INTRODUÇÃO - Associação de Andebol de Braga
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INTRODUÇÃO - Associação de Andebol de Braga
Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 1 INTRODUÇÃO Ao longo de uma temporada desportiva procuramos desenvolver, manter e mesmo prolongar os níveis de alto rendimento dos nossos atletas. O conhecimento da realidade desportiva onde estamos inseridos torna-se determinante para o sucesso dos processos de programação e planeamento do treino. Desta forma o conhecimento do calendário desportivo, do potencial dos nossos atletas e do modelo de jogo pretendido permitem seleccionar quais os melhores meios e métodos de treino. O desenvolvimento e a optimização dos factores técnicos e tácticos no alto rendimento desportivo estão igualmente relacionados com os diferentes períodos da época desportiva e naturalmente associados no plano de desenvolvimento da condição física. No entanto o pouco tempo que possuímos para preparar as equipas em função do longo e denso calendário competitivo levam-nos a optar por planos de preparação mais complexos e desenvolvidos à custa da articulação cuidada entre os vários factores do treino. Independentemente dos vários modelos de treino por que se opta ao longo da temporada existe um aspecto que deverá estar presente na metodologia seguida e que se torna decisivo no processo do rendimento desportivo. Referimo-nos à relação existente entre a carga, a recuperação e a competição. Uma correcta manipulação e ajuste da relação entre estas 3 componentes em conjunto com uma boa gestão do grupo de trabalho permite a obtenção das melhores performances em competição, pois no final o objectivo de todas as equipas é o mesmo – GANHAR. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 2 1. ENQUADRAMENTO DO TREINO PARA O ALTO RENDIMENTO DESPORTIVO NO CONTEXTO ACTUAL DA SOCIEDADE Para se atingir o alto rendimento desportivo segundo F.Bañuelos (2002) há que possuir um talento natural considerável, o qual isoladamente não é suficiente, pois há que juntar à aptidão natural do jogador um trabalho duro e persistente ao longo dos anos e cuidadosamente planeado. Por outro lado está posto de parte um conceito muito em voga nos últimos anos de que aleatoriamente entre o elevado número de praticantes surgirá o campeão ou o talento, como um resultado natural desse trabalho de massificação desportiva. O desenvolvimento das elites desportivas é um processo que deverá ser planeado e controlado individualmente. Segundo Matveiev (1991) estima-se o aparecimento de um talento numa relação de 1 para 10.000 praticantes. Assim, apenas um pequeno grupo reúne as condições ideais para o alto rendimento. O acesso ao alto rendimento desportivo implica condições iniciais que logo à partida afastam muita gente. Desta forma todos aqueles que pretendam enveredar por este caminho deverão ter bem claros três objectivos: • Aspiração ao êxito • Dedicação total ao treino • Profissionalismo Por outro lado não se pode ignorar o facto de que o desporto na sua essência é um espectáculo que deve procurar distrair todos aqueles que o assistem e que apresenta características especiais e diferentes de outros espectáculos como a ópera, teatro, etc. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 3 Hoje em dia quando as pessoas se deslocam para assistir a um espectáculo desportivo (andebol, futebol, basquetebol, hóquei, etc.) fazem-no porque na maior parte dos casos se identificam com uma equipa, um atleta ou uma personagem desse mesmo espectáculo, na maior parte dos casos. Para quem assiste o importante é que aqueles ou aquele com quem se identificam afectivamente no final triunfe. No entanto não basta apenas ganhar, pois a qualidade dos adversários também condiciona o sabor dessa vitória, com isto queremos dizer que a forma como se ganha é igualmente importante, o que significa proporcionar um bom espectáculo. Nada melhor que assistir a um jogo bem disputado do ponto de vista técnico e táctico a grande velocidade, onde os atletas se empenham ao máximo em cada acção que executam. Para que tal aconteça é necessário que os atletas se