Uma visão sobre experiências brasileiras de contratualização
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Uma visão sobre experiências brasileiras de contratualização
XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 Uma visão sobre experiências brasileiras de contratualização1 Humberto Falcão Martins Alexandre Kalil Pires 1. INTRODUÇÃO Este trabalho objetiva elaborar um panorama da contratualização de resultados no Brasil a partir de suas experiências mais avançadas. A identificação das experiências se deu em duas etapas: análise universal de municípios e estados, e caracterização de experiências significativas. Nestas etapas foram utilizadas informações produzidas por documentos do PRODEV (Programa de Implementação da Sustentabilidade Externa do Plano de Ação de Médio Prazo para a Eficáciano Desenvolvimento),um programa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) voltado ao fortalecimento da gestão para resultados nos países da América Latina e Caribe, visando à melhoria da efetividade e do impacto das políticas públicas nas metas de desenvolvimento nacionais; legislação; artigos acadêmicos e publicações estaduais e nacionais. A primeira etapa teve como objetivo identificar a relação entre existência de modelos de contratualização e resultados de políticas públicas nas instâncias estaduais e municipais de governo. Assim, os municípios foram classificados segundo critérios de população, PIB e indicadores sociais – o que resultou num total de 70 municípios selecionados para a amostra. Esta amostra foi segregada entre os que possuem evidências de experiência contratuais e os que não as possuíam. A partir disso, foram feitas comparações dos dois grupos baseadas em indicadores nacionais. Foi identificado que existe uma associação positiva entre a existência de práticas de contratualização e melhores resultados de políticas públicas. Uma lógica similar foi utilizada para a comparação entre os estados da federação, também demonstrando associação preliminar positiva. Para maiores informações, os quadros 1 e 1 apresentam o cruzamento dos resultados de políticas públicas com a existência (ou não) de experiências de contratualização em estados e municípios. Na segunda etapa, sete experiências foram selecionadas a partir dos resultados da etapa anterior. Este grupo final é composto pelo Governo do Estado de Minas Gerais, Governo do Estado do Espirito Santo, Governo do Estado do Paraná, Governo do Estado do Pernambuco, Governo do Estado do Rio Grande do Sul Prefeitura de Curitiba e Prefeitura do Rio de Janeiro. 2. EXPERIÊNCIAS IDENTIFICADAS Neste tópico são apresentadas sucintamente as 7 experiências identificadas (também apresentadas no quadro 3):Prefeitura de Curitiba, Governo do Estado do Espirito Santo, Governo do Estado de Minas Gerais, Governo do Estado do Paraná, Governo do Estado do Pernambuco, Prefeitura do Rio de Janeiro e Governo do Estado do Rio Grande do Sul. 1 São utilizados, sob permissão, dados e excertos de documentos do projeto “Identificação de experiências brasileiras sobre avaliação institucional e gestão do desempenho com foco na pactuação de resultados”, desenvolvido pela IFCI (Fundação Instituto para o Fortalecimento das Capacidades Institucionais) para a Secretaria de Gestão Pública do MP (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) do Brasil em 2013. 1 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 2.1. Prefeitura de Curitiba O modelo de gestão para resultados da capital paranaense está estruturado por meio de contratos de gestão firmados entre o Prefeito e os secretários como forma de pactuar objetivos, metas e propostas para cada área. Os contratos de gestão são assinados pelo Prefeito Municipal, na figura de contratante, e o Dirigente Máximo do Órgão ou Secretaria, na condição de contratado. Ao contratante, cabe supervisionar e avaliar a execução do acordo, promovendo, ainda, a capacitação e o suporte metodológico necessário. O contratado, por sua vez, responsabiliza-se pelo alcance dos resultados contratados, pela elaboração de relatórios de gestão, pela coordenação de programas intersetoriais ou apoio a órgãos na execução de projetos que necessitem da atuação de sua pasta. Não existe a figura do Interveniente no modelo de contratualização de Curitiba. Para coordenar as atividades de monitoramento e avaliação, existe a Unidade de Gestão do Plano de Governo, cujo objetivo é assegurar o desenvolvimento da estratégia, promovendo a comunicação e articulação entre os órgãos de governo e facilitando a execução das metas estabelecidas. Esta unidade realiza