Uma nova gestão na educação brasileira: as mudanças reais
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Uma nova gestão na educação brasileira: as mudanças reais
VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Uma nova gestão na educação brasileira : as mudanças reais Sergio Tiezzi Assessor Especial do Ministro da Educação Brasil Introdução Em 1994, faltando seis anos para o final do século 20, o mundo estava em plena era do conhecimento e exigia trabalhadores e cidadãos crescentemente qualificados. Os avanços tecnológicos e gerenciais no mundo da produção implicavam que o progresso e mesmo a sobrevivência das nações dependiam cada vez mais de sua capacidade de criar e de incorporar conhecimento aos bens e serviços, produzidos para um mercado global cada vez mais competitivo, sofisticado e exigente. Na política, a afirmação da democracia no Brasil trazia como condição e corolário a participação informada, crítica e consciente do cidadão na vida social. Aí também, o acesso à educação mostrava-se indispensável para lidar com a crescente diversidade e complexidade da vida social e política. Nesse cenário, o país não podia se conformar com a educação que tinha. No Brasil temos 60 milhões de estudantes, cerca de 1/3 da nossa população, distribuídos pelos vários níveis de ensino. Praticamente uma população do tamanho da França e quase o dobro da Argentina. Em 1998, o total do gasto público em educação no país chegou a 5,2% do PIB, bem acima do que se verifica na Argentina, no México ou na Coréia. A estratégia adotada nos últimos oito anos foi a de implementar políticas claras e complementares em todos os níveis, de maneira a formar um todo coerente e com um sentido preciso. Alguns eixos nortearam todo o trabalho: a universalização; a equidade; promoção da cidadania como objetivo do processo de ensino/aprendizagem; a descentralização de recursos e competência; avaliação permanente em todos os níveis de ensino; o fortalecimento da capacidade de gestão de gestores estaduais e municipais e o respeito à diversidade regional brasileira. Hoje, oito anos depois, temos um cenário educacional completamente distinto: a escolaridade dos alunos entre 7 e 15 anos, que em 1994 era de 86% é hoje de 97%. Foi um crescimento extraordinário, se pensarmos que o Brasil conseguiu antecipar e superar a meta estabelecida junto à UNESCO no Plano Decenal de Educação para Todos, que previa elevar a, no mínimo, 94% a cobertura da população em idade escolar até 2003. Na faixa dos 20% mais pobres, o salto foi de 75% para 93%. No Nordeste – região mais pobre do país – a escolarização cresceu 22 pontos percentuais, praticamente eliminando a desigualdade entre as regiões no acesso ao ensino fundamental. Dados igualmente animadores podem ser apresentados sobre a ampliação do acesso ao ensino infantil, médio e profissional. No ensino superior passamos de 1,7 milhões de estudantes para quase 3 milhões nesse período. Ao aumento das matrículas correspondeu o aumento nas conclusões em todos os níveis: desafogou-se o sistema, reduziu-se a defasagem idade-série. Muito se tem falado sobre os grandes avanços da educação brasileira. Nas palavras do Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi feita uma revolução silenciosa na educação, dentro da normalidade institucional, mas não por isso menos radical em seus resultados. Esse trabalho tem obtido reconhecimento dentro e fora do Brasil. VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Há uma outra revolução, menos visível, mas de enorme importância como suporte desse processo: a revolução na gestão da educação brasileira: uma reflexão estratégica que redundou num plano de ações para a educação no país. Era preciso construir um compromisso real da sociedade e dos três níveis de governo com a qualidade, o financiamento e o gerenciamento do sistema educacional; implantar um novo estilo de gestão, onde se destacassem a equidade, a descentralização com controle social, a construção de parcerias e o foco em resultados finais. Criou-se um arcabouço jurídico mais propício, estabeleceu-se redes de organizações para a missão de educar, obtive-se maior participação e comprometimento dos Estados e municípios. Descentralizamos, simplificamos, desburocratizamos: da compra da merenda escolar ao dinheiro direto na escola, da escolha dos livros didáticos aos cartões da