Tabela de Publicidade

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Tabela de Publicidade
Tabela de Publicidade
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FORMATO: 271 mm x 410 mm • MANCHA GRÁFICA: 260 mm x 380 mm
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17 Dezembro de 2010 - Luanda 200 Kwanzas - Províncias 250 Kwanzas
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2.
ACIDENTE MATA 16 NO LIBOLO
Dezasseis pessoas morreram e 13 ficaram gravemente feridas no despiste de um autocarro no Libolo,
Kwanza Sul, que vinha da província
Bié. Testemunhas dizem que o excesso de velocidade estará na causa do acidente, cujos feridos foram
transferidos para Luanda. Angola está no topo dos países com mais
mortes devido a acidentes rodoviários, com uma média anual a rondar
os três mil.
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EMBAIXADORA REGRESSA
As contas da Embaixada de Angola nos EUA continuam bloqueadas,
mas as autoridades encontraram razões suficientes para mandar de volta a Washington a embaixadora Josefina Pitra Diakité, que estava em
Luanda desde 16 de Novembro. O
regresso da diplomata configura o
interesse de Angola em não tornar a
sua ausência num sinal de mal estar
e sugere progressos nas consultas
que os dois governos mantêm soZA
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bre a matéria. Enquanto isso e num
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exercício tido como desfasado, o
ministro George Chicoty despachou
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América do MIREX, que oneleita
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>> P. 20
AS EMPRESAS AROSFRAM, AFRIBELG E GOLFRATE estão proibidas de efectuar operações
comerciais nos EUA, na sequência da suspeita de que um dos seus accionistas, o libanês Husayn
Tajideen tem ligações ao grupo terrorista Hezzbolah. Os sócios angolanos, “Kito” Dias dos Santos
e Artur Almeida Silva foram aconselhados a desfazerem a sociedade que, de acordo com os norte>> P. 31
americanos, é utilizada para financiar o terrorismo.
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ARTES
Dakar da cultura
Capital
negra
>> P. 16
EXPLORAÇÃO INFANTIL
Angola consta da lista de nações
onde foi detectada a utilização de
mão-de-obra infantil ou trabalho forçado, segundo um relatório
do Departamento do Trabalho dos
EUA. “O Governo (angolano) continua a participar em programas para
o combate das piores formas de trabalho infantil. No entanto, a grande
variedade de trabalho infantil persiste e crianças a trabalhar nas ruas e na agricultura continuam a ser
um problema”, sublinha o relatório
que indica ainda que crianças angolanas são traficadas para a RDC,
Namíbia, África do Sul e na Europa,
principalmente Portugal.
e a Huíla
>> P. 02
PROVINC
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ALTURA
380 mm
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51 mm
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182 mm
91 mm
USD
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3.000
2.750
1.800
1.700
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3.500
2.500
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3.000
2.000
950
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>>P.06
Malanje
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>>P. 08
>>P. 04
>> P. 21
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>>P. 11
Quim Ribeiro vítima de atentado
Última hora
O EX-COMANDANTE DA POLÍCIA EM LUANDA, Joaquim Ribeiro, foi vítima ontem , às 19H35, de
um atentado quando desconhecidos, que se faziam transportar numa viatura com credencial do
Ministério do Interior, com a matrícula LD 24-89 BG , dispararam contra ele na estrada da Samba.
Houve uma troca de tiros mas o comissário saiu ileso. O incidente ocorre depois de na semana
passada uma sua quinta nos arredores de Luanda ter sido assaltada.
1º CADERNO
ECONOMIA
MUTAMBA
Medalhas não são
consensuais
Angola vai bem
e recomenda-se
Miss Angola
é amanhã
Condecorações
JORNALISMO DE REFERÊNCIA.
escimen
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Nem só de
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Luandactur
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DESIGNAÇÃO
LARGURA
Página dupla
520 mm
Página ímpar
260 mm
Página par
260 mm
1/2 Página ímpar
260 mm
1/2 Página par
260 mm
1/2 Página ímpar verical 127 mm
1/2 Página par verical
127 mm
Rodapé 1ª Página
260 mm
Rodapé suplementos
260 mm
Rodapé Página ímpar
260 mm
Rodapé Página par
260 mm
Orelha 1ª Página
38 mm
Orelha 1ª Página sup.
38 mm
1/4 Página
127 mm
1/8 Página
127 mm
> >P. 08
Banca
>> P. 06
1 Página
1/2 Página
ao Baixo
1/2 Página
ao Alto
Orelha
Beleza
>> P. 22
1/4 Página
1/8 Página
Rodapé
fotografia
Quintiliano dos Santos
1ª exposição
>> P.05
eduardo paim
“etu mu dietu”
dez anos depois
figura da semana
actualidade
CULTURA
Fly Squad
Memórias
Show
De Henrique
de Carvalho
O2
de regresso
>> P. 04
>> P. 05
>> P. 08
As batalhas através
das palavras
>> P.07
04
20 Julho 2012
Figura da Semana
FLY SKUAD
O rap
está
vivo ...
Chama-se FIlipe Quiala e é
proveniente do movimento underground. Começou a trilhar o seu
caminho na música com apenas
13 anos quando estudava no Liceu
Mutu-Ya-Kevela. Nessa altura, fazia
‘freestyle’, ou seja, improvisos líricos
nas ruas da cidade capital e começava a impressionar vários amantes do
rap. As batalhas verbais que iniciou
ainda muito jovem deram-lhe a capacidade de superar vários obstáculos que a estrada do hip hop traz na
bagagem e ajudaram-no a adquirir
várias qualidades como mc (mestre
de cerimónias).
Na altura, representava sozinho
dentro do movimento hip hop um
bairro que era marcado pela violên-
cia entre gangues rivais. Apesar de
assistir de perto ao cenário que se
desenvolvia à sua volta, Fly Skuad
nunca se deixou influenciar pelo
meio e manteve estreito o elo de
ligação com a música como hoje
reporta nas suas faixas musicais.
Para ele, as batalhas eram travadas
através de palavras, do pensamento
e da escrita que tem desenvolvido
até hoje.
O surgimento do seu nome artístico
começou em casa. Desde criança
que o pai o chamava de Fly. Mais tarde, por muitos acharem que tinha a
capacidade de fazer o que um grupo
conseguia num ‘rompimento verbal’
quando se deparava com opositores,
deu origem ao nome ‘Skuad’.
Com o decorrer do tempo, o artista
conheceu outros bons mc’ s como
The Hot Mc, Subversivo, Infinito,
New Man, Negrado, Perispírito e
criaram, em 2004, o grupo ‘Caixa de
Pandora’ a que mais tarde, em 2006,
se juntaram Lucassio Messias e Balta P. Até hoje o grupo mantém-se
firme e trabalha para o desenvolvimento do estilo.
