uma opção em termos de sistema de produção seria o ovinocultor
especializado em engordar cordeiros e/ou borregos para abate, seja em pastagem
ou mesmo em confinamento. A escolha de um ou outro tipo de criação depende da
área disponível, das condições ambientais como um todo e da aptidão do criador.
IV. INSTALAÇÕES PARA OVINOS
Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993).
O manejo dos ovinos pode ser considerado simples, quando se puder dispor
de mão-de-obra habilitada e infra-estrutura adequada. As instalações necessárias
para o perfeito manejo dos animais não são complexas, devendo, no entanto, ser
planejadas dentro de padrões específicos. Os principais componentes da estrutura
necessária à implantação de uma ovinocultura serão descritos a seguir.
1. Pastagens
Como já dissemos, o ovino é um ruminante. Portanto, a pastagem é, sem
dúvida, o primeiro fator a ser analisado.
Antes de tudo, deve-se ter conhecimento, através de uma análise, das
necessidades do solo, sabendo-se que são comuns a deficiência de fósforo, elevado
teor de alumínio (tóxico para as plantas) e o baixo pH (acidez).
A ovelha não tolera pastagens muito altas. Esta condição é altamente
estressante à espécie, que tem por hábito o convívio comunitário e a busca das
partes mais baixas do capim. Por isso, depois de corrigir o solo, é recomendável
formar pastagens com gramíneas de crescimento rasteiro.
O manejo das pastagens é muito importante. Deve-se levar em conta o
comportamento do capim, a época do ano, o microclima da região e também o
comportamento animal. A subdivisão em piquetes vai depender muito do espaço
disponível. Em áreas pequenas não se recomendam muitas subdivisões, em função
de alta concentração de animais em espaços reduzidos, provocando elevado índice
de reinfestação parasitária.
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Para calculo de lotação trabalha-se com unidade animal (U.A), sabendo-se
que uma vaca equivale a 1 U.A e um ovino adulto a 0,2 U.A Sendo assim se, por
exemplo, uma pastagem suportar 2 U.A por hectare equivaleria a 2 vacas ou 1 vaca
e 5 ovelhas.
Outros aspectos importantes na pastagem estão relacionados à drenagem e
sombreamento. Os pastos devem ser isentos de alagadiços e áreas inundadas. A
falta de sombra na pastagem é fator limitante para a reprodução. O estresse térmico
provoca em ovelhas no inicio de gestação a reabsorção do embrião, e nos
reprodutores a má qualidade do sêmen. Isto coloca em risco toda reprodução de
cordeiros em um ano. Daí a importância da arborização dos pastos ou dos bosques
naturais e artificiais para a proteção contra os ventos e, principalmente, radiação
solar. A proporção dos bosques é de 0,5 hectare para cada 500 ovelhas.
2. Cercas
Figura 2. Modelo de cerca para ovinos (medidas em centímetros)
As cercas para ovinos devem ser construídas com 6 á 7 fios de arame liso,
mourões com espaçamentos de 10 metros e 4 a 5 tramas nos meios. O 1º fio de
arame deve ficar a 10 cm do solo. O 2º e o 3º fios devem distanciar 15 cm entre si e
em relação ao 1º. Entre o 3º e o 4º fios o espaço deve ser de 25 cm e entre o 4º, 5º e
o 6º fios de 30 cm, dando uma altura total de 1,30 m que servirá também para
manter animais de grande porte. No entanto, se a propriedade já possuir cercas para
bovinos, mesmo de arame farpado, basta acrescentar 2 ou 3 fios nos espaços
inferiores.
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A cerca elétrica pode ser utilizada na subdivisão de pasto. Neste caso são 2
fios, um a 10 e outro a 20 cm do solo.
2.1. Cercas de arame farpado
Este material só é utilizado para ovinos deslanados, explorados para
produção exclusiva de carne. Deve ser construída com seis fios, com o seguinte
espaçamento a partir do solo:
1º fio – 5 cm
2º fio – 10 cm
3º fio – 15 cm
4º fio – 15 cm
5º fio – 20 cm
6º fio – 25 cm
Total – 90 cm de altura
Em locais onde há consorciação com eqüinos e bovinos, a altura da cerca
será dimensionada em função destes, podendo-se construí-la de arame farpado,
colocando-se arame liso galvanizado apenas nos vãos inferiores.
2.2. Cercas de arame liso
É o mais utilizado. Geralmente usamos fio ovalado, galvanizado, nº 15/17
(1000 m/ 15 Kg).
Espaçamento dos fios:
2.2.1.Cerca de 5 fios:
1º fio – 10 cm
2º fio – 15 cm
3º fio – 20 cm
4º fio – 25 cm
5º fio – 25 cm
Total – 95 cm de altura
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CURSO DE ATUALIZAÇÃO
2.2.2. Cerca de 6 fios:
1º fio – 10 cm
2º fio – 15 cm
3º fio – 20 cm
4º fio – 25 cm
5º fio – 30 cm
6º fio – 30 cm
Total – 1,30 m de altura (Atendendo não só aos ovinos, como também aos bovinos e
eqüinos).
3. Centro de Manejo
Como o próprio nome diz, esta indispensável instalação centraliza,
funcionalmente, todas as práticas com o rebanho (Figura 3). É composto de:
•
Mangueiras: têm a finalidade de facilitar a repartição do rebanho nas várias
categorias desejadas, de modo de a caber um numero razoável de uma soa
vez. Podem ser feitas de tábuas de madeira ou outro material que a substitua,
numa altura de 1 metro. Considerar 1m2/ animal
•
Tronco de contensão (Figura 4): preferencialmente de tábua, deve ter 90 cm
de altura, e de 6 a 12 m de comprimento, abertura superior a 50cm inferior a
30 cm. Outro modelo é o tronco no sistema australiano, em que a largura é
maior e no qual se enfileiram vários animais sendo que o tratador caminha
entre eles.
•
Pedilúvio: Para tal, pode ser aproveitado o piso do tronco ou ainda uma
mangueira menor, com profundidade de 10 cm. Requer atenção para não
deixar bordas que permitam que o animal deixe os cascos fora da solução.
OVINOCULTURA
Figura 3. Planta baixa do centro de manejo.
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
OVINOCULTURA
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Figura 4. Vista frontal do tronco de contenção
•
Banheiro anti-sárnico (Figura 5): para controlar as parasitoses externas do
ovino (basicamente, sarna e piolho). Esta é a parte mais cara do centro de
manejo,mas
indispensável
para
aquelas
criações
onde
a
lã
tem
representatividade importante em termos econômicos. O tanque de imersão,
em concreto, deve ter 60cm de largura, 1,20m de profundidade e no mínimo
8m de comprimento, com rampa de saída iniciando- se 4m após a entrada.
Estas medidas não devem ser superiores se não houver pretensão de
expandir o rebanho, uma vez que o excesso do produto utilizado torna a
prática de alto custo. Ao final da rampa de saída deverá haver dois currais
cimentados denominados escorredouros, com a finalidade de retornar à
banheira parte da solução absorvida pela lã, após a passagem por uma caixa
de decantação.
Figura 5. Vista lateral da banheira e pedilúvio
OVINOCULTURA
•
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Local de tosquia: pode ser usado um barracão já existente na propriedade, ou
mesmo uma mangueira do centro de manejo, desde que tenha piso cimentado,
cobertura e energia elétrica.
•
Cobertura: deverá cobrir essencialmente o tronco de contenção, a banheira antisárnica e escorredouros, além do local para tosquia.
4. Cabanha
Trata-se de uma instalação com piso ripado, elevada do solo, que tem por
finalidade principal abrigar reprodutores, animais de exposição e de alto nível.
Portanto é dispensável nas criações comerciais. É conveniente que nas cabanhas
destinadas a abrigar reprodutores de raças de carne não se use o piso ripado em
função dos problemas de aprumo que podem causar.
5. Cochos
Os cochos são usados basicamente para o fornecimento de sal mineral e
rações . No campo, os cochos de sal podem seguir vários modelos, assim como os
de gado, mas em menores proporções. Podem ser constituídos de qualquer material
que não contamine o produto fornecido, como madeira, fibra e cimento. Os cochos
de sal devem ser de fácil manipulação, podendo-se transporta-los de um piquete
para outro, conforme o uso. A cobertura é importante para evitar que o sal seja
molhado em dias de chuva.
Ao contrário do sal, os cochos para rações devem ter medidas mínimas para
atender a todos animais que, depois de acostumados, procuram a dieta avidamente.
Estes são usados mais especificamente nas cabanhas ou nos confinamentos. Os
cochos para confinamento devem oferecer de 10 a 15cm/cabeça, no caso de
cordeiros, e de 25 a 30 cm/cabeça, para os animais adultos. As outras medidas
podem variar em torno de 30 cm para a largura, 20 a 25 cm para a profundidade e
15 a 30 cm distantes do solo, conforme a categoria.
Tambores serrados ao meio funcionam bem para oferecer alimentos no pasto,
como silagens.
OVINOCULTURA
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
As manjedouras para fornecimento de capins e fenos seguem as medidas de
10 cm entre ripas verticais de 5 cm, saindo de um ângulo de 45º. As telas, como as
de alambrado, também funcionam na substituição das ripas de madeira. Na
cabanha, as manjedouras construídas sobre o cocho permitem um maior
aproveitamento do volumoso.
6. Bebedouros
A água pode ser fornecida em caixas de alvenaria providas de bóia, ou
recipientes de fácil manutenção e limpeza.
Nas cabanhas, o sistema em que cada baia apresenta seu bebedouro, onde
todos são alimentados por uma única caixa provida de bóia, é o mais recomendável
pela eficiência de manutenção e limpeza.
7. Equipamentos
São poucos os equipamentos necessários para a ovinocultura. De modo
geral, eles não são muito diferentes dos utilizados para bovinos e eqüinos.
São eles: tesoura para corte de lã (martelo), tesoura para aparo dos cascos,
pistola de vermifugação e vacinação, tatuador ou alicate para brincos, ripado de
madeira para tosquia, seringas, agulhas, e outros.
V. PASTAGENS PARA OVINOS
Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999).
1. Introdução
A produção de ovinos de corte se apresenta como uma boa opção de
atividade econômica aos pecuaristas, embora essa atividade agropecuária sempre
teve a sua imagem ligada à produção de lã. Todavia essa associação vem sofrendo
uma mudança acentuada, seja em função dos baixos preços alcançados pela lã,
tanto no mercado interno como externo, seja pelo crescente aumento na demanda
OVINOCULTURA
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
da carne ovina, mais especificamente pela carne de cordeiro. Em face disso os
criadores têm procurado direcionar a criação neste sentido.
Em São Paulo, nos últimos anos tem-se verificado não só um aumento no
efetivo dos rebanhos, mas também no número de propriedades envolvidas nessa
atividade.
Apesar
de
ainda
não
estar
definitivamente
estabelecido,
nem
adequadamente dimensionado, o mercado de carne ovina vem apresentando
crescimento inconteste, o que se reflete nos preços relativamente altos observados
em nível de mercado consumidor. Essa maior demanda, todavia, é específica para
carcaças de boa qualidade, ou seja, com peso médio de 12 a 13 kg, provenientes de
animais novos, com no máximo 120 dias de idade. Até essa idade, os animais
mostram alta velocidade de crescimento e maior eficiência no aproveitamento de
alimentos menos fibrosos que animais mais velhos, apresentando uma proporção
significativamente maior do corte traseiro em relação ao dianteiro e costilhar e, ainda
um nível adequado de gordura corporal, suficiente para propiciar uma leve cobertura
da carcaça, protegendo-a contra a perda excessiva de umidade durante o processo
de resfriamento e um mínimo de gordura intramuscular, a qual garante o paladar
característico da carne ovina, o que aliado a pouca maturidade dos feixes
musculares do animal jovem, garante um bom nível de maciez.
Mesmo na região Sul do país, onde grande parte dos planteis possui na lã o
objetivo maior da criação, se tem verificado uma maior preocupação na exploração
mais intensiva da produção de carne. Para isso, utiliza-se reprodutores de raças com
maior potencial para ganho de peso sobre os planteis já existentes de ovelhas de
raças lanígeras (Corriedale, Ideal e Merino). Assim, busca-se a obtenção de
cordeiros mais precoces e com melhor caracterização de carcaça, mantendo-se,
ainda a produção de lã pelas matrizes.
Na região sudeste tem-se tornado usual a utilização de matrizes comuns, sem
raça definida, ou ainda de animais deslanados, notadamente da raça Santa Inês,
mantidas em pastagens e cruzadas com reprodutores de raças de corte, Suffolk e Ile
de France. As crias são amamentadas em pastagens exclusivas para matrizes com
crias ao pé, sendo confinados do desmame ao abate. Em algumas criações adota-se
o confinamento das mães e crias já a partir do nascimento, o que possibilita a
adoção do desmame precoce aos 45 dias, o que resulta em níveis de ganho de peso
bastante elevados, além de menor mortalidade de crias.
Através desse sistema de criação, consegue-se animais com peso vivo entre
28 e 30 kg, considerado ideal para abate, com idades inferiores aos 120 dias. Para
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tanto, o peso ao nascer deve estar em torno dos 3,5 kg com o desmame ocorrendo
entre 45-60 dias, com os animais pesando entre 15 e 19 kg. Para tanto a expectativa
de ganho diário de peso vivo irá aproximar-se de 280 e 240 g, respectivamente nos
períodos de pré e pós desmame.
Esses índices, todavia, não são obtidos unicamente pela utilização de bons
reprodutores de raças de corte. Há ainda que se considerar vários outros pontos
igualmente importantes tais como o nível alimentar e sanitário, tanto das matrizes
como das crias, o uso de instalações adequadas e de técnicas corretas de manejo.
Do ponto de vista econômico, vale frisar que o ganho do produtor depende,
de um lado da maior disponibilidade de produtos de comercialização, ou seja, devese buscar obter maior número possível de cordeiros por ano e por hectare de área
utilizada para a produção de forragem (pastagem, campineira e para material para
ensilagem), e de outro lado deve-se buscar o menor custo de produção possível,
todavia sem prejuízo da qualidade.
Dessa maneira para se obter resultados positivos na ovinocultura é preciso
além do bom desempenho e qualidade individual dos cordeiros, ter-se ainda uma
elevada disponibilidade de animais para abate, o que quer dizer, elevado número de
cordeiros nascidos (eficiência reprodutiva) e desmamados (baixa mortalidade e alta
aptidão materna) e, principalmente, um baixo custo de produção.
A maior eficiência reprodutiva é obtida pela seleção rigorosa das matrizes
dando-se preferência àquelas oriundas de parto múltiplo e descartando-se aquelas
que apresentem idade à primeira cobertura e intervalo entre partos superiores há 12
meses. Deve-se buscar ainda peso ao nascer igual ou superior a 3,0 kg e peso ao
desmame igual ou superior a 15,0 ou 19,0 kg, respectivamente aos 45 ou 60 dias de
idade. Também um bom manejo reprodutivo e nutricional, como a realização do
“flushing” e o uso de adequado nível nutricional no terço final da gestão, devem
receber especial atenção, de forma a se trabalhar com índices de fertilidade e
prolificidade acima dos 85% e 150% respectivamente.
A maior disponibilidade de cordeiros para abate é obtida ainda com a
diminuição da mortalidade das crias, resultado da utilização de esquemas de manejo
sanitário e técnicas criatórias adequadas, incluindo a vacinação preventiva, seleção
de fêmeas com maior habilidade materna e a adoção de práticas cuidadosas de
manejo das crias, desde o parto até o abate.
Já a diminuição do custo de produção depende das medidas anteriores e,
mais ainda da produção de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas a
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CURSO DE ATUALIZAÇÃO
baixo custo. Para isso, a base da alimentação deve ser constituída de volumosos de
boa qualidade, ou seja, de alto valor nutritivo, o que quer dizer: alta concentração em
nutrientes, alta digestibilidade e alta aceitabilidade pelos animais.
2. Princípios básicos
Considerando-se as condições de clima e solo e ainda as características da
estrutura e divisão fundiária predominantes na região Sudeste do Brasil, a utilização
de pastagem formadas por forrageiras de elevada produtividade e bom valor
nutritivo, utilizadas em regime de pastejo intensivo, mostra-se como uma das
alternativas de maior interesse para a ovinocultura intensiva.
É importante ressaltar que as ovelhas em fase final de gestação,
principalmente aquelas com crias múltiplas no ventre, apresentam altos níveis de
exigência nutricional, o que quer dizer, necessidade do aporte de quantidades
consideráveis de proteína, energia, minerais e vitaminas.
Pastagem com elevada disponibilidade de forragens de alto valor nutritivo
podem suprir a totalidade de nutrientes necessários, tanto à manutenção corporal
das matrizes como às demandas da gestação. Já em condições de pastagens mais
fracas, seja em termos de disponibilidade de matéria seca (MS) ou baixa qualidade
da espécie forrageira predominante no pasto, há necessidade de suplementação
alimentar de forma a se fornecer, em quantidade e qualidade, os nutrientes que a
pastagem não consegue suprir. Nessas condições é necessária a utilização
excessiva
de
concentrados
na
alimentação
das
matrizes,
o
que
eleva
significativamente o custo de produção e pode comprometer a viabilidade econômica
da atividade.
A obtenção de boas pastagens para a utilização com ovinos depende do
atendimento de alguns pontos básicos:
•
Uso de forrageiras produtivas e de elevado valor nutritivo, ou seja, com alta
aceitabilidade pelos ovinos, elevada concentração em nutrientes (energia
proteína, minerais e vitaminas) e boa digestibilidade.
•
A utilização de gramíneas de porte médio a baixo, com altura inferior a 1,0 m,
são mais adequadas ao comportamento dos ovinos em pastejo.
•
Manutenção de níveis de fertilidade de solo adequados às exigências da
forrageira utilizada, com reposição dos nutrientes removidos pelo pastejo e
lixiviação através de adubações em épocas estratégicas.
OVINOCULTURA
•
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Adoção do sistema de pastejo rotacionado como forma de melhorar e
uniformizar a utilização da forragem e, principalmente, diminuir o nível de
infestação por lavas de helmintos (endoparasitos).
•
Diversificação das forrageiras utilizadas, seja pelo uso da consorciação com
leguminosas ou pela formação de áreas com gramíneas diversas, em pastos
exclusivos, garantindo a diversificação dos nutrientes disponíveis e
aumentando o nível de ingestão de matéria seca pela variação da dieta. Isto
resulta ainda em maior segurança em termos de problemas de ordem
climática (secas e geadas) e fitossanitárias (pragas e doenças), em função
da diferenciação das características e potencialidades das diversas
forrageiras.
•
Uso preferencial de espécies de hábito de crescimento cespitoso (porte
ereto), que em função da sua arquitetura, favorecem a inativação de larvas e
ovos de helmintos (endoparasitos), em razão de permitirem uma maior
insolação (dessecação das larvas pela diminuição da umidade e ação de
radiação ultravioleta).
3. Hábitos de pastejo do ovino
O ovino, de maneira geral, pasteja preferencialmente gramíneas, promovendo
corte uniforme e baixo da vegetação, à medida que percorre a pastagem. No
entanto, o deslanado tende a apresentar um comportamento algo semelhante ao do
caprino, ingerindo uma quantia considerável de ramas e folhas, promovendo um
pastejo mais seletivo e menos uniforme.
O consórcio de ovino com bovino levaria à melhor utilização da pastagem,
visto que o ovino pasta mais baixo, consumindo a forragem que o bovino não
conseguiria aproveitar.
Outro aspecto importante do comportamento dos ovinos em pastagem é o
fato de não entrarem em pastagens altas (acima de sua altura). Nessa situação, o
plantel tende a permanecer perifericamente, penetrando na pastagem somente após
o rebaixamento da mesma, através do pastejo ou pisoteio por bovinos ou roçadeiras.
A produção animal em pastagens caracteriza-se, hoje, pelo baixo nível
tecnológico,
trazendo
como
conseqüência
uma
verificada em muitas áreas ocupadas pela pecuária.
produtividade
insatisfatória,
OVINOCULTURA
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Na nutrição animal, a quantidade ingerida de alimentos tem importância
fundamental, visto ser um dos fatores determinantes da maior ou menor
disponibilidade de nutrientes para os processos fisiológicos do animal, e
conseqüentemente, ao seu desempenho. O valor nutritivo, por sua vez, depende
não apenas da composição química, como também da digestibilidade da gramínea,
que diminui à medida que a planta avança seu processo de maturação, cujo ápice
coincide com a seca invernal, época em que há também, paralisação quase que
total do crescimento. Esta estacionalidade da produção forrageira é um dos
principais problemas a se solucionar no sistema de exploração de ovinos a pasto.
Quanto à capacidade de consumo do animal, considera-se que é regida pelos
seguintes fatores:
-
Palatabilidade da forrageira;
-
Velocidade de passagem pelo tubo digestivo;
-
Efeito do ambiente sobre o animal;
-
Quantidade de forragem disponível.
Ovinos apresentam hábitos alimentares diferentes, em alguns aspectos, dos
de bovinos. Alguns são decorrentes da própria anatomia, como é o caso da
possibilidade de pastejo rente ao solo, em razão dos lábios superiores fendidos e
bastante móveis, o que possibilita extrema habilidade na apreensão de partes
selecionadas das forragens, dada a possibilidade de utilização dos lábios, dentes e
língua. No caso dos bovinos, os lábios são rijos e de pouca mobilidade, sendo a
língua o principal instrumento de apreensão, trazendo os alimentos para dentro da
boca, para serem cortados pela ação dos dentes contra a almofada dentária. Dessa
maneira, os bovinos têm maior dificuldade na apreensão das partes menores das
forragens, o que impossibilita seleção tão eficiente dos alimentos, quanto a seleção
feita por ovinos. Em termos práticos, devidos a esta seletividade exercida pelo ovino,
não é conveniente estabelecer pastagens com diferentes espécies de gramíneas,
pois a tendência seria a degradação paulatina daquela que fosse mais palatável. A
maneira correta seria escolher uma gramínea sabidamente recomendada, levandose em consideração sua adaptabilidade às condições de solo e clima da região,
além de um manejo adequado ao hábito alimentar do animal, levando-se em conta a
altura e a densidade da gramínea, de maneira que o animal consiga suprir sua
capacidade máxima de ingestão no menor espaço de tempo possível.
