Casos Clínicos Neuropsiquiatria

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Casos Clínicos Neuropsiquiatria
1) Paciente, 85 anos, previamente hígido, iniciou há 16 horas com períodos de agitação
psicomotora e confusão mental, alternados com períodos de calmaria. Não utiliza nenhum
medicamento, não tem doenças prévias e faz acompanhamento com médico da família. A
família relata que o hábito intestinal e urinário encontram-se inalterados e que o paciente
apresentava inapetência na última semana.
Ao exame: Paciente confuso, agitado, desidratado++/4+, anictérico, acianótico,
normocorado. TAX 35,9o C
PA: 110 x 60 mmHg
FC: 100bpm
BNF 2T, taquicárdicas
MVF+ Diminuído difusamente, FR 26irpm, sem esforço. Sat O2 em ar ambiente = 93%
RHA + abdômen livre sem massas palpáveis.
a)Qual o quadro geriátrico apresentado?
b)Quais as possíveis causas desse quadro? E neste caso, quais as mais prováveis?
c)Qual propedêutica deve ser solicitada?
d)Quais as medidas terapêuticas?
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2) A.Z., 78 anos, parcialmente dependente para atividades básicas e instrumentais de
vida diária, portador de déficit cognitivo leve-moderado (provável etiologia mista: vascular
+ Alzhiemer), iniciou há 72 horas com quadro de insônia, piorando há 48 horas, com
agressividade, gritos, comportamento inadequado (tirando a roupa em público), passando
a noite toda acordado. A família, em pânico, chama para avaliação domiciliar de urgência.
Pela história pregressa identifica-se hipertensão arterial sistêmica, insuficiência
coronariana, asma e hérnia de disco lombar. Medicações em uso atual: Monocordil 20 mg
8 h e 16 h, Propranolol 40 mg 12/12h, Aerolim spay: 2 puffs de 6/6h, tramadol 50 mg 8/8h
intercalado com Tylex 30, até de 8/8 horas e Rivotril 2 mg há poucos dias.
Dados relevantes do exame físico: Paciente agitado, agressivo, desorientado no tempo e
no espaço, desatento, PA: 110/80, nas 3 posições, MV reduzido bilateralmente, sibilos
difusos. Quase não deixa examinar pela agitação. Toque retal: ausência de fecaloma.
• Qual a síndrome geriátrica descrita? Quais os fatores desencadeantes e a
conduta?
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3) Sra. M. C. X., 72 anos, independente para AVDs Básicas e instrumentais, sem déficit
cognitivo ou depressão. Nega uso de medicações e relata ótimo estado de saúde.
Apresentou queda enquanto dançava no grupo de 3ª idade de seu bairro, desenvolvendo
dor aguda e imobilidade do MID. Foi levada ao Pronto Atendimento do IPSEMG, sendo
identificada fratura de colo de fêmur D. Interna na ortopedia para se submeter à cirurgia.
Exames pré-operatórios satisfatórios. Colocada em tração para programação da cirurgia.
Ato cirúrgico sem intercorrências. Passadas 48 horas da cirurgia, desenvolve quadro de
agitação psicomotora, gritos, quer ficar em pé e não colabora com os cuidadores.
Chamado plantão da clínica médica, que pede nova revisão laboratorial, identificando
anemia aguda (Hb: 8,7, no pré operatório estava: 11,9), elevação de creatinina: 1,9 (antes
0,9), K+: 5,1. Familiares relatam baixa ingestão alimentar e hídrica no último dia. Na
prescrição do médico assistente constava analgésicos, se dores e troca de curativo de
24/24 h. Dados relevantes do exame físico: presença de ilusões (acreditava que tinha
uma cobra na cortina do quarto, agitação psicomotora, gritos, desorientação temporal e
espacial e perda da capacidade de concentração). Ferida cirúrgica de bom aspecto, sem
sinais de infecção. Bulhas taquicárdicas, Fc: 105, MVF sRA, eupnéica, abdome: normal,
genitália e toque retal sem alterações.
