aimport â nciadovinhonaculturap

Transcrição

aimport â nciadovinhonaculturap
a i m p o rtâ n c i a d o v i n h o na c u lt u r a p o rt u g u e sa
t h e i m p o rta n c e o f w i n e i n p o rt u g u e s e c u lt u r e
p.2
a importância do vinho na cultura portuguesa
2016
A Vinha e o vinho em Portugal
Repletos de simbologia, religiosidade e misticismo, desde os tempos mais remotos, a vinha e o vinho
têm vindo a desempenhar um papel de relevo em quase todas as civilizações. “Fruto da terra, da videira
e do trabalho do homem”, como diz a Palavra inspirada da Bíblia, nenhum outro produto da agricultura
alia o seu fruto saboroso e nutritivo ao precioso néctar dele extraído.
por MARIA JOÃO FERNÃO-PIRES (*)
A sua origem em Portugal parece remontar a cerca de 2000
a.C. época em que a mítica e hipotética civilização dos Tartessos se desenvolvia permutando
diversos produtos como moeda
de troca no comércio de metais,
de entre os quais o vinho produzido a partir de vinhas plantadas
nos vales do Tejo e Sado.
A partir de então e com influências diversas de Fenícios,
Gregos e Celtas (séc X a IV a.C.)
que terão introduzido algumas
castas e possivelmente algumas
técnicas de tanoaria, a cultura
da vinha e o papel do vinho foram assumindo uma importância crescente na vida dos povos.
A ROMANIZAÇÃO
A romanização da Península (séc II a.C. a 585 d.C.) com
o desenvolvimento do sistema
das calçadas romanas levou ao
comércio sistemático numa Ibéria subdividida em duas províncias, a Hispania Citerior (Tarraconensis) e a Hispania Ulterior
(Lusitania).
A Ibéria representou para
os Romanos um reservatório de
ouro, prata e cobre, de escravos
e produtos agrícolas com destaque para o azeite, cereais, sal
e ainda de cavalos. Contudo, a
consolidação da cultura da vinha e, por consequência, a produção de vinho que representava uma parte do salário militar,
foram importantes factores de
exportação, face qao aumento do consumo gerado pelo desenvolvimento de Roma, que,
sem resposta das vinhas locais, exigia das colónias maiores produções.
expansão do
cristianismo
A grande expansão do Cristianismo (séc. VI e VII) será decisiva para o alargamento dos
horizontes do vinho, incluindo um maior valor simbólico a
este produto e aumentando o
seu consumo. Mais tarde, na
sequência das invasões bárbaras (Suevos e Visigodos) e da
disputa da Lusitânia, os “bárbaros” assimilaram a civilização
e religião dos romanos e adotaram o vinho, considerando-o
como bebida de povos “civilizados”. Curiosamente, mesmo na
época marcada pela influência
árabe (séc VIII e XII) cuja cultura proibia o consumo de bebidas fermentadas, a vinha e a
produção de vinho foram mantidos, graças ao espírito benevo-
lente e protector dos árabes para
com os agricultores.
A FUNDAÇÃO DE PORTUGAL
A fundação de Portugal, em
1143, e a conquista do território aos Mouros, facilitaram a
instalação de ordens religiosas,
militares e monásticas, com destque para os Templários, Hospitalários, Sant’Iago da Espada e
Cister, importantes e ativos centros de colonização agrícola fundamentais para a expansão e o
desenvolvimento de diversas regiões vitivinícolas, contribuindo para que, gradual e naturalmente, o vinho começasse a
fazer parte da dieta do homem
medieval e fosse exportado, na
segunda metade do século XIV,
mercê da notoriedade que ia
conquistando.
A expansão portuguesa do
(séc XV e XVI) contribuiu de forma determinante para uma evolução decisiva na história do
vinho em Portugal, sendo transportado nas naus e caravelas,
não só pelas suas características antissépticas e de alimentação das armadas, mas também
como lastro, constatando-se no
regresso das viagens de longa
duração, que estava diferente
e melhorava; o “envelhecimento suave” proporcionado pelo
calor dos porões ao passarem,
pelo menos duas vezes, o Equador e pela permanência do vinho
nos tonéis, dotou-o de características ímpares levando a que
pudessem ser vendidos a preços verdadeiramente fabulosos.
O vinho de “Roda” ou de “Torna
Viagem” veio assim facultar o conhecimento empírico de um certo tipo de envelhecimento, cujas
técnicas científicas viriam a desenvolver-se posteriormente.
Em meados do século XVI,
Lisboa era o maior centro de
consumo e distribuição de vinho do Império e o vinho português chegava aos quatro cantos
do mundo, evidenciando o prestígio dos seus vinhos e a importância do consumo e do volume
sando estabelecer a demarcação e disciplinar a produção e o
comércio dos vinhos da região.
O NEGRO SÉCULO XIX
Contudo o século XIX marcou um período negro para a vitivinicultura em Portugal, quer
ROMAN SARCOPHAGUS - with embossed vintage scene discovered in Castanh
SARCÓFAGO ROMANO, com cena de vindima em relevo descoberto na vila de
de exportações.
Em 1703, as exportações de
vinho conhecem uma nova fase
de expansão, quando o tratado
de Methwen assinado por Portugal e Inglaterra estabeleceu um
regime especial para a exportação do vinho português em troca de tecidos e lã inglesa.
Como em outros aspectos
da vida nacional, o Marquês de
Pombal exerceu uma forte influência no sector da vitivinicultura, estabelecendo uma série
de medidas proteccionistas visando em particular a região do
Alto Douro, e o afamado Vinho
do Porto. Por alvará régio de 10
de Setembro de 1756, foi criada
a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, vi-
pela devastação provocada pela
doença do oídio a que se lhe
seguiu a praga de filoxera; inicialmente surgida na região do
Douro em 1856, rapidamente
se espalhou a todo o país, destruindo a maior parte das regiões vinícolas, com exceção de
Colares, já que a filoxera não
se desenvolve nos terrenos de
areia onde, como ainda hoje,
as suas vinhas são cultuvadas.
Vencida esta ameaça, inicia-se a recuperação dos vinhedos e da produção dos vinhos
portugueses que regressam à ribalta na grande Exposição de
Londres de 1874. Alguns anos
mais tarde, em 1907/1908,
inicia-se o processo de regulamentação oficial de várias ou-
Os conteúdos desta publicação foram produzidos pelo jornal MUNDO PORTUGUÊS para a MUNDIVENTOS Lda,
The contents of this publication were produced by the newspaper MUNDO PORTUGUÊS to MUNDIVENTOS Ltd
Av. Elias Garcia, 57 - 7º • 1049-017 Lisboa - Portugal • Tel.: (+351) 21 795 76 68 /9 • Fax: (+351) 21 795 76 65 • [email protected] • www.mundoportugues.org
the importance of wine in portuguese culture
2016
p.3
Vineyards and Wine in Portugal
Since ancient times, wine and vineyards, with all its symbolism, religion and mysticism, have been playing an import role in
almost all civilizations. As written in the religious passage, it is “fruit of the earth”, “fruit of the vine” and “fruit of the work of
human hands”, no other agricultural product combines so well a tasty and nourishing fruit with the precious nectar.
por MARIA JOÃO FERNÃO-PIRES (*)
Its origin in Portugal appears
to date back to about 2000 BC
when the mythic and hypothetical Tartesian civilization was
developing and using several
products as exchange currency
for metals, among which wine
velopment in Rome.
EXPANSION OF CHRISTIANITY
The great expansion of Christianity (6th and 7th centuries) was
crucial to broaden horizons of
wine, attaching a greater symbolic value to this product and
increasing its consumption.
heira do Ribatejo in the third century (National Museum of Archaeology - Lisbon)
Castanheira do Ribatejo no século III (Museu Nacional de Arqueologia - Lisboa)
from vineyards planted in the
Tejo and Sado valleys.
From then on and with the influence of Phoenicians, Greeks and
Celts (centuries X to IV B.C.),
who are said to have introduced
some vine varieties and probably
some barrel making techniques,
the importance of vineyards
and wine culture has gradually
grown. The development of the
Roman road system and Romanization of the Iberian Peninsula
(century II B.C. to 585 A.D.) led
to a systematic trade in Iberia divided into two provinces, Hispania Citerior (Tarraconensis) and
Hispania Ulterior (Lusitania).
Iberia represented for the Romans a reservoir of gold, silver
and copper, slaves, agricultural
products, specifically olive oil,
cereals, salt and even horses.
However, the consolidation of
wine culture and consequently,
wine production that represented a great part on military salary, were important factors for
exports, bearing the increase of
consumption caused by the de-
Meanwhile, after the Barbarian
invasions and Lusitânia dispute,
Barbarians assimilated Roman
civilization and religion and
embraced wine, considering it
as the beverage of the civilized
people. Curiously, even VIII and
XII centuries influenced by Arab
culture which forloade the consumption of fermented drinks,
grape vines and wine were kept,
due to the benevolent and protector spirit of Arab people towards farmers.
THE FOUNDATION OF
PORTUGAL
The foundation of Portugal in
1143 and the conquest of the
territory from the Moors facilitated the settlement of religious,
monastic and military Orders,
such as the Templars, Hospitallers, Sant’Iago da Espada
and Cistercian. These were important and active agricultural
centers, vital for the expansion
and development of many wine
regions, gradually contributing
to the inclusion of wine in the
medieval man’s diet. Thanks to
its notoriety the wine started to
be exported in the second half
of the fourteenth century.
The Portuguese expansion (centuries XV and XVI) had a decisive role in the evolution of wine
history in Portugal. It was transported in ships and caravels, not
only for its antiseptic characteristics and to feed the armed forces, but also as a guarantee. After long trips, they noticed that
it was different and better. The
“soft aging” provided from the
heat from the holds that crossed
at least twice the Equator endowed the wine with unique
characteristics and allowed its
selling for fabulous prices. This
wine provided empirical knowledge of a certain type of aging,
whose scientific techniques
were to be developed later.
In the mid-sixteen century, Lisbon was the largest center of
consumption and distribution of
wine of the Empire. Portuguese
wine was delivered around the
world, emphasizing its prestige
and importance of consumption
and volume of exports.
In 1703, wine exports reached
a new expansion phase, when
the Methwen Treaty is signed by
Portugal and England and is es-
tablished (a special regimen) for
Portuguese wine exports in exchange of English cloth and wool.
As in other aspects of national
concerns, Marquês de Pombal
had a strong influence on the
wine industry, establishing a
series of protectionist measures
targeting in particular the Alto
Douro Region and Port Wine. By
royal decree of September 10th
1756, the General Company of
Alto Douro Viticulture was created to establish the demarcation
and regulate the production and
trade of wines.
XIX – THE DARK CENTURY
The 19th century was a dark
period for viticulture in Portugal due to extensive damage
caused by mildew disease first
and by phylloxera shortly after.
It emerged initially in the Douro
region in 1856 and quickly spread throughout the country, destroying most of the wine regions,
with the exception of Colares,
since phylloxera doesn’t grow
on sand land where as today, its
grape vines are grown.
Once this threat was overcome,
the recovery of vineyards and
wine production began to finally go back to the limelight in
the Great Exhibition of London
in 1874. Some years later, in
1907/1908, the official regulation of other regions of origin
started, and so Madeira, Moscatel de Setúbal, Carcavelos, Dão,
Colares and Vinho Verde joined
Port wine and Douro’s table wine.
A few years later, the policy
developed by “Estado Novo”
(1926-1974) led to the implementation of a “cooperate organization and economic coordination” in the wine sector trough
the creation in 1933 of the
“Federação dos Vinicultores do
Centro e Sul de Portugal” that
held market regulation functions. This agency was later
replaced by the “Junta Nacional
do Vinho” in 1937, that had a
similar nature but had a broader
scope. Its action was focuses on
the balance between supply and
demand, studying the evolution
of production and developing
the storage of surplus in years
of great production, in order to
make up for the shortage years.
