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Tabela de Publicidade AS DON KIK u a em Biss FORMATO: 271 mm x 410 mm • MANCHA GRÁFICA: 260 mm x 380 mm 3 NÚMERO DA SEMANA ONI A CAM INHO A operaçã o da deverá arra Oni em Angola ncar no prim trimestre de 2011.“Qu eiro erem criar a Oni em Angola os parceiros locais. Esta com neste mom mos, ento, a neg com dois ociar parceiros e queremos fech ar o negócio este ano ou até ao ainda final do primeiro trimestre de 2011”, disse Xavi er tín, presiden Rodriguez-MarOni. A entr te-executivo da ada em Angola da ope rado de telecom ra portuguesa unicações o segm ento emp para resarial enquadra-s e de internac no seu plano ionalização também por passa Espanha sil. e Bra- MIL MILH ÕES DE DÓLAR ES Val financiamor aproximado do total de entos intern ao Estado o e externo do BES angolano A Besa ultr BFA em a apassa ctivos CASA NOV A O Instituto Estatística(I Nacional de NE), vai ter um novo edif ício que vai ser construíd o pela cons trutora portuguesa Soares da Orçado em Costa. cerca de lhões de 43 dólares, tem miprazo de o seu conc para 2012. lusão previsto Um dos gran desafios des com vai deparar que o INE se anos é a real nos próximos izaç ão do censo populaciona l em 201 3, sendo que o últim país remonta o realizado no ainda ao tem colonial, po em tenha feito 1972, embora um nº leva152 Director Victor Silva - Director Adjunto Gustavo Costa - Edição - ento 17 Dezembro de 2010 - Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas ntam em 198 2. ACIDENTE MATA 16 NO LIBOLO Dezasseis pessoas morreram e 13 ficaram gravemente feridas no despiste de um autocarro no Libolo, Kwanza Sul, que vinha da província Bié. Testemunhas dizem que o excesso de velocidade estará na causa do acidente, cujos feridos foram transferidos para Luanda. Angola está no topo dos países com mais mortes devido a acidentes rodoviários, com uma média anual a rondar os três mil. ÍNDIA QUE R PETRÓLE O A empresa indiana Ltd Arosfram, Golfrate epart Afribelg nash mira dos EUA candidatou-s ONGC Vide e à compra icipação de da da Exxon Mob 25 por cento trolífero em il num bloco pedundas em águas ultra-proAngola. A empresa operadora do detendo uma bloco é a BP Plc, 26,7 por cent participação de o e tem com sociadas a o asSona ASA da Noru ngol, a Statoil ega, a Mara Oil Corp, e thon a Total. A produção no bloco deve 2012 estim rá iniciar-se em ando-se que a produzir venh a 150 mil barr is de petróleo por dia. A ONG C Vide é uma emp resa subsidiár sh grupo esta ia do tal tural Gas Corp indiano Oil & Na. Lavagem de dinheiro! B Q a d o M EMBAIXADORA REGRESSA As contas da Embaixada de Angola nos EUA continuam bloqueadas, mas as autoridades encontraram razões suficientes para mandar de volta a Washington a embaixadora Josefina Pitra Diakité, que estava em Luanda desde 16 de Novembro. O regresso da diplomata configura o interesse de Angola em não tornar a sua ausência num sinal de mal estar e sugere progressos nas consultas que os dois governos mantêm soZA LE bre a matéria. Enquanto isso e num BE exercício tido como desfasado, o ministro George Chicoty despachou linda Washington Balbina Silva, da Mais para hã aman direcção América do MIREX, que oneleita tem deveria deixar a cidade. >> P. 20 AS EMPRESAS AROSFRAM, AFRIBELG E GOLFRATE estão proibidas de efectuar operações comerciais nos EUA, na sequência da suspeita de que um dos seus accionistas, o libanês Husayn Tajideen tem ligações ao grupo terrorista Hezzbolah. Os sócios angolanos, “Kito” Dias dos Santos e Artur Almeida Silva foram aconselhados a desfazerem a sociedade que, de acordo com os norte>> P. 31 americanos, é utilizada para financiar o terrorismo. AN ÁLISE responde às necessidades Orçamento não AS NDÊNCI Cr TE Arquite dividida gola Miss An ARTES Dakar da cultura Capital negra >> P. 16 EXPLORAÇÃO INFANTIL Angola consta da lista de nações onde foi detectada a utilização de mão-de-obra infantil ou trabalho forçado, segundo um relatório do Departamento do Trabalho dos EUA. “O Governo (angolano) continua a participar em programas para o combate das piores formas de trabalho infantil. No entanto, a grande variedade de trabalho infantil persiste e crianças a trabalhar nas ruas e na agricultura continuam a ser um problema”, sublinha o relatório que indica ainda que crianças angolanas são traficadas para a RDC, Namíbia, África do Sul e na Europa, principalmente Portugal. e a Huíla >> P. 02 PROVINC IAS ALTURA 380 mm 380 mm 380 mm 184 mm 184 mm 380 mm 380 mm 51 mm 51 mm 51 mm 51 mm 48 mm 48 mm 182 mm 91 mm USD 6.600 3.000 2.750 1.800 1.700 1.900 1.800 3.500 2.500 1.500 1.300 3.000 2.000 950 500 >>P.06 Malanje Maior din âm empresar ica ial, precis a-se >>P. 08 >>P. 04 >> P. 21 FECHO Aviação TAAG em voo rasan te >>P. 11 Quim Ribeiro vítima de atentado Última hora O EX-COMANDANTE DA POLÍCIA EM LUANDA, Joaquim Ribeiro, foi vítima ontem , às 19H35, de um atentado quando desconhecidos, que se faziam transportar numa viatura com credencial do Ministério do Interior, com a matrícula LD 24-89 BG , dispararam contra ele na estrada da Samba. Houve uma troca de tiros mas o comissário saiu ileso. O incidente ocorre depois de na semana passada uma sua quinta nos arredores de Luanda ter sido assaltada. 1º CADERNO ECONOMIA MUTAMBA Medalhas não são consensuais Angola vai bem e recomenda-se Miss Angola é amanhã Condecorações JORNALISMO DE REFERÊNCIA. escimen to Nem só de gado Luandactur a viv DESIGNAÇÃO LARGURA Página dupla 520 mm Página ímpar 260 mm Página par 260 mm 1/2 Página ímpar 260 mm 1/2 Página par 260 mm 1/2 Página ímpar verical 127 mm 1/2 Página par verical 127 mm Rodapé 1ª Página 260 mm Rodapé suplementos 260 mm Rodapé Página ímpar 260 mm Rodapé Página par 260 mm Orelha 1ª Página 38 mm Orelha 1ª Página sup. 38 mm 1/4 Página 127 mm 1/8 Página 127 mm > >P. 08 Banca >> P. 06 1 Página 1/2 Página ao Baixo 1/2 Página ao Alto Orelha Beleza >> P. 22 1/4 Página 1/8 Página Rodapé fotografia Quintiliano dos Santos 1ª exposição >> P.05 eduardo paim “etu mu dietu” dez anos depois figura da semana actualidade CULTURA Fly Squad Memórias Show De Henrique de Carvalho O2 de regresso >> P. 04 >> P. 05 >> P. 08 As batalhas através das palavras >> P.07 04 20 Julho 2012 Figura da Semana FLY SKUAD O rap está vivo ... Chama-se FIlipe Quiala e é proveniente do movimento underground. Começou a trilhar o seu caminho na música com apenas 13 anos quando estudava no Liceu Mutu-Ya-Kevela. Nessa altura, fazia ‘freestyle’, ou seja, improvisos líricos