reuniões ordinárias e extraordinárias com todos os órgãos e secretarias para acompanhamento do plano de governo, sendo permitidos ajustes gerenciais e de reprogramação. O acompanhamento do contrato é realizado em quatro diferentes momentos: cotidianamente, mediante agenda definida pela Unidade de Gestão do Plano de Governo ou pelos coordenadores de programas; quadrimestralmente, por meio de avaliações que focam nos marcos de implementação das políticas, o esforço e aprendizado obtidos no processo e os resultados obtidos; anualmente, por meio da avaliação anual, que subsidia a avaliação do exercício, a fixação do contrato de gestão subsequente e as bases para a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano seguinte; ao final da gestão, quando se dá a realização da avaliação final. Como estímulo ao cumprimento dos itens pactuados, a metodologia adotada pela Prefeitura de Curitiba prevê uma estrutura de incentivos positivos e negativos. Como incentivo positivo, tem-se o reconhecimento público dos resultados alcançados na faixa de desempenho "cumprido plenamente" por três ciclos quadrimestrais consecutivos. Este reconhecimento se dá por meio de entrega de certificado de reconhecimento, conferido em data comemorativa específica. Como incentivo negativo, são previstas as possibilidades de advertência, em caso de descumprimento injustificado por dois ciclos quadrimestrais consecutivos; de censura pública, caso o descumprimento se dê por três ciclos consecutivos; ou afastamento do cargo, em caso de descumprimento por quatro ciclos consecutivos ou cinco aleatórios. 2.2. Governo do Estado do Espírito Santo O modelo de gestão para resultados do Espírito Santo está estruturado em três eixos de ação (Processos, tecnologia e pessoas) que se configuram como o suporte necessário à execução do portfólio de programas estruturantes e projetos prioritários conforme planejado. Durante o planejamento estratégico de estado 2025 do Espírito Santo, foi lançado o novo modelo de gestão, o Programa Realiza+, que alinha a metodologia de planejamento estratégico à gestão de portfólio dos Programas Estruturantes e Projetos Prioritários para o período de 2011-2014, objetos da pactuação junto aos seus indicadores e metas de execução. 2 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 A cada ano é realizado um seminário de planejamento estratégico, com a participação de secretário de estado, subsecretários e presidentes de autarquias, visando estabelecer as diretrizes e prioridades para o ano em questão, levando-se em consideração a visão do governo, os focos prioritários e as premissas, e os programas e projetos prioritários, de maneira alinhada ao orçamento. O modelo capixaba possui metodologia de gestão e acompanhamento diferenciada, no qual há gerentes de projeto e de portfólio, além da Comissão Especial de Análise e Mudanças. As reuniões são prédefinidas, cada uma com propósitos, pauta e atores diferentes. As reuniões de análise de resultados acontecem semestralmente com a Comissão Especial de Análise de Demandas, responsável pela inclusão, exclusão e alteração das demandas e dos resultados acordados previamente. O Realiza+ define prazos e metas com base no planejamento estratégico estadual, porém não há reconhecimento positivo para os órgãos ou servidores que alcançarem as metas selecionadas. O reconhecimento negativo existe, porém é anódino, tratando-se apenas do registro da notificação em ata de reunião de acompanhamento. 2.3. Governo do Estado de Minas Gerais O modelo de gestão para resultados de Minas Gerais é pioneiro no contexto estadual e motivou a adoção de arranjos de gestão do desempenho em outros governos estaduais. Os acordos de resultados são firmados em duas etapas: Na primeira etapa ocorre a pactuação das metas e indicadores entre o Governador e os Secretários; Na segunda, ocorre a pactuação entre os secretários e os dirigentes das equipes de trabalho de suas respectivas secretarias. Além disso, o modelo está respaldado em um planejamento estratégico integrado e condiciona incentivos às metas em níveis macro, meso e micro. Na primeira etapa, celebram o acordo: o Governador, na condição de acordante; os dirigentes máximos dos órgãos componentes do sistema de governo, na condição de acordados; e os Secretários de Fazenda e de Planejamento e Gestão, na condição de intervenientes. Aos acordados cabe a execução das ações para cumprimento das metas estabelecidas, inclusive aquelas de apoio a outros órgãos e entidades. Representantes de todas as partes envolvidas compõem a Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Acordo. O