voz dos associados - Associação de Fuzileiros

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voz dos associados - Associação de Fuzileiros
O DESEMBAR UE
B O L E T I M I N F O R M AT I V O
RUA MIGUEL PAES, Nº 25-1º E
2830-356 BARREIRO
TEL: 212 060 079
FAX: 210 884 156
E-mail: [email protected]
SITE - www.associacaofuzileiros.pt
O Homem vive e morre
UM FUZILEIRO NUNCA!
Nº 5
ABRIL 2008
2 Boinas
SUMÁRIO
EDITORIAL ...............................................................
1
NOTA DO PRESIDENTE ..........................................
* Nota do Presidente de Abertura
do Site da Associação de Fuzileiros
2
ENTREVISTA ............................................................
* Comandante Alberto Manuel Barreto Pascoal
Rodrigues
3a7
DESTAQUE ...............................................................
* Cerimónia de Abertura do Ano Operacional
* Encontro Nacional
* Jantar de Natal
8 a 11
EVENTOS ................................................................. 12 a 15
* Dia Nacional do Sargento
* “O Alcache”
* Rendição do Comando na Escola
de Fuzileiros
* “Escola Amizade”
* A A.P.V.G. em Movimento
* Abertura do Bar
* Incorporação de 1994
NÚCLEO DO PORTO ...............................................
* Comunicação
* Convívio na Sede
* Jantar de Natal
16
A VOZ DOS ASSOCIADOS...................................... 17 a 20
* A Força da Saudade
* Águas passadas não movem moinhos...
mas a mim ainda movem!
* Os Anticorpos
* Distintivo Especial da Ordem da Torre e Espada
FUZO – POESIA .......................................................
* Memórias com Tristes Histórias
21
SALPICOS DE VIDA ................................................. 22 a 23
* O Coveiro
DESPORTO ..............................................................
* Eventos Desportivos
24
FUZILEIROS DE SUCESSO ..................................... 25 a 26
* Domingos Janota – “O Pedras”
PERSONAGEM......................................................... 27 a 30
* José Manuel Lima de Carvalho
BREVES .................................................................... 31 a 32
* Apoio Social
* Ofertas/Donativos
* In Perpetua Memoriam
FICHA TÉCNICA
O DESEMBAR UE
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Director e Responsável Editorial:
Dr. Ilídio Neves
Direcção gráfica:
Gráfica 2OOO
Colaboradores:
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José M. Parreira
Filipe Santos
Fotografia:
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Criação, Impressão e Acabamento:
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1495-703 CRUZ QUEBRADA
Telf.: 214 159 852
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(Anexo ao Farol da Boa Nova)
4450-686 Leça da Palmeira
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EDITORIAL
Gosto imenso da frase “O Nunca Cessante
Revigorar da Vida”. Por isso, a adoptei como
título do primeiro livro que publiquei.
Ela representa movimento, iniciativa, renovação, agilidade e permanente dinamismo. Pressupõe ainda um esforço contínuo
para fazer cada vez mais e melhor, inovando e perseguindo, sem vacilar, o progresso
técnico, cultural e científico, numa perspectiva de plena dedicação e entrega, na procura de meios que proporcionem e viabilizem
a perfeição e consolidação das desejáveis
condições de bem-estar social e anímico,
para os membros de uma sociedade ou, simplesmente, para grupos de pessoas, cujos
valores se entrecruzam e identificam em função de determinados elos de ligação
afectiva, mormente aqueles em que os devaneios e sentimentos de uma juventude e
passado comuns, nos unem, nos comovem
e nos fazem sentir bem.
É, pois, com esta filosofia impregnada
na mente, que me venho dedicando, de alma
e coração, à nossa Associação de Fuzileiros, contribuindo com todas as forças do
meu entusiasmo, desde o momento em que
ela se tornou funcionalmente efectiva. Quando fui pela primeira vez convidado para integrar os Corpos Sociais, não havia quase
nada, para além da existência jurídica e de
um pequeno rol de boas vontades. Hoje, porém, num tempo considerado “record”, face
a tantas dificuldades e vicissitudes, orgulhome de ter contribuído, com modéstia e algum esforço, para a criação de infra-estruturas e angariação de meios, que colocam
esta nossa prestigiada Instituição, representativa dos Fuzileiros do passado, do presente e do futuro, numa dimensão nacional, ostentando com grande colorido as insígnias
do prestígio e da dignidade, ao lado de outras associações congéneres, mais antigas
e, em grande parte, mais poderosas.
O biénio deste mandato, está a chegar
ao fim, mas ficará certamente marcado pela
consolidação de algumas obras de vulto,
entre as quais se destaca a consolidação da
sede da Associação num magnífico reduto
de bem-estar, num local espaçoso, bonito e
agradável, que enche de orgulho e encanto
todos os Fuzileiros ou quem dele puder vir a
usufruir.
Devo confessar,
com toda a franqueza, que vivemos durante este período
momentos bastante
difíceis, de alguma
frustração e desencanto, ao ponto de,
eu próprio, pensar
em abandonar a
“nau”. Não por questões inultrapassáveis
de saúde, de sacrifício ou temperamento, mas talvez acossado por patologias
silenciosas, assumidas, pontualmente,
com alguma dificuldade. No essencial,
encerravam tão só razões de bom senso,
de ética e de compreensão, face a algumas metodologias
demasiado individualistas e austeras, que,
por vezes, reflectiam,
de forma pouco discreta, uma espécie de
aleivosias viperinas, que se tornavam inconvenientes e acabavam por atingir e magoar,
porventura sem intenção ou com desculpável censurabilidade, a honra e a dignidade
de alguns, que logo as confundiam com descabidas intromissões de patentes, exacerbadamente disciplinares, que os inibiam de
demonstrar, como gostariam, as suas reais
capacidades e os impediam de fazer mais e
melhor, por se considerarem relegados para
um plano “minorca”, nas franjas do apoucamento.
Não fora, de quando em vez, a grande
sensatez, sentido de equilíbrio e correcção
do mui respeitável Presidente da Mesa da
Assembleia Geral, certamente que alguns
atritos teriam vindo “à tona de água”.
De qualquer maneira, todos os obstáculos foram ultrapassados, todos os ressentimentos foram atirados para longe, tudo está
prestes a acabar em bem e a obra, com todo
o seu esplendor, cresceu e está orgulhosamente à vista e à disposição de todos.
1
Como inicialmente referia, a renovação
e a inovação são factores prioritários neste
percurso. Todavia, paradoxalmente, eu e
uma grande parte dos actuais Corpos Sociais, preparamo-nos para integrar uma nova
lista para o mandato do próximo biénio. Confesso, muito sinceramente, que para além
de considerar ser uma honra e um privilégio
fazer parte dela, só aceitei por sentir ser injusto e desleal para alguns camaradas que
tanto me têm ajudado e por quem tenho
grande consideração e amizade, bem como
dar satisfação a grande quantidade de apelos nesse sentido, provenientes de muitos
outros de norte a sul do país.
De resto, continuar, com a determinação e consciência de que algo pode mudar, eventualmente para melhor, trilhando caminhos diferentes, não deixa, ainda
assim, de caber naquela máxima: “O Nunca
Cessante Revigorar da Vida” na Associação
de Fuzileiros.
Ilídio Neves
2
NOTA DO PRESIDENTE
António Manuel Mateus
Cmg Fze Res
Presidente da Direcção
www
.associacaofuzileiros.pt
www.associacaofuzileiros.pt
Sede, Barreiro, 24 de Fevereiro de 2008
Estimados Sócios:
Em primeiro lugar, em nome dos Órgãos Sociais e particularmente na qualidade de Presidente da Direcção cumpre apresentar
uma palavra de boas-vindas a todos os Sócios em particular, e bem
assim a todos os Fuzileiros e a todos aqueles que na visita a este
SITE partilhem e se revejam “…nos valores que sempre foram
apanágio dos Fuzileiros, designadamente o espírito de serviço,
a coragem, a lealdade e a camaradagem...” consagrados nos
Objectivos Principais, Artº 4º do Capítulo II dos Estatutos da nossa
Associação.
Podemos orgulhosamente a partir de hoje, no cumprimento
de mais um compromisso do nosso Programa passar a usufruir
de um SITE da Associação, depois da consecução da estabilidade administrativa, financeira e contabilística e das ciclópicas
obras de remodelação no Edifício da Sede, em âmbito interno
de responsabilidade da Associação, e externo da Marinha embora solicitadas pela Direcção da Associação, e bem assim e
consequentemente, após se ter procedido á celebração de um
contrato de concessão de exploração a um sócio, passámos a
usufruir de serviços diários de Snack-Bar e aleatoriamente de serviço de “catering” no salão polivalente com relevância para o apoio
aos Encontros das Companhias (CF, s) e Destacamentos de Fuzileiros (DFE, s).
O Domínio e Alojamento do Site estão já legalmente assumidos
e a Estrutura Geral do Site já está alojada, embora algumas das
áreas ainda se encontrem em construção, que objectivamos para
breve. Importa referir que este trabalho está a ser desenvolvido graciosamente com a colaboração e execução técnica do Ex-Ten Fz
António M. Soares de Castro a quem expressamos a nossa gratidão.
A Revista “O DESEMBARQUE”, para além de todos os contactos que temos vindo a fazer em eventos ou encontros de ocasião,
tem-se revelado um óptimo meio para levar ao conhecimento de um
número significativo de Fuzileiros a existência e objectivos da nossa
Associação. Mas agora, a sua divulgação e consulta oferece um
maior e constante número de possibilidades de divulgação não só
da Associação mas também de divulgação da própria Revista como
estrutura integrante do próprio SITE.
Seguramente que o SITE, agora criado, vai possibilitar a
menor custo e maior grandeza um mais fácil, rápido e eficiente
contacto dos Órgãos Sociais e particularmente das futuras Direcções com os sócios e abrir novos horizontes a um número
ímpar de possibilidades de reencontros da maioria dos 12.500
Fuzileiros que passaram pelos teatros de guerra africanos, e
de igual modo de outros tantos ou mais Fuzileiros que, após
1975, se formaram na Escola de Fuzileiros e cumpriram missão
no âmbito das Unidades do Corpo de Fuzileiros ou em missão
das Forças de Manutenção da Paz (PKF) ao serviço das Nações
Unidas e, no âmbito da Cooperação Técnico-Militar Portuguesa, na
formação de Fuzileiros nos Novos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP), na Guiné, Angola, Moçambique e brevemente
em Timor.
Esta oportunidade de interface de conhecimento “quase em
tempo real” vai permitir seguramente, num curto espaço de tempo, levar a nossa mensagem a todos os Fuzileiros que se encontram pelos quatro cantos do mundo e consequentemente
aumentar o nosso Quadro Social, hoje de mais de 1.560 para
no mínimo 5.000 ou mais Sócios. Mas sobretudo e mais importante vai permitir uma maior vivência de camaradagem e o
reavivar de velhas amizades e consagrar o levantamento de
um portentoso testemunho do nosso Património Histórico em honra dos nossos Heróis mortos para gáudio dos vivos e testemunho
de orgulho aos vindouros.
A inscrição como sócio e a colaboração de cada um e de
todos neste objectivo é tão importante quanto indeclinável e a
recompensa, como muito bem sabemos, será sempre e tão só
sustentada “na consciência do dever cumprido”, e no sentimento
de alma de profunda auto-estima de quem um dia, por mérito
próprio, foi eleito e lhe foi concedido o ímpar privilégio de poder usar a BOINA AZUL FERRETE
FERRETE.
FU
ZILEIRO UMA VEZ
FUZILEIRO
FU
ZILEIRO PPARA
ARA SEMPRE
FUZILEIRO
ENTREVISTA
COMANDANTE
ALBERTO MANUEL BARRETO PASCOAL RODRIGUES
Existem momentos que marcam de uma forma muito especial a vida das pessoas e das Instituições ou até mesmo de um
humilde e despretensioso órgão informativo, como é o caso do Desembarque. De facto ao dar início a esta entrevista reflecte-se
nele um eco emocional profundo, repleto de satisfação e orgulho, por ter a subida honra e o excelso privilégio de trazer ao seu seio
a voz e o sentimento de um dos mais distintos e míticos baluartes da corporação que representa.
Com efeito, o prestígio e o carisma que envolvem o comandante PASCOAL RODRIGUES advém-lhe , para além das reconhecidas qualidades humanas, da circunstância de ser o primeiro (o oficial) entre os primeiros, do grupo de quatro Fuzileiros, vulgarmente conhecidos por “4 Magníficos”, que estiveram na sua génese, ao frequentarem e concluírem, com competência, brilho e elegância, o curso nos Royal Marines, em Inglaterra, no já recuado ano de 1961.
O nosso entrevistado de hoje é, pois, o embrião maior, a seiva suprema, da nossa prestigiada Instituição. Foi a partir dos seus
ensinamentos, da sua cultura e da sua respeitável conduta que os Fuzos se iniciaram na instrução e na edificação da grandeza dos
valores que os consagraram como Força Militar de Elite, que enchem de orgulho e glória a Marinha e as Forças Armadas Portuguesas.
É, na verdade, uma oportunidade singular, acolher as suas palavras, que nos chegam do outro lado do Atlântico, e constatar
com emoção que, apesar do tempo e da distância, as suas ideias continuam cristalinas, a sua sublime sensatez permanece e a
relação afectiva, ao nível de um verdadeiro amor paternal, se mantém inalterável, não obstante as vicissitudes, incompreensões e
injustiças que o afastaram prematuramente desta sua grande família.
ALBERTO MANUEL BARRETO PASCOAL RODRIGUES, nasceu, em Julho de 1936, em Lisboa, no popular Bairro da Madre de
Deus, onde viveu a infância, na companhia dos pais. Desde logo, começou por dedicar a sua atenção e orientar as suas brincadeiras de criança para as coisas de natureza militar, certamente por influência do seu pai, que era oficial de Cavalaria. Recorda até que,
no ano de 1943, quando tinha sete anos de idade, em plena vigência da 2ª Guerra Mundial, o seu pai deslocou-se à Alemanha para
visitar a frente de combate com outros oficiais e, no regresso, trouxe para o miúdo diversos brinquedos lá fabricados, tais como
viaturas blindadas, tanques, canhões, etc., que o deixaram completamente extasiado.
Por tudo isto, pela tradição militar e pelo curso realizado no Colégio Militar, começou de imediato a manifestar-se a tendência para
a carreira das armas, tendo optado pela Marinha simplesmente por vocação. Contudo, para além do colégio Militar, frequentou ainda a
Academia Militar e, por fim, a Escola Naval.
Todavia, a opção pelos Fuzileiros, ficou a dever-se essencialmente ao facto de se sentir um apaixonado pelo tipo de acções
desempenhadas por outras Forças congéneres noutros países, em especial pelos “raids” efectuados pelos comandos ingleses nas
costas de França durante os célebres desembarques durante a 2ª Grande Guerra.