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4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos
A produção forrageira sofre estacionalidade que, muitas vezes, pode coincidir
com fases em que as exigências nutricionais dos ovinos são altas.
Uma maneira de amenizar este problema poderá ser adotando-se técnicas de
conservação de forragens (silagem e/ou fenação), que permitem armazenar as
sobras da época de máxima produção das pastagens, para suprir as deficiências da
fase de seca invernal.
Outra maneira seria, conhecendo-se as necessidades nutricionais das
diferentes categorias ovinas, ajustar as fases do ciclo produtivo à disponibilidade de
forragem, apesar de não se conseguir, assim, resolver completamente o problema.
No período pós-desmama, a ovelha é relativamente tolerante às restrições
alimentares moderadas, pois se encontra livre de lactação. Por isso, quando as boas
pastagens são escassas, deve-se aproveitá-las com os cordeiros desmamados, para
que o estresse da desmama não seja tão acentuado.
Duas a três semanas antes do início e duração do encarneiramento, deve-se
melhorar o nível nutricional, para que a ovelha seja fecundada com ganho de peso
positivo, prática denominada “flushing”.
4.1. Sazonalidade da produção de pastagens
No estado de São Paulo, as condições climáticas determinam a existência, no
ano, de duas estações bem distintas: a das chuvas e calor (fim da primavera, verão
e início de outono), com chuvas concentradas e temperaturas elevadas; e a das
seca (fim do outono, inverno e início da primavera), com poucas chuvas e
temperaturas baixas.
Essas duas estações determinam, nas espécies forrageiras, um ritmo de
crescimento bastante intenso na estação das águas, em confronto com baixas taxas
de crescimento no período seco.
Dessa maneira, considerando-se que o plantel tende a permanecer estável
durante o ano, teremos a ocorrência de excedentes de produção nas águas e déficit
na seca. Esse problema poderá ser contornado com a utilização de processos de
conservação de forragem (feno ou silagem) para emprego posterior. A escolha do
método deve considerar o tipo de forrageira e de maquinário disponíveis.
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Outra maneira seria a produção de forrageiras de inverno, como aveia,
azevém ou centeio, embora apresentem maiores custos e riscos (secas e geadas).
5. Forrageiras mais indicadas
Os ovinos têm por habito pastejar preferencialmente o topo das plantas,
rebaixando a altura da pastagem pouco a pouco, como se estivesse retirando a
forragem em camadas. Todavia em função da anatomia bucal, caracterizada pela
extrema mobilidade dos lábios e pela forma de apreensão do alimento com uso de
lábios, dentes e língua, conseguem ser bastante eficientes na separação e escolha
do alimento a ser ingerido, conseguindo apreender, com facilidade, partes
específicas da forragem mesmo as de menor tamanho. Isso possibilita ao animal,
quando em pastejo, escolher as partes mais tenras e palatáveis da planta, rejeitando
as fibrosas e portanto de menor valor nutritivo. Dessa maneira os ovinos conseguem
realizar o pastejo bastante seletivo e rente ao solo.
Em função disso as forrageiras mais indicais são aquelas que suportem o
manejo baixo, apresentem intensa capacidade de rebrota através das gemas basais
e que possuem sistema radicular bem desenvolvido garantindo boa fixação ao solo
O ovino mostra acentuada preferência por forrageiras de porte médio a baixo.
Em pastagens com plantas de porte mais elevado, com altura acima de1,0 metro, os
animais tendem a explorar mais intensivamente as áreas marginais, resultando em
sub-aproveitamento da forragem das áreas centrais. Outra característica típica é o
comportamento extremamente gregário apresentado pela espécie, que dificilmente
explora a pastagem isoladamente, movimentando-se sempre em grupos. Em face
disto, quando em pastagens de porte mais alto, que dificultam a visualização entre
os animais do rebanho, os ovinos tendem apresentar intensa movimentação pela
área, mostrando maior preocupação em se manterem próximos aos demais, o que
prejudica o nível de ingestão de alimento e resulta em aumento de perdas por
acamamento devido ao pisoteio excessivo.
Tomando-se em conta somente esses aspectos, as forrageiras mais
indicadas seriam aquelas de hábito estolonífero (prostrado), tais como Coast Cross,
Tiftons e Estrelas (gênero Cynodon), Pangola (gênero Digitaria), Pensacola (gênero
Paspalum). Estas gramíneas atendem relativamente bem às exigências da espécie e
seus hábitos de pastejo peculiares, no entanto e apesar de serem as mais utilizadas
atualmente com ovinos, apresentam dois pontos bastante negativos: a maioria
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apresenta propagação por mudas, o que dificulta e encarece a formação de áreas
maiores de pastagens e, mais importante, em função do hábito de crescimento
prostrado formam uma massa vegetal fechada que, mesmo quando rebaixada,
impede a penetração mais intensa da radiação solar e mantém um microclima
favorável a sobrevivência das larvas dos helmintos. Isso dificulta o controle de
verminose, principal problema sanitário para os ovinos, sendo essa tanto maior
quanto maior a lotação das pastagens, podendo chegar a inviabilização da atividade.
Em face disso e em determinadas circunstâncias, essas forrageiras começam a ser
preteridas por alguns criadores.
Outras forrageiras, normalmente utilizadas em pastagens para bovinos, tem
sua utilização dificultada para ovinos por apresentar porte excessivamente elevado
ou por não tolerarem o pastejo rente ao solo e pisoteio intensivo promovido pelo
ovino. Nesse grupo estão incluídas a maioria das gramíneas dos gêneros Panicum
(colonião), Chloris (Rhodes) e Setaria, que ainda tem o agravante da baixa
aceitabilidade.
As gramíneas do gênero Brachiaria, apesar da vantagem de propagação por
semente e da acentuada persistência e rusticidade, apresentam problemas de baixo
valor nutritivo, limitando a sua utilização àquelas categorias de menor exigência
nutricional. Alem disso, em função do habito de crescimento prostrado, dificultam o
controle da verminose. Esses aspectos são ainda agravados pela maior
possibilidade de ocorrência de fotossensibilização em ovelhas paridas e animais
mantidos exclusivamente sobre essa forrageira.
Uma das alternativas que tem mostrado melhores resultados é o capim
Aruana (Panicum maximum cv. Aruana) que apresenta as seguintes características:
•
Cultivar do “colonião”, selecionado no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa;
•
Elevado valor nutritivo e excelente aceitabilidade pelos animais;
•
Alta produtividade de forragem, variando de 18 a 21 toneladas. de matéria seca
(MS)/ha/ano, com 35 a 40% dessa produção ocorrendo no inverno (período seco
do ano);
•
Porte médio, atingindo aproximadamente 80 a100 cm de altura;
•
Grande capacidade e rapidez de perfilhamento, com grande numero de gemas
basais, rebrotando após cada ciclo de pastejo.
•
Boa capacidade de ocupação da área de pasto, não deixando áreas de solo
descobertas, o que evita o praguejamento e auxilia no controle de erosão;
•
Propagação por sementes (formação mais fácil, rápida e de menor custo);
OVINOCULTURA
•
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Boa produção de sementes, garantindo o restabelecimento rápido da pastagem
em caso de necessidade de recuperação (após eventuais “acidentes”, como
queima e geadas, ou degradação por falha de manejo);
•
Boa tolerância ao pastejo baixo (rente ao solo) promovido pelo ovino, o que
possibilita a adoção dessa técnica de manejo como parte estratégica no controle
de parasitas (helmintos), promovendo a exposição de larvas às intempéries
climáticas (radiação solar e vento);
•
Arquitetura foliar ereta e aberta, típica das forragens cespitosas (em touceiras),
que propicia uma maior incidência de radiação solar e maior ventilação dentro do
perfil da pastagem. Isso força a migração das larvas para a base do capim logo
às primeiras horas da manhã, após a secagem do orvalho, favorecendo o
controle da verminose: e
•
Mostrou-se relativamente tolerante às geadas e ao ataque de cigarrinha.
Outra alternativa de interesse é o capim Tanzânia, também cultivar de
Panicum maximum, que apresenta algumas características semelhantes ao Aruana,
apresentando, todavia, porte um pouco mais elevado e capacidade de perfilhamento
um pouco menor (menor quantidade de gemas basais).
Essas forrageiras, em função do habito de crescimento cespitoso, apresentam
um manejo mais complexo que aquelas de habito prostrado. No entanto, o ganho
em desempenho e, principalmente, o aspecto favorável com relação ao controle da
verminose, justificam a sua indicação como forrageiras ideais para os ovinos,
prestando-se tanto para pastejo como para fenação (ou silagem).
5.1. O emprego do capim Aruana em Nova Odessa (IZ)
Durante todo o período em que o Aruana está sendo utilizado na unidade de
ovinos em Nova Odessa (SP), tem-se procurado avaliar anualmente a sua
produtividade e comportamento sob pastejo, obtendo-se valores médios da ordem
de 18 a 21 toneladas. de MS/ha/ano. A boa qualidade da forragem vem sendo
atestada pelo excelente desempenho obtido com fêmeas ovinas das raças lle de
France e Suffolk, em gestação ou em crescimento.
A área de pastagem utilizada é subdividida em cinco piquetes, possibilitando
um manejo rotacionado no qual cada pasto é utilizado por um período de 9 a 15 dias
(no máximo), tendo um período de repouso de 40 a 60 dias, dependendo da
OVINOCULTURA
CURSO DE ATUALIZAÇÃO
disponibilidade de forragem e da situação do “stand” da forrageira no piquete após
cada ciclo de pastejo.
No verão (período das chuvas) cada piquete é subdividido com auxilio de
cerca eletrificada móvel, sendo movimentada em faixas, liberando-se 1/3 da
pastagem a cada período de 3 a 5 dias.
A elevada produtividade e alto valor nutritivo do Aruana é dependente de uma
adequada reposição de nutrientes no solo, que é feita anualmente através da
fertilização química com N, P, K e Ca, com base em análise de solo e,
eventualmente, da forragem. A necessidade média de reposição tem sido de 50
kg/ha de fósforo e 30kg/ha de potássio. A correção da acidez do solo foi feita
inicialmente na formação da pastagem, e, posteriormente, após 3 anos da formação
da pastagem, com a distribuição de 2000kg/ha de calcário em área onde foi
introduzida leguminosa (soja perene). A reposição de P, K e Ca é feita a lanço,
normalmente no inicio do período das águas. A adubação nitrogenada correspondeu
a 150 kg/ha de N, tendo sido utilizado o nitrocálcio ou sulfato de amônio como adubo
nitrogenado. Dessa quantia, 100kg/ha foram distribuídos a lanço no final do período
das águas e os outros 50kg/ha junto com restante da adubação (início do período
das águas subseqüentes).
Em razão desses aspectos, tem sido possível a utilização de lotações altas na
pastagem, da ordem de 35 cabeças/ha/ano contra uma média de 12 a 20
cabeças/ha/ano, obtida pelos criadores com outras forrageiras. Além disso, foram
realizadas somente de 5 a 6 aplicações/ano de anti-helmínticos contra 10 a 12
usualmente utilizadas pelos pecuaristas.
Dessa maneira, o capim aruana mostra-se como uma excelente alternativa,
senão a ideal, para o pastejo pelos ovinos, desde que em condições adequadas de
manejo, solo e clima, podendo a sua utilização contribuir significativamente para que
a ovinocultura se firme cada vez mais como alternativa de viabilização sócioeconômica para a pequena e media propriedade rural no Estado.
6. Consorciação de gramíneas com leguminosas
Outra alternativa a ser considerada na busca de pastagens mais produtivas é
a utilização da consorciação de gramíneas com leguminosas forrageiras. Essa
prática melhora o valor nutritivo da forragem disponível na pastagem, além de
diminuir a quantidade de adubo necessário para a reposição do nitrogênio, em
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função da fixação do N2 atmosférico promovida pelas leguminosas. Todavia a
consorciação exige a adoção de técnicas de manejo específicas para a obtenção de
bons resultados, principalmente em razão da menor velocidade de crescimento da
leguminosa em relação às gramíneas. A primeira consideração é quanto à
adequação entre as forrageiras a serem consociadas, sendo que neste aspecto as
gramíneas cespitosas são mais adequadas que as estoloníferas por permitirem, em
função da arquitetura ereta, maior luminosidade e espaço para vegetação das
leguminosas, inclusive servindo-lhe de suporte. Outro ponto a ser considerado é a
reposição de nutrientes, que deve favorecer principalmente a leguminosa, em função
da sua maior taxa de vegetação.
O manejo da pastagem, em termos de período de ocupação e de repouso,
taxa de lotação e altura mínima de pastejo, deve ser adequado às duas forrageiras.
Por variar para cada tipo de consorciação, considerando-se caso a caso, o manejo
deve ser baseado na avaliação visual da quantidade de forragem disponível e da
proporção gramínea/ leguminosa, não havendo uma regra fixa de procedimento.
Uma das práticas importantes para se garantir a persistência da leguminosa
na pastagem é possibilitar, de tempos em tempos, o seu florescimento e
sementeação, o que garante a ressemeadura natural e pereniza a forrageira na
pastagem. Para tanto, é necessário fazer o diferimento do pastejo de um ou dois
piquetes a cada ano no período de florescimento e sementeação da leguminosa.
Aliás, igual providência deve ser considerada também com relação à gramínea.
Nesse sentido é primordial, para que se obtenha sucesso na consorciação, a
escolha de leguminosas precoces, ou seja, que apresentem florescimento entre
março e maio, época do ano na qual ainda é possível vedar a área ao pastejo sem
prejuízo na alimentação dos animais.
A consorciação com leguminosas tardias, com florescimento entre junho e
agosto, impossibilita essa prática, pois o florescimento ocorre na época de menor
disponibilidade de forragem em nossa região. Dessa maneira, sem a possibilidade
de ressemeadura natural, a tendência é o desaparecimento ou a diminuição
acentuada da presença da leguminosa em dois ou três anos. Essa é,
indubitavelmente, uma das principais causas da dificuldade verificada, pela maioria
dos pecuaristas, na manutenção de pastagens consorciadas.
Com relação a isso há uma certa parcela de culpa por parte dos técnicos
envolvidos nos processos de estudo e seleção dessas forrageiras, que muitas vezes,
por levar em conta somente o potencial produtivo em termos quantidade de
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MS/ha/ano, elegiam como mais adequadas àquelas espécies ou cultivares que
sobressaiam nas parcelas dos campos de ensaios nesse aspecto. Como as
leguminosas diminuem drasticamente o crescimento vegetativo ao florescerem,
aquelas que florescem primeiro (precoces) tem menor período de crescimento
vegetativo e, portanto, menor produção de MS em relação às tardias. Estas, por
permanecerem em vegetação por maior período de tempo, acabam apresentando
maior produção das MS por área. Em face disso a grande maioria das leguminosas
disponíveis no mercado são de variedades tardias.
Dessa maneira, para que haja sucesso na consorciação, os seguintes
aspectos devem ser levados em conta:
•
Adequação da leguminosa e gramínea às condição de clima de solo da região;
•
Bom potencial de produção de sementes de ambas forrageiras;
•
Utilização de cultivares precoces de leguminosas;
•
Manutenção de níveis adequados de fertilidade, notadamente de micronutrientes;
•
Adequação do manejo aos hábitos de crescimento das forrageiras, com ênfase
para a leguminosa;
•
Determinação de épocas oportunas de diferimento do pastejo para possibilitar o
florescimento e ressemeadura natural das forrageiras.
7. Manejo e lotação do pasto
O manejo adequado das pastagens, a serem utilizadas por ovinos, deve
obrigatoriamente levar em conta dois aspectos: a obtenção de forragem em níveis
elevados de qualidade e quantidade e a manutenção de um reduzido nível de
contaminação por ovos e larvas dos helmintos (endoparasitas). Estes dois pontos
irão refletir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no número de matrizes que as
pastagens poderão manter.
Visando-se exploração intensiva das áreas disponíveis, determina-se o
número total de matrizes da criação, que representará a carga animal máxima, com
base na área de pastagens efetivamente disponível e no potencial de produção
anual, em termo de produção de MS da forrageira predominante. Considera-se
constante o número de matrizes durante todo o ano e admite-se já, de princípio, a
necessidade de utilização de forragem conservada (preferencialmente silagem) para
suprir deficiência de alimento no período “seco”.
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Na definição da carga animal deve se considerar ainda uma perda média por
acamamento e pisoteio de aproximadamente 20% do total da MS produzida e uma
média de ingestão de MS de 3,0% do peso vivo (PV) cabeça/dia.
A título de ilustração e considerando-se as condições existentes no Instituto
de Zootecnia em Nova Odessa (SP), estimou-se o potencial médio de produção de
forrageiras como o Aruana, Coast Cross, Tiffton e Transvala em 18 a 20 toneladas
de MS/ha/ano, para condições de manejo rotacionado e nível de reposição anual de
N de 250 a 300kg/ha. Nessas condições a lotação máxima da pastagem seria de
aproximadamente 30 cabeças/ha, considerando-se valores médios de:
•
Peso vivo de matriz = 60kg
•
Intervalo entre partos = 8 meses
•
Numero de parições = 1,5/matriz/ano
•
Período de aleitamento =52 dias/ parição (45 a 60 dias)
•
Período de confinamento em aleitamento de crias = 78 dias/ano
•
Período de pastejo = 287 dias/ano
•
Consumo diário de MS = 1,8 kg (3% do PV)
•
Consumo total de MS de forragem em pastejo =517kg MS/ matriz/ano (a)
•
Produção de forragem =19.000kg de MS/ha de pasto/ano
•
Perda de forragem por acamamento e pisoteio = 3.800 kg de MS
•
Forragem disponível = 15.200kg de MS/ ha de pasto/ano(b)
•
Lotação máxima = 30 cabeças / ha ano (b/a)
Deve ser lembrado ainda a necessidade do plantio, anualmente, de uma área
de 1,5 ha de milho ou de sorgo para a produção de silagem e de 1,0 ha de capineira,
para um módulo de criação de 100 matrizes, estando incluído nessa estimativa, o
consumo das matrizes, crias e reprodutores.
As pastagens devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de
rotação, visando principalmente manter-se o controle da infestação da forragem por
larvas de helmintos em níveis mais baixo possíveis. Deve-se evitar períodos de
ocupação superiores a 5 a 7 dias, visando minimizar a exposição dos animais às
larvas infestantes (L3) eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo (auto infestação).
Dessa maneira, quando a população de larvas infestantes torna-se significativa, os
ovinos já terão saído daquela área de pastagem, cuja forragem estará bastante
rebaixada, ficando as larvas sem hospedeiros e expostas as intempéries climáticas
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(radiação solar e vento). O período de repouso irá variar em função da época e do
ano, das condições climáticas, da forrageira e das condições de fertilidade do solo.
Em média, considera-se um período de 35 a 45 dias como suficiente para se ter uma
boa recuperação da forrageira, além de uma considerável diminuição na quantidade
de larvas infestantes.
Resultados bastante positivos podem ser obtidos dividindo-se a área total de
pastagem em 5 ou 6 piquetes, utilizados em rotação direta do inverno. No período
de verão cada um desses piquetes é subdividido em três, com uso de cerca elétrica,
liberando-se 1/3 da área de cada vez para pastejo em faixas. Nos períodos de
condições climáticas intermediárias (primavera e outono), pode-se reduzir para duas
o número de subdivisões de cada piquete.
Nesse esquema as novas faixas são acrescentadas aquelas já pastejadas, as
quais, apesar de continuarem acessíveis aos animais, não são mais pastejadas, seja
por não possuírem forragem, seja pelo acúmulo de urina e fezes. Essas áreas,
todavia, são preferidas pelos animais para descanso e ruminação, diminuindo assim
as perdas por acamamento e pisoteio na área em pastejo efetivo.
Outra prática interessante, e que pode resultar em menor taxa infestação dos
animais por larvas de helmintos, é a restrição do pastejo nas primeiras horas do dia,
quando a pastagem, em razão do orvalho, ainda apresenta elevado teor de
umidade. Nessas condições as larvas apresentam-se distribuídas em todo o perfil da
pastagem. Quando o orvalho seca e a umidade do topo das plantas vai diminuindo
em função da radiação solar, as larvas tendem a migrar para as partes mais baixas
da planta em busca de ambiente mais sombreado e com maior umidade, que
ofereça maior proteção contra a radiação solar e contra a dessecação.
Nessas condições, apesar de poder haver um alto nível de infestação na
área, como as larvas estão concentradas nas partes mais baixas das plantas, os
ovinos, pelo fato de executarem um pastejo mais de topo, estarão ingerindo
forragem com menor contaminação, reduzindo assim sua infestação por
endoparasitas. Esse efeito é notório em forrageiras de habito cespitoso, no período
de maior vegetação da forragem, correspondente ao verão chuvoso das regiões
Sudeste e Centro Oeste. No período de inverno essa prática não apresenta
resultados significativos. Com forrageiras de hábito prostrado (estolonífero), mesmo
no verão não se observa resposta considerável a esse procedimento.
Outra prática a ser adotada no esquema de controle da verminose é a
utilização concomitante da área de pastejo por bovinos e/ou eqüinos. Isso se deve a
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baixa possibilidade de infestação cruzada entre as diferentes espécies de helmintos
que parasitam cada uma delas e ao papel de limpeza que cada espécie efetua para
a outra quando ingere ou elimina nas pastagens larvas de vermes específicas da
outra espécie. Há ainda que se considerar o aspecto positivo que a consorciação de
espécies com diferentes hábitos de pastejo exerce sobre a quantidade e qualidade
de forragem, em função da maior uniformidade e equilíbrio no pastejo.
8. Importância da fertilidade do solo
Elevada produtividade de alto valor nutritivo são características essenciais
nas forrageiras a serem utilizadas com ovinos. Para tanto é necessário que o nível
de fertilidade do solo seja compatível com as exigências da forrageira. Capins como
Coast Cross, Tiffton, Aruana e Tanzânia, em função do elevado valor nutritivo,
notadamente em função dos teores de proteína e minerais bastante significativos,
exigem solos com elevada capacidade de saturação de base (V%) e altos teores de
nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), além dos micronutrientes.
