O Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino (LANTE) do Instituto
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O Laboratório de Novas Tecnologias de Ensino (LANTE) do Instituto
XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 O conhecimento como alavanca para o fortalecimento da atuação pública: o caso da pós graduação da Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Rosa Maria Chaise Introdução Um dos maiores desafios das instituições, sejam elas públicas ou privadas, reside na dificuldade de manter seus corpos técnicos permanentemente preparados para o enfrentamento diário dos obstáculos e das incertezas, características do nosso tempo. A frenética dinâmica de geração de novos conhecimentos não permite que elas se acomodem na premissa de que já adquiriram suficiente saber organizacional ou que seu corpo técnico possui a quantidade e a qualidade das competências exigidas para o exercício das suas funções. Não há dúvida que uma gestão pública mais eficiente, moderna e, permanentemente, preocupada com a criação e atualização de conhecimentos, tanto na União como nos Estados e Municípios seria um grande trunfo para o país, não só em momentos de agravamento da crise econômica internacional. A melhoria da gestão pública passa por vários pontos, como o uso intensivo da tecnologia da informação, a criação de metas de desempenho e de políticas de reconhecimento e valorização dos servidores com base na meritocracia. Exemplos de avanços ganham espaço, como as licitações eletrônicas e os pregões, usados atualmente em larga escala no governo resultando em agilidade, transparência e economia de recursos. Entretanto, o grande gargalo continua a ser como incentivar os funcionários a uma contínua capacitação, não somente técnica, mas também comprometida com a gestão para assumir diferentes funções, ou seja, transformar técnicos em gestores. O modelo de atuação anteriormente instituído, rígido e impermeável às mudanças, tanto da realidade interna quanto da externa, proporcionava uma situação de acomodação e de pouca aceitação para o novo, porque requeria pouco preparo para o enfrentamento diário. Hoje esse modelo não é mais válido. O aprendizado tem que acontecer concomitantemente ao processo de transformação, pois deixou de objetivar a condução a situações de conformidade à realidade, onde os técnicos eram simples receptores da situação, passando a agirem como agentes propulsores das necessárias mudanças. A dinâmica do mundo atual impossibilita a cristalização dos conhecimentos, exigindo revisão ininterrupta das técnicas e conceitos aplicados, mediante constante atualização, intercâmbio de informações, estabelecimento de mecanismos de colaboração e cooperação técnicacientífica e cultural com outros servidores e instituições, visando ao aperfeiçoamento das atividades, bem como a criação de práticas inovadoras. Desta forma a importância de investimento naquilo que as instituições têm como seu bem mais precioso, as pessoas, impõe um contínuo aprimoramento não só dos seus técnicos e jurisdicionados como da sociedade em geral. 1 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Vivemos um momento histórico marcado pelas inovações tecnológicas e pela crescente complexidade das relações sociais, que resulta em elevados graus de sofisticação dos processos produtivos e dos processos administrativos. Isto demanda um enorme esforço para as instituições se adaptarem a ambientes de permanentes transformações. A Administração Pública entendeu a necessidade de se ajustar a esse cenário de forma a atender às crescentes exigências da sociedade por mais eficiência não só na aplicação dos recursos públicos e na melhoria da qualidade dos serviços prestados por ela, mas também na elevação dos padrões de desempenho dos seus servidores. As providências quanto a isso podem se classificar em dois níveis: por um lado, a busca pelo aperfeiçoamento das estruturas administrativas e dos procedimentos de trabalho e, de outro lado, o aprimoramento dos recursos humanos disponíveis. A profissionalização da Administração Pública está associada à necessidade de os gestores públicos responderem com mais qualidade aos anseios da sociedade (Centro Latinoamericano de Administración para El Desarrollo, 2010). No caso dos Tribunais de Contas, apesar de terem como preocupação principal o controle da legalidade da gestão contábil e financeira do setor público, as transformações no papel do Estado impulsionaram o reconhecimento de outras formas de controle e avaliação que ultrapassem a simples verificação dos aspectos formais dos atos administrativos, para técnicas de controle gerencial que considerem questões relativas à economicidade, eficácia e efetividade dos atos governamentais. Ao implementarem instrumentos de mensuração, monitoramento e avaliação, as organizações públicas se responsabilizam não só pela forma de atuação, mas também pelos possíveis resultados obtidos (BARZELAY,1997). Assim, os Tribunais de Contas, além da atuação de controle da conformidade e da governança da regularidade ampliariam o seu foco para uma atuação voltada para resultados, contribuindo para promover accountability de desempenho e, consequentemente, para o melhor exercício da democracia. Eles passariam a ter uma atuação na agenda política mais comprometida com a dinâmica na qual estão inseridos, onde o aumento da globalização, da disseminação das tecnologias da informação, do aparecimento de uma economia em rede e do entendimento da aposta permanente em recursos humanos gera uma capacidade de ação pública que demanda a criação de diferentes ferramentas de análise e de intervenção política, cultural e social. O caráter transformador estaria na capacitação continuada dos gestores públicos, de forma a oportunizar não só melhores condições para exercerem as suas funções na especificidade das atribuições dos Tribunais, ou seja, torná-los mais profissionais, no sentido técnico, mas também a formação de cidadãos mais críticos conscientes de seus deveres e direitos. Quando falamos da profissionalização da função pública queremos pontuar a capacitação e a responsabilização dos gestores com a aprendizagem. Investir em educação permanente é fundamental, na medida em que vivemos num mundo cambiante no qual práticas arraigadas de determinados procedimentos no setor público exigem o ensino de diferentes técnicas e o exercício de competências específicas e comportamentos organizacionais. 