Recorda ainda que uma das coisas que mais apreciou e o sensibilizou durante a frequência do curso nos “Royal Marines”, foi
o brio e o esmero com que esses militares se apresentavam no seu dia a dia e as tradições das Unidades com a sua história
3
4
ENTREVISTA
recheada de episódios fascinantes. De resto, essas Unidades mantém, até aos dias de hoje, nomes que atravessaram a história e
que os ingleses fazem questão de preservar e dignificar.
A decisão de abandonar, tão prematuramente os Fuzileiros, que tanto amava, quando era considerado, por todos, uma das suas
principais referências, teve a ver, no essencial, com aspectos marcantes da sua forte personalidade. Nomeadamente a verificação
de situações injustas e injustificadas, como foi o caso da nomeação de colegas seus para determinados cargos, para os quais ele
era, indiscutivelmente, o mais habilitado e melhor posicionado. Nomeação para cargos, no âmbito da Marinha mas fora dos Fuzileiros, logo após a chegada de Angola, onde comandou com grande sucesso e competência o Destacamento nº4 de Fuzileiros
Especiais. Interpretou estas decisões como subtis arrumações na prateleira, especialmente quando o colocaram como comandante de um navio patrulha que nunca saiu da doca onde se encontrava amarrado, na Base Naval de Lisboa.
Passou então para a vida civil, empregando-se, logo de imediato, no Laboratório de Física e Energia Nuclear e, passado algum
tempo, passou a integrar os quadros da empresa Equimetal (metalomecânica do grupo CUF).
Alguns anos mais tarde, em 1975, resolveu emigrar para o Brasil, onde casou (em 1979 ) e tem três Filhas, começando por
desempenhar funções numa Usina de açúcar, passando depois para os quadros de uma grande empresa, composta por três
fazendas, com uma área de 4.000 hectares.
Transformou assim, o seu inigualável manancial de conhecimentos militares e um enorme capital de prestígio, em precioso mas
desconhecido soluto, fazendo brotar deliciosos produtos da terra, misturados com saudade, nas férteis áreas agrícolas da imensidão
brasileira, onde se encontra há 22 anos.
Conservando bem arreigados no sangue e na alma a coragem e a mística do Fuzileiro, continua a trabalhar, apesar de aposentado, na esperança de não parar tão cedo.
Que assim seja, Senhor Comandante!...
DESEMBARQUE: Senhor Comandante, sendo V. EXª. o primeiro entre os
primeiros, o oficial que liderou os designados “4 Magníficos”, que participaram
e concluíram, com eficácia e brilho, no já
longínquo ano de 1961, o curso dos Royal
Marines, em Inglaterra, o qual é considerado o embrião dos actuais Fuzileiros.
Quer referir-nos quais os motivos ou
critérios que presidiram à sua escolha e
que sentimentos e objectivos o animaram
nessa ocasião?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Gostei dessa sua expressão “os 4 Magnificos”! Mas a verdade é que “Magníficos” foram os milhares de Fuzileiros que
viveram essa época. Quanto aos quatro, realmente, iniciámos a instrução partindo do
zero. E não só a instrução. A logistica, a doutrina e a organização também. Foram criadas unidades, os Destacamentos, com
caracteristicas que não existiam em Portugal, e com missões fora do pensamento da
época, em Portugal. Acontece que, no meu
caso, já era um apaixonado pelo tipo de
ações desempenhadas pelos Fuzileiros de
vários países, principalmente pelos “raids”
efetuados pelos Comandos Ingleses nas
costas da França na última Grande Guerra.
Assim, quando o convite foi feito, candidatei-
Colocando as divisa ao Piçarra na presença
do Cte. Metzener
-me imediatamente. Quanto aos critérios que
presidiram à minha escolha, talvez, até certo ponto, esteja no facto de que entre aqueles que eventualmente responderam ao chamado, eu tinha na época uma boa forma
fisica o que pode ter facilitado as coisas.
Também tinha um passado de vida militar
pois frequentei o Colégio Militar do 1º ao 7º
ano e fiz os preparatórios na Academia Militar antes de entrar para a Marinha. Assim eu
conhecia a vida militar desde os meus dez
anos. Isso para não falar, já antes, pois o
meu Pai era Oficial de Cavalaria.
DESEMBARQUE: Qual a sua percepção quanto à opinião dos exigentes
instrutores dos Royal Marines sobre a
aptidão e desempenho da briosa equipa
de portugueses?
CTE. PASCOAL RODRIGUES Acho que ficaram com um explêndida
opinião da capacidade dos nossos homens apesar de todas as dificuldades
que encontrámos, ao chegar no Royal
Marines Training Center, uma vez que não
tinhamos nem uniformes, nem botas,
nem equipamentos para frequentar o
curso (os ingleses nos emprestaram o necessário) e , ainda por cima, os nossos
marujos não sabiam falar inglês o que
me levou a tratar dos assuntos duas vezes, uma ouvindo e outra explicando. No entanto, tudo foi feito como exigido, ou melhor,
pelo menos na parte fisica, mais do que o
exigido, uma vez que todos ficaram em boas
posições, com realce para o Claudino que
ficou em primeiro lugar.
DESEMBARQUE: Acha que conseguiu,
mais tarde, com os demais membros, impor
e pôr em prática, na instrução da Escola de
Fuzileiros, todos os conhecimentos e
metodologias adquiridos em Inglaterra?
Por outro lado, não se apercebeu, desde logo, de que haveria, para além da pers-
5
ENTREVISTA
Os quatro magníficos
pectiva da guerra, propriamente dita, outras
dificuldades com que os Fuzileiros se iriam
confrontar, no percurso que ali se iniciava?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Acho
que sim, mas não foi só o que aprendemos
lá que passámos para a nossa instrução. Na
realidade, o curso em Inglaterra foi ministrado num tempo relativamente curto, onde a
ênfase foi dada à capacidade fisica tendo a
teoria apenas sido aflorada. Na verdade, não
vi por lá uma unica lancha de desembarque
nem fiquei sabendo como usar os botes de
borracha. Assim, completei os conhecimentos a transmitir aos nossos homens, com
tudo que estudei dos Fuzileiros Americanos,
Ingleses e de forças de Comandos Francesas e Unidades Especiais Alemãs sobre operações especiais. Foi com base nisso que
recomendei a organização de unidades essencialmente ofensivas, leves e independentes, para ações de curta duração e grande
capacidade de penetração sem serem detectadas.
Em paralelo, exatamente por me ter apercebido que os Fuzileiros Portugueses iriam
se defrontar com uma guerra de guerrilhas,
é que na mesma época estudei as ações
dos Franceses na Indochina e na Algéria e
assisti aos exercicios dos Comandos do
Exército em Lamego (surgiam então os Caçadores de boina castanha que nessa época também estavam nascendo), e acrescentei esses conhecimentos ao que teria de ser
ensinado, pois era já evidente que os Fuzileiros não escapariam de se envolver nesse
tipo de guerra..
DESEMBARQUE:
Como interpretou o comportamento e o empenhamento
dos seus instruendos, face
aos ensinamentos ministrados,
tendo em conta
os desígnios
pré-estabelecidos em relação
às três frentes
de guerra, na
Guiné, Angola e
Moçambique?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Os nossos homens são excepcionais, são resistentes, duros, disciplinados e dificilmente perdem o moral. Pelo contrário, apesar de certas unidades terem estado em situações às
vezes mesmo absurdas (sendo usadas como
unidades do exército com longas permanencias no terreno), principalmente na
Guiné, nunca deixaram de desempenhar as
suas missões com todo o garbo e, poderia
até dizer, com alto espírito do dever.
A verdade é que os Fuzileiros já nasceram com um espírito de corpo notável,
uma disciplina conscientemente aceite, e
uma sensação de serem homens com capacidades acima do normal o que lhes transmitia uma sensação de orgulho que nunca
desmereceram.
DESEMBARQUE: Depois da experiência vivida como comandante do Destacamento nº 4 de Fuzileiros Especiais,
em Angola, continuaria a adoptar os mesmos métodos e a mesma disciplina
operacional ou procederia a mudanças
significativas?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Sem duvida os métodos seriam os mesmos, bem
como a disciplina, e a mentalidade incutida,
que provaram serem adequados. Apenas a
sua utilização teria de ser diferente mas isso
não dependia de nós e sim dos comandos.
Sei que os tempos eram conturbados e as
decisões não eram fáceis, no entanto, isso
não permitiu que as nossas unidades se destacassem ainda mais o que aconteceria se
tivessem sempre sido usadas corretamente
como unidades de intervenção.
DESEMBARQUE: O senhor tem consciência de que deixou marcas profundas em
quase todos os instruendos que tiveram o
privilégio de apreciar, admirar e respeitar o
seu aprumo e rigor militar. Sempre teve a
noção desse impacto e da forma como perdurou ao longo do tempo?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Para dizer a verdade, até 2005, não tinha essa ideia.
Só a partir desse ano vi os amigos que
tinha feito no DF4 e muitos outros que conviveram comigo durante a instrução. Só aí
também vi como foi certa a minha maneira
de agir pois até essa data ninguém me tinha
dito que a minha ação tinha sido merecedora de reconhecimento. Só aí, ainda, vi que
Homenageando os camaradas mortos, com o seu Destacamento nº 4
6
deveria ter orgulho não só por ser um Fuzileiro mas também por ter sido útil à minha Pátria e aos homens que serviram comigo.
DESEMBARQUE: Existe hoje a noção
de que o senhor comandante deixou prematuramente a Marinha e os Fuzileiros.
ENTREVISTA
de Fuzileiros que não surgia e a vontade de
regressar aos Fuzileiros me minava, Essa
espera frustou-me. Logo a seguir, para agravar, fui colocado no comando de um navio
patrulha que, por sinal, nunca saíu da Base
Naval. Assim, os anos passavam e estava
com a sensação de ter sido jogado numa
prateleira. Estando afastado dos Fuzileiros
durante cerca de sete
anos, foi nascendo a minha decisão
de deixar a
Marinha.
a ideia, que organizou tudo (aliás com muita
eficiência) e que até mesmo muitas vezes
se sacrificou para conseguir levar avante a
reunião de todos os que fizeram parte do
nosso Destacamento. O que é facto é que
ele sempre será um fuzileiro não importa a
atividade do momento. Simboliza bem o
nosso lema “fuzileiro uma vez fuzileiro para
sempre”. Ele diz que fui um Pai para ele e
eu sinto que tenho nele o Filho que qualquer um gostaria e teria muito orgulho em
ter.
Devo-lhe o facto de, quarenta anos depois, ter descoberto que todos se lembram
de mim com carinho e amizade. Nada pode
ser mais gratificante porque deles tambem
nunca me esquecerei.
DESEMBARQUE:
DESEMBARQUE: Volvidos todos estes
Esperava,
depois de ter anos e depois de tantas vicissitudes qual é
deixado a o sentimento que ainda hoje mantém sobre
Marinha há a Instituição? Voltaria a calcorrear os mestantos anos, mos trilhos sem remover obstáculos ou coser alvo de locaria outras exigências?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Sem duuma sentida
e significan- vida, faria tudo de novo, mas com certeza,
Com o Comandante Naval
te homena- sabendo o que sei hoje, teria outra visão do
gem, levada problema e teria lutado mais ainda para que
Tem algum fundamento esta asserção? a cabo por um seu subordinado do Desta- os Fuzileiros fossem vistos pelos Comandos
Na afirmativa, quer referir-nos o porquê e em camento nº4, o
“Almada”?
que medida se julgou injustiçado?
Chegou,
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Realmente saí mais cedo do que devia. A verda- nessa altura, à
de é que, não houve um motivo mas sim uma conclusão de
sucessão de factos.Quando, na criação da que afinal nunEscola de Fuzileiros, foram nomeados vá- ca tinha saído
rios Oficiais, um deles assumiu a direção da dos Fuzileiros?
instrução o que estranhei pois eu ainda lá
CTE. PASestava e não vi motivo para ficar subordinado nessa tarefa. A seguir fui comandar o DF4 COAL RODRIo qual foi colocado numa posiçaõ defensiva GUES - É verdaque contrariava tudo o que tinha ensinado e de. Eu, entretanpara o qual tinha idealizado essas unidades. to, já fiz essa
Depois, quando voltei de Angola não regres- afirmação para
sei aos Fuzileiros tendo sido nomeado para vários dos nosAjudando à missa em sua homenagem
a Escola Naval, durante aproximandamente sos camaradas:
4 anos, onde desempenhei as funções de - que saí da MaIntrutor de Infantaria. Até certo ponto ainda rinha mas não dos Fuzileiros. Como já referi e pela população e, portanto pela Nação,
nessa época achava certa essa nomeação anteriormente, foi nessa altura que lamentei com a dignidade que as suas ações e tradipois estava transmitindo, agora aos Cade- mais ainda, ter-me afastado daqueles em ções merecem.
tes, tudo o que necessitavam para a futura quem afinal sempre podia confiar, às vezes
DESEMBARQUE: Sendo certo e inequívida de oficial, que se apresentava como de a vida, e que serão para sempre os meus
continuação da situação de guerra. Entre- camaradas de tempos extraordinários para voco que, perante a sociedade portuguesa,
tanto sonhava com a criação de um Corpo todos. Destaco, é claro, o “Almada” que teve os Fuzileiros são tidos como uma das prin-
ENTREVISTA
cipais Forças de Elite, que muito têm dignificado a Marinha e prestigiado a imagem de
Portugal, interna e externamente, não acha
que se assiste a um subaproveitamento ou
até alheamento por parte dos principais responsáveis políticos e militares, quanto à sua
utilização ou empenhamento em missões internacionais, como vem acontecendo com
outras Forças nacionais?
CTE. PASCOAL RODRIGUES - Tenho
realmente acompanhado, só esporadicamente, as atividades do nosso Corpo mas
não tenho como emitir uma opinião por desconhecer as razões dos responsáveis pelo
descaso a que se assiste. Ainda acredito nas
pessoas e quero crer que muitos dos nossos Comandos têm lutado para que essa
situação mude. Isso foi, aliás, uma coisa que
senti quando estive em Portugal e conversei
com eles.
DESEMBARQUE: Acha que a Marinha
sempre investiu e concedeu à nossa especialidade aquela dose de dignidade e consideração coincidente com o prestígio e glória com que ao longo da sua existência os
Fuzileiros a brindaram, ou inclui-se naquele
conjunto de pessoas que têm corroborado
a tese de que eles sempre foram encarados
como os parentes pobres e mais sacrificados desta grande família de Marinheiros?
CTE. PASCOAL RODRIGUES – No inicio, a Marinha realmente investiu tudo quanto pode e se esforçou por dar aos Fuzileiros
os meios de que necessitavam. Temos de
lembrar que não existia nada. Tudo foi construido a partir do zero, com a agravante de
estarmos em guerra e com todos os obstáculos que outros paises nos punham para
conseguirmos equipamento e armamento.
No entanto, depois da guerra parece que
alguém achou que era uma força a dispensar criando condições humilhantes para
muitos dos nossos homens que hoje des-
7
crevem o descaso
com que eram tratados e a pouca importância com que
eram vistos logo
após a guerra.
Hoje, sinto haver
vontade, por parte
da Marinha, de devolver aos Fuzileiros
o prestígio e glória a
que se refere. Vamos ver se a Marinha consegue. Esperemos que sim.
