Degustação

Transcrição

Degustação
pelo sim,
pelo não
contos em poesia
poemas em prosa,
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Sumário
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Cidades
Localização | Estrelas | Fim do mundo | Definição | Praça pública
Zoo (lógico) | Morcego consciente
17
Ausências
Ausência de João | Nega | Gravatas | Ônibus | O sumiço de Eliane
Escolhas | JULieta
31
Receitas
Bolo e torta | Horóscopo | Medo | O barão | Cartomante | Laura
Quiromancia | Príncipe William | A receita de Rodolfo
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Vida nova
Pelo sim, pelo não | O corretor polonês | Ex | Contas | Prenunciação
O gago e a freira | O chefe | O casamento de Juliana | Kiko e o Google
69
Equilíbrio
Super (s) tição | Ilusão de ótica | Corpo e mente | Amnésia | Feia
Narciso | Irrelevante | Dia da mentira | Pedro e Amália | Equilíbrio
81
Privacidades
Privacidade | Cachorros | Autocrítica | Timidez | Cartas | Intimidade
Marés | CONSULTA MÉDICA SINCERA
91
Intromissão
Intromissão | Traição | Dona Raimunda e o Facebook | O retrato
Inconsciente | Desconfiança | Sono breve | Intoxicação | Casório na roça
Reflexões passageiras
107
Cavaleiro | Enjoo | Ideias | Sensibilidade | Óculos | Desejo | O coveiro
Ilhas
115
Ilha | Mudez | Encontros | Virgem | A distância | Telefone | Alfa e Beta
O judaísmo na visão de uma Shikse | Demissão dos amigos
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Quiromancia
Desde menino, Olavo se preocupou com a pequena linha da
vida que havia em sua mão. Por causa dela, sempre esteve certo
de que viveria pouco, o que foi razão de permanente angústia.
Para confrontar a maldita linha, Olavo deixou de fazer esportes
radicais, viajou pouco, bebeu menos do que queria e foi cauteloso em tudo o que pôde. E, assim, com moderação e privado de
muitos desejos, viveu por muitos anos.
Quando estava prestes a completar oitenta anos, Olavo resolveu ir a um quiromante, como forma de demonstrar a sua
vitória sobre previsões sombrias e, agora, comprovadamente
equivocadas. Chegou ao local e nada disse sobre seus medos e
angústias diante da pequena linha da vida.
A consulta foi rápida e surpreendente. O homem pegou a
mão de Olavo e disse uma frase que fez com que Olavo pagasse
imediatamente a consulta e saísse irritado:
– Sua mão traz uma mensagem interessante: curta a vida!
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Pelo sim, pelo não
Tinha uma disfunção estranha,
um caso raro a ser contado.
Aos poucos ia perdendo os pelos.
De noite estava peludo,
de dia ficava pelado.
Espalhados pela cama,
os pelos da noite passada.
Antes do trabalho tudo varria,
sentindo que parte de si ficava.
O que tinha ganho em um dia,
era vencido pela piaçava.
Durante o dia se refazia:
cabelos, sobrancelhas e cílios até meio-dia;
antes das quatro, pernas e braços.
Às cinco, a barba já existia;
à noite, seus pelos faziam laços.
Com medo, rogou pelo amor de Deus,
mas a prece não deu em nada.
Muito ao contrário, viu tudo piorado:
de noite, muito peludo;
na manhã, todo pelado.
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Talvez tenha sido penalizado por sua falta de fé.
“Pelo, Deus!” foi tudo o que Ele, com ironia, quis ouvir
(estava em seu direito, não se discutia).
O que fazer? Já não sabia.
Padre nosso, ave-maria...
Não! Na medicina, a única via.
Por vários médicos passou,
até que de um ouviu algo convincente.
“Ao longo de seu dia,
por tudo o que carregava –
sucessos, fracassos, sol, maresia,
sorrisos, clientes, hipocrisia – ,
de pelos seu corpo inchava.”
E mais o diagnóstico dizia:
“Sua nudez matinal refletia,
que a cada dia sua vida recomeçava.
Queira Deus seja mantido
esse privilégio, essa dádiva.
Que viva o dia a dia,
e durma peludo, quando de experiências esteja tomado,
mas que sempre amanheça refeito,
que, de manhã, se veja pelado.”
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Narciso
O suicida é um assassino narcisista.
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