Apesar de ter companheiros de estrada, Fly Skuad trabalha paralelamente nos seus projectos a solo. Em
2009, depois de se ter unido ao amigo e produtor musical A.O.S, lançou
a sua primeira mixtape intitulada
‘Directamente do Underground’. O
projecto correu de ‘boca em boca’ e
deu-lhe o impulso para começar a
«...o objectivo é
levar...a minha
música...seguindo
um só caminho: o da
verdade»
ganhar ainda mais expressão.
Em 2010, a convite
do CEO, Dj Samurai,
assinou por uma das
mais antigas e respeitadas editora do país, a Mad
Tapes. Desde essa altura
tem feito participações em
vários projectos musicais,
deixando os amantes do
hip hop desejosos por
ouvir uma obra sua. Hoje
transporta o peso de ser um
dos rappers de quem muito
se espera e o de carregar alcunhas como Underground
King, Illuminati ou Nova Jóia
do Movimento Hip Hop.
Essa espera, já tem agora data para
cessar pois a Mad Tapes já anunciou
a data do lançamento do seu primeiro projecto oficial, o EP intitulado
‘Extractos’ que será lançado este Domingo, dia 22 de Julho na Praça da
Independencia em Luanda.
Segundo palavras do próprio artista, o seu objectivo é ‘levar, com humildade, a minha música para que
chegue aos ouvidos de toda gente e
tentar tornar gigante o movimento
que represento seguindo um só caminho: o da verdade’.
Mariana Rodrigues
Perfil
Nome completo: Filipe
Nunda Quiala
Idade: 24
Habilitações académicas:
estudante universitário no
curso de Gestão de Empresas
Artista Nacional: Raf Tag
Artista Internacional:
Immortal Technnique
Livro: Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago
Filme: A Lista de Schindler
Prato favorito: o funge da
minha avó
20 Julho 2012
Actualidade
05
A União dos Escritores Angolanos realizou
quarta-feira mais uma “Maka”, desta vez
com a presença da escritora Cremilda de
Lima que se debruçou sobre a literatura
infantil angolana - “continuidades”.
Exposição retrata expedição
do primeiro governador da Lunda
Em 1884, o major Augusto Henrique Dias de Carvalho iniciou uma
expedição em Angola, que tinha
como destino a Mussumba (corte)
do império Lunda. Um século depois
o que resultou dessa viagem, que
durou cerca de quatro anos, pode
ser visto em Portugal, numa exposição organizada pela Sociedade de
Geografia de Lisboa, sob o título
«Memórias de um explorador».
Patente até ao dia 31 de Julho, a
exposição percorre o vasto espólio
da colecção doada por Henrique de
Carvalho à Sociedade de Geografia
de Lisboa. Nela podem ser vistos
alguns documentos, mapas, fotografias e objectos que constituíram
a preparação e o resultado da expedição do explorador português, que
veio a ser o primeiro governador da
Lunda.
A viagem de Henrique de Carvalho
iniciou-se em Maio de 1884, a partir
de Malanje, com o objectivo de atingir a Mussumba do império Lunda,
situada na actual República Democrática do Congo.
Já antes tinham passado pela Lunda, no coração da África Central,
várias expedições, donde se destacam a de “David Livingston, enviado pela London Missionary Society
em 1840, a Verney Lovott Camaron,
do alemão Otto Schuth em 1887, de
Max Bucher em 1879”. A do major
Henrique Carvalho é, no entanto,
considerada a “mais célebre” de todas e a que deixa mais marcas.
Da longa e dura expedição científica, diplomática e comercial à Lunda (Angola), entre os anos de 1884
a 1887, resultou a constituição de
colecções científicas no âmbito da
etnografia, fauna e flora, o registo
de observações meteorológicas, um
álbum fotográfico e a publicação de
uma obra em oito volumes.
Henrique Carvalho acabou por doar
essa vasta colecção etnográfica à Sociedade de Geografia de Lisboa que a
coloca agora à disposição do público
português, nesta mostra patrocinada pela Fundação para a Ciência
e Tecnologia no âmbito do Projecto
Explora e que tem como curadora a
professora Manuela Cantinho.
A exposição conta ainda com o apoio
da Fundação Escom que, como investidor em Angola, se quis associar
a esta iniciativa, no âmbito da sua
política de mecenato cultural.
“A exposição retrata a zona das Lundas, onde temos investimentos na
área da exploração mineira”, explicou ao Novo Jornal José Tavares de
Almeida, lembrando que já em 2010
Cunene visto a partir de Luanda
Foi aberta esta semana e decorrerá até ao final do mês, a
exposição fotográfica de Quintiliano dos Santos, no Centro de
Imprensa Aníbal de Melo denominada “Cunene acção e desenvolvimento”.
A amostra retrata a nova realidade da província do Cunene, as
infra-estruturas erguidas e projectos em execução, bem como
é uma oportunidade de conhecer a cultura e as tribos que nela
habitam.
Segundo o fotógrafo, esta apresentação possibilitará às pessoas
uma viagem a partir do centro da cidade capital, sendo que nem
todos têm a possibilidade de ver e admirar as belezas da cidade
de Ondjiva in loco.
Quintiliano dos Santos avançou que estarão patentes ainda na
amostra os vários domínios da vida socio-política e cultural daquela província. Assim sendo, o fotógrafo mostrou por via desta
exposição os avanços no domínio da saúde, com a reabilitação
do Hospital Central do Cunene, a construção de várias unidades
hospitalares, o apetrechamento de escolas, a construção de centenas de habitações sociais, a substituição dos postes de energia
entre Ondjiva e a Namíbia suportados pela subestação de Nepalala, ainda, estradas, um centro de tratamento de água e hotéis
entre outros empreendimentos.
Esta é a primeira exposição individual de Quintiliano dos Santos. Participou em várias exposições colectivas. Actualmente
responde pela editoria de fotografia desta publicação e é membro da Associação dos Repórteres de Imagem de Angola (ARIA).
J.F.
a Fundação Escom resolveu lançar a
edição portuguesa do livro «A arte
decorativa Chokwe», da investigadora belga Marie Louise Bastin, com o
objectivo de colocar à disposição do
mundo lusófono um livro cujo “valor
científico é referência obrigatória
para os investigadores, estudantes
e o público em geral”, referiu então
o presidente da Escom, Hélder Bataglia.
Ao longo de um mês podem ser vistos, na Sociedade de Geografia de
Lisboa, documentos, fotografias,
mas também objectos Chokwe e Kongo dessa importante colecção.