conjunto de medidas ampliativas das autonomias é dado mediante a assinatura do acordo de resultados, com a finalidade de apoiar o alcance dos resultados propostos. As principais autonomias concedidas referem-se à: Alteração de cargos em comissão e funções gratificadas; Ampliação dos limites de dispensa de licitação; Concessão de vale-transporte e vale refeição; Limites diferenciados para quantitativo de estagiários admissíveis e valor da bolsa de estágio; Contratação de serviços de sem prévia manifestação da SEPLAG; Dispensa de autorização da SEPLAG no afastamento de servidores para participação em cursos de pós-graduação. O objeto de pactuação é um conjunto de indicadores definidos, com metas intermediárias de acompanhamento. As iniciativas são desdobradas em resultados e metas individualizadas por equipe de trabalho, pactuadas em acordo de resultados subsidiário e acessório ao instrumento (também denominado 2ª etapa) assinado entre o dirigente máximo de cada secretaria de estado, órgão autônomo e entidade acordada. 3 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 A fim de atingir os objetivos propostos, na primeira etapa são estabelecidos quatro objetos de pactuação. Os indicadores compõem o primeiro objeto de pactuação, e se dividem entre finalísticos e de resultados. Os indicadores finalísticos são aqueles que compõem o Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI) e são pactuados no primeiro ano de governo com meta estabelecida para o último ano. Os indicadores de resultados são pactuados anualmente, sendo compreendidos como indicadores de contribuição para o alcance dos indicadores finalísticos, representando, portanto, desdobramentos desses. Outro objeto de pactuação é o Caderno de Gestão Integrada e Eficiente, que é composto por: Ações de Melhoria Institucional, que visam o aprimoramento dos órgãos em gargalos específicos; Ações Inter setoriais, que traduzem objetivos e metas que demandam a ação conjunta de órgãos pertencentes a diferentes sistemas; Agenda Regional, que traz as prioridades estabelecidas pela população nos Fóruns Regionais. É pactuada também a taxa de execução dos programas estruturadores, compostos pelos projetos e processos estratégicos, entendidos como aqueles capazes de concretizar a visão de futuro trazida pelo Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) e pelo PMDI, tendo fluxo de recursos priorizado e monitoramento intensivo. Por fim, o acordo de resultados é composto, ainda, pelos itens de qualidade do gasto, cujas metas são definidas a fim de buscar maior eficiência no gasto público. O monitoramento do acordo é feito de forma conjunta pela SEPLAG, na figura do Escritório de Estratégia, o GERAES, e pelos órgãos finalísticos, que também possuem escritórios setoriais, denominados Assessorias de Gestão Estratégica e Inovação (AGEIs). As duas instâncias trabalham de forma conjunta no monitoramento da primeira etapa, que tem periodicidade mensal, e é debatida internamente pelos órgãos finalísticos nas reuniões gerenciais. O monitoramento da 1ª etapa também é acompanhado pelos dirigentes máximos dos órgãos finalísticos e pelo Secretário de Planejamento nos Comitês de Resultados, que são bimestrais. O monitoramento da segunda etapa é atribuição exclusiva das AGEIs e é feito mensalmente. A avaliação é feita pela Comissão de Acompanhamento e Avaliação, composta por representantes de todas as partes envolvidas, e cujo papel é de verificar o grau de cumprimento dos resultados pactuados, recomendar alterações no acordo e sugerir revisão, repactuação, renovação, suspensão ou renovação do documento. Cabe a esta comissão a atribuição final de nota para fins de pagamento do prêmio por produtividade. O prêmio por produtividade é pago sempre que cumpridos os requisitos legais definidos para tal, considerando o período avaliatório trimestral. O montante a ser distribuído tem como fonte a economia de despesas correntes e redução de gastos de custeio – vinculado, ainda, aos recursos estimados para aplicação da organização e à ampliação real da receita arrecadada. 