Baixar este arquivo PDF
Transcrição
Baixar este arquivo PDF
AFRONTAS A POSTURA ÉTICA PUBLICITÁRIA: A SEMIÓTICA DAS PROPAGANDAS DA UNITED COLORS OF BENETTON MANZKE, Lougan Ivair1 RESUMO: O presente estudo visa compreender as propagandas publicadas com assinatura da empresa United Colors Of Benetton, criadas por Oliviero Toscani, as quais buscam de forma polêmica desenvolver uma visão crítica de acontecimentos sociais, demonstrando assim como a empresa se porta perante estas questões. Estas análises serão realizadas a partir de bases semióticas, que buscarão observar cada detalhe de tais comerciais relacionando-os com uma possível “afronta ética” em relação à publicidade tradicionalista, esta que sempre objetiva não transgredir ou distorcer os preceitos da sociedade, tais como o preconceito racial, doenças sem cura, religiosidade, sexualidade, etc., questões que em sua grande maioria ao serem abordadas pela publicidade acabam caindo em afronta perante códigos de ética social ou publicitária. Com base em visões publicitárias, sociais e semióticas objetiva-se demonstrar como as criações podem e devem em alguns momentos trazer uma polêmica à tona na sociedade, demonstrando muitas vezes que a empresa também está preocupada com tais situações, as quais pelo seu grau de discussão acabam por criar um certo temor pelas possíveis reações que a sociedade possa ter, sendo muitas vezes não abordadas pelo setor de criação publicitária. O estudo aqui traçado baseiase em pesquisas bibliográficas e descritivas, levantando dados primários e secundários estes que por sua vez são em são qualitativos. PALAVRAS-CHAVE: Semiótica, Ética, Publicidade, Benetton ABSTRACT: This study aims to understand the advertisements published with the signature of United Colors Of Benetton, created by Oliviero Toscani, which seek to develop in a controversy a critical view of social events, which demonstrate how the company sees them. These tests will be conducted from bases semiotics, which seek to observe every detail of such business relating them to a possible "ethical outrage" over the traditional advertising, this has always aimed not violate or distort the precepts of society, such as racial prejudice, incurable diseases and sexuality issues that mostly when they are approached by the advertising end up falling into reproach before codes of ethics or social advertising. Based on visions advertising, social semiotics and the objective is to demonstrate how their creations can and must at 1 Coordenador dos Cursos de Comunicação Social da Faculdade Sul Brasil. E-mail: [email protected] 85 times bring to light a controversy in society, showing a lot of times the company is also concerned with such situations, which by its degree of discussion end up creating a certain fear about the possible reactions that the company may have, and are often not addressed by industry advertising creation. The study outlined here is based on research and descriptive bibligráficas, raising primary and secondary data that these are in turn are qualitative. KEY-WORDS: Semiotics, Ethics, Advertising, Benetton. 1 INTRODUÇÃO Da década de noventa ao século XX as propagandas realizadas por uma determinada empresa fundada em 1965 por Luciano Benetton, hoje com sede em Treviso na Itália, trouxeram á tona assuntos que não eram comuns de serem abordados. A United Colors Of Benetton empresa tradicional do ramo de confecção inicia uma “ideologia” se é assim que pode ser chamada na a qual trabalha em suas divulgações assuntos que reforçam a ideia de aceitação do outro. Esta série de campanhas é assinada somente com o nome da empresa e que em muitas vezes foram mal interpretadas. Por trás de toda esta polêmica, existe um homem responsável pela criação e as fotografias destes comerciais, Oliviero Toscani, fotógrafo italiano, que buscou explorar através da Benetton os assuntos mais polêmicos da década de noventa. Sobre estes dois ícones a empresa e o fotógrafo, inicia-se o estudo que busca compreender o objetivo destas campanhas, que acabaram por quebrar padrões éticos. Onde ao serem criadas, mais de duas décadas atrás, elas ainda possuem