THE CREATION OF “INSTITUTO DA VINHA E DO VINHO”
As a result of Portugal’s accession to the then European Economic Community in 1986, the
“Junta Nacional do Vinho” was
closed down and replaced by the
“Instituto da Vinha e do Vinho”.
p.4
a importância do vinho na cultura portuguesa
tras denominações de origem;
Madeira, Moscatel de Setúbal,
Carcavelos, Dão, Colares e Vinho Verde vão assim juntar-se
ao Vinho do Porto e aos vinhos
de mesa do Douro.
Alguns anos mais tarde, a política desenvolvida pelo Estado
Novo (1926-1974) levou à implementação de uma “organização corporativa e de coordenação
económica” no setor vinícola através da criação em 1933, da Federação dos Vinicultores do Centro e
Sul de Portugal que detinha funções de regularização do mercado;
este organismo foi posteriormente substituído pela Junta Nacional
do Vinho, em 1937, organismo
de natureza similar mas de âmbito mais alargado, cuja intervenção
se focou no equilíbrio entre a oferta e o escoamento do vinho, estudando a evolução das produções e
desenvolvendo o armazenamento
dos excedentes em anos de grande produção, de forma a compensar os anos de descanso.
A CRIAÇÃO DO INSTITUTO DA
VINHA E DO VINHO
Ânfora de tipo Greco-Romano,
originária do Sul de Itália e
datável dos sécs. III ao I a.C.
Greco-Roman Amphora, from
South of Italy and dated to III
to I b.C.
Decorrente da adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia , em 1986, foi extinta a JNV e criado o Instituto da
Vinha e do Vinho; este organismo
tutelado pelo então Ministério da
Agricultura, Pescas e Alimentação
e já adaptado às estruturas impostas pela nova política de mercado,
passou a ter acção sobre a vinha
e o vinho, visando a coordenação
e controlo da produção (uvas e vinho) e da comercialização.
A harmonia com a legislação
comunitária dos conceitos de “Denominação de Origem” e “Indicação Geográfica” proporcionou uma
nova perspectiva na economia portuguesa e no reforço da política de
qualidade dos vinhos portugueses. Assim, e com vista à sua gestão, designadamente na aplicação, vigilância e cumprimento da
respectiva regulamentação, foram
constituídas diversas Comissões
Vitivinícolas Regionais, associações de direito privado e carácter interprofissional, regidas por
estatutos. Com atribuições estabelecidas por diploma legal que
implementou o estabelecimento
da actual organização institucional do sector vitivinícola e disciplina o reconhecimento e protecção das Denominações de Origem
e Indicação Geográfica. Estas entidades detêm funções no âmbito
do controlo e certificação dos diversos produtos, desempenhando
2016
A Vinha e o vinho
em Portugal
um papel fundamental no incremento e desenvolvimento da qualidade e do prestígio dos vinhos
portugueses.
Atualmente estão reconhecidas e protegidas no território português, 31 Denominações de Origem e 14 Indicações Geográficas.
Na sua essência, a vitivinicultura é caracterizada por três aspectos determinantes – o terroir,
o homem e a tradição.
Se o terroir materializa o respeito entre a natureza e a civilização e decerta forma, traduz a ligação entre o trinómio “solo, clima e
casta” e o génio humano, potenciando a produção de vinhos com
carácter vincado e forte personalidade, inimitáveis e autênticos,
que respeitam as suas origens e
tradições, é o homem que dá voz
ao terroir, gerindo o bom equilíbrio
entre a “cultura da vinha” e a milenar “arte de fazer vinho”, contribuindo para a produção de tantos
e tão distintos vinhos de qualidade, carácter e complexidade, para
que num mercado globalizado de
vinhos com perfis similares se possam destacar pelo seu estilo único, particular e irrepetível que lhe
é transmitido, entre outras, pelas
diferentes combinações de castas
nacionais. A tradição, enquanto sentimento, modo de pensar
ou de agir, é talvez o aspeto que
mais nos aproxima da história de
cada cultura, reflectindo uma herança do passado; o respeito pela
natureza, sua diversidade e autenticidade são, no caso do vinho,
valores intemporais resultantes de
uma tradição constante e aperfeiçoada, construída com um saber,
em tudo especial, que frequentemente passa de geração em geração e que é o orgulho e a paixão
de quem a ele se dedica.
A vinha e o vinho e a sua relação com a terra, o clima, a técnica, e a sociedade, invocam uma
funcionalidade e dinamismo dignos de nota como agentes de humanização de vastas regiões, algumas delas com solos de fraca
aptidão agrícola.
E se é certo que os apoios da
Europa foram essenciais para a
viabilização de inúmeras vinhas,
desde as mais novas e modernas
com castas seleccionadas em função dos atuais mercados a outras
centenárias, com diversas castas
antigas de baixa produtividade mas
com alta concentração de aromática, também o foram de adegas modernas que impulsionaram a actividade vitivinícola. Mas também
uma nova geração de produtores e
enólogos que foi sendo preparada
nas universidades nas áreas da viticultura e enologia, incrementou a
aquisição de importantes experiências no mundo vitivinícola, numa
revolução contínua…
O contributo da vitivinicultura
na manutenção da ligação à terra de gerações sucessivas, na modelação da paisagem, imperativo
produtivo de outros tempos e que
actualmente se constitui em múltiplas oportunidades de lazer, a dimensão simbólica da sua ligação
à arte e à cultura dos povos, tem
atuado ao longo dos tempos como
um influente instrumento de diferenciação social não só pela complexidade das relações comerciais
como pela proliferação de interesses sociais e políticos.
Portugal é um país tranquilo e
de grande beleza natural que oferece, a quem o visita, uma inexcedível e inesperada diversidade
e qualidade e experiências, onde
as tradições seculares andam lado
a lado com as mais recentes inovações tecnológicas e a utilização
entusiástica de tudo o que é novo
e original; é assim possível encontrar, em cada canto deste nosso
País, uma mesa mais ou menos
farta, mas dominada por uma gastronomia variada e criativa, a que
a riqueza e diversidade dos vinhos,
sempre presentes e sempre diferentes, conforme os pratos ou as
ocasiões, irá ajudar a descobrir novos sabores e a fazer de cada refeição um momento de partilha verdadeiramente inesquecível.
A história da vinha e do vinho
é a História da Humanidade ligada
às condições geoclimáticas, às trocas comerciais, nos diversos postos e sensibilidade de cada povo.
Na sua essência, a vinha e o vinho,
ao acompanharem a humanidade
nas suas conquistas e progressos,
representam um valor cultural e artístico, um fenómeno de civilização
e a prova de que a inspiração do
homem não tem limites…
(*) Técnica Superior do IVV
In «ITINERANTE»
the importance of wine in portuguese culture
2016
Vineyards and
Wine in Portugal
This agency, supervised by the
Ministry of Agriculture, Fishing
and Food, was already adapted
to the structures imposed by the
new market policy and began
to have action on the vineyards
and wine aiming at production control and coordination
(grapes and wine) and trading.
The adjustment of the concepts
“Region of Origin” and “Geographical Identification” to Community
laws allowed a new perspective
in Portuguese economy and in
the strengthening of a policy of
quality of Portuguese Wines.
With a view to manage, monitor
and enforce its regulations, several Regional Wine Commissions
(private law associations) were
created. These entities had functions within the control and certification of many products, playing
an important role on the increase
and development of quality and
prestige of Portuguese wines.
Currently, there are 31 Regions of
Origin and 14 Geographical Identifications recognized and protected.
In its essence, viticulture is
characterized by three key factors – Terroir, Man and Tradition.
The Terroir shapes the harmony
between nature and civilization.
In a certain way, it reflects the
connection between the three elements “soil, climate and grape
varieties” and the human genius,
enhancing the production of wines
with pronounced character, inimitable and authentic, respecting its
origins and traditions. However,
it’s the Man who gives voice to the
Terroir, managing the right balance between “the wine culture”
and the ancient “art of making
wine”, contributing to the production of so many and distinguished
quality wines, so that in a global
wine market with similar wines
they can stand out for its unique,
particular and unrepeatable style.
Tradition, as a feeling, way of
thinking or acting, is perhaps the
aspect that brings us closer to the
history of each culture, reflecting
a legacy of the past, respect for
nature, its diversity and authenticity. In the specific case of wine,
these timeless values result of a
constant and perfected tradition,
built with knowledge that often
passes from generation to generation and is the pride and passion
of those who are dedicated to it.
Vineyard and wine and its relationship to the land, climate,
technology and society, invoke
functionality and dynamism worthy of note as a vast humanization agent of diverse regions,
some of them with poor agricultural soils that lack productivity.
It’s a known fact that the European supports were essential for the
viability of many vineyards, from
the youngest and most modern,
with varieties selected according
to modern and old markets, with
several old varieties of low productivity but with high aromatic
concentrations. Some modern
wineries boosted the wine production and also a new genera
tion of producers and enologists
that were prepared in universities, specifically in viticulture
and enology areas, increased
the acquisition of important experiences in the wine world.
The viticulture’s contribution in
keeping connection between successive generations, landscape
and production methods from
earlier times, has now turned
into multiple recreational opportunities. The symbolic dimension of its connection to people’s
art and culture throughout the
years has been as influent tool
of social differentiation, not only
for its complex commercial relations, but also for the proliferation
of social and political interests.
Portugal is a peaceful country of
great natural beauty that offers
to its visitors an unsurpassable
and unexpected diversity and
quality of experiences. Secular
traditions walk side by side with
the most recent technological innovations. It’s possible to find
abundant meals served almost
at every Portuguese table paired
up with good and diverse wines.
They will help you discover new
tastes and make each meal a
truly
unforgettable
moment.
The history of vineyard and wine
is the history of Mankind linked
to geo-climatic conditions, trade
and the different positions and
sensibility of each people. As they
walk side by side with Mankind’s
conquests and progress, vineyards
and wine are a cultural and artistic asset, a civilization phenomenon and proof that Man’s creativity has no limits…
(*) Superior Tecnician of IVW
In «ITINERANTE»
p.5
Ânfora de tipo
Haltern, originária
de Espanha do Sul
e datável dos finais
do séc. I a.C. aos
meados do séc. I d.C.
Haltern Amphora,
from South Spain
and dated to I b.C.
to I a.C.
Fragmento superior de
Ânfora, tipo Dressel,
Originária de Itália e datável
dos finais do séc I a.C. aos
finais do séc I d.C.
Amphora upper
fragment, type
Dressel, from
Italy and dated to
I b.C. to I a.C.
p.6
a importância do vinho na cultura portuguesa
2016
QUASE TÃO IMPORTANTE COMO O VINHO
A história do “saca-rolhas”
Seja qual for o vinho da nossa escolha, abrir a garrafa nas melhores condições é fundamental
para conseguir o prazer da degustação.
Um copo com pedaços de cortiça de uma rolha “esfarelada” é suficiente para estragar o vinho
independentemente da sua qualidade, por isso nada melhor do que saber usar um saca-rolhas.
Por hoje vamos falar da sua história bem interessante...
Tal como na eterna dúvida de
saber quem nasceu primeiro, se a
galinha, se o ovo, também aqui se
pode perguntar o mesmo. O que
apareceu primeiro, a rolha ou o
saca-rolhas?
O saca-rolhas, objecto actualmente indissociável, no nosso imaginário, do vinho e dos seus objetos de culto, ainda guarda muitos
mistérios, nomeadamente quanto
à sua origem.