• Qual é a síndrome geriátrica apresentada? Quais as causas e condutas a serem
tomadas?
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4) Sra. L. P., 75 anos, independente para AVDs básicas e instrumentais, cognição
preservada, mora sozinha. Boa saúde geral, ativa, gosta de sair e de ter “a vida
cheia”. Portadora de osteoporose, em uso de Alendronato sódico 70 mg/semana e
carbonato de cálcio 600 mg + vitamina D 3 400 ui ao dia e intolerância à glicose,
identificada por exame prévio: glicemia jj: 112 e teste dextrosol 190, em tto dietético e
atividades físicas regulares. Apresentou quadro agudo de infecção de vias aéreas
superiores (uma gripe muito forte, segundo relata), precisando ficar de repouso. A filha
mais velha foi fazer-lhe companhia, já que estava debilitada. Filha chama para visita
domiciliar 5 dias após o início do quadro agudo. “Mamãe está muito parada, não tem
ânimo para nada e só quer dormir. Não está se alimentando. Esta noite ficou estranha:
não falava coisa com coisa e fez xixi na cama”. Ao exame físico, foram identificados:
prostração, sonolência, desidratação (boca seca, pele seca e redução da diurese). Ao
ser despertada apresenta-se confusa, falando que quer ir para casa, que lugar é
esse? E dorme novamente. ACV: bulhas taquicárdicas e irregulares, Fc: 112, AR: MV
preservado, crepitações nas bases pulmonares e taquipnéica: FR: 30 irpm. T axilar:
37,2º.
• Qual a síndrome geriátrica descrita? Quais as causas e o tratamento?
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5) Sra. I.H., 68 anos, idosa jovem que se comporta funcionalmente como muito idosa, por
apresentar Síndrome de Imobilidade há 4 anos, como seqüela de doença de Parkinson e
síndrome demencial avançada, ambos de início precoce. Dependência funcional total e
boa qualidade dos cuidadores, não apresentando úlceras de decúbito. Disfagia,
recebendo nutrição enteral, por gastrostomia, dieta balanceada, indicada pela
nutricionista. Recebe suporte básico de vida, conforto e suporte familiar adequado. Na
época de calor apresentou lesão de pele. Médico do programa de saúde da Família
avaliou em casa e identificou “alergia ao calor”, prescrevendo corticóides tópicos.
Paciente evoluiu com piora das lesões da pele, agitação, piora do estado geral e insônia,
trocando o dia pela noite. A agitação era pior à noite e não deixava ninguém dormir.
Família solicitou avaliação domiciliar. Ao exame físico, identificou-se lesões de pele
comprometendo dobras: fossa cubital, lesões inframamária e axilares. O aspecto das
micropápulas vermelhas e “secreção bancacenta, semelhante a nata”. Lesões de
mucosas também foram identificadas em cavidade oral, palato mole e região genital (que
a família definia como assadura). ACV: bulhas regulares, SS Ao e Mitral, PA estável:
110/80, AR: MVF s/RA, eupnéica. Abdome ok. Toque retal: fecaloma.
• Quais as grandes síndromes geriátricas em questão? Quais as etiologias do
quadro atual? Como conduzir o caso?
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6) Paciente M. R. F., 65 anos, independente para atividades básicas e instrumentais de
vida diária, sem déficit cognitivo ou depressão. Diabética, em uso de glimepirida 4 mg
após café da manhã e metiformina 850 mg antes do almoço e jantar. Hipertensa,
compensada com Indapamida 1,5 mg pela manhã e Maleato de enalapril 20 mg 12/12h.
Uso de AAS profilático. Iniciou nas últimas 15 horas quadro de pensamentos incoerentes
e incongruentes com a realidade, perda da noção temporal e espacial, desatenção e
idéias de perseguição. Deu entrada no pronto atendimento com agitação psicomotora.