Bolsa-Escola, os recursos e as responsabilidades cada vez mais foram sendo repassados aos municípios, às direções e conselhos escolares, às famílias dos alunos. Não se trata apenas de um mecanismo simples de repasse de verbas, mas, sobretudo, de uma transferência de poder. Fortaleceu-se a sociedade e criou-se condições estruturais – e com sustentabilidade – para o bom funcionamento das escolas. A Transformação Gerencial O Brasil convive com duas temporalidades muito distintas no que se refere aos serviços públicos. Uma delas diz respeito ao tempo da burocracia, que é o tempo vagaroso, obstaculizado, dos processos e prazos. A outra é o tempo social – num país com tamanhas desigualdades, este tempo é o da urgência. A co-existência destes dois tempos significa que, apesar de todos os avanços, existe ainda um distanciamento entre os anseios e necessidades da população e a capacidade do governo, em suas três esferas, em satisfazê-los. As transformações da política educacional iniciadas em 1995 tinham clareza quanto a tarefa de diminuir a distância entre estas duas temporalidades. Em 1995, o trabalho começou com um diagnóstico objetivo e livre de preconceitos. As tradicionais receitas batiam nas mesmas teclas: construir mais escolas, aumentar – dobrar, triplicar – os orçamentos da educação. Ousou-se contestá-las. O Brasil não gastava pouco em educação: gastava mal. Estudos mostravam que, dos recursos destinados à educação, apenas um terço chegava às salas de aula, enquanto os outros 2/3 se perdiam nos corredores da burocracia. A distribuição dos recursos financeiros não estimulava a universalização e reforçava as diferenças regionais. As regiões mais ricas apresentavam sistemas educacionais mais desenvolvidos em comparação com o Norte e Nordeste, perpetuando as condições sócio-econômicas e regionais desiguais. Era preciso trabalhar na conformação de um novo marco legal para o setor. Em 1996 foi aprovada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei 9.394/96), peça central das profundas transformações por que passa o sistema educacional brasileiro. Com ela, ficaram claros os papéis e as responsabilidades de cada nível de governo: União, estados e municípios. Mas a universalização do ensino fundamental requeria uma radical alteração do processo de financiamento da educação e de sua vinculação com o gerenciamento do sistema educacional. Para isso o principal instrumento foi a criação do Fundef – o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério. Desde sua implantação efetiva em 1998, o Fundef tem proporcionado a efetiva aplicação de recursos a melhoria da qualificação e da remuneração dos professores. Com isso, melhorou a qualidade da escola, e alcançamos o inédito índice de 97% das crianças matriculadas no ensino fundamental. Isto não poderia ter sido obtido, em tão pouco tempo, pelo governo federal ou pelo Ministério da 2 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Educação sozinhos. O caminho trilhado pelo MEC e compartilhado pelas demais instâncias governamentais e sociais tem sido o das parcerias. Parcerias significam suspender antagonismos em prol do bem comum. O aumento da participação dos governos locais aproxima o cidadão dos tomadores das decisões, fortalecendo o controle das ações públicas pela comunidade. Os conselhos municipais e as Associações de Pais e Mestres (APM) viabilizam a instituição de um verdadeiro diálogo público, criando relacionamentos produtivos entre governo e cidadão. Incentivamos tal processo em todos nossos programas. Implantamos o programa Bolsa Escola Federal – programa decisivo no combate à pobreza estrutural – em prazo recorde, dentro de uma concepção inteiramente apoiada no compromisso das Prefeituras, na participação dos Conselhos Municipais e no repasse dos recursos diretamente aos beneficiários finais, sem intermediação burocrática. Isso ajuda a encurtar a distância entre as temporalidades: o tempo lento da burocracia e o tempo urgente dos reclamos sociais. Essa inovação implicou o estudo detalhado das dificuldades do setor de educação e das alternativas para os problemas encontrados. Desta forma iniciamos a transformação do funcionamento do sistema de ensino. Pudemos determinar as atividades necessárias do ponto de vista legal, administrativo, de conteúdo e comunicação, para que as alterações visualizadas como cruciais