vestígios atuais, visto que a ética não evolui com a mesma velocidade das visões comerciais, publicitárias, jornalísticas, entre outros. Serão analisadas durante o artigo três anúncios de revista, que abordam diferentes assuntos, estes que serão observados através do estudo dos signos a Semiótica, embasada principalmente sobre seu principal autor Charles Sanders Peirce e demais escritores que o complementam. Os preceitos éticos da publicidade serão traçados sobre A. Paraguassú Lopes, bem como Daniel Cornu, buscando traçar um paralelo da relação comunicação, ética e sociedade, e seguidamente analisados perante a lei brasileira segundo art.17 da Lei 4.680, de junho de 1965, entende-se que as campanhas são de cunho internacional, porém busca-se comparar qual seria suas afrontas na sociedade brasileira. 86 Por fim, pretende-se compreender o porquê, estas propagandas foram tão polêmicas, quais são os parâmetros sociais que são “ofendidos” ao se utilizar tais abordagens, será ainda elaborado um paralelo com as condições de anúncios realizados no Brasil, elencando as características aceitáveis e quais os problemas enfrentados pelas propagandas ao abordarem assuntos polêmicos. 2 BOAS IDEIAS SE SOMAM É notável o grau de evolução da publicidade mundial. Atualmente utiliza-se de recursos computacionais de alta tecnologia para surpreender os consumidores, buscando assim agregar valores aos seus produtos e marcas. Com isso as ideias ditas “originais” são cada vez mais raras, visto que o grande número de anúncios comerciais e institucionais lançados diariamente aos nossos olhos, fazem com que não percebamos as diferentes ideias entre cliente e agência de publicidade. Com o crescimento do número de profissionais formados na área de publicidade, esta concorrência se torna cada vez mais acirrada fazendo com que os clientes sejam disputados com extrema agressividade por parte dos profissionais de atendimento os quais em sua prospecção objetivam alcançar as contas das maiores empresas. Esta troca de profissionais cuidando das ações comunicacionais de uma empresa acaba acarretando em campanhas medianas, pois é sabido que a comunicação perante o cliente faz-se necessária através de uma construção, ou seja, um relacionamento de ideias e ações padronizadas que culminam na identificação de um perfil característico da empresa por parte do consumidor. Esta abordagem é necessária para introduzirmos ao tema aqui a ser abordado, que é representado por duas personalidades primeiramente uma das empresas mais famosas na área de confecção, possui sua sede em Treviso na Itália. A United Colors Of Benetton já é uma marca consolidada não somente por suas vestimentas, mas sim pelas ações comunicacionais feitas durante a década de XC demonstraram como a empresa se portava em relação a certas situações sociais. E como um de seus objetivos era demonstrar que suas vestimentas estavam voltadas a todos os tipos de público, sendo negro ou branco, tendo doenças ou não, com órgãos sexuais maiores ou menores, isto era indiferente o importante é que todas estas diferenças estão ligadas através da marca 87 Benetton. Isto é o que se verifica perceptivelmente, porém algumas campanhas apresentam uma espécie de afronta aos preceitos éticos da sociedade. Entretanto ninguém obteve tanto sucesso ao trabalhar com temas tão polêmicos quanto a United Colors f Benetton, todas essas sacadas não seriam possíveis se não fosse um dos “casamentos” mais famosos na área publicitária, que se dá entre esta empresa de confecção e o famoso fotógrafo e criador destas campanhas Oliviero Toscani, consagrado por suas fotos levemente repulsivas, onde muitas vezes os objetos clicados não eram comuns aos olhos da sociedade e de repente são lançados em anúncios com delimitações e somente assinatura da Benetton, como é o caso do anúncio exposto no (ANEXO I) que retrata três corações humanos, tarjados pela cor da pele das pessoas de onde foram retirados, há uma ligeira diferença, mas visto com mais cautela podemos notar que os três são simples e iguais corações, todos cumprem sua função por igual se assemelhando ao outro. Mas aqui devemos nos ater