Conversa mais detalhada com familiares sobre alterações nos últimos dias, negaram uso
de outros medicamentos e relatarm episódio de freada brusca do carro há cerca de 1
semana, em que a paciente bateu a cabeça no banco da frente. Ao exame físico
apresentava agitação, alterações da concentração e da atenção, desorientação espacial e
temporal. Identificada hemiparesia E. ACV normal, PA compensada: 120/85, nas 3
posições e MVF sRA, eupnéica. Abdome normal. Alteração relevante de exames
laboratoriais: glicemia 248.
• Qual a síndrome geriátrica em questão? Quais os fatores associados, a
propedêutica e o tratamento?
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7) Sr. J.L., 82 anos, dependente total para AVDs básicas e instrumentais, por seqüela de
AVC. Deambula com auxílio humano e faz fisioterapia regularmente, 3 vezes/semana.
Apresentou nos últimos 2 dias alterações de comportamento e prostração. Tem ficado
mais deitado que o habitual, não quer se alimentar e ao ser transferido para a cadeira
apresenta piora do controle de tronco, com tendência a cair. Confuso e sonolento “tem
dormido cerca de 18 horas ao dia”, informa o cuidador. Piora da incontinência urinária e
fecal, e nas últimas horas, redução da necessidade de troca de fraldas. Dados relevantes
do exame físico: prostração, desatenção, incoerência de pensamentos, aumento da Fc:
98 btm/min, PA: 110/60 deitado e 90/50 em pé, com piora da taquicardia (121 btm/min) e
desequilíbrio postural. Dados laboratorias revelam: Hb: 13,5, Leucócitos: 15.550, com
9875 neutrófilos e bastonetes 5%, UR: piócitos campos repletos, Hm: incontáveis, Nitrito
+, creatinina: 1,5, uréia: 72 e íons normais.
• Qual a síndrome geriátrica em questão? Quais os fatores associados e o
tratamento?
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8) Sra. M.A.D., 93 anos, totalmente dependente para atividades básicas e instrumentais
de vida diária; portadora de síndrome demencial avançada, provável etiologia: doença de
Alzhiemer, há 13 anos de evolução. Síndrome de imobilidade, há 2 anos, com
incontinência urinária e fecal, suporte nutricional por gastrostomia e não apresenta úlceras
de pressão. Recebe suporte de fisioterapia e nutricionista especializadas em gerontologia.
Normalmente recebe os cuidados da filha M. G. D., mas esta necessitou fazer uma
viagem e levou a mãe para a casa de seu irmão, onde deveria ficar 1 mês. Paciente não
fazia uso atual de medicamentos. Após 48 horas da mudança, a paciente desenvolveu
quadro de agitação psicomotora, gritos e insônia. Chegou a ficar quase 2 dias sem dormir,
com pequenos períodos de “cochilos”. A família chamou um geriatra em casa, que não
identificou alterações ao exame clínico, exceto o próprio quadro de agitação. Toque retal
sem alterações. Solicitou exames de urgência: RxTx normal, urina rotina e gram de gota
normais, Hemograma: Hb: 12,5, VCM: 88, Leucócitos: 8000 e Pq: 238000, sódio: 142,
potássio: 4,2, creatinina 1,1, uréia: 42, proteína C reativa: normal, glicemia: 103. ECG:
ritmo sinusal com extrassístoles supraventriculares raras.
• Qual a síndrome geriátrica aguda? Que outros exames devem ser solicitados?
Quais os prováveis fatores associados à síndrome?
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1) Sra. S.A.P., 60 anos, vai ao consultório de geriatria com queixas de estar com a
memória péssima, há cerca de 2 anos, com piora progressiva. Está preocupada
porque seu pai tem demência de Alzhiemer. Relata que esquece compromissos,
queima panela no fogão e tem se esquecido de receitas que sempre soube de cor.
