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EXPERIENCES
Turismo de aventura
Ilha Deception, escala da
expedição de dez dias entre
Ushuaia e a Península Antártica:
destino de 50 cruzeiros e 26 mil
passageiros na temporada 2012
Deception Island, a stop
during the 10-day expedition
from Ushuaia to the Antarctic
Peninsula: the destination of 50
cruise ships and 26 thousand
passengers in the 2012 season
Antártica
Antarctica
Foi-se o tempo em que o lugar mais isolado, selvagem e frio do planeta só
podia ser alcançado por grandes conquistadores. Em pleno centenário da
chegada ao Polo Sul do norueguês Roald Amundsen em seu heroico navio
Fram, RED Report embarcou em um dos cruzeiros de exploração antártica
em grande estilo: acompanhado de Amyr Klink, o maior navegador da
história do Brasil, e justamente em um barco da Noruega de nome Fram
In the past, the wildest, coldest and most isolated place on the planet could
only be reached by great explorers. On the one-hundredth anniversary of
the arrival of Norwegian Roald Amundsen and his heroic ship the Fram
to the South Pole, RED Report embarked on an exploration cruise of
Antarctica in high style: accompanied by Amyr Klink, the greatest Brazilian
navigator of all time, and on a boat from Norway named Fram
por/by Daniel Nunes Gonçalves
fotos/photos Marina Bandeira Klink
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EXPERIENCES
Turismo de aventura
Amyr (de amarelo) conta
histórias aos brasileiros;
icebergs; palestra sobre baleias;
passeio de bote para observação
de leopardo-marinho; e o Fram
entrando no Canal Lemaire
Marina Klink fotografa
Porto Neko: pinguins
barulhentos e glaciares
desmoronando
Amyr (in yellow) tells stories to
the Brazilians; icebergs; a lecture
on whales; observing a leopard
seal from a boat; and the Fram
entering the Lemaire Channel
Marina Klink photographs
Neko Harbour: noisy
penguins and the
crumbling glaciers
ar, mar e mar. Já se passavam dois dias e meio
desde o embarque em Ushuaia, a cidade argentina na extremidade da América do Sul que é o
principal ponto de partida para os cruzeiros antárticos, e não havia sinal de terra à vista. Enjoado
com o balanço do navio durante a travessia da Passagem de Drake, temida área de naufrágios onde Atlântico e Pacífico se encontram, eu ziguezagueava pelos corredores de braços abertos, desengonçado como
um pinguim. Estava quase arrependido por me incorporar a uma expedição de dez dias por mares bravos tendo no histórico apenas uns
bate e voltas para mergulho e um rápido cruzeiro mansinho no Caribe. Até que os alto-falantes anunciaram, primeiro em inglês, depois
em alemão: “Ladies and gentlemen, um iceberg se aproxima”. Corri
para o deque do sétimo andar. Meu primeiro iceberg vinha flutuando,
quebrando com seu branco radiante a monotonia azul de céu e mar.
Aqueles blocos gigantes de gelo me fizeram esquecer o enjoo, a
temperatura negativa e o vento lá fora. Assim como eu, os outros
206 passageiros do cruzeiro da empresa norueguesa Hurtigruten, 17
brasileiros entre eles, não continham a empolgação, com câmeras e
binóculos em punho – afinal, os pássaros também haviam reaparecido. “Tivemos sorte, esta foi uma das travessias do Drake mais
calmas que já fiz”, comentou ao meu lado, como se fosse um amigo
íntimo, ninguém menos que Amyr Klink. Sorte tinha eu, pensei, por
72 RED aDVENTURe tourism
Water, water and more water. It had been two and a half days since
we embarked in Ushuaia, the Argentinean city at the tip of South
America that serves as the main starting point for Antarctic cruises,
and there had been no sight of land yet. Nauseated from the rocking
of the ship since crossing the Drake Passage, a body of water where
the Atlantic meets the Pacific, feared for shipwrecks, I zigzagged
down the corridors, arms outstretched like a gangly penguin. I almost
regretted having joined the ten-day expedition through rough waters –
my only previous sailing experience being quick trips for scuba diving
and a peaceful little cruise in the Caribbean. And then the loudspeakers announced, first in English, then in German: “Ladies and gentlemen, we’re nearing an iceberg.” I ran up to the seventh floor deck. My
first iceberg came floating along, breaking with it’s radiant whiteness
the blue monotony of the sky and sea.