ao tema e não ao aprofundamento da interpretação. Elaborar campanhas criativas e de repercussão internacional não é simples, porém a busca por esses profissionais da área de publicidade é criar anúncios que possam ser levados a outros horizontes, o que queremos dizer com isso, o trabalho publicitário regional não desenvolve perspectivas profissionais, desse modo nota-se a migração de comunicadores sociais para os grandes centros, com o intuito de trabalharem em empresas que lhes permitam desenvolver campanhas que dêem visibilidade nacional ou até internacional. Isto se dá pela necessidade tanto dos jornalistas como do publicitários de “inflar seu ego”, nada de mais, algo comum em todas as profissões onde o objetivo é sempre chegar mais alto. Com este patamar alcançado a cobrança pelo desenvolvimento de anúncios que funcionem, sejam chamativos, vendáveis, claros, com um belo design são essenciais, desse modo o que Oliviero Toscani desenvolveu para a United Colors Of Benetton, acabou alcançando patamares jamais esperados, sendo foco de interpretação de vários publicitários e estudiosos da área da comunicação. Aqui o que devemos tratar não é o sucesso dos profissionais, mas sim os objetos de estudo aqui a serem interpretados os anúncios realizados, primeiramente é necessário alertar que há um número de comerciais feitos para revista com esta temática. Porém para que a interpretação não seja falha é preciso diminuir o número de objetos a serem analisados, para isso foram escolhidos somente três anúncios de revista. O primeiro a ser 88 interpretado (ANEXO I) retrata três corações identificados pela cor da pele e com a assinatura da empresa ao lado, lembrando que deixaremos as interpretações para depois. O segundo anúncio (ANEXO II) retrata um paciente no leito de morte estado este causado pela AIDS onde na época imaginava-se que a doença era transmissível, fato este que posteriormente foi desmistificado, completando mais uma vez com a assinatura da United Colors Of Benetton. O terceiro e ultimo anúncio (ANEXO III) a ser interpretado retrata duas crianças uma negra e outra branca, onde a negra esta com um corte de cabelo que remete a chifres a branca está com asas de anjo, este polêmico anúncio foi e é até hoje um dos mais complicados de se traçar uma analise clara e plausível. Deste modo a metodologia de analise deste estudo fundamenta-se sobre o estudo dos signos presentes em cada anúncio, considerando a semiótica como forma fragmentadora, interpretativa dos elementos, usando como método também a pesquisa bibliográfica e descritiva. 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 ÉTICA E COMUNICAÇÃO SOCIAL Para avaliarmos a afronta às posturas éticas através das campanhas publicitárias de Toscani, precisamos nos ater ao que pode ser considerado enquanto ético para a comunicação social. Muitos paradigmas se quebram com o tempo decorrentes de algumas revoluções, que trazem novos conceitos em relação ao que pode ser dito ou não dentro da esfera de ferramentas da comunicação social. Desse modo devemos avaliar o conceito de ética, enquanto estrutura de normas estabelecidas entre os indivíduos para o objetivo de ações positivas e responsáveis entre os mesmos. Porém analisemos aqui o que não deve ser considerado enquanto afrontas a ética, remetendo assim ao tema proposto neste estudo. Segundo Singer (1998, p.10, 11) ...a primeira coisa que a ética não pode ser definida como uma serie de proibições ligadas ao sexo. mesmo na era da AIDS, o sexo não coloca, absolutamente, nenhuma questão moral específica. as decisões relativadas (SIC) ao sexo podem envolver considerações de honestidade, a preocupação com os outros, a prudência, etc. (...) A segunda coisa que a 89 ética não e: um sistema ideal de grande nobreza na teoria, mas inaproveitável na pratica. o contrario desta afirmação esta mais próximo da verdade. (...) A terceira coisa que a ética não e: algo inteligível somente no contexto da religião. Sendo assim verificamos que alguns conceitos estabelecidos socialmente aparentam afetar a ética, porem se analisarmos mais profundamente vemos que a grande maioria das narrativas