A redução da fertilidade, em função da contínua remoção de nutrientes
promovida pelo pastejo e ainda pela lixiviação, resulta em gradativa redução na
produtividade, bem como na qualidade da forragem. Isto exige a reposição
constante dos nutrientes através da fertilização. E, apesar de o N ser
indubitavelmente o nutriente de maior efeito na produção de MS das gramíneas, a
resposta a esse nutriente é limitada pela deficiência dos demais.
Pesquisas conduzidas no instituto Zootécnica, em Nova Odessa, mostraram
que o parcelamento da reposição de N, aplicando-se 2/3 da dose total no final do
período das chuvas e o 1/3 restante no inicio do período das chuvas, resultou em
maior produção de forragem por área, bem como na melhoria na distribuição da
produção durante o ano, com aumento proporcionalmente maior no período da
estiagem.
VI.
CONSORCIAÇÃO
DE
OVINOS
VEGETAIS E ANIMAIS
Este capítulo foi extraído de.Sobrinho (1993).
COM
CULTURAS
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1. Introdução
A criação de ovinos, no estado de São Paulo, deveria constituir numa das
principais fontes de riqueza, dadas às condições de ordem econômica, climática e
agrostológica que se verificam. Entretanto, estima-se que o estado de São Paulo
possua apenas pouco mais de 250.000 cabeças de ovinos, cuja produção de lã não
deve ultrapassar 300 toneladas. Por outro lado, além de termos condições
ecológicas adequadas à produção de lã e carne, possuímos um vasto mercado
interno para absorver, em crescente proporção, qualquer quantidade desses
produtos; e com o advento da fibra sintética, devemos manter a lã na condição de
produto insubstituível, melhorando os métodos de produção por meio de
investigações científicas e experimentações.
Dentre estas, considera-se de caráter emergente, pela inexistência de
trabalhos, estudos sobre consorciação de ovinos com outras culturas vegetais e
animais. No primeiro caso, as observações levariam a concluir se os ovinos
poderiam ser utilizados no combate às ervas daninhas das culturas sem danos a
estas (ataque à casca do caule, ingestão de folhas, mudas novas e frutos), assim
como se os animais apresentariam desenvolvimento ponderal e qualidade de lã
(matéria vegetal aderida) satisfatória, sendo também permitido concluir sobre as
épocas em que os animais poderiam ter acesso à cultura em consorciação, levandose em consideração os tratos culturais.
No segundo caso, ou seja, consorciação de ovinos (bovinos, eqüinos e
periferia de tanques de piscicultura), embora seja praticada por um pequeno número
adeptos, também se apresenta ainda sem embasamentos científicos, embora seja
sabido que ambas as espécies se beneficiem em tal consorciação, principalmente no
tocante às infestações parasitárias, devido ao fato de não serem cruzadas, e como
recurso para melhor aproveitamento das pastagens.
2. Algumas culturas vegetais viáveis
Desde algum tempo, tem-se preconizado a criação de ovinos em áreas
ocupadas por culturas perenes como cafezais, laranjais e macieiras, com o intuito da
utilização do espaço disponível entre as árvores, freqüentemente invadido por outras
plantas; notadamente algumas espécies de gramíneas que se constituem em
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problemas para o manejo da cultura em questão, mas que se aplicam perfeitamente
na alimentação dos ovinos.
Não é comum se creditar aos ovinos o hábito de ingerir plantas lenhosas a
não ser em condições ecológicas especiais ou quando há falta de outros alimentos.
São vários os fatores que influenciam a seleção e composição da dieta dos
ruminantes, configurando um quadro complexo.
No caso da consorciação de ovinos com culturas, parece ser a complexidade
devida ao grande número de seus componentes botânicos. Entretanto, caprinos e
ovinos mantidos em caatinga, tiveram a composição florística de suas dietas
variando do mínimo de cinco ao máximo de doze espécies botânicas ao longo do
ano. Esse fato demonstra que a apetibilidade de uma dada espécie botânica da
pastagem varia em função de sua abundância, dos outros componentes a ela
associados, do tipo animal, do ano e da época do ano, e da familiaridade do animal
com a pastagem.
A preferência alimentar sobre as forragens também varia de acordo com a
espécie animal e com a intensidade do pastoreio. Em termos gerais, os bovinos e
ovinos tendem a pastejar mais gramíneas, enquanto que os caprinos parecem
preferir o consumo de espécies lenhosas.
2.1. Café e Cítricos
Muita ênfase se tem dado ao barateamento dos pastos destinados às
ovelhas, de forma a reduzir o custo de produção das mesmas, buscando-se
pastagens alternativas que possam alimentá-las convenientemente. Entre tantas, a
colocação de ovelhas em lavouras permanentes, onde possam, além de utilizar uma
pastagem barata (e porque não dizer indesejável), prestar serviços na limpeza
destas.
No tocante à consorciação de ovinos com culturas de café e cítricos, embora
as condições de limpeza dessas culturas hajam melhorado, é viável a introdução de
métodos simples e econômicos (controle biológico) que permitam ao produtor
manter suas lavouras livres de ervas daninhas que predominam nesta ou naquela
região.
Desses vegetais, a maioria tem ciclo vegetativo de cerca de 60 dias, dentro
dos quais deverão ser eliminados a fim de evitar concorrência com a cultura e
produção de sementes. Assim, os ovinos tenderiam a manter limpo o solo sob a
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cultura, pois os vegetais à sombra mantêm-se mais tenros, havendo preferência da
espécie por estes.
Em lavoura de café já se tem alguma pequena experiência e observa-se, em
algumas propriedades, que o efeito foi bastante satisfatório, mesmo porque, nem
sempre os pastos recebem cargas de corretivos ou adubações tão grandes, como o
recebem as invasoras, presentes nas ruas da lavoura. No entanto, não existem
ainda dados muito precisos acerca de tal prática, visto que as condições são
extremamente variáveis, não se podendo prever as taxas de lotação e suporte por
ano.
O que se sabe, é que as ovelhas e cordeiros são totalmente avessos às
folhas do cafeeiro, não as consumindo sob nenhuma hipótese, mas apresentando
indícios de consumirem os grãos, tão logo comecem a amadurecer. Nessa época,
porém, os próprios tratos culturais, como arruamento (abril – maio), impedem que se
coloque as ovelhas na mesma. Daí, até a esparramação (agosto – setembro), as
ovelhas não deverão ter acesso à lavoura.
Em trabalhos desenvolvidos com ovinos para controle de mato em cafezais,
observou-se que os carneiros não ingerem folhas ou brotações do cafeeiro, mesmo
na falta de outras plantas, sendo, portanto, seletivos a cafeeiros. Dentre as ervas,
preferiram as plantas de folha estreita como a grama-seda (Cynodon dactylon),
capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colchão (Digitaria sanguinalis sp),
picão preto (Bidens pilosa), caruru (Amaranthus sp) e botão-de-ouro (Galinsoga
parviflora), deixando de comer mentrasto (Ageratum conyzoides), Joá-bravo
(Solanum sisymbriifolium) e guanxuma (Sidasp), sendo que o sapé (Imperata
brasiliensis) foi aceito somente quando novo. Sendo necessário o desenvolvimento
de estudo mais aprofundado sobre a relação entre a quantidade de mato ingerida e
a quantidade de ervas produzidas por área.
As lavouras de citrus também têm sido vistas como capazes de fornecer
pastagens de excelente qualidade aos ovinos. No entanto, pode-se observar em
algumas propriedades que se utilizaram dessa prática, que as ovelhas preferem as
ervas daninhas das entrelinhas, não deixando de consumir as folhas das laranjeiras
e limoeiros que estiverem ao alcance. Assim, a menos que haja alguma medida de
contorno a esse entrave, não se recomenda a consorciação ovelha-cítricos.
Em qualquer um desses casos, é importante observar que a incidência de
carrapichos e picões em tais pastagens, pode comprometer sensivelmente a
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qualidade de lã (lã com semente ou carrapicho), devendo haver uma tosquia dos
animais antes de sua entrada para a lavoura.
2.2. Seringueira
Considerando que a cultura da seringueira ocupa grandes áreas, por
necessitar de grandes espaçamentos, há grandes possibilidades de sucesso na
consorciação, principalmente devido ao fato de a cultura não necessitar de
pulverizações.
2.3. Manga
A cultura da manga também apresenta grandes espaçamentos (9x9m a
11x11m, em solos pobres) e os ovinos entrariam como uma fonte de renda adicional,
visto que a manga só produz uma colheita por ano, além de deixarem o espaço
intercalar entre as plantas limpo, havendo ainda fertilização do solo atribuída ao
esterco.
Os animais deverão permanecer em pastejo durante o dia, sendo recolhidos
à noite em um aprisco ou cercado, de modo a evitar o ataque de predadores. No
período da safra, os animais serão retirados para outra área, devendo ser também
movidos quando da aplicação de inseticidas ou fungicidas, levando-se em
consideração o período de carência de cada produto.
Um aspecto que preocupa em tal consorciação, é o fato de termos
informações de que alguns ovinos ingerem o fruto da cultura em questão, sendo
constatado ovinos com um grande número de sementes no rúmen.
2.4. Milho
Este consórcio vem sendo adotado na Cabanha Sinuelo, município de Lagoa
Vermelha, RS, em experimento com terminação dos animais em lavoura de milho.
O rebanho é composto por 60 ovelhas da raça Hampshire Down, maioria SO
(seleção ovina), manejados numa área de 10 ha, sendo que para o experimento são
utilizados apenas quatro hectares.
O trabalho se baseia em colocar, a partir de dezembro, quando o milho
plantado mais cedo está com um porte mais alto, os cordeiros nascidos em final de
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agosto e início de setembro, recém-desmamados. Nessa fase, os cordeiros comem
apenas as gramíneas entre as plantas e as folhas mais baixas do milho, não
prejudicando o desenvolvimento normal da cultura.
Na segunda quinzena de março, são semeados nessa mesma área de milho,
aveia para pastagem; quando esta começa a nascer, os animais são retirados e
abatidos, obtendo-se carcaças pesando em média 15 Kg.
Assim, importante é o resultado econômico dessa sistemática, por permitir
uma produção praticamente sem custos e sem interferir nas demais atividades,
sendo adequada para pequenas áreas onde a necessidade de diversificação é
acentuada, comprovando a tese de que as pequenas propriedades podem absorver
a criação de ovinos com boa lucratividade.
2.5. Maçã
Os ovinos realizam um perfeito equilíbrio agropecuário quando criados em
culturas de maçãs. A macieira é uma planta não atacada pelos ovinos, mesmo em
se tratando de mudas novas.
Tal consorciação foi levada a efeito na Estância e Cabanha Vila Rica, no
município de Itapetininga , SP, com resultados animadores, utilizando-se ovinos de
raça Ideal (Polwath).
2.6. Amoreira
Em países europeus, tal consorciação é levada a efeito considerando que,
naquelas condições, essa cultura se apresenta com o aspecto arbóreo.
No Brasil, considerando o maior número de cortes e a apresentação ramosa
da planta, somados à sua elevada palatabilidade, poderá implicar em um pastejo
muito intenso, aumentando a relação haste: folha. Dessa forma, em nossas
condições, devemos evitar a consorciação, podendo-se fornecer as folhas de
amoreira verdes ou conservadas, no cocho, considerando o elevado teor protéico da
mesma.
2.7. Áreas Reflorestadas
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O sistema silvopastoril, que consiste na consorciação de espécies florestais
com pecuária, pretende acabar com o conceito de que as áreas reflorestadas são
impróprias a outras explorações durante o ciclo das árvores.
Vale ressaltar a utilização desse sistema pela companhia Agrícola e Florestal
Santa Bárbara, no Vale do Rio Doce (MG), onde foram utilizados gado bovino e
ovino visando reduzir o capim colonião predominante entre as mudas da espécie
florestal.
Análises de dados relacionados com tal consorciação incorreram numa série
de vantagens, dentre as quais o controle das gramíneas, na maioria das vezes, as
principais invasoras nos povoados florestais.
Em virtude das condições climáticas favoráveis, o capim colonião (Panicum
maximum, Jacq) é muito agressivo, apresentando crescimento rápido, o que obriga
as empresas florestais a realizarem de quatro a seis capinas anuais, onerando os
custos do empreendimento. Nas áreas planas, é viável a capina mecanizada,
entretanto, nos locais de topografia irregular, é utilizado trabalho braçal.
Assim, além de concorrer com as mudas de eucalipto na absorção de
nutrientes, o capim colonião, na sua fase avançada de desenvolvimento, dificulta o
combate às formigas, além de facilitar a propagação de incêndios florestais.
A criação de ovinos é, portanto, alternativa econômica para o empresário
florestal, sendo necessário que haja, na composição dos lotes, a presença de
bovinos, pois estes farão o rebaixamento da vegetação, facilitando a atuação dos
ovinos com seu hábito de pastejo rasteiro. A consorciação de bezerros e ovelhas em
áreas de eucaliptos recém-plantadas, antes da primeira capina, levou a concluir que
o local não sofreu qualquer dano até os dois anos de consorciação, sendo que a
taxa de lotação adequada foi de 1 UA/ha/ano, havendo, inclusive, ganho de peso
dos animais.
Sabe-se de experiências de consorciação de ovinos, até então bem
sucedidas, em lavoura de pêssegos e ameixas, não tendo havido, até o presente,
trabalhos que pudessem quantificar os resultados.
3. Consorciação com cultura animais – pastoreio múltiplo
O sistema de produção mista (bovinos de corte e ovinos) está bastante
generalizado na zona pecuária do Rio Grande do Sul. Para dar uma idéia de sua
importância, é suficiente mencionar que os bovinos de corte contribuem com 16,4%
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do valor bruto da produção agropecuária do Rio Grande do Sul e os ovinos com
4,5%. A chamada pecuária extensiva (bovinos de corte, ovinos, eqüinos e outros)
ocupa, aproximadamente, 150.000 Km e se constitui em atividade bastante
importante em mais de 60.000 unidades de produção agropecuária daquele Estado.
Em geral, bovinos de corte e ovinos são explorados segundo um sistema
tradicional, pouco tecnificado e que apresenta níveis baixos de produtividade, com
altos índices de mortalidade e baixos rendimentos de lã por ovino e por hectare.
Devido a essa situação, é impossível encontrar uma solução para o
desenvolvimento agropecuário do Rio Grande do Sul, sem contemplar o incremento
da eficiência sócio-econômica do sistema de produção mista: bovinos de corte e
ovinos.
3.1. Pastoreio Múltiplo
A maioria dos trabalhos em pastoreio combinado é oriunda de autores norteamericanos e sul-africanos, sendo que os últimos dedicam-se mais ao estudo do
pastoreio combinado de ruminantes domésticos. O pastoreio contínuo por ovinos é
considerado mais prejudicial à pastagem do que o de caprinos, em virtude da maior
intensidade de pastejo daqueles sobre os componentes da vegetação do estrato
herbáceo, resultando em maior exposição do solo.
Os efeitos do pastoreio múltiplo de caprinos e bovinos em pastagens de
vegetação arbórea e arbustiva foram avaliados na África do Sul. O trabalho
desenvolveu-se em duas fases. A primeira, que perdurou por seis anos, incluiu áreas
de pastoreio por bovinos e áreas por caprinos. Nesta primeira etapa, o desempenho
dos bovinos superou ao dos caprinos e ao das duas espécies combinadas. Todavia,
as parcelas submetidas ao uso por caprinos tiveram a sua produção de gramíneas
aumentada, sendo controlada sua cobertura arbustiva. Foi, então, iniciada a
segunda fase da pesquisa, em que os piquetes, anteriormente utilizados por
bovinos, passaram a sê-lo por caprinos e vice-versa. Ambas as espécies se
beneficiaram, apresentando ganhos de peso superiores aos obtidos na primeira
fase. Assim, o autor concluiu que, em longo prazo, a combinação das duas espécies
seria a melhor opção. A proporção sugerida seria de um bovino para dois caprinos.
Por sua vez, o pastoreio de cavalos, altamente seletivos por gramíneas,
favoreceu o crescimento do arbusto Purshia tridentata, principal componente da
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dieta de veados e alces. Assim, a combinação das três espécies herbívoras resultou
no uso mais uniforme da pastagem e melhorou o seu desempenho produtivo.
Em trabalho desenvolvido na Austrália, em uma pastagem com vegetação
predominada pelo eucalipto (Eucaliptus populnea) com substrato de arbustos e uma
camada herbácea de gramíneas e ervas de folha larga, comparou as dietas de
caprinos, ovinos e bovinos. A superposição das dietas variou com as espécies
animais comparadas e com a época do ano. Ovinos e bovinos mostraram maior
competição, enquanto caprinos e ovinos tiveram menor superposição das dietas. O
autor concluiu que o pastoreio por duas ou mais espécies herbívoras resultou em
melhor distribuição da pressão do pastejo, uso mais completo de um maior número
de componentes da vegetação e benefício mútuo para as espécies animais.
Segundo os dados de diversos trabalhos, ovinos em pastagem nativa
preferiram 62% de gramíneas, 15% de ervas e 23% de ramas. Por sua vez, ovinos
em condições de super-pastoreio consumiram 79% de gramíneas, 8% de ervas e
14% de ramas, enquanto que em pastagens não pastejadas, preferiram 29% de
gramíneas, 42% de ervas e 30% de ramas. Em outra pesquisa, foi constatado que a
dieta de ovinos era de 60% de gramíneas, 18% de ervas e 22% de arbustos,
enquanto que os caprinos apresentaram, em sua dieta, 48% de gramíneas, 40% de
arbustos e 12% de ervas.
3.2. Descontaminação de Pastagens
A descontaminação das pastagens é realizada pela utilização da espécie
ovina em pastejo alternado com bovinos e eqüinos. Trata-se de uma prática
baseada na especificidade parasitária dos vermes, ou seja, larvas infectantes dos
parasitas de ovinos que forem ingeridas por eqüinos serão destruídas, pois não
encontrarão ambiente adequado para seu desenvolvimento, em se tratando de um
hospedeiro de outra espécie.
Como exceção temos o T. axei, que infecta ruminantes e eqüinos. Tal fato
não é preocupante, pois o principal parasita dos ovinos é o Haemonchus e não
Trichostrongylus, o que credencia os eqüinos para descontaminar pastagens de
ovinos e vice-versa.
Quanto ao pastejo misto, envolvendo bovinos e ovinos, estudo comparativo
da prevalência de nematódios gastrintestinais em ovinos e bovinos criados na
mesma pastagem, em condições do Rio Grande do Sul, revelou a não ocorrência de
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infestações cruzadas por espécies dos gêneros Haemonchus, Oesophagostomum,
Nematodirus e Bunostomum, sendo que apenas algumas espécies dos gêneros
Cooperia e Trichostrongylus axei apresentaram infestações cruzadas.
Tendo por base as características morfológicas e biológicas, Haemonchus
contortus é caracterizado como parasita de ovinos, enquanto H. Placei, como de
bovinos, sendo completamente inexpressiva a infestação natural cruzada ovinobovino.
Na
Austrália,
é
relatado
que
Haemonchus
placei
é
um
parasita
preferencialmente de bovinos, enquanto H. contortus é um parasita de ovinos, o que
foi confirmado por estudos que verificaram redução significativa na contaminação de
pastagens de ovinos por H. contortus e T. colubriformes, quando estas foram
submetidas a pastejo prévio com bovinos jovens.
No Brasil, piquetes mantidos com bovinos adultos, por dois e quatro meses,
apresentaram níveis de contaminação inferiores aos dos campos manejados com
pastejo misto (bovinos e ovinos) ou somente com ovinos. Por outro lado, quando foi
realizado pastoreio alternado com bezerros e ovinos, a contaminação da pastagem
apresentou os maiores níveis, sugerindo a ocorrência de infestações cruzadas dos
vermes entre bovinos e ovinos. Tal constatação deveu-se ao fato de que as
espécies de Haemonchus estudadas (H. contortus e H. placei) podem parasitar
ovinos e bovinos.
A questão também pode ser explicada pelo fato dos bovinos adultos
apresentaram uma resistência bastante elevada à verminose. Assim, devido à
resposta imunitária do hospedeiro, a maioria das larvas infectantes ingeridas por
esses animais são destruídas no aparelho digestivo, o mesmo não acontecendo com
os bovinos jovens.
Em São Paulo, torna-se necessária à realização de experimentos visando
verificar quais as espécies de Haemonchus que parasitam bovinos e ovinos criados
juntos ou isoladamente, de forma a orientar os ovinocultores com segurança,
podendo-se, desde já, recomendar a utilização apenas de bovinos adultos ou de
eqüinos como descontaminadores das pastagens no estado. Esses animais irão
ingerir o capim com as larvas infectantes para os ovinos, as quais, em sua maioria,
serão destruídas no aparelho digestivo desses animais por encontrarem um
hospedeiro inadequado para sua instalação ou um animal resistente ao parasita.
Assim, os bovinos ou eqüinos deverão permanecer cerca de dois meses nos
piquetes escolhidos para que sejam estes descontaminados. Após este período, os
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piquetes devem permanecer sem animais até que haja recuperação da pastagem, o
que irá variar com a época do ano, tipo de forragem e uso de irrigação.
Considerando que as categorias que apresentam maior susceptibilidade à
verminose são ovelhas em final de gestação e início de lactação e cordeiros a partir
do
desmame,
esses
animais
deverão
ser
destinados
às
pastagens
descontaminadas. Caso não seja possível prepará-las, tanto para as ovelhas quanto
para os cordeiros, deve-se dar preferência aos últimos, por serem estes mais
suscetíveis. É importante lembrar que as medidas de descontaminação dos piquetes
selecionados, deverão iniciar com base na data prevista para o início das parições.
Para que seja retardada a recontaminação das pastagens, deve-se
administrar aos ovinos um anti-helmíntico de amplo espectro, antes da introdução
desses animais nas pastagens.
3.3. Consorciação de ovinos com áreas próximas a conjunto de
tanques e viveiros de peixe
Tanques de piscicultura são recintos construídos de terra ou alvenaria,
destinados à reprodução, estocagem de alevinos e matrizes e manejo de peixes. Por
outro lado, os viveiros são recintos de terra destinados exclusivamente ao
crescimento e engorda dos peixes.