Henrique Augusto Dias de Carvalho
foi o primeiro governador da Lunda
Sul, entre 1920 e 1957, muito depois
da sua expedição, durante a qual
assinou “vários tratados de protectorados com chefes Lunda-Tchokwe,
sendo os mais importantes com XaMutepa, Caungula, Muachissengue
e Muachianva Mucanza Samaliamba,
este último na Mussumba a 18 de Janeiro de 1887”.
“No âmbito da organização e direcção das operações militares de
ocupação colonial portuguesa, foi
criado através do Decreto de 13 de
Julho de 1895, o Distrito da Lunda,
tendo Capenda-Camulemba como
sede capital e em 1905, 1907 e 1912,
são fundados sucessivamente os
postos de Caungula, Camaxilo e
Mona-Quimbundo”, lê-se numa resenha histórica sobre a província da
Lunda Sul.
Nesse texto é referido ainda que “em
consequência das reformas administrativas da potência colonizadora
(Portugal), a Lunda toma em 1917 o
carácter de Distrito Militar com sede
em Saurimo e a 20 de Abril de 1929,
Saurimo recebe a denominação de
“Vila Henrique de Carvalho”, em
homenagem ao chefe da expedição
portuguesa, também primeiro Governador do novo distrito”.
Isabel Costa Bordalo
06
21 Julho 2012
Entrevista
“Para a frente é o caminho”
qualidade tal como em quantidade (aquela parcela desprezível).
Com quase quarenta anos de carreira, Eduardo Paim
também conhecido como “General Kambuengo”,
reaparece no panorama musical depois de 10 anos fora
dos palcos, com apresentação da obra “Etu mu Dietu”.
Em conversa com o NJ, o também conhecido rei da
Kizomba disse-nos que se prepara para fazer um
grande espectáculo com amigos bem
como dar mais de si a um público
que lhe é fiel. Deu conta ainda
de algumas inquietações
sobre a realidade do mercado
musical angolano.
Em que medida o tempo
passado no exterior
do País, ajudou no
seu processo de
amadurecimento, tanto enquanto Pessoa, como
enquanto Artista?
Obviamente que é notório. Porque apesar de
nós estarmos a dar passos
largos rumo ao desenvolvimento, temos que concordar
que noutras paragens terão já
atingido estágios que nós esperamos alcançar. Acabei por
radicar-me em Portugal há mais
de 20 anos, e não posso deixar de
sublinhar toda a mais-valia que
adquiri ao ter dado esse passo.
A vivência com outras formas de
estar na vida ou seja o acesso a
quadrantes que naquela altura
não tinha, por mais esforços que
fizesse como fazer um curso,
recorrer a uma academia de música, o acesso a uma orquestra
instrumental diferente do que é
uma banda, executados na hora
com a possibilidade de aprender
também, claro que proporcionam
inputs que vão determinar a nossa forma de pensar e de estar.
Texto de Jorge Fernandes
Fotos de cedidas
Qual a sensação, depois de vários
anos de silêncio, do reencontro
com o seu público?
Naturalmente um reencontro com
a minha gente da melhor maneira
possível. Penso que o show do dia 7,
acaba sendo a sequência da história
que terá começado há bastante tempo. Porque o zouk é um estilo que
influenciou de facto várias nações
no mundo. E no perímetro angolano, obviamente os nossos nomes
acabam sendo os alvos primários,
aqueles que fizeram combinações
que proporcionaram a evolução do
estágio em que estamos hoje. Vislumbrava um encontro que não foi
esse que estava previsto mas “Eduardo Paim, um grande show”, etc…
mas surgiu uma oportunidade ainda
melhor, pena é que tive pouco tempo
para preparar esse reencontro. Contudo, perante os resultados alcançados tenho de me sentir realmente
um vencedor, tenho que reconhecer
que tenho um público que me é fiel
porque deu para sentir.
E a ideia seguinte? Ir para a estrada (dentro e fora) ou já há mais
projectos em seguida, para além
deste CD?
Bem, fora de Angola tenho concertos em Agosto. Um Lisboa e
outro no Algarve (Portugal). Em
Setembro, volto a Lisboa e tenho
contactos para alguns festivais que
vão acontecer pelo resto da Europa. No momento oportuno poderei
avançar os locais e os eventos pois
não devo ainda profissionalmente
tornar público. A nível de Angola a
prioridade é levar o “Etu um Dietu”
ao resto do país. Neste momento,
tenho em agenda vendas em Benguela, Huambo, Huila e Cabinda,
devido aos contactos que foram
iniciados. A intenção é continuar e
não tenciono só levar o novo álbum
mas o Eduardo Paim, para além
do disco, que este país demonstra
gostar a partir dos vários contactos
como por exemplo nas redes sociais
que agora se vão tornando importantes bem como ainda no contacto
popular.
Qual a opinião que tem relativa
ao actual estado da música angolana?
O balanço é positivo quer a nível
qualitativo como quantitativo.
Hoje as sensibilidades são diferentes relativamente ao tempo em que
comecei (tabus), etc… mas hoje é diferente e como tudo na vida evolui.
Assistimos no nosso espectro musical ao surgimento de uma série de
quadrantes que antigamente não se
evidenciavam. Angola está a ganhar
nesse aspecto inclusive do ponto de
vista tecnológico e naturalmente
vão-se dando passos firmes quer em
Os artistas de uma forma geral, acabam, um pouco como os
desportistas, por se transformarem num espelho onde as
novas gerações se revêem procuram um modelo. Acha que
a vossa geração tem cumprido
esse papel?
De certa forma sim. Não na dimensão que deveria ser, porque
ainda somos assolados por uma
série de preconceitos, tenhamos
coragem de assumir, mas não haja
qualquer sombra de dúvidas que
o trabalho daqueles por ordem
de chegada serem os primeiros,
acabam consequentemente
por exercer essa influência
naqueles que esperam também o seu lugar ao sol. Mas
é toda um processo que deveria
estar assente em bases mais consistentes para que a passagem de
testemunho fosse feita de forma
arrumada, ordenada e elucidativa sobretudo assente em recursos
a uma série de informações que
hoje já começa a ser mais fácil devido à Internet que hoje mudou a
vida de toda gente.
21 Julho 2012
07
«...Repare que não existe cachet que pague aquele manifesto,
que só é possivel quando as pessoas se identificam com o
trabalho que a pessoa faz...sentindo aquele carinho, acho
que ficou patente o ser das coisas»
“No show da saudade”, houve contratempos alheios à minha vontade”
O que é que não correu bem aquando da realização do “show da saudade” o ano passado? Porque é que
o Eduardo não cantou?