2.4. Governo do Estado do Paraná O modelo de gestão de desempenho paranaense é parte do Programa Gestão para Resultados. Ao todo, são formalizados contratos de gestão com 30 órgãos de governo, tendo como foco o alcance de metas por meio da execução de projetos estratégicos resultantes do desdobramento do Plano Plurianual (PPA) 4 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 e da Lei Orçamentária Anual (LOA). O instrumento é utilizado para alcance de resultados, mas também para melhoria da comunicação com a sociedade, seguindo os princípios da transparência e do controle social. A definição dos itens a serem pactuados deriva do desdobramento do PPA e da LOA em projetos estratégicos. Além dos projetos estratégicos, podem ser também pactuadas ações do Programa Família Paranaense que sejam de execução específica de determinada pasta. Além disso, todos os instrumentos contratuais contam com o compromisso de que o contratado apresente um plano de redução do custeio administrativo da ordem de 15% da previsão orçamentária. A contratação poderá ser feita em duas etapas e tem vigência de um exercício orçamentário. Na primeira etapa o contrato é firmado entre o Governador e Dirigente Máximo do Órgão, que, caso entenda necessário, poderá firmar contratos de desempenho com titulares de autarquias e empresas públicas vinculadas à sua pasta, no que se pode entender como uma segunda etapa, em uma analogia ao modelo mineiro previamente apresentado, para que estes se comprometam com o cumprimento das metas acordadas no contrato de gestão inicial. O processo de monitoramento e avaliação é conduzido pela Unidade de Gerenciamento Contratos de Gestão (UGCG), que conta com um coordenador e cinco representantes de área, todos eles funcionários da Secretaria de Adminsitração e Previdência (SEAP). Cabe ressaltar que esta equipe não desempenha as funções referentes à UGCG de maneira exclusiva, sendo inclusive vedado que percebam remuneração pelo exercício de referidas funções. Conforme colocado anteriormente, os órgãos pactuantes também indicam servidores para apoiar as atividades referentes aos contratos de gestão como, por exemplo, a confecção de relatórios de andamento dos projetos. O modelo de contratualização paranaense possui uma estrutura de incentivos enxuta. Como incentivo positivo, tem-se apenas a previsão da possibilidade de reversão orçamentária de despesas de custeio para investimentos, caso seja obtida economia dos gastos referentes a custeio administrativo. Cabe ressaltar que a reversão se dará no mesmo montante economizado. Como incentivo negativo, existe a previsão apenas de que o órgão contratado elabore relatório no caso de não cumprimento de metas ou de desconformidades na execução do contrato, para que o Governador seja notificado, no que pode ser entendido como mecanismo de constrangimento. 2.5. Governo do Estado de Pernambuco O Estado de Pernambuco se destaca dentre as experiências nacionais devido à sua estrutura de pactuação, tanto no que tange à definição de metas quanto no que diz respeito à formalização dos compromissos assumidos, em um programa denominado Todos por Pernambuco. A definição das prioridades pactuadas no programa Todos por Pernambuco se dá por meio de um processo complexo que envolve diversas entradas e etapas. As prioridades definidas são alinhadas ao Programa de Governo, ao Mapa da Estratégia e ao Plano Plurianual (PPA). Para a seleção de metas são realizados diagnósticos da realidade e consultas à sociedade, essas por meio de 12 seminários regionais anuais. Assim, considerando-se também o Programa de Governo e a disponibilidade de recursos, utilizam-se as entradas fornecidas por esses canais para desdobrar os Objetivos Estratégicos em Metas Prioritárias, com utilização da metodologia do Marco Lógico. As metas selecionadas são, então, priorizadas pelo Núcleo de Governo, composto pelo Governador e todos os Secretários de Estado, em um processo participativo. Após priorização, as metas são 5 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 adequadas à disponibilidade orçamentária, e desdobradas em Indicadores de Desempenho, que permitirão seu monitoramento e avaliação. A fim de potencializar a execução, são formulados planos de ação para o cumprimento das metas, sendo esses, portanto, os objetos de pactuação. É interessante ressaltar, porém, que o resultado de todo este processo é um documento único, denominado Todos por Pernambuco, não havendo, portanto, contratos individuais entre o Governador e seus Secretários de Estado. As metas estabelecidas no programa Todos por Pernambuco são pactuadas por todas as pastas, cabendo à Secretaria de Planejamento (SEPLAG), por meio do seu Núcleo de Gestão, a definição de parâmetros, conteúdo e cláusulas do Pacto. A SEPLAG assume, ainda, papel de liderança no monitoramento e avaliação, tendo ainda um importante papel de apoio aos órgãos na execução. Para consolidação do modelo duas estruturas exercem papéis ativos: O Conselho Estadual de Desenvolvimento Econômico e Social – CEDES, é responsável pela articulação do diálogo dos