apresentam em condições de rendimento. O que significa isto? Em primeiro lugar recordar que o alto rendimento desportivo como anteriormente foi mencionado implica uma dedicação total ao treino e naturalmente o profissionalismo como qualquer outra actividade. Desta forma os atletas deverão apresentar-se no início de cada temporada sem excesso de peso, com os níveis de força máxima no seu melhor e uma boa capacidade resistente, pois quando pretendemos contratá-los pensamos sempre no que rendem quando se encontram nas suas melhores condições e não nas suas lacunas. Como qualquer profissional, todo o atleta deverá preocupar-se em cuidar do seu corpo (alimentação, suplementação nutricional, recuperação funcional de possíveis lesões, desenvolvimento e manutenção da condição física), no entanto para que tal aconteça é decisiva a intervenção de todos os agentes que exercem a sua acção sobre o processo de formação desportiva dos atletas. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 4 Estes deverão responsabiliza-los e sensibiliza-los para a importância de se encontrarem sempre (ou quase sempre) aptos do ponto de vista físico, que como se sabe tem uma interferência directa sobre a optimização das acções técnicas, a clarividência táctica, a boa recuperação entre cargas e esforços e a manutenção dos níveis de concentração durante todo o jogo. 2. CONCEITO DE TÉCNICA E TÁCTICA A técnica representa a forma mecânica como realizamos qualquer gesto específico de uma modalidade. É um conceito que se encontra mais associado à eficiência, ou seja à forma correcta de executar qualquer acção. A táctica segundo F. Sánchez (2002) está relacionada com a execução de um gesto técnico adequado, num momento oportuno, de forma a se conseguir um objectivo concreto. Esta acção deverá ser realizada em função das condutas dos adversários, dos nossos companheiros de equipa e naturalmente da bola. Para tal a noção e domínio de espaço e tempo, associados a questões perceptivas, antecipativas e sensoriais são determinantes quanto à análise da situação, tratamento da informação e selecção adequada de uma resposta motora eficaz. O treino em separado da técnica e da táctica no alto rendimento não apresenta grande significado, com excepção dos momentos de recuperação funcional ou correcção e construção de novos gestos. A realização de determinados gestos em jogo e treino só faz sentido quando na realidade os sabemos aplicar no espaço e no tempo adequados. Como tal o desenvolvimento técnico está intimamente associado ao desenvolvimento da táctica individual. Sendo este o nosso ponto de partida na época desportiva. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 5 O mesmo autor refere ainda que a técnica representa o suporte básico da actuação táctica, para além da condição física, da preparação psicológica e do conhecimento teórico. A construção da táctica colectiva por sua vez está assente na actividade individual. Este é um dos pontos fulcrais da preparação das equipas. Quantas vezes treinamos várias acções colectivas até à exaustão e no final o seu aproveitamento em jogo é diminuto porque se apresentam deficiências ao nível da tomada de decisão, da qualidade táctica individual ou uma grande limitação técnica. Assim a partir de agora sempre que falarmos dos aspectos técnicos e tácticos passaremos a denomina-los de preparação técnico-táctica. 3. DESENVOLVIMENTO DA PREPARAÇÃO TÉCNICA-TÁCTICA AO LONGO DA TEMPORADA O treino em separado dos diferentes factores do treino nos desportos colectivos apresenta grandes dificuldades quanto à sua aplicação pois o tempo que se possui para preparar as equipas nunca é muito e por outro lado a especificidade do gesto desportivo leva a que trabalhemos o mais perto possível das condições da competição. Com a excepção do treino da força ou de situações específicas como o recuperação de lesões, o trabalho normalmente desenvolvido engloba os diferentes factores do treino em simultâneo. O desenvolvimento conjunto e correctamente articulado e planeado dos factores físicos, técnicos, tácticos e psicológicos denominou-se de treino integrado. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 6 Este conceito muito difundido principalmente nos desportos colectivos permite o desenvolvimento em simultâneo de várias capacidades e habilidades, de acordo com a especificidade do jogo, permitindo ganhar tempo e adaptar o treino à especificidade da modalidade. No entanto o conceito de treino integrado não significa o desenvolvimento anárquico das capacidades baseado em situações competitivas. Existem relações que se podem manter entre os vários factores do treino. Desta forma o desenvolvimento da força está associado ao aperfeiçoamento técnico e à sua eficácia em jogo. Nesta fase de preparação desportiva, como anteriormente referimos, o atleta já terá que possuir a sua formação desportiva praticamente concluída (excepção para os atletas que se encontram nos três primeiros anos nesta fase). Em desportos abertos como o Andebol as circunstâncias mudam de forma contínua e pouco previsível. As dificuldades perceptivas e as decisões que se tomam são transcendentes pois condicionam o resultado final. Uma simples acção de intercepção de um passe, implica uma participação de como já vimos dos mecanismos de percepção, antecipação e tomada de decisão, ou seja todo um conjunto de mecanismos (receptores, transmissores) neurofisiológicos e de estados emocionais (ao longo de um jogo são muitas e variadas as informações que os jogadores recebem. Essas informações são captadas através dos vários órgãos sensoriais como a visão o tacto, a audições ou mesmo sensações cinestésicas, que por exemplo permitem antecipar possíveis desequilíbrios ou lesões). Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 7 Desta forma as acções em jogo para além de terem um objectivo final quando executadas de forma aberta (sem um momento final claramente definido) permitem uma capacidade de adaptação às circunstancias do momento, que lhes acaba por garantir a qualidade. Por outro lado o desenvolvimento técnico-táctico deverá ser estimulado em simultâneo com a condição física e em função do período da temporada em que nos encontramos de forma a podermos ganhar tempo e estarmos mais próximos da nossa realidade competitiva. Quando construímos um exercício pretendemos desenvolver em primeiro lugar a capacidade táctica dos nossos atletas. No entanto não deveremos confundir o seu objectivo primeiro com questões estratégicas colectivas dos sistemas, em função das características específicas de hipotéticos adversários. Antes disso há que estimular os mecanismos de desenvolvimento táctico individual como já vimos atrás, ou seja o treino do cérebro e dos sistemas nervosos central e periférico e de todas as estruturas sensoriais que lhe estão associadas. 4. PLANEAMENTO DO TREINO TÉCNICO - TÁCTICO O planeamento do treino nos desportos colectivos deverá ser aplicado respeitando os atletas, o calendário desportivo, o modelo de jogo pretendido e naturalmente as leis do treino. Para além disso será determinante ter-se um conhecimento aprofundado das fontes de energia solicitadas e dos principais sistemas de produção de energia, juntamente com o conhecimento das necessidades motoras específicas (arrancar, travar, mudar de direcção e ritmo, lançamentos a várias alturas e com diferentes armações do braço, saltos com projecções verticais e horizontais tanto no plano frontal como lateral). Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 8 A preparação das equipas e respectivos atletas para além de estar principalmente voltada para os obstáculos da competição, baseia-se na intenção de através de distintos métodos directos (treino e repouso) e indirectos (complementos nutricionais e/o químicos), diminuir ou retardar o aparecimento dos sintomas de fadiga durante as competições. A correcta aplicação e relação entre os diferentes tipos de carga permitem construir os diferentes estados da forma desportiva (Bompa, 1994). As cargas de treino deverão ser aplicadas o mais perto possível da realidade e dos objectivos de cada atleta. O conceito de carga pode ser definido segundo J.Castelo (1998) como o elemento central do treino. Para Matveiev (1991) representa a quantidade de efeitos que determinados exercícios corporais têm sobre o estado funcional do organismo. Verjonshanski (1990), refere que a carga consiste no trabalho muscular que implica em si mesmo o potencial de treino derivado do estado do desportista, que produz um efeito de treino que leva a um processo de adaptação. 