2 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Não há dúvida que a capacitação passa a ser uma forma de motivar servidores a construírem e buscarem conhecimentos que levem a formas inovadoras de atuação. Neste artigo, serão apresentadas reflexões sobre a importância da educação corporativa, sua relação com a aprendizagem significativa, o relato da experiência da contribuição do curso de pós-graduação oferecido pela Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, na visão dos alunos, assim como considerações finais apontando os desafios a serem enfrentados para a continuidade da iniciativa. Entrelaçando conceitos: aprendizagem significativa, educação corporativa e competências Hoje as instituições são obrigadas a lidar cada vez mais com cenários diferentes, impelidas a modernizar sistematicamente seus processos de trabalho e a identificar competências para dar conta das crescentes demandas. São exigidas a oferecerem diferentes formas de capacitação alinhadas, não só com suas necessidades específicas, mas também com seus objetivos estratégicos. Os servidores precisam saber pensar, interpretar informações e agir rapidamente. O exercício das funções exige profissionais, tecnicamente aptos, mas portadores de uma natureza mais gerencial, que possam criar vantagens competitivas baseadas em aprendizagens permanentes. Essa mudança e o estreitamento da estrutura hierárquica entre quem decide e quem faz afetam o tipo de educação de que os servidores precisam. Portanto, hoje a questão que se impõe é que não adianta somente capacitá-los para que adquiram mais qualificação, mas é preciso incentivá-los a novas maneiras de pensar e trabalhar, para que possam desempenhar papéis mais abrangentes nas suas atividades. O modelo pedagógico é o aspecto essencial da educação corporativa, pois é nele que vamos encontrar o programa de educação sintonizado com os objetivos estratégicos da instituição, bem como das competências necessárias a serem desenvolvidas pelos técnicos, jurisdicionados e sociedade em geral. A função da educação de facilitar as mudanças através de aprendizagens significativas é essencial em ambientes de trabalho onde tudo se transforma constantemente. Aprendizagem significativa consiste na integração de novos conceitos à estrutura anterior do aluno, com a finalidade de estabelecer aprendizagens inter-relacionadas. Significa dizer que para uma aprendizagem ser significativa ela tem que modificar conceitos preexistentes e formar outras ligações entre eles e ser facilmente aplicada em situações de aprendizagem ou da resolução de situações difíceis. A questão que se coloca é como a educação corporativa, sob o enfoque da aprendizagem significativa, pode ser vista como uma ferramenta fundamental de gestão da mudança. 3 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 De acordo com Éboli (2010), a razão de cada vez mais se exigir das pessoas uma postura voltada para o autodesenvolvimento e a aprendizagem contínua é o que tem levado as instituições, sejam privadas ou públicas, a se comprometerem com a educação dos seus servidores, implantando sistemas educacionais, chamados de educação corporativa, que ao em vez de privilegiar somente o conhecimento técnico e instrumental, valorizam o desenvolvimento de atitudes, de habilidades e, consequentemente, de competências. As instituições criam assim vantagens competitivas que se tornam instrumentos eficazes de alinhamento e desenvolvimento de talentos humanos com as estratégias organizacionais estabelecidas. O treinamento tradicional reativo, descentralizado e voltado para um público amplo está, gradativamente, sendo substituído por uma educação corporativa que oferece soluções de aprendizagem estratégica para as competências essenciais de cada instituição. Estamos diante de uma mudança de paradigma que exige, tanto dos servidores como das instituições, cada vez mais flexibilidade, controle social e transparência. Nessa situação, o aprendizado além de fornecer as condições exigidas ao alcance dos objetivos institucionais e satisfazer a necessidade dos diferentes contextos sem perder a perspectiva do todo, deve considerar as pessoas – servidores, jurisdicionados e a sociedade em geral com relação as suas expectativas. As ações de educação corporativa devem estar voltadas para o desenvolvimento integral do indivíduo e permitir a formação de profissionais qualificados para a produção e o compartilhamento de conhecimento. O desenvolvimento e a instalação das competências empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócios. (ÉBOLI:151, 2010) Segundo Meister (1999), o determinante na implementação de uma educação corporativa é que ela possa auxiliar as instituições a desenvolverem nas pessoas competências críticas ao seu negócio. Ela serve para mobilizar os técnicos em torno de um projeto de mudança organizacional, com o objetivo de repensar a forma como a instituição pensa e trata a gestão do conhecimento, desde a sua criação, disseminação e publicação. Para esta autora cada escola representa um conjunto de conteúdos reunidos para atender ao desenvolvimento de determinadas competências voltadas para públicos-alvo. Cada uma possui objetivos específicos e programas educacionais adequados aos seus propósitos e necessidades (ÉBOLI, 2010). Simplificando, poderíamos dizer que as escolas corporativas são um conjunto de soluções de aprendizagem oferecidas pelas instituições com a finalidade de desenvolver nas pessoas as competências humanas para atingir seus objetivos. Muitas vezes, a exigência de melhorar os processos de capacitação e passar a agir de forma diferenciada faz com que as instituições revejam suas estratégias de atuação. Desta maneira, a educação corporativa não serve apenas para capacitar as pessoas, mas para acelerar os processos de mudança de interesse e ação nas instituições em que ela irá atuar. O programa de educação corporativa, específico para uma área ou processo de negócio, também é influenciado pelos valores e pela cultura organizacional, podendo, normalmente, trabalhá-los dentro dos planos de desenvolvimento dos profissionais (MUNDIM:125, 2009). 