No caso da consorciação com a espécie ovina, as construções sofisticadas,
como as dos tanques de alvenaria ou concreto, devem ser evitadas, dando-se
preferência às de terra, formadas pela escavação do terreno e por diques, ou de
barragem, por permitirem um melhor deslocamento dos animais em toda a área,
explorando até mesmo a vegetação lateral muito próxima à lâmina d’água.
Quanto à vegetação disponível para os ovinos, deve consistir-se de
gramíneas de hábito de crescimento prostrado bastante rizomatosas, de modo a
evitar a erosão da orla dos tanques, coincidindo com a preferência dos ovinos.
VII. NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DE OVINOS
Este capítulo foi extraído de Carvalho et al. (2001) e Valverde (2000). Serão
abordados todos os aspectos relacionados com a nutrição e alimentação de ovinos,
exceto aqueles referentes à utilização de pastagens, já abordados no capítulo V.
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1. Exigências nutricionais
As exigências nutricionais dos ovinos em proteína, energia, minerais e
vitaminas variam em função de vários fatores, tais como:
•
Raça: as raças mais precoces e de grande porte, como as especializadas na
produção de carne, tendem a apresentar maior exigência nutricional que as
raças produtoras de lã ou mistas. Já as raças deslanadas apresentam-se,
ainda, menos exigentes;
•
Idade: os animais mais jovens tendem a apresentar maiores exigências, em
razão do maior ritmo de crescimento;
•
Categoria
ou
situação
fisiológica:
o
estado
fisiológico
afeta
significativamente as exigências nutricionais. A gestação, principalmente em
seu terço final, e a lactação levam a um aumento considerável dessas
exigências;
•
Sistema de criação: em criações extensivas, onde os animais têm de
percorrer grandes distâncias entre áreas de pastejo, saleiros ou bebedouros,
as exigências nutricionais, principalmente em energia, tendem a ser maiores
que a dos animais em pastagens menores e mais produtivas.
2. Suplementação e rações
De maneira geral, os ovinos podem ser mantidos exclusivamente em regime
de pastagem, tendo sempre à vontade água e sal mineral. No entanto, em
determinadas situações relacionadas à época do ano, exigência da categoria animal
e manejo do rebanho, pode ser necessário o fornecimento de um suplemento ou
complemento alimentar.
Forrageiras conservadas e rações balanceadas são, normalmente, ou
suplementos utilizados. Quando as condições e os níveis nutricionais da pastagem
forem bons, poderemos oferecer rações mais simples, apenas para manutenção,
como, por exemplo, ao prender os animais a noite. Por outro lado, quando as
pastagens estiverem degradadas, as suplementações deverão ser ricas em proteína
e energia.
As suplementações formadas por rações concentradas devem se fornecidas
na quantidade de 30 a 40% do total de matéria seca (MS) consumida.
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A seguir, apresentaremos algumas fórmulas de rações com os principais
ingredientes:
2.1. Rações complexas
1) Feno coast-cross
30%
Rolão milho
20%
Milho (fubá)
33,5%
Farelo de soja (45% PB)
15%
Calcário calcítico
1,5%
Valores nutricionais: 13,5% PB; 65% NDT; 0,69% Ca e 0,3% P
2) Feno de alfafa
35%
Milho (fubá)
30%
Farelo de soja
15%
Farelo de trigo
19%
Calcário calcítico
1%
Valores nutricionais: 18% PB; 65% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P
3) Feno de alfafa
35%
Milho (fubá)
36%
Farelo de trigo
28%
Calcário calcítico
1%
Valores nutricionais: 16% PB; 65% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P
As rações acima já contêm o volumoso; portanto, seu fornecimento deve ser à
vontade para os animais, que também devem ter sempre à disposição sal mineral.
As rações cujo volumoso é o feno de alfafa apresentam custo mais elevado; no
entanto, melhoram bastante a lã e o estado geral dos animais.
Outra
opção
seria
o
fornecimento
de
volumoso
e
concentrado
separadamente. Neste caso, o volumoso (feno, capineira ou silagem) deve estar
sempre à disposição do animal e apresentar boa qualidade. No caso das capineiras,
estas devem ser oferecidas aos animais quando novas, ou seja, entre 45 a 90 dias
de crescimento, pois é nesta fase que apresentam melhor valor nutricional.
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2.2. Concentrados
1) Milho (fubá)
70%
Farelo de soja
28%
Calcário calcítico
1,5%
Fosfato bicálcico
0,5%
Valores nutricionais: 19% PB; 76% NDT; 0,75% Ca e 0,4% P
2) Milho (fubá)
60%
Farelo de soja
23%
Farelo de trigo
15%
Calcário calcítico
2%
Valores nutricionais: 18,8% PB; 74% NDT; 0,82% Ca e 0,46% P
3) Milho (fubá)
68%
Farelo de algodão (28%)
30%
Calcário calcítico
2%
Valores nutricionais: 16% PB; 75% NDT; 0,8% Ca e 0,44% P
4) Milho (fubá)
52,8%
Farelo de soja
21,5%
Farelo de trigo
13%
Farelo de algodão
9,5%
Calcário calcítico
2%
Fosfato bicálcico
0,2%
Sal fino
1%
Valores nutricionais: 19,3% PB; 72% NDT; 0,86% Ca e 0,45% P
3. Confinamento de cordeiros
Atualmente, no estado de São Paulo, os melhores resultados para terminação
de cordeiros para abate ou recria de fêmeas são obtidos através do confinamento.
Principais vantagens do confinamento:
•
Máximo aproveitamento da área disponível, pois não haverá necessidade de
reservar uma área para desmame dos cordeiros; esta área (25% da área
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ocupada pelas matrizes) pode ser utilizada para aumentar o número de
fêmeas produzindo cordeiros;
•
Menor taxa de mortalidade, pois, quando confinamos os cordeiros,
praticamente eliminamos o problema de verminose, a principal causa de
“perda” de cordeiros durante a recria.
Como desvantagem, podemos citar o aumento do custo, principalmente com
alimentação e mão-de-obra.
Os cordeiros a serem confinados devem ser recém-desmamados (45 a 90
dias) e estar em bom estado físico e sanitário. Os melhores animais para
confinamento são provenientes de cruzamento industrial, pois, devido ao “choque de
sangue” (heterose), apresentam excelente ganho de peso.
Com relação às instalações, poderemos utilizar mangueiras, barracões,
cercados ou mesmo a própria cabanha. O piso pode ser ripado, cimentado ou de
terra, evitando-se, no entanto, que haja locais em que a água emposse e onde
nasçam gramíneas. A cobertura pode ser total ou parcial, ou seja, pode cobrir
somente a linha de cocho e fornecer alguma sombra para os animais. A área a ser
considerada para cordeiros até 30Kg de peso é de 0,60 m2/cabeça, em instalações
totalmente cobertas, e 5 m2/cabeça quando somente a linha de cochos é coberta.
Tomada a decisão de confinar os cordeiros, devemos ter alguns cuidados:
•
Sendo o consumo de alimentos cerca de 3 a 4% do peso vivo/cabeça/dia em
MS, deve-se programar sempre a mais para evitar mudanças dos
ingredientes da ração, bem como dos níveis de energia e proteína que
poderiam causar atrasos e perdas de peso;
•
Sal mineral deve estar sempre à vontade;
•
A castração e a descola são desnecessárias aos cordeiros confinados,
executando-se machos e fêmeas que serão recriados para reprodução;
•
A tosquia no início do confinamento poderá aumentar o consumo de
alimentos e conseqüentemente o ganho de peso;
•
Deve-se formar lotes com idade e tamanho homogêneos, para diminuir o
efeito da dominância;
•
No caso de usar feno como volumoso na ração, aconselha-se picá-lo e
mistura-lo ao concentrado, a fim de evitar perdas e aumentar o consumo
deste ingrediente;
•
Deve-se vermifugar os cordeiros antes de entrarem no confinamento;
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•
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Quinze dias antes do desmame, os cordeiros devem ser vacinados contra
enterotoxemia, carbúnculo sintomático e gangrena gasosa (Sintomatina
Polivalente) com uma dose do reforço 15 a 21 dias após.
A seguir daremos exemplos de dietas para confinamento. Lembramos que
muitos outros alimentos podem ser utilizados, desde que estejam nas proporções
corretas. A escolha por um outro ingrediente vai depender de sua disponibilidade e
custo, em cada região.
Exigências nutricionais para confinamento (% MS)
PB = 14%; NDT = 65%; Ca = 0,8% e P = 0,4%
3.1. Rações completas para confinamento de cordeiros
1) Feno de gramínea
38%
Milho (fubá)
37,5%
Farelo de algodão
23%
Calcário calcítico
1,5%
Valores nutricionais: 14% PB; 62% NDT; 0,7% Ca e 0,35% P
2) Feno de gramínea
20%
Milho (fubá)
31%
Rolão de milho
22%
Farelo de soja
14%
Farelo de trigo
13%
Calcário calcítico
2%
Valores nutricionais: 15% PB; 68% NDT; 0,9% Ca e 0,4% P
3) Feno de gramínea
30%
Rolão de milho
55%
Farelo de soja
15%
Calcário calcítico
1,5%
Valores nutricionais: 13,5% PB; 62% NDT; 0,7% Ca e 0,3% P
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3.2. Concentrados para confinamento de cordeiros
1) Rolão de milho
60%
Farelo de algodão
40%
Calcário calcítico
2%
Valores nutricionais: 16% PB; 60% NDT; 0,9% Ca e 0,5% P
OBS.: este concentrado, pela quantidade de fibra existente, cerca de 12% de FB,
pode ser usado sem volumoso.
2) Milho (fubá)
58%
Farelo de soja
27%
Farelo de trigo
12%
Calcário calcítico
2%
Sal mineral para ovinos
1%
Valores nutricionais: 20% PB; 75% NDT; 0,9% Ca e 0,5% P
3) Rolão de milho
70%
Farelo de soja
30%
Calcário calcítico
1,3%
Valores nutricionais: 19% PB; 76% NDT; 0,6% Ca e 0,35% P
Se utilizarmos ração completa, esta deve ser oferecida à vontade aos
animais. No caso de utilizar concentrado e volumoso separadamente, deveremos
fornecê-los na seguinte proporção: ½ da MS em volumoso e ½ em concentrado.
Ex: em animais com 15 Kg de peso vivo, o consumo de MS é da ordem de 0,6
Kg/cab/dia; portanto deveremos fornecer aproximadamente 0,3 Kg de concentrado +
0,3 Kg de MS de volumoso, ou seja, aproximadamente 1,2 Kg de matéria verde.
4. Creep-feeding
Trata-se de um sistema em que os cordeiros em amamentação têm acesso a
uma suplementação alimentar, através de uma instalação onde apenas eles
conseguem ter acesso.
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O sistema pode ser aplicado a partir dos 10 dias de idade dos cordeiros. A
instalação deve ser disposta em local sombreado (quando na pastagem) ou coberto,
preferencialmente em áreas de descanso do rebanho.
A ração do creep-feeding deve ser palatável e fornecida a vontade, formulada
preferencialmente por concentrado com altos valores de proteína e energia.
Sugestões:
1) Milho em grão moído ou fubá
76%
Farelo de soja
20%
Açúcar
2%
Calcário calcítico
1,5%
Sal mineral para ovinos
0,5%
Valores nutricionais: 17% PB; 78% NDT; 0,6% Ca e 0,3% P
2) Milho em grão moído ou fubá
70%
Farelo de algodão
26%
Açúcar
2%
Calcário calcítico
2%
Sal mineral para ovinos
0,5%
Valores nutricionais: 15% PB; 75% NDT; 0,8% Ca e 0,4% P
5. Alimentos para ovinos: suas características
5.1. Alimentos volumosos
5.1.1. Fenos
Os fenos (ou pasto seco) constituem alimentos de grande valor para a
alimentação dos ovinos e, especialmente, quando são de leguminosas. É
conveniente lembrar que o valor nutritivo dos fenos vai depender especialmente da
época de corte, dos métodos utilizados na colheita da pastagem, preparação,
proporção de folhas e armazenamento.
Em geral, pode-se dizer que todos os fenos de boa qualidade e muito
especialmente os de leguminosas (alfafa e trevos), podem compor perfeitamente
100% da ração nos ovinos.
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Como índice geral, o feno de leguminosas, cortado oportunamente e
preparado adequadamente, apresenta em torno de 52% de NDT na MS. O feno de
gramínea cortada no período de crescimento bem preparado, apresenta ao redor de
47% de NDT.
5.1.2. Palhas
Principalmente as palhas de cereais são mais alimentos de emergência,
podendo utilizar-se somente como parte da ração já que são de baixo valor nutritivo
e pouca palatabilidade. Assim, são pobres em energia, proteína, cálcio, fósforo e
vitaminas. Apresentam 35% de NDT e não se prestam para rações de produção. A
palha de aveia figura como a de maior valor, seguida de cevada e depois a de trigo.
5.1.3. Silagens
Quando há falta de forragens verdes, a silagem bem preparada é em alimento
suculento e apetecível, de grande utilidade.
a) Silagem de Milho – Essa forragem é satisfatória para a alimentação de ovinos, e
calcula-se um valor nutritivo comparativo (quilo a quilo) de 33% a 50% a respeito
de um feno de leguminosa. A boa silagem de milho contém, em média 52% de
NDT, e é boa fonte de caroteno. Em geral, exige energia e fósforo
suplementares.
b) Silagem de pastos – Sendo de boa qualidade e, especialmente elaborada, a
partir de leguminosas, tem um valor nutritivo e utilização semelhante à silagem
de milho, no entanto, é normalmente superior a este no seu conteúdo de proteína
e cálcio. Esse aspecto deve ser levado em conta de forma especial, já que isso
pode significar importante economia de suplementos protéicos.
c) Silagem de folhas e coroas de beterraba açucareira – Atribui-se um valor
nutritivo de 17 – 25%, em média, em comparação com o feno de leguminosas e
de 50%, comparando-se com a silagem de milho, embora em alguns casos,
quando é convenientemente suplementada, seu valor seja similar ao da silagem
de milho. Recomenda-se fornecê-la em quantidades não superiores a 35% - 40%
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da ração total, principalmente pelo seu efeito laxante. Por isso, recomenda-se
sempre administrar com essa forragem um suplemento mineral de carbonato de
cálcio (120 g X 100 Kg de alimento), para evitar em parte esse problema e suprir
a deficiência de cálcio.
Para as folhas e coroas frescas de beterraba açucareira, recomendam-se as
mesmas normas gerais que para a silagem. Assim, essa forragem pode, então, ser
utilizada de três maneiras diferentes:
-
Pastoreio direto no potreiro, uma vez que as raízes tenham sido retiradas.
-
Amontoando a forragem em pilhas pequenas, para que perca certa quantidade
de umidade e logo levá-la até onde estão os animais, à medida que seja
necessário.
-
Elaboração de silagem. Em alguns experimentos, tem-se fornecido essa silagem
a ovinos, como parte da ração em quantidades de 1.5 kg por animal, e por dia,
com bons resultados, mas suplementado com carbonato de cálcio.
Alguns pecuaristas não recomendam fornecer a cordeiros e carneiros grandes
quantidades dessa silagem, nem também a raiz fresca de beterraba açucareira,
porque em certas ocasiões, tem-se apresentado problemas de cálculos urinários
nesses animais.
d) Silagem de Sorgo – Essa forragem pode constituir um bom substituto da silagem
de milho, especialmente naqueles regiões, onde é difícil a obtenção de bons
rendimentos com o milho. Se lhe atribui um valor nutritivo de 25% a 30% junto a um
feno de leguminosa de boa qualidade.
5.1.4. Forragens de corte
Possuem característica, semelhante às dos pastos, porém, um pouco
inferiores, pois, quando pastejam, os animais rejeitam as partes menos apetecíveis
das plantas, de menor valor nutritivo, que são incluídas na colheita mecânica. A
composição e o valor nutritivo da planta cortada verde, dependem do estágio de
vegetação, da fertilidade do solo e de outros fatores.
Nas capineiras e culturas forrageiras para corte, é mais fácil o emprego de
fertilizantes e da irrigação, porque em áreas pequenas pode ser obtida uma grande
massa verde com diversos cortes anuais, embora o custo da forragem seja mais alto
que do pasto cortado diretamente pelos animais.
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5.1.5. Pastos
O pasto de boa qualidade, em crescimento ativo, é o alimentos preferido
pelos ovinos. Como não-concentrado, é rico em energia, pois contém mais de 60%
de NDT na MS. A consorciação de leguminosas e gramíneas melhora os valores
nutritivos e protéicos das pastagens. Todavia, com o amadurecimento das plantas, o
valor do pasto decresce, a ponto de, nos períodos de seca prolongada, serem
insuficientes os teores de energia, proteína, fósforo e caroteno.
5.2. Raízes e tubérculos
Tem um alto conteúdo em água e, dessa maneira, sua porcentagem de MS
fica entre 10% e 15%, na maioria dos casos. Por essa razão, seu valor nutritivo no
estado fresco é escasso, comparado a outras forragens de um conteúdo de MS
superior, No entanto, as raízes e os tubérculos, tais como mandioca, batata doce,
beterraba, cenoura e nabos, possuem teores razoáveis de fósforo e são pobres em
proteínas e cálcio. Em geral, são, também, pobres em vitaminas, exceto a batata
doce e a cenoura que são fontes de caroteno. A MS possui um baixo conteúdo de
fibra que é muito digestível e de valor energético consideravelmente elevado, por
seu alto conteúdo de carboidratos (açúcares).
As raízes podem ser fornecidas ao gado ovino, segundo recomendações
européias, em quantidades que oscilem entre 7 e 9 kg diário por animal, cuidando-se
de suplementá-las, convenientemente, no que diz respeito ao cálcio, ao fósforo e à
vitamina A. Para engorda, calculam-se que as raízes e os tubérculos, tenham em
média, um valor comparativo de 68% em comparação com a silagem de milho.
Assim, 4 kg de raízes correspondem praticamente a 2.5 kg de silagem de milho ou a
1 kg de milho em grão.
Recomenda-se seu fornecimento convenientemente picados, evitando-se
possíveis problemas de atragamento e afogo nos animais.
5.3 Grãos, subprodutos e outros concentrados
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Os cereais e seus subprodutos são muito usados na alimentação dos
animais, porque são de fácil produção em muitas regiões. São palatáveis e ricos em
energia, embora pobres em proteínas e minerais.
a) Aveia – Constitui o grão perfeito para a alimentação de ovinos (ovelhas,
carneiros, cordeiros de engorda). Possui alta palatabilidade um moderado
conteúdo de fibra que ajuda a evitar transtornos digestivo que são freqüentes ao
se fornecer grãos aos animais. Atribui-se lhe um valor nutritivo de 75% - 100%,
sendo que comparado ao milho em grão pode substituir de 10 a 100% do
alimento básico da ração, no entanto atinge seu maior valor quando substitui
somente uma porcentagem menor que 100%. Deve ser fornecida esmagada, ou
como grão inteiro moído grosso. Supera o milho em proteína, energia, cálcio e
fósforo.
b) Milho – Tem alto valor nutritivo e seu uso na alimentação ovina está restrito,
especialmente por seu preço elevado, comparado outros grãos. No caso de se
fornecê-lo aos animais, deve-se cuidar não fazê-lo em excesso, já que seu baixo
conteúdo de fibra e sua concentração nutritiva podem produzir transtornos
digestivos sérios. Além disso, é mais pobre em proteína que outros grãos de
cereais e seu conteúdo de cálcio é baixo, razões pelas quais se recomenda seu
fornecimento juntamente com uma forragem de boa qualidade, para se obter
máximo benefício. Deve ser fornecido aos ovinos de preferência como quirera ou
desintegrado, com ou sem palha.
c) Cevada, trigo, centeio – Esses grãos de cereais tem um valor nutritivo
semelhante, destacando-se os dois últimos pelo seu maior conteúdo em proteína
que o milho.
Constituem alimentos satisfatórios para o gado ovino e quando comparados com
o milho, seus valores relativos quanto à alimentação são: trigo 90% - 95%,
cevada 85% - 100% e centeio 83% - 87%. Podem substituir 100% do alimento
básico, porém, isso não é conveniente nem econômico, já que seu máximo
rendimento e utilidade é alcançado quando figura como complemento de uma
ração, cujo grosso está constituído por forragem de qualidade. Nesse aspecto,
deve-se lembrar que os grãos de cereais são, em geral, baixos em cálcio e sua
maior utilidade está no fato de fornecerem quantidades consideráveis de energia
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que deve ser administrado aos ovinos só em certos períodos críticos que
passaremos a analisar mais adiante.
d) Sorgo – Seu cultivo e utilização está especialmente indicado para aquelas
regiões onde não é possível conseguir bons rendimentos com o milho. Os grãos
de Sorgo podem substituir parcialmente o milho, embora possuam valor nutritivo
um pouco menor. Devem ser triturados grossos.
e) Farelo de trigo – Esse subproduto de moinho constitui um bom alimento para os
ovinos, alcançando um valor nutritivo relativo de 90% comparado ao milho,
quando usado em proporção não superior a 33% em substituição ao alimento
básico. Seu conteúdo protéico é superior ao dos grãos de cereais, sendo, talvez,
o alimento comum mais rico em fósforo. No entanto, é baixo em cálcio e contém
quantidades mínimas de vitimas A e D. Dado o seu conteúdo relativamente alto
em fibra, é um alimento “sadio” que não produz transtornos digestivos e,
conseqüentemente, pode constituir uma valiosa ajuda para tornar mais “leve” os
concentrados mais pesados e para iniciar os animais no consumo de grãos ou
concentrados.
f) Arroz – Os grãos moídos podem substituir parcialmente o milho, mas são pouco
empregados, ao contrário de alguns subprodutos.