1 - Quadro de classificação das diferentes cargas de treino Intensidade FC 0” – 7” 7” - 15” 15” – 45” 45” – 2’ 2’ – 3’ 15’ – 3 h Muito Alta Muito Alta Muito Alta Alta Média – Média – Alta Baixa 155-170 140-155 190-220 170-190 170-190 160-190 120 - 140 Sistema Potência Capacidade Potência Capacidade Potência Capacidade anaeróbia anaeróbia anaeróbia anaeróbia aeróbia aeróbia aláctica aláctica láctica láctica Fonte Glicogénio CP CP Glicogénio Glicogénio Glicogénio muscular muscular muscular muscular e hepático Lípidos Lactato 14 - 16 10 - 12 8 - 10 8 - 10 6–8 4 -5 5 5 4 3 2 1 (mmol.l.-1) Nível Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 9 Antes da aplicação de qualquer carga deveremos conhecer com que atletas iremos trabalhar e qual o seu potencial em termos de progressão. Desta forma em primeiro lugar deve-se proceder a uma avaliação fisiológica que nos permite saber o estado actual de cada atleta do ponto de vista físico. A partir desse momento tanto o desenvolvimento das diferentes manifestações de força como da resistência, devem ser orientadas individualmente em função das necessidades de cada atleta, idade e nível de preparação desportiva. O desenvolvimento da velocidade deverá ser estimulado nas suas duas componentes: simples (acções motoras) e complexa (domínio táctico ao nível da tomada de decisões). Neste domínio é necessário o desenvolvimento das manifestações de velocidade de reacção, execução e deslocamento. O treino da flexibilidade ao contrário das outras manifestações deverá ser estimulado isoladamente, devido à especificidade das acções. O seu grau de transferência directa para a modalidade é baixo, mas no entanto é extremamente elevado no que diz respeito às transferencias indirectas ao nível da prevenção de lesões, fortalecimento muscular, principalmente ao nível da elasticidade e naturalmente na amplitude dos movimentos, característica tão importante em jogadores como os guarda redes. O calendário desportivo é outro aspecto extremamente importante para a construção da forma física. Este irá condicionar a preparação da equipa e dos atletas para que estejam no seu melhor nos principais momentos...ou seja quase sempre. Jogar um jogo por semana quando o objectivo final é a manutenção na divisão é totalmente diferente de se jogar 2 a 3 jogos semanais quando se disputam todas as provas em que se entra para ganhar. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 10 A estrutura do calendário competitivo é igualmente decisiva no modelo de preparação da equipa. Competições onde a fase final é decisiva para a classificação final (play-offs) são preparadas de forma diferente daquelas que são disputadas num sistema regular a duas voltas. O modelo de jogo utilizado tem a sua interferência directa nas opções do plano elegido. Uma equipa que aposte em sistemas defensivos profundos, que implicam elevados níveis esforço individual, num contra ataque apoiado e num ataque continuado, não poderá treinar na perspectiva do desenvolvimento da capacidade aeróbia. Desta forma o modelo de jogo condiciona ou poderá estar condicionado pelas opções do treino. Para Matveiev (1991), ao longo dos diferentes microciclos a intensidade deverá ser sempre inversamente proporcional ao volume, ou seja, quanto maior for a intensidade menor o volume, e quanto maior o volume menor a intensidade, de forma a garantir um equilíbrio entre os momentos de desenvolvimento e optimização das capacidades. Os diferentes estímulos de treino não se deverão misturar, pois poderemos cair no erro de não conseguir estimular quase nada em concreto e cansarmos os atletas. Por último a construção dos exercícios do treino deveram estar de acordo com a especificidade da modalidade, com a proximidade das competições e com as características dos jogadores (idade, experiência, estado de forma e potencial). Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 11 5. PERIODIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO TÉCNICO-TÁCTICO A periodização do treino consiste na divisão da época desportiva em momentos de preparação, recuperação ou competição. Em modalidades desportivas como o andebol cujo calendário competitivo é bastante extenso e denso, o tempo para a preparação das equipas é curto, daí que todos os momentos de paragem competitiva são aproveitados para a recuperação dos níveis funcionais e por vezes quando são muito extensos (1 a 2 meses) para a construção de um novo estado de forma. J. Álvaro (2002), apresenta-nos um modelo de desenvolvimento dos factores do treino baseado no momento da época em que nos encontramos assim como no objectivo e na forma de desenvolvimento das acções específicas do jogo. Segundo o autor o treino nos desportos colectivos tem dois grandes objectivos que são o atraso da fadiga ou a qualidade das acções. A melhoria da qualidade das acções encontra-se relacionada com a velocidade e a eficácia enquanto que o atraso da fadiga está relacionado com a capacidade de manutenção da velocidade e da eficácia durante um período longo de tempo. 5.1 – Período Preparatório Com uma duração (normalmente) máxima de 2 meses nos desportos colectivos, o período preparatório deverá valorizar principalmente o desenvolvimento das capacidades associado-o ao atraso do aparecimento da fadiga. Assim sendo a componente da eficiência (como fazer) é bastante valorizada. É um período no qual as acções primam pela quantidade, no sentido de se aumentar a capacidade orgânica e psicológica dos atletas. No entanto o período mínimo para se atingir níveis aceitáveis de condição física para competir é de 6 semanas. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 12 Quando procuramos trabalhar sobre o atraso do aparecimento da fadiga, procuramos que os nossos jogadores sejam capazes de manter e prolongar os seus níveis de eficácia e de intensidade durante o maior período de tempo possível. Desta forma os exercícios que procuram estimular o desenvolvimento técnico-táctico deverão ser constituídos por um maior número de séries e repetições com poucas pausas entre as repetições e as séries. A densidade dos treinos acaba por ser muito maior quando comparada com o objectivo do aumento da qualidade. O desenvolvimento da resistência realiza-se num período inicial da temporada ou durante períodos de interrupções longas (1 a 2 meses). Assim sendo o treino da resistência (resistência de velocidade, resistência à força explosiva) deverá estar presente na maior parte das acções que realizamos durante este período. Neste período o desenvolvimento táctico está centrado no aperfeiçoamento de movimentos quando os atletas são praticamente os mesmos de temporadas anteriores ou no desenvolvimento de novas movimentações. O desenvolvimento táctico deverá ser estimulado através da criação de objectivos específicos por exercício (jogar durante um determinado período realizando apenas uma única movimentação no ataque com as suas possíveis variantes). No que diz respeito à técnica, o seu desenvolvimento está associado durante o período preparatório à elevação dos níveis de condição física e de eficiência e eficácia motora específica. Durante o período competitivo tentamos aperfeiçoar e manter os níveis de eficácia das nossas acções técnicas. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 13 As primeiras 4 semanas da época caracterizam-se por um volume bastante alto principalmente do ponto de vista físico. O treino da força (explosiva) e da resistência (potência aeróbia e capacidade anaeróbia láctica) atingem o seu expoente máximo neste período. Pois nas semanas que restam antes da competição aprimoram-se as acções tácticas. Exercício 1 – potência aeróbia 4x4 Em situação de jogo dos passes tentando entrar de forma alternada 4 balizas colocadas em meio campo – 10 ser. 2’ Velocidade máxima possível Repouso activo em passe e recepção – de 1’ para 30” Exercício 2 – capacidade anaeróbia láctica 1x1 Defesa do atacante directo e corte da linha