A “rolha” de cortiça desde
tempos imemoriais que terá sido
utilizada para tapar o bocal de
recipientes de barro, contendo líquidos ou outros conteúdos, fosse para os proteger de deterioração, fosse ainda para facilitar o seu
transporte, sem risco de derramamento do respectivo conteúdo.
Julga-se que já no antigo
Egipto, cerca de 3.000 a.C., seriam usados recipientes de barro,
para armazenamento de vinho,
cujo bocal receberia uma rolha
em cortiça.
Nas Ânforas, por exemplo, terão circulado ao longo de todo o
mediterrâneo, milhões de litros de
vinho e azeite, cujo vedante já terão sido “rolhas” de cortiça; usamos a palavra “rolhas” num sentido lato, pois estes vedantes do
bocal, eram de dimensões bem
maiores do que as rolhas que utilizamos na atualidade.
As ânforas, de destintos tamanhos e tipos de boca, tinham dimensões que variavam normalmente entre 1,50m a 30cm de
altura, as mais pequenas, sendo estas últimas, frequentemen-
te destinadas ao transporte de vinho. O Seu bocal também era bem
maior do que aquele das atuais
garrafas de vinho.
Assim, desde muito cedo, a
cortiça se tornou um aliado e companheiro do Vinho, como o comprovam outros achados arqueológicos, entre os quais uma ânfora
datada do século 1 a.C., encontrada em Éfeso ou as diversas ânforas vinárias descobertas nas ruinas da cidade mártir de Pompeia.
Facto incontestável, confirmado por recentes descobertas
arqueológicas, é que no antigo
Egipto, por volta de 1250 a.C.,
já se fabricavam pequenas garrafas de vidro, destinadas a guardar
preciosos perfumes.
a invenção do saca
rolhas
Neste ponto as opiniões dividem-se e muitos daqueles que
têm escrito sobre a origem do saca-rolhas, especulam que terá
sido outra a sua génese. Para diversos autores este instrumento
da nossa paixão seria posterior ao
advento da difusão das armas de
fogo portáteis, ou seja, arcabuzes, pistolas e mosquetes! Como
e porquê?
Como os entendidos e amantes das armas antigas mais facilmente percebem, estas primeiras
armas de fogo, que eram de carregar pela boca (a culatra era fechada, sem abrir), quando por algum
motivo o disparo não se realizava,
havia necessidade de retirar a carga do cano (bala, bucha e carga
de pólvora). Para esse efeito tinha
que se recorrer a um instrumento,
concebido especificamente para
esse fim, normalmente constituído por um conjunto de duas espirais, tal e qual alguns tipos de
saca-rolhas. Este tipo de instrumento é conhecido pelos nomes
de saca-balas, saca-buchas ou
saca-trapos.
da verruma ao
saca-rolhas
Mas terá sido mesmo assim?
Não é a verruma, instrumento utilizado para perfurar madeira, muito anterior ao advento das armas
de fogo? É muito plausível que
este instrumento de carpintaria,
que também tinha a sua utilidade
na indústria da tanoaria (arte com
mais de dois mil anos de História),
possa estar na origem do próprio
saca-rolhas.
Também não podemos ignorar
o facto de que, a garrafa de vinho
mais antiga que se conhece, ser
muito anterior às armas de fogo.
Segundo os especialistas esta datará do ano de 325 da nossa era;
foi descoberta na Alemanha, perto da cidade de Speyer, no túmulo
de um legionário Romano, e guarda ainda boa parte do seu conteúdo original.
Assim sendo, a verdade é que,
ao contrário do que é normalmente afirmado, muito antes do advento da indústria vidreira Inglesa,
nos séculos XVII e XVIII, já a garrafa de vidro tinha sido utilizada
para guardar vinho, devidamente
rolhado, como forma de garantir
a sua preservação. E, fosse qual
fosse o método ou técnica empregue, certamente que a sua a abertura exigiria a utilização de algum
instrumento, ou seja de um “Saca-rolhas”, no sentido mais lato
do termo.
Envolto em todos estes mistérios, e desconhecendo nós actualmente como seriam abertas
essas primeiras garrafas, o que temos por certo é que, com o aparecimento de garrafas de vidro
feitas de um material mais resistente, com uma capacidade mais
“estandardizada”, em meados do
século XVIII, se começou pouco
a pouco a redescobrir as vantagens de preservar o vinho em Garrafas de vidro, vedadas com rolhas de cortiça; e com elas nasceu
também uma incrível perfusão de
saca-rolhas.
Em pleno século XVIII, no reinado de Dom João V, nascia em
Portugal uma verdadeira Industria
vidreira, sendo a mesma estabelecida na Marinha Grande. Este monarca seria igualmente responsável pela assinatura o Tratado de
Madrid de 1750, o qual estabeleceu as modernas fronteiras do
Brasil. Nessa época floresceram
as belíssimas cidades históricas
de Minas Gerias, entre as quais
se contam São João del-Rei, cujo
nome homenageia o santo patrono deste grande soberano, bem
como Mariana, em homenagem
à Rainha.
Mas, quem efectivamente
muito contribuiu para o desenvolvimento dessa mesma indús-
Saca-rolhas de Samuel Henshall
criado em 1795
tria vidreira, nomeadamente no
fabrico de garrafas de vinho, foram os britânicos. Estes, simultaneamente, também colocaram o
saber das suas indústrias de fundição e cutelaria, ao dispor do fabrico e desenvolvimento de um
“novo” instrumento, o saca-rolhas. Por isso não é de admirar
que a primeira patente mundial
de um destes instrumentos, seja
britânica. Trata-se de um saca-rolhas inventado por Samuell Henshall, em 1795.
Desvendar e dar a conhecer
estes e outros pequenos mistérios
e curiosidades, indissociáveis de
dois grandes tesouros da Humanidade, – o Vinho e a Cortiça –
é também uma das missões que
o Museu do Saca-Rolhas encara
como suas.
museu do vinho
na anadia conserva uma
das maiores coleções de
saca-rolhas do mundo
É sempre bom recordar que uma
das maiores coleções de saca-rolhas se encontra no Museu do Vinho na Anadia, criado a partir do
espólio de Adolfo Roque que era
considerado um dos 50 maiores
colecionadores de saca-rolhas do
mundo.
A valiosa colecção foi reunida pelo
falecido Comendador e que, cumprindo uma vontade sua, está agora exposta no Museu por acordo
entre os herdeiros da família e a
autarquia anadiense.
the importance of wine in portuguese culture
2016
p.7
ALMOST AS IMPORTANT AS WINE
The history of the Corkscrew
Samuel Henshall’s Corkscrew
created in 1795
What came first, the chicken or the egg? You can apply the
same question here: What came
first the cork or the corkscrew?
The corkscrew, indissociably linked to wine and objects
of worship, still holds many
mysteries, especially about its
origin.
Cork stoppers have been
used, since immemorial times,
to seal the nozzle of clay containers containing liquids or
other contents, to protect them
from deterioration and facilitating its transport without the risk
of spilling its content.
It is believed that in ancient
Egypt, around 3.000 B.C., clay
containers were used for wine
storage whose nozzle had a cork
stopper.
For example, millions of gallons of wine and oil circulated
throughout the Mediterranean
in amphorae that was sealed
with cork stoppers. We use the
word “stoppers” in a broad sense, since they were of much larger dimensions than the ones
used at the present time.
The amphorae had dimensions ranging typically between
1,50m to 30cm in height. These last ones were often used
to carry wine. In this case, the
nozzles were also bigger than
the current bottle of wine.
According to different archaeological discoveries (amphora dated back to century I
B.C. found in Ephesus; amphora discovered in the city ruins of
Regardless of the wine of your choice, opening a bottle in its best conditions is crucial to achieve
the pleasure of tasting. A glass full of cork pieces from a cork stopper is enough to ruin wine, regardless of its quality, so, there is nothing better than knowing how to use the corkscrew. Today, we
are going to tell you its interesting history…
martyr Pompeii), cork has been
Wine’s ally and partner.
Indisputable fact is that in
ancient Egypt, around 1250
BC, small glass bottles were already manufactured, designed
to save precious perfumes.
INVENTION OF THE
CORKSCREW
On this point, opinions differ and many of those who have
written about the origin of the
corkscrew speculate that it had
a different origin. For many authors, this instrument appeared
before the advent of spread-
ing small arms (muskets, pistols and firearms)! How is it
possible?
Connoisseurs and lovers
of ancient weapons can easily confirm that these first firearms were muzzle loading (the
breech was closed). When for
some reason the shot did not occur, it was necessary to re
move the load from the barrel
(bullet, shot bushing and powder charge). It was necessary to
use a specifically designed instrument for this purpose, typically consisting of a set of two
spirals, similar to some corkscrews. This type of instrument
was known as Gun Worms and
Ram Rods.
FROM THE GIMLET TO THE
CORKSCREW
Was this how it really happened? Wasn’t the gimlet (in-
strument to drill wood) created
way before firearms? It is plausible that this carpentry instrument, that also had its utility in
the cooperage industry (an art
with more than two Thousand
years of History), can be the origin of the corkscrew.
We can’t ignore the fact that,
the oldest wine bottle known,
dates back much further than
firearms. According to specialists, it dates back to the year
325. It was discovered in Germany, near the city of Speyer,
in a roman legionary tomb, and
it still contains part of its original content.
The truth is, contrary to
what is often stated, long before the advent of the English
glass industry (in centuries XVII
and XVIII) the glass bottle had
been used to store wine, properly corked, in order to ensure
its preservation. Whatever the
method or technique employed,
certainly its opening would require the use of an instrument,
meaning a “Corkscrew”, in the
broadest sense of the term.
Wrapped in all these mysteries, and being unaware today of how theses first bottles
were opened, what we know for
sure is that with the appearance
of glass bottles in the mid XVIII
century with a standardized
shape, people started to discover the benefits of preserving wine in glass bottles sealed
with cork stoppers. The corkscrew was born.
In the XVIII century, during
the reign of Dom João V, glass
industry was born in Portugal
and established in Marinha
Grande. This monarch was
equally responsible for the signing of the Treaty of Madrid in
1750, which established the
modern borders of Brazil. During this period, beautiful historic cities of Minas Gerais grew.
Among them were the cities of
São João Del-Rei, named after the patron saint of this great
sovereign, and Mariana, in honour of the Queen.
But who actually contributed to the development of the
glass industry, particularly in
the manufacture of wine bottles, were the British. They put
both their knowledge of smelting and cutlery industries in
use to manufacture and develop the “new” instrument,
the corkscrew. So it’s no wonder that the world’s first patent
of this instrument is British. The
first corkscrew was created by
Samuell Henshall, in 1795.
To share and unravel those
little mysteries and curiosities,
inseparable from two great treasures of Humanity, - Wine and
Cork – is also one of the missions that the Corkscrew Museum faces as its own.
ANADIA HAS ONE OF THE
LARGEST CORKSCREWS’
COLLETION IN THE WORLD
It’s good to remember that
one of the largest collections of
corkscrews is available at the
Wine Museum in Anadia. This
collection was built from Adolfo
Roque’s estate that was considered one of the top 50 corkscrew collectors in the world.
This valuable collection was
assembled by the late Commander and, fulfilling his desire, it is
now exhibited in the Museum by
agreement between the family
heirs and Anadia’s municipality.
p.8
a importância do vinho na cultura portuguesa
2016
História do vinho
em Portugal
é a história cultural
das regiões que o
produzem
FONTE: IVV
Os vinhos em Portugal resultam do enlace
perfeito entre a nobreza das castas e o
“savoir faire” dos homens, que no respeito
permanente pela sua anscetralidade
desenvolvem uma arte milenar que se renova
a cada colheita.
Por isso ficam conhecidos pelos anos,
como marcos de uma atividade em que o
clima também se juntou e acrescentou
características e aromas que fazem certos anos ser recordados com uma saudade
infinita.