seriadas mais conhecidas como telenovelas de redes abertas de televisão, trabalham estes temas muitas vezes sem infringir a ética profissional. Porém está aumentando os casos em que propagandas que relacionem algum tema exposto na citação, sejam retiradas do “ar” por serem consideradas antiética. Ao analisarmos a definição de ética em um sentido mais amplo segundo Sa (2004, p. 15) “em seu sentido de maior amplitude, a Ética tem sido entendida como a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes”. Podemos assim até compreender as regras estabelecidas pelos órgãos regulamentadores em relação à influência que estas propagandas, as quais possam causar distorções devido a diferentes interpretações, afetando desse modo os paradigmas éticos atuais. De acordo com Hobbes (2000, p.27) “... o básico na conduta e a conservação de si mesmo, como bem maior”. Ou seja, o medo que temos de sermos presos nos retrata uma maneira de assegurar vida e liberdade, sendo assim os atos que nos excluem destes privilégios são consideráveis como antiéticos. Rene Descartes desenvolve sua teoria em relação à ética considerando principalmente a consciência ética, a qual deriva de sentimentos humanos, elencando assim que os paradoxos como: paixões, admiração, estima, menosprezo, dignidade, orgulho, humildade, baixeza, veneração, despeito, amor, ódio, desejo, esperança, temor, ciúme, firmeza, desespero, irresolução, valor, atrevimento, emulação, covardia, espanto, arrependimento, alegria, tristeza, burla, inveja, compaixão, satisfação intima, simpatia, gratidão, indignação, cólera, gloria, vergonha, desgosto, pesar, regozijo.(...) Para sumarizar, todavia, classifica todas essas manifestações dos sentimentos em: Admiração, Amor, Ódio, Desejo, Alegria e Tristeza, considerando-as como matrizes das demais. (SA, 2004, p. 30) A ética enquanto característica empresarial de marketing social pode ser definida segundo Andreasen (2002, p. 16, 17) como: A ética pode ser definida como um estudo de padrões de conduta e de julgamento moral. E especialmente útil quando permite solucionar padrões 90 ou julgamentos morais conflitantes. Não e algo tão simples quanto decidir o que e certo ou errado. Os dilemas éticos mais difíceis surgem quando dois princípios aparentemente “corretos” estão em conflito (...) No marketing social, lidamos muitas vezes com produtos e serviços polêmicos ou mal compreendidos, e que em geral envolvem situações delicadas, como a doação de sangue na era da AIDS ou o abuso infantil em uma época de jornalismo sensacionalista. O marketing desses produtos sociais e particularmente propenso a dilemas éticos, pois ao contrario da maioria dos produtos de consumo, os exemplos citados ate o momento lidam com algumas de nossas mais profundamente arraigadas crenças e julgamentos morais. Realizando aqui um adendo, antes de partirmos para as fundamentações relacionadas a semiótica, na grande maioria dos países desenvolvem-se leis que regulamentam as posturas que devem ser adotadas pelas agências de publicidade, no Brasil esta regulamentação se dá através do Art. 17, da Lei 4.680, de 18 de junho de 1965 que relata o seguinte: Art. 17. A Agência de Propaganda, o Veículo de Divulgação e o Publicitário em geral, sem prejuízo de outros deveres e proibições previstos neste regulamento, ficam sujeitos, no que couber, aos seguintes preceitos genericamente ditados pelo Código de Ética dos Profissionais da Propaganda a que se refere o art. 17, da Lei 4.680, de 18 de junho de 1965: I – Não é permitido: A) publicar textos ou ilustrações que atentem contra a ordem pública, a moral e os bons costumes; B) divulgar informações confidenciais relativas a negócios ou planos de Clientes-Anunciantes; C) reproduzir temas publicitários, axiomas, marcas, musicas, ilustrações enredos de rádio, televisão e cinema, salvo consentimento prévio de seus proprietários ou autores; D) difamar correntes e depreciar seus méritos técnicos; E) atribuir defeitos ou falhas a mercadorias, produtos serviços concorrentes; F) contratar propaganda em condições antieconômicas ou que importem em concorrência desleal; G) utilizar pressão econômica, com