Sei que houve alguma especulação
a respeito disso, mas em abono da
verdade o que aconteceu naquele dia foi nada mais, nada menos
que um contratempo que a chuva
causou. Ora, o atraso que a chuva
provocou acabou implicando no arranque do espectáculo, penalizando
a sequência do show. Por parte da
produção houve talvez falta de cuidado, no sentido de se encurtar as
performances de cada interveniente. Convenhamos que fazer música a
altas horas da madrugada, depende
muito do nosso ânimo. Quando uma
De forma que o Eduardo contribui?
Particularmente e enquanto produtor, a responsabilidade está logo
implícita. Uso tudo o que sei no sentido de poder passar a minha experiência da melhor maneira àqueles
que a mim recorrerem, sobretudo
quando são mais novos. No caso
concreto eu venho também nesse
momento descrevendo uma trajectória inversa. Preciso de ir à busca
de elementos que estão muito mais
atrás do que aquilo que a juventude hoje pretende alcançar. Diante
deste aspecto, o Eduardo Paim acabou por se afastar um pouco dos
palcos para precisamente trabalhar
nos bastidores, porque enquanto
cantor a realidade é outra. Sendo
responsável da EP Estúdio onde
os volumes de solicitações não
são tão pequenos e tendo que
responder a uma certa demanda
acaba por haver compromissos
comerciais que fazem com que
estes tenham prioridade.
Que conselhos daria a alguém
que está hoje no principio da
carreira, numa altura em que assistimos a uma correria, às vezes
desenfreada para a fama fácil?
Para trabalhar em prol da música
existem vários caminhos a seguir.
Há aqueles que trabalham e mais
para a frente encontram um reconhecimento que vem a ser a
consequência do seu trabalho. Daí que quando se trabalha bem somos alvo de
algum reconhecimento,
não é a nossa
figura
em
causa mas o
nosso trabalho.
pessoa está minimamente preparada para entrar em cena às 10 ou 11
da noite, e chega às quatro horas
da manhã, logicamente que o organismo já começa a ressentir-se .
Às tantas ainda estamos a discutir
quem entra primeiro e quem actua
depois, e acabou criando-se uma
situação extremamente frustrante
para o meu lado. Seguindo a ordem
que a própria produção terá definido, eu entraria antes dos Kassav.
Bom, só que quando chega a minha
vez a organização decidiu tirar-me
daquele que seria o meu momento
e pôr-me depois dos Kassav. Isso
gerou alguma agitação no terreno
porque não aceitei. Eram quatro da
manhã os Kassav entrariam para
noventa minutos de show, significaria que entraria às seis da manhã.
Logo, questionei qual era a razão
desta mudança. O programa foi feiNos dias de hoje com a possibilidade
de acompanharmos aquilo que se
passa no mundo, na América etc…
Portanto, às vezes o que assistimos
não é o trabalho em causa mas os resultados imediatos que normalmente este trabalho dá. Uns conseguem
porque têm dom, carisma. Daí aconselho a juventude a fazer uma reflexão por mais pequena que seja
pois ela traz sempre
to por uma produção. Porque é que
agora os convidados têm de passar
por cima de nós? Uma vez havendo
esta complicação, disse à produção
se vocês não cumprirem com o vosso
lado, eu também não tenho razoes
para cumprir com mais nada. Aliás,
o meu grupo já estava em palco e
foi retirado entrando o grupo convidado. Permaneci até ao final do
show e obviamente não tinha mais
condições e sobretudo o público
que foi para me ver vendo esta troca
convenceram-se que já não entraria, foram-se embora, uns muitos
constrangidos contra mim, outros
terão percebido que alguma coisa de
errado se terá passado sobretudo as
pessoas que me conhecem. Porque
eu estava no país, o meu grupo já cá
estava e reparem, mesmo não tendo
actuado fui pago. Mas atenção e reitero isso. Não actuei não porque não
uma luz, e diante disso encontramos o caminho certo. Querer vitórias a curto prazo pode-nos induzir
em erro, não consolidar a estrutura
que pretendemos como trampolim.
Não queiram viver um só momento.
Mas num determinado momento
podemos criar o sustentáculo de
toda uma vida pela frente.
Ao olhar para trás, depois de tanta
quisesse pois a resposta ficou assente no dia sete na Cidadela.
rado algum tempo…acho que ficou
patente o ser das coisas.
E esse ano foi como pretendia ou
nem por isso?
Prefiro não me pronunciar sobre
isso.
Algumas pessoas presentes reclamaram o facto de constantemente
estar virado de costas ao público e
ficando de frente para a banda. O
que tem a dizer sobre esse facto?
Muito simples. O momento em que
entrei foi o primeiro contacto com
palco. Eu nem sequer testes de som
fiz, até há instantes perguntou se
houve contratempos desta vez. E
cada vez que eu tentasse me aproximar mais do público, ficava distante
do som e algumas vezes sentia a minha voz a chegar a mim com atraso,
então tinha necessidade de voltar. E
voltando ficava muito distante do
público. E claro está, se me aproximasse ao público ficava distante da
banda e vice-versa, porque estava
constantemente no vai e vem.
Como é que sentiu o feedback do
público depois de alguma ausência
dos palcos nacionais?
Não tenho forma de descrever isso.
Porque o público é a melhor parte
da nossa história. Repare que não
existe cachet que pague aquele
manifesto, que só é possível quando as pessoas se identificam com o
trabalho que a pessoa faz. Podiam
pagar-me um milhão de dólares mas
se não estou na mesma sintonia com
o público não muda nada. Naquele
momento, sentindo aquele carinho
e sendo um artista que esteve retiestrada, de tantas experiências,
de tanto caminho qual é a sensação?
A vida é dinâmica. Nada é estático
e estamos perante constantes mudanças. Por mais que consigamos
manter uma certa juventude, há aspectos insuperáveis, porém controláveis até certo ponto. A sensação é
boa. Na música temos a possibilidade de cantarmos com diferentes pa-
drões, como o pai, como a avó etc…
o que não acontece no desporto por
exemplo (risos). Tudo isso contribui
para a nossa espiritualidade, física,
mental enfim. E poder hoje partilhar, dividir o palco com gerações
mais actuais é a prova que realmente
alguma mensagem teremos passado
ou ainda estamos em condições de
passar. É sempre gratificante poder
passar nestas vertentes todas.
“A história do Kuduro está a ser mal contada”
Ouvimo-lo recentemente
numa entrevista
da TPA sobre o
Kuduro
afirmar-se como o
precursor deste estilo. Que
argumentos
tem?
Isso
não
tem história
nenhuma.
Nunca me
vou assumir
como o fundador
do Kuduro, porque não sou. Agora
que sou a origem
de muitas coisas que
aconteceram até chegar ao Kuduro isso ninguém me pode retirar.
Como assim?