Those giant blocks of ice made me forget my seasickness, the below-zero temperatures and the wind outside. Like me, the other 206
passengers on the Norwegian cruise Hurtigruten, including 17 Brazilians, couldn’t contain their excitement, with cameras and binoculars
in hand – after all, the birds had also reappeared. “We were lucky, this
was one of the calmest crossings of the Drake I’ve ever made,” none
other than Amyr Klink commented to me, as if he were an intimate
friend. Lucky me, I thought, for getting so close to the South Pole and
having the greatest Brazilian navigator as a guide, a man who’d com73
EXPERIENCES
Turismo de aventura
Pinguins gentoo diante do Fram,
navio norueguês que tem no
staff e na lista de palestrantes
de suas expedições exploradores
como Amyr Klink (à dir.)
Gentoo penguins in front of
the Fram, the Norwegian ship
which features such explorers
as Amyr Klink (right) among
its staff and invited lecturers
chegar ali, tão perto do Polo Sul, tendo como guia o maior navegador
brasileiro, que completava 40 viagens à Antártica. E justamente em
um barco norueguês chamado Fram, mesmo nome da embarcação
que outro norueguês, o lendário Roald Amundsen, comandou ao ser
o primeiro homem a pisar no Polo Sul exatamente há um século.
Foi a alemã Anja Erdmann, líder de um staff formado por oito experientes expedicionários, quem advertira: “Este não é um cruzeiro
comum, mas uma exploração entre icebergs, vendavais e tempestades que tornam impossível planejar onde vamos aportar, a que horas e por quanto tempo”. Mas quando a embarcação fez sua primeira
parada, naquela tarde de sol forte, em frente à ilhota Half Moon, no
arquipélago subantártico das Shetland do Sul, parecia que estávamos
em uma simples e bem organizada excursão de férias. Divididos em
grupos transportados alternadamente do navio à praia em botes – os
zodiacs – e com permissão para passar apenas 1h30 em terra, desembarcamos diante de nossas primeiras focas e pinguins. Centenas
deles. Graças a uma das palestras assistidas na viagem, reconheci os
pinguins chinstrap, uma das quatro espécies antárticas.
Aquele primeiro dos cinco dias que passamos desembarcando diariamente duas vezes, em média, em alguns dos recantos mais lindos,
puros e intocados do planeta foi suficiente para entender por que os cruzeiros antárticos vêm se popularizando e já movimentam 50 cruzeiros
e 26 mil passageiros a cada temporada do verão local, de novembro a
março. “Somos contagiados pela ‘febre branca’”, brincou outra integrante do staff, a zoóloga suíça Petra Glardon. O fascínio é o mesmo que
arrebatou Roald Amundsen e o próprio Amyr Klink, que completou a
volta na região duas vezes: a primeira, em seu barco Paratii, sozinho;
e a segunda no Paratii 2, com tripulação. Em 12 de suas 40 viagens
estava com a esposa, Marina – autora das fotos desta reportagem. E em
tantas outras, era palestrante convidado, como no Fram.
Nevava sem parar na manhã seguinte, retrato da real instabilidade
climática do extremo Sul da Terra. Ainda assim ancoramos na Península Antártica, base das expedições de dez dias, para conhecer
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pleted 40 trips to Antarctica. And on a Norwegian ship named Fram
no less, the same name given to the vessel commanded by another Norwegian, the legendary Roald Amundsen, on the journey in which he became the first man to set foot on the South Pole exactly a century ago.
It was a German woman named Anja Erdmann, leader of a staff of
eight experienced expeditioners, who offered the warning: “This is no
ordinary cruise, it’s an expedition between icebergs, high-speed winds
and storms that make it impossible to plan where we’re going to dock,
at what time and for how long.” But when the vessel made its first stop
on that sunny afternoon, in front of tiny Half Moon Island, part of the
South Shetland Islands archipelago, it seemed like we were on a simple
and well-organized vacation excursion at sea. Divided into groups who
were alternately transported from the ship to the shore on boats – known
as zodiacs – and with permission to spend just an hour and a half on
land, we disembarked to view our first seals and penguins. Hundreds of
them. Thanks to a lecture I’d watched during the voyage, I recognized
the chinstraps, one of four species of penguin in Antarctica.