Parece-me também que já chegou
Recentemente, no Brasil, acompanhando a visita
a hora dos fuzileiros
do Presidente da Republica, Cavaco Silva
terem os seus próprios uniformes. Ao
ser reativado o Corpo, justificava-se que to- 2005 quando fui a Portugal. Tiveram a gentidos usassem o uniforme dos “marujos” , leza de me nomearem sócio honorário dela
pois todos vinham de lá, mas isso não acon- o que muito me honra. Foi aí também que vi
tece mais. Acho de grande importância ir pela primeira vez a revista “Desembarque” .
buscar as nossas tradições como aliás acon- Só posso dizer que é uma iniciativa de muitece com todas as principais forças de fuzi- ta importância para todos nós. Penso que
leiros do mundo. Notem os fuzileiros do Bra- esse é mais um elo que não nos deixa essil, nossos herdeiros, que agora comemo- quecer o que foram aqueles tempos de luta,
ram duzentos anos de existência e se orgu- sacrificio e luto e pode ser mais importante
lham de serem os descendentes dos fuzilei- ainda no futuro.
ros portugueses lá desembarcados em 1808.
Não conheço quais as atividades já deAs suas tradições são marcantes e nós esta- senvolvidas pela Associação até agora, mas
mos esquecendo as nossas. Nós, já existía- sei que, com certeza, cabe à Associação
mos nessa época!
defender os interesses da Corporação e dos
seus integrantes. Ou seja, cabe a ela repreDESEMBARQUE: Para terminar, o que sentar os Fuzileiros, sejam da activa ou não,
se lhe oferece dizer sobre a Associação de e lutar por eles perante os Comandos e o
Fuzileiros e sobre o conteúdo e apresenta- Governo.
ção do nosso Desembarque?
Desejo, pois, que a Associação se fortaleça sempre mais e seja a voz da nossa
CTE. PASCOAL RODRIGUES - A pri- Corporação.
meira vez que tomei conhecimento da exisIlídio Neves/Mário Manso
tência da Associação foi exatamente em
NÚCLEO DO PORTO
DA ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROS
RUA CORONEL HELDER RIBEIRO (ANEXO AO FAROL DA BOA NOVA)
4450-686 LEÇA DA PALMEIRA
SITE: www.nucleofuzileirosporto.org
8
DESTAQUE
CERIMÓNIA DE ABERTURA DO ANO OPERACIONAL
Realizou-se no passado dia 26 de Outubro de
2007, a Cerimónia de
Abertura do Ano Operacional 2007/2008, na
Base Naval de Lisboa,
contando com a presença de diversas entidades
da Marinha e dos outros
ramos das Forças Armadas, assim como entidades que colaboram com
a Marinha.
A cerimónia foi presidida por S. Exa. o Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Fernando de Melo
Por sua vez, o Vice-almirante Comandante Naval (VALM CN), Vice-almirante Vargas de Matos, realçou também o papel dos
Fuzileiros, referindo os diversos exercícios nacionais e estrangeiros em que
os Fuzileiros estiveram
presentes, como força integrada ou através das
equipas do Pelotão de
Abordagem embarcada. O
VALM Comandante Naval
referiu também: -”...o
determinante apoio do
Chegada à cerimónia de Suas Ex.as o CEMA e COMANDANTE NAVAL
DAE na luta contra o
narcotráfico” e revelou:
Congo, men- “...o orgulho que senti ao ver os botões de
cionando que: âncora, a alcaxa e as boinas azul ferrete do
“...a acção mais Pelotão de Fuzileiros que desfilou nos Camrecente, no Con- pos Elísios, a 14 de Julho passado, no desgo, manteve a file comemorativo do Dia Nacional da Frantradição de ex- ça.”. A activação da Secção de Avaliação e
celência a que Treino dos Fuzileiros, foi alvo de menção por
nos habitua- parte do VALM Comandante Naval, realçanram. Continua- do que ela: “...reforçou a manutenção dos Pamos, contudo, drões de Prontidão Operacional...,... racionaa aguardar a lizando o treino.”.
oportunidade
(Colaboração do Comando do
da sua particiCorpo de Fuzileiros)
Desfile frente à Tribuna de Honra
Gomes, sendo as forças em parada constituídas por um Batalhão Naval representando as diversas Esquadrilhas e um Batalhão
de Fuzileiros, comandadas pelo CMG Coelho Cândido, actualmente a desempenhar as
funções de Comandante da Zona Marítima
da Madeira.
No seu discurso, o Almirante Chefe do
Estado-Maior da Armada (ALM CEMA), referiu o emprego dos Fuzileiros pela Marinha
de forma considerável em acções de âmbito diário e a nível nacional, tendo também
referido a presença de uma Força de Fuzileiros na Missão da União Europeia no
pação em missões
no âmbito da Forças Nacionais Destacadas...”. O ALM
CEMA, fez ainda
questão de mencionar o projecto do
Navio Polivalente
Logístico,”, identificando-o como
“...instrumento fundamental para a
mobilidade dos Fuzileiros...”.
Sua Ex.ª o CEMA passando revista aos Fuzileiros
9
DESTAQUE
ENCONTRO NACIONAL
Esta feliz iniciativa, levada a cabo com
muita dedicação e muito esmero pela nossa
Associação, poder-se-á considerar hoje um
audacioso projecto conseguido e plenamente consolidado.
completa simultaneidade, aquela sensação,
exacerbada com os intrometidos arrepios de
felicidade e os resquícios de energia pungente, ao encarar, olhos nos olhos, os rostos envelhecidos daqueles inesquecíveis
companheiros de
então, transformavam de imediato
aquela simbiose de
tormentos em torrentes de alegria
que arrastavam
agradavelmente os
vendavais do passado em afortunados relicários de
grandezas, em estímulos rejuvenescidos de coragem,
de valor, de amizade e fraternidade.
A este grande
Uma demonstração cinotécnica
evento juntaram-se,
Com efeito, a prova cabal desta verdade uma vez mais, repletos de curiosidade e
foi uma vez mais observada e sentida com emoção, muitas centenas de camaradas –
emoção no passado dia 07 de Julho do ano sensivelmente um milhar – e suas famílias,
transacto, no “regaço” da nossa acolhedora vindos dos diversos pontos do país e até
mesmo do estrangeiro, alguns com o proCasa Mãe, a Escola de Fuzileiros.
É, de facto, reconfortante, observar, in- pósito exclusivo de participar neste dia esterpretar e compreender o estado de
alma de centenas de
criaturas que, sem
mesmo se aperceberem, se submetem a uma espécie
de metamorfose delirante quando, inesperadamente, se
confrontam com
aqueles locais especiais, que há já tantos anos lhes haviam
servido de palco; de
grandes sofrimentos,
de dolorosas reflexões, de ódios e
afectos, de ilusões e
No convívio do Repasto
desilusões. Mas, em
pecial de fraternal convívio, promovendo diálogos emocionantes com os inesquecíveis
companheiros das horas boas e das horas
más, recordando os momentos fantásticos
vividos em circunstâncias muito difíceis nas
longínquas mas sempre presentes terras africanas.
O Encontro Nacional, abençoado com o
abraço materno da nossa Escola, personalizado na excelência do apoio dos seus responsáveis máximos, o CMG Pires Carmona,
Distintíssimo Comandante, e CF Ova Correia,
Simpático e Eficientíssimo 2º Comandante,
traduziu-se em mais um êxito extraordinário, designadamente no que concerne aos
princípios da eficiência, organização/prontidão, simpatia e disciplina funcional.
Esta gentileza, solidariedade e criação de
excepcionais condições de lazer, em muito
se deve, também, ao empenho e disponibilidade dos senhores Tenentes Relvas e Reis,
que colocaram os meios de que são responsáveis (UMB – Botes e Lanchas – e Ginásio), que tanto significado têm para os Fuzileiros, à disposição (com acompanhamento) daqueles mais saudosistas que, apesar
das circunstâncias, não resistiram em
reavaliar as suas capacidades e aptidões
através de umas incursões labirínticas nas
turbas águas do
charco ou no campo
das demonstrações
físicas.
Para trazer maior
significado e brilho
ao evento, acrescentando-lhe aquela
dose preciosa de orgulho e mística juntaram-se a esta grande
família de Fuzos alguns dos mais altos
e prestigiados dignitários da nossa Marinha, como sejam os
Exmos. Vice-Almirante Vargas de Matos,
Comandante Naval,
Alexandre Reis Ro-
10
DESTAQUE
Passeio Anfíbio no rio Coina
drigues, Presidente da Mesa de Assembleia
Geral da Associação de Fuzileiros, ContraAlmirante Carvalho Abreu, Comandante do
Corpo de Fuzileiros, entre outras destacadas individualidades civis e militares.
Todos saíram satisfeitos e rejuvenescidos
desta inesquecível jornada de saudade, fraternidade e convívio, na certeza de que um
Fuzileiro viverá para sempre e dirá sempre
presente nesta implacável sequência de gerações.
O almoço servido, como habitualmente, no refeitório da Instituição, constou de
um delicioso prato de carne à alentejana,
com os respectivos acompanhamentos, e
decorreu com eficiência e absoluta normalidade.
Matando saudades
Durante a tarde, à sombra dos imponentes pinheiros junto ao Ginásio, as imperiais
escorriam velozmente, refrescando as gargantas daqueles que afanosamente procuravam deixar a conversa em dia, prometendo deixar ainda algumas para o encontro do
próximo ano.
Ilídio Neves
JANTAR DE NATAL
Nos últimos dias do mês de Novembro/2007, já o pedestal gigante do Cristo Rei, em Almada, estava surpreendentemente
engalanado com milhares de lâmpadas azuis, que representavam
duas estrelas, cujas pontas se estendiam desde a base do monumento até aos pés da imagem de Jesus.
O signatário já mora em Almada há cerca de três décadas, mas
foi a primeira vez que
ali viu aquela magnífica ornamentação natalícia, daí a surpresa
e o encanto, embora
se fosse apercebendo
que, aparentemente, o
cidadão comum pouca
importância atribuía à
deslumbrante novidade.
Todavia, aquela
beleza altaneira, que
se reflectia no Tejo e
iluminava a grande
Lisboa, não passou
despercebida a uma
equipa de reportagem
da televisão da RúsA imponente beleza do Cristo Rei
Vista fantástica sobre a ponte e a Capital
sia, que se prontificou a filmá-la com grande pormenor, nela incluindo toda a maravilhosa envolvente paisagística. Na verdade, pelas
primeiras horas da madrugada de um desses dias, estava, sem sono,
deitado no sofá, fazendo um “zapping” pelos diversos canais da TV
Cabo, quando, admirado e fascinado, se detém num desses novos
canais do leste europeu, ao verificar a grande reportagem que passava, com enorme destaque e pormenor, mostrando aos telespectadores russos aquela ofuscante novidade anunciadora do Natal e
11
DESTAQUE
Na oportunidade, foram manifestados os desejos de Boas-Festas a todos os presentes pelo Presidente da Direcção, comte. Manuel Mateus, tendo também sido agraciado com o distintivo em ouro
da Associação de Fuzileiros, o senhor Contra-Almirante Borges
Habilitação para o repasto
todo o seu belo enquadramento. Deve confessar que ficou com imensa pena por não entender uma única palavra do comentador, que
por certo seria comovente e bastante prestigiante para o nosso país.
Pois foi exactamente ali, a escassos metros desse esplendor e
com a bênção do Cristo-Rei, que teve lugar, numa sumptuosa e
acolhedora tenda, adequada aos grandes eventos, no passado dia
01 de Dezembro, o jantar de Natal da nossa exaltante família de
Fuzileiros, promovido pela nossa Associação.
Não estava inicialmente previsto que a confraternização ali acontecesse, devido, acima de tudo, aos custos mais elevados, pela singularidade e
beleza do local. Contudo, o seu proprietário, o senhor LEONEL, com quem
foi contratualizado o convívio, por amizade e consideração pelos Fuzileiros,
disponibilizou, com gentileza, esse espaço, em vez do outro previsto na
Quinta do “Dia a Dia”, nas Casas Velhas/Caparica, sede da empresa, pelo
mesmo preço antes acordado.
Foi um jantar muito agradável, onde compareceram cerca de
três centenas de Fuzileiros, suas famílias e alguns convidados. A
ementa era rica e abundante, cujo prato principal constava de “Bacalhau à Posta c/ Broa, em base de grêlos, azeite ácido e vinho
moscatel”, acompanhado de diversos e deliciosos aperitivos e entradas e, como sobremesa, uma tarte de Azeitão ladeada com ananás. As bebidas, de aperitivo, refeição e digestivos, eram igualmente de boas marcas e excelente qualidade.
Comendo e conversando
Brandão, como reconhecimento pela sua simpatia, empenhamento
e auxílio para a realização das obras da sede.
Foi ainda realizado um leilão de vinhos, de origem demarcada,
cujas garrafas ostentavam o símbolo da Associação e a inscrição
relativa à data da comemoração, cujo resultado foi excelente.
A festa foi abrilhantada pelo conjunto musical “Recordar é Viver”, a que
pertence o nosso sócio Silva Santos, que deliciou os presentes com música
Animação no jantar
para todos os gostos, mormente aqueles ritmos contagiantes dos anos
sessenta, com o tão animado e tocante “sotaque” africano, que “forçava”
os mais hesitantes e ternurentos a um “pésinho” de dança, impondo-lhes
um sentimental retorno ao passado.
Era já madrugada, do dia seguinte, quando a maioria dos convivas regressou às suas casas, felizes e contentes, por terem vivido
momentos inesquecíveis no seio desta grande família de Fuzos.
O belo bacalhau – A essência da festa
Ilídio Neves
12
EVENTOS
DIA NACIONAL DO SARGENTO
Comemorou-se, no passado dia 28 de Janeiro, na Voz do Operário, em Lisboa, o Dia Nacional do Sargento.
À cerimónia compareceram muitos militares, numa manifestação grandiosa de solidariedade e camaradagem, o que, para além
do significado e brilho, revelou bem o entusiasmo e combatividade
da classe.
As diversas intervenções foram acaloradas e bastante contundentes, especialmente quando se referiam à delicada problemática
da condição militar, mormente quando o enfoque recaía nos atropelos dos respectivos direitos, cada vez mais ameaçados e menos
dignificados.
Estiveram presentes militares e ex-militares de todos os ramos
das Forças Armadas, com uma grande percentagem de elementos
da Marinha.
“O ALCACHE”
A Associação “O ALCACHE” – Associação de Marinheiros do Distrito de
Setúbal -, de que faz parte um número significativo de associados da Associação de Fuzileiros, nomeadamente o seu Vice-Presidente e outros membros dos Corpos Sociais, reuniu a sua já grande família num jantar convívio
de NATAL, em Setúbal, no passado dia 15 de Dezembro de 2007.
Tratou-se, à semelhança de anos anteriores, de um encontro fraterno,
de marinheiros do passado com os respectivos familiares que, enquanto
enfrentavam o delicioso “bacalhau com batata a murro”, se entrincheiravam
no “álbum de recordações”, revivendo episódios fantásticos e inesquecíveis, no mar ou em terra, nas mais diversas e longínquas paragens ao serviço da Marinha.