Por isso é importante conhecer os lugares onde
nascem esses néctares, preciosos, moldados
também pelos caprichos do tempo e pela
sabedoria dos homens, que resultam numa
arte divinatória e mágica.
The history of wine
in Portugal
The cultural history
of the regions where
it is produced
Wines in Portugal result from the perfect link between the
nobility of the grape varieties and the “savoir faire” of men.
The permanent respect for their ancestors develops an ancient
art that is renewed each harvest.
They are renowned by years, as mark of an activity in which
the climate joins in and adds features and aromas that make
some years to be remembered with infinite nostalgia.
So it’s important to know the places where these precious
nectars are born, shaped by the whims of time and wisdom of
men, resulting in a divine and magical art.
the importance of wine in portuguese culture
2016
MINHO
Na região dos Vinhos Verdes há referências à viticultura desde os Romanos.
No início dos tempos modernos, destacaram‑se as sub‑regiões de Basto, Ribeira
do Tâmega, Monção e Ribeira Lima. Das
duas últimas partiram as primeiras exportações destes vinhos para Inglaterra, a partir do porto de Viana, no início do séc. XVI.
Em 1908, iniciou‑se a demarcação
de diversas regiões vitivinícolas. O grande avanço qualitativo ocorreu no ano de
1926, com o estabelecimento do regulamento da produção e comércio do «Vinho
Verde» e a criação da «Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes». Esta
região estende‑se por todo o Nordeste do
País, na zona tradicionalmente conhecida
por Entre‑Douro‑e‑Minho, a sul da Galiza
espanhola. A Este e a Sul, zonas montanhosas constituem uma barreira natural,
sendo o oceano Atlântico o seu limite a
Poente. Esta situação condiciona um clima muito específico e diferente do restante no País, ventoso, de elevada precipitação e baixa insolação. As vinhas ocupam
mais de 30 mil hectares, correspondendo
a 12% da área vitícola nacional.
Quanto ao tipo de solos, o anuário IVV
refere: “… a maior parte desta região assenta em formações graníticas, constituindo excepções duas estreitas faixas que a
atravessam no sentido NW‑SE, uma do silúrico, onde aparecem formações carboníferas e de lousa, outra de xistos do arcaico. Apresentam uma textura arenosa e
franco‑arenosa, pouca profundidade, acidez elevada e são pobres em fósforo e ricas em potássio”.
Enquanto no Sul do País, as monoculturas condicionavam a vinha com plantas
crescendo no chão (Colares) ou sem suporte (gobelet) e muita baixa condução (Alentejo), no Vinho Verde desenvolveu‑se frequentemente a uma altura considerável,
com drástica redução da graduação alcoólica. A vinha plantava‑se em bordadura de campos de milho ou outras culturas
anuais, com armação em pérgulas.
In the region of Vinho Verde, there are references to viticulture since the Romans.
In the early modern period the highlights are the sub-regions of Basto, Tamega Ribeira, Monção and Ribeira Lima. It was from these last two sub-regions that these wines
were first exported to England from the port of Viana at the beginning of the XVI century.
It was in 1908 that the demarcation of several wine regions began. The major breakthrough occurred in 1926, when the production and trade regulation of Vinho Verde was
established and the “Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes” was created. This region spreads throughout the northeast of the country, in an area traditionally
known as Entre-Douro-e-Minho, south of the Spanish Galicia. Mountain areas, at east
and south, form a natural barrier while the Atlantic Ocean limits the west. This situation
creates a specific climate, different from the rest of the country, windy, with heavy rainfall and low sunlight. Vineyards occupy more than 30 thousand hectares, representing
12% of the national wine-growing area.
Regarding the type of soil, IVV’s yearbook states: “... most of this region lies in granitic formations, with two exceptions two narrow tracks that cross towards NW-SE: one
of Silurian, where coal and slate formations appear; and another of archaic schists. They
present a sandy texture, shallow depth, high acidity and low in phosphorus and rich
in potassium.” While in the South of Portugal, monocultures affect the vineyards with
plants growing on the ground (Colares) or unsupported (gobelet) and very low conduction (Alentejo), Vinho Verde developed often at a considerable height, with drastic reduction of alcohol content. Vineyards were planted with frame in pergolas next to cornfields
or other annual crops.
TRANSMONTANO
Em, em 1989 foi criada e delimitada uma região própria, tendo sido atribuída à Comissão Vitivinícola Regional
de Trás‑os‑Montes, identificada também
pela sigla CVRTM, a responsabilidade
pela certificação dos produtos vitivinícolas com direito à denominação de origem
(DO) ‘Trás‑os‑Montes’ e pela indicação
geográfica (IG) ‘Transmontano’; esta entidade encontra‑se desde 2010 designada
oficialmente como Entidade Certificadora.
O nome Trás‑os‑Montes refere‑se à localização desta vasta região: situa‑se para
lá das serras do Marão e Alvão, a norte do
rio Douro, a oriente do Minho, até à fronteira espanhola com a qual também confina, a Norte. Os solos variam muito entre
as sub‑regiões. Começam em Chaves com solos predominantemente
graníticos alcalinos, misturados com xisto. O granito é, do ponto de vista
morfológico, uma rocha
desconcertante,
tanto dura como de textura
friável, tanto de grão fino
como grosseiro. Os solos da veiga de Chaves
são muito férteis, classificados como de primei-
p.9
ra classe. A vinha é aqui plantada nas encostas de pequenos vales, onde correm os
afluentes do rio Tâmega. As vinhas tradicionais ocupavam essencialmente os terrenos das arribas e foram plantadas em curvas de nível. Os trabalhos eram realizados
pelo agricultor, com recurso à tração animal, quase sempre de burros.
O clima de Trás‑os‑Montes é seco e
muito quente no Verão. No Inverno, pelo
contrário, as temperaturas atingem muitas
vezes valores negativos, condicionando as
necessidades térmicas e a quantidade de
água disponível. Apenas a sub‑região de
Valpaços é mais rica em recursos hídricos,
situando‑se numa zona de planalto. No Planalto Mirandês, é o rio Douro que influencia
a viticultura. Os vinhos tintos desta região
são geralmente frutados e levemente adstringentes. Os vinhos brancos são suaves e
com aroma floral.
In 1989, a specific region was created and defined. This region assigned to the “Comissão Vitivinícola Regional de Trás os Montes”, also known as CVRTM, was responsible for the certification of wine products entitled to bear the designation of origin (DO)
and the geographic indication (IG) “Trás os Montes”. The CVRTM is since 2010 officially
designated as a Certifying Entity.
The name “Trás-os-Montes” refers to the location of this vast region: it lies beyond the
Marão and Alvão Mountains, North of the Douro River, East of Minho, with the Spanish
boarder North. Soils vary widely between sub-regions. Chaves has predominantly granitic alkaline soils mixed with schist. From a morphological point of view, Granite is a
bewildering rock that is simultaneously a hard and crumbly texture, with fine grain and
rough grain. Soils from “veiga de Chaves” are so fertile that they classified them as first
class. Vineyards are planted on the slopes of small valleys, where the affluent of “Tâmega”
River runs. Traditional vineyards essentially occupied cliffs and were planted in contour
lines. Work was carried out by farmers, using animal traction, mainly done by donkeys.
The weather in “Trás-os-Montes” is dry and very hot during summer. However during
wintertime, temperatures often reach negative figures, conditioning thermal needs and the
amount of water available. Only the sub-region of “Valpaços” is richer in water resources,
bearing it’s located in a plateau region. In the “Planalto Mirandês”, it’s the Douro River
that influences viticulture. Red wines from this region are generally fruity and slightly astringent. White wines are generally mild flavor, with floral scents.
p.10
a importância do vinho na cultura portuguesa
duriense
O início da viticultura no Douro deve
ter origem no Calcolítico, mas os primeiros vestígios comprovados por escavações
revelaram lagares romanos com instalação fixa coberta, do tipo lagar de pesos,
com dois eixos cruzados (Foz‑Côa, Murça,
Meda, etc.). A região do Douro representa
a mais antiga demarcação vitícola realizada na Idade Moderna. Em 1756, o Marquês de Pombal delimitou a zona vinhateira
do Douro praticamente com a área actual,
hoje subdividida geograficamente em três
regiões: Baixo Corgo, Alto Corgo e Douro
Superior. O vinho do Porto já no séc. XV desenvolveu uma dinâmica importante. O segredo do êxito foi um drástico controlo por
um “tipo de medida especial” – no sentido
de garantir a qualidade e evitar fraudes, regulamentando através do benefício o ajuste
das quotas da produção à procura do mer-
cado, composto pela análise e determinação de um conjunto de diversos critérios na
produção, para estimular o interesse do produtor em diferenciar
a qualidade do vinho e da vinha.
Com a recente e significativa evolução do prestígio do vinho, foi possível concertar políticas, veiculadas através do
“Instituto dos Vinhos do Douro
e do Porto, I.P.”. A Universidade
de Trás‑os‑Montes e Alto‑Douro e a associação ADVID, entre
outros, asseguram a garantia de
uma consequente “lógica de acção comum”. Hoje em dia, a área da região é da ordem dos 250.000 hectares,
dos quais cerca de 45.000 estão plantados com vinha.
As condições climáticas são tipicamente mediterrânicas, variando com a localização da vinha nas encostas dos rios e ribeiras. Devido à sua impressionante estrutura
geológica associada à cultura do vinho pelo
homem, a região dos vales do Alto Douro
foi reconhecida como Património Mundial,
pela UNESCO. A composição geológica da
grande maioria dos solos durienses assenta em diferentes tipos de xistos metamórficos. Raramente se encontra granito, caso
em que os solos são considerados com pontuação inferior para a atribuição de “benefício” para o Vinho do Porto.
The beginning of viticulture in the Douro region dates back to the Chalcolithic period.
However, its first proven traces revealed the existence of Roman mills with fixed installation and two crossed axes (Foz-Côa, Murça, Meda, etc.). Douro is the oldest wine demarcation region of the Modern Age. In 1756, Marquês de Pombal delimited the Douro’s wine region as the one we know today, though it’s geographically subdivided in three
regions: Baixo Corgo, Alto Corgo and Douro Superior. In the XV century, Port Wine developed an important dynamic. The secret of success was a drastic control by special
measures. They realized that in order to ensure the quality and prevent fraud, regulation
by adjusting the quotas of production to the market demand was a benefit. By analyzing
and determining a set of different criteria in production, they spurred the interest of producers to distinguish the quality of wine and vineyard.
With the recent and significant developments in the wine prestige, it was possible to
coordinate policies directed through the “Institute of Douro and Port Wines, I.P.”. The
University of Trás-os-Montes and Alto Douro and the association ADVID, among others,
assured the guarantee of a consistent joint action plan. Nowadays, the area is around
250.000 hectares, of which 45.000 are planted with vineyards.
The weather conditions are typically Mediterranean, and they vary based on the location of the vineyard on the hillsides of the rivers and streams. Due to its impressive
geological structure associated to the culture of wine, the Alto Douro valleys were recognized as World Heritage, by Unesco. The geological composition of the vast majority of
Douro’s soil is based on different types of metamorphic schists. We can rarely find granite, a specific case in which soils are considered to have a lower punctuation to the attribution of benefits to Port Wine.
2016
TERRAS DE CISTER
Fazendo fronteira entre as regiões “Duriense” e das “Terras do Dão”, encontramos
a região “Terras de Cister” que, embora seja
uma região de pequena dimensão, é todavia muito relevante na produção de espumantes em Portugal, e uns magníficos vinhos brancos frescos e tintos suaves.