de passe para pivot do lado contrário – 5 rep. 45” Velocidade máxima possível Repouso activo em passe e recepção – de 3’ para 2’ Durante o período preparatório o nosso um dos nossos objectivos consiste em tentar progressivamente aproximar as situações do treino à realidade da competição. Um exemplo concreto consiste em optar por uma estrutura de exercício com 3 séries de 10 repetições cada com 2 minutos de recuperação entre cada série com uma ligeira carga sobre o antebraço. Desta forma desenvolvemos a manifestação de força explosiva do remate numa perspectiva resistente e específica, ao mesmo tempo que estimulamos a nossa capacidade de resistência anaeróbia aláctica. Assim estimulamos a capacidade resistente das nossas fibras rápidas. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 14 5.2 - Período Competitivo O período competitivo está associado ao rendimento, logo o nosso trabalho deverá incidir sobre a qualidade das acções que os atletas executam. Desta forma a eficácia dessas mesmas acções é o objectivo principal. Durante o período competitivo o desenvolvimento dos aspectos técnico-tácticos (remate, 1x1, contra ataque, defesa - ataque) deverá ser realizado de acordo com a realidade competitiva, ou seja em função da potência anaeróbia láctica (15” – 45”) e da força elástica e elástico-reactiva. Os exercícios para a melhoria da qualidade das acções deveram ser de curta duração, com pequenas pausas entre as repetições e mais longas entre as séries. As cargas utilizadas deveram ser pequenas de forma a não modificarem a estrutura das acção e a sua velocidade normal (no caso da força é comum utilizar-se cargas que não ultrapassem 10% do peso da extremidade envolvida). A intensidade com que são realizadas as acções deverá ser igual à da competição. De igual forma os exercícios aplicados no treino devem caracterizar-se por um número reduzido de tentativas, sempre perto das condições da competição. Segundo J. Castelo (1998) a criação de situações competitivas durante as sessões de treino implica uma maior mobilização informacional, energética e afectiva dos praticantes permitindo assim integrar numa única estrutura um conjunto de qualidades e capacidades que são fundamentais para se atingir os objectivos propostos. Quanto mais próximos nos encontramos do período competitivo, maior carácter competitivo terão as situações criadas. De igual forma o trabalho colectivo assume um maior protagonismo sem se descurar o desenvolvimento individual. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 15 Qualquer acção colectiva baseia-se em movimentos sincronizados de um grupo de jogadores, que por sua vez através da sua capacidade individual tentarão terminar com eficácia a situação proposta. Exercício 1 – capacidade anaeróbia aláctica 1x1 com remate de posto específico. Cada vez que o atacante falhar terá que fazer recuperação defensiva de forma a parar o adversário ou interceptar o passe – 2 ser. 10 rep. Velocidade de competição Repouso activo em passe e recepção – 1’ (até chegar perto das 120 bpm) Exercício 2 (circuito 4 estações) – potência anaeróbia láctica 1x1 + 1 passador com remate de posto específico. Cada vez que o atacante passar a bola ao passador o defesa terá que tocar no pino – 2 ser. 5 rep. 35” Velocidade óptima (velocidade de competição ou ligeiramente acima) Repouso activo em passe e recepção – 1’ 30” (até chegar perto das 120 bpm) 5.3 - Período Transitório Neste período o nosso objectivo consiste em desenvolver a capacidade técnica e táctica individual dos nossos jogadores. Durante o período transitório poderemos aperfeiçoar, corrigir erros ou mesmo aprender novas habilidades técnicas, que mais tarde serão importantes na consecução de objectivos tácticos numa determinada estratégia definida para um jogo. Por outro lado procura-se recuperar os níveis físicos através da criação de situações mais prolongadas no tempo e com um nível de intensidade mais baixo. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 16 Exercício 1 – capacidade aeróbia 5x5 Jogo de transporte da bola entre os dois lados do campo de forma consecutiva – 1 ser 2 rep. 15’ Velocidade moderada (sem paragens) Repouso passivo (alongamentos musculares dos isquiotibiais) – 5’ 2 - Quadro resumo das principais manifestações de força a desenvolver ao longo da época associadas à técnica (adaptado Seirul-lo 1993, Vittori 1992) Salto Remate Choque Deslocamento Ritmo de jogo Potência aeróbia Preparatório Força Força Explosiva Explosiva Máxima Resistência de Capacidade velocidade anaeróbia láctica Força Capacidade Elástica Competitivo Arranque Força Força de Rápida competição Força (1x1) Elástico- aláctica Velocidade de Potência competição anaeróbia reactiva Transitório Máximo anaeróbia láctica Máximo Máximo Resistência de Capacidade velocidade aeróbia A potência aeróbia irá permitir uma melhor resíntese dos produtos resultantes da actividade láctica e da recuperação entre esforços. O treino da capacidade aeróbia estará associado ao período transitório onde prevalece um ligeiro decréscimo da carga de treino, principalmente relacionado com a intensidade. Neste período pretende-se diminuir os níveis de fadiga acumulada ao longo da temporada e recuperar possíveis lesões. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 17 Segundo Seirul-lo (1993), no treino sobre influência láctica (potência e capacidade anaeróbia láctica), deverá evitar-se grandes subidas dos níveis de lactatémia o que pode implicar sensações de entorpecimento motor causadas pela subida do ácido láctico. De igual forma deverá existir um cuidado sobre estas acções pois a sua realização sucessiva leva a que o atleta inicie cada acção sempre em défice. Os exercícios realizados sobre a potência anaeróbia aláctica são importantes mas no entanto a maior parte dos comportamentos complexos no Andebol realizam-se principalmente sobre a capacidade anaeróbia aláctica. 3 - Quadro resumo para o desenvolvimento do ritmo de jogo baseado nas acções técnico-tácticas Intensidade Potência anaeróbia aláctica Capacidade anaeróbia máxima máxima Maior anaeróbia láctica Periodização 0” – 7” 1–3 1’ – 1’ 30” Competitivo 8” – 15” 1–3 1’ – 1’30” Competitivo 15” – 45” 4–8 4’ – 5’ Competitivo 1’ – 2’ 2–6 6’ Preparatório 100% Potência Capacidade Pausa velocidade velocidade láctica Repetições 100% aláctica anaeróbia Duração velocidade possível Velocidade elevada Pré Velocidade sub-máxima 30” – 45” 3–7 3’ competitivo Potência Velocidade Aumento Pré aeróbia média – alta progressivo até competitivo 2’ – 3’ ligeiramente 30” – 1’ acima do tempo total de Preparatório jogo Capacidade aeróbia Velocidade 15’ – 30’ média - baixa Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez 1 – 2 (ritmo moderado) 2’ – 5’ Transitório Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 18 6. CONTROLO DO TREINO Para um correcto planeamento do treino é decisivo conhecer quais os efeitos provocados pelos exercícios do treino. Desta forma o controlo do treino é extremamente importante. Este controlo poderá ser realizado através da observação directa em jogo, registando as acções individuais e o seu resultado. O controlo do treino poderá igualmente ser realizado através do recurso a parâmetros fisiológicos (frequência cardíaca, ácido láctico, ureia, relação entre o cortisol e a testosterona), assim como das diferentes manifestações de força (défice de força, altura do salto, tempo de voo, tempo de contacto, potência média). Também o peso corporal e o índice de massa corporal (IMC), % de massa gorda e muscular serão úteis para o conhecimento do estado da composição corporal dos nossos atletas. O cálculo do peso ideal de uma pessoa poderá ser dado através da fórmula do índice de massa corporal (IMC). IMC = Peso(Kg) / Altura(m)² O coeficiente obtido da divisão do peso pelo quadrado da sua altura proporciona-nos um valor que poderá ser analisado em função da seguinte tabela: Inferior a 18 Inferior a 20 Entre 20 – 24 Entre 25 – 29 Superior a 30 Superior a 40 Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Anorexia Magro Peso Normal Peso a mais Obeso Obesidade mórbida Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 19 No que diz respeito à frequência cardíaca, Korcek (1980), citado por Zaragoza (1996), sabemos que