That first of five days that we spent there, disembarking twice a
day, on average, to some of the loveliest, purest and most untouched
recesses of the planet was enough to understand why Antarctic cruises
are becoming more popular, currently operating 50 cruises with some
26 thousand passengers every year during summer, from November to
March. “We’ve caught the ‘white fever,’” joked another member of the
staff, Swiss zoologist Petra Glardon. The fascination is the same that
struck Roald Amundsen and even Amyr Klink, who has circumnavigated the region twice: first, by himself, on his boat Paratii; and then
as part of a voyage around the world on the Paratii 2, accompanied
by a crew. His wife Marina – author of the photos in this article – was
with him on 12 of his 40 journeys. And on many others, like the Fram,
he was invited to lecture.
It snowed nonstop the next morning, a portrait of the real climatic
instability of the globe’s southernmost tip. Even so, we anchored on
the Antarctic Peninsula, the base of expeditions for ten days, to see
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EXPERIENCES
Turismo de aventura
Ao extremo Sul All the way south
Dez dias de cruzeiro entre Ushuaia, na
Argentina, e a Península Antártica
A ten-day cruise from Ushuaia,
Argentina, to the Antarctic Peninsula
O grande desafio da descida ao
continente gelado é a travessia da
Passagem de Drake, onde os Oceanos
Atlântico e Pacífico se encontram
The big challenge in descending all
the way to the frozen continent is
crossing Drake Passage, where the
Atlantic and Pacific Oceans meet
Tanto a ida quanto a volta levam dois
dias e meio. Nos cinco dias seguintes,
os passageiros desembarcam nas ilhas
e no continente duas vezes ao dia
Both the trip there and back take two
and a half days. During the five days
in between, passengers disembark on
islands or the continent twice a day
ANTÁRTICA
Antarctic
a Baía Esperanza, um raro ponto habitado da região – nesse caso, por
50 argentinos. Embora o sétimo continente não pertença a nação alguma, vários dos 49 países signatários do Tratado Antártico mantêm ali
bases de pesquisa (a do Brasil, a estação Comandante Ferraz, na ilha
subantártica Rei George, foi destruída por um incêndio em fevereiro).
“Estamos tão isolados que às vezes dá vontade de voltar para casa nadando”, brincou a bióloga argentina Florencia Matus. A visita englobou
a capela, o museu e os restos de um casebre de pedra construído pelos
três náufragos da expedição do sueco Otto Nordenskjöld, primeiros a
chegar àquelas bandas em 1902 e que sobreviveram por dez meses até
seu resgate – como havíamos aprendido na palestra do polonês Henryk
Wolzki, ele próprio um velejador que refez parte da trágica viagem do
barco Endurance, do anglo-irlandês Ernest Shackleton, em 1914.
Embora os termômetros marcassem -4oC, a sensação térmica era de
-17oC. O vento forte deixou em alerta o staff (eles sempre saem do navio
com barracas e comida para confortar todos os desembarcados em caso
de intempéries imprevistas). À tarde, não teve jeito. O desembarque
em Brown Bluff foi cancelado em função dos vendavais de 100 quilômetros por hora, restando ao grupo assistir do quentinho deque de
observação à passagem de um monstruoso iceberg de 1,5 quilômetro
de extensão enquanto navegávamos pelo Mar de Weddell. Outro passatempo eram os filmes exibidos nas confortáveis cabines – como A
Marcha dos Pinguins e um documentário sobre Shackleton –, mas os
melhores entretenimentos acabavam sendo mesmo as palestras. Naquela tarde, o geólogo norte-americano Bob Rowland contou histórias
e exibiu slides de suas duas expedições ao Polo Sul quando serviu no
Exército, em 1962 e 1963, pouco depois de passarem a ser comercializadas as primeiras viagens turísticas à Antártica, em 1958.
Domingo, 7 horas da manhã. No quinto dia da expedição, o imponente Fram – 20 metros de altura, 130 de extensão – adentrou o estreito acesso à cratera da Ilha Deception, um vulcão ativo adormecido.
A garoa não desanimou os caminhantes que subiram seus morros de
500 metros. Só das alturas se pode dimensionar a imensidão antártica, continente com o tamanho de um Brasil e meio. Brancura infinita,
vento congelante, o silêncio mais pacífico do planeta. Na volta à praia,
a própria tripulação incentivava os corajosos a aproveitar as águas
Hope Bay, one of the region’s rare inhabited points – in this case, by
50 Argentineans. Though the seventh continent doesn’t belong to any
nation, many of the 49 countries to sign the Antarctic Treaty maintain research stations there (the Brazilian one, Comandante Ferraz
Station, on King George Island, was destroyed by a fire in February).