nas ruas da cidade capital e começava a impressionar vários amantes do rap. As batalhas verbais que iniciou ainda muito jovem deram-lhe a capacidade de superar vários obstáculos que a estrada do hip hop traz na bagagem e ajudaram-no a adquirir várias qualidades como mc (mestre de cerimónias). Na altura, representava sozinho dentro do movimento hip hop um bairro que era marcado pela violên- cia entre gangues rivais. Apesar de assistir de perto ao cenário que se desenvolvia à sua volta, Fly Skuad nunca se deixou influenciar pelo meio e manteve estreito o elo de ligação com a música como hoje reporta nas suas faixas musicais. Para ele, as batalhas eram travadas através de palavras, do pensamento e da escrita que tem desenvolvido até hoje. O surgimento do seu nome artístico começou em casa. Desde criança que o pai o chamava de Fly. Mais tarde, por muitos acharem que tinha a capacidade de fazer o que um grupo conseguia num ‘rompimento verbal’ quando se deparava com opositores, deu origem ao nome ‘Skuad’. Com o decorrer do tempo, o artista conheceu outros bons mc’ s como The Hot Mc, Subversivo, Infinito, New Man, Negrado, Perispírito e criaram, em 2004, o grupo ‘Caixa de Pandora’ a que mais tarde, em 2006, se juntaram Lucassio Messias e Balta P. Até hoje o grupo mantém-se firme e trabalha para o desenvolvimento do estilo. Apesar de ter companheiros de estrada, Fly Skuad trabalha paralelamente nos seus projectos a solo. Em 2009, depois de se ter unido ao amigo e produtor musical A.O.S, lançou a sua primeira mixtape intitulada ‘Directamente do Underground’. O projecto correu de ‘boca em boca’ e deu-lhe o impulso para começar a «...o objectivo é levar...a minha música...seguindo um só caminho: o da verdade» ganhar ainda mais expressão. Em 2010, a convite do CEO, Dj Samurai, assinou por uma das mais antigas e respeitadas editora do país, a Mad Tapes. Desde essa altura tem feito participações em vários projectos musicais, deixando os amantes do hip hop desejosos por ouvir uma obra sua. Hoje transporta o peso de ser um dos rappers de quem muito se espera e o de carregar alcunhas como Underground King, Illuminati ou Nova Jóia do Movimento Hip Hop. Essa espera, já tem agora data para cessar pois a Mad Tapes já anunciou a data do lançamento do seu primeiro projecto oficial, o EP intitulado ‘Extractos’ que será lançado este Domingo, dia 22 de Julho na Praça da Independencia em Luanda. Segundo palavras do próprio artista, o seu objectivo é ‘levar, com humildade, a minha música para que chegue aos ouvidos de toda gente e tentar tornar gigante o movimento que represento seguindo um só caminho: o da verdade’. Mariana Rodrigues Perfil Nome completo: Filipe Nunda Quiala Idade: 24 Habilitações académicas: estudante universitário no curso de Gestão de Empresas Artista Nacional: Raf Tag Artista Internacional: Immortal Technnique Livro: Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago Filme: A Lista de Schindler Prato favorito: o funge da minha avó 20 Julho 2012 Actualidade 05 A União dos Escritores Angolanos realizou quarta-feira mais uma “Maka”, desta vez com a presença da escritora Cremilda de Lima que se debruçou sobre a literatura infantil angolana - “continuidades”. Exposição retrata expedição do primeiro governador da Lunda Em 1884, o major Augusto Henrique Dias de Carvalho iniciou uma expedição em Angola, que tinha como destino a Mussumba (corte) do império Lunda. Um século depois o que resultou dessa viagem, que durou cerca de quatro anos, pode ser visto em Portugal, numa exposição organizada pela Sociedade de Geografia de Lisboa, sob o título «Memórias de um explorador». Patente até ao dia 31 de Julho, a exposição percorre o vasto espólio da colecção doada por Henrique de Carvalho à Sociedade de Geografia de Lisboa. Nela podem ser vistos alguns documentos, mapas, fotografias e objectos que constituíram a preparação e o resultado da expedição do explorador português, que veio a ser o primeiro governador da Lunda. A viagem de Henrique de Carvalho iniciou-se em Maio de 1884, a partir de Malanje, com o objectivo de atingir a Mussumba do império Lunda, situada na actual República Democrática do Congo. Já antes tinham passado pela Lunda, no coração da África Central, várias expedições, donde se destacam a de “David Livingston, enviado pela London Missionary Society em 1840, a Verney Lovott Camaron, do alemão Otto Schuth em 1887, de Max Bucher em 1879”. A do major Henrique Carvalho é, no entanto, considerada a “mais célebre” de todas e a que deixa mais marcas. Da longa e dura expedição científica, diplomática e comercial à Lunda (Angola), entre os anos de 1884 a 1887, resultou a constituição de colecções científicas no âmbito da etnografia, fauna e flora, o registo de observações meteorológicas, um álbum fotográfico e a publicação de uma obra em oito volumes. Henrique Carvalho acabou por doar essa vasta colecção etnográfica à Sociedade de Geografia de Lisboa que a coloca agora à disposição do público português, nesta mostra patrocinada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do Projecto Explora e que tem como curadora a professora Manuela Cantinho. A exposição conta ainda com o apoio da Fundação Escom que, como investidor em Angola, se quis associar a esta iniciativa, no âmbito da sua política de mecenato cultural. “A exposição retrata a zona das Lundas, onde temos investimentos na área da exploração mineira”, explicou ao Novo Jornal José Tavares de Almeida, lembrando que já em 2010 Cunene visto a partir de Luanda Foi aberta esta semana e decorrerá até ao final do mês, a exposição fotográfica de Quintiliano dos Santos, no Centro de Imprensa Aníbal de Melo denominada “Cunene acção e desenvolvimento”. A amostra retrata a nova realidade da província do Cunene, as infra-estruturas erguidas e projectos em execução, bem como é uma oportunidade de conhecer a cultura e as tribos que nela habitam. Segundo o fotógrafo, esta apresentação possibilitará às pessoas uma viagem a partir do centro da cidade capital, sendo que nem todos têm a possibilidade de ver e admirar as belezas da cidade de Ondjiva in loco. Quintiliano dos Santos avançou que estarão patentes ainda na amostra os vários domínios da vida socio-política e cultural daquela província. Assim sendo, o fotógrafo mostrou por via desta exposição os avanços no domínio da saúde, com a reabilitação do Hospital Central do Cunene, a construção de várias unidades hospitalares, o apetrechamento de escolas, a construção