Segundo o lema “recordar é viver”, quase todos se sentiam rejuvenescidos e felizes, transformando a nostalgia numa verdadeira aventura do moPreparação da parte recreativa
mento.
O Presidente José Colaço, o Cabral, o Terlim, o Alonso e mais alguns,
estão de parabéns pela perseverança, pelo dinamismo e pela alegria que imprimem a esta simpática Associação.
Ilídio Neves
RENDIÇÃO DO COMANDO NA ESCOLA DE FUZILEIROS
Embora o DESEMBARQUE não tenha
estado presente na cerimónia, por não ter
tido conhecimento atempado, pretende deixar registado que, no passado dia 22 de
Novembro de 2007, teve lugar na Escola de
Fuzileiros a “passagem” do Comando da “Casa-Mãe”, do CMG Pires
Carmona para o CMG António Ruivo.
Tratou-se, afinal, de mais um acto
solene, de grande significado para os
Fuzileiros, que expressa aquela máxima,
tão ao gosto do signatário: “É o nunca
cessante revigorar da vida”.
Ao comandante cessante, o estimado CMG Pires Carmona, pretendemos expressar o reconhecimento e a enorme gratidão da Associação de Fuzileiros e
do seu Órgão Informativo pelo relacionamento, absolutamente exemplar, em afectividade
e simpatia, carinhosa mesmo, na verdadei-
ra acepção da palavra, e pela permanente
disponibilidade e colaboração, no desprendido auxílio que sempre nos concedeu, exercendo na plenitude o sentimento maternal
sublime da nobre Instituição que tão brilhante
e eficazmente dirigiu.
Ao novo Comandante, CMG António Ruivo, queremos manifestar os desejos sinceros
das maiores felicidades no desempenho do
honroso cargo, na certeza de que poderá sempre contar com o apoio, consideração e amizade da Associação de Fuzileiros e do seu
Desembarque, tal como esta novel Instituição
gostaria de continuar a permanecer no reconfortante regaço da “Casa-Mãe”.
13
EVENTOS
“ESCOLA AMIZADE”
A Associação “Escola Amizade”, do Algarve, sob a direcção do
nosso estimado associado Sortelha Martins, levou a cabo, no passado dia 16 de Setembro, do ano transacto, mais um agradável
Animação a bordo
Subindo e descendo o Guadiana
convívio, em que participaram muitos sócios da região algarvia e de
outros pontos do país, acompanhados por familiares e amigos.
O evento, não sendo propriamente inédito, foi, isso sim, invulgar
e bastante divertido, com todos os convivas envolvidos num ambiente
de alegria e animação, dançando, cantando, conversando e rindo,
dando largas a imaginativos cenários artísticos, muitos deles improvisados, ao longo do majestoso curso do rio Guadiana, desde Vila
Real de Stº António até Castro Marim.
Na verdade, pareceu-nos ser feliz a ideia de, em vez do isolamento de um restaurante, transferir a reunião/convívio anual para
um passeio turístico no Guadiana, a bordo de um barco típico muito
bem adaptado a este tipo de acontecimentos.
A bordo havia comida em abundância, com paladares absolutamente excepcionais, autênticas especialidades de peixe confeccionadas por gente ligada às actividades do mar, com o acompanhamento musical de um conjunto magnífico e de diversos artistas, valiosos e originais, que, satisfazendo quase todos os gostos musicais, tornavam aquela viagem “romântica” verdadeiramente empolgante.
O almoço principal, bem composto de carnes, peixes e bebidas
diversas, decorreu no panorâmico castelo de Castro Marim, com a
tranquilidade da vila espanhola a acenar da outra banda.
O Desembarque esteve presente, na companhia de alguns camaradas fuzileiros, que foram simpaticamente acolhidos pelos amigos e sócios da Associação de Fuzileiros, entre eles o infalível Zé
Em Castro Marim com a Espanha na outra margem
Armando, o Magno e outros, para além do incansável Sortelha
Martins.
Uma vez mais o nosso orgulho transbordou.
Parabéns, caros amigos, por esta bela iniciativa!
Ilídio Neves
A A.P.V.G. EM MOVIMENTO
Esteve igualmente presente uma Delegação da Associação, com o Vice-Presidente e outros membros da Direcção, na cerimónia de
inauguração da remodelação das obras da sede da APVG, em Braga, no passado dia 12 de Novembro de 2007, na qual participaram ainda
o Presidente da Câmara local, o representante do Governo Civil e alguns Deputados à Assembleia da República, para além de todos os
responsáveis dessa grande Associação de Veteranos de Guerra e de outras Instituições relacionadas com os ex-combatentes.
Foi servido um Porto de Honra e, na ocasião, o Presidente da APVG, Dr. Augusto Freitas, deu conhecimento pormenorizado dos
trabalhos realizados e das dificuldades sentidas, agradecendo a presença de todos.
14
EVENTOS
—XXX—
A Associação de Fuzileiros, associou-se,
uma vez mais, a algumas iniciativas levadas
a cabo pela Associação Portuguesa dos
Veteranos de Guerra (APVG).
Esteve presente, com guião e diversos
representantes, na inauguração de um bonito e significativo monumento aos combatentes, na freguesia de Abelheira, concelho
da Lourinhã, cujo Presidente apoiou a obra,
esteve presente e presidiu às cerimónias.
Tratou-se de um acontecimento importante, quer pelo seu simbolismo e significado, mas também pela enorme participação
de pessoas, que quase encheram as ruas
da localidade numa impressionante e
comovente procissão, com a imagem de S.
Sebastião, desde a Igreja até ao local onde
foi erguido o monumento.
Bênção do monumento em Abelheira
—XXX—
Também, uma vez mais, uma Delegação da Associação de Fuzileiros, presidida pelo seu Presidente, Cte. Manuel Mateus, esteve
presente na habitual cerimónia de homenagem aos ex-combatentes, na freguesia do Moledo, Lourinhã.
Desta vez, o evento coincidiu com a inauguração de mais uma
placa de mármore negro, colocada ao lado do belo monumento ali
existente, na qual consta um bonito e significativo poema, da autoria do Presidente da Assembleia Geral da APVG, Sr. Manuel
Pereirinha, cujo conteúdo e sentimento se adequa na perfeição àquele local e à circunstância.
Foi mais um momento de invulgar significado e brio patriótico
dos Veteranos daquela região, que culminou num ambiente de fraO registo em pedra do poema
ternal camaradagem, entre representantes de diversas organizações congéneres, num
pantagruélico almoço/convívio, no pavilhão
desportivo da localidade, sob a orientação do incansável Sr. Castro e da sua simpática companheira, D. Helena.
Bem hajam, caros amigos, o Desembarque
jamais deixará de vos felicitar e de exaltar a vossa
entrega, o vosso esforço e a vossa abnegação!
Ilídio Neves
Homenagem junto ao monumento
15
EVENTOS
ABERTURA DO BAR
O dia 20 de Outubro de 2007, tornar-se-á memorável, por coincidir exactamente com a abertura oficial do Bar da Associação de
Fuzileiros.
Vista parcial da sala do bar
o Egas Soares, que fez parte desta prestigiada Unidade, num brinde especial aquele momento.
Ilídio Neves
Balcão do bar
O facto em si, não assumiu, apesar do significado, uma relevância extraordinária, devido, talvez, à circunstância de ali terem acorrido muito poucos associados, porventura devido à falta de um programa específico nesse sentido, ou até por desconhecimento.
Todavia, o acontecimento coincidiu também com a realização
ali, no salão anexo, do almoço convívio dos camaradas que fizeram
parte do Destacamento nº 1 de Fuzileiros Especiais, que estiveram
em Moçambique, de 1964 a 1966, com a presença do seu então
Imediato, CMG Gomes Pedrosa, o que, de certa maneira, acabou
por conferir uma maior dignidade e expressão à inauguração, especialmente quando os convivas se juntaram ao Vice-Presidente da
Associação e outros membros dos Corpos Sociais, nomeadamente
Destacamento nº 1 de FZEs, cujo convívio coincidiu com a abertura do bar
INCORPORAÇÃO DE 1994
Realizou-se, uma vez mais, na tranquilidade da Quinta da
Valenciana, no passado dia 10 de Novembro de 2007, o tradicional convívio dos Fuzileiros da incorporação de 1994. Dela
fazem parte os dirigentes associativos Espada Pereira – Direcção Nacional – e “Zé da Mota” (o Silva) – Núcleo do Porto.
É reconfortante constatar que estes jovens Fuzos, da
geração pós-guerra colonial, mantém bem vivos e
actuantes os princípios, o espírito e a mística das gerações mais antigas, demonstrando-nos, com a sua determinação e irreverência, a solidez e perenidade dos sentimentos e dos valores que nos envolvem.
É bom sentir este “estado de alma”, porque se trata,
acima de tudo, de um indício forte de que existe passado, há presente e haverá seguramente futuro, dando expressão e conteúdo à nossa máxima: “Fuzileiro uma vez,
Fuzileiro para sempre”!
Ilídio Neves
Numa visita ao Museu do Fuzileiro
16
NÚCLEO DO PORTO
COMUNICAÇÃO
Comunica-se aos caríssimos associados, que a correspondência a enviar ao Núcleo, deverá ser dirigida para: RUA CORONEL HELDER
RIBEIRO (ANEXO AO FAROL DA BOA NOVA) – 4450 – 686, LEÇA DA PALMEIRA, dado que, nas actuais circunstâncias, já não se justifica o
pagamento de um Apartado.
A Reunião Geral do Núcleo e Eleições, ir-se-ão realizar no dia 05 DE ABRIL DE 2008.
As listas concorrentes às Eleições para a Direcção do Núcleo, para o biénio 2008/2010, deverão ser entregues na sede (do Núcleo), até
ao dia 29 de Março.
Todos os sócios da Associação de Fuzileiros, que tenham residência no Distrito do Porto, deverão remeter ao Núcleo de Fuzileiros do Porto,
as declarações de vínculo ao mesmo, cujos modelos foram já enviados juntamente com a convocatória para a Reunião Geral e Eleições. Só com
este procedimento o Núcleo poderá continuar a enviar-lhes correspondência, no futuro, porquanto, se assim não fizerem, este deixará de
receber a percentagem das quotas a que teria direito.
CONVÍVIO NA SEDE
Como é habitual, realizou-se mais um convívio na sede do Núcleo.
Desta vez, teve um significado especial por ser o último antes do
Natal.
Como é apanágio dos Fuzos, todos os convivas foram benvindos
independentemente de serem Fuzileiros, de outras classes de Marinha, ou mesmo oriundos de outros ramos das Forças Armadas. Qualquer pessoa é sempre bem recebida por todos os Filhos da Escola que
frequentam a nossa sede, sem descriminações ou exclusões.
Até ao final da tarde, toda a gente se divertiu, provou os petiscos do
Pereira, o cozinheiro de serviço e, para finalizar, saboreou-se a indispensável fatia de Bolo Rei, fazendo-se ainda o brinde colectivo de um Feliz
Natal com um Porto de Honra.
O convívio repete-se todos os sábados à volta dos petiscos preparados pelo Pereira, aproveitando-se também para pôr a conversa em dia,
“matando-se” o tempo jogando cartas ou disputando uns jogos de
matraquilhos.
JANTAR DE NATAL
Decorreu, no passado dia 01 de Dezembro,
mais um jantar de Natal
do Núcleo de Fuzileiros
do Porto.
Estiveram presentes
algumas dezenas de
Fuzileiros, alguns dos
quais acompanhados
das respectivas esposas e filhos.
Apesar de alguns contratempos, os Fuzos do Norte, com a sua
habitual pré disposição pacífica, lograram superar todas as adversidades e transforma-las em mais um momento de fraternidade e sã
camaradagem.
O convívio terminou já depois da meia-noite num ambiente alegre e festivo, a condizer com a quadra natalícia.
17
VOZ DOS ASSOCIADOS
A FORÇA DA SAUDADE
Há tempos,
alguém ligou
para a minha
casa dizendo
que queria falar com o Sr. António Milheiro
da Piedade Varandas:
Sou o próprio! Respondi.
Ah!... então é o seguinte:
Amanhã, o senhor deve estar na sede
da Polícia Judiciária, em Lisboa, às três horas. Percebeu?
Aquela voz, notoriamente disfarçada, tinha para mim, no entanto, algo de familiar.
Resolvi então dar mais um pouco de “corda” à conversa, pedindo mais dados, como
fito de apanhar o “engatatão”, tendo ele,
após mais algumas palavras, rematado com
a mesma questão: Percebeu?
Percebi tudo muito bem, Manel!... . Retorqui.
Do outro lado fez-se silêncio. Um longo
silêncio. Um silêncio que, no entanto, dizia
mais do que alguém por palavras poderia
dizer.
Estava ali a história toda. De dois mancebos, de milhares de mancebos talvez, que
um dia, seguindo o curso dos rios que correm pelas suas terras, vieram engrossar esse
caudal gigante, que é a Marinha. Vieram lançar-se na grande aventura, que são os Fuzileiros.
Naquele gesto curioso, estava representada a amizade e o amor fraterno entre homens que, muitas vezes,
se lançam nos braços uns dos outros,
como crianças correndo para os braços
da mãe. Ali, na ponta daquele fio, em silêncio … .
Por fim, ainda muito emocionado, o
Manel retratou-se e confessou o embuste,
tendo ficado por ali, porque as lágrimas não
o deixaram dizer mais nada.
Porém, ainda conseguiu dizer:
É por isso pá, que toda a gente gosta de
ti. Nunca te esqueces de ninguém!
É verdade Manel! Como poderia eu esquecer-me de quem com tanta cumplicidade comigo conviveu? Como poderia eu esquecer os que passaram a mesma fome, a
mesma sede e sentiram os mesmos medos
e angustias que eu senti? Como poderia eu
olvidar aqueles que transportaram os mesmos feridos, que choraram os mesmos mortos que eu chorei?
Não, estas coisas não se esquecem!... .
Um abraço amigo ao Manuel da Costa e
Silva, também conhecido por “Manel Moleiro”.
António Varandas
ÁGUAS PASSADAS NÃO MOVEM MOINHOS … MAS A MIM
AINDA MOVEM!
Vem isto a
propósito de, certa vez, ter sido
nomeado para
escoltar 65 indivíduos do PAIGC,
do Tarrafal para
Bissau, para serem postos em liberdade.
Eu estava a cumprir uma comissão na Guiné,
de 1969 a 1971, na Companhia nº10 de Fuzileiros, sendo comandante o 1º TEN Seixas Serra e
imediato o 2º TEN Monteiro Santos.
Em Agosto de 1969 chega a Bissau o
navio T/T Uíge, carregado de militares. Eu e
mais 11 homens fomos escalados para montar segurança ao navio, enquanto este permanecesse no porto.
Passados 5 dias, fui chamado ao comandante da Companhia, tendo-me este informado de que receberia o reforço de mais
duas secções, para fazer uma deslocação
ao Tarrafal, Cabo Verde, a bordo desse navio, a fim de escoltar, de lá até Bissau, 65
prisioneiros do PAIGC. Entregou-me o programa da missão e perguntou-me se tinha
alguma dúvida, ao que respondi:
Não, senhor comandante, está tudo bem!