O farelo comum de arroz é pobre em proteína, rico em gordura e sua
digestibilidade varia com a proporção das cascas. É de difícil conservação, pois
estraga facilmente. Já o farelo desengordurado, é mais rico em proteína e
contém menos energia, porém é de conservação mais prolongada;
g) Subprodutos
agroindustriais
– A
utilização
de
resíduos
e
produtos
agroindustriais que apresentam valores de comercialização mais reduzidos, tem
sido preconizada, para a alimentação de animais, especialmente em sistema
intensivo de terminação de bovinos. Apesar de aproximadamente 70% dos
resultados existentes sobre avaliação nutritiva dos alimentos para ruminantes,
terem sido obtidas em pesquisas com ovinos, são muito escassas as
informações não-convencionais, principalmente em sistemas de alta produção.
Dessa forma, torna-se importante à discussão de alguns aspectos relativos à
viabilidade da utilização de subprodutos agroindustriais na alimentação de
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cordeiros em sistema intensivo de produção, objetivando-se aumentar a rapidez
de comercialização e a produção de carcaças de melhor qualidade.
5.4. Suplementos protéicos
Como seu nome indica, esses alimentos caracterizam-se pelo seu elevado
conteúdo de proteína em comparação com os alimentos comuns.
Considerando-se que a maioria desses suplementos constituem subprodutos
da elaboração de diferentes materiais, sua composição é bastante instável dadas às
variações existentes na matéria prima mesma e nos diversos processos empregados
na elaboração do produto principal. Isso deve ser considerado na avaliação das
quantidades nutritivas desses suplementos, já que isso determinará sua correta
utilização na alimentação ovina.
Estes alimentos são usados em quantidades relativamente pequenas por
serem de alto custo, comparados com outros alimentos. No entanto, a incorporação
de alguns poucos gramas diários são geralmente suficientes. Porém, podem ser
fornecidas quantidades altas, sem inconveniente algum, mas seu uso e proporções
estarão determinados, principalmente, pela classe e pela qualidade da forragem que
estiver sendo fornecida ao gado, considerando-se suas necessidades alimentares,
num determinado momento, e pelo custo relativo dos outro alimentos em
comparação com o suplemento protéico.
Os suplementos protéicos, então, estão destinados especialmente a fornecer
a proteína necessária para o crescimento normal e o desenvolvimento do gado, e
serão usados essencialmente durante os períodos “críticos” da alimentação e
quando
forem
administradas
forrageiras
de
qualidade
deficiente
ou
não
leguminosas.
a) Farelo de linhaça – É um excelente suplemento protéico para o gado ovino e
seu uso está limitado especialmente pelo alto custo e escassa digestibilidade.
Atribuindo-se-lhe, normalmente um conteúdo protéico de 35% e de um baixo
conteúdo de fibra, comparado a outros suplementos protéicos de origem
vegetal, é um excelente suplemento para rações de animais destinados a
exposições. É rico em fósforo.
b) Farelo de girassol – Sua composição e seu valor nutritivo é variável,
dependendo, principalmente, da quantidade de casca que contenha. Em
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algumas análises, tem-se determinado 47% de proteína em dependência do
teor de fibra. Seu conteúdo de fibra é superior ao farelo de linhaça. É um
suplemento que possui, ainda, proteína de boa qualidade, junto a condições
de alta palatabilidade, o que faz desse alimento um suplemento protéico de
alto valor para toda classe de gado ovino. Tem, também, a qualidade de
conservar-se em boas condições durante o armazenamento. É rico em fósforo
e seu uso depende do preço.
c) Farelo de colza – Contém aproximadamente 33% de proteína e quando
usado em pequenas quantidades, seu valor nutritivo é semelhantes ao dos
suplementos anteriores. No entanto, é de palatabilidade inferior, e a literatura
cita casos de toxicidade e abortos, quando fornecido em quantidades altas a
ovelhas prenhes. Assim, recomenda-se sua administração em níveis nãosuperiores a 250 g diários para ovelhas prenhes. Usado nessa proporção em
rações balanceados, estima-se que seu valor nutritivo seja similar ao do farelo
de linhaça.
d) Farelo de soja – É palatável e contém, aproximadamente, 47% de proteína,
além de ser boa fonte de cálcio e fósforo. Seu emprego em rações de
ruminantes depende do preço, pois é muito procurado para rações de aves e
suínos.
e) Farelo de amendoim – Quando de boa qualidade, não-oriundo de
amendoim atacado por fungo é um bom suplemento protéico, pois apresenta
em torno de 50% de proteína e é apetecível.
f) Farelo de coco – O farelo de coco da Bahia contém uns 20% de proteína e é
de difícil conservação; o de coco babaçu é semelhante mas seu teor protéico
é de 22%. Não devem ser usados com exagero.
g) Farinha de peixe – Esse suplemento é utilizado, principalmente, nas rações
de aves e suínos, no entanto, pode também incorporar-se nas rações ovinas
sempre que o preço for conveniente. Nesse aspecto é interessante destacar
que a farinha de peixe possui geralmente, o dobro do conteúdo de proteína
(60%) comparada aos suplementos protéicos vegetais (33%). No entanto,
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tem-se demonstrando que a proteína de ambas as classes de suplementos é
igualmente efetiva na alimentação de ovinos adultos.
Dessa maneira, será conveniente usar farinha de peixe sempre que seu preço
não for superior ao dobro do preço dos suplementos protéicos vegetais.
Deve-se levar em conta, também, que, em geral, a farinha de peixe não é
palatável para ovinos. Nesse sentido, aconselha-se sua incorporação às mesclas de
concentrados, em proporção não superior a 10% ou 15%.
5.5. Outros alimentos
Nesse grupo, incluem-se os chamados alimentos de emergência, tais como
cascas de cereais, cascas de amendoim, sabugos de milho e bagaço de cana. São
pobres em todos os sentidos, e devem ser fornecidos moídos, em quantidade
limitadas e devidamente suplementados. As cascas de arroz podem irritar o tubo
digestivo.
Dentre os produtos de origem vegetal, merece ainda atenção o melaço de
cana. Só contém 3% de proteína, mas é rico em energia, muito palatável e laxante.
Deve ser usado diluído em água, na proporção de 1:1 a 1:2, e dado justamente com
volumosos e concentrados secos, devidamente suplementados com proteínas. O
melaço, por peso, possui 67% do valor energético do milho, mas oferece a vantagem
de estimular a multiplicação bacteriana no rumem, portanto, a digestão das
forragens fibrosas. Desde que o custo do melaço não seja superior a 60% do custo
do milho, ele pode substituir com vantagem até 1/3 dos concentrados da ração com
introdução gradativa na dieta. Como indicação geral, a dose do melaço para ovinos
deve ser a seguinte por cabeça: 100 g para cordeiros e 250 g para adultos.
a) Antibióticos: Tem-se realizado inúmeros experimentos para determinar a
conveniência de se administrar diversos antibióticos aos ovinos. Nesse sentido,
os resultados tem sido contraditórios e, assim, em algumas ocasiões tem-se
conseguido melhores aumentos de peso e maior eficiência alimentar na cria e
engorda de cordeiros, mas, em muitos casos, as vantagens obtidas não tem sido
suficientemente grandes para compensar o custo extra que significou fornecer o
antibiótico.
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b) Hormônios: A implantação de peletes contendo estilbestrol tem sido praticada no
gado ovino, com resultados não totalmente claros. A doses usadas tem sido
variáveis (3mg – 6mg – 12mg) e os efeitos do hormônio, especialmente em
cordeiros de engorda, traduzem-se em ganhos de peso e eficiência nutritiva
superiores à dos animais não-implantados. No entanto, em alguns ensaios, a
implantação com 12 mg de estibestrol trouxe como conseqüência em vários
animais, prolapso uterino nas fêmeas e do reto nos machos, além de
complicações nas vias urinárias.
Os limites máximos de emprego de diversos alimentos para os ovinos são
apresentados na Tabela 3.
VIII. ASPECTOS BÁSICOS EM UMA CRIAÇÃO DE OVINOS
Este capítulo foi extraído de Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999).
A eficiência da produção de um rebanho está diretamente relacionada ao
número de produtos obtidos. Maior número de cordeiros desmamados implicará em
maior número de animais para venda e maiores possibilidades para fazer a
reposição e seleção do rebanho.
A produção de cordeiros está relacionada com a sobrevivência e
desenvolvimentos Pós-nascimento.
Para se aumentar os índices reprodutivos no rebanho ovino deve-se buscar:
a) Diminuir o número de ovelhas falhadas (aumentar a taxa de parição).
b) Aumentar o número de cordeiros nascidos por ovelha parida (taxa de
prolificidade).
c) Diminuir o número de cordeiros que morrem após o nascimento (Taxa de
mortalidade). No Rio grande do Sul, esta taxa fica entre 15 e 40%.
1. Reprodução
1.1. Encarneiramento (acasalamento)
A introdução de reprodutores é a fase inicial do processo reprodutivo que
culminará com a venda do cordeiro e afetará o manejo da propriedade.
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Tabela 3. Limite máximo de emprego de diversos alimentos para ovinos.
VOLUMOSOS, RAÍZES E TUBÉRCULOS
Por 50 Kg de P.V./ Dia
Forragens verdes: Capim cortado
4,0
Silagem: Silagem de milho
2,0
Volumosos secos: Fenos
1,5
Palhas
0,5
Raízes e tubérculos: Cenouras
2,0
Mandioca ou batata
1,0
Beterraba ou nabo
1,5
CONCENTRADOS E DIVEROS
% da Ração
Algodão, farelo
30
Amendoim, farelo
30
Amendoim, casca moída
5
Aveia moída
70
Arroz, farelo
50
Arroz, farelo desengordurados
40
Cana, melaço diluído
20
Centeio moído
40
Cevada, polpa seca
40
Coco, farelo
30
Girassol, farelo
30
Grãos de feijão moídos
15
Linhaça, farelo
15
Milho, quirera ou fubá
50
Milho, desintegrado
70
Milho, farelo proteinoso
25
Milho, farelo de glúten
25
Milho, sabugo moídos
5
Trigo, farelo
50
Soja, farelo
30
Sorgo, grão moído
40
Sal mineralizado
2
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1.2. Antecipação da idade ao primeiro acasalamento
A antecipação da idade ao primeiro acasalamento resultará nos seguintes
benefícios:
1. Aumenta a vida reprodutiva dos animais.
2. Aumenta a produção do rebanho.
3. Reduz o custo de manutenção das borregas durante o período não produtivo.
4. Facilita os programas de seleção pela informação antecipada que se obtém da
produção dos animais.
1.3. Época de acasalamento e estação de monta
O período de atividade sexual dos ovinos varia com a raça e região de
criação, conforme o esquema abaixo, sendo controlado pelos fatores ambientais:
1. Fotoperiodismo
2. Temperatura
RAÇA
FOTOPERIODISMO
ÉPOCA
Lanadas (RS)
Poliéstricas estacionais
Verão - outubro
Deslanadas (Nordeste)
Poliéstricas contínuas
+ Seca (Todo o ano)
a) Estação de monta ou cobertura
A estação de monta deve ser determinada em função dos objetivos do
criador. A estação curta, porém nunca menor que 45 dias, permite uma centralização
de nascimentos, facilitando o manejo. No entanto, o criador só terá cordeiros para
oferecer ao mercado durante um curto período de tempo.
A estação de monta longa, nunca superior a 90 dias, dificultará o manejo, pois
os nascimentos serão espaçados. Apresenta vantagem de haver cordeiros de várias
idades, podendo o criador, se for o caso, manter contratos de fornecimento desses
animais.
A estação de monta determinará as necessidades. Assim, se a cobertura
ocorrer em janeiro/fevereiro, a parição se dará em junho/julho, obtendo-se bom
mercado em novembro e dezembro, meses propícios para o comércio de carne de
cordeiro. Deve-se prever, porém, a alimentação das ovelhas em início de lactação
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em meses de pouco pasto disponível. A cobertura em abril/maio permite o
nascimento em setembro/outubro, obtendo-se cordeiros em idade de abate próximo
de março/abril. O mercado é menos favorável, mas com bom manejo as
necessidades de suplementação serão mínimas.
O ovinocultor ainda tem a possibilidade de fazer a cobertura a cada oito
meses, correspondendo aos cinco meses de gestação, 45 a 60 dias de aleitamento
e 30 dias de descanso da ovelha, sendo que neste último período já se inicia o
processo de rufiação. Para o processo de rufiação podemos utilizar machos
vasectomizados ou com desvio de pênis, ou ainda manter os reprodutores próximos
às fêmeas, pois a liberação do cheiro característico do macho induzirá a fêmea a
entrar em cio.
A opção de monta a cada oito meses permitirá ao ovinocultor a possibilidade
de ter animais para comercialização o ano todo, porém necessitará um
acompanhamento melhor de seu rebanho, quanto ao estado nutricional e sanitário,
pois exigirá mais tanto das ovelhas como dos reprodutores,
A escolha entre as estações de monta curta, longa ou a cada oito meses deve
ser tomada em função das perspectivas de mercado e das possibilidades de cada
criador.
Para monta a campo, aconselhamos um macho para 35 fêmeas, sendo que
na monta controlada pode-se aumentar o número de fêmeas por macho.
Para os machos, pode-se aproveitar os animais de grande desenvolvimento
zootécnico para algumas poucas coberturas já aos 10 meses, porém a idade de
plenitude física aconselhável é após os 18 meses. Porém o mesmo deverá receber
uma alimentação adequada e cuidados sanitários, para que não seja comprometido
o seu desenvolvimento, bem como produza boa qualidade e quantidade de
espermatozóides, obtendo assim um bom índice de fecundidade.
As
ovelhas
primíparas
(borregas
de
primeira
cobertura)
possuem
comportamento muito diferente daquele apresentado por ovelhas de mais idade.
Como algumas características, citam-se:
1) Cio curto, podendo ser de três horas.
2) Falta de desejo sexual, levando a pouca procura pelos carneiros durante
esse período.
3) Em função do cio e da falta de desejo sexual, são servidas ou copuladas
menor número de vezes, em comparação com o que ocorre com as
ovelhas de mais idade.
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4) As borregas produzem pouca mucosidade, principal veículo condutor do
espermatozóide até o óvulo, ao contrário das ovelhas.
5) As borregas têm formação de papilas caídas na entrada do canal cervical,
revestindo-o
muitas
vezes
e
dificultando,
assim,
o
acesso
do
espermatozóide para a fecundação.
b) Aspectos essenciais na escolha da época de acasalamento
1. Deverá corresponder ao período de maior atividade sexual das ovelhas e de
melhor produção de sêmen dos carneiros;
2. O momento de venda dos cordeiros deverá coincidir com preços de mercado e
condições de comercialização favoráveis.
3. O melhor momento está relacionado com os aspectos de manejo (mão-de-obra)
e alimentação.
c) Número ou percentagem de carneiros a usar
2 a 3% do rebanho
d) Alimentação durante o período reprodutivo
É vantajoso o emprego de suplementação alimentar por duas a três semanas
antes do acasalamento (Flushing) de forma a provocar efeito dinâmico do peso, o
que propicia:
1. Alta apresentação de cios no momento da entrada dos carneiros.
2. Aumento da taxa ovulatória e maior concepção e sobrevivência embrionária,
aumentando as taxas de fertilidade e prolificidade.
e) Outros aspectos
-
Exame zootécnico e reprodutivo, descartando-se animais deficientes.
-
Tosquia, seguida de banho, se necessário.
-
Dosificação anti-helmíntica pré-acasalamento.
-
Manutenção em piquetes com suficientes pastagens, água e sombra.
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2. Parição e lactação
Normas de manejo:
1. Assegurar boas condições de alimentação às ovelhas no pré-parto e no pósparto.
2. Preparação do rebanho para parição, assim como os piquetes.
3. Assistência ao rebanho durante a parição.
2.1. Alimentação da ovelha durante a prenhez e lactação
a) Prenhez:
A alimentação da ovelha durante a prenhez e lactação será determinada
pelas diferentes exigências nutricionais dentro destas fases.
Até a metade do período da gestação (2º ao 3º mês) os requerimentos são
mínimos.
Ao final do 3º mês de gestação o conteúdo uterino (feto, membranas e
líquidos fetais) pesa em torno de 3 a 5 Kg (33% do peso final).
Ao final da gestação (4º e 5º meses) as exigências nutricionais são elevadas:
Últimas seis semanas de gestação: 70% do desenvolvimento do feto.
Últimas quatro semanas de gestação: 50% do desenvolvimento do feto.
Últimas duas semanas de gestação: 25% do desenvolvimento do feto.
Assim, o desenvolvimento do feto ao final da prenhez aumenta as exigências
energéticas, sendo esses requerimentos maiores nas ovelhas com gestação múltipla
devido:
1. Perda do apetite das ovelhas pela redução no volume do rúmen, devido ao maior
espaço físico ocupado pelo(s) feto(s).
2. Aumento do nível de estrógenos circulantes, produzidos durante a gestação,
contribui para inibir o apetite das ovelhas.
Ao
nascimento,
o
peso
do
cordeiro
(parto
simples)
representa
aproximadamente 60% do peso total do conteúdo uterino, enquanto que em partos
duplos este percentual é de 85 a 70% (Cordeiros com 3,0 Kg de peso ao nascer
terão conteúdo uterino com peso de 5,0 Kg).
OBS: Alimentação deficiente na fase final de gestação acarretará em:
1. Menor peso corporal e menor vigor dos cordeiros ao nascimento.
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2. Pouco desenvolvimento do úbere e redução na produção de colostro.
3. Menor habilidade materna.
4. Menor produção de leite no início da lactação.
OBS: O efeito do bom estado nutricional da ovelha durante a gestação será
observado na sobrevivência do cordeiro:
1. Nascimento de cordeiros fortes e vigorosos, com menores possibilidades de
mortalidade.
2. Boa produção de leite das ovelhas, melhorando o ritmo de crescimento dos
cordeiros.
3. Instinto materno das ovelhas, resultando em menores índices de abandono de
cordeiros.
4. Evitar
transtornos
metabólicos
(toxemia
da
gestação,
hipocalcemia),
principalmente nas ovelhas com gêmeos.
b) Lactação:
Cerca de duas a três semanas após o parto são observadas as maiores
exigências de todo o ciclo reprodutivo.
Na amamentação do cordeiro existe a necessidade de 6 litros de leite por kg
de ganho, sendo que no 20º dias pós-parto ocorre a máxima eficiência na conversão
do leite.
A partir da terceira semana após o parto ocorre ingestão gradual de alimentos
pelos cordeiros, sendo que a partir da oitava semana pós-parto (dois meses), o
consumo de pasto passa a ser uma prática habitual, pois o rúmen do animal já se
encontra fisiologicamente apto.
2.2. Recomendações para manejo dos cordeiros
a) Corte e desinfecção do umbigo: Quando essa prática, de vital importância, não
se realiza, o umbigo pode ser via de penetração de germes patógenos, trazendo,
como conseqüência, a presença de quadros septicêmicos agudos e inúmeras
enfermidades que resultam em altos índices de mortalidade.
A presença de insetos (moscas) pode trazer resultados negativos, ao
depositar seus ovos no umbigo que não tenha sido desinfetado, ocasionando miíase
que põem em perigo a vida do recém-nascido.
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Deve-se cortar o umbigo com uma tesoura limpa e desinfetada (com iodo,
álcool ou outro produto desinfetante), a uma distância de cinco centímetros do
abdômen e aplicar tintura de iodo na porção que pende do animal, assim como na
zona de inserção e parte do abdômen.
b) Manejo das crias abandonadas: algumas mães ao parirem não produzem leite
suficiente, ou ainda no caso de trigêmeos e de morte da mãe, as crias podem ser
alimentadas com leite de vaca “in natura” ou leite em pó.
c) Corte da cauda: deve ser utilizada nos animais de lã, a fim de manter asseada a
região perianal, evitando-se assim problemas de bicheiras (miíases) e no casos de
fêmeas para se evitar acidente com reprodutores no momento da cópula e conseguir
maior higiene nos partos. Nas raças deslanadas, não se deve utilizar essa prática,
pois a cauda serve para repelir as moscas, evitando assim as bicheiras e que as
mesmas incomodem os animais.
Essa prática deverá ser feita nos animais com aproximadamente 5 dias de
vida, pois com idade muito avançada causa maiores sofrimentos e problemas de
cicatrização. Atualmente o método mais utilizado é o elástico, que consiste na
colocação de um anel de elástico na base da cauda, na altura das pregas. Após 48 a
72 horas da aplicação do elástico, o rabo deve ser amputado com faca ou canivete
desinfetado abaixo do elástico. Em seguida proceder a desinfecção do local
utilizando produto repelente. Para confeccionar esse anel pode ser utilizada
borracha flexível tipo torniquete, “garrote” ou “tripa de mico”, cortando-se os anéis
com aproximadamente 2 mm.
d) Castração: não é mais é utilizada nos rebanhos, visto que o abate deve ocorrer
com, no máximo, 6 meses de idade e com peso vivo de 30 a 32 Kg e a castração
leva a uma maior quantidade de gordura em detrimento da de músculo.
e) Sinalação: consiste na marcação para identificação dos animais podendo se
utilizar a tatuagem e/ ou brinco.
A tatuagem é feita com auxílio de tatuador de pequeno porte (quatro dígitos)
na orelha ou na prega na base da perna traseira. No caso de animais deslanados,
principalmente os de pelagem escura, a tatuagem é feita na prega caudal, tomandose sempre o cuidado de não atingir vasos sanguíneos que prejudicam a eficiência da
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mesma. Quando o problema ocorrer na orelha poderá levar a deformações
permanentes do animal.
O uso de brinco é uma das técnicas mais utilizadas, visto a facilidade de
identificação do animal, porém não deve ser utilizado isoladamente, pois no caso de
perda não há como identificar o animal, dessa maneira é necessário que se faça o
uso também da tatuagem na prega da base da perna traseira. O brinco a ser
utilizado deve ser o de pequeno porte, preferencialmente de plástico flexível, com
numeração nas duas peças, e ser aplicado com alicate apropriado.
f) Desmame: pode ser classificado de acordo com o período de aleitamento:
•
Precoce: com 35 a 45 dias de aleitamento Exige maior atenção na alimentação
das crias, que devem ter acesso a cocho exclusivo (creep feeding) com ração
concentrada de teores de proteína e energia elevados, acompanhamento
atencioso do desenvolvimento dos animais, excelente nível tecnológico na
criação e total confinamento. As vantagens desse sistema consistem na
disponibilização das fêmeas para nova cobertura precocemente, obtenção de
cordeiros mais cedo, desde que tenham alimentação em quantidade e
qualidade e diminuição das aplicações de vermífugos, visto que esse sistema
evita a contaminação da mãe para a cria.