de centenas de habitações sociais, a substituição dos postes de energia entre Ondjiva e a Namíbia suportados pela subestação de Nepalala, ainda, estradas, um centro de tratamento de água e hotéis entre outros empreendimentos. Esta é a primeira exposição individual de Quintiliano dos Santos. Participou em várias exposições colectivas. Actualmente responde pela editoria de fotografia desta publicação e é membro da Associação dos Repórteres de Imagem de Angola (ARIA). J.F. a Fundação Escom resolveu lançar a edição portuguesa do livro «A arte decorativa Chokwe», da investigadora belga Marie Louise Bastin, com o objectivo de colocar à disposição do mundo lusófono um livro cujo “valor científico é referência obrigatória para os investigadores, estudantes e o público em geral”, referiu então o presidente da Escom, Hélder Bataglia. Ao longo de um mês podem ser vistos, na Sociedade de Geografia de Lisboa, documentos, fotografias, mas também objectos Chokwe e Kongo dessa importante colecção. Henrique Augusto Dias de Carvalho foi o primeiro governador da Lunda Sul, entre 1920 e 1957, muito depois da sua expedição, durante a qual assinou “vários tratados de protectorados com chefes Lunda-Tchokwe, sendo os mais importantes com XaMutepa, Caungula, Muachissengue e Muachianva Mucanza Samaliamba, este último na Mussumba a 18 de Janeiro de 1887”. “No âmbito da organização e direcção das operações militares de ocupação colonial portuguesa, foi criado através do Decreto de 13 de Julho de 1895, o Distrito da Lunda, tendo Capenda-Camulemba como sede capital e em 1905, 1907 e 1912, são fundados sucessivamente os postos de Caungula, Camaxilo e Mona-Quimbundo”, lê-se numa resenha histórica sobre a província da Lunda Sul. Nesse texto é referido ainda que “em consequência das reformas administrativas da potência colonizadora (Portugal), a Lunda toma em 1917 o carácter de Distrito Militar com sede em Saurimo e a 20 de Abril de 1929, Saurimo recebe a denominação de “Vila Henrique de Carvalho”, em homenagem ao chefe da expedição portuguesa, também primeiro Governador do novo distrito”. Isabel Costa Bordalo 06 21 Julho 2012 Entrevista “Para a frente é o caminho” qualidade tal como em quantidade (aquela parcela desprezível). Com quase quarenta anos de carreira, Eduardo Paim também conhecido como “General Kambuengo”, reaparece no panorama musical depois de 10 anos fora dos palcos, com apresentação da obra “Etu mu Dietu”. Em conversa com o NJ, o também conhecido rei da Kizomba disse-nos que se prepara para fazer um grande espectáculo com amigos bem como dar mais de si a um público que lhe é fiel. Deu conta ainda de algumas inquietações sobre a realidade do mercado musical angolano. Em que medida o tempo passado no exterior do País, ajudou no seu processo de amadurecimento, tanto enquanto Pessoa, como enquanto Artista? Obviamente que é notório. Porque apesar de nós estarmos a dar passos largos rumo ao desenvolvimento, temos que concordar que noutras paragens terão já atingido estágios que nós esperamos alcançar. Acabei por radicar-me em Portugal há mais de 20 anos, e não posso deixar de sublinhar toda a mais-valia que adquiri ao ter dado esse passo. A vivência com outras formas de estar na vida ou seja o acesso a quadrantes que naquela altura não tinha, por mais esforços que fizesse como fazer um curso, recorrer a uma academia de música, o acesso a uma orquestra instrumental diferente do que é uma banda, executados na hora com a possibilidade de aprender também, claro que proporcionam inputs que vão determinar a nossa forma de pensar e de estar. Texto de Jorge Fernandes Fotos de cedidas Qual a sensação, depois de vários anos de silêncio, do reencontro com o seu público? Naturalmente um reencontro com a minha gente da melhor maneira possível. Penso que o show do dia 7, acaba sendo a sequência da história que terá começado há bastante tempo. Porque o zouk é um estilo que influenciou de facto várias nações no mundo. E no perímetro angolano, obviamente os nossos nomes acabam sendo os alvos primários, aqueles que fizeram combinações que proporcionaram a evolução do estágio em que estamos hoje. Vislumbrava um encontro que não foi esse que estava previsto mas “Eduardo Paim, um grande show”, etc… mas surgiu uma oportunidade ainda melhor, pena é que tive pouco tempo para preparar esse reencontro. Contudo, perante os resultados alcançados tenho de me sentir realmente um vencedor, tenho que reconhecer que tenho um público que me é fiel porque deu para sentir. E a ideia seguinte? Ir para a estrada (dentro e fora) ou já há mais projectos em seguida, para além deste CD? Bem, fora de Angola tenho concertos em Agosto. Um Lisboa e outro no Algarve (Portugal). Em Setembro, volto a Lisboa e tenho contactos para alguns festivais que vão acontecer pelo resto da Europa. No momento oportuno poderei avançar os locais e os eventos pois não devo ainda profissionalmente tornar público. A nível de Angola a prioridade é levar o “Etu um Dietu” ao resto do país. Neste momento, tenho em agenda vendas em Benguela, Huambo, Huila e Cabinda, devido aos contactos que foram iniciados. A intenção é continuar e não tenciono só levar o novo álbum mas o Eduardo Paim, para além do disco, que este país demonstra gostar a partir dos vários contactos como por exemplo nas redes sociais que agora se vão tornando importantes bem como ainda no contacto popular. Qual a opinião que tem relativa ao actual estado da música angolana? O balanço é positivo quer a nível qualitativo como quantitativo. Hoje as sensibilidades são diferentes relativamente ao tempo em que comecei (tabus), etc… mas hoje é diferente e como tudo na vida evolui. Assistimos no nosso espectro musical ao surgimento de uma série de quadrantes que antigamente não se evidenciavam. Angola está a ganhar nesse aspecto inclusive do ponto de vista tecnológico e naturalmente vão-se dando passos firmes quer em Os artistas de uma forma geral, acabam, um pouco como os desportistas, por se transformarem num espelho onde as novas gerações se revêem procuram um modelo. Acha que a vossa geração tem cumprido esse papel? De certa forma sim. Não na dimensão que deveria ser, porque ainda somos assolados por uma série de preconceitos, tenhamos coragem de assumir, mas não haja qualquer sombra de dúvidas que o trabalho daqueles por ordem de chegada serem os primeiros, acabam consequentemente por exercer essa influência naqueles que esperam também o seu lugar ao sol. Mas é toda um processo que deveria estar assente em bases mais consistentes para que a passagem de testemunho fosse feita de forma arrumada, ordenada e elucidativa sobretudo assente em recursos a uma série de informações que hoje já começa a ser mais fácil devido à Internet que hoje mudou a vida de toda gente. 