4 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Nesse cenário, o paradigma da aprendizagem está voltado para um público-alvo que ultrapassa os servidores internos e atinge os externos, no caso os de órgãos e entidades jurisdicionados, além da sociedade civil, para o contínuo e permanente processo de aquisição de novos conhecimentos e o desenvolvimento de competências básicas do ambiente de trabalho. Some-se a isso a oportunidade de aprendizagem em qualquer lugar e em qualquer hora. Retomando Meister (1999), a autora indica que a importância da educação corporativa, como instrumento primordial de mudança cultural, está sustentada nos seguintes pilares: instituições não hierárquicas e flexíveis, capazes de respostas rápidas e ajustes e aperfeiçoamento constante; economia do conhecimento, o modo de gerenciamento do conhecimento como base de formação de riqueza; redução do prazo do conhecimento, ou seja, a rápida obsolescência dos conhecimentos;empregabilidade, o foco nas competências exigidas para manter a competitividade e a educação para uma estratégia global, onde as instituições assumem o papel de educadoras, ampliando e alterando a concepção de desenvolvimento profissional. Em muitas corporações, elas se transformaram em complemento estratégico para educar não apenas os funcionários, mas também parceiros, fornecedores, clientes e comunidade (MEISTER:12,1999).As instituições passaram a investir em pessoas mais qualificadas, com maior iniciativa e capacidade de trabalho em equipe. Diante dessa realidade, surge a preocupação com a gestão de pessoas por competências onde observamos alta aprendizagem, a organização do trabalho com base em metas, responsabilidades e atuações multifuncionais, entre outras características (RUAS et al.2005). Para estes autores estes aspectos acabam por resultar em formas de trabalho mais focadas nos resultados do que nos processos, ou seja, na forma de fazer. Desta maneira, o ambiente laboral exige que as pessoas tenham capacidade de transformação e adaptação contínua para que possam dar respostas rápidas e criativas às mudanças constantes, revelando uma necessidade de aprendizagens sistemáticas e significativas. Educação corporativa é um sistema de formação de pessoas pautado por uma gestão de pessoas por competências, devendo, portanto, instalar e desenvolver nos colaboradores (internos e externos) as competências consideradas críticas para a viabilização das estratégias de negócio, promovendo o processo de aprendizagem ativo e permanente vinculado aos propósitos, valores, objetivos e metas empresariais. (ÉBOLI: 48, 2004) A educação corporativa representa a forma de aprendizagem da instituição, focada em prover os conhecimentos, habilidades e competências necessários para alcançar os seus objetivos estratégicos. Ela necessita incentivar seus técnicos a adquirirem diversas competências durante toda a sua vida no trabalho. Esse novo contrato entre pessoas e instituições obrigou transformações nos seus contextos externos e internos. Ambas as partes, perceberam a estreita ligação entre o desenvolvimento profissional e o desenvolvimento organizacional e passaram a apostar, cada vez mais, na sinergia entre elas (MEISTER,1999). No âmbito interno, o modelo de gestão por competências passa a ser o foco de atenção trazendo uma discussão intensa sobre o seu significado e abrangência. 5 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Para Le Bortef (2003), competência é colocar em prática aquilo que se sabe. Significa dizer que é preciso saber mobilizar, integrar e transferir conhecimentos dentro de um contexto específico. Assim podemos falar em competência quando se agrega ao seu conceito os saberes relacionados à pessoa, à sua formação profissional e à sua experiência. Ela pode ser vista como a capacidade de entrega da pessoa e, também, como o conjunto de qualificações que a pessoa possui para entregar (DUTRA:22,2012). Para este autor, ao colocarmos instituições e pessoas lado a lado, observamos um processo contínuo de troca de competências. A instituição transfere o seu capital de conhecimentos para as pessoas, com o objetivo de capacitá-las para enfrentar novas situações profissionais e pessoais dentro e fora dela. Por sua vez, as pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual, transferem para a instituição o seu aprendizado, instrumentalizando-a para atuar de forma mais efetiva. Essa troca precisa ser incentivada sistematicamente e potencializada nos seus efeitos benéficos. As competências estão ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais. Elas têm o papel de integrarem, utilizarem os conhecimentos para permitirem uma capacidade de agir mais eficazmente. A construção de um conjunto de competências é conjunta com a formação de esquemas de mobilização dos conhecimentos “com discernimento, em tempo real, ao serviço de uma ação eficaz” (PERRENOUD:10, 1999). Logo a integração dos conceitos de competência, nos níveis institucionais, organizacionais e comportamentais, faz dessa abordagem um modelo estratégico em gestão pela sua flexibilidade, criatividade e foco nos objetivos principais de cada instituição. Não há dúvida que a aquisição de conhecimento pouco significa se não soubermos usá-lo apropriadamente nas variadas situações