Durante anamnese percebe-se dificuldades de manter uma conversa fluente, se
perde no que fala, faltam-lhe palavras no vocabulário. Paciente realiza atividades
do lar. Dirige, e relata que bateu o carro três vezes no último ano. Quando
questionada sobre humor e problemas atuais, começa a chorar. Fala que sua vida
está um inferno, o marido alcoólatra e sempre infiel, os filhos cresceram e já não
precisam mais dela, sente-se inútil e com péssima auto-estima. Apresenta perda
de peso, insônia, perda de interesse pela vida, isolamento social, mas não quer
morrer. Sua história pregressa evidencia neoplasia de mama há 5 anos, tratada
com cirurgia e QT, com recidiva há 2 anos, quando fez tto com Qt e Rt.
Atualmente a doença está controlada, mas tem medo de voltar a qualquer
momento. Dados relevantes do exame físico: mastectomia unilateral, PA: 120/80,
ausculta cardiológica normal, MVFs/RA, eupnéica, abdome ok.
Testes de memória: Mini Mental: 25/30 (perdeu em 3 de cálculo e duas palavras
da memória recente), Fluência verbal 15 animais em 1 minuto, Teste relógio: 5/5,
Teste das figuras: nomeação: 10/10, memória incidental: 6/10, memória 1: 7/10,
Memória 2: 8/10, memória de evocação: 5/10; Cerad: 1ª tentativa: 1, 2ª tentativa:
2, 3ª tentativa: 3 palavras. Escolaridade: 11 anos.
Solicitada ampla propedêutica, cujos dados relevantes foram: RNM encefálica
normal, Rx Tx normal, US abdome total normal, revisão laboratorial: Hb: 13, Leuc:
3800, Pq: 159000, uréia 38, creatinina 0,9, glicemia jj: 96, vitamina B12: 185, TSH:
8,70, colesterol total: 198, triglicérides: 131.
o Qual seu parecer sobre a queixa de memória da paciente? Quais os
fatores associados à queixa de memória? Como conduzir o caso?
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2) Sr. W.F, 78 anos, é levado ao consultório de geriatria pelo filho, que se queixa
que o pai vem esquecendo muito, há 4 anos. Era porteiro de uma grande empresa,
aposentado há quase 20 anos. “Antes papai era muito ativo e agora não faz nada,
se deixarmos, fica o dia inteiro assentado no mesmo lugar. Não pede comida, não
toma água e não sabe se está com fome. Vai para o banheiro e apronta uma
bagunça, sujando tudo de fezes e está urinando na roupa. Não sabe o nome dos
filhos e não suporta o barulho dos netos, fica perguntando quem é este moleque?
É muito repetitivo e está trocando palavras. Esquece também o nome das coisas e
das pessoas. Outro dia perguntou quem é essa dona que vive na minha casa,
sobre minha mãe, casada com ele há mais de 50 anos.” Nega períodos de
alucinações ou agitação, relata que o pai é muito calmo. Necessidade de
supervisão para atividades básicas de vida diária, como tomar banho, se vestir,
alimentar... e perda da independência para atividades instrumentais de vida diária.
Não apresenta choro e nega tristeza, angústia. “Papai sempre foi um homem forte,
cirurgia só de hérnia, nunca internou, nunca teve pressão alta e o coração é bom.
Nunca fumou ou bebeu e agora está assim, variando da cabeça”.
Exame físico: A: 1,89m, P: 57 Kg, apático à situação da consulta e pouco interativo
com a conversa. PA deitado: 120/85, assentado: 110/80 e em pé: 110/80, bulhas
regulares, MVFsRA, abdome normal. Edema discreto de MMII, mais em
tornozelos, sem sinais flogísticos.
Testes de memória: Mini Mental: 9/30 (perdeu 10 de localização espacial e
temporal, 5 de cálculo, repetiu as 3 palavras, mas não se lembrou de nenhuma
depois., não interpretou a frase, não copiou diagrama e não escreveu uma frase).