21 Julho 2012 07 «...Repare que não existe cachet que pague aquele manifesto, que só é possivel quando as pessoas se identificam com o trabalho que a pessoa faz...sentindo aquele carinho, acho que ficou patente o ser das coisas» “No show da saudade”, houve contratempos alheios à minha vontade” O que é que não correu bem aquando da realização do “show da saudade” o ano passado? Porque é que o Eduardo não cantou? Sei que houve alguma especulação a respeito disso, mas em abono da verdade o que aconteceu naquele dia foi nada mais, nada menos que um contratempo que a chuva causou. Ora, o atraso que a chuva provocou acabou implicando no arranque do espectáculo, penalizando a sequência do show. Por parte da produção houve talvez falta de cuidado, no sentido de se encurtar as performances de cada interveniente. Convenhamos que fazer música a altas horas da madrugada, depende muito do nosso ânimo. Quando uma De forma que o Eduardo contribui? Particularmente e enquanto produtor, a responsabilidade está logo implícita. Uso tudo o que sei no sentido de poder passar a minha experiência da melhor maneira àqueles que a mim recorrerem, sobretudo quando são mais novos. No caso concreto eu venho também nesse momento descrevendo uma trajectória inversa. Preciso de ir à busca de elementos que estão muito mais atrás do que aquilo que a juventude hoje pretende alcançar. Diante deste aspecto, o Eduardo Paim acabou por se afastar um pouco dos palcos para precisamente trabalhar nos bastidores, porque enquanto cantor a realidade é outra. Sendo responsável da EP Estúdio onde os volumes de solicitações não são tão pequenos e tendo que responder a uma certa demanda acaba por haver compromissos comerciais que fazem com que estes tenham prioridade. Que conselhos daria a alguém que está hoje no principio da carreira, numa altura em que assistimos a uma correria, às vezes desenfreada para a fama fácil? Para trabalhar em prol da música existem vários caminhos a seguir. Há aqueles que trabalham e mais para a frente encontram um reconhecimento que vem a ser a consequência do seu trabalho. Daí que quando se trabalha bem somos alvo de algum reconhecimento, não é a nossa figura em causa mas o nosso trabalho. pessoa está minimamente preparada para entrar em cena às 10 ou 11 da noite, e chega às quatro horas da manhã, logicamente que o organismo já começa a ressentir-se . Às tantas ainda estamos a discutir quem entra primeiro e quem actua depois, e acabou criando-se uma situação extremamente frustrante para o meu lado. Seguindo a ordem que a própria produção terá definido, eu entraria antes dos Kassav. Bom, só que quando chega a minha vez a organização decidiu tirar-me daquele que seria o meu momento e pôr-me depois dos Kassav. Isso gerou alguma agitação no terreno porque não aceitei. Eram quatro da manhã os Kassav entrariam para noventa minutos de show, significaria que entraria às seis da manhã. Logo, questionei qual era a razão desta mudança. O programa foi feiNos dias de hoje com a possibilidade de acompanharmos aquilo que se passa no mundo, na América etc… Portanto, às vezes o que assistimos não é o trabalho em causa mas os resultados imediatos que normalmente este trabalho dá. Uns conseguem porque têm dom, carisma. Daí aconselho a juventude a fazer uma reflexão por mais pequena que seja pois ela traz sempre to por uma produção. Porque é que agora os convidados têm de passar por cima de nós? Uma vez havendo esta complicação, disse à produção se vocês não cumprirem com o vosso lado, eu também não tenho razoes para cumprir com mais nada. Aliás, o meu grupo já estava em palco e foi retirado entrando o grupo convidado. Permaneci até ao final do show e obviamente não tinha mais condições e sobretudo o público que foi para me ver vendo esta troca convenceram-se que já não entraria, foram-se embora, uns muitos constrangidos contra mim, outros terão percebido que alguma coisa de errado se terá passado sobretudo as pessoas que me conhecem. Porque eu estava no país, o meu grupo já cá estava e reparem, mesmo não tendo actuado fui pago. Mas atenção e reitero isso. Não actuei não porque não uma luz, e diante disso encontramos o caminho certo. Querer vitórias a curto prazo pode-nos induzir em erro, não consolidar a estrutura que pretendemos como trampolim. Não queiram viver um só momento. Mas num determinado momento podemos criar o sustentáculo de toda uma vida pela frente. Ao olhar para trás, depois de tanta quisesse pois a resposta ficou assente no dia sete na Cidadela. rado algum tempo…acho que ficou patente o ser das coisas. E esse ano foi como pretendia ou nem por isso? Prefiro não me pronunciar sobre isso. Algumas pessoas presentes reclamaram o facto de constantemente estar virado de costas ao público e ficando de frente para a banda. O que tem a dizer sobre esse facto? Muito simples. O momento em que entrei foi o primeiro contacto com palco. Eu nem sequer testes de som fiz, até há instantes perguntou se houve contratempos desta vez. E cada vez que eu tentasse me aproximar mais do público, ficava distante do som e algumas vezes sentia a minha voz a chegar a mim com atraso, então tinha necessidade de voltar. E voltando ficava muito distante do público. E claro está, se me aproximasse ao público ficava distante da banda e vice-versa, porque estava constantemente no vai e vem. Como é que sentiu o feedback do público depois de alguma ausência dos palcos nacionais? Não tenho forma de descrever isso. Porque o público é a melhor parte da nossa história. Repare que não existe cachet que pague aquele manifesto, que só é possível quando as pessoas se identificam com o trabalho que a pessoa faz. Podiam pagar-me um milhão de dólares mas se não estou na mesma sintonia com o público não muda nada. Naquele momento, sentindo aquele carinho e sendo um artista que esteve retiestrada, de tantas experiências, de tanto caminho qual é a sensação? A vida é dinâmica. Nada é estático e estamos perante constantes mudanças. Por mais que consigamos manter uma certa juventude, há aspectos insuperáveis, porém controláveis até certo ponto. A sensação é boa. Na música temos a possibilidade de cantarmos com diferentes pa- drões, como o pai, como a avó