da vida pessoal e profissional. Nessa interpretação de competência surge a necessidade de criação e desenvolvimento de um processo de educação que permita às instituições agregarem valor ao resultado de seu negócio, diferente dos tradicionais centros de treinamento feitos para fornecerem respostas pontuais. A aprendizagem precisa ser mais ampla e não apenas o suficiente para tornar a pessoa apta para determinada tarefa ou atividade. Ela deve direcionar as pessoas para o auto desenvolvimento, a busca sistemática de novos conhecimentos e o questionamento permanente. Diante deste quadro podemos identificar que um dos grandes desafios da educação corporativa são os processos de formação e de aprimoramento dos profissionais nesse universo de produção de conhecimentos, princípios e valores que norteiam hoje as instituições. A questão que queremos discutir nesse trabalho é se uma instituição, voltada para a aprendizagem continuada, que invista na capacidade de produção e disseminação de novos conhecimentos associada a uma postura crítica de seus servidores poderá contribuir com o aumento da eficácia das suas ações. Paralelamente, procuramos identificar as competências necessárias para o trabalho dos servidores públicos e se elas estão sendo efetivamente desenvolvidas. Ao final queremos reforçar a importância das instituições em criar espaços de reflexão para pensar e preparar a ação de governar. 6 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 A Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro O Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, entendendo a necessidade de aperfeiçoamento da sua estrutura organizacional e dos seus procedimentos de trabalho, mas principalmente, dos seus recursos humanos, implantou a Escola de Contas e Gestão, em 2005. Seu principal objetivo é a formação e a capacitação dos servidores públicos, por meio do investimento em ações de caráter pedagógico, para a orientação correta e o melhor emprego dos recursos públicos. A Escola também tem como meta desenvolver uma cultura que permita aos seus servidores e jurisdicionados a identificação antecipada de situações problema. É o pensar preventivamente, o detectar das necessidades antes que se tornem problemas e dificultem o exercício técnico correto numa gestão voltada para resultados. As antigas escolas de governo, agora chamadas de coorporativas, proporcionam a capacidade de reflexão, de geração de novos conhecimentos que possam se transformar em práticas públicas mais efetivas. A finalidade é que funcionem como centros de mediação entre o prático, por meio da especificidade das suas atuações, e o teórico, que seria desenvolvido via o conhecimento acadêmico transmitido. Essas escolas resgatariam a “expertise” do saber de seus técnicos e transformariam em novos conhecimentos de forma que a expertise do saber possa ser multiplicado, disseminado para outras instituições (CHAISE, 2007). Assim, o grande potencial dessas escolas é oferecer uma educação continuada, alinhada à estratégia institucional, através de programas adequados para aprimorar a performance dos gestores públicos. É nesta perspectiva de contribuir para a melhoria da gestão pública do Estado e de seus municípios, com o oferecimento de programas de capacitação e formação, que a Escola de Contas e Gestão foi instituída. Com o propósito de se tornar uma escola de referência na administração pública a ECG fez um alto investimento para formação do seu corpo docente, firmando convênios com a Fundação Getúlio Vargas, FGV, em turmas de Especialização em Gestão Pública, e em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria e Mestrado em Administração Pública. Também em convênio com a Pontifícia Universidade Católica, PUC-Rio, foram realizadas turmas de Especialização em Auditoria de Obras Públicas, Direito Fiscal e Rede de Computadores. Assim, a oferta de cursos de pós-graduação, pela ECG foi fruto de um processo de amadurecimento e de experiências vividas com outras instituições de ensino superior. Nesse direcionamento, em 2009, a Escola de Contas e Gestão foi credenciada pelo Conselho Estadual de Educação, para ministrar cursos de pós-graduação lato sensu em Gestão Pública Municipal, voltados (os cursos) para alunos de municípios jurisdicionados, e Gestão Pública em Controle Externo, para técnicos do Tribunal, ambos com carga horária de 408h, atendendo a todos os requisitos legais exigidos. 7 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Os cursos foram estruturados da seguinte forma: módulo contextual, que abrange as disciplinas de Fundamentos de Direito Público, Lei de Responsabilidade Fiscal, Economia do Setor Público, Orçamento e Políticas Públicas;módulo organizacional ou gerencial composto pelas disciplinas Gestão Estratégica,Gestão de Pessoas, Governo Eletrônico, Ética, Elaboração, Análise e Avaliação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes;módulo controle externo para a turma interna com as disciplinas de Auditoria de Contas, Operacional, Controle da Receita, Controle de Pessoal e Auditoria de Licitações e Contratos Administrativos e módulo controle interno para a turma de técnicos jurisdicionados com as disciplinas de Administração de Pessoal, Licitações e Contratos, Prestação de Contas, Instrumentos de Gestão Fiscal e Desenvolvimento Econômico Local e Controle Interno. Finalizando, o módulo de metodologias, com as disciplinas de Metodologia da Pesquisa e do Ensino. O curso de Gestão Pública em Controle Externo teve por finalidade formar exclusivamente servidores do Tribunal de Contas na área gerencial e de auditoria. A primeira turma foi constituída por 17 alunos, com início em setembro de 2010 e conclusão em dezembro de 2011. A pluralidade da turma ficou evidenciada pela diversidade de funções e atribuições de cada aluno dentro do Tribunal de Contas, reunindo auxiliares administrativos, analistas e técnicos de Controle Externo, com formação acadêmica, principalmente