“We’re so isolated that sometimes you feel like swimming home,”
joked Argentinean biologist Florencia Matus. The visit there features
stops by the chapel, the museum and the remains of a stone hovel
constructed by three castaways from Swedish sailor Otto Nordenskjöld’s expedition, the first to reach these parts in 1902 and who survived for ten months until their rescue – as we learned from Polish
lecturer Henryk Wolzki, a sailor who retraced the tragic voyage of
the Endurance, led by Anglo-Irish explorer Ernest Shackleton in 1914.
Though the thermometers read 25oF, with the wind chill factor, it
was just 1oF. The strong wind kept the staff on alert (they’re there to
leave the ship with shelter and food to comfort those on land in the
event of unforeseen extreme weather conditions). In the afternoon,
there was just no way. The scheduled landing at Brown Bluff was
canceled due to the 60 mph winds, leaving the group to admire the
passage of a monstrous mile-long iceberg from the warm observing deck while we sailed through the Weddell Sea. Another pastime
came courtesy of the movies shown in the comfortable cabins – including The March of the Penguins and a documentary on Shackleton –, but the best entertainment was actually the lectures. That
afternoon, American geologist Bob Rowland told stories and showed
slides from his two expeditions to the South Pole when he served
in the Army in 1962 and 1963, shortly after the first tourist trips to
Antarctica were commercialized, in 1958.
Sunday, 7 a.m. On the fifth day of the expedition, the imposing
Fram – 65 feet tall, 425 feet long – entered the narrow access to the
crater on Deception Island, a dormant volcano. The drizzle didn’t
discourage the hikers who climbed up the hills that stand 1640 feet
tall. Only from the top can you truly understand the dimensions
of immense Antarctica, a continent the size of one and a half Brazils. Infinite whiteness, freezing winds, the most peaceful silence on
Earth. Back on the beach, the crew was encouraging the braver ones
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EXPERIENCES
Turismo de aventura
Pinguins gentoo, a líder da
expedição, Anja Erdmann; e,
à direita, Porto Lockroy com
barco igual ao de Shackleton
Gentoo penguins; expedition
leader Anja Erdmann; and,
right, Port Lockroy with a
sibling of Shackleton’s boat
abrigadas para a oportunidade única de tomar um banho de mar
no verão antártico. Arrisquei. O primeiro sofrimento foi tirar as três
calças, quatro blusas, dois pares de meia, gorro, luvas e cachecol para
correr desesperadamente ao gran finale camicase: o mergulho de cabeça em um caldeirão de gelo de 1oC. Uma sensação inédita, como a
de picadas de 1 milhão de formigas, tomou meu corpo adormecido.
Mas em cinco segundos eu já estava de volta ao seco. E extasiado. Se
eu tivesse uma hipotermia ou um piripaque qualquer, contaria com
a assistência de uma das profissionais da enfermaria. Para se precaver contra imprevistos hospitalares com seus passageiros antárticos, a
Hurtigruten exige que todos apresentem um exame médico detalhado
e paguem um seguro-saúde salgado – além dos gastos do cruzeiro, que
partem de 5.200 euros (trecho saindo de Ushuaia).
Como se estivéssemos nos trópicos, o sol voltou a reinar naquela
tarde, quando descemos na Baía Whalers para um trekking de três
horas ainda mais lindo, com direito a conhecer os grandes tanques
enferrujados que armazenavam óleo de baleia de 1906 a 1931. A luz
mais fantástica também embelezou o dia seguinte. Pela manhã, no
Porto Harbour, centenas de pinguins gentoos gritavam tentando, em
vão, superar o estrondo do desmoronamento que o calor provocava
nas bordas dos glaciares. Na base inglesa de Porto Lockroy, à tarde,
um barco igual ao de Shackleton tornava especialmente fotogênica a
cabana preta e vermelha do museu onde os turistas podem até comprar souvenirs e enviar postais (o que mandei para os colegas da RED
levou dois meses para chegar!). Mas só os privilegiados expedicionários brasileiros tiveram a canja de, no entardecer, seguir em dois
botes com Amyr para a vizinha Baía Dorian, onde entre 1989 e 1990
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to take advantage of this unique opportunity to bathe in the ocean
waters during the Antarctic summer. I took the challenge. The suffering began with taking off three layers of pants, four shirts, two pairs
of socks, beanie, gloves and scarf to desperately run to the kamikaze
grand finale: a head-first dive into an icy 34oF cauldron. A sensation
I’d never experienced before, like the sting of a million ants, took
over my half-asleep body. But in five seconds I was out of the water.