etc… o que não acontece no desporto por exemplo (risos). Tudo isso contribui para a nossa espiritualidade, física, mental enfim. E poder hoje partilhar, dividir o palco com gerações mais actuais é a prova que realmente alguma mensagem teremos passado ou ainda estamos em condições de passar. É sempre gratificante poder passar nestas vertentes todas. “A história do Kuduro está a ser mal contada” Ouvimo-lo recentemente numa entrevista da TPA sobre o Kuduro afirmar-se como o precursor deste estilo. Que argumentos tem? Isso não tem história nenhuma. Nunca me vou assumir como o fundador do Kuduro, porque não sou. Agora que sou a origem de muitas coisas que aconteceram até chegar ao Kuduro isso ninguém me pode retirar. Como assim? Muito simples. Vocês antes de dançarem o Kuduro, já dançavam as batidas, o na Jibo, o põe açúcar etc… de onde é que vem? Se forem ao meu primeiro trabalho há um tema que é o na Jibo. Não quero de forma alguma assumirme como o criador do Kuduro, nem muito menos propulsor deste estilo. Mas sou eu, que inicio esta viragem do underground nacional, aquela batida e dicas no meio, sou eu. Quem não concordar deve achar que queira disputar reinado, de jeito algum. Não pretendo ser o rei do Kuduro nem que me pagassem, não é o meu exercício mas foi um género de música que apareceu na sequência de algo. É desta base que me refiro. Porque vejo um protagonismo muito grande à volta de determinados nomes e esquecem-se de outros. Para não haver confusão pergunto: onde é que fica o Bruno de Castro nessa história? Tudo o que apareceu depois tem destaque. Os que fizeram antes perderam. Portanto não é comigo que se têm que preocupar mas a forma como estão a contar a história, é que não está a ser verdadeira. Para chegar ao último degrau não podemos desprezar os primeiros. Há uma sequência de acontecimentos até chegarmos a esta fase. Que fique claro que o Kuduro não surge como estilo de Música mas como Dança. Assim como tínhamos a dança Vaiola que muito se dançou mas não temos nenhum registo de um estilo de música Vaiola. E dançava-se com que estilo de música? Com as batidas que fazíamos naquela altura. A música angolana cresceu bastante, mas faltam estúdios e verdadeiras produtoras, pois sentimos um certo monopólio da LS. O que lhe parece esta situação? A resposta é clara mas não me vou pronunciar. Um mercado não se caracteriza com a venda de um só produto. Mas aqui temos este tipo de situações. Portanto, nada contra a LS mas não é a mim que cabe explicar este assunto. E, o facto de poucos músicos tocarem um instrumento ou de estarmos a ouvir muita coisa excessivamente computadorizada e menos instrumentalizada não o preocupa? A música no tempo em que comecei processava-se duma maneira mais natural do que hoje. Existem agora uma série de mecanismos que nos levam ao mesmo resultado ou próximo do real, sem se calhar fazer recurso áquilo que era necessário antes. Perde-se a autenticidade. Mas o ouvido também é algo que se educa. Como é que foi gravar com Zoca Zoca e Agre G. Tendo conta em a diferença de escolas? Muito bom. E isso vem na sequência daquilo que nós chamávamos de batida. Que não é nada mais, nada menos, que um compasso de Kizomba numa rotação extremamente alta. Porque por norma, em BPM (Beat por minuto), acontece desde os 88 BPM até aos 130, e dentro desta amplitude já conseguimos várias tendências. Daí que quando ultrapassamos esta rotação a temática já é outra. Portanto a introdução destes que são na realidade kuduristas, foi uma simbiose daquilo que já fazia no passado. O meu objectivo não foi fazer Kuduro foi fazer uma batida com alguma nuance daquilo que se consome hoje. 08 20 Julho 2012 Cultura o 2 de volta aos palcos Depois de terem marcado a geração de 90, o grupo que começou a carreira com o nome N´Sex Love e mais tarde o trocou para “O2”, regressou aos palcos após mais de quatro anos de ausência para um grande espectáculo no Cinema Atlântico. O respeito e carinho do público pelo grupo ficou bem patente no último sábado, 14 de Julho. Mais de quatro mil pessoas, de todas as idades, deslocaram-se ao local do evento para ver e ouvir novamente Walter Ananaz, Bigú Ferreira, Ngunza José e João Paulo que não mediram esforços para dar alegria a uma casa cheia e ansiosa por reviver os sucessos registados ao longo de uma carreira de 20 anos marcada por inúmeros ‘hits’. A organização do espectáculo esteve a cargo da LS & Republicano que, o realizou com êxito .” Este é um grupo que marcou gerações, por isso a LS sentiu-se no dever de trazer ao público angolano novamente o grupo O2. Tal como eu, sabia que havia milhares de pessoas a querer o regresso da banda.’ Afirmou Nino Republicano, produtor do evento.. Por volta das 20h, o apresentador, Pedro Benje, dava início ao concerto que começou com um ligeiro «...Tenho as emoções à flor da pele. São momentos que vou guardar para sempre... », João Paulo (02) atraso. Paulo Cabonda foi o primeiro artista a dar música ao Atlântico seguindo-se Papitchulo, Dreams Boys e Louremonc até ao momento da noite: a subida ao palco dos anfitriões. Os “O2” levaram o público ao rubro com os sucessos do seu vasto repertório. A plateia não se cansou de aplaudir e cantar com eles, eufórica, todas as canções. Os mais atentos não resistiram quando o conceituado guitarrista Simmons Manssini se juntou à festa, proporcionando um momento único com a sua guitarra. O show não terminou sem antes actuarem outros conhecidos nomes da música angolana como os Irmãos Almeida, Nicole Ananaz e Jeff Brown. O produtor musical e pianista da banda, João Paulo, revelou estar emocionado com o resultado obtido: ‘Estou muito feliz por esta aderência toda, tenho as emoções à flor da pele. São momentos que vou guardar para sempre. Um publico maravilhoso, acolhedor e que realmente mostrou saudades nossas. Quero agradecer a todos os que nos ajudaram a concretizar este show.’ O grupo encerrou a noite cantando o seu grande sucesso ‘Me desculpa’, levando o público a pedir ‘bis’. Jerónimo Belo Trópico, Sala Luanda: Jazz em maré alta esta noite Estes são os primeiros compassos… A realidade hoje impõe que se tenha em linha de conta mais os “ jazzes” do que os fundamentalismos redutores da imaginação e da criatividade. Uma arte em permanente movimento como é o caso do Jazz, é sempre viva e actual, projectandose para além dos pequenos guetos estéticos, dando-nos a ouvir vozes marcantes nas suas expressões mais diversificadas. O saxofonista de Porto Rico, Miguel Zenón, antigo membro do San Francisco Jazz Collective, da Liberation Music Orchestra, do contrabaixista Charlie Haden, e da Mingus Big Band, entre outras colaborações importantes, que a História do Jazz não esquecerá, e que tem partilhado a música em cima dos palcos e na intimidade dos clubes de Jazz, nomeadamente com músicos da craveira de David Sanchez, Danilo Perez, Bo- bby Hutcherson, Ray Barreto, Steve Coleman e Brandford Marsalis, toca esta noite o seu primeiro concerto, no âmbito do programa “Jazz no calor da Noite”, que nesta altura celebra a sua 28ª edição. Zenón, 36 anos, é considerado um dos nomes mais badalados da nova geração de saxofonistas e tem tido uma carreira meteórica desde que terminou há uns anos os seus estudos nas prestigiadas instituições de ensino do Jazz nos Estados Unidos, na Berkley e na Manhattan School of Music. Na sua bagagem para Luanda traz um Jazz de sabor latino, de tonalidades e sonoridades quentes, cristalino como as águas do Caribe. Conhecedor do seu passado e da história e cultura do seu povo, pratica um especial tipo de fusão, o policentrismo jazzístico, que amplia fortemente e no melhor sentido o já conhecido “ jazz Latino” em versão afro-caribenha, que cruza as músicas de Puerto Rico com o mais sofisticado academismo que hoje os músicos aprendem nas Universidades e Escolas Superiores dignas do maior respeito, como será o caso da Berkley e da New School of Jazz. Miguel Zenón vai demonstrar também em Luanda a insuspeitada vitalidade do BeBop. É sabido que os boppers são desde sempre exímios instrumentistas e Zenón não é exceção. Claro que toca de forma moderna a sua música, um Neo Bop com laivos ameríndios, caribenhos; mas talvez mais do que um produto evoluído do Bop, ele é, segundo a opinião do grande especialista Leonel Santos “ um produto do Jazz, de todo o Jazz, que se fez nos últimos 50 anos”. A banda de Miguel Zenón é constituída por músicos excelentes, com destaque para o criativo Luis Perdomo, da Venezuela (Luanda já o ouviu ao lado da saxofonista Tia Fuller, em Abril de 2011). Hans Glawischnig no contrabaixo, de nacionalidade austríaca, e o porto-riquenho Henry Cole na bateria completam o grupo. Um “groove” contagiante, uma música saborosa, o saxofone de Zenón abrindo caminhos por entre as síncopes de Cole e Perdomo, com emotivos fraseados Bop e mais as flutuações harmónicas suficientemente arrojadas e interessantes, tornarãoseguramente- estes concertos cativantes. Se o Jazz fosse apenas Miguel Zenón Quarteto, já seria um mundo. AtéJazz! 09 20 Junho 2012 Espaço Livre CRÓNICA Miopia Crónica Aoaní D`alva Operação Fantasma José Carlos não se aguentava de ansiedade. Fez o check in e dirigiu-se imediatamente à sala de embarque, embora o vôo só tivesse lugar duas horas depois. Depois de um longo período longe de casa, voltar era sempre o mesmo. A noite quase sem dormir na véspera, os telefonemas, as saudades que pareciam mais intensas e profundas. Voltar era sempre um sonho, mesmo que fosse por pouco tempo. As coisas corriam bem naquele dia. Não se tinha atrasado, como das outras vezes, por isso conseguiu fazer tudo nas calmas, sem correrias. Na sala de embarque tudo tranquilo também, encontro uma colega de faculdade que ia para a China, com quem passou as duas horas restantes a conversar tranquilamente. Até o voo foi tranquilo, não houve problemas nem com o tempo e nem com os passageiros. Chegado a Luanda, as coisas continuam a correr bem. É dos primeiros a passar pelo crivo da alfândega e a retirar as suas malas do tapete. Enquanto espera pela sua vez de passar pelo raio-X, altera o status do Facebook. “De volta a casa. @ Luanda”, anuncia. Nos dez minutos que levou a passar pelo scaner, sair da área restrita à passageiros e abraçar à mãe e a irmã, recebeu 17 “likes” e seis comentários a marcarem saída. Enquanto esperava que a irmã pagasse o parque, foi conversando com a mãe. Alheio as pessoas que estavam à sua volta, falou cos projectos, das várias coisas que tinha trazido e que bem empregues dariam algum lucro à família toda. Continuou a falar sem preocupações, do lado de fora, quando esperava pela irmã que fora buscar o carro. E continuou a discorrer sobre várias coisas e assuntos, enquanto o jovem maltrapilho ajudava a pôr a mala no porta-bagagens. Com tantas novidades sobre a faculdade, os negócios, os amigos que casaram e descasaram, os parentes que nasceram e partiram, os três tinham muito que conversar. Então seguiram viagem sem prestar muita atenção no que acontecia a seu redor, descontraí- dos e felizes que estavam. Nada, o dia todo, fazia prever os acontecimentos que se seguiam. Quando chegaram a casa, João Carlos desceu para abrir o portão, enquanto a irmã punha o carro no quintal. Antes de conseguir fechar outra vez o portão, foi rendido por quatro homens armados com pistolas e facas. Três deles renderam a família, apontando uma arma a cabeça de cada um. Acuados, foram obrigados a encostarem-se à um canto da garagem. Eles pareciam saber o que queriam. Enquanto dois ficaram a vigiar a família, os outros dois descarregaram a s malas e levaram lá para fora. Cerca de 20 minutos depois deles se terem ido, mãe e filhos continuavam no mesmo lugar, o pavor a toldar-lhes os movimentos. Chamaram a polícia, mas pouco tinham a dizer. Não conseguiam lembrar-se dos rostos, ainda estavam abalados demais para falar sobre o assunto. “Qualquer palavra que eles tenham dito?”, insistia o inspector da DENIC. Nada. Eles simplesmente bloquearam. No dia seguinte, mais calmos e ligeiramente refeitos do choque, começaram a rever o assunto e a remexer nas memórias ainda penosas. Chegaram a conclusão de que pouco tinham a acrescentar à polícia. Continuavam sem conseguir dar uma descrição detalhada do rosto dos meliantes. Não sabiam dizer como é que as malas tinham sido transportadas, já que não lhe fora permitido olhar para fora. As únicas coisas de que se lembravam eram dos canos das armas apontadas às suas cabeças. O inspector saiu daquela casa frustrado. Era o terceiro caso naquela semana. E pela terceira vez, as vítimas tinham poucos subsídios a dar. Toda a unidade que comandava estava em polvorosa, atrás do bando. Tinham começado a chamar a caça aos bandidos de operação fantasma, pela dificuldade de os encontrar. Eles pareciam mesmo fantasmas, apareciam do nada e desapareciam sem deixar rasto. «Eles pareciam mesmo fantasmas, apareciam do nada e desapareciam sem deixar rasto» « O escritor e jornalista João Bernardo de