Mas, logo de seguida, algo confuso, perguntei:
Senhor comandante, sendo três secções, não deveriam ser comandadas por um
oficial?
Ao que ele me respondeu:
Não, não é necessário, eu confio em si!
Esta situação deixou-me naturalmente
orgulhoso, como, de resto, deixaria qualquer
outro jovem sargento de 25 anos de idade
que ouvisse um elogio daqueles!
Á tardinha, lá chegaram a bordo os novos “hóspedes”. Logo ali reuni todo o pessoal, para informar do teor da nossa missão. Á hora do jantar, dirigi-me, como estava previsto, à zona da primeira classe e, qual
não é o meu espanto, quando vejo sentados, numa mesa que estava reservada só
para mim, dois indivíduos, de frente um para
o outro, já preparados para comer. Fiquei
completamente embasbacado, mas pensando na confiança que o comandante
em mim depositara, dirigi-me aos senhores, com toda a calma (coisa que ainda hoje
não tenho) e perguntei quem eram. Resposta imediata:
O senhor não tem nada com isso! …
Aí sim, perdi a calma e exclamei:
18
VOZ DOS ASSOCIADOS
O quê?! Então eu sou o chefe da segurança a bordo e os senhores dizem-me que
não tenho nada com isso? Eu quero já saber, imediatamente, e a sentinela está tramada comigo!
Pressionados, não tiveram outra alternativa senão explicar-me tudo muito bem, dizendo-me:
Tenha calma Sr. Silva! Eu sou o Antunes
e este é o meu colega Gonçalves. Somos
da DGS e estamos ao serviço dos homens
que vão ser postos em liberdade. Para entrar a bordo explicamos à sentinela que tínhamos autorização do Capitão de Bandeira, pelo que lhe pedimos para não castigar
o homem.
A coisa estava mais ou menos explicada, mas tive de levar o meu trabalho por diante até tudo estar completamente esclarecido. Primeiro, fui “dar na touca” à sentinela e
depois fui dar conta da situação ao Capitão
de Bandeira, que na oportunidade me respondeu: “são dois turistas que levamos aqui
a bordo, Sr. Silva”.
Não precisei de ouvir mais. Dirigi-me,
então, à sala de jantar, pedi licença aos
“auto-convidados” e mandei, finalmente,
servir a refeição, pois tinha deixado ordens
ao copeiro para não o fazer antes do meu
regresso.
Como eu disse, tinha ficado parcialmente esclarecido, pois continuei com muitas
dúvidas (e ainda hoje as tenho), mas, pelo
menos, tinha a consciência de ter cumprido
todos os procedimentos regulamentares.
A partir dali, comemos e bebemos sempre juntos. Ao segundo dia já éramos amigos. Após as refeições íamos para o bar tomar café e o respectivo whisky. Os meus
companheiros “despachavam” uns 35 por
dia, mas eu, infelizmente, devido às minhas
funções, não lhes podia acompanhar o ritmo. Não é que me faltasse vontade, mas a
verdade é que para eles era a única rotina
de bordo. Na altura em que os apanhava
mais “tocados” ouvia-os muitas vezes dizer
“à boca cheia” que, quando desconfiavam
de algum comandante no mato, só tinham
que enviar uma participação para Lisboa,
para ele ir logo “de cana”. E eu comentava
com o despenseiro que o melhor era pormo-nos “a pau”, não nos fosse suceder algo
semelhante. Contudo, nunca os levei realmente a sério.
A viagem continuou e em breve chegamos ao largo da ilha de Santiago. O
navio fundeou e os dois “amigos” foram
ao Tarrafal falar com outro colega da
DGS. Pouco depois, os prisioneiros começaram a chegar nas embarcações. Cumprindo as ordens recebidas, ia-os mandando formar no convés à medida que subiam
o portaló e as respectivas bagagens eram
içadas para bordo.
Antes de os mandar recolher aos camarotes, que lhes estavam destinados, tive o
cuidado de lhes explicar aquilo que, no fundo, já sabiam: que iam ser postos em liberdade, mas que até lá tinham que ser devidamente controlados, pelo que o seu comportamento a bordo era muito importante, mas
que não se preocupassem, pois que, da
parte que nos tocava, seriam bem tratados.
Estava já a virar as costas, quando ouço
uma voz: “Senhor Sargento queria fazer-lhe
uma pergunta”! Diz lá, autorizei.
E o indivíduo pergunta:
O senhor não esteve na Ilha das Galinhas, em 1962? Já não se lembra de mim?
Começo, então, a olhar para as caras e
reparo que muitas delas não me eram desconhecidas, pois já antes, numa outra ocasião, tinham estado à minha guarda. Respondi afirmativamente, mas como o navio ia
suspender, tive de interromper a conversa.
Regressado ao convés, dou de caras com
os dois “amigos” da DGS, que andavam à
minha procura e um deles interroga-me:
Então Sr. Silva, o que é que se passou
entre si e os prisioneiros?
Espantado com aquela pergunta, respondi secamente:
Isto é só da minha responsabilidade!
Talvez seja, consentiram, mas o nosso
colega já mandou uma mensagem para o Sr.
Governador Spínola, a contar o sucedido.
Pelos vistos, aquele senhor tinha ficado
desagradado por eu ter mandado içar as
bagagens dos prisioneiros e lhes ter passado revista sem estar explicitamente
mandatado para o fazer (como se não tratasse de um procedimento de segurança
normal). Eu é que já não podia ir a terra, se
não poderia ter acontecido algo de muito
grave. Limitei-me, apenas, a relatar o episódio ao Capitão de Bandeira, que me disse
para não me preocupar, pois trataria disso
no seu relatório. Fiquei mais descansado.
A viagem para Bissau correu muito bem
e pude retomar com o Antunes e o Gonçalves uma amizade que até viria a ter continuação após a chegada. Já atracados ao cais e
montada sentinela ao portaló, aparece a primeira visita. Um indivíduo baixo, gordo, de
barbas e cabelo branco, que pede para entrar e, sem esperar, tenta passar pelo plantão desviando-o com o braço. Este, naturalmente, não o permitiu. O indivíduo volta-se
então para mim e, com arrogância, pergunta-me se lhe estamos a recusar a entrada. Quando o questionei se tinha autorização do Capitão
de Bandeira para entrar a bordo, respondeu-me
que não era preciso, ao que eu respondi:
É preciso sim senhor! Mas espere, que
eu resolvo já o assunto.
Logo de seguida aparece o senhor comandante, que autorizou a entrada. O homem dirige-se então ao Antunes e ao Gonçalves, indagando pelos prisioneiros. Estes
respondem:
Estão entregues ao senhor Silva!
Face à resposta, ele questiona então:
Que diabo foram vocês lá fazer? Obtendo
como resposta um simples encolher de ombros.
Então o dito indivíduo vira-se novamente para mim e exclama: Quero os prisioneiros! … Está a ouvir?!...
Eu, que não conhecia o homem de lado
nenhum e já estava a ficar farto daquela conversa, respondi:
O senhor tenha lá calma, que eu não
recebo ordens de civis e aqui a bordo só me
as dá o Sr. Capitão de Bandeira! Mas já me
apercebi que o senhor deve ser o chefe do
Antunes e do Gonçalves, por isso vou já tratar do seu problema.
E lá me dirigi, uma vez mais, ao Capitão
de Bandeira, que, como esperava, me autorizou a entregar os prisioneiros. Assim fiz. A
missão estava cumprida.
Estavam o Antunes e o Gonçalves a despedir-se cordialmente de mim, quando aquele senhor me abordou novamente, com ar irónico, dizendo simplesmente: Até um dia! …
Não cheguei a perceber e, para dizer a
verdade, ainda hoje não percebo. Mas que
a história é real, lá isso é!
Manuel Pires da Silva
SMOR GRAD FZ REF
Sócio nº 513
19
VOZ DOS ASSOCIADOS
OS ANTICORPOS
É algo que,
persiste, resiste e insiste, porque ainda existe. Quando saí
da Marinha,
estava num estado de pureza
muito grande, o que hoje me permite entender facilmente as agruras que muitos camaradas, ainda agora, carregam na mochila,
para um outro tipo de combates. Estes, porém, apenas servem para desencadear
guerrinhas individuais entre camaradas, o
que, ao fim e ao cabo, a nada conduzem de
positivo. Se a objectivos se propõem, não
vejo que os consigam atingir, a não ser que
a estratégia vá no sentido de enfraquecer o
nosso espírito de camaradagem e amizade,
o que, muito sinceramente, penso ser tempo perdido, tentar tamanha traição.
Estas minhas agruras, com ou sem razão, são a minha opinião. E elas resultam,
tão-somente, da análise que faço dos vários
estados de alma de muitos camaradas, com
quem vou convivendo, e algumas vezes
mesmo, confrontando, de forma pacífica,
como calculam, sem alimentar muitas das
paixões, apoiando ou absolvendo quem quer
que seja.
Os factos mais evidentes com que sustento a minha análise resultam da última iniciativa que tive, para dinamizar uma lista para
os corpos sociais da nossa Associação.
Verificou-se, mais uma vez, o que para
mim não é novidade, porque, desde a primeira hora, assim tem acontecido. As listas,
sempre que apareceram, foram sempre
estruturadas e apresentadas em cima da
hora. E tal aconteceu uma vez mais, dado
que, até ao dia 22 de Janeiro, data em que
convidei uns quantos camaradas a juntaremse para falar do assunto, não havia fumo
branco, nem preto, mas já eram visíveis os
resquícios de algum “racismo”.
Isto mostra, com alguma clareza, o desinteresse que alimenta a letargia de alguns
camaradas, muitos deles com responsabilidades acrescidas perante a Instituição.
— Quantos Destacamentos e Companhias não se formariam, ainda hoje, no con-
celho do Barreiro e limítrofes? O que é feito
destes camaradas? Será que as pessoas só
entram nas coisas por protagonismo ou interesse pessoal?
Pela parte que me toca, se algo tenho
feito e tentado, apenas me move o desejo
de que a instituição e o bom nome dos Fuzileiros saiam prestigiados. Penso que nunca
tive comportamentos lesivos destes princípios, para com a minha segunda família.
Quem se desviar do interesse colectivo, será
sempre corrosivo e não terá, certamente,
apoio efectivo.
Não podemos deixar partir esta corrente a que todos os Fuzileiros se devem agarrar, fortalecendo os seus elos, para que esta
família se não desmorone. Acreditem que fico
triste, mas ficaria bem diferente, mesmo
muito contente, se visse mais gente para ir
com a Associação em frente. Mesmo em
sétimo suplente, me sinto contente, sem inveja do presidente.
Vamos partir para as quintas eleições
para a nossa Associação, acontecendo que,
em todas as anteriores, só por duas vezes
concorreram duas listas. Ocorreu, porém,
quando havia muita mata para desbravar,
muita luta para dar e energia para colocar o
bote a navegar. Foi preciso remendar alguns
furos e enfrentar a rebentação, mas com
persistência e alguma irreverência, desembarcamos. Hoje já se pode desfilar, com
passo certo e cadenciado. Está muito mais
fácil assumir qualquer cargo na sua guarnição. E a dignidade não está no lugar que se
ocupa na equipa, mas com o que cada um
pode contribuir para o resultado final do grupo.
Também numa equipa de futebol, o presidente e treinador do clube, só por si, não
obtém resultados. É importante a sua dinâmica! Será sempre o empenho de todo o
grupo que pode contribuir para uma vitória
de todos.
Fica, para conhecimento, uma proposta
que elaborei para apresentar quando das
segundas eleições, que, a ser aceite e se a
tivesse colocado à votação, determinaria
como reserva dos órgãos sociais a lista que
fosse menos votada. E porque não, para o
futuro?
Mas mais! Sabendo-se de duas listas,
porque não falar-se antes e configurar uma,
concorrente com os mais disponíveis (ou
melhores) das duas?
Pensem nisto, mas dispam-se dos constrangimentos, porque, entretanto, já houve
muitas marés baixas e cheias. Estas, trazem
o lixo, a maré vazia não o leva e, de facto, a
praia fica conspurcada. Já foi tempo, de tudo
o que não presta se afogar!
Sejam bem-vindos, todos aqueles que
gostam e sentem o Associativismo, como
coisa para todos. A nossa Associação é de
todos os seus sócios e de todos os Fuzileiros e, ainda, de quem gosta de estar
connosco. Com efeito, para haver um bom
enquadramento de todas a sensibilidades,
a ênfase essencialmente militar e a subtileza que quase se confunde com imposição
hierárquica que, apaixonadamente, alguns,
talvez sem se aperceberem, se apoiam, para
colocar em prática aquilo que parece impraticável, porque não traz valor acrescentado.
Uma Associação civilizada, desprovida
do cariz militar que, na verdade não tem, não
pode, algumas vezes exacerbadamente, ser
militarizada, porque para isso existem os
quartéis. Eu compreendo alguns vícios, adquiridos e sublimados pela relação à instituição militar, porventura levados à prática
inconscientemente, mas, a existirem, deverão ser ultrapassados. A Instituição, que não
é propriamente desse teor, porque tem diferenças genuínas, deve pautar-se por mais
suaves princípios de igualdade e humanidade, coisa com que sempre me confrontei nos
momentos mais decisivos enquanto Fuzileiro
São, afinal, ingredientes que me trazem
alguma compreensão para algumas questões colocadas por camaradas mais cépticos, ainda que, também eles, fruto da mesma árvore, mas porventura plantada noutro
quintal. Certamente, não seria mau fazer uma
desinfecção, para que todos possam comer
a fruta, que não queremos raivosa, opada,
ou bichosa.
Sem ressentimentos, o meu sincero abraço para todos.
Mário Manso
20
VOZ DOS ASSOCIADOS
DISTINTIVO ESPECIAL DA ORDEM DA TORRE E ESPADA
Há distinções que raramente são atribuídas. Tanto
individualmente como ao nível das Instituições, aquelas
representam o
reconhecimento da Pátria por actos ou por serviços excepcionalmente notáveis e muito dificilmente igualáveis. Por isso, poucos podem ter a
honra de as ostentar. Muito poucos.
Nessas condições, encontra-se o título de membro honorário da Ordem da
Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito, a mais alta condecoração nacional,
que foi conferido ao Corpo de Fuzileiros
em 1985. Pouco depois, em 1987, foi publicado um despacho de sua Exa o Almirante
Chefe do Estado-Maior da Armada com o
seguinte teor:
“Despacho do Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, nº17/87 de 25 de Março:
Considerando que por alvará de concessão, de 03 de Janeiro de 1985, foi conferido
ao Corpo de Fuzileiros o título de membro honorário da Ordem Militar da Torre
e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito,
tendo sido reconhecido o seu comportamento honroso em combate, especialmente durante a guerra de África, nos 3 teatros
de operações:
Tornando-se necessário regular as condições para concessão do direito ao uso do
distintivo especial, previsto no artigo 31º do
Regulamento das Ordens Honoríficas Portuguesas, aos militares da Armada que tomaram parte naqueles serviços relevantes, determino o seguinte:
1. Têm direito ao uso do distintivo especial todos os militares que integrados nos efectivos das unidades de
Fuzileiros nos 3 teatros de operações
durante a guerra em África, tomaram
parte comprovadamente, por documentação ou processo de averiguações, em acções de combate.