•
Semi Precoce: desmame dos 45 a 70 dias. Exige, como no desmame precoce,
creep feeding e um bom acompanhamento do rebanho, porém não tão intenso.
•
Normal: dos 70 aos 80 dias. Os animais devem ser confinados com a mãe,
porém não exige o creep feeding. Nesse sistema, quando bem trabalhado, a
mortalidade pré e pós desmame é muito pequena. As crias devem receber uma
dose de vermífugo na semana do desmame, visto que já podem ter sido
contaminadas pelo contato com as fezes das mães. Utilizando esse sistema
obtém-se, em rebanhos bem manejados, peso de abate (30 a 32 Kg peso vivo)
aos 90 dias de idade.
•
Tardia: após 80 dias. Utiliza-se esse sistema em criações extensivas, porém
não é o mais indicado, pois a mortalidade é elevada devido a contaminação dos
animais jovens por ovos de helmintos, eliminados pelas fezes dos animais
adultos.
2.3. Mortalidade de cordeiros
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a) Principais causas da mortalidade de cordeiros:
-
Nutrição (fome)
-
Predadores
-
Mão-de-obra (funcionário)
b) Prejuízos representados pela mortalidade de cordeiros recémnascidos:
-
O pasto consumido pelas ovelhas para a produção de cordeiros é perdido.
-
O investimento nos carneiros não retorna integralmente.
-
O menor número de cordeiros faz diminuir os índices de seleção com a
conseqüentemente perda de material genético.
-
Perda de tempo, trabalho e insumos empregados.
c) Manejo para reduzir a mortalidade de cordeiros:
-
Adequada alimentação das ovelhas ao final da gestação e durante a lactação.
-
Combate dos predadores.
-
Parições em locais com abrigos.
-
Correta assistência ao rebanho durante a parição.
Tabela 4. Composição média do leite de ovelha.
Nutrientes
Teor
Água (%)
80,1
Matéria Seca (%)
19,9
Proteína Total (%)
5,8
Caseína (%)
4,5
Outras (%)
1,3
Lactose (%)
4,8
Gordura (%)
8,2
Cinzas (%)
0,9
Cálcio (%)
0,25
Fósforo (%)
0,17
Valor Energético (kcal/kg)
1000
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Figura 6.
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Relação entre o peso dos cordeiros ao nascer e a porcentagem de
natalidade.
IX. SELEÇÃO E DESCARTE DE OVINOS
Este capítulo foi extraído de Sobrinho (1993).
1. Aspectos gerais:
O ovinocultor procura melhorar seu plantel através da venda (descarte) de
animais inservíveis e a manutenção dos mais produtivos.
Considerando seu objetivo econômico, de produção de lã ou carne, deve-se
selecionar o rebanho numa ou noutra direção ou, se for o caso, dar o mesmo valor
para ambas características a selecionar.
A seleção zootécnica consiste em escolher, dentro da mesma raça, os
indivíduos que sejam capazes de proporcionar máxima produção durante o maior
tempo (longevidade), com o mínimo de despesa e trabalho.
A seleção dos animais é um processo importante para melhorar os índices de
produção do rebanho. A prática de seleção deve ser orientada para dois objetivos:
1º) aumentar as médias de produção do rebanho durante sua vida útil, e 2º)
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aumentar a média de produção das futuras gerações. A ênfase da seleção deve ser
aplicada aos animais jovens que serão incorporados aos rebanhos de produção. Por
outro lado, deve-se revisar, anualmente, os rebanhos de cria, visando a eliminação
dos animais que apresentam problemas que estejam afetando sua produção.
Porém, a prática corrente deve ser a de selecionar as borregas pela sua
performance (lã, peso, corporal, etc) e, anualmente, refugar as que apresentam
defeitos marcados na sua produção.
O descarte (ou refugo) é uma prática de manejo que se realiza com o objetivo
de eliminar ou separar os animais que apresentam características que afetam
negativamente sua produção. O descarte deve ser feito anualmente para evitar criar
e alimentar, por muito tempo, animais pouco produtivos. Entretanto, deve-se ter
precaução em não descartar animais que, embora apresentem certa alteração tanto
na produção de lã como no estado corporal, podem vir a ser os mais produtivos. Isto
acontece com ovelhas que, tendo parido e criado o cordeiro, geralmente apresentam
más condições devido ao efeito da gestação, parição e aleitamento de um ou mais
cordeiros.
2. Principais causas de descarte
Os principais fatores a serem considerados num processo de descarte são:
2.1. Defeitos corporais
Existem diversas anormalidades, adquiridas ou de origem hereditária, que
afetam negativamente a produção, dando motivo para descarte tanto de animais
jovens como adultos. Os principais defeitos são:
a) Prognatismo: é uma tara hereditária muito comum nos ovinos e resulta da
falta de coincidência entre os dentes incisivos da mandíbula como o maxilar
superior. Quando a mandíbula avança, diz-se que há prognatismo inferior, e quando
o maxilar é que se destaca, denomina-se prognatismo superior ou agnatismo.
Em ambos os casos, o animal é grandemente prejudicado pela dificuldade de
apreensão do pasto, o que ocasiona uma deficiência alimentar que se manifesta por
redução da produção.
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b) Defeitos do úbere: correspondem, principalmente, a problemas de
mastites ou alterações dos tetos e polimastia (presença de tetas supranumerárias),
de ordem negativa, pois não são funcionais, dificultando a amamentação.
c) Defeitos nas extremidades (cascos): podem ser de origem hereditária ou
decorrentes de problemas crônicos de manqueiras, miíases, etc.
d) Defeitos de aprumo: de certa gravidade morfológica são as falhas dos
membros anteriores ou posteriores que podem se apresentar muito fechados ou
desviados para fora ou para dentro. Também encontram-se animais que pisam mal,
principalmente nas extremidades posteriores, onde o garrão pode servir de apoio, ao
invés do casco.
Com relação aos aprumos, estes devem ser causa de descarte somente em
casos em que a locomoção do animal encontra-se realmente comprometida, já que
as apreciações são subjetivas, porém não influenciando na produção de lã e carne.
Há
uma
série
de
outras
características
corporais
que
o
criador
freqüentemente considera no processo de seleção como causas de descarte, porém
apresentam pouca ou nenhuma relação com a produtividade dos animais, como
constituição ou conformação do animal, “feminilidade” das ovelhas, tipo de cabeça,
tamanho e implantação das orelhas e aprumos.
2.2. Idade
O descarte por idade é feito para assegurar o máximo de produtividade do
rebanho. O produtor decidirá a idade adequada de descarte de suas ovelhas,
segundo as condições físicas (ex: desgaste dentário) ou estado corporal das ovelhas
velhas, do número de animais disponíveis para a substituição e da estrutura ótima
do rebanho que deseja, segundo a finalidade de sua produção (lã ou carne).
Um fator importante a ser considerado no número de animais a serem
refugados é a quantidade de ovinos disponíveis para substituir aqueles que serão
eliminados, principalmente quando se pretende aumentar o rebanho. Os animais de
substituição, geralmente, são aqueles que apresentam dentes de leite ou dois
dentes, sendo gerados no próprio estabelecimento e cujo número, dependerá das
porcentagens de parição e de desmame. Por isso, quanto maior o número de
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cordeiros produzidos, maiores as possibilidades para descartar animais menos
produtivos.
Para se realizar um trabalho de seleção efetivo e contínuo num rebanho, o
índice mínimo de natalidade deverá ser de 80%. Estudos mostram que as
porcentagens de parição aumentam com a idade da ovelha até atingirem um
máximo aos cinco a seis anos, para declinar a partir dos sete anos. O contrário
sucede com a lã, onde a produção por animal é máxima aos dois a três anos, para
diminuir posteriormente, influenciada pelo comportamento reprodutivo.
A mortalidade das ovelhas aumenta consideravelmente a partir dos sete anos
de idade, além de apresentarem problemas dentários que afetam o consumo de
alimentos, influenciando negativamente sua produção. Assim, as ovelhas de cria
devem permanecer no rebanho, salvo raras exceções, no máximo até 6 anos de
idade, sendo abatidas posteriormente. O adequado descarte das ovelhas e a
incorporação das melhores borregas, manterá o rebanho estabilizado.
Os carneiros, em idades avançadas, estão mais propensos a apresentarem
problemas de fertilidade, sendo estes muito freqüentes após os sete anos. Para se
obter bons resultados, os reprodutores devem ser substituídos após serem utilizados
ao redor de quatro anos, embora os mesmos possam encarneirar durante um
número maior de anos. O uso de carneiros por muitos anos, principalmente quando
empregados em monta natural, apresenta como inconvenientes: (a) os cordeiros
velhos são geralmente menos ativos; (b) progresso genético mais lento, (c) menor
fertilidade.
2.3. Fertilidade
Indiscutivelmente, deve-se acrescentar à seleção fenotípica a seleção por
fertilidade. Assim, as ovelhas que perderam o cordeiro ou não produziram (falhadas),
deverão ser separadas e controladas até a próxima parição, eliminando-se, então,
aquelas que, novamente, não parirem.
Nas fêmeas, quando a cobertura resultou infértil, podem ser apontadas as seguintes
causas:
•
Falta de ovulação: Devido a transtornos do folículo de Graaf; persistência do
corpo amarelo; obesidade ou deficiência nutricional; tumores diversos e
ausência congênita de órgãos do aparelho genital.
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•
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Inacessibilidade dos espermatozóides ao óvulo: Devido a um desvio do colo
do útero, atresia ou terminação em fundo de saco da vagina e malformações
diversas.
•
Útero impróprio ao desenvolvimento do ovo: Por apresentar metrites, tumores,
espasmos ou germes patogênicos.
•
Secreções espermáticas: Provenientes de infecção das vias genitais
femininas.
•
Incompatibilidade: morte do ovo nos primeiros dias (reação antígeno –
anticorpo).
Nos machos, podem aparecer os seguintes problemas que afetam a
fertilidade:
•
Impotência: pode ser causada por atrofia congênita dos órgãos sexuais; pela
paralisia dos nervos penianos ou por decorrência de certas doenças,
destacando-se entre estas a aftosa.
•
Saltos muito repetidos e em intervalos curtos: a quantidade normal de
espermatozóides pode tornar-se reduzida. Com o excesso de coberturas, os
espermatozóides podem apresentar formas imaturas, visto não haver tempo
suficiente para sua maturação.
•
Temperatura externa elevada: prejudicam muito o sêmen do carneiro,
podendo leva-lo à infertilidade. A situação pendular do escroto tem por
finalidade conservar os testículos a uma temperatura menor que a do corpo
do animal.
•
Febre: o carneiro com febre pode manifestar transtornos na fertilidade por
certo período após cessar a elevação da temperatura corporal.
•
Defeitos testiculares
•
Epididimite: doenças infecciosa, cujo agente causal é a Brucela ovis, que
reduz a quantidade normal de espermatozóides viáveis.
•
Criptorquidismo: retenção do(s) testículo(s) na cavidade abdominal. Neste
caso, pode ou não ocorrer a esterilidade.
•
Hipoplasia: falta de desenvolvimento do(s) testículo(s)
Finalmente, deve-se realçar que o descarte não constitui a principal norma a
um processo de seleção. O mais importante, num programa de melhoramento do
rebanho, é o emprego de reprodutores selecionados por produtividade (baseado em
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produção de lã e o peso corporal) e a reposição das ovelhas de descarte pelas
melhores borregas existentes no rebanho.
X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS
Este capítulo foi extraído de Cunha et al. (1999), Nunez (1999) e Sobrinho (1993).
Serão abordadas as seguintes enfermidades: clostridioses, pasteurelose, diarréia dos cordeiros,
foot-rot, queratoconjutivite e ectima contagioso.
1. Clostridioses
São bactérias que se encontram no meio ambiente em forma de esporos.
Estes esporos são uma camada que os protege contra o calor, raios solares, a
maioria dos desinfetantes e até a fervura.
Elas penetram nos animais através de cortes, injeções, pela respiração,
comendo e bebendo. Após a penetração nos animais, eles ficam aguardando o
momento propício para a sua multiplicação, eles são anaeróbios e qualquer
contusão que diminua o aporte de oxigênio na região é o suficiente para o
aparecimento da doença. No intestino a doença ocorre quando há mudanças súbitas
na alimentação com a adição de concentrados.
A seguir apresentamos as principais clostridioses.
1.1. Carbúnculo sintomático (Clostridium chauvei): manqueira
Ocorre uma destruição extensa da área muscular em um ou dois dias. Ocorre
claudicação, inchaço e alteração da cor dos músculos para vermelho escuro ou
preto.
1.2. Edema maligno (Clostridium septicum): gangrena gasosa
No local afetado ocorre uma infecção gasosa. A morte ocorre entre 12 a 48
horas.
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1.3. Clostridium sordeli
Morte súbita dos animais devido a sua potente toxina, a pele fica enegrecida
no peito e garganta.
1.4. Hepatite necrótica (Clostridium novy)
Morte súbita, líquido no abdômen, fígado necrosado e a pele fica enegrecida
no abdômen.
1.5. Intestino purpúreo (Clostridium perfringens B e C)
Os sintomas são cólicas, diarréia fétida com sangue e convulsões, a parte
afetada do intestino fica azul escura.
1.6. Doença da superalimentação (Clostridium perfringens D)
Mudanças bruscas de alimentação, com altas taxas de carboidratos, liberam
os clostrídios, suas toxinas caem na corrente sanguínea matando os animais em
poucas horas.
Tratamento: para estas seis clostridioses, altas doses de penicilina podem salvar
os animais, se detectados a tempo.
Profilaxia: a maioria das vacinas encontradas no mercado é de alta eficácia na
prevenção das doenças acima citadas. Vacinando-se as mães antes do parto,
elas irão passar a imunidade para os cordeiros através do colostro. Aos três
meses de idade vacina-los e repetir a vacinação de seis em seis meses ou de
ano em ano de acordo com o tipo de vacina.
1.7. Tétano (Clostridium tetani)
É uma bactéria que sobrevive por vários anos no meio ambiente porque se
mantém esporulada, encontra-se na terra e no esterco, principalmente de eqüinos. A
fase que mais aparece na cabanha é no parto, na castração, na descola e na
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tosquia. Qualquer ferida que o esporo se aloje, ao formar a casca para cicatrizar,
torna o meio anaeróbio, propiciando o meio ambiente ideal para o desenvolvimento
do Clostridium tetani, neste momento inicia-se a liberação das toxinas que são
neurotóxicas, provocando espasmos tônicos musculares e enrijecimento progressivo
dos membros, da boca e das orelhas.
Tratamento: nos casos leves de tétano, altas doses de penicilina e a limpeza
das feridas resolvem o problema. Nos caso agudos, mesmo com a limpeza das
feridas e antibioticoterapia, a morte é inevitável.
Prevenção: em propriedades com muitos problemas, vacinar os animais e
sempre cuidar bem das feridas de castrações, corte do rabo dos cordeiros e
cortes na tosquia, evitar a criação de eqüinos no piquete dos carneiros.
2. Pasteurelose (Pasteurella haemolytica)
A Pasteurela encontra-se normalmente nas vias aéreas dos animais. O
estresse do desmame, de transporte, castração, mistura com outros animais e locais
mal arejados, facilitam a multiplicação e a invasão dos pulmões pelos
microrganismos.
Em certos casos a enfermidade é tão aguda que o animal morre sem
apresentar sintomas. Na maioria dos casos os animais têm febre, respiram com
dificuldade e, devido à destruição dos alvéolos e dos capilares, ocorrem áreas
extensas de hemorragias tornando os pulmões hepatizados.
Tratamento: é importante começar o tratamento o mais cedo possível através de
antibioticoterapia de largo espectro de ação e em altas doses.
Prevenção: a maioria das vacinas produz baixa resposta imunitária, as
importadas têm um adjuvante que facilita o contato das células “T” com antígeno,
o que aumenta em muito a resposta imunitária.
Esquema de vacinação: vacinar as ovelhas prenhas um mês antes da parição,
com duas doses em intervalos de 10 dias. Após a parição vacinar os cordeiros
com 15 dias de vida e com 30 dias e repetir a vacinação de seis em seis meses.
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3. Diarréia dos cordeiros
A diarréia por Escherichia coli ocorre principalmente nos confinamentos onde
a mãe fica junto ao cordeiro e o local não é bem arejado e seco. A mãe deita com o
úbere em cima das fezes umedecidas e o cordeiro ao mamar se contamina com
coliformes patogênicos aparecendo uma diarréia de coloração amarelo brilhante,
cólicas abdominais, diminuição do apetite e muitas vezes o animal desidrata e
morre.
Tratamento:
antibióticos
de
largo
espectro,
preferencialmente
após
o
antibiograma.
Prevenção: criar os animais em um ambiente arejado e o mais seco e limpo
possível, de preferência uma vez por semana passar o lança chamas nas
instalações.
4. Podridão do casco (foot rot)
Esta enfermidade é causada pela associação de duas bactérias, o
Fusobacterium necrophorum que ataca o epitélio interdigital e o Bacteróides
nodosus que penetra pela muralha do casco, deslocando-o e facilitando a
penetração de outras contaminações.
A lama e o esterco facilitam a aparição do processo, devido a dois fatores: o
amolecimento do casco pela umidade e a proliferação das bactérias pelo meio se
tornar anaeróbio no casco. Estas bactérias têm pouco tempo de vida nas pastagens,
sendo que a sua sobrevida gira em torno de três semanas. Por isso é importante o
isolamento dos animais afetados, porque eles mantêm a contaminação no meio
ambiente. O surto pode atingir até 70% do rebanho, os animais enfermos ficam
muito debilitados, eles não se alimentam bem devido à dor nos membros.
Tratamento e Prevenção: casquear todos os animais do rebanho, iniciando
pelos animais que já estiverem claudicando, e isolar os mesmos após casquear.
Desinfetar os materiais, queimar os resíduos de casco e casquear o resto dos
animais repetindo o processo acima. Sempre tirar toda a área contaminada,
porque qualquer resíduo que fique o problema retorna.
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Usar pedilúvio com formol (5 a 10%) ou sulfato de zinco (10%). Passar
inicialmente os animais sadios, com uma duração dentro do pedilúvio de 5
minutos, e após os enfermos por 20 minutos. Repetir o tratamento uma vez por
semana por três semanas consecutivas e após de 15 em 15 dias por mais quatro
vezes.
Os animais sadios devem ser levados para uma pastagem com pelo menos 30
dias de descanso e os doentes levados a um local seco, de preferência em
estrados de madeira. Nos casos mais complicados, a aplicação de três doses de
tetraciclina, com um intervalo de 48 horas entre cada aplicação, auxilia em muito
o tratamento.
Os corredores de acesso ao centro de manejo são fundamentais para a
disseminação da doença, principalmente em períodos de umidade, por isso se
torna necessário novos casqueamentos, para evitar o crescimento excessivo dos
cascos, com isto as bactérias não ficarão alojadas nos animais.
A vacina nacional não tem demonstrado muita eficácia e a importada auxilia em
torno de 50% na prevenção, mas é proibitiva devido ao preço elevado.
Os animais confinados, se estiverem em local úmido, também irão apresentar o
mesmo problema.
Ao comprar animais de fora, fazer uma quarentena após o casqueamento.
5. Queratoconjuntivite (Pink Eye)
Várias bactérias podem causar este problema nos ovinos: Mycoplasma
psitacci, Branhamella ovis e Ricktsia conjuntivae. É uma doença altamente
contagiosa e dependendo do agente patogênico pode levar a graves lesões, como
ulcerações da córnea e até cegueira permanente.
Esta doença é transmitida através de moscas, poeira, pastagens altas e
principalmente quando os animais se alimentam em chocos, pelo contato com os
enfermos ou ao esfregarem os olhos nos cochos contaminados.
Tratamento: geralmente colírios à base de cloranfenicol ou tetraciclinas,
associados com anti-inflamatórios, resolvem o problema.
Prevenção: ao comprar animais ou ao retornar de exposições, deixar os animais
de quarentena, ao menor sinal da doença tratar todo o lote. Caso a doença já
esteja disseminada no plantel, separar os animais afetados, tratá-los por 10 dias
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e em cada tratamento desinfetar o rosto dos animais com uma solução de iodo a
5%, parar o tratamento por alguns dias e se aparecer algum animal novamente
com o problema eliminá-lo porque ele é um portador crônico da doença. Os
animais que não tinham problema devem ser tratados preventivamente com
colírio por cinco dias. As vacinas existentes não são muito eficazes devido ao
grande número de agentes da doença.
6. Ectima contagioso
Esta doença é viral e atinge animais adultos e jovens, sendo os jovens os
mais suscetíveis. Na forma benigna os vírus saem da corrente sanguínea e se
alojam no epitélio nasal e bucal. Na forma maligna se alojam também na cavidade
bucal e em várias regiões do corpo, podendo levar os cordeiros novos à morte por
causar dificuldade na alimentação e problemas de infecção secundária. Nas mães
ocorrem feridas graves nos tetos que podem levar a mastites severas, inclusive
inutilizando as mamas.
Tratamento: tratar as feridas dos animais enfermos com um chumaço de
algodão embebido em iodo ou com pomada à base de cloranfenicol e violeta
genciana.
Prevenção: fazer quarentena dos animais comprados ou que participam de
exposições. Em caso de um surto na propriedade, isolar os animais doentes e
vacinar todo plantel. As vacinas são muito eficientes contra a doença. Se houver
algum caso maligno, é necessário revacinar anualmente o rebanho e
principalmente os cordeiros nascidos por pelo menos três anos consecutivos. A
vacina é efetuada riscando-se a face interior da coxa com um estilete, mas sem
provocar sangramento, com um cotonete embebido com o líquido vacinal,
esfrega-se na lesão. Após 10 dias, aparece uma crosta no local, o que indica que
a vacina está funcionando.