para o ensino produzissem resultados efetivos para os cidadãos. Forma diferente de proceder da burocracia que desenha ações e programas a partir de suas estruturas e normas e não das reais necessidades da sociedade. Esse procedimento significou, inclusive, alterações constantes na estrutura do Ministério da Educação, que não contava com equipes e procedimentos, por exemplo, para a TV Escola (ensino à distância) ou para a Bolsa-Escola. Os resultados alcançados são animadores. Colocam-nos na direção de um futuro melhor para nosso país. Foram frutos não apenas de firme compromisso político, mas também de um sistemático processo de transformações gerenciais. O que foi realizado não foi efeito mágico ou temporário. São os efeitos de um projeto bem concebido, inovador, ousado, que soube usar a criatividade e a perseverança para alcançar os resultados a que se propôs. Este é o caminho da transformação que o Brasil precisa. Descentralização e Participação Desde o início dos anos 80, um conjunto de reformas político-institucionais redundaram na recuperação das bases federativas do Estado brasileiro e na autonomia dos entes federativos. A retomada das eleições diretas para os governos estaduais em 1982, a definição dos municípios como entes autônomos na Constituição de 1988, tendo como consequência uma descentralização fiscal implicaram em relações próprias a um Estado federativo. As relações entre os três níveis de governo passaram então a operar sobre bases institucionais inteiramente distintas daquelas que caracterizaram as relações intergovernamentais durante o regime militar. Em termos político-institucionais, nos anos 90, governo federal, governos estaduais e governos municipais passaram a ser autônomos, soberanos e independentes. Nesse contexto foi possível avançar com o processo de descentralização no Brasil. Após o texto constitucional de 1988 criou-se bases políticas e institucionais para avançar no processo de descentralização. As cidades são o espaço para construção da cidadania, para o convívio harmonioso e fértil das diferenças. A descentralização permite o florescimento de experiências, a delegação de poderes, a 3 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 multiplicidade de decisões e que cada localidade procure a sua vocação e suas próprias soluções. O atual governo teve determinação política de levar a cabo este processo em toda área social. Na educação, descentralizou-se tudo. O objetivo foi descentralizar a execução de recursos federais, reforçar a autonomia gerencial e a participação social e contribuir para a melhora da estrutura física e pedagógica das escolas. A começar pelo FUNDEF que, ao definir fonte estável de recursos ao financiamento dos gastos, define critérios explícitos para sua aplicação e distribuição entre esferas de governo. Desse modo, gera uma saudável concorrência entre estados e municípios por alunos matriculados, induzindo melhoria da qualidade da educação pública. Outro aspecto da descentralização na educação são os programas do MEC. Houve um esforço no sentido de descentralizar recursos e poder de decisão relativo aos programas para a ponta do sistema, em alguns casos de modo bem profundo. O programa da merenda escolar acrescenta recursos automáticos aos cofres municipais. Recursos que não estão sujeitos à negociação política, cujos montantes serão tanto maiores quanto maiores forem os alunos sob sua responsabilidade. Trata-se de um desenho particularmente atraente do ponto de vista do gestor local. O Programa Dinheiro Direto na Escola transfere recursos para a Associação de Pais e Mestres – que opera como unidade executora do programa. Dessa forma, a gestão de recursos financeiros desloca-se diretamente para a unidade escolar. A educação profissional é cada vez mais local e comunitária, a partir do financiamento inicial e da assistência técnica do Ministério. O Bolsa Escola Federal, por sua vez, transfere recursos diretamente às mães dos alunos para que elas decidam o que é melhor para a educação de seus filhos. Do ponto de vista gerencial, um município pode observar novas soluções adotadas por outros, anotar sucessos ou fracassos, e adotar suas próprias práticas, tendo se beneficiado da experiência de outros. As decisões do Ministério da Educação foram dirigidas para dar capacidade de gestão dos recursos – financeiros, organizacionais, humanos – da educação aos estados e municípios. Não basta, entretanto, apenas descentralizar. A sustentabilidade desse processo depende da apropriação dos programas por parte dos beneficiários – um efetivo controle social. Ao fornecer numerosas arenas para a tomada de decisão, a descentralização envolve muitas pessoas no processo de governo, melhorando a própria qualidade das decisões. É preciso ressaltar os resultados extremamente positivos no que se refere à ampliação dos níveis de interesse e participação da comunidade na definição de políticas locais e no controle e avaliação dessas políticas. Embora ainda existam muitos obstáculos, limitações e mesmo distorções nesse processo, pode significar a médio e longo prazo uma ruptura com os padrões de participação política e cidadania de um enorme segmento da população brasileira. Trata-se de apostar na capacidade que essas iniciativas, para perdurarem no tempo e terem efeitos multiplicadores, terão de gerar mais capital social, favorecendo uma perspectiva de parceria entre governo e sociedade. O passo decisivo é o aumento da permeabilidade do Estado às demandas e às soluções da sociedade por meio da criação de espaços de diálogo público que atualizem as fronteiras da cidadania, radicalizando a democracia. Na área da educação existem uma série de experiências bem sucedidas tanto no âmbito estadual como municipal. À cada projeto do MEC associa-se a obrigação da criação de um conselho comunitário de acompanhamento e supervisão dos programas. Inovamos, inclusive, ao levar ao limite permitido pela legislação brasileira o poder de fiscalização efetiva desses conselhos sobre a aplicação dos recursos públicos transferidos pelo governo. As contas do FUNDEF são abertas para o Conselho de Educação 4 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 local e a sociedade em geral, prescindindo do sigilo bancário. O terreno em que se enraiza todo esse processo é o da heterogeneidade social e regional que caracteriza o Brasil, com diferentes capacidades técnico-administrativas instaladas e a cultura política de cada região. Aí convivem experiências bem sucedidas e tentativas frustradas, vitórias e retrocessos. As diferentes trajetórias de cada política, a multiplicidade de casos e as distintas respostas impedem as generalizações. A descentralização é fundamental, mas a melhoria dos serviços depende sobretudo da capacidade de instalar núcleos regionais dinâmicos e produtivos, com razoável capacidade gerencial, dotados de infraestrutura e de recursos humanos qualificados, juntamente com o esforço de organização financeira e administrativa. De todo modo, para a eficácia e eficiência é decisivo transferir o poder de decisão, isto é, transferir a condição básica de eficiência dos programas cada vez mais para a ponta do sistema. O processo de descentralização com efetiva participação comunitária se transforma também numa experiência radical de ‘orçamento participativo’. A partir daí, passam a produzir inovações capazes de prestar serviços de modo qualitativamente melhor. Hoje há no Brasil uma forte experimentação de políticas no nível local sob formas mais autônomas. Esta ‘inovação que vem de baixo’ sem dúvida vem acumulando aprendizagem institucional significativa, capaz de atuar de forma decisiva para o pleno desenvolvimento social. São inovações extremamente importantes e tendem a mudar o perfil da política social brasileira. Avaliação e Informação como Instrumento de Política Os resultados atingidos ocorreram, além do estabelecimento claro de prioridades e da ação em consonância com as mesmas, também em decorrência da produção de avaliações e informações que permitiram um monitoramento objetivo do desempenho do sistema de ensino, em todos os seus níveis. Das alterações gerenciais que empreendidas, vale destacar a evolução da avaliação da educação por meio do trabalho do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais – INEP. A alta qualidade das suas pesquisas tornou-as instrumento indispensável ao planejamento e à execução das políticas públicas do Ministério da Educação e de outros níveis de governo. Em todos os níveis, temos contado com um conjunto de dados e análises que permitem a tomada de decisões e a agilização dos programas, de modo a aumentar sua eficácia, eficiência e efetividade. Graças a elas, além de gastar mais, o governo