Fluência verbal: 3 animais em 1 minuto, repetiu os animais. Teste relógio 0/5, teste
figuras: nomear: 8/10, memória incidental: 1/10, memória 1: 2/10, memória 2: 2/10,
evocação: 0/10. Cerad: não conseguiu realizar.
Dados relevantes da propedêutica: TC encefálica: atrofia cerebral difusa, ECG
normal, Hb: 12,5, Leuc: 4500, Pq: 200000, uréia: 35, creatinina: 1,3, glicemia jj: 92,
TSH: 2,30, albumina: 3,1, globulinas: 4,0, PT: 7,1, colesterol T: 142, TGL: 80,
vitamina B12: 345, ácido fólico: 4.
o Qual seu parecer sobre a queixa de memória do paciente? Quais os
fatores associados à queixa de memória? Como conduzir o caso?
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3) Sr. A.E.F., 68 anos, vem apresentando alterações de comportamento. Alta
escolaridade, era professor de português e escritor de poesias, tem um livro
editado e é apresentador de um programa de rádio no interior de Minas Gerais.
“Sempre foi um homem correto e dócil, mas sempre teve depressão”, relatam
familiares. Tratamento psiquiátrico prévio para depressão grave, fez uso de
Nortriptilina, mas também já usou citalopram, sertralina e venlafaxina. Há 1,5 ano
vem apresentando mudanças de comportamento: agressividade, agitação, insônia,
perda de princípios morais que sempre teve. Era muito religioso, hoje nem se
importa com Igreja, passou a achar tudo normal, mesmo coisas que antes julgava
ser um absurdo. “Outro dia papai tirou a roupa na sala e tinha visitas, foi um
constrangimento. Está também esquecido, tem dado muitas mancadas no seu
programa de rádio, se perde nas suas idéias e não está escrevendo coisa com
coisa. Tem até cantado moças na rua, coisa que nunca fez, a mamãe está danada
com as mudanças dele”.
À história pregressa apresentava hiperplasia de próstata, sem controle atual e
relato de dificuldades para urinar.
Exame físico normal.
Resultados de exames: RNM encefálica: atrofia cerebral difusa, pior em lobos
frontais e parietais bilateralmente. Bioquímica normal.
Testes de memória: MM: 27/30 (errou uma palavra e dois de cálculo), Fluência
verbal: 16 animais em 1 minuto, Teste das figuras: nomeação: 10/10, memória
incidental: 5/10, Memória 1: 6/10, memória 2: 7/10, evocação: 5/10. Cerad: 1, 2 e
1. teste relógio: 3/5.
o Qual seu parecer sobre a queixa de memória do paciente? Quais os
fatores associados à queixa de memória? Como conduzir o caso?
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4) Sra. I.H.H., 68 anos, atualmente totalmente dependente para AVDs básicas e
instrumentais, síndrome de imobilidade há cerca de 4 anos, com nutrição por
gastrostomia, fecalomas de repetição, sem úlceras de pressão. História de déficit
cognitivo sem definição etiológica prévia. Familiares relatam que levaram a vários
médicos, mas ninguém sabia o que a paciente tinha. Iniciou o quadro demencial
precocemente, há 10 anos, acompanhado de alucinações visuais e auditivas,
agitação psicomotora, gritos, insônia, alterações de comportamento e familiares
relatam que tinha o corpo duro, quase não conseguia andar e caía muito. “Um
neurologista iniciou haldol há mais de 4 anos e depois deste remédio mamãe ficou
mais calma, gritava menos, mas não andou mais”, informa a filha.
Hipertensa compensada com enalapril 20 mg 12/12h diabética, em controle com
dieta especial e glimepirida 2 mg pela manhã, com relatos de sudorese noturna
vigorosa.