animo de influenciar os Veículos de Divulgação a alterarem tratamento, decisões e condições especiais para a propaganda. II – É dever: A) fazer divulgar, somente acontecimentos verídicos e qualidades ou testemunhos comprovados; B) atestar, apenas procedências exatas e anunciar ou fazer anunciar preços e condições de pagamento verdadeiros; C) elaborar a matéria de propaganda sem qualquer alteração, gráfica ou literária dos pormenores do produto, serviço ou mercadoria; D) negar comissões ou qualquer compensações a pessoas relacionadas, direta ou indiretamente, com o Cliente; E) envidar esforços para conseguir em benefício do cliente as melhores condições e economia para sua propaganda; representar, perante a autoridade competente, contra os atos infringentes das disposições deste Regulamento. (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4680.htm) Vemos assim que mesmo ao enquadrarmos as campanhas de Oliviero Toscani, perante a lei brasileira, não estaria infringindo os preceitos éticos da propaganda 91 estabelecida. Deste modo devemos partir para identificar quais signos estão integrados nestes anúncios, e que fazem relação a alguma forma de afronta ética social ou publicitária. Pensemos assim, quais os signos presentes nas propagandas de Toscani, que vão contra os julgamentos morais da sociedade e que possam vir a afetar a ética social? A semiótica básica aqui aplicada, enquanto estudo dos signos presentes nos mais diversos tipos de mensagens, serve como forma de lapidar e facilitar a interpretação destas propagandas. Peirce diz o seguinte, contemplado por Eco (2002, p.10): “Eu sou, pelo que sei, um pioneiro, ou antes um explorador, na atividade de esclarecer e iniciar aquilo que chamo de semiótica, isto é, a doutrina da natureza essencial e das variedades fundamentas de cada semiose possível (...) Por semiose entendo uma ação, uma influência que seja ou coenvolva uma cooperação de três sujeitos, como por exemplo um signo, o seu objeto e seu interpretante, tal influência tri-relativa não sendo jamais passível de resolução em uma ação entre duplas.” A análise considerando a semiótica perciana, pode ser dividida entre semiótica geral e semiótica especial, assim por semiótica geral entende-se, segundo Coelho Netto (2001, p. 53): Por semiótica geral deve-se entender aquela parte da filosofia que abrange campos como os cobertos pelas designações Lógica, Filosofia da Lógica, Filosofia da Ciência, Epistemologia ou Terapia do Significado. O objetivo de Peirce era aqui o de dar uma unidade às, aparentemente diversificadas, questões tratadas por essas disciplinas através de uma abordagem capaz de encarar todas elas em termos de uma concepção genérica única e das distinções dela derivadas: a concepção do pensamento como um processo de interpretações do signo com base numa relação triádica entre signo, objeto e interpretante. A teoria da semiótica geral é considerada base de fundamentação, para a semiótica especial, a qual é chamada por Peirce de “psíquica.” A partir disso, segundo Coelho Neto (2001, p. 53) ao citar Peirce: “Peirce apresentava sua “psíquica, ou semiótica especial, como uma ciência preocupada com os fenômenos mentais, ou com as leis, manifestações e produtos da mente. Ressaltando que, em Peirce, termo como “mente” ou “pensamento” devem ser encarados numa perspectiva mais ampla (“mente” pode ser entendido como “semiose”, ou processo de formação de significações: “pensamento” pode ser substituído por termos como “signo” ou “símbolo” ou “interpretante”), seu método consistia em desenvolver uma concepção na mente 92 derivada de uma análise de que está implícito na tendência humana para a procura da verdade.” Dessa maneira, a partir de tais citações relacionadas à proposta semiótica de Peirce, é necessário o entendimento da função dos signos. Pode-se dizer que signo é todo aquilo que representa outra coisa, ou conforme a descrição de Charles S. Peirce (2000, p.46): um signo ou representâmen, é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa alguma coisa, seu objeto. Representa esse objeto não em todos os seus aspectos, mas com referência a um tipo de