setores empresariais, acadêmico, trabalhadores, sociedade civil organizada e representantes regionais; e A Secretaria de Administração e Reforma do Estado (SARE), responsável pela a articulação regional, por meio dos Comitês Regionais. Cabe, ainda, explicitar o papel de alguns dos atores envolvidos neste processo: Coordenador do Objetivo Estratégico: realiza o acompanhamento das ações, auxiliando os Secretários Responsáveis; Casa Civil: atua na resolução de entraves; Grupo Facilitador: formado pelos Secretários das áreas meio, é responsável pelo atendimento às áreas finalísticas para resolução de questões ligadas às metas prioritárias. Durante o monitoramento, as equipes das secretarias, da SEPLAG, o coordenador dos objetivos estratégicos e os Secretários trabalham de forma conjunta. Ao longo do mês, todos eles realizam o acompanhamento das ações, focando na resolução de problemas. A cada mês é feita reunião entre equipe da SEPLAG, equipe da secretaria finalístico e Secretário da pasta para validação das informações coletadas e preparação do Relatório de Monitoramento das Metas Prioritárias. A avaliação, também conduzida pela SEPLAG, é feita com a utilização da gestão à vista e semestralmente, realizam-se reuniões de avaliação dos resultados de cada sistema. A cada ano é produzido o Relatório Anual das Ações do Governo, que é enviado à Assembleia Legislativa. O modelo não prevê qualquer estrutura de incentivos, sejam eles positivos ou negativos. Pode-se dizer, porém, que o monitoramento próximo exercido pelo Governador é, por si só, um importante mecanismo de cobrança e constrangimento. A publicitação dos compromissos se dá apenas por meio do Anexo III do PPA, que demonstra as metas para cada região. 2.6. Prefeitura do Rio de Janeiro Na cidade do Rio de Janeiro, o modelo de gestão é operacionalizado através dos acordos de resultado firmados entre o Prefeito e os seus secretários e órgãos. Neste modelo está prevista a possibilidade de recebimento de remuneração extra, paga diretamente para os servidores do órgão que alcançar as metas acordadas. O acordo é celebrado entre município e secretarias, por interveniência da Secretaria da Casa Civil, utilizando-se como referência os indicadores e as metas de desempenho. 6 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 Os papéis dos envolvidos na Contratualização estão definidos e delimitados, destacando-se: Obrigações do Contratante: Supervisionar e avaliar a execução do acordo, zelar pela pertinência, razoabilidade e viabilidade dos resultados acordados; Obrigações do Contratado: participar das atividades de acompanhamento, implantar plano de ação para coleta e processamento de dados de indicadores e zelar pelos prazos impostos. O objeto de pactuação são indicadores e metas detalhados e a indicação de iniciativas estratégicas, sem a indicação de ações operacionais. A contratualização foi realizada com 38 órgãos, atingindo aproximadamente 83% dos servidores da Prefeitura do Rio. Todos os contratos, juntamente com as metas anuais são disponibilizados para leitura do público em site específico. O desempenho das entidades signatárias dos contratos é avaliado em notas: nota 2 – quando um indicador se mantém no nível atual ou piora; nota 4 – quando este obtém uma melhora insignificante; nota 6 – caso o indicador tenha uma melhora significativa, no entanto, a meta não tenha sido cumprida; nota 8 – reflete o cumprimento da meta pela Secretaria; nota 10 – quando se supera em pelo menos 20% a meta estabelecida ou se alcança o prometido para o ano seguinte. O acompanhamento dos acordos é de responsabilidade da Casa Civil: o Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) e da Subsecretaria de Monitoramento de Resultados (SBMR). O processo de monitoramento é realizado por meio de três rotinas: Relatórios de progresso, que são entregues ao Prefeito mensalmente, informando o desempenho de cada Secretaria; A expectativa em relação ao cumprimento de suas metas no final do ano; e Levantamento de possíveis ações para a melhora da atuação da Secretaria. Trimestralmente ocorrem reuniões de progresso para que o Prefeito possa, diretamente, tratar de soluções para os problemas que estejam impedindo as Secretarias de cumprirem as metas. Finalmente, ocorre uma avaliação final, em que são apresentadas as metas alcançadas e não alcançadas pelas Secretarias. Utilizam-se critérios para distribuição do prêmio de produtividade, dentre os quais se destacam: De forma fixa, numa fração correspondente à metade da remuneração percebida pelo servidorbeneficiário a título de décimo terceiro salário do ano anterior da premiação; De forma variável, mediante distribuição, correspondente à soma de todos os valores apurados, multiplicado pelos fatores correspondentes à respectiva nota. O pagamento dos incentivos é feito a título de prêmio por desempenho e deverá ser pago, em uma parcela única, no primeiro semestre do ano seguinte. 