em Direito e Ciências Contábeis. O outro curso oferecido, Gestão Pública Municipal, com o objetivo de formar servidores jurisdicionados municipais na área gerencial e de controle externo, teve a participação de 35 servidores, representando 28 dos 92 municípios do Estado do Rio de Janeiro. Nesta turma a multidisciplinaridade das áreas de conhecimento presentes na titulação acadêmica de seus integrantes foi particularmente evidenciada (fig. 1). No II Encontro Técnico de Educação Corporativa, realizado no Rio de Janeiro, em 2011, no qual estiveram presentes a maioria dos 34 Tribunais de Contas do País, verificou-se que mais da metade das unidades de educação dos TCs oferece cursos de pós-graduação lato sensu (especialização ou MBA) em parceria com diferentes instituições de ensino superior, sendo a Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro uma das únicas a oferecer cursos de pós-graduação com chancela própria, ou seja, ela mesma certificando seus cursos. Fica evidenciada a preocupação das escolas com a preparação permanente de seus servidores, jurisdicionados e entidades parceiras. O caso da Pós-Graduação: algumas revelações Na perspectiva de uma aprendizagem construtivista e interpessoal, em que são estabelecidas ações que mantêm o aluno no processo de realização de atividades inovadoras, gerando conhecimentos sobre como desenvolver estas ações, um “estar junto” professor e aluno, buscamos aumentar o entendimento acerca do problema estudado realizando pesquisa junto aos alunos dos cursos de pós-graduação em duas etapas. 8 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 O caminho escolhido adotou uma abordagem qualitativa da realidade, onde o interesse principal residiu em questões relativas à importância do conhecimento e ao desenvolvimento de competências necessárias às exigências de atuação de uma administração pública não só preocupada com resultados, mas também com a capacitação continuada dos seus servidores. A forma da investigação foi o estudo de caso, pois se buscava a compreensão em profundidade da situação: concreta, real e específica. O trabalho foi desenvolvido no decorrer do ano de 2011, com os 49 alunos dos dois cursos acima citados e utilizou, como instrumento de coleta, questionários distribuídos em sala de aula entre os meses de abril e setembro. As informações coletadas foram organizadas e submetidas à análise de conteúdo, uma vez que “[...] culminam em descrições numéricas de algumas características do corpus do texto [...]”, sem desconsiderar “[...] tipos, qualidades e distinções no texto, antes que qualquer quantificação seja feita” (BAUER; GASKELL:190,2002). A análise dos questionários permitiu esboçar algumas considerações importantes, entre a concretização ou não das expectativas dos alunos, a capacidade transformadora do conhecimento e o desenvolvimento de determinadas competências. A leitura sistemática do material tornou possível estabelecer algumas aproximações, semelhanças e diferenças, entre as duas turmas analisadas, com pontos evidentes de utilização do conhecimento adquirido, sob o referencial teórico de Meister (1999), sobre as competências básicas requeridas no ambiente de trabalho. Na primeira etapa, fase exploratória da pesquisa, indagamos a respeito da expectativa do aluno ao cursar a pós-graduação. Queríamos saber a motivação que os levou a fazer a formação, se foi de cunho profissional, pessoal ou pela oportunidade oferecida pelo Tribunal de Contas, por intermédio da Escola de Contas e Gestão. Queríamos verificar o grau de influência da instituição, no caso, Tribunal de Contas, na decisão do aluno de inscrever-se no curso. Os alunos da turma Gestão Pública Municipal, pontuaram como principal objetivo a aquisição de conhecimentos técnicos específicos relativos à prática administrativa e legal das respectivas administrações públicas municipais em que trabalhavam. Os conhecimentos poderiam ser colocados em prática nos diferentes municípios em que atuavam, podendo trazer crescimento pessoal e profissional (fig.2). Outra expectativa mencionada foi a aquisição de mais um título na sua formação acadêmica: "o diploma de pós-graduação em gestão pública municipal me abrirá muitas portas" (frase mencionada por um aluno, que de maneira coloquial representa o senso comum das respostas lidas sobre as expectativas ao cursar a pós). Houve uma referência, em grande parte dos questionários, ao valor atribuído pelos alunos pela chancela do curso ser dada por uma instituição reconhecida como excelência técnica, no caso o Tribunal de Contas por intermédio da Escola de Contas e Gestão. “Vai acontecer o dia em que uma empresa de excelente reputação em determinada área [...] ofereça o seu próprio diploma, que poderá ser mais valioso do que um diploma de outra instituição de educação superior”(MEISTER:26,1999) 9 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 A turma Gestão Pública em Controle Externo também sinalizou que a principal expectativa foi a aquisição de novos conhecimentos que levassem ao aprimoramento do exercício de suas funções. Esta turma, diferente da anterior, demonstrou preocupação com a qualidade das aulas, pois os alunos indicaram em suas falas a espera de um "um corpo docente qualificado, com um conhecimento aprofundado e diferenciado, que abordasse as matérias com imparcialidade”. Os alunos, responderam que a grande expectativa, após o término do curso era passar a atuar em novos campos de trabalho, nos quais possam aplicar os conteúdos aprendidos, objetivando principalmente crescimento profissional, também indicado na outra turma. Na segunda etapa, orientados pelas respostas do primeiro momento e interessados nas questões relativas ao desenvolvimento das competências exigidas, buscamos mapear os seguintes temas: se ao concluir o curso as expectativas foram atendidas e de que forma, se os conhecimentos aprendidos serviriam para agregar valor profissional e pessoal, seriam compartilhados