Muito simples. Vocês antes
de dançarem o Kuduro, já
dançavam as batidas, o na
Jibo, o põe açúcar etc…
de onde é que vem?
Se forem ao meu primeiro trabalho
há um tema que é o na Jibo. Não
quero de forma alguma assumirme como o criador do Kuduro, nem
muito menos propulsor deste estilo.
Mas sou eu, que inicio esta viragem
do underground nacional, aquela
batida e dicas no meio, sou eu. Quem
não concordar deve achar que queira disputar reinado, de jeito algum.
Não pretendo ser o rei do Kuduro
nem que me pagassem, não é o meu
exercício mas foi um género de música que apareceu na sequência de
algo. É desta base que me refiro.
Porque vejo um protagonismo muito grande à volta de determinados
nomes e esquecem-se de outros.
Para não haver confusão pergunto:
onde é que fica o Bruno de Castro
nessa história? Tudo o que apareceu depois tem destaque. Os que
fizeram antes perderam. Portanto
não é comigo que se têm que preocupar mas a forma como estão a
contar a história, é que não está a
ser verdadeira. Para chegar ao último degrau não podemos desprezar
os primeiros. Há uma sequência de
acontecimentos até chegarmos a
esta fase. Que fique claro que o Kuduro não surge como estilo de Música mas como Dança. Assim como
tínhamos a dança Vaiola que muito
se dançou mas não temos nenhum
registo de um estilo de música Vaiola. E dançava-se com que estilo de
música? Com as batidas que fazíamos naquela altura.
A música angolana cresceu bastante, mas faltam estúdios e verdadeiras produtoras, pois sentimos um
certo monopólio da LS. O que lhe
parece esta situação?
A resposta é clara mas não me vou
pronunciar. Um mercado não se caracteriza com a venda de um só produto. Mas aqui temos este tipo de situações. Portanto, nada contra a LS
mas não é a mim que cabe explicar
este assunto.
E, o facto de poucos músicos tocarem um instrumento ou de estarmos a ouvir muita coisa excessivamente computadorizada e menos
instrumentalizada não o preocupa?
A música no tempo em que comecei
processava-se duma maneira mais
natural do que hoje. Existem agora
uma série de mecanismos que nos levam ao mesmo resultado ou próximo
do real, sem se calhar fazer recurso
áquilo que era necessário antes. Perde-se a autenticidade. Mas o ouvido
também é algo que se educa.
Como é que foi gravar com Zoca
Zoca e Agre G. Tendo conta em a diferença de escolas?
Muito bom. E isso vem na sequência
daquilo que nós chamávamos de batida. Que não é nada mais, nada menos, que um compasso de Kizomba
numa rotação extremamente alta.
Porque por norma, em BPM (Beat
por minuto), acontece desde os 88
BPM até aos 130, e dentro desta
amplitude já conseguimos várias
tendências. Daí que quando ultrapassamos esta rotação a temática já
é outra. Portanto a introdução destes que são na realidade kuduristas,
foi uma simbiose daquilo que já fazia
no passado. O meu objectivo não foi
fazer Kuduro foi fazer uma batida
com alguma nuance daquilo que se
consome hoje.
08
20 Julho 2012
Cultura
o
2 de volta aos palcos
Depois de terem marcado a geração de 90, o grupo que começou a
carreira com o nome N´Sex Love e
mais tarde o trocou para “O2”, regressou aos palcos após mais de
quatro anos de ausência para um
grande espectáculo no Cinema
Atlântico.
O respeito e carinho do público pelo
grupo ficou bem patente no último
sábado, 14 de Julho. Mais de quatro mil pessoas, de todas as idades,
deslocaram-se ao local do evento
para ver e ouvir novamente Walter
Ananaz, Bigú Ferreira, Ngunza José
e João Paulo que não mediram esforços para dar alegria a uma casa
cheia e ansiosa por reviver os sucessos registados ao longo de uma carreira de 20 anos marcada por inúmeros ‘hits’.
A organização do espectáculo esteve a cargo da LS & Republicano
que, o realizou com êxito .” Este é
um grupo que marcou gerações, por
isso a LS sentiu-se no dever de trazer ao público angolano novamente
o grupo O2. Tal como eu, sabia que
havia milhares de pessoas a querer
o regresso da banda.’ Afirmou Nino
Republicano, produtor do evento..
Por volta das 20h, o apresentador,
Pedro Benje, dava início ao concerto que começou com um ligeiro
«...Tenho as
emoções à flor da
pele. São momentos
que vou guardar
para sempre... »,
João Paulo (02)
atraso. Paulo Cabonda foi o primeiro artista a dar música ao Atlântico seguindo-se Papitchulo, Dreams
Boys e Louremonc até ao momento da noite: a subida ao palco dos
anfitriões. Os “O2” levaram o público ao rubro com os sucessos do
seu vasto repertório. A plateia não
se cansou de aplaudir e cantar com
eles, eufórica, todas as canções. Os
mais atentos não resistiram quando
o conceituado guitarrista Simmons
Manssini se juntou à festa, proporcionando um momento único com a
sua guitarra.
O show não terminou sem antes actuarem outros conhecidos nomes
da música angolana como os Irmãos Almeida, Nicole Ananaz e Jeff Brown.
O produtor musical e pianista da
banda, João Paulo, revelou estar
emocionado com o resultado obtido: ‘Estou muito feliz por esta aderência toda, tenho as emoções à
flor da pele. São momentos que vou
guardar para sempre. Um publico
maravilhoso, acolhedor e que realmente mostrou saudades nossas.
Quero agradecer a todos os que nos
ajudaram a concretizar este show.’
O grupo encerrou a noite cantando
o seu grande sucesso ‘Me desculpa’,
levando o público a pedir ‘bis’.
Jerónimo Belo
Trópico, Sala Luanda: Jazz em maré alta esta noite
Estes são os primeiros compassos…
A realidade hoje impõe que se tenha
em linha de conta mais os “ jazzes”
do que os fundamentalismos redutores da imaginação e da criatividade. Uma arte em permanente
movimento como é o caso do Jazz,
é sempre viva e actual, projectandose para além dos pequenos guetos
estéticos, dando-nos a ouvir vozes
marcantes nas suas expressões mais
diversificadas.
O saxofonista de Porto Rico, Miguel
Zenón, antigo membro do San Francisco Jazz Collective, da Liberation
Music Orchestra, do contrabaixista Charlie Haden, e da Mingus Big
Band, entre outras colaborações
importantes, que a História do Jazz
não esquecerá, e que tem partilhado
a música em cima dos palcos e na intimidade dos clubes de Jazz, nomeadamente com músicos da craveira
de David Sanchez, Danilo Perez, Bo-
bby Hutcherson, Ray Barreto, Steve
Coleman e Brandford Marsalis, toca
esta noite o seu primeiro concerto,
no âmbito do programa “Jazz no calor da Noite”, que nesta altura celebra a sua 28ª edição.