7. Mastite
As piores são causadas pelo Staphilococcus aureus e a Pausterela
hemolytica, provocando uma mastite aguda e necrosante que pode levar o animal à
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morte em poucas horas. Ao ser tratado em tempo e eficazmente, o animal se salva,
mas o teto afetado vai se desprendendo aos poucos e cai.
As mastites de curso menos agudo podem aparecer de várias formas, como
as sub-clínicas ou as que entumecem e empedram os tetos.
Tratamento: o tratamento preferencialmente teria que ser feito após o
antibiograma, mas às vezes o produtor não tem condições de procurar o
laboratório ou o caso é grave e o animal tem que ser tratado imediatamente. Para
o tratamento das mastites mais leves a infusão de pomada com antibiótico nos
tetos resolve o problema. Na mastite aguda é necessário, além da aplicação nos
tetos, entrar com antibióticos de largo espectro e em altas quantidades para
salvar o animal.
Prevenção: para prevenir os problemas, ao comprar animais sempre examinar o
úbere e no menor sinal de problema não comprá-los. Examinar todas as ovelhas
do plantel um mês após a desmama, e se aparecer alguma com problema, caso
seja um animal de pouco valor e o caso for de difícil tratamento, eliminá-la do
plantel. Em caso de confinamento, manter o local sempre limpo, e se aparecer
algum animal enfermo isolá-lo. Os cordeiros mamam nas ovelhas contaminadas
e após vão mamar em outras ovelhas transmitindo a contaminação.
8. Controle sanitário: principais recomendações
A maioria dos insucessos na ovinocultura está relacionada com os óbitos
decorrentes de falhas no manejo sanitário do rebanho, dessa maneira o produtor
deve tomar os seguintes cuidados:
8.1. Medidas Gerais
- Revisão constante dos animais, separando os doentes.
- Fornecer mistura mineral à vontade.
- Limpeza e desinfecção dos instrumentos e ferramentas usados nos animais.
- Quarentena de animais adquiridos ou a serem introduzidos no rebanho.
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8.2. Vacinações
- Vacinar os animais contra carbúnculo sintomático, enterotoxemia e gangrena
Gasosa (verificar se a vacina atinge o Clostridium perfringens).
•
Ovelhas: anualmente, 30 dias antes do parto.
•
Cordeiros: 45 a 60 dias de idade (época da desmama), duas aplicações (dose de
reforço 21 dias depois da 1ª dose).
•
Revacinação anual em todo rebanho (dose única)
8.3. Podridão dos Cascos
•
Casqueamento (aparo) e revisão periódica dos cascos dos animais.
•
Predilúvio preventivo: manejo de rotina em todo o rebanho uma vez por mês e na
época de chuvas duas vezes por mês,
•
Pedilúvio curativo: isolar os animais que aparecem doentes e, nos casos graves,
fazer tratamento com antibióticos e aplicação de solução anti-séptica manual ou
passagem dos animais doentes no pedilúvio.
Preparo da Solução de Pedilúvio:
a) Sulfato de Zinco (10%)
Detergente comum = 2 mL/litro
Exemplo: em 50 litros de água adicionar 5 Kg de sulfato de Zinco e 100 ml de
detergente comum
b) Sulfato de Cobre (10%)
c) Formol (2.5%)
Exemplo: 6 litros de formol a 40% em 100 litros de água.
8.4. Caudectomia
Outra medida que deve ser tomada é a caudectomia (corte da cauda) nos
animais que possuem lã, para se evitar acúmulo de fezes que poderá levar a
ocorrências de miíases. No caso de fêmeas, quando adultas, a presença da cauda
dificultará penetração ou ainda poderá lesionar o pênis do reprodutor no momento
da cópula.
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Há dois métodos para a execução do corte da cauda, o formão de ferro em
brasa e o elástico. Recomendamos o uso do elástico, pois sua cicatrização é mais
rápida e o perigo de infecção é menor, além disso a técnica é mais simples.
A caudectomia deve ser realizada nos cordeiros com idade de cinco a sete
dias de vida, pois quando maiores a cicatrização é mais lenta, podendo inclusive
levar a hemorragias devido à espessura da cauda.
9. Vias de aplicação de medicamentos
9.1. Subcutânea
Consiste na deposição de medicamento entre a pele e o tecido muscular logo
abaixo desta. O local de aplicação deve ter a pele mais solta, como por exemplo, na
tábua do pescoço ou atrás da paleta. (Figura 7).
Figura 7. Locais para a injeção subcutânea.
Técnica: puxar a pele de maneira que forme um triângulo (Figura 8), e introduzir a
agulha na face anterior; a ponta da agulha deverá estar, obrigatoriamente, no
espaço subcutâneo
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Figura 8. Técnica para a injeção subcutânea (agulha 10x10).
Possíveis complicações:
-
Abscesso por falta de assepsia do local de aplicação ou do material;
-
Necrose de músculos, por erro na aplicação (intramuscular superficial);
-
Choque, por sensibilidade ao produto injetado.
São inevitáveis, com o uso de certos medicamentos, manifestação dolorosa
imediata, porém de curta duração, ou reação inflamatória tardia (sem gravidade, se a
assepsia foi correta).
9.2. Intramuscular
Consiste na deposição de medicamentos, irritantes pela via subcutânea,
dentro da massa muscular. O local de aplicação deve apresentar grande massa
muscular, tal como a região das coxas (Figura 9).
Técnica: após a assepsia do local, introduzir a agulha no músculo. Antes de injetar o
medicamento, deve-se voltar ligeiramente o êmbolo da seringa, para certificar-se de
que a agulha não atingiu nenhum vaso sanguíneo. Aplicar no máximo cinco ml por
ponto de injeção em animais adultos, evitando-se, com isto, a dilaceração das fibras
musculares.
Possíveis complicações:
- Abscesso por:
-
Falta de assepsia;
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-
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Medicamentos irritantes (caso a injeção não tenha sido profunda, difundindo-se
sob a pele);
-
Volumes superiores a cinco ml.
- Manqueira por paralisia, no nervo ciático, imediatamente após a injeção.
Figura 9. Local para a injeção intramuscular (agulha 20x10).
9.3. Intraperitoneal
Consiste na deposição do medicamento dentro da cavidade peritoneal.
Técnica: após desinfecção local criteriosa, introduzir a agulha no flanco direito, na
direção do membro posterior esquerdo (Figura 10). O medicamento deve ser
ligeiramente morno e injetado lentamente.
Possíveis complicações:
-
Cólicas, provenientes de produtos injetados frios ou muito rapidamente, ou por
medicamentos incompatíveis com esta via.
-
Peritonite (inflamação do peritôneo), por má assepsia ou pela utilização de
produtos oleosos, que são mal absorvidos por esta via.
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Figura 10. Via peritoneal.
9.4. Endovenosa
Consiste na deposição do medicamento na corrente sanguínea, através da
punção de uma veia superficial.
Vantagens:
-
Ação instantânea do medicamento, que atinge concentração sanguínea máxima,
sendo por isto muito usada nas doenças metabólicas ou infecciosas
(particularmente nas septicemias);
-
Permite a administração de grandes doses de medicamentos, como por exemplo,
na reidratação.
Inconvenientes:
-
O efeito do medicamento é de curta duração, porque o produto começa a ser
eliminado rapidamente do organismo. Recomenda-se, portanto, fracionar a dose
total, aplicando dois terços por via endovenosa e um terço por outra via.
Local de injeção: veias superficiais, como a jugular direita ou esquerda (Figura 11).
Técnica: faz-se necessário uma pessoa para conter o animal. O operador pressiona
a veia jugular, no terço inferior do pescoço. Após esta pressão, a veia aumenta de
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volume. O operador deve observar o trajeto da veia e, com a seringa na outra mão,
introduzir a agulha. Para certificar-se da introdução correta da agulha dentro da veia,
voltar um pouco o êmbolo da seringa, verificando se o sangue reflui. Relaxar a
compreensão feita na base do pescoço e injetar o medicamento lentamente.
Terminada a injeção, retirar a agulha e friccionar o local, para evitar a formação de
hematoma.
Para facilitar a visualização da veia, pode-se fazer a compreensão (“garrote”) no
pescoço, com auxílio de uma corda e, ainda, depilar a região do pescoço onde será
feita a aplicação.
Figura 11. Jugular esquerda – via endovenosa e posicionamento da agulha.
Possíveis complicações:
-
Septicemia, se a desinfecção local não foi bem feita;
-
Choque, por medicamentos injetados muito frio ou rapidamente;
-
Hematoma (acúmulo de sangue no tecido perivascular), em decorrência de
injeções repetidas e falta de prática do operador; se a assepsia for bem feita,
dificulta as complicações.
9.5. Considerações gerais
Estas injeções, qualquer que seja a via eleita, devem ser feitas por pessoas que
tenham alguma prática. Caso não seja possível, aconselha-se o uso de machos
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mestiços ou capões destinados ao abate, para treinamento, até que se alcance a
prática necessária, para só depois se fazer aplicações no rebanho ovino base de
seleção.
XI. SANIDADE: PRINCIPAIS DOENÇAS PARASITÁRIAS NA
OVINOCULTURA
Este capítulo foi elaborado por Carlos N Kaneto.
1. Considerações gerais
O sucesso de qualquer empreendimento destinado à exploração animal se
apóia num tripé constituído de melhoramento genético, nutrição e sanidade. Dessa
maneira, é da maior importância que esses fatores, influenciados pelo ambiente,
básicos e fundamentais, devam se desenvolver de forma harmônica para se atingir o
sucesso em qualquer sistema de produção animal.
Fora de seu estado de higidez, um animal como uma fábrica complexa
destinada à produção de carne ou lã, mesmo quando criado em condições
ambientais favoráveis e com a melhor tecnologia, deixa de produzir economicamente
ou simplesmente não produz nada. Assim, percebe-se que a sanidade se constitui
na base para qualquer programa de produção animal, fato reconhecidamente aceito
por todos os estudiosos do desenvolvimento da pecuária no Brasil.
Inúmeros fatores contribuem favorável ou desfavoravelmente para a
manutenção da saúde dos animais, como os decorrentes do meio ambiente, do
manejo e os provocados por doenças causadas por agentes físicos, químicos e
biológicos.
Dentre os problemas de ordem sanitária que prejudicam o desempenho de
nossos rebanhos, notadamente os ovinos, as doenças provocados por parasitas ou
parasitoses, são responsáveis por grandes prejuízos, merecendo a atenção de todos
que estejam envolvidos nesse setor.
Um parasito, de maneira abrangente, pode ser definido como um ser vivo que
se aloja em outro ser vivo, de espécie diferente da sua, que é chamado de
hospedeiro, dele auferindo vantagens e provocando-lhe algum dano. Trata-se,
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portanto, de uma associação entre seres vivos onde ocorre uma unilateralidade de
benefícios, sendo o ser beneficiado denominado parasito e o prejudicado, o
hospedeiro.
Esse conceito, porém, inclui também as bactérias, os vírus e os fungos e,
então para efeito didático, as doenças provocadas por esses agentes são
denominadas de enfermidades infecciosas e são estudadas no âmbito da
Microbiologia.
Os parasitos de importância médica e veterinária estão distribuídos em 3
grandes grupos: Artrópodes, Protozoários e Helmintos.
Na ovinocultura ocorrem agravos à saúde dos animais provocados por
representantes desses três grupos, como se verá a seguir.
Os artrópodes abrangem os chamados ectoparasitos ou parasitas externos,
que são aqueles que se localizam na superfície externa dos animais. Dentro desse
grupo encontram-se os animais invertebrados com patas articuladas como os
carrapatos, as sarnas, os piolhos, as pulgas, as moscas e os mosquitos, que
provocam danos aos animais e ao homem de uma maneira direta ou indiretamente,
agindo como veiculadores de agentes causadores de outras doenças
Sob a denominação de miíase é reconhecida a presença e o desenvolvimento
de larvas de moscas em tecidos de animais vivos. Na espécie ovina, as principais
miíases são a "bicheira" e a oestrose ou "mal da cabeça".
A oestrose é provocada pelas larvas de moscas da espécie Oestrus ovis, as
quais se localizam nas cavidades nasais e seios frontais dos ovinos.
As moscas fêmeas adultas após serem fertilizadas pelos machos põem as
larvas contidas no interior de um envoltório, nas narinas dos animais. Cada mosca
coloca cerca de 25 larvas de cada vez e durante a sua vida produz cerca de 500
larvas.
Uma vez na cavidade nasal dos ovinos, essas larvas que medem cerca de um
mm de comprimento quando ovipostas, se dirigem para dentro das fossas nasais,
aderem-se à mucosa dos condutos alimentando-se do muco aí existente. Em
seguida essas larvas vão se dirigir aos seios frontais onde se desenvolvem e
crescem atingindo o tamanho de 2,5 a 3 cm, sendo então expelidas através de
descargas nasais e espirros dos animais.
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O período em que a larva fica parasitando o animal ou período larval é de
aproximadamente 25 dias, porém, pode se estender por até um ano nas regiões de
clima frio. Durante esse período, as larvas ficam exercendo a sua ação deletéria
sobre os ovinos.
Altas infestações podem fazer com que o animal perca o apetite, emagreça,
podendo mesmo morrer.
Uma vez expelidas pelo animal, as larvas maduras vão ao solo e nele
penetram nas suas camadas mais superficiais e passam para outra fase de sua vida
que é a de pupa. Nessa fase, a mosca passa se desenvolver no interior da pupa,
que tem a casca escura e imóvel. Nessa forma, o parasito permanece por um
período variável de 21 a 42 dias. Passado esse período, as moscas adultas
emergem do pupário.
As moscas adultas do gênero Oestrus não se alimentam e vivem por cerca de
15 dias.
Os animais acometidos pelas larvas de Oestrus, ficam irritados, espirram com
freqüência, balançam muito a cabeça e esfregam as narinas nas patas. Geralmente
apresentam também, corrimentos nasais e dificuldade respiratória
Esses sintomas ocorrem porque no período larval as larvas exercem uma
ação mecânica extremamente irritativa, através dos seus ganchos orais e espinhos
que provocam uma inflamação das membranas mucosas nasais com secreção
muco-purulenta ou mesmo sanguinolenta.
O diagnóstico da oestrose pode ser feito através da observação dos sintomas
apresentados, pela identificação da larva expelida pelas descargas nasais e espirros
do animal e também por necropsia. O tratamento poderá ser realizado através da
aplicação de drogas endectocidas, que atuam sobre parasitas internos e externos
dos animais.
As miíases conhecidas como "bicheiras" são provocadas por larvas de
moscas da espécie Cochliomyia hominivorax, também conhecida como "varejeira".
As moscas dessa espécie copulam apenas uma vez na vida. Essa
peculiaridade biológica permitiu a sua erradicação nos Estados Unidos da América
do Norte através da utilização de machos esterilizados por radiação.
Normalmente elas depositam seus ovos em massas compactas contendo de
200 a 300 ovos que são colocados nas bordas de feridas recentes dos animais.
Cada fêmea pode ovipor cerca de 1800 ovos.
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Uma vez postos nas bordas das feridas, em menos de 24 horas, desses ovos
eclodem as larvas. Essas larvas se alimentam de tecido vivo dos animais fazendo
uma cavidade na ferida que tende a aumentar de profundidade progressivamente,
pois novas posturas de ovos são realizadas na mesma ferida. Isso pode ser
comprovado pelo encontro de larvas de diferentes tamanhos numa mesma ferida.
A ferida geralmente fica sangrando constantemente pelo seu orifício e exala
um mau cheiro característico, facilmente sentido quando se chega perto do animal
acometido pela "bicheira".
Se o animal com essa miíase não for medicado, as larvas se alimentam por
um período de 5 a 9 dias e abandonam a lesão indo ao solo para puparem. Nas
camadas mais superficiais do solo (2 a 3 cm) se transformam em pupas.
O período pupal é de 7 a 10 dias nas épocas quentes, podendo se prolongar
nas épocas mais frias.
As moscas adultas vivem por cerca de 15 dias podendo sobreviver por até 42
dias nos períodos mais frios.
As moscas causadoras de "bicheiras" se alimentam de néctar das flores e
substâncias açucaradas produzidas pelas plantas e, somente após a cópula e com o
desenvolvimento dos seus ovários, é que ocorre um aumento das suas
necessidades protéicas para a maturação dos seus ovos. Elas são então atraídas
pelo odor das feridas e cortes na pele dos animais nos quais vão provocar a
ocorrência de miíases.
A gravidade e extensão dos danos que a "bicheira" provoca depende do local
do corpo do animal que for atingido e das reinfestações provocadas por novas
posturas. Existem casos que podem levar o animal a morte quando não tratados, ou
mesmo podem provocar lesões sérias e incapacitantes. O mau cheiro exalado atrai
outras espécies de moscas podendo então ocorrer miíases secundárias provocadas
por larvas de moscas que se alimentam de tecido necrosado, agravando ainda mais
o processo.
Geralmente os locais do corpo do animal mais atingidos pela "bicheira" são
decorrentes de práticas normais de manejo como castração, tosquia, corte de cauda,
tratamento inadequado ou não tratamento de umbigo dos recém nascidos,
colocação de brincos ou marcação, e ferimentos provocados por arames farpados,
etc.
Como medidas preventivas recomenda-se, na medida do possível, que certas
práticas de manejo, como a descola dos cordeiros e outras que predispõem o animal
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à "bicheira", sejam executadas no período seco (agosto) quando a população de
moscas varejeiras é menor.
É muito importante ressaltar que se deve manter uma vigilância constante nos
animais realizando-se inspeções freqüentes para surpreender a ocorrência de
"bicheira" para logo no início do seu aparecimento. Para isso deve-se sempre
orientar o funcionário que cuida do rebanho para que o mesmo possa identificar a
ocorrência da bicheira logo no início de seu aparecimento.
O tratamento deve ser providenciado imediatamente com aplicação de
inseticidas em aerossóis ou spray ("mata bicheiras") ou mesmo com medicamentos
que atuam também sobre ectoparasitas (avermectinas), evitando assim que as
larvas caiam no solo e continuem o seu ciclo de vida.
O berne, juntamente com a "bicheira" e o carrapato é um das mais
importantes pragas que atingem a pecuária bovina brasileira, porém, embora tenha
sido assinalado em alguns ovinos após a tosquia, atualmente parece não ser de
ocorrência muito freqüente nessa espécie animal. O berne nada mais é do que a
larva de uma outra mosca chamada Dermatobia hominis, e se caracteriza por se
localizar no tecido subcutâneo dos animais ou mesmo do homem, formando nódulos
com um orifício, por onde ela respira. Essa mosca é de ocorrência mais freqüente
em regiões de matas e morros.
Os ovinos podem ainda ser atacados por outras espécies de artrópodes como
os ácaros produtores de sarna Psoroptes ovis e pelos piolhos Damalinia ovis. A
sarna ovina não tem sido observada no Estado de São Paulo ao contrário da
Damalinia, cuja presença tem sido freqüentemente assinalada nesse Estado.
Esses dois ectoparasitos são parasitas permanentes não apresentando uma
fase não parasitária. Eles são transmitidos através do contato direto entre um animal
infestado com outro sadio. Como eles completam o seu ciclo de vida nos animais, o
seu controle é relativamente mais fácil e pode ser realizado através do tratamento
com banhos com produtos à base de inseticidas (piretróides).
O segundo grande grupo de parasitas é o dos protozoários.
Esse grupo abrange organismos unicelulares que podem provocar doenças
nos animais entre eles os ovinos.
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Várias espécies de protozoários do gênero Eimeria têm sido diagnosticadas
em exames de fezes de ovinos, nos quais provocam uma doença chamada
coccidiose.
Esses parasitas são microscópicos e se localizam no tubo digestivo dos
animais. Eles penetram nas células epiteliais do tubo digestivo onde se multiplicam,
provocando uma destruição das células parasitadas podendo resultar, em
conseqüência disso, diarréia hemorrágica, com a saída de oocistos, que são suas
formas de disseminação, nas fezes dos animais. Essas formas de disseminação da
coccidiose são visíveis apenas ao microscópio. Os animais acometidos pela
coccidiose em alguns casos sofrem perda de peso, fraqueza e podem chegar à
morte.
A doença é mais freqüente nos animais jovens com até 8 semanas de idade
porém pode atingir também os animais mais velhos. Várias espécies de Eimeria já
foram identificadas parasitando cordeiros criados a campo, porém, a enfermidade
adquire maior importância em animais confinados.
As infecções com pequeno número de oocistos induzem à imunidade sem
produzir doença, ou seja, os animais conseguem adquirir uma relativa resistência a
essa doença. Parece que essa é a regra nas condições de criação extensiva, porém,
em cordeiros confinados, podem ocorrer casos severos levando os animais à morte.
Os animais adquirem a infecção através da ingestão de oocistos esporulados
juntamente com os alimentos, portanto, as principais medidas para a prevenção da
coccidiose são as de impedir que os animais comam alimentos contaminados,
colocando os cochos de ração e bebedouros em altura adequada para evitar a
contaminação do alimento com as fezes e manter os locais de confinamento limpos
e secos pois a umidade favorece a esporulação dos oocistos.
A coccidiose em ovinos é um assunto pouco estudado quando comparado
com a mesma doença em outras espécies como as aves comerciais. Na avicultura
de corte, por exemplo, as espécies de Eimeria que parasitam os frangos são de
grande patogenicidade e o sistema de produção, com elevada densidade animal,
favorece a sua ocorrência. A alternativa encontrada foi fazer a prevenção através da
adição de medicamentos coccidiostáticos na ração, fornecida continuadamente às
aves.
Pesquisas com ovinos têm demonstrado que o tratamento contínuo dos
animais com coccidiostáticos podem proporcionar um ganho de peso superior aos
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não tratados, porém, o assunto é carente de maiores informações a respeito dos
possíveis e reais prejuízos causados pela coccidiose em cordeiros.
A toxoplasmose também é uma doença provocada por um protozoário
chamado Toxoplasma gondii. Essa é uma das doenças que atingem uma enorme
variedade de espécies animais, inclusive o homem. Nos ovinos, entretanto, na
maioria das vezes ela é assintomática, mas quando atinge ovelhas gestantes, pode
provocar abortamento.