2.7. Governo do Estado do Rio Grande do Sul A experiência gaúcha diz respeito a acordos de resultados entre o governo e algumas secretarias, assinados durante a gestão 2007 - 2010. O estado possuía contratos firmados sob duas nomenclaturas distintas, para as secretarias, autarquias e fundações deu-se o nome de Acordo de Resultados, para as empresas públicas, de Contratos de Gestão. Nos governos seguintes, porém, não foram encontradas evidências de contratualização, porém julga-se válido o ensaio no estado, por isso este fez parte da 7 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 amostra de pesquisa. O processo de pactuação era conduzido anualmente pela Secretaria de Planejamento, Gestão e Participação Cidadã (SEPLAG), tendo como guias para a priorização o Plano Plurianual, os Programas Estruturantes, a Lei Orçamentária Anual e as estratégias propostas pelo Governo do Estado na gestão em questão. Os termos de contratualização preveem uma série de obrigações concernentes à gestão orçamentária, de forma que os mesmos trazem anexos contendo a programação orçamentária da pasta para o exercício em questão. Os termos são firmados entre o Governador e o Dirigente Máximo do Órgão, tendo a Secretaria de planejamento (SEPLAG) e a Secretaria de Fazenda (SEFAZ) como interveniente. O Comitê de Acompanhamento e Avaliação do Acordo de Resultados é composto por três membros do acordado e um membro de cada interveniente. A ele cabe a fiscalização e o acompanhamento da execução das metas acordadas e alcançadas, o reporte trimestral do andamento dos indicadores à SEPLAG e a gestão ativa dos problemas detectados na execução. Como incentivos positivos, tem-se apenas a possibilidade de remanejamento orçamentário caso seja verificada economia nas despesas de custeio inicialmente previstas, não se tratando, portanto, de incentivo vinculado à entrega dos itens pactuados. Como incentivo negativo percebe-se apenas a possibilidade de rescisão de contrato em caso de não cumprimento, o que na verdade tem pouca efetividade, vez que o contrato não prevê incentivos positivos ou mesmo aporte de recursos além dos orçados na LOA. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os modelos apresentados revelam que, de forma geral, a contratualizaçãoé parte de modelos mais amplos de gestão para resultados – sua valia seria certamente limitada, senão nula, caso existissem de forma isolada, descontextualizada de abordagens mais abrangentes de governança para resultados. A utilização da contratualização como instrumento de alinhamento da estrutura implementadora pode contribuir para a elevação do desempenho organizacional. O efetivo patrocínio da liderança na implementação do modelo de contratualização surge aí como um grande fator critico de sucesso. A contratualização é efetiva quando o executivo-chefe a utiliza como instrumento central de governança, alinhamento e coordenação de políticas públicas. As experiências analisadas constituem também, neste sentido, instrumentos relevantes e efetivos de coordenação e alinhamento intragovernamental, além de proporcionar accountability ao processo de governo como um todo. Dessa forma, a vinculação dos objetos de pactuação dos contratos de gestão com o planejamento estratégico governamental (e, à reboque, do sistema de orçamento) é um pilar dos modelos de contratualização. Sob a perspectiva estratégica, a contratualização é efetiva quando os objetos contratuais (indicadores, metas, iniciativas, planos de ação etc.) estão alinhados à estratégia organizacional. A contratualização pode ser entendida como o estabelecimento e a definição de estímulos visando o reforço das ações dos contratados no sentido dos resultados almejados pelos contratantes. Caso a estratégia do contratante não esteja plenamente definida ou caso não exista elo entre a estratégia do contratante e o objeto contratual, a contratualização perde o sentido. É necessário que os agentes públicos contratantes aprimorem sua capacidade em formular políticas 8 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 públicas (de modo a orientar a formulação dos contratos de gestão para o cumprimento de seus objetivos), a partir de: a) referenciais estratégicos de governo, como, por exemplo, o Plano