Zenón, 36 anos, é considerado um
dos nomes mais badalados da nova
geração de saxofonistas e tem tido
uma carreira meteórica desde que
terminou há uns anos os seus estudos nas prestigiadas instituições de
ensino do Jazz nos Estados Unidos,
na Berkley e na Manhattan School
of Music.
Na sua bagagem para Luanda traz
um Jazz de sabor latino, de tonalidades e sonoridades quentes, cristalino como as águas do Caribe.
Conhecedor do seu passado e da
história e cultura do seu povo, pratica um especial tipo de fusão, o policentrismo jazzístico, que amplia
fortemente e no melhor sentido o já
conhecido “ jazz Latino” em versão
afro-caribenha, que cruza as músicas
de Puerto Rico com o mais sofisticado academismo que hoje os músicos
aprendem nas Universidades e Escolas Superiores dignas do maior respeito, como será o caso da Berkley e
da New School of Jazz.
Miguel Zenón vai demonstrar também em Luanda a insuspeitada vitalidade do BeBop. É sabido que os
boppers são desde sempre exímios
instrumentistas e Zenón não é exceção. Claro que toca de forma moderna
a sua música, um Neo Bop com laivos
ameríndios, caribenhos; mas talvez
mais do que um produto evoluído
do Bop, ele é, segundo a opinião do
grande especialista Leonel Santos “
um produto do Jazz, de todo o Jazz,
que se fez nos últimos 50 anos”.
A banda de Miguel Zenón é constituída por músicos excelentes, com
destaque para o criativo Luis Perdomo, da Venezuela (Luanda já o ouviu
ao lado da saxofonista Tia Fuller, em
Abril de 2011). Hans Glawischnig no
contrabaixo, de nacionalidade austríaca, e o porto-riquenho Henry
Cole na bateria completam o grupo.
Um “groove” contagiante, uma música saborosa, o saxofone de Zenón
abrindo caminhos por entre as síncopes de Cole e Perdomo, com emotivos fraseados Bop e mais as flutuações harmónicas suficientemente
arrojadas e interessantes, tornarãoseguramente- estes concertos cativantes.
Se o Jazz fosse apenas Miguel Zenón Quarteto, já seria um mundo.
AtéJazz!
09
20 Junho 2012
Espaço Livre
CRÓNICA
Miopia Crónica
Aoaní D`alva
Operação Fantasma
José Carlos não se aguentava de
ansiedade. Fez o check in e dirigiu-se
imediatamente à sala de embarque,
embora o vôo só tivesse lugar duas
horas depois. Depois de um longo período longe de casa, voltar era sempre
o mesmo. A noite quase sem dormir na
véspera, os telefonemas, as saudades
que pareciam mais intensas e profundas. Voltar era sempre um sonho, mesmo que fosse por pouco tempo.
As coisas corriam bem naquele dia.
Não se tinha atrasado, como das outras vezes, por isso conseguiu fazer
tudo nas calmas, sem correrias. Na sala
de embarque tudo tranquilo também,
encontro uma colega de faculdade
que ia para a China, com quem passou
as duas horas restantes a conversar
tranquilamente. Até o voo foi tranquilo, não houve problemas nem com
o tempo e nem com
os passageiros.
Chegado a Luanda,
as coisas continuam a correr bem.
É dos primeiros a
passar pelo crivo
da alfândega e a retirar as suas malas
do tapete. Enquanto espera pela sua
vez de passar pelo
raio-X, altera o status do Facebook.
“De volta a casa. @
Luanda”, anuncia.
Nos dez minutos
que levou a passar
pelo scaner, sair da
área restrita à passageiros e abraçar à
mãe e a irmã, recebeu 17 “likes” e seis
comentários a marcarem saída.
Enquanto esperava
que a irmã pagasse o parque, foi conversando com a mãe. Alheio as pessoas que estavam à sua volta, falou cos
projectos, das várias coisas que tinha
trazido e que bem empregues dariam
algum lucro à família toda. Continuou
a falar sem preocupações, do lado de
fora, quando esperava pela irmã que
fora buscar o carro. E continuou a discorrer sobre várias coisas e assuntos,
enquanto o jovem maltrapilho ajudava a pôr a mala no porta-bagagens.
Com tantas novidades sobre a faculdade, os negócios, os amigos que casaram e descasaram, os parentes que
nasceram e partiram, os três tinham
muito que conversar. Então seguiram
viagem sem prestar muita atenção no
que acontecia a seu redor, descontraí-
dos e felizes que estavam. Nada, o dia
todo, fazia prever os acontecimentos
que se seguiam.
Quando chegaram a casa, João Carlos
desceu para abrir o portão, enquanto
a irmã punha o carro no quintal. Antes
de conseguir fechar outra vez o portão, foi rendido por quatro homens armados com pistolas e facas. Três deles
renderam a família, apontando uma
arma a cabeça de cada um. Acuados,
foram obrigados a encostarem-se à
um canto da garagem. Eles pareciam
saber o que queriam. Enquanto dois
ficaram a vigiar a família, os outros
dois descarregaram a s malas e levaram lá para fora.
Cerca de 20 minutos depois deles se
terem ido, mãe e filhos continuavam
no mesmo lugar, o pavor a toldar-lhes
os movimentos. Chamaram a polícia,
mas pouco tinham
a dizer. Não conseguiam lembrar-se
dos rostos, ainda
estavam abalados
demais para falar
sobre o assunto.
“Qualquer palavra
que eles tenham
dito?”, insistia o
inspector da DENIC. Nada. Eles
simplesmente bloquearam.
No dia seguinte,
mais calmos e ligeiramente refeitos
do choque, começaram a rever o assunto e a remexer
nas memórias ainda penosas. Chegaram a conclusão de
que pouco tinham
a acrescentar à polícia. Continuavam
sem conseguir dar uma descrição detalhada do rosto dos meliantes. Não
sabiam dizer como é que as malas tinham sido transportadas, já que não
lhe fora permitido olhar para fora. As
únicas coisas de que se lembravam
eram dos canos das armas apontadas
às suas cabeças.
O inspector saiu daquela casa frustrado. Era o terceiro caso naquela semana. E pela terceira vez, as vítimas
tinham poucos subsídios a dar. Toda
a unidade que comandava estava em
polvorosa, atrás do bando. Tinham começado a chamar a caça aos bandidos
de operação fantasma, pela dificuldade de os encontrar. Eles pareciam
mesmo fantasmas, apareciam do nada
e desapareciam sem deixar rasto.