Os gatos são os hospedeiros definitivos do Toxoplasma e eliminam as formas
infectantes do parasito, chamadas de oocistos, através das fezes. Os outros
animais, entre eles os ovinos, se infectam, principalmente, ao ingerir alimento
contaminado com fezes de gato portador do Toxoplasma.
Como medida preventiva, recomenda-se impedir que os gatos tenham acesso
aos cochos e aos locais de armazenamento de rações, pois eles poderiam
contaminar os alimentos com as suas fezes contendo oocistos.
O último grupo de parasitos é o dos helmintos, vulgarmente denominados de
vermes. É o grupo de maior importância, devido aos prejuízos que provoca
especialmente na ovinocultura.
De uma maneira geral, os vermes podem ser achatados ("vermes chatos") ou
cilíndricos ("vermes redondos").
Os vermes chatos podem ser em forma de folha ou em forma de fita
segmentada.
A Fasciola hepatica é um verme chato freqüente na Região Sul e em algumas
áreas da Região Sudeste do Brasil. No Estado de São Paulo é muito freqüente na
região do Vale do Paraíba.
Esse verme se localiza no fígado dos animais acometidos e apresenta um
ciclo biológico complexo, pois necessita de um caramujo para completar o seu
desenvolvimento.
Os animais adquirem a infecção ao ingerirem alimento ou água contendo as
formas imaturas da Fasciola denominadas metacercárias. Essas metacercárias uma
vez ingeridas vão atingir o fígado e canais biliares que são o habitat desse verme.
Durante o seu crescimento a Fasciola provoca intensa destruição do tecido hepático,
provocando hemorragias que resultam em anemia, emagrecimento e mesmo a
morte do animal parasitado.
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A doença é comum nas áreas alagadiças e locais de plantação de arroz, onde
a presença do caramujo é comum.
Nas regiões tradicionais de criação de carneiro no Estado de São Paulo, na
atualidade, ela não tem sido assinalada, mas deve se ter em mente que essa
doença pode estar se expandindo podendo vir a ocorrer no futuro.
Existem duas espécies de parasitos achatados em forma de fita segmentada
muito freqüentes em ruminantes chamadas Moniezia expansa e Moniezia benedeni,
que devido à semelhança com a tênia humana ou solitária, são chamadas de tênias
dos bovinos e ovinos.
As moniezias se localizam no intestino delgado e podem atingir vários metros
de comprimento. Elas se fixam na parede do intestino através de 4 ventosas
localizadas na sua cabeça, e eliminam continuamente os segmentos finais de seu
corpo juntamente com as fezes.
É muito comum, se observar pequenos esses pequenos filamentos
amarelados ou esbranquiçados nas fezes dos carneiros, não havendo necessidade
de outros exames para diagnosticar a doença. Esses segmentos estão repletos de
ovos do verme que são mais ou menos triangulares. Esses ovos, porém, não são
visíveis a olho nu, sendo somente observados quando se utiliza um microscópio.
Nas pastagens, esses ovos são espalhados pela desintegração desses filamentos e
são ingeridos por pequenos ácaros que vivem livremente no solo. No interior do
corpo desses ácaros esses ovos se desenvolvem em larvas infectantes para os
ovinos.
Os ovinos ao pastarem, ingerem juntamente com o alimento, os ácaros
contendo as formas larvárias da Moniezia. Os sucos digestivos do carneiro irão
digerir os tecidos do ácaro e liberar a larva da Moniezia que irá se aderir na mucosa
do intestino delgado onde irá crescer até se transformar em adulto. O corpo da
Moniezia pode atingir vários metros de comprimento sendo constituído de dezenas
de segmentos.
A Moniezia não é hematófaga. Não possuindo tubo digestivo, ela absorve os
alimentos através de seu próprio tegumento. A capacidade de a Moniezia provocar
prejuízos à saúde dos ovinos é considerada pequena por muitos, porém, vale
lembrar que elas competem com os ovinos na absorção do alimento pré-digerido,
diminuindo portanto o aproveitamento do mesmo pelos animais.
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Da mesma forma que os ovinos podem ser parasitados pelas moniezias, os
cães podem ser parasitados por outros vermes chatos que se localizam no seu
intestino delgado. O principal deles, em relação aos ovinos, é o Echinococcus
granulosus, que é a menor "tênia" conhecida, pois o seu corpo é constituído de
apenas 3 segmentos. Periodicamente, o cão elimina o último segmento repleto de
ovos do Echinococcus juntamente com as suas fezes que irão contaminar o solo, as
pastagens e a água do meio ambiente.
Os ovinos ao ingerirem capim contaminado com esses ovos do parasito irão
funcionar como seu hospedeiro intermediário. O ovo após ser ingerido irá liberar um
embrião que irá atingir principalmente o fígado e os pulmões dos carneiros. Nesses
órgãos, irá se desenvolver gradativamente a larva do parasito que é chamada de
Cisto hidatico. Essa larva tem um aspecto de uma bexiga e pode ser de tamanhos
variados podendo ser do tamanho de uma bola de sinuca ou mesmo maior.
Com outras espécies de animais pode ocorrer o mesmo que ocorre com os
ovinos, até mesmo com o homem, porém, a doença é mais comum nos ovinos.
Essa doença nos animais e no homem é chamada de hidatidose e, nas
regiões onde ocorre, é de grande importância pelas perdas que provoca na criação
de ovinos e em Saúde Pública, por atingirem também a espécie humana.
Os cães se infectam quando comem vísceras, principalmente o fígado e
pulmões contendo o Cisto hidatico.
Como medidas indicadas para o controle da hidatidose, portanto, são
recomendados o tratamento dos cães portadores do verme adulto ("tênia"
Echinococcus) com vermífugo adequado para que eles não contaminem as
pastagens disseminando a doença, não fornecer vísceras cruas dos ovinos abatidos
para os cães e não permitir que eles tenham acesso a carcaças de animais mortos.
Os chamados "vermes redondos", que na verdade são cilíndricos, são
também conhecidos como nematóides.
Das espécies de vermes que se localizam no pulmão e vias aéreas dos
ovinos o Dictyocaulus filaria é o mais importante e comum. Esse verme determina
um quadro de bronquite parasitária com o animal acometido apresentando tosse e
dificuldade respiratória. A verminose pulmonar é de ocorrência menos comum do
que a gastrintestinal não só nos ovinos como também nos bovinos.
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Os animais infectados eliminam larvas através das fezes que irão contaminar
as pastagens. Após um curto período de tempo, essas larvas se desenvolvem nas
pastagens se tornando infectantes para outros animais.
Os animais contraem a verminose pulmonar através da ingestão de larvas
infectantes juntamente com o alimento.
Com relação à verminose gastrointestinal existem vários gêneros de vermes
que a provocam. Os mais comumente encontrados no Estado de São Paulo são o
Haemonchus, Trichostrongylus, Cooperia, Oesophagostomum e Strongyloides. Nos
estados da Região Sul outros gêneros como Ostertagia e Nematodirus também
ocorrem, sendo o primeiro extremamente patogênico para os ovinos. Por enquanto a
sua presença não tem sido relatada no Estado de São Paulo.
Raramente a verminose gastrointestinal é provocada por apenas um tipo de
verme. Geralmente as infecções são mistas havendo uma somatória dos efeitos
deletérios que eles provocam nos animais parasitados.
Esses vermes são responsáveis por elevados prejuízos econômicos por
provocarem retardo do crescimento, diminuição da produção de carne ou lã e
aumento da taxa de mortalidade, além do gasto com vermífugos e mão de obra.
Embora cada tipo de verme apresente peculiaridades próprias, de uma
maneira geral pode-se considerar o ciclo biológico de Haemonchus, Cooperia,
Trichostrongylus e Oesophagostomum como se segue:
A vida de um nematódeo típico se inicia com a cópula entre machos e fêmeas
adultas que estão no seu habitat. Depois de fertilizadas, as fêmeas realizam a
postura de ovos que irão para o meio exterior com as fezes do animal.
Esses ovos só são visíveis quando se usa um microscópio e quando
eliminados, apresentam várias células em seu interior, que em conjunto tem um
aspecto de amora. Possuem também um câmara de ar que permite que eles flutuam
quando colocados em uma solução mais densa. Essa propriedade permite a sua
visualização em laboratório através de técnicas de flutuação.
Esses ovos, encontrando condições propícias de umidade, temperatura,
evoluem passando a conter uma larva em seu interior (embrionamento). Quando
completamente desenvolvida, essa larva eclode e fica no meio ambiente se
alimentando de microorganismos e matéria orgânica presentes no solo e nas
pastagens, cresce e evolui até atingir a forma infectante, chamada de L 3. Para
prosseguir o seu desenvolvimento a L 3 necessita ser ingerida pelo animal. Essas
larvas são bastante resistentes podendo permanecer por vários meses nas
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pastagens. Elas são bastante móveis e são governadas pelo estímulo da umidade.
Nas horas mais frescas do dia, elas se locomovem pela película de orvalho que
recobre as vegetações indo em direção das partes mais altas das vegetações. Nas
horas mais quentes e ensolaradas elas se dirigem para as partes inferiores das
plantas, chegando a penetrar nas superfície do solo em busca de um ambiente mais
propício para a sua sobrevivência.
A umidade ótima para os ovos e larvas é de 80 a 100% e a temperatura entre
22 a 26 ºC. Temperaturas superiores a 30 ºC provocam um desenvolvimento mais
rápido, porém, as larvas se tornam hipercinéticas e consomem rapidamente suas
reservas e morrem mais rapidamente. As larvas podem sobreviver por longos
períodos no microclima existente nas partes baixas da vegetação, rente ao solo,
onde o grau de umidade e temperatura é mais ou menos constante, graças à
proteção das camadas das folhas.
O animal adquire a infecção ao ingerir a larva infectante juntamente com o
pasto. Dentro do organismo do animal, a larva evolui e cresce até atingir o estágio
adulto no local de sua preferência ao longo do tubo digestivo do animal.
O Haemonchus preferencialmente se localiza no abomaso, assim como o
Trichostrongylus axei. Uma outra espécie de Trichostrongylus, o Trichostrongylus
colubriformis e a Cooperia se localizam o intestino delgado e o Oesophagostomum
parasita o intestino grosso.
Localizados em seu habitat, machos e fêmeas copulam e passam a produzir
ovos que serão eliminados através das fezes do animal, fechando o chamado ciclo
biológico.
Deve-se observar que durante a vida desses vermes, ocorrem duas fases
distintas: uma se passa no interior do animal, que vai desde a ingestão da larva
infectante até o verme adulto (fase parasitária) e a outra que se passa no meio
ambiente, que vai do ovo até a forma infectante (fase de vida livre ou préparasitária).
Esse reconhecimento é muito importante quando se discute as medidas de
manejo zootécnico que podem ser aplicadas para dificultar o contato entre os
vermes e os animais.
Geralmente as larvas seguem um desenvolvimento padrão no interior do
organismo do animal de maneira que após 3 a 4 semanas elas já se transformaram
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em adultas. Entretanto, sob certas condições, esse desenvolvimento pode se
retardar por um tempo mais longo (até 4 meses) no interior da mucosa do tubo
digestivo. As larvas retornam ao seu crescimento principalmente quando a
resistência do hospedeiro é quebrada ou diminuída. A partir do momento em que
essas formas imaturas reassumem o seu desenvolvimento elas se tornam adultas
rapidamente e passam a causar doença nos hospedeiros.
O Strongyloides é um verme que apresenta um ciclo de vida diferente dos
demais. Em sua forma adulta ele se localiza no intestino delgado e as fêmeas põem
ovos de casca fina que saem com as fezes do animal contendo uma larva no seu
interior. O desenvolvimento da fase não parasitária é semelhante ao dos outros
vermes acima citados, porém, as larvas infectantes penetram através da pele dos
animais para infectá-los. Esse parasito também pode ser transmitido da mãe para a
sua cria através da placenta e do leite podendo ser encontrado em animais recém
nascidos.
Diferentemente
do
que
ocorre
com
outras
doenças,
a
verminose
gastrointestinal se apresenta sob forma pouco aparente ou subclínica e crônica, de
maneira que apenas 5% dos casos se manifestam de maneira clara e visível.
Agindo lentamente, os vermes mostram seus efeitos a longo prazo, passando
muitas vezes despercebidos pelos criadores.
As mortes nem sempre se devem diretamente aos efeitos dos vermes no
metabolismo do animal, mas o enfraquecimento provocado por eles torna o animal
mais sensível a outras enfermidades que, em condições normais, eles não seriam.
Em outras palavras, a morte pode ser resultado de uma outra doença que se
instalou em conseqüência da debilidade orgânica que o animal parasitado
apresenta.
Novamente deve-se enfatizar a importância do desenvolvimento harmonioso
do tripé de fatores da produção animal.
Quando há abundância de pastagens de boa qualidade a ação dos vermes
pode ser pouco notada, mas quando as pastagens são de baixa qualidade,
superlotação e condições ambientais deficientes, as verminoses causam estragos
consideráveis.
O Haemonchus é considerado o verme de maior patogenicidade para os
ovinos. É um verme que se alimenta de sangue do seu hospedeiro. Acredita-se que
ele injete uma substância anticoagulante no ferimento que provoca na mucosa
estomacal de modo que a perda de sangue por parte do animal continue por mais 5
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ou 6 minutos após ele ter abandonado o local de adesão. Estima-se que um ovino
maciçamente infectado por Haemonchus pode perder cerca de 140 ml de sangue
por dia e que cada verme possas sugar 0.08 ml de sangue por dia.
As espécies de Ostertagia também são hematófagas, porém, as principais
lesões são causadas pelas larvas infectantes que penetram na mucosa gástrica
formando nódulos esféricos, no interior dos quais se desenvolvem. Esses parasitos
lesam as glândulas gástricas fazendo com que desapareçam as células produtoras
de ácido clorídrico, o que eleva o pH normalmente de 2 a 3 para 7. Essa elevação
do pH inibe a ação da pepsina e o pepsinogênio, interrompe a digestão péptica e
leva ao desenvolvimento de bactérias anaeróbias desencadeando o aparecimento
de diarréias.
O Trichostrongylus e a Cooperia não são hematófagos. Eles se nutrem de
alimento pré-digerido e de células superficiais da mucosa do tubo digestivo,
provocando reações inflamatórias, erosão e hiperplasia do epitélio, e aumentam a
secreção de muco tornando a digestão deficiente.
Essas espécies e também o Strongyloides provocam lesões menos graves,
porém determinam inflamação catarral, espessamento do epitélio e erosão na
mucosa do tubo digestivo.
O Oesophagostomum embora se localize no intestino grosso em sua forma
adulta, logo que suas larvas saem do abomaso, podem penetrar na mucosa do
intestino delgado formando nódulos na sua parede. Esses nódulos tendem a se
calcificar, interferindo na mecanicidade e no bom funcionamento do intestino
prejudicando o peristaltismo e a absorção intestinal.
Vários são os fatores que interferem na ocorrência das verminoses. Os
cordeiros passam a sofrer infecções significativas a partir de 1 mês e meio de idade,
sendo mais sensíveis que os animais mais velhos.
O estado fisiológico dos animais também influem bastante. Está comprovado
que no período periparto e durante a lactação as ovelhas sofrem infecções mais
pesadas que após o desmame.
Em estudos comparativos, animais das raças Romney-Marsh foram mais
resistentes que animais das raças Merino Australiano, Ideal e Corriedale e animais
da raça Crioula lanada foram mais resistentes que os da raça Corriedale.
Além da diferença entre animais de raças diferentes existem diferenças de
sensibilidade entre animais de uma mesma raça. (resistência individual), existindo
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uma correlação positiva entre resistência e produtividade, havendo possibilidades de
formação de rebanhos mais resistentes à verminose através de seleção genética
dentro de cada raça.
Uma medida de caráter prático para identificar os animais mais sensíveis é
observar aqueles que apresentam sintomatologia clínica, devendo na medida do
possível, serem eliminados do rebanho, pois se calcula que cerca de 10% dos
animais de um rebanho alberguem a metade dos vermes existentes enquanto a
outra metade estaria distribuída entre os outros animais (90%).
As lotações altas facilitam a transmissão das verminoses e baixas
desfavorecem.
O diagnóstico da verminose ovina pode ser estabelecido com base na
sintomatologia apresentada pelos animais como emagrecimento, anemia, edema
submandibular, caquexia e diarréia. Melhor ainda é complementar o diagnóstico
clínico com exame parasitológico de fezes, cultura de larvas e necropsia de alguns
animais doentes.
Para a colheita das fezes para exame laboratorial, deve-se colhê-las
diretamente do reto do animal. Para tanto é bastante prático a utilização de luvas de
plástico descartáveis. Em animais de pequeno porte introduz-se apenas um dedo,
em animais maiores pode-se introduzir dois dedos, fazendo-se uma massagem na
mucosa retal. Após ter obtido o material, descalçar a luva, invertendo-a, podendo-se
dar um nó na luva para melhor conter as fezes colhidas. O envio para o laboratório
deve ser o mais rápido possível e as amostras de fezes devem ser,
preferencialmente, acondicionadas em caixas isotérmicas com gelo.
É importante que se analise uma amostra representativa do rebanho para o
diagnóstico da verminose. Recomenda-se que se colha material de 10% de cada
categoria animal, e que sejam colhidas amostras tanto de animais aparentemente
saudáveis como dos que estão apresentando algum sinal indicativo de verminose.
Com relação ao tratamento e controle das verminoses gastrintestinais devese ter em mente que 95% das verminoses são subclínicas ou seja não apresentam
sintomas evidentes, ressaltando-se a importância da realização de exames de fezes
dos animais.
O controle tem sido baseado na aplicação de drogas antihelmínticas existindo
propriedades onde a aplicação de medicamentos têm sido feita a cada 15 dias.
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Entretanto, esse uso exclusivo e intenso, tem levado ao aparecimento de
populações de vermes resistentes a essas drogas, como se verá adiante.
Calcula-se que, em decorrência do ciclo de vida dos vermes gastrintestinais,
apenas cerca de 5% da sua população esteja na fase parasitária, passível de sofrer
a ação do medicamento enquanto 95% esteja em fase de vida livre na forma de
ovos e larvas nas pastagens.
Muitos são os fatores que devem ser considerados no controle dos vermes
como as fases de vida do animal que eles são mais atacados, as espécies de
vermes predominantes no rebanho, o tipo de vermífugo a ser usado, as condições
climáticas, as condições das pastagens, etc.
A resistência dos vermes a uma droga pode ser definida como um aumento
na habilidade de uma estirpe de parasito para tolerar doses de uma droga que são
letais para a maioria dos indivíduos de uma população da mesma espécie (dose
terapêutica). O seu aparecimento em um rebanho ocorre devido à seleção de alelos
de genes cuja expressão está envolvida nos mecanismos de ação da droga antihelmíntica. Essa habilidade é hereditária sendo transferida aos descendentes. O uso
indiscriminado, intenso e freqüente de vermífugos exerce uma pressão de seleção
muito grande resultando no aparecimento de populações de vermes resistentes a
um ou vários grupos químicos de vermífugos. Atualmente, o fenômeno da
resistência dos vermes de ovinos aos anti-helmínticos é um dos principais problemas
no desenvolvimento da ovinocultura no Estado de São Paulo e no Brasil, pois se
pode chegar a uma situação onde nenhuma base farmacológica disponível seja
eficiente.
A utilização de medicamentos deve ser empregada em esquemas de manejo
que visem diminuir o número de aplicações minimizando a pressão de seleção
exercida e mantendo a produtividade do rebanho.
2. Controle
O controle da verminose gastrointestinal dos ovinos é um assunto complexo e
carente de informações de pesquisa, e para o estabelecimento de programas de
controle, é recomendável que o ovinocultor procure assistência técnica especializada
a fim de que as medidas gerais possam ser adequadas e aplicáveis a cada situação
específica. Entretanto, uma série de recomendações podem ser relacionadas com o
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intuito de diminuir o aparecimento e a disseminação de populações de vermes
resistentes.
1. Não se deve confiar apenas no vermífugo, devendo-se buscar medidas
auxiliares de controle relacionadas com a descontaminação das pastagens.
2. Administrar a dose correta de vermífugo quando for tratar os animais, pois
as sub-dosagens podem acelerar o aparecimento de populações resistentes.
3. Utilizar os grupos de vermífugos de amplo espectro em rodízio lento ou
anual com a utilização de uma ou duas aplicações de um vermífugo com ação contra
Haemonchus, em áreas onde ele for problema, com o objetivo de retardar o
aparecimento da resistência.
4. Não introduzir parasitas resistentes junto com animais de compra, tratandoos previamente e mantendo-os confinados no mínimo por 24 horas antes de serem
incorporados ao rebanho.
5. Utilizar apenas drogas com eficácia anti-helmíntica igual ou acima de 90%
para o rebanho.
6. Adotar práticas combinadas que permitam a utilização de áreas de
pastagens livres ou com baixos índices de contaminação por larvas ou que visem a
descontaminação das pastagens, como a utilização de pastagens recémimplantadas, áreas utilizadas com outras culturas agrícolas, pastejo rotacionado de
ovinos com outras espécies animais como bovinos e eqüinos, pastejo dos jovens na
frente dos adultos, etc.
7. Desmame precoce e terminação de cordeiros em confinamento.
8. Seleção de animais geneticamente resistentes aos vermes.
Essas recomendações são de caráter geral e não são aplicáveis a todas as
propriedades na sua totalidade, entretanto, julga-se que possam contribuir para uma
melhor eficiência dos programas de controle da verminose ovina, programas esses
que devem ser avaliados periodicamente através da realização de exames de fezes
dos animais.
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XII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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INTERNACIONAL DE OVINOCULTURA, 5. Botucatu:UNESP, Campinas: SAA/CATI,
Nova Odessa: IZ, São Manuel: ASPACO, 1999. p.11-20
SOBRINHO, A.G.S. Tópicos em ovinocultura. Jaboticabal: FCAV/UNESP, 1993.
179p (Apostila)
VALVERDE, C. 250 maneiras de preparar rações balanceadas para ovinos. Viçosa:
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