Plurianual; b) acesso a informações confiáveis a respeito do ambiente; e c) massa intelectual crítica (quadros qualificados bem selecionados e mantidos) que sustente um processo contínuo de pensamento e ação estratégica. A avaliação dos modelos sob a perspectiva do alinhamento das ações organizacionais à estratégia de governo constata que em todos os modelos as ações possuem grande proximidade ao planejamento macro. Embora verifiquem-se falhas quanto à execução, sua concentração de forma distinta em diferentes ciclos de implementação é um indício de aprendizado cumulativ A calibragem entre as metas e iniciativas contratadas e os meios disponíveis é fundamental para o sucesso do modelo de contratualização e representa mais um fator crítico de sucesso. O estabelecimento de metas superestimadas em relação aos meios disponíveis pode causar o descrédito do modelo pelas equipes de trabalho. Por outro lado, o estabelecimento de metas pouco desafiadoras pode gerar a acomodação e o desperdício (de capacidade de execução) de recursos de trabalho (humanos, materiais e orçamentários). Conforme será demonstrado a seguir, muitas vezes o contratado utiliza da assimetria de informações em benefício próprio, parte do fenômeno conhecido como gaming. A integração entre o processo de contratualização e iniciativas de mudança organizacional em curso pode facilitar o dimensionamento e disponibilização de “meios disponíveis” para o alcance de “metas contratadas”. Isto implica em mudanças nas práticas da organização visando o desenvolvimento da visão estratégica como fundamento básico, na revisão dos processos organizacionais visando o aumento da eficiência e no desenvolvimento de habilidades gerenciais alinhadas ao contexto direcionado a resultados. Sem dúvida, estes elementos constituem fatores de reforço à construção de uma cultura para resultados. A execução dos contratos de resultados em bases mais efetivas e eficientes requer um modelo de gestão mais flexível, voltado para resultados e focado nas expectativas e interesses do cliente da organização. Quanto a isso, conforme citado por PACHECO (2011), no contexto brasileiro predomina a visão de que controle é melhor do que flexibilidade e de que regras homogêneas não devem dar lugar a exceções. O avanço na concessão de flexibilidades, em parte, depende de modificações na legislação nacional, de iniciativa predominantemente da União. Uma primeira grande limitação verificada está relacionada à concessão de flexibilidades. O Governo de Minas Gerais foi o único que previu no modelo de contratualização a concessão de flexibilidades. Tendo em vista que a contratualização representa, em última análise, a transferência do controle dos meios para o controle dos resultados, conclui-se que há espaço para avanços nesse sentido, não obstante as regras estabelecidas pelo Direito Público brasileiro. O fortalecimento das sistemáticas de controle, monitoramento e avaliação é condição crítica para a implantação do modelo contratual. Uma sistemática de monitoramento e avaliação envolve definições sobre os objetos que serão monitorados e avaliados; sobre os prazos e procedimentos de coleta, tratamento e disponibilização dos dados e informações; sobre os sujeitos envolvidos; e sobre os instrumentos e formas de disponibilização das informações geradas. Os modelos de contratualização possuem processos, estruturas dedicadas e “ritos” específicos de monitoramento, avaliação e transparência. O M&A é importante no sentido de viabilizar a comunicação da estratégia, promover o alinhamento das ações e mobilizar o corpo funcional para o 9 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 alcance dos resultados pretendidos. A transparência é fundamental no sentido de comunicar os resultados alcançados pelas estruturas de governo à sociedade. Outro fator crítico refere-se à política de incentivos amparada por instrumentos de controle antigaming. Conforme citado por VILHENA (2008), a adoção de modelos de gestão orientados para resultados pressupõe a utilização de mecanismos de incentivos. Os incentivos envolvem o estabelecimento de prêmios (meritórios, pecuniários ou outros) e punições de acordo com o alcance dos níveis de desempenho (institucional e individual) pactuados. Não obstante o papel essencial dos incentivos intrínsecos (relacionados a valores e à racionalidade substantiva), incentivos materiais ou simbólicos constituem o elemento central da lógica contratual. Algumas questões são fundamentais na modelagem da sistemática de incentivos, a saber Partindo do princípio basilar de que as organizações existem