com outras pessoas e permitiriam o desenvolvimento de uma visão mais crítica da realidade e, finalmente, se o curso contribuiu para a proposição de novas soluções no seu ambiente profissional. Da turma de Gestão Pública Municipal, 71,8% responderam que a expectativa fora atendida de maneira satisfatória, uma vez que, já sentiam transformações no ambiente de trabalho (fig.3). Quanto à turma de Gestão Pública em Controle Externo, 66% disseram que a expectativa também fora correspondida satisfatoriamente. Citaram que aprenderam diferentes conteúdos que, modificaram sua visão sobre a atuação do Tribunal de Contas. Com relação à forma como o curso agregaria valor ao seu desempenho profissional, queríamos identificar como os conhecimentos adquiridos com a pós-graduação poderiam oportunizar transformações nas diversas atividades dos alunos, através da indicação de ações diferenciadas, por exemplo, uma ação comunicativa mais efetiva, uma percepção de melhoria de qualidade de serviço prestado e práticas de trabalho em equipe. Os alunos de Gestão Pública Municipal responderam que os conhecimentos assimilados contribuíram significativamente para o seu crescimento profissional, proporcionando-lhes novas oportunidades de trabalho. Apontaram que se sentem mais seguros para trabalharem com mais eficiência em suas respectivas áreas de atuação, melhorando a qualidade de serviço prestado, podendo até atuar em lugares de destaque (fig.4). Para a turma de Gestão Pública e Controle Externo, o maior valor agregado foi a aquisição de uma visão geral ampla acerca das atividades referentes ao Tribunal de Contas. Uma visão mais crítica e mais técnica mediante a reconstrução de conhecimentos que serão utilizados no dia a dia e que possam melhorar o seu desempenho e, consequentemente, incentivar o trabalho da equipe como um todo. Identificaram uma reformulação de seus conhecimentos, de seus "modos" de trabalho, na lógica estabelecida “mais conhecimento igual a melhor desempenho" (fig.5). 10 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Meister (1999) indica como uma competência essencial hoje, o autogerenciamento da carreira, ou seja, a capacidade de o funcionário controlar o seu próprio desenvolvimento. Para ela, o gerenciamento da vida profissional é fundamental para aquisição de uma série de outras competências exigidas no trabalho. Assim, a contribuição das escolas corporativas, incentivando os servidores a buscarem uma educação permanente é extremamente relevante. A ênfase está em “qualificações mais nobres”, que envolvem solução criativa de problemas, colaboração e comunicação (Meister:16,1999). Com relação à pergunta sobre se compartilhavam o conhecimento adquirido com os colegas de trabalho e de que forma isso acontecia, a maioria dos alunos, em ambas as turmas respondeu que sim, aplicando a aprendizagem em suas atividades profissionais. Queríamos ainda saber se o curso havia proporcionado conhecimentos úteis para ajudar na melhora dos processos, desenvolvimento do trabalho em equipe, estabelecimento de novos contatos, busca da articulação entre o teórico e o prático e aprimoramento do exercício das suas funções. Para a turma de Gestão Pública Municipal, a melhor forma de compartilhar conhecimentos foi através do diálogo diário com os colegas, durante o exercício da tarefa, na medida em que, os problemas acontecem. Este é um forte indicativo de que o conteúdo apresentado no curso foi transformado em novos conhecimentos, permitindo que os alunos de fato pudessem trocar entre si, ajudando-se mutuamente e assim mudando a sua realidade. Os alunos destacaram que a aprendizagem permitiu a apresentação de novos conceitos, tanto em reuniões de trabalho como em conversas cotidianas e que eles passaram a ter um olhar mais focado, mais direcionado em determinadas situações (fig.6). Quanto à turma de Gestão Pública e Controle Externo, a análise do material mostra que os formandos compartilham o conhecimento adquirido também através de diálogos entre colegas de trabalho, disponibilizam os materiais referentes ao curso, promovem debates, trocam opiniões, esclarecem assuntos pertinentes aos setores e incentivam cada vez mais o trabalho em equipe melhorando a rotina de trabalho do tribunal. A comunicação e a colaboração são competências exigidas pelos gestores nos ambientes de trabalho, para o incremento da capacidade de empregabilidade necessária para um melhor desempenho. A capacidade de comunicação envolve não só as relações interpessoais, como saber ouvir e se fazer entender, como também a habilidade de trabalhar em grupo, colaborando com os demais colegas para compartilhar ideias que possam trazer melhores práticas (Meister,1999). Com relação à questão sobre se os conhecimentos adquiridos permitiram-lhes ter uma visão mais crítica sobre a sua atuação profissional, a turma de Gestão Pública Municipal acredita que a aquisição de novos conhecimentos na pós-graduação os ajudou a repensar suas tarefas do dia a dia já predeterminadas, e que agora têm a chance de serem modificadas, uma vez que, o aprendizado os fez questionar e refletir criticamente sobre o universo que os cerca, “quando você amplia seus conhecimentos, você "cria condição de reavaliar sua posição". 