A região de Távora‑Varosa situa‑se no
sopé das encostas da Serra da Nave. A
designação actual não é nova, foi criada
em 1999 e faz referência aos rios Távora e Varosa, dois afluentes do Douro, tendo sido das primeiras DO específicas para
espumantes em Portugal. A área de vinha,
com cerca de 2.100 hectares, abrange os
concelhos de Lamego, Tarouca, Moimenta
da Beira, Armamar, Tabuaço, São João da Pesqueira,
Sernancelhe e Penedono.
Embora seja uma região recente, trata-se de
um local quase mágico associado à fundação da nacionalidade em Portugal.
Quando D. Afonso Henriques deu o passo decisivo para a fundação da nacionalidade portuguesa, os
nobres que o apoiaram encontravam-se na nobre cidade de Lamego, que ainda
hoje é a maior cidade da re-
gião que apresenta vestígios de ocupação
humana desde a Proto‑história e por ela
passaram Romanos, Suevos e Visigodos,
que deixaram inúmeros testemunhos históricos. Talvez por isso mesmo, tenha sido
escolhida pelos Monges de Cister para aí
construírem alguns dos mais belos exemplares arquitectónicos cistercienses como
é o caso do Mosteiro de S. João de Tarouca, o primeiro da Península Ibérica, construído no século XII e que ainda hoje se encontra em bom estado de conservação a
pedir uma visita.
Relativamente aos vinhos brancos, a
natural acidez, o intenso aroma e o carácter citrino, brilhante e fresco, permitem realçar a sua qualidade, mas de igual
modo, os vinhos tintos vêm buscar essa delicadeza no aroma e nobreza do corpo, alcançando excelentes aromas com o tempo.
Bordering between the regions of “Douro” and “Terras do Dão” we find the region “Terras de Cister”. Apart from its small dimension, it’s very important in the production of
sparkling, fresh white and smooth red wines in Portugal.
The region of Távora-Varosa is located on the foot of the hills of Serra da Nave. Its present name isn’t new. It was created in 1999 and refers to the Távora and Varosa Rivers,
two affluents of the Douro River, and the first ones specifically used for sparkling wines in
Portugal. The vineyard area, with around 2.100 hectares, covers Lamego, Tarouca, Moimenta da Beira, Armamar, Tabuaço, São João da Pesqueira, Semancelhe and Penedono.
Although a recent region, it’s an almost magical place associated with the founding
of the Portuguese Nation.
When D. Afonso Henriques took the decisive step towards the foundation of the Portuguese nation, the nobles who supported him were in the city of Lamego. It’s currently the
largest city in the region with traces of human occupation since the Proto time and many
historical testimonies were left there by many Romans, Swabians and Visigiths who passed there. That may be the reason why Cistercian monks chose this city to build some of
the most beautiful Cistercian architectural projects, such as the S. João de Tarouca Monastery, the first monastery in the Iberian Peninsula, built in the XII century.
Regarding white wines, the natural acidity, intense aroma and citrus character, bright
and fresh, allow to enhance its quality. Also the red wines get this delicate aroma and the
nobility of the body, achieving excellent aromas with time.
the importance of wine in portuguese culture
2016
BEIRA ATLÂNTICO
No interior da região designada por Beira Atlântico está inserida a BAIRRADA e
estas áreas faziam parte da já mencionada
região vitivinícola mais extensa que era conhecida como IG BEIRAS.
A produção de vinho na região remonta ao tempo dos Romanos, fazendo disso
prova os diversos lagares antropomórficos
talhados nas rochas graníticas.
A tradição destes vinhos remonta ao reinado de D. Afonso Henriques que autorizou a plantação das vinhas na região, com
a condição de ser dada uma quarta parte do vinho produzido. Já nos reinados de
D. João I e D. João III, foram tomadas medidas de protecção para os vinhos desta
área do País, dadas a sua qualidade e importância social e económica. Estendendo-se desde o Minho até à Alta Estremadura,
trata-se de uma região de agricultura predominantemente intensiva e multicultural,
de pequena propriedade, onde a vinha ocupa um lugar de destaque e a qualidade dos
seus vinhos justifica o reconhecimento da
DOC “Bairrada”.
Os solos são de diferentes épocas geológicas, predominando os terrenos pobres.
Dividem-se preponderantemente entre terrenos argilocalcários e longas faixas arenosas, consagrando tipos bem diversos consoante a predominância de cada elemento.
Os invernos são longos e frescos, os verões
quentes, amenizados por ventos de Oeste
e de Noroeste dominantes nas regiões mais
próximas do mar. O clima é do tipo Mediterrânico-Atlântico, com uma queda pluviométrica de cerca de 900 a 1.100 mm. É
uma região maioritariamente plana, com vinhas raramente ultrapassando os 120 metros de altitude. Devido à sua horizontalidade e à proximidade do oceano, goza de
um clima temperado por uma fortíssima influência atlântica, com chuvas abundantes
e temperaturas médias comedidas. Integrada numa faixa litoral submetida a fortíssima densidade populacional, a propriedade
rural encontra-se dividida em milhares de
pequenas parcelas, com dimensões médias
de exploração raramente ultrapassando um
hectare de vinha.
Located in the interior of the Beira Atlântico region is Bairrada. These areas were part
of the largest wine region, known as IG BEIRAS.
Wine production in the region dates back to Roman times, as evidenced by the various anthropomorphic mills carved in the granite rocks.
The tradition of these wine dates back to the reign of D. Afonso Henriques who authorized the planting of vineyards in the region, with the condition of being given a quarter
of the wine produced. During D. João I and D. João III reigns, protective measures were
taken to the wine produced in this region, given its quality and social and economic importance. From Minho to Alta Extremadura, it’s a region of predominantly intensive and
multicultural agriculture, in small properties, where vines occupy an important role and
the quality of its wines justifies the recognition of DOC “Bairrada”.
Soils are of different geological epochs, with a predominance of poor land. They are
divided mainly between calcareous clay and long sandy tracks soils, with different types
according to the predominance of each element. Winters are long and cold, summers are
hot, softened by western and north-west dominant winds in the nearby sea areas. The
climate is Mediterranean-Atlantic type, with a rainfall of about 900-1100 mm. It’s mostly a flat area, with vineyards rarely exceeding 120 meters. Due to its horizontality and
proximity to the ocean, it has a temperate climate with a very strong Atlantic influence, with abundant rainfall and average temperatures. Integrated in a coastal strip with a
strong population density, rural property is divided into thousands of small parcels, with
medium-sized plantations rarely exceeding one hectare of vineyard.
TERRAS DO DÃO
No interior da região actualmente delimitada com a designação Terras do Dão
estão inseridas as DO Dão e Lafões. No
seu conjunto, estas áreas faziam parte da
já mencionada região vitivinícola mais extensa que era conhecida como IG BEIRAS.
Há poucos vestígios da viticultura da
Antiguidade Clássica na região do Dão.
Foram encontradas 80 lagaretas cavadas
na rocha, em variadas formas, dimensão
e épocas. A partir do séc. XII, com a presença dos monges cistercienses, existem
alvarás e vestígios documentados. A partir
do séc. XV, existe informação contínua referindo a qualidade e importância econó-
p.11
mica do vinho no Dão. Devido ao atraso
da entrada da filoxera nos planaltos da região. No séc. XIX a vitivinicultura atingiu o
máximo da importância, em alternativa às
regiões vitícolas já destruídas com os flagelos americanos. António Augusto Aguiar,
em 1865, promoveu a ideia da demarcação da região, contando com grandes dificuldades devido a uma situação política
instável. Só em 1908 isso veio a acontecer, tendo sido revista em 1910 e depois
em 1912 quando ficaram definidos os limites geográficos da DO tal como existem
atualmente, com a criação da Comissão
Reguladora do Vinho do Dão. Atualmente
designada por Comissão Vitivinícola Regional do Dão (CVR Dão) foi oficialmente designada como entidade certificadora para
exercer funções de controlo da produção e
comércio e de certificação dos produtos vitivinícolas com direito à denominação de
origem (DO) «Dão» e «Lafões» e à indicação geográfica (IG) «Terras do Dão».
Um pouco a Norte desta região, podem
ser produzidos os vinhos com a DO “Lafões”. Os solos, de origem granítica com
manchas de xistos précâmbricos, são frequentemente húmidos e férteis. A região,
contudo, apresenta algumas semelhanças
com a região dos Vinhos Verdes, principalmente pelo tipo de condução das videiras
nos campos de cultura, servindo de bordaduras ou encostadas a “uveiras”, em latadas ou ramadas, predominando desta forma a vinha alta.
In the interior of the region currently designated as Terras do Dão are located the
DOs Dão and Lafões. Together, these areas were previously part of a largest wine area
known as IG BEIRAS. There are few traces of viticulture from Classic Antiquity in the
region of Dão. 80 small mills were found craved on rocks, with different shapes, sizes
and from different time periods. Starting from the XII century, with the presence of Cistercian monks, charters and documented evidence exist. From the XV century on, there
is continuous information referring to the quality and economical importance of wine in
Dão region. Due to the delay of Phylloxera appearance in the plateaus of the region, during the XIX century, viticulture reached its highest level of importance, as an alternative
to wine regions destroyed by the American scourges. In 1865, António Augusto Aguiar
promoted the idea of the demarcation of the region, having found difficulties due to the
unstable political situation. It only occurred in 1908, adjusted in 1910, and finally in
1912 the actual geographical borders of DO were defined, with creation of the Regulatory Committee of Dão Wine. Currently known as Regional Wine Commission of Dão, it
was officially designated as the certifying entity to control production, trade and certification of wine products that are entitled to Designation of Origin (DO) “Dão” and “Lafões”,
as well as Geographic Indication (GI) “Terras do Dão”.
To the North of this region, wines with Designation of Origin “Lafões” can be produced.
The soils, originally formed by granite with pre-industrial schist, are frequently humid
and fertile. The region bears some resemblance to the Vinho Verde region, both in terms
of the type of vine training systems used in the vineyards, where vines are grown on the
borders of fields with other crops, or as “uveiras”, tall growing vines using trees or trellises for support, and in terms of characteristics of its white wines (low in alcohol, high
in malic acid and very fruity) and its reds that have a good ageing capacity.
p.12
a importância do vinho na cultura portuguesa
TERRAS DA BEIRA
No interior da região delimitada com
a designação Terras da Beira está inserida
a DO BEIRA INTERIOR e estas áreas faziam
parte de uma região vitivinícola bastante
mais extensa, então designada como IG BEIRAS. Foi a sede do povo Lusitano, onde o seu
rei Viriato foi assassinado em 139 a. C. pelos
Romanos que depois tomaram posse desta
terra. Cerca de 600 anos depois, chegaram
os Visigodos, últimos dois povos com grande ligação à viticultura. Os monges de Cister,
a partir do séc. XII, revitalizaram a viticultu-
ra após a Reconquista. Os árabes muçulmanos dedicaram-se menos a esta cultura
mas sempre a permitiram em total liberdade. Situada no coração do interior Norte,
perto da fronteira com Espanha, na região
mais escarpada e montanhosa de Portugal
Continental, abarca no seu interior a Serra
da Marofa, a Serra da Gardunha e parte da
Serra da Estrela. No que respeita à DO Beira Interior, as suas subregiões de Castelo
Rodrigo, Pinhel e Cova da Beira sempre se
notabilizaram por vinhos de elevado valor
enológico, expresso num aroma mais rico
e distinto das outras regiões. As vinhas são
elevadas, entre os 400 e os 700 m, num
total de 16.000 hectares, e o clima proporciona noites frescas no Verão, e mesmo frias
na fase da vindima e da fermentação. Já antes da introdução das novas tecnologias de
fermentação controlada permitiam a produção de vinhos maduros frescos e aromáticos. O vinho rosado, na época das grandes
exportações deste tipo de vinho, em meados do séc. XX, especialmente para os EUA
e o norte de Europa, sempre foi considerado o melhor e trouxe alguma prosperidade
a esta região. O clima sofre uma influência
continental extrema, com impressionantes
variações quotidianas de temperatura. Os
verões são curtos mas muito quentes e
secos, os invernos prolongados e gélidos.