Miranda dá à estampa o seu novo romance “Hebo” pela “Texto Editores”.Uma passagem intensa pela guerra angolana, e as nossas vivências familiares e sociais» ÁGORA Fernando Pereira Revisitar é preciso! A derrota da seleção angolana de basquetebol, frente à congénere russa, no recente play-off de apuramento para os Jogos Olímpicos de Londres, deixou no quotidiano desportivo nacional um sentimento enorme de desilusão e frustração. Há alguns tempos a esta parte que vamos assistindo a sucessivos insucessos no quadro competitivo das seleções nacionais, e nem as recentes vitórias dos selecionados femininos de andebol e basquetebol conseguem esconder o estado précomatoso do desporto nacional. Se olharmos em redor, vemos que o futebol angolano não consegue ultrapassar a mediania no continente, quer a nível de clubes quer ao nível das diferentes seleções. O basquetebol, apesar do mérito indiscutível da conquista do campeonato africano por parte da seleção feminina, vê o seu selecionado masculino a soçobrar porque a renovação não foi feita no tempo devido. No andebol feminino vamos mantendo a hegemonia, mas no andebol masculino vamos sendo cada vez piores. As outras modalidades coletivas começam a estar apenas a um patamar acima do desporto de recreação, o que as torna irrelevantes no quadro competitivo. Nas modalidades individuais o marasmo é demasiado evidente. O estado geral do desporto angolano, depois de um período de mobilização de vontades, de dinamismo organizativo, de participação massiva, com políticas desportivas objetivas conseguiu guindar o desporto angolano para a primazia ao nível continental e para o galarim das grandes competições internacionais. Não vale a pena procurar culpados pela situação atual, porque a realidade tem a ver com a ausência de políticas económicas e sociais perenes no País e consequentemente a desarticulação das políticas sectoriais, onde a cultura física e o desporto é uma vertente com alguma importância na promoção e formação da juventude angolana. Enquanto se vai deixando abastardar a política desportiva, que teve os seus cabocos no início da década de oitenta do século passado, vamos assistindo a um cada vez maior divórcio entre a juventude e a prática desportiva regular, por vários motivos onde avulta a falta de organização das estruturas e a desmotivação que se vai instalando, mercê do aparecimento de novas conceções impactantes na chamada “sociedade de mercado”. As federações desportivas foram-se transformando em lugares de discussão estéril e de afirmação para alternativas que a maior parte das vezes pouco têm a ver com o desporto. Durante as eleições discutem-se pessoas e não se consegue vislumbrar programas de trabalho onde se promova a área formativa de técnicos e dirigentes, mobilização de recursos tendentes a possibilitar uma adesão massiva de crianças, adolescentes e jovens, desenvolver o quadro competitivo nos diferentes escalões e alargá-lo a todo o País, e no fim assumir a seleção nacional como reflexo de todo um trabalho continuado e largamente participado. A manter-se esta situação, vamos ver regredir, mais rápido do que aparentemente se julga, o desporto angolano para algo do tipo “quintal” que era mais ou menos aquilo a que se assistiu no estertor do tempo colonial. É absolutamente indispensável um grande debate sobre a cultura física e o desporto, com caracter de urgência, e que daí saiam, para a nova Assembleia Nacional, propostas de legislação que permitam mobilizar a juventude, aliciá-la para uma atividade física regular e incutir-lhe valores de solidariedade, lealdade e respeito tão queridos na sã competitividade. Obrigar o Estado a dar verbas suficientes para a formação e motivar as empresas para contribuírem para a sustentabilidade da atividade competitiva nacional e nas competições internacionais, são apenas algumas das muitas propostas que têm que ter enquadramento legal e cumprimento obrigatório de forma a não deixarmos sectores tão importantes ao sabor dos balanços do “mercado”, da volatilidade da “mercadoria” e claro dos “sabores e dissabores” de alguma gente. A cultura física e o desporto têm que voltar a ter a mesma importância que a saúde, a educação e a cultura, num quadro de uma sociedade que se pretende mais harmoniosa e menos ostensiva e pedante ao nível da afirmação de valores. Quando se mudarem dirigentes desportivos, tem que se ter em consideração que o mais importante mesmo é mudar-se de política. Era muito bom que cada vez mais tivéssemos aberto melhorados caminhos à política desportiva encetada por Ruy Mingas e a sua equipa há mais de trinta anos, mas a realidade demonstra à saciedade que a regressão nalguns casos é demasiado evidente, o que não deixa de ser preocupante. 10 20 Julho 2012 Variedades Em cena Páginas de leitura: Palavras de um mesmo, outro lugar AbreuPaxe Paxe Abreu Literatura infantil e andanças: pedagogiacomunicação e entretenimento inteligente? Pensando nos rumos que a literatura feita para crianças, entre nós, está a tomar e pensando ainda nos desafios que o estado angolanos terá de enfrentar, no processo de sistematização de conhecimentos, saberes, crenças e valores asseguradas por instituições afins, vamos desenvolver neste espaço algumas reflexões, primeiro à volta do ambiente que orientou o surgimento da literatura para a infância, segundo contrastar estes e os diferentes momentos que esta literatura conheceu com o que se vai fazendo em Angola, a partir do plano da tradição, dos primeiros e dos diferentes momentos da escrita para crianças entre nós. Para daí, percebermos o que esta literatura recupera e projeta como valores e conhecimentos no circuito de difusão e da audiência adulta-infantil, a contínua existência de uma receção bifronte “adulto plus criança”. Em Angola, lendo Helena Raúzova e Gabriela Antunes, percebemos que apenas se começa a falar de uma “literatura escrita para crianças”, numa primeira fase, a partir da década de 1940 com os artigos de Lília da Fonseca publicados em jornal e, noutra fase, já recenseada por Helena Riaúzova de 1975 a 1985, como facilmente se entenderá se se tentar um pouco nos efeitos da independência, das transformações económicas, políticas, sociais e educacionais que se registaram depois de 1975, estas transformações vêm alterar um pouco os postulados da primeira fase iniciada por Lília da Fonseca, aqui nesta fase, percebemos que a semelhança da tradição oral, ou seja, na sociedade antiga, não havia a “infância”: nenhum espaço