idéia que eu, por vezes, denominei fundamento ou representâmen. “Idéia” deve aqui ser entendida num certo sentido platônico, muito comum no falar cotidiano; refiro-me àquele sentido em que dizemos que um homem pegou a idéia de um outro homem; em que, quando um homem relembra o que estava pensando anteriormente, relembra a mesma idéia, e em que, quando um homem continua a pensar alguma coisa, digamos por um décimo de segundo, na medida em que o pensamento continua conforme consigo mesmo durante esse tempo, isto é, a ter um conteúdo similar, é a mesma idéia e não, em cada instante desse intervalo, uma nova idéia. De acordo com a definição da semiótica aqui transcrita segundo estudos de Charles S. Peirce, partimos então para o estudo dos signos e a contraposição dos mesmos segundo alguns preceitos da ética na publicidade. 4 MÉTODOS DE ANÁLISE Para Domingos Filho e Santos (1998) método consiste em um conjunto de processos que visa à realização de objetos, em outras palavras o caminho a ser percorrido na solução de um problema. Método “é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros – traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”. (MARCONI e LAKATOS, 1999, p. 83). Segundo Demo (1987): a metodologia trata dos procedimentos que será utilizado para que seja feito a ciência, ou seja, são as formas e os instrumentos utilizados para a 93 realização de estudos, os caminhos percorridos para que haja a busca de conhecimento. O autor, ainda, comenta que junto com a metodologia está a ciência que tem como finalidade tratar a teoria e praticá-la, e a metodologia ajuda nos estudos desenvolvendo meios para que a finalidade da ciência aconteça. Alvarenga e Rosa (2001) classificam a metodologia como sendo aquela que estuda, descreve e explica os métodos, porém ela não soluciona os problemas somente identifique as maneiras que pode ser praticadas para que se alcance o resultado. A metodologia científica, para Alvarenga e Rosa (2001, p. 25), conceitua-se como sendo “um conjunto de método ou procedimentos racionais diversos: processos, técnicas, recursos e aplicação de princípios...” 4.1 TIPOS DE PESQUISA A pesquisa é uma atividade voltada para solução dos problemas, ela parte de uma dúvida ou problema, e assim busca uma resposta (CERVO e BERVIAN 1996). Segundo Gil (2002), a pesquisa é o procedimento que tem como objetivo responder os problemas propostos e esta só acontece quando não há informações suficientes para que seja respondido o problema. Segundo Cervo e Bervian (1996), são a curiosidade e o interesse do homem que levam a investigar a realidade sobre os mais diversos assuntos. Andrade (2005, p. 121) afirma: “pesquisa é o conjunto de procedimentos sistemáticos, baseados no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”. Seguindo o autor, o mesmo comenta que são vários os conceitos de pesquisa, porém todos possuem detalhes que os mantém com o mesmo sentido de ser procedimentos que utilizam de métodos científicos, e tem a mesma finalidade na busca pelo conhecimento e também na solução dos problemas da vida moderna. 4.1.1 Pesquisa Bibliográfica Para Gil (2002) a pesquisa bibliográfica é aquela desenvolvida a partir de livros, revistas, artigos científicos entre outros, ou seja, aquela praticada em cima de materiais já elaborados. O autor ainda comenta que uma de suas principais vantagens é o fato de 94 permitir ao pesquisador a possibilidade de fazer estudos em uma ampla gama de informações, sendo de grande importância quando os dados são dispersos. A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental, busca conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existente sobre um determinado assunto, tema ou problema. Constitui geralmente o primeiro passo de qualquer pesquisa científica. (CERVO e BERVIAN, 1996). No entendimento de Carvalho (1989) a pesquisa é o meio pelo qual ocorre a localização e consulta de informações que virão a ser coletados a respeito de determinados. Esta pesquisa será utilizada enquanto dado secundário e qualitativo para o entendimento da campanha e ações promovidas pela Benetton. 