2. A atribuição será efectuada mediante requerimento do interessado dirigido ao Chefe do Estado-Maior da Armada.
3. Por solicitação da Superintendência dos
Serviços do Pessoal, poderá o Comando do Corpo de Fuzileiros elaborar os respectivos processos de averiguações
quando tal se torne necessário, quer através de testemunhos, quer pelos registos
e arquivos existentes.
4. Os distintivos especiais concedidos
serão custeados pela Marinha.”
Assim termina este despacho, que alarga o reconhecimento da Marinha e do País,
àqueles que lhe deram corpo, Oficiais, Sargentos e Praças, com inexcedível entrega,
sacrifício e abnegação. Trata-se de um testemunho vivo que vale a pena perpetuar
como exemplo e referência para os mais
novos, dentro ou fora dos Fuzileiros, que é
também um entrave para os que, esquecidos da extraordinária dádiva destes Homens
na sua juventude os procuram hoje desvalorizar, mas que geralmente não têm direito,
nem individual nem colectivamente, a um tal
nível de distinção.
António Carlos Ribeiro Ramos
Sócio Simpatizante nº 105
Telefs.: 21 927 99 08 - 21 967 12 29 - Fax: 21 927 01 62
Estrada de Cortegaça - Lote 158 - Fação - 2715-020 Pero Pinheiro - PORTUGAL
Email: [email protected] - [email protected] - Internet: www.janotas.com
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FUZO-POESIA
MEMÓRIAS COM TRISTES HISTÓRIAS
José Manuel Parreira
Os anos foram passando
Agora vou recordando
O que me vem á memória
Escrevo de tudo um pouco
Embora parecendo louco
Vou escrevendo a minha história.
Foi uma tristeza geral
Que invadiu Portugal
Com o Povo todo a chorar
Nem os deixavam fazer homens
Levavam-nos muito jovens
Para a guerra do ultramar
O homem nada valia
Quando a idade atingia
Para servir a Nação
Ninguém se podia negar
A ir para o Ultramar
Como carne p’ra canhão.
Amontoados e aos milhares
Enjoados por esses mares
Para as províncias ultramarinas
Sem pensar no que iam sofrer
E muitos lá foram morrer
Por balas, granadas e minas
Eram os filhos dos senhores
Juízes, Majores, Doutores
Que fugiam da nossa terra
Os pais com inteligência
Utilizavam a influência
Para os safarem da guerra
Os navios eram fretados
Para levar os soldados
Como “suínos” nos porões
Ninguém ligava importância
Fosse qual fosse a distância
Tivessem ou não condições
Os governantes de então
Os patronos da Nação
De nada queriam saber
Façam crescer os “chavalos”
Que nós é só ir buscá-los
Para Portugal defender
E éramos nós os coitados
Que depois de “licenciados”
Com a primária instrução
Com 18 anos e uma farda
Muitas balas e uma espingarda
Que íamos defender a Nação
No tempo do estado novo
Foram retirando o Povo
Do seio da sua terra
Em vez de instrução lhes dar
Mandaram-nos para lutar
Naquela estúpida guerra
E se a Comunicação Social
Que existe hoje em Portugal
Nesse tempo fosse vista
Muitos mortos e muitos feridos
Tinham sido distribuídos
Por muito bom jornalista
Embarcavam aos milhares
Sulcando as ondas dos mares
Já com a alma a sangrar
Iam para lá fazer a história
E restava-lhes na memória
Um lenço branco a acenar
Nunca cheguei a perceber
O que é que foram fazer
Para a guerra alguns “canalhas”
Querendo imitar os “pavões”
Com os ombros cheios de galões
E o peito cheio de medalhas.
Chorava o Pai e a Mãe
Choravam os amigos também
Tristes olhando para o mar
Muitos com tão pouca sorte
Lá encontraram a morte
E não puderam voltar.
Hoje já nada me espanta
Mas tenho um nó na garganta
Que tenho que “desatar”
Morríamos pela Nação
E até o chumbo do caixão
Tínhamos nós que pagar
22
SALPICOS DE VIDA
O COVEIRO
Encontrava-me, certa manhã, a despachar tranquilamente o expediente do dia, no meu gabinete de trabalho, e toca o telefone
interno. Da sala ao lado, a minha secretária, transmite-me:
— Sr. Doutor, é o senhor Major Serra da GNR que lhe quer falar.
Pode atendê-lo?
— Posso, posso, passe-me lá a chamada!
Do outro lado da linha apercebi-me, de imediato, de que algo de
grave havia acontecido, não só pela entoação das palavras mas
essencialmente pela percepção de um suspiro profundo que as
antecederam.
Logo após, entrava-me no ouvido a frase cruel e demolidora: “É
pá, que puta de vida esta, o nosso estimado amigo Capitão Guerreiro acabou de morrer com um ataque cardíaco”!
Dei um salto na cadeira e respondi: “Porra pá, isso não pode ter
acontecido”!...
Pois é, mas desgraçadamente, ele já lá está, na outra dimensão!
Estava a conversar com umas pessoas, aparentemente bem disposto, levou as mãos ao peito, deu um ai, caiu para o lado e já não
disse mais nada.
O Capitão Guerreiro, era o comandante do Destacamento da
GNR de Grândola, um homem que irradiava alegria, sempre bem
disposto e divertido, grande dinamizador de requintadas almoçaradas
e outros convívios, que abrilhantava com o excelente conjunto musical que dirigia, formado exclusivamente por elementos da sua
Corporação.
São indeléveis os pantagruélicos eventos na sua paisagística
vivenda à beira mar, em Porto Covo!
Escusado será dizer que tanto eu como o Major Serra, seu superior hierárquico, ficamos por algum tempo sem palavras, deixando escorrer algumas lágrimas ao longo dos auscultadores.
No dia seguinte, logo pela manhã, lá partimos juntos a caminho
da Igreja Paroquial de Grândola, para nos juntarmos a uma multidão de gente chorosa, militares da GNR e civis, que, à tarde, integraram um impressionante e comovente cortejo fúnebre até ao cemitério de Cercal do Alentejo.
Já nada era como dantes, voltei a encontrar-me regularmente
com o Major Serra, para almoçar, jantar ou trabalhar em conjunto, e
não havia momento em que não lamentasse-mos o desaparecimento do nosso querido e saudoso amigo.
Poucos meses depois, a trágica situação repetia-se. Lá estava
eu no gabinete a despachar alguns processos, quando a secretária
me alerta para mais um telefonema da GNR. Desta vez não era o
Major Serra, mas sim um outro oficial do seu comando, que, com a
voz embargada, me dava conhecimento de que o seu comandante
acabara de morrer.
Eu nem queria acreditar … e, depois de ouvir a comunicação,
respondo em tom exaltado: O senhor Capitão está a dizer-me que o
Major Serra morreu?...
É isso mesmo, senhor doutor, o nosso Major acabou de morrer
de ataque cardíaco! …
Fo….. !...., Só faltava mais esta agora!... Mas que raio é que se
passa com os corações dos comandantes da Guarda Republicana?!
Já não consegui fazer mais nada nesse dia e parti, de imediato,
para a morgue, para junto do cadáver de mais um amigo e fiel companheiro das horas boas e das horas más, na terrífica luta contra o
crime, que muitas vezes empreendíamos em conjunto.
No dia seguinte, lá me incorporei, profundamente emocionado,
no cortejo fúnebre, a caminho do cemitério de Algerúz , em Setúbal.
Tratando-se de uma pessoa respeitável, um profissional digno e
competente, exercendo a sua acção de comando numa vasta área
e muito sensível, de grande complexidade, acorreram naturalmente
ao seu funeral umas centenas largas de pessoas, cidadãos civis
anónimos, todas as Forças Vivas da região, altas patentes da GNR
e o Ministro da Administração Interna.
Já dentro do cemitério, muita gente convergia para junto da cova,
deixando-se, todavia, um espaço reservado, garantido por uma força militar, para ser ocupado pelas altas individualidades presentes.
Assim, em pouco tempo, toda a zona envolvente da cova foi ocupada, chegando mesmo algumas dessas personalidades a pisar os
montes de terra descavada, mal deixando lugar para os atarefados
quatro coveiros que, com os fatos cinzentos enlameados e em estado de exaltação, se preparavam para lançar as cordas sob o caixão,
a fim de o fazer descer ao fundo do buraco.
Eu era uma das pessoas que naquela confusão pisava a terra
envolvente, pouco preocupado com o fato azul escuro que vestia,
rendido a uma profunda tristeza. Do outro lado, com uns rubores
acentuados, indiciários de alguns excessos boémios, distinguia-se
pela sua elegância e desembaraço um dos coveiros, que em cada
SALPICOS DE VIDA
gesto, fazia incidir sobre a minha pessoa uns olhares incisivos, numa
espécie de eufórico desafio, deixando transparecer alguns sorrisos.
Naquelas especiais circunstâncias, senti-me algo inquieto e até
mesmo incomodado, mas perante a insistência acabei por responder com um discreto gesto labial e um pequeno aceno de cabeça.
Nesse instante, o homem larga a corda que tinha na mão, atira uma
pá para outro lado, lança-se, num salto, na minha direcção e, exclamando a plenos pulmões “Oh caro Filho da Escola!”envolve-me num
grande e espalhafatoso abraço, quase me atirando para junto do
caixão, que começara a ser coberto com as primeiras pazadas de
terra.
Fiquei, naturalmente, atrapalhado, com o fato todo sujo, enlameado com a terra do cemitério, perante a estupefacção de toda
aquela gente.
Na verdade, numa ocasião daquelas, dado o longo tempo decorrido e o prolongado afastamento dos Fuzileiros, não havia reconhecido o camarada de armas que, no já recuado ano de 1965,
tinha feito comigo a recruta na Escola de Fuzileiros, ele havia pertencido ao 7º Pelotão e eu ao 8º , havendo, por isso, grande proximidade na instrução.
Naquele local e naquelas circunstâncias, não me pareceu oportuno prolongar ali a conversa aliviadora das saudades. Disse-lhe,
todavia, que no dia seguinte fosse ter comigo ao meu Departamento, para irmos almoçar e conversarmos à vontade. Ele concordou
de imediato, dando mostras de grande satisfação e, tal como o com-
23
binado, ainda antes do meio dia, lá chegou o “chaparrote”, de roupa lavada e bem penteado com uma boa dose de brilhantina, exigindo ao Segurança que estava à entrada do edifício que o deixasse entrar depressa que o senhor doutor estava à sua espera.
O “Chaparrote”, alcunha porque era conhecido, era um genuíno
produto alentejano, uma figura peculiar, não só pela sua humildade
e simplicidade, mas essencialmente pela sua graciosa irreverência,
no domínio da inconfundível pronúncia e dos preciosos maneirismos
que, com imensa graça, caracterizavam o Alentejo rural e profundo.
Apesar do embaraço, fiquei francamente satisfeito com o reencontro, tornamo-nos bons amigos e era rara a semana que ele não
aparecia para almoçar e, por fim, com o despertar da confiança,
para me “cravar”uns macitos de cigarros e umas garrafas de “qualquer coisa”.
Foi, de resto, a revelação, uma vez mais, da mística e da amizade que envolve esta nossa grande família de Fuzos e a demonstração das capacidades inatas de adaptação de um Fuzileiro para enfrentar, com destreza, eficácia e contagiante alegria, toda e qualquer tarefa ou missão que a vida lhe proporcione.
Há algum tempo atrás, procurei contactá-lo, através da Câmara
Municipal de Setúbal, com o propósito de o entrevistar para o nosso
Desembarque, mas, para grande mágoa, fui informado que o nosso
simpático “Filho da Escola” se havia suicidado, enforcando-se numa
árvore num jardim público da cidade sadina.
Ilídio Neves
24
DESPORTO
EVENTOS DESPORTIVOS
Com mais um ano de actividades pela
frente, a Secção Desportiva da Ass. de Fuzileiros estreou-se este ano com um Passeio
Pedestre, na nossa conhecida Serra da
Arrábida.
O passeio realizou-se no passado dia 16
de Fevereiro, contando com onze participantes, entre sócios, amigos e familiares.
Esta actividade, para além das maravilhosas paisagens que permitiu vislumbrar,
A família desportiva
Relembrando a escalada na Arrábida
traduziu-se num grande convívio entre todos
os presentes.
Para o próximo dia 20 de Abril, está
previsto realizar-se em Sesimbra, mais
uma actividade de Rappel e Escalada
Básica.
Os sócios que estiverem interessados em
participar, devem fazer a confirmação da inscrição para o e-mail da Secção de Desporto, que é [email protected],
indicando o nome nº de sócio e contacto
telefónico.
Na área do Tiro Desportivo e Recreio,
os atiradores de Tiro Dinâmico da Associação de Fuzileiros realizaram a sua primeira prova, relativa a este ano, o III
OPEN de IPSC do CAPPSP ( Clube De
Atiradores do Pessoal da PSP ), que teve
lugar no passado dia 01 de Março, em
Belas.
Para tomarem conhecimento das diferentes modalidades de tiro, podem consultar o
site da Federação Portuguesa de Tiro em
www.fptiro.net .
Todos os sócios que queiram receber
informações das Actividades Desportivas da
Associação, a realizar no futuro, deveram
enviar o contacto de e-mail para a secção
desportiva, [email protected].
Saudações anfíbias e desportivas.
Espada Pereira
Quinta de S. Tiago, Apartado 32
1760-999 Vila Viçosa
Tel. 268887240 | Fax 268887249
– de –
João Filipe Vinhas Barroso
– “João dos Potes”
E-mail : marvisaarvisa.com
FUZILEIROS DE SUCESSO
25
DOMINGOS JANOTA – “O PEDRAS”
Decorria o ano de 1961, quando na Escola de Fuzileiros, um grupo de recrutas executava, com expectativa, coragem e ansiedade, os exercícios físicos nas grossas cordas que se estendiam, nas alturas, entre os
enormes pinheiros e eucaliptos, naquele
Na verdade, após terminar a recruta e dagem o desertor terá afirmado, repetidas
outros cursos subsequentes, o Domingos vezes, que jamais, em circunstância alguma,
Janota foi colocado em diversas Unidades ousaria disparar contra um camarada fuzidos Fuzileiros e, de 1963 a 1965, fez parte leiro.
da companhia nº 3 de Fuzileiros, em comisO nosso estimado “Filho da Escola”, cosão de serviço, na Guiné, sendo, entretanto, meçou a trabalhar, com dureza, como empromovido a pregado na industria de transformação de
marinheiro.
mármores, com apenas onze anos de idaComo cu- de, onde se manteve até ingressar nos fuziriosidade, sa- leiros.
lienta-se que
Quando regressou à vida civil, após quadesta mesma se cinco anos, já detentor de uma personacompanhia lidade forte e empreendedora, agora impulfez parte o sionado e motivado pelos rigorosos princícélebre “G- pios que enformam os Fuzileiros, mormente
3”, epíteto os da disciplina, espírito de sacrifício, corapor que era gem e determinação, voltou ao desempenho
c o n h e c i d o da actividade anterior, mas agora, deixando
um camarada de ser empregado para passar a ser patrão,
fuzileiro que, fundando a sua própria empresa.