está gastando melhor os recursos. Foi criado e desenvolvido um Sistema Nacional de Avaliação do sistema educacional brasileiro. Esse sistema estabelece metas de melhoria da qualidade do ensino, define objetivos de curto, médio e longo prazos, difunde metodologias e divulga os resultados obtidos de maneira ampla. Não se avalia somente o aluno – elo final de uma cadeia de condições que precisam estar adequadas e ajustadas para que ele alcance o desempenho de que é capaz –, a avaliação começa no trabalho do próprio MEC, e passa por cada um dos sistemas de ensino. Hoje a avaliação contínua de todos os níveis de ensino é uma realidade hoje no Brasil. Avaliações que sofreram resistências no início e hoje são exigências da sociedade e instrumento de cidadania. Antes restrito aos meios acadêmicos e publicações especializadas, temas de certa complexidade, como critérios e metodologia de avaliação, são agora discutidos em editoriais e artigos da imprensa. Somente em relação ao ensino superior, temos hoje três processos complementares de avaliação: o Exame Nacional de Cursos – conhecido como Provão; o Censo da Educação Superior e a Avaliação 5 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 das Condições de Oferta – realizada por comissões de especialistas. Além de democratizar a informação, favorecer a fiscalização e o controle social e apontar as deficiências, esses resultados servem de base para que o Ministério decida se renova ou não o credenciamento das instituições e dos cursos. Na pós-graduação brasileira temos a avaliação realizada a cada dois anos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior – CAPES, vinculada ao Ministério da Educação, historicamente constituída e de enorme reputação junto a toda comunidade acadêmica em atuação no país. Criou-se o Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, como um alternativa ao vestibular tradicional, aceito já por mais de 350 instituições de ensino. O Sistema de Avaliação do Ensino Básico – SAEB, que investiga o desempenho dos alunos do ensino fundamental e médio, teve o escopo e a cobertura ampliados, além de revisões metodológicas. É reconhecido atualmente, no mundo, como um dos processos mais desenvolvidos de avaliação do rendimento escolar. Anualmente é realizado o Censo Escolar. As informações dessa pesquisa orientam a execução de políticas e programas, inclusive a sistemática de financiamento do ensino fundamental, cuja base é o volume de alunos que freqüentam as escolas pertencentes a cada município ou estado. O FUNDEF utiliza os resultados do Censo Escolar para a definição dos coeficientes de distribuição dos recursos dos estados, municípios e das complementações federais destinadas ao ensino fundamental. Todas essas informações estão disponíveis ao público no portal do Ministério da Educação na Internet (http://www.mec.gov.br). Quanto ao próprio Ministério, a avaliação é realizada em cada programa, por consultorias especializadas e imparciais, que apontam nossos erros e acertos. Temos perseverado neste caminho, mesmo que algumas vezes o que os relatórios nos contam não seja exatamente o que seria agradável de ouvir. Mas o balanço é altamente positivo. A partir de iniciativa pela Secretaria de Gestão do Ministério do Planejamento, foi feita em 1999 uma Pesquisa de Avaliação da Satisfação dos Usuários do Serviço Público, onde a educação foi muito bem avaliada. Realizada em 1999, de forma inédita, mostrou que a educação alcançou 79% de satisfação dos usuários. Ouvir com atenção os usuários dos serviços é uma forma sofisticada de avaliação. Por meio desse precioso instrumento parte do setor privado brasileiro conseguiu vencer os desafios da globalização na década de 90. A qualidade do trabalho feito pelo INEP nos últimos cinco anos lhe valeu reconhecimento internacional. Graças aos avanços feitos nos sistemas de avaliação e de informação, o Brasil participa hoje em estudos internacionais comparativos como o WEI – World Educational Indicators, da UNESCO/OCDE, e o PISA 2000 da OCDE, que permitem um diagnóstico da situação do Brasil em relação aos demais países. A ação pública tem que estar submetida à avaliação permanente. Quem implanta as políticas é o primeiro responsável por avaliá-la. É preciso verificar se o caminho traçado está correto e se o resultado da ação concreta está sendo alcançado. Hoje, o Brasil