11 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Para a turma de Gestão Pública em Controle Externo, também a ampliação da visão foi o ponto mais importante levantado para o fortalecimento de uma atitude mais crítica. Uma postura mais crítica melhora e possibilita melhores condições para a troca de pensamentos e ideias, não só entre os colegas de trabalho, mas com fornecedores, clientes e outros, além de possibilitar melhores avaliações acerca da qualidade do trabalho exercido por cada um em suas respectivas funções. A ênfase das respostas foi na melhoria da qualidade das suas tarefas (fig.7). A mesma autora fala da necessidade de desenvolver a competência de conhecimento de negócios globais, no reconhecimento do cenário volátil da economia mundial e da sua influência nas decisões locais. A Administração Pública não é constituída para ter essa capacidade de enfrentamento da imprevisibilidade e, por outro lado, ter a capacidade de adaptação e de inovação as suas práticas. Dessa forma, desenvolver uma visão crítica para lidar com o imprevisível e com as incertezas do mundo moderno é de extrema importância. E é neste ponto, também, que as escolas corporativas podem ajudar com o oferecimento de cursos de capacitação técnica específica e de cursos de formação com um objetivo mais estratégico e transformador. Encerrando o questionário da segunda etapa, a pergunta foi se a pós-graduação contribuiu para que os alunos pudessem propor novas soluções no seu ambiente de trabalho. Aqui temos a competência do raciocínio criativo, referida por Meister (1999) e a resolução de problemas, que significa pensar criativamente, tomar decisões, questionar, fazer perguntas e sugerir maneiras diversas de atuação. Na turma de Gestão Pública Municipal os alunos responderam que grande parte das disciplinas oferecidas no curso incentivou o desenvolvimento do debate em sala de aula e isso serviu de estímulo à prática em seus ambientes profissionais. Dessa maneira conseguiram sugerir soluções diferentes em seus setores, disseminando conhecimentos e dialogando mais com seus colegas de trabalho (fig.8). Consequentemente, eles acabam gerando uma mudança de postura diante, não só das suas atividades profissionais, mas também em assuntos da área pessoal. Os alunos da turma de Gestão Pública em Controle Externo, em sua maioria, também acreditam que o curso contribuiu satisfatoriamente para que pudessem modificar suas práticas, elaborando novos métodos de atuação, visando a uma maior eficiência e rapidez no trabalho. Eles ainda citaram a possibilidade de discussão e compartilhamento de novos conhecimentos, com colegas de outras áreas, acerca dos assuntos discutidos em sala de aula, permitindo-lhes, cada vez mais, mostrarem suas visões e posicionamentos (fig.9). Aprender a prender é outra competência apontada por Meister (1999) como indispensável para que a educação corporativa possa cumprir o seu papel, de desenvolver e educar servidores, alinhada aos objetivos estratégicos institucionais. Ela aponta que as pessoas precisam ter a capacidade de analisar situações, tirar dúvidas, questionar sempre, buscar informações complementares ao que foi colocado, e pensar criativamente para ampliar as suas opções de ação. Esses servidores precisam saber aplicar o conhecimento em novas situações e disseminar o que aprenderam não só com os colegas de trabalho, mas também incorporar esse aprendizado a sua vida pessoal. “A meta é fazer com que a atitude de aprender a aprender se torne parte natural do modo como os funcionários pensam e comportam-se no trabalho”(MEISTER:13, 1999). 12 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 A análise final dos questionários permitiu verificar que as questões subjacentes à investigação, sob a ótica das competências apontadas por Meister (1999), na aquisição de novos conhecimentos, aprimoramento do exercício das funções, desenvolvimento pessoal, obtenção de conhecimentos teóricos e práticos, promoção profissional, fortalecimento e estabelecimento de novos contatos estão presentes nas respostas dadas pelos alunos, alinhadas a um dos objetivos da pós-graduação que é de formar profissionais críticos, pautados na análise e reflexão de práticas, na releitura sistemática do cotidiano e na aquisição permanente de aprendizagens significativas. Significa dizer que o conhecimento assegura a transformação, formando um sujeito autônomo, protagonista da própria vida, e competente, à procura de uma aprendizagem permanente. Ele deverá exercer competências ligadas ao raciocínio lógico e à interpretação de situações complexas, ter uma mente investigativa e o questionamento como ferramenta para o resto da sua vida. Nesta perspectiva, Senge (1990) fala que o processo da aprendizagem nas diferentes organizações acontece no oferecimento de ações concretas para que as pessoas aprendam a criar a sua própria realidade, ajudando-as a compreender o contexto em que vivem e com ele interagirem de forma autônoma. Ressalta-se a importância nos cursos citados, que propiciem situações de aprendizagem que levem o aluno a aprender a aprender, o que nada mais é do que aprender a reconhecer as dificuldades existentes e classificá-las em relação ao contexto vivido. Em síntese, torná-lo capaz não somente de aprender novos conteúdos, mas de aprender a reaprender. Para Le Boterf (2003), significa a apropriação do conhecimento às práticas organizacionais em diferentes situações, estimulando a reflexão sobre a sua efetividade ou não. O desenvolvimento de competências deverá levar o aluno a colocar em prática em determinado contexto aquilo que ele aprendeu. Assim, queríamos observar se os cursos de pós-graduação oferecidos tiveram efetividade em propiciar um percentual de alunos que ampliaram as suas competências. Em praticamente todas as respostas diagnosticamos as competências indicadas por Meister (1999) como essenciais no ambiente de trabalho. Considerações finais O grande benefício das escolas corporativas é oferecer uma educação continuada através de programas de capacitação e formação para melhorar a performance dos gestores públicos com respostas adequadas às demandas do contexto social. As competências exigidas no ambiente da Administração Pública - conhecimento amplo das expectativas e necessidades do cidadão, criatividade e capacidade resolutiva, trabalho em equipe, desenvolvimento de lideranças, eficiência no atendimento ao cidadão, aprender a aprender, responsabilidade social com a cidadania e o desenvolvimento sustentável - exigem que os processos educacionais estejam voltados, cada vez mais, para medir, acompanhar e controlar o desempenho dos servidores/alunos. É imprescindível o questionamento permanente dessas escolas sobre onde querem chegar, o que e como querem ensinar. 