Os solos são maioritariamente graníticos,
com alguma presença de xistos e, embora
menos comum, alguma componente
arenosa.
In the interior of the delimited region “Terras da Beira” there is the region of BEIRA INTERIOR, and those areas were within a larger wine region, designated as IG BEIRAS. Terras da Beira region was the center of Lusitanian people, where their King Viriathus was
murdered in 139 b.C. by the Romans who then took over the land. Around 600 years later, the Visigoths arrived; those two peoples had a great connection to viticulture. The Cistercian monks, in the XII century revitalized the viticulture after the Reconquest. The Muslim Arabs did not dedicated themselves that much to this culture, but they always allowed
it. Located at the heart of northern interior, near the Spanish border, in the most mountainous area of Portugal, the region covers the mountain ranges of Serra da Marofa, Serra
da Gardunha and part of Serra da Estrela. Regarding the Designation of Origin “Beira Interior”, its sub-regions of Castelo Rodrigo, Pinhel and Cova da Beira have always distinguished themselves by their wine with high oenological value, expressed in a richer aroma
and different from other regions. Vineyards are raised between 400 and 700 metres, in a
total area of 16.000 hectares, and the weather provides fresh nights in summer, and quite
cold nights during harvest and fermentation period, which even before the introduction of
new technologies of controlled fermentation allowed the production of fresh and aromatic
mature wines. Rosé wine was always considered the best and it brought some prosperity
to the region during the time of high export of this type of wine, in the XX century, especially to the USA and Northern Europe. The weather suffers an extreme continental influence, with impressive temperature variations. Summers are short but very hot and dry,
while winters are long and freezing. The soils are mainly granite, with some schists and,
less commonly, some sandy soils.
2016
LISBOA
A criação da região vitivinícola de
Lisboa é o resultado da concertação
conseguida entre as vontades da produção
e comércio das diversas regiões, todas elas
com grande história no passado. Desde a
Antiguidade que havia vinha em volta de
Lisboa. Há vestígios fenícios, gregos, romanos e visigóticos. Na Idade Média, a
partir do séc. XII, estabeleceram-se diversas ordens religiosas, com particular destaque para a Ordem de Cister, em Alcobaça, onde os seguidores de S. Bernardo
se dedicaram à viticultura. Além do objectivo litúrgico, a ordem deu trabalho
e formação profissional aos cidadãos
cristãos.
Os vinhos da então chamada “Estremadura” foram objecto de grande consumo e prestígio, tornando-se num
dos produtos de maior
peso na actividade económica da região, identificada como uma das maiores regiões vitivinícolas
do país, em área de vinha e de produção de
vinho. O relevo não
é muito elevado, excepto a sul, onde aparecem alguns estratos
de basalto e de granito. O clima é temperado, sem grandes amplitudes térmicas,
com uma queda pluviométrica anual entre
os 600 e os 700 mm.
Na zona Sul da região encontram-se
três Denominações de Origem cujas zonas
vitícolas são conhecidas pela sua tradição e
prestígio: Bucelas, Carcavelos e Colares. A
norte de Lisboa a região de “Bucelas”, onde
as vinhas se instalam em solos que correspondem às tradicionais “caeiras”, predominantemente derivados de margas e calcários duros. A casta de referência da
região é o Arinto e esta é a única região exclusivamente delimitada para vinhos de qualidade brancos. A oeste de
Lisboa situase a zona de
produção do DOC “Carcavelos”. Este extraordinário vinho generoso é
conhecido desde longa data,
apresentando-se hoje em dia
como uma raridade.
Reclinada na serra de Sintra, situa-se a
região de “Colares”; pela sua natureza geológica, divide-se em duas subzonas: “chão
de areia” (região das dunas) e “chão rijo”
(solos calcários, pardos, de margas ou
afins). As características únicas do vinho
são condicionadas pelo solo, pelo clima
marítimo e pelas castas de referência: tinto
Ramisco, branco Malvasia. A tradição é de
“pé franco”, com a plantação efetuada em
profundidade, abaixo da camada de areia.
The creation of Lisbon wine region is the result of coordination between production
and trade of various regions, each of them with a vast history. Since ancient times there
were vineyards around Lisbon. There are Phoenician, Greeks, Roman and Visigoth traces. During Middle Ages, starting from the XII century, several religious orders were established, with an emphasis to the Cistercian Order, in Alcobaça, where Saint Bernard followers dedicated themselves to viticulture. Besides the liturgical aim, the order employed and
provided professional training to Christian citizens. Wines from “Estremadura” were vastly consumed and had a great prestige, becoming one of the most relevant products of the
economic activity of the region, identified as one of the largest wine regions in the country,
in terms of vineyard area and wine production. The grounds are not very elevated, except
in the South where some basalt and granite layers appear. The weather is mild, without
significant temperature variations, but with an annual rainfall between 600 and 700mm.
In the South of the region there are three Denominations of Origin where wine areas
are known for its tradition and prestige: Bucelas, Carcavelos and Colares. To the North
of Lisbon the region of Bucelas is located where vineyards are planted in soils that correspond to the traditional “caeiras” predominantly derived from marls and hard limestone.
The variety of reference in this region is Arinto and this is the only region exclusively delimited for quality white wines. To the West of Lisbon production area of DOC Carcavelos
is situated. This extraordinary wine is well known for many years, and nowadays it is
considered to be a rarity. In Sintra mountain range lies the region of Colares, which is divided in two subareas by its geological nature: “sandy soil” (region of dunes) and “hard
soil” (limestone, brown, marl and other types of soils). The unique characteristics of the
wine are conditioned by the soil, maritime climate and vine varieties of reference: red Ramisco, white Malvasia. The tradition is to plant vines “pé franco”, or deep in the soil below the sand layer.
the importance of wine in portuguese culture
2016
TEJO
A história da viticultura do Tejo foi comprovada por vestígios fenícios e romanos.
Alvarás dos reis da 1.a dinastia documentam a sua existência desde a Reconquista.
A exportação de vinho, no fim da primeira
metade do século XIII, atingiu 30.000 pipas para Inglaterra. Nos tempos modernos,
os concelhos de maior incidência vitivinícola (Almeirim, Alpiarça, Cartaxo, Chamusca,
Coruche, Rio Maior, Salvaterra de Magos,
Santarém e Almeirim) aumentaram de população drasticamente, devido à viticultura. A alteração da designação Ribatejo para
Tejo ocorreu em 2009/2010, sendo consti-
tuida pelas seguintes 6 subregiões: ALMEIRIM, CARTAXO, CHAMUSCA, CORUCHE,
SANTARÉM e TOMAR.
A situação climática é sulmediterrânica
temperada, com precipitação de 500600
mm/m2, limitada aos meses de Inverno e
Primavera. O Verão é de temperaturas elevadas e noites moderadas a quentes. O Inverno regista temperaturas negativas. O
principal acidente orográfico é a Serra de
Aires e Candeeiros, delimitando o que podemos chamar de Médio Tejo e Lezíria do
Tejo. A região tem três zonas distintas de
produção: o “CAMPO”, o “BAIRRO” e a
“CHARNECA”. Os solos de agricultura intensa, inclusive da viticultura, com elevada
produtividade encontram-se nas aluviões
(CAMPO), com as suas extensas planícies
adjacentes ao Rio Tejo, conhecidas também como LEZÍRIA DO TEJO. O BAIRRO,
situado entre o Vale do Tejo e os contrafortes dos maciços de Porto de Mós, Candeeiros e Montejunto, possui solos argilocalcários em ondulações suaves. A CHARNECA,
localizada a sul do CAMPO, na margem
esquerda do Rio Tejo, com solos arenosos
e medianamente férteis, apresenta rendimentos abaixo da média da região.
Na Região do Tejo existem actualmente
cerca de 19.000 hectares plantados de vinha, com predominância das castas brancas, correspondendo no seu global a cerca de 10% da produção nacional de vinho
e em que o peso dos vinhos certificados
(DOC e Regional) tem vindo a crescer, destinando-se em cerca de 30% à exportação.
The history viticulture in Tejo area was proved by Phoenician and Roman traces.
Charters from Kings of the fist Dynasty prove their existence since the Reconquest. By
the end of the first half of the XIII century, wine export to England reached some 30.000
barrels. In modern times, the counties with major wine incidence (Almeirim, Alpiarça,
Cartaxo, Chamusca, Coruche, Rio Maior, Salvaterra de Magos and Santarém) increased
drastically their population due to viticulture. The exchage of the designation from Ribatejo to Tejo occurred in 2009/2010, being formed by six sub-regions: Almeirim, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Santarém and Tomar.
The weather conditions are mild southern Mediterranean, with a rainfall of 500-600
mm/m2, limited to winter and spring months. Summers are hot, with moderate to hot
nights. Winters may register negative temperatures. The main orographic accident is Aires
and Candeeiros mountain range, delimiting what can be called Middle Tejo and Lezíria
do Tejo. The region has three distinct production areas: “Campo”, “Bairro” and “Charneca”. Intensive farming soils, including viticulture, with high productivity are in the alluvial soils (CAMPO), with its extensive plains adjacent to the Tagus River, also known as
Lezíria do Tejo. Bairro, located between the Tagus valley and Porto de Mós, Candeeiros
and Montejunto, has clay limestone soils in soft waves. Charneca, located in the South
of Campo, on the left bank of Tagus River, with sandy and averagely fertile soils, represents low production in comparison to the average of the region.
In the region of Tejo, currently some 19.000 hectares of vineyards exist, with predominance of white varieties, corresponding to 10% of national wine production, with constant increase of certified wines (DOC and Regional), whereas some 30% of the final
product is intended for export.
PENÍNSULA
DE SETÚBAL
Foram os Fenícios e os Gregos que trouxeram do Próximo Oriente castas para esta
região. Achando o clima ameno e as encostas da Arrábida e a zona ribeirinha do Tejo
propícias ao cultivo da vinha. Mais tarde,
os Romanos e os Árabes deram grande incremento à cultura da vinha nesta península”. Com a fundação do reino de Portugal,
começou a exportação de vinho. Existem
alvarás reais do final do período medieval,
comprovando o interesse do rei neste vinho.
O vinho de Azóia (perto de Setúbal) foi marca muito reconhecida no mercado inglês. A
casta fenícia Moscatel de Kelibia /Alexandria ganhou importância com a marca Moscatel de Setúbal, a nível mundial.
Situada no litoral oeste, a sul de Lisboa, esta região vitivinícola tem umterroir específico para a produção do famoso
e tão apreciado vinho licoroso. “Esta região
pode divide-se em duas z onas orográficas
completamente distintas: uma a sul e sudoeste, montanhosa, formada pelas serras
da Arrábida, Rosca e S. Luís, e pelos montes de Palmela, S. Francisco e Azeitão, estes recortados por vales e colinas, com altitudes entre os 100 e os 500 m. A outra,
pelo contrário, é plana, prolongando-se em
extensa planície junto ao rio Sado. O clima é
misto, subtropical e mediterrânico. Influenciado pela proximidade do mar, pelas bacias hidrográficas do Tejo e do Sado e pe-
p.13
las serras e montes da região.
A área delimitada abrange no total uma
superfície de 9.210 ha de vinha, admitindo-se que, dessa área, cerca de 2.075
hectares estão afetos à produção de vinhos
com Denominação de Origem. Uma grande parte dos vinhos é exportada. Existem
grandes empresas vitivinícolas na região
utilizando tecnologias avançadas de transformação, da uva ao vinho. O Vinho Regional “Península de Setúbal” produz-se em
todo o distrito de Setúbal. Já no que respeita aos vinhos com DO, temos duas regiões distintas: Setúbal, para a produção
do vinho generoso, e Palmela, onde se produzem vinhos brancos, tintos e rosados, vinhos frisantes e espumantes.