Da menor dimensão inicial, brevemente
a determinada altura, de- se lançou em investimentos mais ousados e
Vista geral da empresa
sertou, inte- bem sucedidos, até atingir, algum tempo
g r a n d o - s e depois, o estatuto de grande empresário.
A sua grandiosa empresa de transformapalco temeroso que era designado por “al- nas fileiras do inimigo – o PAIGC, constituindeia dos macacos”.
do uma perigosa ameaça para as tropas por- ção de mármores, fica situada bem perto da
Nessa altura, um jovem instruendo, de- tuguesas. A deserção foi motivada por de- Academia da Força Aérea, na zona de Pêro
pendurado lá no alto, tremia e hesitava em savenças com o comandante. No entanto, Pinheiro – Sintra, (implantada numa espaço
atirar-se para o chão, enquanto, cá em bai- mantendo ainda algum espírito de camara- de 17.500 metros quadrados dos quais 6.500
xo, um instrutor bradava a plenos pulmões:
— Então pá, meu grande medricas, saltas ou não saltas!?
O rapaz, bastante receoso e atrapalhado, respondia:
— Eu salto mas é o caraças, ainda me
desfaço todo nessas pedras, que estão aí
pelo chão!...
— Qual pedras, qual carapuça, um Fuzileiro não recua!
O jovem encheu-se de coragem e atirouse, sem que nada lhe tivesse acontecido,
mas, a partir desse momento, ficou logo alcunhado do “Pedras”.
Era uma alcunha premonitória, pois seria mais tarde, através das pedras, de grandes pedras, que o recruta Fuzileiro – DOMINGOS MANUEL VICENTE JANOTA – se
haveria de tornar num empresário de grande sucesso.
As pedras com todo o seu esplendor
26
FUZILEIROS DE SUCESSO
de área coberta )tem 6.500 metros quadrados de área coberta e 17.000 metros quadrados não coberta. Dispõe de maquinaria
e equipamento modernos e emprega mais
de trinta pessoas.
A sua produção é, na quase totalidade,
para exportação, designadamente para os
Mas, para além desta dedicação a esta
popular modalidade, este Fuzileiro de alma
e coração, é ainda, desde há alguns anos, o
Presidente do Grupo Desportivo Igreja Nova,
que milita, nos lugares cimeiros, na 3ª Divisão Nacional e, também, Presidente do Clube Atlético de Pêro Pinheiro, que é o primei-
Falando para o Desembarque na sala de troféus
mercados dos Estados Unidos da América,
Canadá, Coreia e China, bem como para
Inglaterra, Escócia e Holanda, com uma
facturação que ultrapassa os três milhões de
Euros anuais.
Quem não se lembra da poderosa
equipa de ciclismo profissional, conhecida por JANOTAS & SIMÕES, que nos
anos de 1993 a 1996, marcou assinalável
presença na volta a Portugal? Aquela
equipa que ganhou o prémio da montanha em 1995, na qual um corredor ao seu
serviço ganhou, triunfante, no alto da Senhora da Graça, tendo sido o único corredor
português, até ao ano passado, a ganhar
essa terrível etapa, e ainda a equipa que, no
ano de 1996, teve alguns campeões nacionais, ao nível mais alto.
Pois, esta famosa equipa, JANOTAS &
SIMÕES, era propriedade do nosso estimado “Filho da Escola”, Domingos Janota – “O
Pedras”. Na actualidade, mantém ainda equipas de ciclismo, de qualidade, nos diversos
escalões, mas competindo apenas em provas amadoras.
ro classificado na Divisão de Honra de Lisboa.
Ao nível político/autárquico, é, desde
2001, o Presidente da Junta de Freguesia
de Igreja Nova, bonita e próspera localidade situada no concelho de Mafra.
A sua militância e dedicação aos Fuzileiros é motivo de orgulho para quantos
fazem parte desta grande família afectiva,
as quais, para além dos evidentes sentimentos de amizade e solidariedade, se traduzem em apreciável auxílio material à Associação de Fuzileiros, bem como no agradável convívio anual com que brinda quase
um “pelotão” de Fuzileiros, de diversas escolas, na sua residência, em Igreja Nova,
para com ele comemorarem o seu aniversário.
O signatário teve já o privilégio de participar em dois destes encontros de camaradas e amigos e foi com agradável surpresa
e admiração que viu sentar à mesma mesa
muitos dos elementos que integravam a equipa de futebol local, em ambiente de grande
cordialidade, entre eles jogadores de renome no panorama futebolístico nacional, tais
como Chiquinho Carlos, ex-Benfica, e outras
velhas glórias do clube da Luz e do
Belenenses, que ainda por ali davam o seu
contributo profissional.
Julgamos que se trata de uma honra e
motivo de orgulho, para todos os Fuzileiros,
ter, entre os seus, homens desta envergadura, revelando, em cada gesto, os nobres
sentimentos que são apanágio desta classe.
Bem hajas, Domingos Janota! … .
Ilídio Neves/Mário Manso
O orgulho das camisolas e dos troféus conquistados
PERSONAGEM
27
JOSÉ MANUEL LIMA DE CARVALHO
Eram sensivelmente catorze horas e trinta
minutos, de um
sábado à tarde,
há cerca de 15
dias, quando
me dirigi, na companhia do Mário Manso,
ao Serviço de Urgências do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. À chegada, deparamonos de imediato com aquele ambiente estranho, de grande movimentação de ambulâncias, macas, bombeiros, polícias, seguranças
e pessoal administrativo e de enfermagem do
Hospital. Era um bulício intenso e desolador,
com vozes de comando diversas, gritos de
desespero, portas que se abrem e se fecham
automaticamente por onde se encaminham
os doentes e os sinistrados. Havia, também,
por aqui e por ali, pessoas que se movimentavam ou aguardavam por alguém, que exibiam uma aparência de total tranquilidade, libertando até alguns sorrisos.
A verdade, porém, é que o signatário,
apesar da experiência de quase uma vida a
enfrentar situações idênticas ou até de
maior gravidade e complexidade, não conseguia liberta-se de um estado de tensão
anormal, traduzido num certo nervosismo e
numa ansiedade pouco habitual.
Dirigimo-nos aquele local com o propósito de entrevistar o personagem para
o nosso Desembarque, um ilustre “Filho
da Escola”, um Fuzileiro orgulhoso e assumido, que ali desempenha agora a nobre profissão de médico cirurgião. Esta
circunstância, aliada ao facto de poder
não conhecer pessoalmente o distinto camarada e de poder, de alguma forma,
perturbá-lo ou prejudicar o seu delicado desempenho, porventura numa intervenção em
que se pudesse confrontar a vida e a morte,
causavam-nos algum embaraço e sentido
desconforto.
Mas eis que, passados alguns minutos,
depois de nos termos anunciado por
telemóvel, irrompe por entre aquele turbilhão
de pessoas e macas a silhueta imponente
de um homem robusto, de olhar confiante,
um estetoscópio balançando no peito, uma
bata branca e, sobre ela, pelas costas, um
sobretudo azul, vulgarmente usado pelos ano do liceu, ajudou os pais na agricultura, foi
profissionais de saúde.
empregado de mesa e aprendiz de padeiro,
Ao transpor a porta, vindo do interior, es- até atingir a idade de 16 anos. Nesta altura
tendeu o olhar e fixou-nos com um sorriso decidiu alistar-se na Armada, o que acabou
austero e, com uma expressão de felicidade por acontecer no início do ano de 1974.
no rosto, dirigisse-nos com um sonante: “olá
Desde logo, inspirado no exemplo de
Filhos da Escola”, peço-vos desculpa pelo dois conterrâneos que admirava, o “Lã Branatraso!” Indicou-nos que o seguisse-mos por ca” e o “Arrobas”, manifestou o desejo de
um estreito corredor até ao Bar que se en- ingressar nos Fuzileiros, contrariando as incontrava perto. Tratou-me logo pelo meu dicações e recomendações do seu pai, que
próprio nome, referindo-me que havia já considerava a especialidade perigosa e de
muito tempo que me conhecia e disse-me pouco futuro. Iniciou a recruta no Grupo nº1
que já havíamos convivido em diversas oca- de Escolas da Armada, em Vila Franca de
siões na zona de Tróia, onde os Fuzileiros Xira, mas, logo que jurou bandeira, foi transcostumavam fazer exercícios de instrução.
ferido para a Escola de Fuzileiros, onde, conCaiu por terra, de imediato, o rigor for- tinuamente, concluiu os cursos do ITE, do
mal e a tensão que nos dominavam, peran- 1º Grau e, por fim, o curso de Fuzileiros Este a vivacidade, o entusiaspeciais. Mais tarde, já em
mo e a felicidade que nos
1976, frequentou com bom
envolvia ao reviver a temática
aproveitamento o curso de
dos Fuzos que, tal qual o clasocorristas no Hospital da
rão de um relâmpago, logo
Marinha.
incendiou a chama da amiEm princípios de Fevereizade e da camaradagem. A
ro de 1975, foi integrado no
invisível mística reapareceu,
Destacamento de Fuzileiros
impôs-se e, a partir daí, lá esEspeciais nº1, mobilizado
tamos nós, eufóricos, a intropara prestar serviço em Anduzir-nos, de novo, na casergola. Todavia, por razões de
na, na mata ou no capim e a
natureza política/militar, num
exibir os diabretes da juvenperíodo grandemente conturtude, nos musseques, nas
bado, a Unidade só viria a
ruas de Luanda e de Bissau,
embarcar alguns meses dejuntando-lhe as peripécias
pois, em Julho desse mesmo
Puto brincalhão
do tumultuoso Zaire, das traiano. Permaneceu em Angoçoeiras bolanhas e das inósla entre Julho e Novembro,
pitas terras do Niassa.
onde o seu Destacamento foi incumbido de
Foi, de facto, interessante e comovente várias e delicadas missões, numa fase de
constatar, de forma tão natural e inopinada, grandes e complexos distúrbios sociais e
a metamorfose do cirurgião austero em es- militares, com os movimentos de libertação
tado de alerta, no fuzileiro irrequieto, corajo- a envolverem-se em lutas fratricidas e dificilso e audaz, com o orgulho e a felicidade mente controláveis pela tomada do poder,
estampados no rosto e nos gestos, por es- face à proximidade da independência.
tar ali, naquele momento, entre camaradas
Após o regresso à Metrópole, esteve code armas que, tal como ele, rejubilavam e locado em diversas Unidades de Fuzileiros,
recreavam o passado comum.
até 31 de Maio de 1990, altura em que, com
O Fuzileiro e Médico Cirurgião, JOSÉ 32 anos de idade, com a patente de Cabo,
MANUEL LIMA DE CARVALHO, nasceu em teve baixa do serviço, concluindo 16 anos e
1957, na planície alentejana, mais precisa- 02 meses no activo.
mente no Monte do Abraito, situado entre as
Dispondo ainda daquele “quantum” nealdeias de Nora e Ribeira, no concelho de cessário de reserve de vitalidade, reforçada
Borba. Por lá fez a instrução primária e o 2º com a experiência enriquecedora resultante
28
da adesão aos valores místicos, existentes
nas entranhas dos verdadeiros Fuzileiros,
iniciou, com devoção e entusiasmo uma
nova etapa na vida civil: recomeçar os estudos que tinha interrompido aos 14 anos.
Terminados os estudos secundários, na
área de ciências, com notas altíssimas, só
ao alcance dos génios, candidatou-se ao
PERSONAGEM
nos Fuzileiros aconteceu no momento em
DRº LIMA DE CARVALHO: Na verdaque assistia, profundamente triste e emocio- de, os ensinamentos e as técnicas adquirinado, ao funeral, no cemitério da minha al- das nos Fuzileiros foram de primordial imdeia, de um jovem militar meu conterrâneo portância para ultrapassar as outras etapas
morto em combate. Todo o drama envolvente, da minha vida.
a dor dos familiares e amigos, bem como a
A componente física e psíquica constituíangústia da juventude local, causou-me um ram um sólido alicerce para a consolidação
tal estado de ansiedade que me arrastava do futuro. Em dias de boa disposição eu tepara a decisão de to- nho até o hábito de dizer aos meus colegas
mar uma atitude que, médicos que é bem mais difícil ser Fuzileiro
de certa maneira, Especial do que exercer medicina.
fosse susceptível de
Quer isto dizer que em ambas as situamudar o rumo dos ções passei por momentos difíceis e compliacontecimentos. cados, mas a solidez anímica adquirida nos
Não direi que se tra- Fuzileiros constituiu um vigoroso alicerce que
tava de uma atitude me permitiu enfrentar tudo o mais com a code vingança ou até ragem e a pujança necessárias para enfrenmesmo de revolta, tar todos os obstáculos, independentemente
mas tão somente dar do grau de dificuldade que apresentassem.
o meu contributo
para que se conseDESEMBARQUE: É hoje um homem
ligado
às ciências da vida, da sobrevivênguisse
mudar
o
rumo
Uma cervejinha em momento de descontração
das coisas, ajudan- cia do ser humano, que foi treinado para
curso de medicina, na Faculdade de Ciên- do a defender a Pátria dos agressores que a sobreviver, matar e para não morrer. Nestas circunstâncias, o que se lhe oferece
cias Médicas de Lisboa, da Universidade tentavam barbaramente destruir.
Nova de Lisboa, o qual concluiu, com briPor outro lado, sentia uma grande admi- dizer sobre o estado psicológico e físilhantismo e sem interrupções.
ração por dois Fuzileiros meus conterrâneos, co/emocional de milhares de ex-combatenDepois da frequência do Internato Ge- que eram conhecidos pelo “Lã Branca” e pelo tes, face às respostas que lhes são dadas,
ral, candidatou-se com esmerado sucesso “Arrobas”, que acabaram por ser nomes por quem de direito, para os seus probleà especialidade de Cirurgia Geral, sendo sonantes nos Fuzileiros e na vida pós militar, mas traumáticos?
DRº LIMA DE CARVALHO: A resposta
hoje interno do Hospital de Santa Maria, em os quais tinha ensejo de imitar e seguir as mesque foi dada aos ex-combatentes, para os
Lisboa.
mas carreiras.