4.1.2 Pesquisa Descritiva Procura descobrir com a precisão possível, a freqüência com que um fato ocorre, sem manipulá-los. A pesquisa desenvolve-se principalmente nas relações humanas e sociais, procurando abordar aqueles fatos e problemas que merecem ser estudados, os dados serão coletados, estudados e registrados ordenadamente. (CERVO e BERVIAN, 1996). Para Basta et al (2006), são utilizadas para descrever hábitos de compra e de uso de produtos e serviços. Andrade (2005) explica que as pesquisas descritivas são aquelas onde há observação, análise, classificação e interpretação dos dados, onde só acontece o estudo dos fenômenos sem que o pesquisador interfira. Este tipo de pesquisa é feito com o intuito de sanar as dúvidas deixadas pelos dados secundários da pesquisa bibliográfica, gerando assim dados primários de caráter qualitativo através da descrição e análise dos elementos das peças estudadas. 95 5 ANÁLISE DOS OBJETOS Inicialmente sobre a imagem disposta no (ANEXO I). Podemos verificar enquanto signos, ou seja, aquilo que significa algo a alguém segundo Peirce, os “corações” símbolo muitas vezes destinado ao sentido de amor, paixão, afeto. Porém este signo nesta campanha está remetido e/ou taxado através de três termos, sendo eles, Branco, Negro e Amarelo (pardo), estes termos ao determinarem a quem pertence esta “máquina” que bombeia o sangue humano mantendo o indivíduo vivo, faz com que ampliemos nossa visão perante os sentidos atribuídos anteriormente a estes corações. Obviamente a imagem não é das mais belas por se tratar de um órgão do corpo humano, porém o signo se distorce a partir do momento que é notável a desproporcionalidade dos corações onde o “negro” é maior e em formato mais arredondado, o “amarelo” possui dimensões igual ao “branco” porém ele apresenta o formato de coração diferenciado em sua silueta. Podemos verificar assim que apesar destas diferenças signicas os três possuem a mesma função, mesmas cores, mesmos detalhes transformando os seres em seres iguais em sua função aqui enquanto indivíduos sociais. Visto por este lado podemos constatar que em uma primeira observação a propaganda acaba por aferir códigos éticos principalmente na publicidade, por ter taxado cada coração, atentando para uma possível discriminação racial, mas ao observarmos profundamente o sentido desta montagem, podemos concluir que o intuito de Toscani aqui foi demonstrar que todos são iguais indiferente de raça ou cor, sendo assim temos os mesmos direitos e deveres a sociedade. O (ANEXO II), apresenta um homem em fase terminal, ou seja, em leito de morte, esta causada pela AIDS, e seu pai o abraçando, a mãe mais ao lado abraçando a filha e uma outra mão que invade a cena reportada posteriormente a um padre que neste momento busca lhe dar as ultimas palavras. Tal anúncio foi revolucionário para o século XX, quando foram confeccionadas tais peças, esta doença era considerada transmissível, porém ao analisarmos a campanha vemos que na realidade este tabu é quebrado pois ao demonstrar que as pessoas em contato com o enfermo, possuíam mesmo através de uma imagens, boa aparência física, fica claro a opinião da Benetton em demonstrar que eles apóiam que as pessoas tenham um maior envolvimento com indivíduos que estejam sofrendo de tal doença. Sendo assim onde em um primeiro momento ele afeta a ética de uma época por demonstrar tal cena inimaginável, em um segundo momento acaba por quebrar um tabu, demonstrando que as pessoas estavam erradas em relação as primeiras ideias sobre a AIDS. 96 Como já apontado anteriormente o (ANEXO III) traz uma das maiores dificuldades de interpretação, a representação de dois garotos, abraçados onde um loiro com cabelos cacheados e outro negro também com os cabelos cacheados, porém com os cabelos em forma de “chifres”, onde o loiro está sorrindo e o negro está sério, abraçados, sob um fundo branco da imagem. Estes signos apresentados poderiam definir que Toscani foi extremamente preconceituoso e antiético ao publicar tal anúncio com a assinatura da United Colors of Benetton, alguns diriam que sim, em partes podemos concordar porém a proposta desta série de anúncios desta empresa está se remetendo