Exame físico: acamada, obesa, sem contato verbal, movimentos involuntários de
face, rigidez de MMSS e MMII, sinal de roda dentada, só é virada na cama por
ação humana e seu corpo se move “em bloco”, PA deitada 130/80, MVF com
crepitações em ambas bases, ausculta cardiológica normal.
Exames bioquímicos: glicoHb: 8,2, glicemias jj: 160, pós dieta por sonda: 245.
o Qual o estágio demencial desta paciente? Qual a provável etiologia do
quadro demencial? O que você acha do haldol para este caso?
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5) Sr. N.V., 69 anos, jornalista, em pleno exercício de sua profissão até 1999,
quando procurou assistência geriátrica ambulatorial por esquecimento de fatos
recentes. Humor deprimido, associado à proximidade de sua aposentadoria. Os
testes cognitivos mostraram déficit de memória recente e na propedêutica foi
evidenciada à tomografia encefálica, área hipodensa em região parietal E,
provavelmente isquêmica. Atribuiu-se inicialmente o esquecimento à isquemia e ao
quadro depressivo associado. Após 3 meses, houve piora neurológica,
necessitando internação por quadro de delirium, incontinência emocional,
hemiplegia à D, reflexo cutâneo plantar extensor bilateral, paralisia facial central E,
disartria; suspeitou-se de novo quadro isquêmico cerebral. Nova TC encefálica
revelou múltiplas lesões hipodensas em ambos hemisférios cerebrais, pior à E,
sobretudo em regiões parietais, temporais e occipitais. RNM mostrou extenso
processo de desmielinização encefálica, com preservação cortical. Prosseguindo
na propedêutica, foram realizados: FAN, fator reumatóide, dosagem de autoanticorpos, B12, ácido fólico, análise do líquor e pesquisa de VDRL e HIV, esta
última foi positiva. Iniciou-se terapia tríplice antiretroviral, sem melhora clpinica,
evoluindo o paciente para óbito 1 ano após diagnóstico. Não tinha história sexual
de risco, foi hemotransfundido em 1993 em cirurgia de próstata (antes da cirurgia
fez exame de HIV: negativo).
• Discuta sobre a questão cognitiva do paciente e a provável etiologia
demencial.
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6) Sra. M.A.C., 62 anos, independente para AVDs básicas e instrumentais, ativa,
trabalha na secretaria de um hospital geral. Queixas de esquecimentos no dia-adia, relata que tem que anotar tudo. Não apresenta dificuldades de orientação
espacial ou temporal, dirige sem dificuldades. Apresentou quadro de crise
convulsiva no seu trabalho e foi levada ao pronto atendimento, onde realizou TCC,
que mostrou múltiplos microinfartos cerebrais, glicemia 142, Na: 143, K+: 4,5, Hb:
13,5, leuc: 8500, creatinina: 0,8. É diabética, em uso de Prandim às refeições,
hipertensa compensada com Atenolol 50 mg 12/12h, maleato de enalapril 20 mg
12/12h e Indapamida 1,5 mg pela manhã. Sabidamente coronariopata, já fez
angioplastia há 2 anos e tem dislipidemia, com colesterol total atual de 263, LDL:
195, HDL: 35. Ao exame físico: bulhas irregulares, incoerentes com o pulso, Fc
113, PA: 110/70, MVF sRA, eupnéica, abdome ok.
Testes de memória: Mini mental: 29/30 (esqueceu uma palavra), teste relógio
normal, fluência verbal: 11 animais em 1 minuto, teste figuras normal, CERAD: 1,
2, 3.
o Como você analisa a cognição desta paciente? O que fazer com os
múltiplos infartos cerebrais? Como conduzir clinicamente o caso?
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7) Sr. J.R.P., 69 anos, médico, procura geriatria porque tem dado “mancadas”:
“Dra., tenho receitado remédios errados e na dose errada, às vezes esqueço o
nome das doenças e tenho me sentido muito confuso, outro dia esqueci a chave
dentro do carro, não sei como não roubaram e já saí de casa sem trancar a porta”.