separado do “mundo adulto”. As crianças trabalhavam e viviam junto com os adultos, testemunhavam os processos naturais da existência (nascimentos, doença, morte) participava junto deles da vida pública (política), nas festas, guerras, audiências, execuções, etc., tendo assim seu lugar assegurado nas tradições culturais comuns: na narração de histórias, nos cantos, nos jogos. Estou, no entanto, a pensar no lema “ A caneta é a arma do pioneiro” ou “o mito ou história de Augusto Ngangula”, vemos que aqui não havia criança, mas sim o pioneiro é a ideia que podemos colher em “As Aventuras de Ngunga” de Pepetela, em que um pioneiro é o protagonista, em que lhe dão vontades e atitudes no mundo que partilha com os adultos num ambiente de guerra e nas matas do Moxico, ou ainda o texto de Manuel Rui “os meninos do Huambo”, no qual os meninos são engajados “constroem sonhos de mãos dadas com os mais velhos”. Mas o que se projetou acima naturalmente, por um lado, contrasta com o ambiente político, económico e ideológico da época e, por outro, dialoga com os aspetos pedagógicos e culturais com fins ideológicos, esta dualidade vem claramente expressa a partir das projeções históricas do que vamos dizer a seguir a volta desta literatura. Somente + a “infância” aparece enquanto «Para daí percebermos o que esta literatura recupera e projecta como valores e conhecimentos no circuito de difusão e da audiência adultainfantil...» instituição económica e social, surge também a “infância” no âmbito pedagógicocultural, evitando-se “exigências” que anteriormente eram parte integrante da vida social e, portanto, obviedades. Que fatores, então, contribuíram para a modificação deste quadro e que mudanças se operam? Zilberman, esclarece-nos em síntese do seguinte modo: “ é a ascensão da ideologia burguesa a partir do século XVIII que modifica esta situação: promovendo a distinção entre o sector privado e a vida pública, entre o mundo dos negócios e a família, provoca uma compartimentação na existência do individuo, tanto do âmbito horizontal, opondo casa e trabalho como no vertical, separando a infância da idade adulta e relegando aquela a condição de etapa preparatória aos compromissos futuros. Promovendo a necessidade da formação pessoal do tipo profissionalizante, cognitivo e ético, a pedagogia encontra um lugar destacado no contexto da configuração e transmissão da ideologia burguesa, dentro deste panorama é que emerge a literatura infantil, contribuindo para a preparação da elite cultural, através da reutilização do material literário oriundo das duas fontes e contrapostas: a adaptação dos clássicos e dos contos de fada de proveniência folclórica A literatura escrita, de textos de literatura infantil, escreve Aguiar e Silva – “constitui um fenómeno historicamente recente, mas as raízes da literatura infantil produzida e recebida oralmente afundam-se na espessura dos tempos e apontam para matrizes várias: mitos, crenças e rituais religiosos, invariantes ou constantes antropológicos do imaginário, símbolos ligados ao trabalho e as suas relações com os ciclos de vida da natureza, acontecimentos históricos… narrativas, canções, adivinhas, etc., destinadas a educar e a satisfazer ludicamente as crianças têm circulado assim oralmente desde há muitos séculos. Não tem sido diferente na literatura infantil angolana, nela constatar-se isso por via das temáticas em que o escritor adulto que escreve para crianças, ou recupera estórias do património literário oral, estamos a pensar em Henrique Guerra com o Livro “Três Histórias Populares”, em Costa Andrade, Luandino Vieira, Samwila Kakweji, Raul David entre outros, ou recria estas mesmas histórias adaptadas ao nosso contexto estamos a pensar em Dario de Melo, Maria Eugénia Neto, Gabriela Antunes, Jonh Bella, Kanguimbo Ananas, Ondjaki, Octaviano Correia, entre outros, ou também inventaria o nosso cotidiano e o das crianças e o projetam para a escrita, com a finalidade de instruir e de educar ludicamente, estamos a pensar em Cremilda de Lima, Celestina Fernandes, Yola de Castro, Maria do Carmo, Rosalina Pombal, Maria João, Marta Santos, José Mena Abrantes, Jorge Macedo entre outros. Deste modo, percebemos que o primeiro objetivo era, pois, modernizar a ensino (e consequentemente o país), reordená-lo aos interesses da colonização e, o segundo objetivo era, poís, orientar o país ao serviço da ideologia de orientação socialista e, por fim, a olhar para o património popular como herança necessária. Este desenho que apresentamos está na origem de textos em que se manifesta maior atenção às realidades do nosso mundo e seus ritmos e, aqui e acolá, uma sensibilidade particular às condições de vida das crianças afetiva e socialmente mais desprotegidas. Em suma, pensamos que a literatura infantil quer oral quer escrita, deve desempenhar uma função relevantíssima, atendendo aos seus destinatários, na modalização do mundo, na construção dos universos simbólicos, na convalidação de sistemas de crenças e valores, a par da importante função lúdica e o de contribuir decisivamente para a educação e estética da criança e para a aquisição do gosto pela leitura. Exposição sobre Saramago patente em Lisboa A Fundação José Saramago, dirigida pela jornalista e escritora Pilar del Rio, companheira do Prémio Nobel falecido há dois, anos a 18 de Junho e instalada na Casa dos Bicos, em Lisboa, Portugal, vem tendo uma extraordinária afluência de público, acomanhando a exposição “A Semente e os Frutos” que descreve a vida do magnifico escritor. Rolling Stones há 50 anos A caminho dos 80 anos de idade, os integrantes dos Rolling Stones, estão a comemorar 50 sobre o seu primeiro concerto. Tendo recusado participar na abertura dos Jogos Olímpicos em Londres, segundo Mick Jagger, por não estarem preparados, Keith Richards já veio garantir um regresso aos palcos, sem adiantar nenhuma data. DisponivEl mais literatura infantil Numa longa lista de livros considerados importantes para as crianças, três são de destacar: “Peter Pan e Wendy” de J.M. Barrie, a estória do menino que se recusa a crescer, aconselhado a partir dos 8 anos; as “Fábulas” de La Fontaine, com 14 fábulas, entre as quais “A galinha dos ovos de ouro” e “O lobo e o cordeiro”, orientadas para crianças a partir dos 10 anos. E o inevitável “Pinóquio” de Carl Collodi, escrito no final do séc. XIX dirigido a crianças a partir dos 7 anos. 20 Julho 2012 Passatempo Tema: Dia Internacional “Nelson Mandela” 11 Edição 2012