a dizer que as roupas e a filosofia desta empresa se adapta a qualquer tipo de público, classe, cultura, credo, etnia, etc. em relação a esta visão o anúncio não traz ofensa nenhuma, ao passo em que comparamos as duas crianças podemos dizer que Toscani foi racista, ai é que se comete alguns erros, que a semiótica interpreta de formas variadas, ou seja, quem definiu que cabelo cacheado se remete ao bem? E quem definiu que chifres remetem ao mau? sim ai podemos considerar que o processo histórico civilizatório que traçou estes signos enquanto bons e maus, corretos. Mas se formos analisar talvez revele uma dúvida ou insegurança, ou seja, a proposta de Toscani fosse não de demonstrar em preceitos raciais mas sim em referências “bons” e “maus”, do tipo, temos produtos para todos, referência esta que por mais que se tente achar explicações enquanto semiótica não são possíveis de elucidar tal anúncio, arrisco-me a dizer que este anúncio se torna quase uma “Monalisa” na publicidade. Aferindo algumas características éticas dos anúncios e desmistificando outros conceitos. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A publicidade produzida por Oliviero Toscani, foram e sempre serão polêmicas, visto que seu intuito é produzir segundo o modelo de criação publicitária anúncios que remetam a contigüidade, ou seja, abrindo discussão social. Tais criações em alguns momentos são mal interpretadas, pois nem todos possuem uma visão critica sobre o que está sendo tratado, outros não gostam de despender tempo nestas análises e outros ainda não possuem instrução suficiente para desenvolver visões analíticas sobre cada símbolo que os anúncios apresentam. Porém podemos concluir que apensar dos anúncios feitos para a United Color Of Benetton, possuíam um caráter polêmico até em um primeiro momento antiético, porém 97 de alerta social, as campanhas iniciaram e continuam demonstrando a filosofia da empresa, preocupada com os problemas sociais, com as estruturas de preconceitos, sexuais, raciais ou em relação a enfermidade. A ética aqui analisada, passa despercebida após uma visão semiótica de cada elemento que compõe os anúncios, considerando assim que as campanhas não seriam antiéticas, mas sim de alerta, de quebra de tabus e de revoluções sociais que devem acontecer na sociedade, demonstrando assim que a empresa está sempre um passo a frente no contexto de evolução social. REFERÊNCIAS ALVARENGA, M. A. F. P.; ROSA, M. V. F. P. C. Apontamentos de metodologia para a ciência e técnicas de redação científica. 2. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2001. ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ANDREASEN, Alan R, Ética e Marketing Social- [Tradução de Bazan Tecnologia e Lingüística] - são Paulo: 2002 BASTA, et al Fundamentos de marketing. Rio de Janeiro: FGV, 2006. CARVALHO, M. C. M. (org). Construindo o saber: metodologia científica fundamentos e técnicas. 2. ed. Campinas/SP: Papirus, 1989. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia cientifica. São Paulo: McGraw Hill, 1996. COELHO NETO, José Teixeira. Semiótica, informação e comunicação. São Paulo: Perspectiva, 2001. DEMO, P. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. ECO, Humberto. Tratado geral da semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2002. FILHO, P. D.; SANTOS, A. J. Metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Futura, 1998. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. HOBBES, THOMAS - Leviatã ou a Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil - 2000 - Editora Abril Cultural SP 98 LOPES, A. Paraguassú - Ética na Propaganda – 2003 – LOCALIZAÇÃO 174.9096591 L864e - MARCONI, M. A; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999 PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva, 3ª edição, 2000. SINGER, Peter – Ética Pratica; Tradução de Jefferson Luis Camargo – 2 Ed. - são Paulo: Martins Fontes, 1998 – Ensino superior SA, Antonio Lopes de, Ética Profissional – 5 ed. - são Paulo: Atlas – 2004 SITE: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4680.htm. Acesso 25/10/2010, as 14:56 hrs. ANEXOS ANEXO I 99 ANEXO II ANEXO III