“No trânsito, às vezes quero ir para um lugar, mas me perco no caminho e
esqueço onde estacionei o carro”. Não apresenta sintomas depressivos, exceto
uma tristeza e medo pelo quadro atual. Bom estado de saúde geral, pratica
esportes três vezes/semana e tem boa alimentação. Não faz uso de
medicamentos. Controle de próstata regular.
Testes cognitivos: MM 28/30 (esqueceu 2 palavras), fluência verbal: 20 animais
em 1 minuto, teste relógio 5/5, Teste figuras normal e CERAD: 1, 1, 2.
Propedêutica: TC encefálica: algumas pequenas áreas sugestivas de lesão
isquêmica, Vitamina B12: 185, ácido fólico: 10, VDRL: não reator, colesterol T:
201, LDL: 120, HDL: 68, TGL: 112, creat: 0,8, uréia: 42, duplex scan de carótidas e
vertebrais: obstrução de 30 % na bifurcação de carótida comum D, E: isenta de
lesões.
Iniciadas medidas preventivas para novos microinfartos: Somalgim 200 mg ao dia,
sinvastatina 10 mg à noite, hábitos de vida saudáveis, terapia ocupacional para
treino de memória, reflexão sobre continuar ou deixar o trabalho atual.
Retornou após 2 meses, com perfil lipídico perfeito e bom estado geral, decidiu
parar de trabalhar.
Manteve controle semestral, depois anual, com piora clínica da cognição e piora
dos testes de memória.
o Como você vai prosseguir a propedêutica deste paciente? Quais as
prováveis etiologias e condutas?
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8) Sr. J. G. R., 72 anos, é levado à consulta geriátrica para avaliação global da
saúde. Dependente parcial para atividades básicas de vida diária e total para
atividades instrumentais. Sem sintomas depressivos. História de alcoolismo
crônico com grande abuso, até 2 anos atrás. Esposa relata que vem apresentando
agressividade, agitação psicomotora, está muito confuso, não sabe mais fazer
compras, pegar um troco e tem dificuldades para conversar. Cisma que os
vizinhos estão querendo matá-lo e que os familiares têm roubado seus pertences.
A agitação é pior à noite, e algumas vezes vê pessoas em seu quarto. Passou por
vários psiquiatras, e atualmente está em uso de haldol 5 mg de 12/12h e Tryptanol
100 mg ao dia. Ao exame clínico apresenta-se sonolento, cochila o tempo todo,
não responde adequadamente quando questionado e tem sialorréia (está
“babando”), sintomas extrapiramidais, com rigidez, roda dentada e instabilidade
postural, marcha com base alargada e cambaleante. Impossível realizar os testes
cognitivos na primeira consulta, pela sedação. Foi orientado à redução progressiva
dos medicamentos e reavaliação sem drogas. Voltou 1,5 mês após, alerta, porém
agitado e agressivo, Não parava quieto na consulta e queria ir embora.
Testes cognitivos: não realizados pela falta de cooperação.
Propedêutica: TCC: atrofia cerebral difusa. B12: 185, ácido fólico: 13, Hb: 11,5,
VCM: 104, Pq: 148000, perfil lipídico bom, creatinina: 0,9, uréia: 72, TGO: 112,
TGP: 132, GGT: 354, Fosfatase alcalina: 658, US abdome: sinais de hepatopatia
crônica, com hipertensão porta associada e esplanomegalia leve.
Iniciada risperidona, com ajuste progressivo da dose, para tranqüilizar, sem sedar.
Testes da 3ª consulta: MM: 6/30, Teste relógio: 0, Fluência verbal 3 animais 1
minuto, CERAD: 0,0,0, teste das figuras: nomear: 4, incidental: 1, mem1: 0,
memória 2: 0, evocação: 0.
• Quais as provável etiologias do déficit cognitivo? Como conduzir o
caso?
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