É, pois, uma vez mais, uma honra e um
De resto, a minha passagem pelos Fuzi- seus problemas, não foram de forma alguprivilégio para o Desembarque trazer ao leiros, com ingresso aos 16 anos de idade, ma os adequados, culpando nessa parte os
conhecimento dos Fuzileiros e dos leitores participando na Revolução portuguesa e, pos- chefes militares (oficiais generais); que não
em geral, este “Personagem”, o Dr. Lima de teriormente, na missão pré-independência, em quiseram ou não souberam impor ao poder
Carvalho, um distinto “Filho da Escola”, que Angola, proporcinos enche de orgulho e satisfação.
onaram-me um
suporte emocioDESEMBARQUE: Sendo um dos mui- nal e físico que fatos milhares de jovens que, numa época di- cilitaram imenso a
fícil para a juventude portuguesa, se alista- minha actividade
ram voluntariamente na Marinha, para inte- no futuro.
grar os Fuzileiros, o que nos pode dizer agora
com esta especial e aliciante experiência de
DESEMBARvida, quanto à mais valia de que se revestiu QUE: Até que
essa vivência, confrontada com a dos ca- ponto é que os
maradas militares, homens experientes que ensinamentos, as
optaram pelo seguimento da carreira?
técnicas e as difiRecebendo o diploma de curso das mãos do Bastonário da Ordem dos
DRº LIMA DE CARVALHO: De facto, culdades que
Médicos, Dr. Germano de Sousa
despertei para a vida num momento particu- teve necessidade
larmente difícil para a juventude masculina de vencer para
portuguesa, que estava fatalmente destina- conquistar a almejada boina azul ferrete, con- político, quando da subordinação do poder
da a enfrentar a guerra colonial.
tribuíram para alcançar os obstáculos que a militar, que dever-se-ia ter em atenção os
A minha primeira tentação ou, se se qui- delicada profissão que acabou por abraçar problemas e dificuldades de milhares de jovens e menos jovens, que, por certo, viriam
ser, o meu primeiro impulso para ingressar lhe ia colocando, nas diversas etapas?
PERSONAGEM
um dia a ter a necessidade imperiosa de ajuda médica e, consequentemente, ajuda
económica. Na minha óptica, como cidadão
e, hoje, como médico, é um crime gravíssimo
o que se tem feito aos ex-combatentes através das JM (Juntas Médicas) da CGA (Caixa Geral de Aposentações), quando os mili-
29
DRº LIMA DE CARVALHO: Sim. É ver- ros, a nível superior. Todavia, a ideia com
dade que a experiência dos camaradas com que fico e que alimento há já bastante temalgumas comissões de serviço em teatro de po é que nós, os Fuzos, sempre fomos e
operações foi importante e crucial para a continuamos a ser uma espécie de maresolução de situações pontuais de grande rionetas descartáveis.
sensibilidade e complexidade. Eu sentia isso
De facto, podíamos e devíamos ser mais
todos os dias, verificava-se uma grande sen- e melhor utilizados nesse tipo de missões,
sação de “impotência” porquanto temos demonstrado inequivocae uma grande frustra- mente, em todas as frentes, grande coragem,
ção por não actuar eficácia e competência, bem como uma
como podíamos e, em grande capacidade para representar, com
nosso entender, como dignidade e brilho, o nosso país, além frondevíamos, face às ar- teiras.
repiantes atrocidades
e injustiças com que
DESEMBARQUE: Por não ter conhecinos deparávamos, pe- mento da nossa Associação, só agora se
rante as quais, pelas vinculou como sócio, o que muito nos orgurazões impostas pelo lha. Reconhece, todavia, a sua importância
sistema político, tínha- e oportunidade.
mos que ficar quietos
Quer comentar algo sobre ela e, concree indiferentes.
tamente, o que representa para que o nosTudo isto coarctava so glorioso património perdure, a camaraNo Hospital de Santa Maria, primeiros contactos com o Desembarque
ou limitava a nossa dagem se fortaleça e a solidariedade se
pré-disposição para a mantenha?
tares são dados como incapazes pela JM assumpção plena da nossa missão, mas a
DR. LIMA DE CARVALHO: A existência
militar e são sujeitos a uma nova JM de revi- verdade é que a coragem, sangue frio e da nossa Associação é, de todo, uma mais
são pela CGA. Aí, quando o militar não tem invulgar disciplina daqueles homens experi- valia para os Fuzileiros do passado e do pre30% de incapacidade e não tem nenhum de- entes que me acomfeito físico ou aleijão visível, a JM da CGA, panhavam, foram
quase sempre alega não haver nexo de determinantes para
causalidade entre a patologia e a comis- que tudo corresse
são em teatro de guerra. Sendo certo que pelo melhor, sem
alguns ex-combatentes tinham tão so- conflitos nem atropemente a tenra idade de 17 anos, quando los.
da sua chegada ao teatro de operações,
tem que admitir-se que isto é hoje um
DESEMBARproblema político, dando-se alvíssaras a QUE: A preparação e
quem nunca fez nada pela Pátria e ignoran- prestígio dos Fuzileido aqueles que depois de suportarem três ros projecta-os para o
frentes de combate, durante 14 anos, con- desempenho cabal e
tra tudo e contra todos (veja-se que até al- eficaz de uma qualguns traidores portugueses vieram após o quer missão. A coraNo hospital falando para o Desembarque
25/04/74 a ser aclamados como libertado- gem e a solidariedares da Nação).
de são assumidas, no
seu seio, como forte prenúncio de espírito sente. Deverá ser também uma entidade com
preponderância na ajuda aos camaradas em
DESEMBARQUE: O facto de ter sido um de corpo.
daqueles Fuzileiros que ainda gravitaram nas
Acha que estas qualidades e permanen- dificuldade, seja qual for a natureza dessa
franjas da guerra de África, numa fase com- te disponibilidade lhes são reconhecidas a necessidade: jurídica, médica ou outra.
Contudo, estou convencido e confiante
plicada, como foi a transferência de sobera- nível superior em conformidade, mormente
nia, o que se lhe oferece dizer sobre esses no que concerne à sua utilização em mis- que são esses os propósitos que animam
os seus principais dinamizadores e dirigenmomentos, convivendo com camaradas que sões internacionais?
sustentaram o fardo, físico e psíquico, de
DRº LIMA DE CARVALHO: Sobre este tes e, para cujos fins, todos devem estar mitrês ou mais comissões de serviço? Acha assunto, não sei muito bem o que deva di- nimamente sensibilizados.
Bem hajam, pois, pelo que já fizeram até
que essa miscelânea de experiências foi zer, designadamente se são ou não reconhedeterminante para resolver os problemas cidas as faculdades inerentes à disponibili- aqui!
mais cruciais dessa fase?
dade, coragem e determinação dos Fuzilei-
30
PERSONAGEM
DESEMBARQUE: Depois de ter saído da Marinha e de ter ficado, de imediato, com a vida muito preenchida, alguma
vez pensou que os elos desta corrente,
de que uma grande percentagem de Fuzos
faz parte, se tinham partido para a sua pessoa?
DR. LIMA DE CARVALHO: Não, de forma alguma! Nunca os elos de ligação aos
Fuzos se podem perder ou interromper, depois de tão sublime e tão marcada presença nesta nossa briosa Instituição.
Apesar da ligação a uma actividade científica, jamais me senti desligado ou distanciado da mística que me envolveu, consumiu e
enriqueceu durante 16 anos, no período
dourado da juventude.
DESEMBARQUE: É louvável constatar
que no seio de uma profissão tão absorvente e tão envolvente, evidencia o orgulho e a
camuflagem dos Fuzos e exibe com satisfação a sua origem.
Será que esta forma de estar na vida, a
lidar com a vida e com a morte, se identifica
com alguma disciplina comum?
DR. LIMA DE CARVALHO: Eu costumo
dizer a alguns colegas meus que a cirurgia
tem também algo de mítico para mim, tal
como teve, noutra oportunidade, a circunstância de ter sido Fuzileiro Especial. É que,
por vezes, em situações aflitivas de grande
stress e muita responsabilidade, em que é
necessário tomar decisões difíceis e imediatas, eu tenho por hábito dizer para os colegas que revelam grande inquietação e indecisão: “os meus queridos amigos se alguma vez se vissem debaixo de fogo, não re-
sistiam e acabavam por morrer antes de concluir o trabalho”!
Com efeito, saber controlar os
batimentos do coração em casos de grande
perigosidade e responsabilidade numa intervenção cirúrgica, é mais ou menos o mesmo que reagir aos tiros num teatro de operações ou cair numa emboscada. Trata-se,
de resto, de operações delicadas em que está
em causa a vida (ou a morte) de um ser humano.
DESEMBARQUE: Depois de ter lido e apreciado o nosso Desembarque, qual a sua opinião sobre o mesmo,
mormente na sua apresentação e conteúdo?
DR. LIMA DE CARVALHO: O Desembarque é uma preciosidade. É, na verdade,
a publicação que faltava na vida dos Fuzileiros.
DESEMBARQUE: Se
entender que
nas questões
formuladas,
algo de importante ficou por
abordar, no
que respeita à
sua “passagem” pelos
Fuzileiros,
aqui fica a
oportunidade
para dizer o
Numa visita à Associação de Fuzileiros, falando para o Desembarque
que tiver por
conveniente.
DR. LIMA DE CARVALHO: Muito teParece-me muito bem concebido e exria para dizer sobre os Fuzileiros e a in- celentemente dirigido e orientado. Agradoufluência que em mim exerceram, mas, por -me imenso e espero participar nele com asagora, não vou alongar-me mais em con- siduidade, sempre que seja útil e necessásiderações. Fiz algumas críticas, que jul- rio.
go fundamentadas, especialmente na terDesejo, pois, felicitar-vos pela iniciativa
ceira questão, as quais, tal como muitas que tiveram.
outras, poderão um dia ser discutidas e
analisadas noutro contexto.
Ilídio Neves/Mário Manso
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31
BREVES
APOIO SOCIAL
Um dos grandes objectivos da Associação de Fuzileiros é procurar criar as condições necessárias de apoio aos seus associados e respectivas famílias, nomeadamente,
médico, jurídico e social.
As infra-estruturas, prioridade básica para
a implementação dos diversos serviços, encontram-se numa fase de conclusão, pelo
que os passos seguintes irão ser orientados
no sentido de tornar viável esses desígnios,
logo que os permitam os recursos técnicos
e financeiros.
Todavia, o primeiro impulso, no que respeita ao apoio social – APOIO INDIVIDUAL E
FAMILIAR -, acaba de tornar-se em realidade, graças à boa vontade e disponibilidade
gratuita do Excelentíssimo Ex-Capelão, CMG
ANTÓNIO BELTRÃO, de acordo com o documento publicitário anexo.
As consultas deverão ser marcadas com
a conveniente antecedência nos serviços
administrativos da Associação de Fuzileiros.
APOIO INDIVIDUAL E FAMILIAR
Mente (Espírito)
Família
Corpo
QUINTAS FEIRAS A PARTIR DAS 15.00H
ASSOCIAÇÃO FUZILEIROS – BARREIRO
DISPONIBILIDADE GRATUITA – ANTÓNIO BELTRÃO
Substancias
Psicoactivas
Inicio em Março 2008
OFERTAS/DONATIVOS
É com agradável satisfação e gratidão que o Desembarque, dá
a conhecer a todos os associados os gestos solidários de alguns
camaradas, que ao reconhecerem os esforços desenvolvidos, face
às grandes carências de natureza financeira, se dispõem a ajudar,
através de alguns donativos, em função das suas disponibilidades,
mas demonstrando compreensão, amizade e boa vontade.
Destacamos, em primeiro lugar, a atitude do sócio nº 513, Manuel Pires da Silva - Homem Ferro - que, juntamente com uma carta
elogiosa, plena de incentivos e sentimentos fraternos, nos enviou
um cheque de 1.000 Euros.
Também, uma vez mais, o estimado sócio Manuel Francisco –
Xico Enfermeiro - a princípio algo crítico, mas bem intencionado,
sobre a orientação da nossa Associação, vem agora reconhecendo,
apoiando e incentivando, como poucos, os esforços desenvolvidos
pelos Órgãos dirigentes, utilizando não só o estímulo psicológico,
através de repetidas manifestações de carinho e afecto, mas, de
forma empenhada, materializando os seus propósitos através de significativos donativos. Acaba de fazer entrega de mais um cheque de
500 Euros, agora com a recomendação de que o dinheiro deverá
ser utilizado na aquisição de material necessário ao apetrechamento
do conjunto musical “ O Desembarque”, que dentro em breve fará a
sua apresentação aos associados.
Igualmente se regista o significativo contributo, feito no decorrer
do Jantar de Natal, de 250 Euros, do sócio Simpatizante nº 1308,
João Pedro M. da Luz.
Registamos também, com reconhecida gratidão, os donativos
dos associados seguintes:
Manuel da Silva Marques
Destacamento nº 10, Angola
Alfredo Santos
José Oliveira
António Alves do Rosário
Raul Almeida Viegas
Rui M. Rodrigues de Abreu
Manuel Gomes Figueiredo
Sócio nº 698
(Zé Armando)
Sócio nº 841
Sócio nº 1181
Sócio nº 619
Sócio nº 514
Sócio nº 1395
Amigo dos Fuzos
90.00 €
35.00 €
20.00 €
20.00 €
20.00 €
20.00 €
20.00 €
20.00 €
Bem Hajam, caros amigos! … .
Ilídio Neves
32
BREVES
IN PERPETUA MEMORIAM
Foi com tristeza e sentida mágoa que tomamos conhecimento da partida para outra dimensão dos
estimados associados MOURA LOPES e SANTINHOS.
Estes dois camaradas agora desaparecidos foram figuras marcantes na nossa grande família de Fuzileiros.
O primeiro, pelo seu passado e pelo presente, especialmente pela forma amistosa e benemérita como
se relacionava com a Associação de Fuzileiros.
O segundo, por se tratar de uma das principais referências da Instituição, em virtude de ser um dos
quatro primeiros Fuzileiros da nova Era, fazendo parte do famoso quarteto que frequentou, no recuado
ano de 1961, o curso nos Royal Marines, em Inglaterra, por muitos considerado o embrião dos actuais
Fuzileiros.
Este nosso saudoso camarada tinha 76 anos de idade e uma permanente devoção à causa e mística
dos FUZILEIROS, cujos valores transmitiu, de forma sentida e consistente à sua família, esposa e filhos,
cujos vínculos pretendem orgulhosamente manter na ligação afectiva e efectiva à Associação de Fuzileiros.
Também um jovem Fuzileiro, Márcio Filipe da Costa Araújo, faleceu, no dia 04/10/2007, quando regressava à Base, depois de participar no exercício PIREX, na zona de Pinheiro da Cruz. A viatura, Unimog
dos Fuzileiros, em que seguia, foi violentamente abalroada por um veículo ligeiro que circulava a grande
velocidade, em contramão, na estrada principal, próximo de Alcácer do Sal, fazendo-a projectar para a
berma, onde ficou capotada.
Tratava-se de um jovem 1º Marinheiro, dos Quadros, da incorporação de 29/07/2003, e com ele seguiam outros camaradas, dois dos quais feridos com gravidade e outros com ferimentos ligeiros.
O Desembarque apresenta, muito sentidamente, as suas condolências aos respectivos familiares.
Paz às suas almas! … .
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CONSTRUÇÃO E
INDÚSTRIA DO
MOBILIÁRIO
CJM – J. MESQUITA-SOC. CONST., LDA.
Zona Industrial da Várzea do Monte * 4780-584 Santo Tirso
Telef.: 252 419 673 / 252 413 356 * Fax: 252 413 353
Tlms.: 917 511 510 / 917 261 256
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