13 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 O servidor público necessita saber mais do que o funcionamento interno das suas instituições e dos seus processos. Precisa se apropriar de conhecimentos de uma realidade maior, que se transforma muito rapidamente, sem certezas absolutas e precisas. A aprendizagem, portanto, deve ajudá-lo a desenvolver competências adequadas a essa realidade, em uma perspectiva multidisciplinar, na conjunção da teoria, reflexão e prática. Assim, mais do que agente “recebedor” de conhecimentos, deverá desenvolver uma postura crítica, uma visão mais objetiva sobre o próprio trabalho e da instituição a que pertence. Ser um agente transformador da realidade e não somente reprodutor de metas institucionais estabelecidas. A experiência inicial dos cursos de pós-graduação, mesmo com suas limitações e dificuldades, é uma iniciativa pioneira do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Escola de Contas e Gestão, que já oferece uma enorme variedade de cursos de capacitação, em que mantém o objetivo maior de contribuir para o fortalecimento da capacidade técnica do Estado. Não há dúvidas que, ao implementarem essa nova atividade na sua missão institucional, tanto o Tribunal como a Escola assumem riscos e desafios na reestruturação dos seus processos e estrutura organizacional, quanto ao efeito multiplicador nos seus órgãos jurisdicionados. Outros cursos virão e, portanto, cabe ressaltar a importância de avaliar e refletir sobre os resultados atingidos, não só em educação corporativa, mas em qualquer outra iniciativa implementada, como forma de agregar valor e reforçar o alinhamento estratégico. Isso representa uma mudança visceral na cultura institucional e na atuação dos gestores. Bibliografia BARZELAY, Michel. Central Auditing Institutions and Performance Auditing: a comparative analysis of organizational strategies in the OECD. Governance: An International Journal of Policy and Administration, 10(3), 1997. BAUER, M. W.;GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com textos, imagens e sons: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. CHAISE, Rosa Maria. Escolas de Contas e de Gestão: será o conhecimento um fator de concretização da cidadania fortalecendo a Esfera Pública? 2007. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007. CENTRO LATINOAMERICANO DE ADMINISTRACIÓN PARA EL DESARROLO. Consejo Diretivo. Gestión pública iberoamericana para el siglo XXI. Documento aprobado por la XL Reunión Ordinária del Consejo Diretivo del CLAD. Santo Domingo, 2010. Disponível em: <www.clad.org/documentos/declaraciones/gestion-publicaiberoamericana-para-el-siglo-xxi/at_download/file>. Acesso em: 25 jun. 2012. DUTRA, J. S. Gestão de Pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2012 ÉBOLI, Marisa. Pereira Educação Corporativa no Brasil: mitos e verdades. São Paulo: Gente, 2004. ÉBOLI, Marisa. Pereira. Org. et al. Educação corporativa no Brasil: Fundamentos, evolução e implantação de projetos. São Paulo: Atlas, 2010. LE BOTERF, G. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre: Artmed, 2003. 14 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 MEISTER, Jeanne C. Educação Corporativa- A Gestão do Capital Intelectual através das Universidades Corporativas. São Paulo: Pearson Makron Books, 1999. MUNDIM. A. P. F; RICARDO. E. J. Educação Corporativa. Fundamentos e Práticas. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2009. PERRENOUD, F. Construir as competências desde a Escola. Porto Alegre: Art Med, 1999. RUAS, R.; ANTONELLO, C. S.; BOFF, L. H. Os novos horizontes de gestão: a aprendizagem organizacional e competências. Porto Alegre:Bookman, 2005. SENGE, P. M. A Quinta Disciplina. São Paulo: Best Seller, 1990. Síntese biográfica Rosa Maria Chaise Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestre em Educação pela UFRJ; Especialista em Gestão do Conhecimento COOPE- Crie/UFRJ; Especialista em Gestão de Pessoas – Universidade Gama Filho; Vice- Diretora e Coordenadora de Estudos e Pesquisas da Escola de Contas e Gestão do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (ECG/TCE- RJ). Rua Jansen de Mello, 3, 5o. Andar, Código Postal: 24030-220, Niterói, Brasil. Tel.: (5521) 2729-9544/9530. Fax: (5521) 2729-9531. E-mail: [email protected] Tabelas, Figuras e Gráficos Figura 1 Formação Acadêmica - Turma Gestão Pública Municipal Turma Formação Acadêmica 1 Administração 3 Sistemas de Informação 1 Ciências Contábeis 5 Contabilidade 1 Engenharia 1 Gestão Pública 2 Tecnologia em Processamento de Dados 1 Ciências Sociais 1 Direito 7 Educação Física 1 Odontologia 2 Pedagogia 1 Produção Cultural 1 Serviço Social 2 Outros (N.I.) 3 Total 32 15 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Figura 2 Objetivos ao cursar a Pós-Graduação - Turma Gestão Pública e Controle Externo OBJETIVOS Profissional + Pessoal 26,67% 4 Pessoal 26,67% 4 Profissional 40,00% 6 Não há indícios 6,66% 1 Levantamento Geral 100,00% 15 Figura 3 Expectativas da Turma Gestão Pública Municipal ao concluir a Pós-Graduação Figura 4 De que maneira o conhecimento adquirido agregou valor à Turma Gestão Pública Municipal 16 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Figura 5 De que maneira o conhecimento adquirido agregou valor à Turma Gestão Pública e Controle Externo Figura 6 Forma de compartilhar conhecimentos na Turma Gestão Pública Municipal 17 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Figura 7 Como se manifesta a visão crítica na Turma Gestão Pública e Controle Externo Figura 8 Contribuição da Pós-Graduação na proposição de novas soluções na Turma Gestão Pública Municipal 18 XVII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Cartagena, Colombia, 30 oct. - 2 Nov. 2012 Figura 9 Contribuição da Pós-Graduação na proposição de novas soluções na Turma Gestão Pública e Controle Externo 19