«Eles pareciam
mesmo
fantasmas,
apareciam
do nada e
desapareciam
sem deixar
rasto»
« O escritor e jornalista João Bernardo de Miranda
dá à estampa o seu novo romance “Hebo” pela
“Texto Editores”.Uma passagem intensa pela guerra
angolana, e as nossas vivências familiares e sociais»
ÁGORA
Fernando
Pereira
Revisitar é preciso!
A derrota da seleção angolana
de basquetebol, frente à congénere russa, no recente play-off de apuramento para os Jogos Olímpicos de
Londres, deixou no quotidiano desportivo nacional um sentimento
enorme de desilusão e frustração.
Há alguns tempos a esta parte que
vamos assistindo a sucessivos insucessos no quadro competitivo
das seleções nacionais, e nem as recentes vitórias dos selecionados femininos de andebol e basquetebol
conseguem esconder o estado précomatoso do desporto nacional.
Se olharmos em redor, vemos que o futebol
angolano não consegue ultrapassar a mediania no continente, quer a nível de clubes quer
ao nível das diferentes seleções. O basquetebol, apesar do mérito indiscutível da conquista do campeonato africano por parte da seleção feminina, vê o seu selecionado masculino
a soçobrar porque a renovação não foi feita no
tempo devido. No andebol feminino vamos
mantendo a hegemonia, mas no andebol masculino vamos sendo cada vez piores. As outras
modalidades coletivas começam a estar apenas a um patamar acima do desporto de recreação, o que as torna irrelevantes no quadro
competitivo. Nas modalidades individuais o
marasmo é demasiado evidente. O estado geral do desporto angolano, depois de um período de mobilização de vontades, de dinamismo organizativo, de participação massiva,
com políticas desportivas objetivas conseguiu
guindar o desporto angolano para a primazia
ao nível continental e para o galarim das grandes competições internacionais.
Não vale a pena procurar culpados pela situação atual, porque a realidade tem a ver com a
ausência de políticas económicas e sociais perenes no País e consequentemente a desarticulação das políticas sectoriais, onde a cultura
física e o desporto é uma vertente com alguma importância na promoção e formação da
juventude angolana.
Enquanto se vai deixando abastardar a política desportiva, que teve os seus cabocos no início da década de oitenta do século passado,
vamos assistindo a um cada vez maior divórcio
entre a juventude e a prática desportiva regular, por vários motivos onde avulta a falta de
organização das estruturas e a desmotivação
que se vai instalando, mercê do aparecimento
de novas conceções impactantes na chamada
“sociedade de mercado”.
As federações desportivas foram-se transformando em lugares de discussão estéril e de
afirmação para alternativas que a maior parte das vezes pouco têm a ver com o desporto.
Durante as eleições discutem-se pessoas e não
se consegue vislumbrar programas de trabalho
onde se promova a área formativa de técnicos e dirigentes, mobilização de recursos tendentes a possibilitar uma adesão massiva de
crianças, adolescentes e jovens, desenvolver
o quadro competitivo nos diferentes escalões
e alargá-lo a todo o País, e no fim assumir a seleção nacional como reflexo de todo um trabalho continuado e largamente participado.
A manter-se esta situação, vamos ver regredir,
mais rápido do que aparentemente se julga, o
desporto angolano para algo do tipo “quintal”
que era mais ou menos aquilo a que se assistiu
no estertor do tempo colonial.
É absolutamente indispensável um grande debate sobre a cultura física e o desporto, com
caracter de urgência, e que daí saiam, para a
nova Assembleia Nacional, propostas de legislação que permitam mobilizar a juventude,
aliciá-la para uma atividade física regular e incutir-lhe valores de solidariedade, lealdade e
respeito tão queridos na sã competitividade.
Obrigar o Estado a dar verbas suficientes para a formação e motivar as empresas para contribuírem para a sustentabilidade da atividade competitiva nacional e nas competições
internacionais, são apenas algumas das muitas propostas que têm que ter enquadramento legal e cumprimento obrigatório de forma a
não deixarmos sectores tão importantes ao sabor dos balanços do “mercado”, da volatilidade da “mercadoria” e claro dos “sabores e dissabores” de alguma gente.
A cultura física e o desporto têm que voltar a
ter a mesma importância que a saúde, a educação e a cultura, num quadro de uma sociedade que se pretende mais harmoniosa e menos ostensiva e pedante ao nível da afirmação
de valores.
Quando se mudarem dirigentes desportivos,
tem que se ter em consideração que o mais
importante mesmo é mudar-se de política.
Era muito bom que cada vez mais tivéssemos
aberto melhorados caminhos à política desportiva encetada por Ruy Mingas e a sua equipa há mais de trinta anos, mas a realidade demonstra à saciedade que a regressão nalguns
casos é demasiado evidente, o que não deixa
de ser preocupante.
10
20 Julho 2012
Variedades
Em cena
Páginas de leitura: Palavras de um mesmo, outro lugar
AbreuPaxe
Paxe
Abreu
Literatura infantil e andanças: pedagogiacomunicação e entretenimento inteligente?
Pensando nos rumos que a literatura feita
para crianças, entre nós, está a tomar e
pensando ainda nos desafios que o estado
angolanos terá de enfrentar, no processo de sistematização de conhecimentos,
saberes, crenças e valores asseguradas
por instituições afins, vamos desenvolver
neste espaço algumas reflexões, primeiro
à volta do ambiente que orientou o surgimento da literatura para a infância, segundo contrastar estes e os diferentes momentos que esta literatura conheceu com o que
se vai fazendo em Angola, a partir do plano
da tradição, dos primeiros e dos diferentes
momentos da escrita para crianças entre
nós. Para daí, percebermos o que esta literatura recupera e projeta como valores
e conhecimentos no circuito de difusão e
da audiência adulta-infantil, a contínua
existência de uma receção bifronte “adulto
plus criança”.