It was the Phoenicians and the Greeks who brought from the Middle East grape varieties for this region, having considered mild weather, Arrábida slopes and Tagus riverside area favourable for planting vineyards. Later, the Romans and the Arabs increased
the wine culture in this peninsula. With the foundation of the kingdom of Portugal, export of wine started. There are royal charters from the end of the medieval period that
prove King’s interest for this variety of wine. Wine from Azóia (near Setubal) was highly
valued in the English market. The Phoenician vine variety Muscatel from Kelibia/Alexandria received particular relevance around the world with the label “Moscatel de Setubal”.
Located in the West coast, to the South of Lisbon, this wine region has a specific terroir for production of the famous and much appreciated liqueur wine. This region can be
divided in two completely different orographic areas: one in the South and Southwest,
mountainous, formed by Arrábida, Rosca and Saint Louis mountains, and by Palmela,
Saint Francis and Azeitão, the latter cut out by valleys and hills, with an average altitude
of 100 and 500 metres. The other one, on the contrary, is flat and extends through the
plain near Sado River. The climate is mixed, subtropical and Mediterranean, influenced
by the proximity of the sea, by Tagus and Sado river basins and by the mountains and
hills of the region.
The delimited area covers a total surface of 9.210 hectares of vineyards, bearing that
around 2.075 of those hectares are destined to wine production with Denomination of
Origin. Great part of the wines is exported. There are big wine companies that use innovative technologies for transformation of grapes into wine. The regional wine “Peninsula
de Setubal” is produced all over the Setúbal district. Regarding wines with Denomination
of Origin, there are two different regions: Setúbal its fortified wines, and Palmela, where
along with whites, reds and rosé wines semi sparkling and sparkling wines are produced.
p.14
a importância do vinho na cultura portuguesa
ALENTEJANO
Na região Alentejana a cultura da vinha
já fazia parte dos hábitos de povos anteriores aos Romanos, como se presume pelos
Tartéssios, Fenícios e Gregos, cuja presença
é denunciada por centenas de ânforas catalogadas no sul de Portugal. No entanto, foram os Romanos que exploraram em maior
escala a vinha no Alentejo, transportando os
vinhos em barcos, pelo rio Guadiana. Aqui
se encontraram talhas de barro de todos os
tamanhos e feitios, algumas com capacidade para conter 2.000 litros, com um peso
próximo da tonelada e uma altura de quase dois metros. Com a Reconquista Cristã estabilizou-se a cultura e os monges recuperaram muitas vinhas que haviam sido
abandonadas pela ocupqação árabe. Já no
séc. XVI, a vinha florescia como nunca no
Alentejo, dando corpo aos ilustres e aclamados vinhos de Évora e outros. A primeira
crise foi provocada pela Guerra da Independência. Em meados do séc. XVII, os vinhos
do Alentejo ganharam maior fama e prestígio em Portugal. No tempo do tratado de
Methuen, a superfície vitícola expandiu-se
acima de 100.000 hectares. No entanto,
devido à paz entre a França e a Inglaterra e
ao esquecimento do referido tratado pelos
negociantes ingleses, ocorreu nova crise.
O Marquês de Pombal, devido aos seus interesses no Douro, mandou arrancar as vinhas alentejanas. Em meados do séc. XIX
houve tentativas para as recuperar. Entre
outras medidas, edificou-se em 1885 a primeira Adega Social de Portugal, em Viana do Alentejo. “Com a criação do PROVA (Projecto de Viticultura do Alentejo). A
posição meridional e a ausência de relevos
importantes são os responsáveis pelas características mediterrânica e continental do
clima. No entanto, geram-se microclimas
regionalmente muito distintos. A insolação
tem valores bastante elevados, o que se reflecte na maturação das uvas, a qual pode
atingir valores excessivos.
The winemaking culture in Alentejo region had already been part of the routine of preRoman civilizations, as can be assumed about the Tartesians, Phoenicians and Greeks,
whose presence is confirmed by hundreds of amphorae listed in the South of Portugal.
However, it was the Romans who vastly explored the winemaking in Alentejo, transporting
the wine by the Guadiana river. Terracotta tanks of all shapes and sizes can be found in the
area, some of them with 2.000 litres’ capacity, weighing almost a ton and 2 meters high.
After the Christian Reconquest, the culture stabilised and monks re-established numerous vineyards which had been abandoned during the Moorish occupation. In the XVI
century, the winemaking culture was already developing at an unprecedented rate in Alentejo, giving place to the well-known Évora wines, among others. The first crisis was provoked the Independence war, with Alentejo wines gaining more fame and prestige in the
middle of the XVII century. By the time of Methuen Treaty in 1703, the vineyard area had
expanded up to more than 100.000 hectares. However, due to peace between France
and England and the oblivion of the late treaty by the English merchants, a new crisis
occurred. Motivated by his own interests in the Douro, the Marquis of Pombal ordered to
destroy Alentejo vineyards, and in the middle of the XIX century attempts were made to
recover these vineyards. Among other measures, in 1885, Portugal›s first cooperative
wine cellar was established in Viana do Alentejo.
Southern location and absence of significant relief are responsible for Mediterranean
and continental climate characteristics. However, several very distinct regional microclimates are generated. High level of sunlight also reflects itself in grapes maturation, which
can reach excessive levels.
2016
ALGARVE
Durante os cinco séculos de ocupação
árabe, visíveis na cultura da região, apesar
de oficialmente não se poder beber vinho,
sempre se manteve a viticultura. Não só se
plantava a vinha, como se exportava o vinho produzido.
Desde a Reconquista do Algarve, em
1249, os Cristãos aproveitaram e incrementaram a organização económica deixada por aquele povo. Até à proclamação da
República, os monarcas portugueses eram
intitulados “Rei de Portugal e dos Algarves”.
O Algarve tornou-se importante como porto
de partida, durante as Descobertas, sendo
também um lugar importante de exportação do vinho. O terramoto de 1755 devastou esta região e, nos tempos posteriores,
a viticultu- ra perdeu importância. Ape-
sar da instalação de cooperativas pelo Estado Novo, uma até de enorme dimensão,
falhou a reconversão vitivinícola. Hoje, porém, com a demarcação da região e quintas de alta qualidade, o Algarve vitivinícola começa a recuperar o antigo prestígio.
A localização meridional e a protecção, assegurada pela barreira montanhosa, contra
os ventos frios do Norte, mais a exposição
em anfiteatro virado ao Sul, fazem com que
o clima seja acentuadamente mediterrânico: quente, seco, pouco ventoso, com amplitudes térmicas muito reduzidas e uma
média de insolação acima das 3.000 horas
de sol por ano. Por ação de grandes enólogos, especialmente do Alentejo, foram introduzidas castas adaptadas às novas tecnologias vinícolas. Graças a consideráveis
investimentos e transferência tecnológica,
hoje existem adegas modernas nesta região.
Existem atualmente cerca de 2.000 hectares de vinhas para produção.
During the five centuries of Moorish occupation still visible in the region’s culture, in
spite of official prohibition to drink wine, winemaking culture was maintained in the region. Vineyards were planted and wine was exported.
After the Reconquest of Algarve, in 1249, Christians took hold of, and increased the
economic organisation created by the Arabs. Until the Proclamation of the Republic, in
1910, Portugal’s Kings were called as “King of Portugal and the Algarves”. Algarve became a strategic departure point during the Portuguese Discoveries, as well as an important location for wine export. The 1755 earthquake devastated the region and, subsequently, local winemaking culture lost some of its importance. In spite of the establishment
of cooperatives during the New State dictatorial regime, the reconstruction of the region’s
wine sector failed.
However, at present, after the demarcation of the region and with high quality wine
cellars, the winegrowing region of Algarve is slowly regaining its old prestige. Its Southern location, protection against the cold Northern winds assured by the mountain range
around the region, as well as to its amphitheatre form turned to the South make the local
climate typically Mediterranean: hot, dry, with little wind, a small range of temperatures
and an average of more than 3.000 sunlight hours per year. By the hand of great oenologists, especially from Alentejo, grape varieties adapted to new winemaking technologies
were introduced. Thanks to substantial investments and technological transfer, there are,
presently, modern wineries all over the region. There are also around 2.000 hectares of
vineyards for production.
the importance of wine in portuguese culture
2016
TERRAS
MADEIRENSES
Descoberta por navegadores Portugueses em 1418, a Ilha da Madeira cedo despertou o interesse do Infante D. Henrique,
que a considerou privilegiada para o plantio da vinha e da cana do açúcar. Assim,
mandou vir da Grécia cepas Malvasia originárias de Napoli di Malvasia, perto de
Esparta, e introduziu o seu cultivo nesta
ilha”. O vinho da Madeira atingiu grande
importância. Há referência sobre a primeira exportação para Inglaterra, em 1456.
Em 1578, a exportação de vinho já foi altamente importante, passando a ser a maior
receita da ilha. Com o casamento do rei
Carlos II de Inglaterra com a duquesa de
Bragança, e a guerra de Cromwell contra
Espanha, os vinhos dos arquipélagos portugueses ganharam maior interesse para
os ingleses. O vinho Malmsey (Malvasia)
tornouse o favorito dos Ingleses. Com a
queda de Constantinopla e a ocupação da
Grécia pelos turcos muçulmanos, o vinho
da Madeira substituiu o famoso vinho grego
generoso, a nível mundial, cuja distribuição
pelos Venezianos cessou. Com o avanço da
navegação internacional, subiu ainda mais
a importância do Madeira. A fama do vinho
português era tal, que o irmão do rei Eduardo IV, acusado de homicídio e condenado à
morte, sendo-lhe dada a escolha da forma
de execução (por ser parente próximo do soberano), preferiu ser afogado num barril de
vinho Malmsey. Shakespeare refere o vinho
da Madeira na peça de teatro Henrique IV. Porém os flagelos americanos, no séc.
XIX, acabaram com o sucesso deste vinho. Somente agora, em consequência
de um excelente programa de restruturação da vinha com enxertia em porta-enxertos americanos, e da selecção clonal
das castas históricas nos anos 80, o vinho de castas de Vitis vinifera da Madeira
foi recuperado, voltando à sua anterior e
excelente qualidade enológica.
Com uma superfície total de
738 km2, a Ilha da Madeira está
situada em pleno Oceano Atlântico. Em clima ameno e terrenos
saibrosos de solos vulcânicos e
basálticos, a vinha conquistou
a Ilha e a paisagem madeirense
transformou-se. Cerca de 47% da
área total da ilha da Madeira situa-se acima dos 700 metros de
altitude, cuja ocupação de solo se
caracteriza por matas e florestas.
Discovered by Portuguese navigators in 1418, Madeira Island early aroused the interest of Henry the Navigator who considered it to be privileged for the vine and sugar cane
growing. Therefore, he ordered from Greece Malvasia vines original from Napoli di Malvasia close to Sparta, and introduced its cultivation in the Island. Madeira wine achieved
a prominent position. References to first export to England date back to 1456. In 1578,
wine exports were already great, and it became the largest source of revenue for the Island. After the wedlock of King Charles II of England and the Duchess of Braganza, as well
as Cromwell’s war against Spain, Madeira wine gained attention of the English. Malmsey
wine (Malvasia) became English people’s favourite wine. With the fall of Constantinople
and the occupation of Greece by the Turkish Muslims, Madeira wine substituted famous
Greek fortified wine when its distribution by the Venetians stopped. With the progress of
international navigation, the importance of Madeira wine increased even more. The prestige of Portuguese wine was such, that King Eduard IV’s brother charged with murder
and sentenced to death when asked to choose the way of putting an end to his life (considering his relation to the Sovereign) chose to be drowned in a barrel of Malmsey wine.