conta com um sistema de avaliação da educação comparável ao que de melhor existe no plano internacional. Com esta política rompemos com paradigmas muito arraigados no setor público brasileiro. Não tínhamos tradição, como outros países, de avaliar os serviços que prestamos. Ao instaurarmos a avaliação como um dos pilares da nossa gestão, conquistamos um instrumento gerencial que tem sido de enorme relevância para confirmar bons resultados, corrigir eventuais desvios de rota e melhorar os 6 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 serviços. A avaliação constitui uma orientação estratégica, como deveria ser em toda a administração pública, de todos os níveis. Há ainda muito por fazer, mas o processo de avaliação é que vai poder mostrar, a cada momento, onde já chegamos e indicar o caminho correto. Conclusão O mundo atual requer transformações profundas no funcionamento do setor público. Implementá-las demanda clareza de propósitos, compromissos firmes e interação com a sociedade. Este assunto é prioritário na agenda do país, pois a gestão pública influi, positiva ou negativamente, sobre todos os outros, seja a condução da política econômica, seja a execução de projetos sociais. A gestão do Ministério da Educação nos últimos oito anos possibilitou, a partir desses elementos, colocar a educação na agenda pública do país de uma maneira definitiva, além de introduzir no próprio Ministério muitos elementos que faltaram durante décadas: pensamento estratégico e conceitos modernos de gestão, além evidente de habilidade política para introduzir mudanças. As dificuldades persistem e não são simples para um país com um passivo social derivada de décadas de atraso. Se é verdade que o Brasil já está formando 6 mil doutores e quase 20 mil mestres por ano, e que se destaca na produção científica e na pesquisa de alto nível, também é verdade que temos muito a avançar nos padrões desejáveis de qualidade na educação básica. 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Atualmente é assessor especial do Ministro Paulo Renato Souza no Ministério da Educação do Brasil. 8 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Gráficos Frequência na Escola de Crianças de 7 a 14 anos, por níveis de renda Porcentagem 99 97 94 94 93 97 93 87 83 75 1992 5º quinto 4º quinto 20% mais ricos 1999 3º quinto 2º quinto 1º quinto 20% mais pobres Fonte: IBGE/PNAD 1999 A universalização do acesso à educação se manifesta claramente por meio da redução das diferenças de escolarização entre as camadas de renda da população. Em 1992, a escolarização das crianças de 7 a 14 anos, pertencentes às famílias mais pobres, era 22% inferior à das crianças das famílias mais ricas. De cada quatro crianças pobres uma estava fora da escola. Em 1999, a escolarização das crianças mais pobres havia aumentado 18 pontos percentuais – um crescimento nove vezes maior que a escolarização das crianças mais ricas. Assim, a distância entre as duas camadas opostas de renda reduziu-se para apenas 6%. O mesmo ocorreu com as faixas intermediárias de renda, nas quais se reduziram as distâncias de escolarização entre elas 9 VII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Lisboa, Portugal, 8-11 Oct. 2002 Frequência na Escola do 1º quinto de renda crianças de 7 a 14 anos, por região Porcentagem 94 93 92 83 82 79 78 70 1992 Sudeste Sul Centro O este N orte 1999 Nordeste Fonte: IBGE/PNAD 1999 Na medida em que se reduziram as diferenças de escolarização entre as camadas de renda da população, as diferenças regionais também foram diminuindo. Em 1992, a escolarização das crianças de 7 a 14 anos, pertencentes às famílias mais pobres da região Nordeste, era muito baixa. Cerca de 30% destas crianças não freqüentavam a escola. O Nordeste encontrava-se muito abaixo da região CentroOeste, que apresentava a melhor escolarização daquele ano, entre as crianças mais pobres, embora fosse igualmente baixa. No final da década, as crianças mais pobres do Nordeste estavam plenamente integradas no processo de universalização do ensino, assim como as das demais regiões, de maneira que as diferenças regionais praticamente inexistem. A escolarização no Nordeste cresceu 22 pontos percentuais entre as crianças mais pobres – quase o dobro do crescimento no Sudeste, que foi de 12 pontos percentuais. 10
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