Em Angola, lendo Helena Raúzova e Gabriela Antunes, percebemos que apenas se começa a falar de uma “literatura escrita para
crianças”, numa primeira fase, a partir da
década de 1940 com os artigos de Lília da
Fonseca publicados em jornal e, noutra
fase, já recenseada por Helena Riaúzova de
1975 a 1985, como facilmente se entenderá se se tentar um pouco nos efeitos da
independência, das transformações económicas, políticas, sociais e educacionais
que se registaram depois de 1975, estas
transformações vêm alterar um pouco os
postulados da primeira fase iniciada por
Lília da Fonseca, aqui nesta fase, percebemos que a semelhança da tradição oral,
ou seja, na sociedade antiga, não havia a
“infância”: nenhum espaço separado do
“mundo adulto”. As crianças trabalhavam e
viviam junto com os adultos, testemunhavam os processos naturais da existência
(nascimentos, doença, morte) participava
junto deles da vida pública (política), nas
festas, guerras, audiências, execuções,
etc., tendo assim seu lugar assegurado nas
tradições culturais comuns: na narração de
histórias, nos cantos, nos jogos. Estou, no
entanto, a pensar no lema “ A caneta é a
arma do pioneiro” ou “o mito ou história
de Augusto Ngangula”, vemos que aqui não
havia criança, mas sim o pioneiro é a ideia
que podemos colher em “As Aventuras de
Ngunga” de Pepetela, em que um pioneiro
é o protagonista, em que lhe dão vontades
e atitudes no mundo que partilha com os
adultos num ambiente de guerra e nas matas do Moxico, ou ainda o texto de Manuel
Rui “os meninos do Huambo”, no qual os
meninos são engajados “constroem sonhos
de mãos dadas com os mais velhos”.
Mas o que se projetou acima naturalmente, por um lado, contrasta com o ambiente
político, económico e ideológico da época
e, por outro, dialoga com os aspetos pedagógicos e culturais com fins ideológicos,
esta dualidade vem claramente expressa a
partir das projeções históricas do que vamos dizer a seguir a volta desta literatura.
Somente + a “infância” aparece enquanto
«Para daí
percebermos o
que esta literatura
recupera e projecta
como valores e
conhecimentos no
circuito de difusão e
da audiência adultainfantil...»
instituição económica e social, surge também a “infância” no âmbito pedagógicocultural, evitando-se “exigências” que
anteriormente eram parte integrante da
vida social e, portanto, obviedades. Que
fatores, então, contribuíram para a modificação deste quadro e que mudanças se
operam? Zilberman, esclarece-nos em síntese do seguinte modo: “ é a ascensão da
ideologia burguesa a partir do século XVIII
que modifica esta situação: promovendo
a distinção entre o sector privado e a vida
pública, entre o mundo dos negócios e a
família, provoca uma compartimentação
na existência do individuo, tanto do âmbito horizontal, opondo casa e trabalho
como no vertical, separando a infância da
idade adulta e relegando aquela a condição
de etapa preparatória aos compromissos
futuros. Promovendo a necessidade da formação pessoal do tipo profissionalizante,
cognitivo e ético, a pedagogia encontra um
lugar destacado no contexto da configuração e transmissão da ideologia burguesa, dentro deste panorama é que emerge
a literatura infantil, contribuindo para a
preparação da elite cultural, através da
reutilização do material literário oriundo
das duas fontes e contrapostas: a adaptação dos clássicos e dos contos de fada de
proveniência folclórica
A literatura escrita, de textos de literatura
infantil, escreve Aguiar e Silva – “constitui
um fenómeno historicamente recente, mas
as raízes da literatura infantil produzida e
recebida oralmente afundam-se na espessura dos tempos e apontam para matrizes
várias: mitos, crenças e rituais religiosos,
invariantes ou constantes antropológicos do imaginário, símbolos ligados ao
trabalho e as suas relações com os ciclos
de vida da natureza, acontecimentos históricos… narrativas, canções, adivinhas,
etc., destinadas a educar e a satisfazer ludicamente as crianças têm circulado assim
oralmente desde há muitos séculos. Não
tem sido diferente na literatura infantil
angolana, nela constatar-se isso por via
das temáticas em que o escritor adulto que
escreve para crianças, ou recupera estórias do património literário oral, estamos
a pensar em Henrique Guerra com o Livro
“Três Histórias Populares”, em Costa Andrade, Luandino Vieira, Samwila Kakweji,
Raul David entre outros, ou recria estas
mesmas histórias adaptadas ao nosso contexto estamos a pensar em Dario de Melo,
Maria Eugénia Neto, Gabriela Antunes,
Jonh Bella, Kanguimbo Ananas, Ondjaki,
Octaviano Correia, entre outros, ou também inventaria o nosso cotidiano e o das
crianças e o projetam para a escrita, com
a finalidade de instruir e de educar ludicamente, estamos a pensar em Cremilda de
Lima, Celestina Fernandes, Yola de Castro,
Maria do Carmo, Rosalina Pombal, Maria
João, Marta Santos, José Mena Abrantes,
Jorge Macedo entre outros. Deste modo,
percebemos que o primeiro objetivo era,
pois, modernizar a ensino (e consequentemente o país), reordená-lo aos interesses
da colonização e, o segundo objetivo era,
poís, orientar o país ao serviço da ideologia
de orientação socialista e, por fim, a olhar
para o património popular como herança
necessária. Este desenho que apresentamos está na origem de textos em que se
manifesta maior atenção às realidades do
nosso mundo e seus ritmos e, aqui e acolá,
uma sensibilidade particular às condições
de vida das crianças afetiva e socialmente
mais desprotegidas.
Em suma, pensamos que a literatura infantil quer oral quer escrita, deve desempenhar uma função relevantíssima, atendendo aos seus destinatários, na modalização
do mundo, na construção dos universos
simbólicos, na convalidação de sistemas de
crenças e valores, a par da importante função lúdica e o de contribuir decisivamente
para a educação e estética da criança e para
a aquisição do gosto pela leitura.
Exposição sobre Saramago
patente em Lisboa
A Fundação José Saramago, dirigida
pela jornalista e escritora Pilar del Rio,
companheira do Prémio Nobel falecido
há dois, anos a 18 de Junho e instalada
na Casa dos Bicos, em Lisboa, Portugal,
vem tendo uma extraordinária afluência
de público, acomanhando a exposição “A
Semente e os Frutos” que descreve a vida
do magnifico escritor.
Rolling Stones há 50 anos
A caminho dos 80 anos de idade, os integrantes dos Rolling Stones, estão a
comemorar 50 sobre o seu primeiro concerto. Tendo recusado participar na abertura dos Jogos Olímpicos em Londres,
segundo Mick Jagger, por não estarem
preparados, Keith Richards já veio garantir um regresso aos palcos, sem adiantar
nenhuma data.
DisponivEl mais literatura
infantil
Numa longa lista de livros considerados
importantes para as crianças, três são de
destacar: “Peter Pan e Wendy” de J.M.
Barrie, a estória do menino que se recusa a crescer, aconselhado a partir dos 8
anos; as “Fábulas” de La Fontaine, com
14 fábulas, entre as quais “A galinha dos
ovos de ouro” e “O lobo e o cordeiro”,
orientadas para crianças a partir dos 10
anos. E o inevitável “Pinóquio” de Carl
Collodi, escrito no final do séc. XIX dirigido a crianças a partir dos 7 anos.
20 Julho 2012
Passatempo
Tema:
Dia Internacional “Nelson Mandela”
11
Edição 2012