esta é um indicador de validade nos desportos de equipa como forma de medição e controlo das adaptações imediatas ao treino. A utilização da F.C. como indicador de intensidade, baseia-se na correlação que existe com o nível de esforço, uma relação linear até valores perto das 170 bpm. Desta forma, através dos dados da FC poderemos prever qual o metabolismo que prevalece durante a competição e os exercícios do treino, sendo a FC um indicador da intensidade dos esforços. A análise da curva do ácido láctico é bastante importante no que diz respeito ao desenvolvimento da capacidade orgânica da resistência. A oscilação da curva permite avaliar os efeitos do treino sobre os atletas na perspectiva da capacidade aeróbia ou anaeróbia. Análise da curva de acido láctico de 2 atletas do programa de treino e estudo 14 12 mM/l 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 Intensidade O atleta 1 (azul) possuí uma melhor capacidade aeróbia pois ultrapassa o limiar anaeróbio (4mM) mais tarde em comparação com o atleta 2 (vermelho). Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 20 A avaliação das diferentes manifestações de força permitem-nos controlar com rigor o desenvolvimento desta capacidade Análise da curva da força máxima de 1 atleta do programa de treino e estudo em dois momentos diferentes da época Força Máxima 1400 1200 1000 N 800 600 400 200 0 0,2 20 30 40 50 60 70 80 85 90 Kg Observa-se um aumento do valor absoluto da força máxima e dos níveis de aplicação de força principalmente sobre cargas médias. Análise da curva força - tempo de 1 atleta do programa de treino e estudo em dois momentos diferentes da época N Curva F-T 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 0 0,5 1 1,5 2 2,5 s Observa-se uma maior capacidade de produção de força contra cargas médias e ligeiras. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 21 Análise da curva de fadiga da velocidade de 1 atleta do programa de treino e estudo em dois momentos diferentes da época m/s Curva de fadiga da velocidad 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 1 2 Observa-se uma melhoria na capacidade de resistência à velocidade, a qual é mais acentuada na segunda parte do jogo. Análise do tempo de contacto de 1 atleta do programa de treino e estudo em dois momentos diferentes da época Tempo de contacto 700 600 ms 500 400 300 200 100 31 29 27 25 23 21 19 17 15 13 11 9 7 5 3 1 0 saltos Observa-se uma ligeira melhoria sobre os valores do tempo de contacto. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 22 CONCLUSÃO A qualidade do treino torna-se decisiva juntamente com a dos próprios atletas quando nos encontramos no alto rendimento desportivo. O sucesso da construção da forma física está no conhecimento das cargas aplicadas assim como no respeito pelo tempo de recuperação orgânica e tempo de adaptação para níveis superiores ao anterior. Segundo A. Viru (1990) os microciclos são responsáveis pela coordenação das cargas de treino para se estabelecer um regime eficaz entre o trabalho e a recuperação. Num microciclo devemos planear não somente o trabalho mas igualmente o tempo de recuperação para o organismo adaptar-se às cargas aplicadas. O treino deverá associar-se ou estar perto dos níveis da competição, no entanto sempre por cima desta, pois o nosso objectivo está igualmente em tentar superar e partir para níveis mais exigentes e ambiciosas de preparação desportiva. Desta forma as sessões tendem a diminuir quanto à sua duração, para uma duração ligeiramente superior à da competição, com uma intensidade submáxima ou máxima e com altos níveis de densidade. Clinic Internacional de Alto Rendimento Pedro Alvarez Técnica e táctica individual nos períodos preparatório, competitivo e transitório 23 BIBLIOGRAFIA Alvarez, P. (2002) “Nuevo Año...Cuerpo Nuevo” LaOpinión, Janeiro, Los Angeles Alvarez, P. (1999) "Contributos para o planeamento do treino do jovem andebolista" Andebol Top, nº1 Out./Nov./Dez. Álvaro, J. (1989) "La condición biológica del jugador de balonmano". Revista Apunts. Vol. XXVI, pp. 182. Álvaro, J. 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