Shakespeare also refers Madeira wine in his play Henry IV. However, American plagues of the XIX century ended with the success of this wine.
Only now, as a consequence of an excellent restructuring programme of grafting of vines,
and of the clonal selection of historic vines from the 80’s, the wine of Vitis vinifera grape
variety was recovered, in accordance to its initial excellent oenological quality.
With a total surface area of 738 km2, Madeira Island is located in the Atlantic
Ocean. With mild weather and volcanic and basaltic soils, vineyards conquered the
Island and Madeira landscape suffered a transformation. Around 47% of the total area
of the Island rises some 700 meters above the sea level, whereas its occupation is characterized by woods and forests.
AÇORES
Logo após a descoberta dos arquipélagos atlânticos, no tempo do rei D. Afonso V,
o seu tio D. Henrique, o Navegador, mandou arrancar videiras na ilha de Creta para
serem aclimatadas, primeiro na Madeira,
depois nos Açores. O objectivo foi entrar
no grande negócio dos vinhos gregos generosos, aproveitando a posição destas ilhas,
na rota dos veleiros internacionais cruzando o Atlântico. A vinha, plantada em “currais” para protecção do vento, desenvolveuse bem. No início do séc. XVI, monges
carmelitas e franciscanos aperfeiçoaram as
técnicas vitivinícolas com sucesso. No séc.
XIX, a exportação atingiu 20.000 pipas e a
vinha teve uma superfície de mais de 2.000
ha. A exportação através de uma feitoria
própria no Brasil, além do comércio com a
Inglaterra e a Rússia onde o vinho do Pico
p.15
foi considerado o vinho dos Czares, revelam uma excelente organização comercial.
A partir de 1852, os flagelos americanos
destruíram a viticultura. Os híbridos americanos recuperaram, até há alguns anos,
o mercado do consumo regional e dos imigrantes. Na restruturação vitivinícola não
foi devidamente considerado o valor hemitérmico das castas, utilizado em condições
culturais alteradas, nem se compreendeu a
necessidade de substituir os currais por outros tipos de quebraventos. As marcas da
Cooperativa do Pico e os vinhos de inovação
da vinha Curral de Atlantis mostraram poder haver um futuro para os famosos vinhos
dos Açores. A restante viticultura aproveita os subsídios à manutenção da viticultura
tradicional, em currais, mais uma vez sem
grande sustentabilidade económica.
Em pleno Oceano Atlântico, à latitude de 37 a 39,5º N e a uma distância de
1.600 km a oeste da costa continental portuguesa, situa-se o arquipélago dos Açores,
constituído por nove ilhas,
em três das quais se cultiva a vinha: Terceira, Pico e
Graciosa. As condições edafoclimáticas das ilhas deste
arquipélago caracterizam-se
por ventos fortes, temperatura constante pela proximidade do mar, um solo único e distinto do conhecido
em Portugal, melhorado artificialmente com o “bagacinho” vulcânico.
Right after the discovery of the Atlantic archipelagos, during King D. Afonso V reign,
his uncle Henry the Navigator, ordered to grub up the vines from the Island of Crete
in order to be acclimated, first on Madeira island, and then in the Azores. The goal
was to enter the great business of Greek fortified wines, taking advantage of the Islands’ position in the routes of international sailboats crossing the Atlantic. The vines
planted in “corrals” for a better protection from the wind flourished and, in the beginning of the XVI century, Carmelite and Franciscan monks successfully improved winemaking techniques. In the XIX century, wine export reached 20.000 barrels and vineyards extended for more than 2.000 ha. Exports, through their own trading company
in Brazil, besides the commercial relations with England and Russia, where Pico wine
was considered the Tsars’ wine, reveal an excellent commercial organization. After
1852, the American plagues destroyed the winemaking culture. The American hybrids
recovered, until a few years ago, the regional and immigrants consumption market.
During the restructuring of the winemaking sector, the hemithermic value of the grapes used in
different cultural conditions was not properly calculated, and neither was the need to replace
the corrals by other types of windbreaks. The labels of Pico Cooperative winery and Curral
de Atlantis innovative wines showed the possibility of a future for the famous Azorean wines.
The rest of the regional winemaking sector takes advantage of the subsidies to maintain traditional viticulture in corrals, but, unfortunately, once again with little economic sustainability.
In the middle of the Atlantic Ocean, between latitude 37º and 39,5º N, and a distance
of 1.600 km West from Portugal›s continental coast, the archipelago of the Azores has 9
islands, being that on three of them viticulture is present: Terceira, Pico e Graciosa. Their
climate and soil conditions are characterized by strong winds, steady temperatures and
the proximity of the sea, unique and distinct from the mainland Portugal soil, artificially
improved with volcanic “eau-de-vie”.
p.16
a importância do vinho na cultura portuguesa
vinho português em momentos históricos
Vinho com história
Do Reino Unido aos Estados Unidos da América
passando pela Rússia e pela monarquia portuguesa,
o vinho português tem tido grande protagonismo em
alguns momentos históricos de relevância. O nosso vinho
foi citado por Shakespeare, usado como perfume nas
cortes, apreciado pelos czares russos e até houve quem
escolhesse morrer afogado em vinho português.
A história do vinho em Portugal vai para
além da fundação da nacionalidade. Considera-se que a vinha foi plantada pela primeira vez na Península Ibérica (no vale do
Tejo e no vale do Sado) cerca de dois mil
anos a.C. pelos Tartessos.
Em 1381, o vinho Moscatel de Setúbal já exportava em grande quantidade para
Inglaterra.
Os ingleses ficaram de tal forma fãs de
vinhos portugueses que em 1703, o Tratado de Methwen, assinado entre Portugal e
a Grã-Bretanha, contribuiu para a popularidade de vinho do Porto que beneficiava de
taxas aduaneiras preferenciais. Durante o
século XVIII, para os ingleses, o vinho era
praticamente sinónimo de vinho do Porto.
No Reinado de D. Maria I (1734/
1816), os vinhos portugueses adquiriram
grande projecção, tendo-se iniciado a exportação de vinhos , com destaque para
os vinhos da região da Bairrada, que foram
exportados para a América do Norte, França, Inglaterra e, em especial, para o Brasil,
onde eram muito apreciados
A 4 de Julho de 1776 foi assinada a
Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América, um documento ratificado pelas Treze Colónias na América do Norte que assim declararam a sua independência do Reino Unido. Tendo em conta que o
Vinho Madeira já estava presente nos Estados Unidos da América desde o Século XVII,
foi este o vinho escolhido para brindar a independência deste país, algo que atesta a
enorme proximidade que este arquipélago
sempre teve com aquela que é considerada a maior potência económica do mundo.
Com as Invasões Francesas (1808 /
1810) o vinho de Bucelas começou a ser
conhecido internacionalmente. Wellington apreciava-o de tal maneira que o levou de presente ao então príncipe regente,
mais tarde Jorge III de Inglaterra. Depois
da Guerra Peninsular, este vinho tornou-se
um hábito na corte Inglesa. No tempo de
William Shakespeare (1564 / 1613), o vinho de Bucelas era conhecido por “Lisbon
Hock” (vinho branco de Lisboa).
O vinho de Carcavelos era bem conhecido das tropas de Wellington que o levaram
para Inglaterra, tendo sido, durante largos
anos, exportado em grandes quantidades.
Considerado um dos vinhos de maior
requinte nas cortes, o Vinho Madeira chegou mesmo a ser usado como perfume
para os lenços das damas da corte. Na
corte inglesa este vinho rivalizava com o
vinho do Porto. William Shakespeare referiu-se ao Vinho Madeira como essência preciosa na sua peça “Henrique IV”.
O duque de Clarence, irmão de Eduardo IV (século XV) deixou o seu nome ligado a este vinho quando sentenciado à
morte, escolheu morrer por afogamento
num tonel de Malvasia da Madeira. França, Flandres e Estados Unidos da América também importavam estes vinhos. As
famílias importantes de Boston, Nova Iorque e Filadélfia disputavam os melhores
vinhos da Madeira.
No século XVIII, o vinho do Pico dos
Açores foi largamente exportado para o
Norte da Europa e até mesmo para a
Rússia. Depois da revolução (1917),
foram encontradas armazenadas garrafas de vinho “Verdelho do Pico” nas
caves dos antigos czares.
2016
Portuguese wine in historic moments
Wine with history
From the United Kingdom to the United States
of America, through Russia and Portuguese monarchy,
Portuguese wine has had great role during some relevant historic
moments. Our wine was quoted by Shakespeare, used as perfume in Courts, appreciated by Russian
Tsars, and there even was someone who chose to die drowned in
Portuguese wine.
The history of wine in Portugal goes beyond the foundation of the nationality. It is
considered that the vine was planted for
the first time in the Iberian Peninsula (in
the valleys of Tagus and Sado rivers) about
two thousand years ago by Tartessians. In
1381, the Moscatel de Setubal wine was
already exported in large quantities to England. The British were such fans of Portuguese wines that in 1703 the Treaty of Methwen was signed between Portugal and
Britain to contribute to the popularity of
Port wine which was imported with preferential customs rates. During the 18th
century, for the British, the term wine became practically synonymous to Port wine.
During the reign of Queen Mary I
(1734-1816), Portuguese wines acquired great recognition marked by the beginning of wine export, with special high-
Em 1776, foi realizado o Segundo Congresso da Filadélfia, momento em que Thomas Jefferson
redigiu a Declaração de Independência. A Inglaterra não aceitou e declarou guerra. No período
de 1776 a 1783 ocorreu a Guerra de Independência, vencida pelos Estados Unidos com o
apoio da França e da Espanha. O brinde final foi feito com Vinho da Madeira
Assinatura da Declaração de Independência, John Trumbull, óleo sobre tela, 1795
In 1776, the Second Philadelphia Congress occurred when Thomas Jefferson drafted the
Declaration of Independence. England did not accept and declared war. The Independence War
took place between 1776 and 1783, won by the United States with the support of France and
Spain. The final toast was made with Madeira wine.
light to wines of Bairrada region exported
to North America, France, England and,
in particular, to Brazil, where they were
much appreciated.
On July 4th, 1776, the Declaration
of Independence of the United States of
America was signed, the document ratified by the thirteen colonies of North America to declare their independence from
the United Kingdom. Considering that Madeira wine was already present in the United States of America since the 17th century, it was the wine chosen to toast the
independence of the new country. This
fact highlights the tremendous closeness
of this archipelago to the country considered the largest economic power in the
world.
During the French invasions (18081810), Bucelas wine began to be known
internationally. Wellington enjoyed it so
much that he took it as a gift to Prince
Regent, later King George III of England.
After the Peninsular War, this wine became common in the English court. In
the times of William Shakespeare (15641613), Bucelas wine was known as “Lisbon Hock” (white Lisbon wine).
Carcavelos wine was well known to
Wellington’s troops that took it to England,
having been exported in large quantities
for a long period of time.
Considered as one of the most refined wines in courts, Madeira wine was
even used as a perfume for the ladies’
scarves. In the English Court this wine
competed with Port wine. William Shakespeare referred to Madeira wine as precious essence in his play “Henry IV”. The
Duke of Clarence, brother of Edward IV
(15th century) left his name linked to this
wine when sentenced to death he chose
to die by drowning in a barrel of Madeira
Malvasia. France, Flanders and the United States of America also imported these
wines. The important families of Boston,
New York and Philadelphia competed for
the best Madeira wines.
In the 18th century, Pico wine from
the Azores was widely exported to Northern Europe and even to Russia. After the
revolution (1917), stored bottles of “Verdelho do Pico” wine were found in the cellars of the former Tsars.

Documentos relacionados