And in ecstasy. If I had gotten hypothermia or had some kind of seizure, I could’ve counted on the assistance of first-aid professionals.
In order to safeguard against medical emergencies among their passengers in Antarctica, the Hurtigruten requires that everyone present
a detailed medical exam and purchase a pricy health insurance – on
top of the price of the cruise, which starts at 5200 euros (the circuit
that leaves from Ushuaia).
As if we were in the tropics, the sun came out and reigned over
the afternoon as we sailed down Whalers Bay for an even lovelier
three-hour trek, during which we saw the large rusted tanks that
stored whale oil from 1906 to 1931. The most fantastic sunlight
shone beautifully the next day. In the morning, in Neko Harbour,
hundreds of gentoo penguins squealed, trying in vain to outdo the
thunderous glacier landslides provoked by the warm weather. At
the British base of Port Lockroy, that afternoon, a sibling of Shackleton’s boat made the museum’s red and black building particularly photogenic. There, tourists can even buy souvenirs and send
postcards (I sent one to my RED Report coworkers; it took two
months to arrive!). But only the Brazilian expeditioners would have
the privilege, that late afternoon, of sailing along with Amyr on two
ele passou, de propósito, sete meses e meio isolado com seu veleiro
Paratii preso ao mar congelado do inverno. Seria preciso mais dez
páginas para reproduzir as histórias dramáticas compartilhadas
na casa de madeira que ainda guarda uma foto da sua invernagem.
Depois da travessia do espetacular Canal Lemaire, o sétimo
dia ganhou ares de safári no gelo com o passeio de zodiac para
ver de perto focas-leopardo, com o trekking entre centenas de
pinguins da Ilha Danco e a observação de baleias pelas janelas do restaurante durante o jantar. No show daquela noite (alguns dos 50 tripulantes filipinos sempre improvisam atrações,
de danças divertidas a esculturas em gelo), os marinheiros se
juntaram para um desfecho especial: cantar em coro “Sailing”,
de Rod Stewart, arrancando lágrimas de muita gente. Começava
a jornada pelos mil quilômetros da volta rumo ao Norte. Com
ondas maiores, o Drake estava mais agitado. “Melhor assim,
achei a vinda pouco emocionante”, comemorou o médico francês
Philippe Arvis, passageiro que, como os palestrantes do staff,
não escondia seu perfil explorador – tanto que chegou a fazer
uma palestra-surpresa sobre sua aventura mais recente, a escalada do Everest. A outra esperada palestra da viagem de retorno
foi, enfim, de Amyr Klink, que contou causos como o das ondas
de 25 metros que enfrentou em algumas das 80 travessias que
fez do Drake. Desta vez, para uma plateia formada por novos exploradores polares igualmente fascinados pela Antártica. boats to the neighboring Dorian Bay, where between 1989 and 1990
he spent seven and a half months purposely isolated on his sailboat,
the Paratii, stuck in the frozen winter sea. It would take ten more
pages to reproduce the dramatic stories he shared in that wooden
house which still has a photo from his winter stay there.
After crossing the spectacular Lemaire Channel, the seventh
day took on the atmosphere of a safari on ice with a zodiac trip
to see leopard seals up close, trekking between hundreds of penguins on Danco Island and whale-watching from the windows of
the restaurant during dinner. For that night’s show (some of the 50
Filipino crew members always improvise an entertainment, from
fun dances to ice sculptures), the sailors gathered for a special
conclusion: they sang Rod Stewart’s “Sailing” in chorus, bringing many to tears. The 600-plus-mile journey back North began.
With higher waves, the Drake was more agitated. “It’s better this
way, I didn’t find our arrival too exciting,” cheered French doctor
Philippe Arvis, a passenger who, like the staff lecturers, couldn’t
hide his explorer side – so much so that he even gave a surprise
lecture of his own about his most recent adventure, a climb up
Mt. Everest. The other highly anticipated lecture on the return
trip came from Amyr Klink, who told us tales of the 80-foot waves
he had to confront on some of his 80 trips across the Drake. This
time, to an audience comprised of new polar explorers who were
equally fascinated by Antarctica.
INFO: hurtigruten.com; amyrklink.com.br
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