para entregar resultados, para efeitos de consolidação avaliativa dos resultados e para pagamento da parcela variável da remuneração, a dimensão de resultados vale mais do que a dimensão de esforços; A parcela remuneratória variável deve corresponder um valor significativo da remuneração mensal do colaborador; O pagamento do bônus não deve ser realizado numa periodicidade mensal, tendo em vista que a recorrência do fato pode ensejar a incorporação aos vencimentos. Portanto, a definição da periodicidade de pagamento é um item central do modelo de incentivos pecuniários; A parcela variável deve ser proporcional à remuneração (vencimento base e parcelas permanentes da remuneração) do indivíduo. Contudo, o modelo de pagamento de bônus só é efetivo quando há mecanismos estruturados de controle anti-gaming. A inteligência anti-gaming acaba se constituindo incentivo na medida em que busca moldar o comportamento dos atores envolvidos, principalmente contratados, no sentido de coibir o gaming (manipulação, oportunismo etc.) e outras formas de risco moral que toda experiência contratual envolve – dentre outros fatores, pela assimetria informacional em favor do contratado. A inteligência anti-gaming assegura o uso do incentivo como forma de estímulo para o alcance dos resultados planejados; caso ela não exista, pode haver o risco de captura do modelo contratual, tornando-o justificativa para a distribuição de incentivos. Uma limitação verificada está relacionada aos incentivos. Apesar da utilização de incentivos pecuniários se verificarem como forma de reforço positivo no sentido do alcance dos resultados, é fundamental ter clareza que os incentivos servem para apoiar o alcance dos resultados, e não o contrário: em outras palavras, é preciso que a cultura de gestão para resultados não se limite aos incentivos proporcionados. É preciso que o modelo não sirva prioritariamente ao estabelecimento de um modelo de remuneração suplementar, mas ao alcance de resultados – sendo a remuneração variável uma consequência. A contratualização deve também fortalecer a capacidade de gestão estratégica setorial visando ao alcance dos resultados. “Cultura de resultados” não parece ser, necessariamente, uma condição prévia inexorável, mas algo que se adquire com experiências de gestão contratual de resultados, experiências bem patrocinadas, bem modeladas tecnicamente (em termos de concepções, elementos e instrumentos) e bem geridas. BIBLIOGRAFIA AUSTRALIA. 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Department of State Annual Performance Report Fiscal Year 2008. USA. UNITED STATES GENERAL SERVICES ADMINISTRATION. Annual Performance and Accountability Report. 2008. RESUMO BIOGRÁFICO Humberto Martins Falcão – Doutor em Administração e Mestre em Administração Pública, já ocupou posições executivas em empresas privadas e na administração pública. É professor da Fundação Dom Cabral, da EBAPE/FGV e de escolas de governo no Brasil e no exterior. É palestrante, autor de publicações e consultor junto a organismos internacionais em temas relacionados à gestão pública. É Diretor do Instituto Publix. E-mail: [email protected]. Telefone: 5561 – 3262-8250 11 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 Alexandre Kalil Pires – Bacharel em Administração de empresas e pública – 1986, Mestre em planejamento e gestão de ciência e tecnologia - UFRGS – 1998, Especialista em políticas públicas ENAP – 1990. Foi Assessor da Secretaria Executiva do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, 1999; Coordenador Geral de Dimensionamento da Força de Trabalho SEGES/MP, 2003; Secretário Adjunto SEGES 2004-2008; Gerente de projeto SEGES /MP – 2009; Diretor do Departamento de Articulação Institucional SEGES /MP – 2010. É Diretor do Departamento de Desempenho e Desenvolvimento Institucional SEGEP /MP.Telefone: 55 61 20201804e-mail: [email protected] QUADROS. FIGURAS E TABELAS Quadro 1: Cruzamento dos resultados de políticas públicas com a existência (ou não) de experiências de contratualização em municípios Quadro 2: Cruzamento dos resultados de políticas públicas com a existência (ou não) de experiências de contratualização em estados 12 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 Quadro 3: Características das experiências estaduais e municipais identificadas 13 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 14 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 15 XVIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Montevideo, Uruguay, 29 oct. - 1 nov. 2013 16 17
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