Sociedade - Universidade Federal de São Carlos

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Sociedade - Universidade Federal de São Carlos
Sociedade
Avaliação ergonômica identifica necessidade de instrumentos
de trabalho mais confortáveis para os carteiros de todo o país
Valda Rocha
Sob sol ou chuva, o carteiro é personagem imprescindível no cotidiano das cidades. Pelo Brasil
inteiro, o profissional é imediatamente reconhecido por todos. Sempre tem à cabeça um boné
azul, nos ombros bolsa da mesma cor, vestido
de camisa amarela e calça azul e, nos pés,
sapatos pretos. E foi exatamente nos sapatos
que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) encontrou um dos pontos
de grande insatisfação da categoria.
Teó
A empresa repassou as queixas mais
freqüentes para o grupo Ergo&Ação,
do Departamento de Engenharia de
Produção (DEP) da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), a fim
de buscar soluções que convergissem
para uma adequação dos instrumentos de trabalho à rotina desses
profissionais. A necessidade de reformulações foi reforçada pelos dados
relativos a licenças e afastamentos
médicos disponibilizados pela empresa, além de informações levantadas por pesquisas de avaliação
ortopédica e de entrevistas com os
trabalhadores.
*Primeiro verso da canção “Carteiro”, de Lupicínio Rodrigues
e Felisberto Martins (1942).
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Sociedade
Frente à solicitação, o Ergo&Ação, coordenado por
Nilton Luiz Menegon, iniciou o
desenvolvimento do trabalho,
que tinha por meta definir novas
especificações para as ferramentas e dispositivos de trabalho dos carteiros. Entre estas
estão as relativas aos calçados,
que podem ser usadas tanto
para que os correios identifiquem critérios de avaliação e
escolha, quanto para que os
fabricantes introduzam novas
características nos produtos
disponibilizados no mercado.
A equipe, formada por profissionais dos departamentos de
Engenharia de Produção e de
Educação Física da UFSCar, da
Fundação Getúlio Vargas (FGV)
e da COPPE/UFRJ (Instituto Alberto Luiz de Coimbra de PósGraduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de
Janeiro) utilizou os princípios do
projeto denominado “Ergonomia no Processo Produtivo”. Os
conceitos ergonômicos são
compostos a partir do reconhecimento de determinada atividade, respeitando as características próprias para o bom
Flávio Sganzerla
Nos sapatos, os
Correios encontraram
um dos pontos de
grande insatisfação
dos carteiros
desempenho das funções exigidas. “Ergonomia constitui-se
em um processo de introdução
de mudanças, que busca a ampliação dos espaços de regulação na atividade de projetistas
e dos trabalhadores”, define
Menegon.
No caso dos correios, foi necessário, inicialmente, conhecer
todo o funcionamento das unidades postais, de modo a identificar as muitas categorias de
equipamentos envolvidos no
processo produtivo, desde a
postagem da carta até a entrega
ao destinatário. Foram verificadas 25 categorias, que vão das
mesas e estantes de triagem de
cartas nas unidades postais até
o uniforme do carteiro.
Questionário
A partir desse raio X, foi realizada uma pesquisa nacional
enfocando vários dos itens utilizados. No caso do calçado,
foram aplicados dois questio-
nários. O primeiro, de percepção
subjetiva de conforto, trazia
perguntas que sugerem a opinião do carteiro em relação a
flexibilidade, aquecimento, impermeabilidade e tamanho do
calçado, entre outros. Já no
questionário ortopédico, os trabalhadores passaram por uma
avaliação médica, na qual foram
avaliadas questões sobre graus
de amplitude dos movimentos
dos pés, sensibilidade, deformidades, presença de calosidades e de doenças dermatológicas, entre outras.
Embora os questionários fossem formados majoritariamente
por questões fechadas, foram
aplicadas duas perguntas abertas no final do instrumento
sobre conforto. Em uma, os entrevistados indicaram regiões de
desconforto nos pés em função
do uso do calçado fornecido
pela empresa e, na outra, fizeram
sugestões para um bom sapato
a ser utilizado no dia-a-dia. Os
carteiros puderam indicar, em
desenhos de pés impressos nos
formulários, os locais exatos
onde porventura sofressem com
dores. “Essa metodologia facilitou o trabalho de apuração
da pesquisa, já que não foi preciso definir nominalmente as regiões anatômicas”, explica Paula
Menegon: “Conceitos ergonômicos são compostos a partir do
reconhecimento de determinada atividade, respeitando as
características próprias para o bom desempenho
das funções exigidas”
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Cruzamento de
informações revelou
relações entre o
calçado e dores e
acidentes
do solado ou da palmilha, o que
restringe a desenvoltura das
articulações responsáveis pelo
andar”, afirma Paula.
Foram encaminhados quatro
mil questionários para carteiros
de dezesseis Estados e do Distrito
Federal, sendo considerados válidos 3.744 formulários. A partir
dos resultados obtidos, foi possível analisar as características
do calçado em uso em relação a
conforto e segurança, assim
como cruzar essas informações
com os dados do questionário
ortopédico.
Outro índice importante verificado foi o de torções de tornozelo durante o trabalho devido à caminhada em terreno
irregular. Dos entrevistados, 35%
tiveram o problema, que, segundo Paula, pode ser resultante
de inadequações no cabedal
(parte superior) do calçado, que
deveria ter contrafortes laterais,
capazes de favorecer a estabilidade da articulação e, assim,
prevenir entorces. Foram registradas queixas também em relação ao aquecimento e à permeabilidade do calçado. O relato de
altas temperaturas aparece em
56% das entrevistas, principalmente entre os carteiros dos
Estados do Norte e Nordeste. Na
Bahia, por exemplo, o índice de
queixas chega a 71%. Em relação
à permeabilidade, quase a totalidade dos carteiros (94%) apresentou algum tipo de reclamação.
Concluída a tabulação, verificou-se que existe uma relação
entre as características do calçado – como flexibilidade da
sola e da palmilha – e queixas de
dores articulares. A pesquisa
revelou que 65% dos trabalhadores consideram a sola rígida e, conseqüentemente, 72%
relataram dores na parte anterior da tíbia (canela).“Esse fato
implica em muito esforço físico
ao caminhar, possivelmente causado pela falta de flexibilidade
A variável fôrma revelou que
67% dos profissionais consideram o calçado apertado. O
maior índice de queixas neste
sentido refere-se à largura do
sapato (46%). As dimensões do
bico respondem por 24% das
reclamações. Já o calcanhar foi
citado por 18% dos entrevistados e o peito do pé por 12%.
Pesquisas mostram que o que
gera tais queixas é o fato da indústria de calçados brasileira
disponibilizar, no mercado
Hentschel L. da Costa, professora
do Departamento de Educação
Física da UFSCar e uma das
coordenadoras do projeto.
Respostas
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Arquivo ECT
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Equipamentos identificados vão desde
as mesas e estantes de triagem de
cartas até o uniforme e o sapato
interno, modelos de fôrma com
uma única largura e somente
opções de números inteiros
para o tamanho.
As reclamações em relação à
palmilha giram em torno do
conforto e da higiene. Dos entrevistados, 64% consideram a
palmilha pouco macia e 65%
atribuem a ela um odor desagradável (os calçados não possuem
palmilhas removíveis, o que
torna a lavagem impossível).
Outro passo
Os resultados do levantamento mostraram como não deve
ser o calçado utilizado pelos
carteiros. A partir disso, a equipe
do projeto detalhou algumas
recomendações. A proposta
para a fôrma é que sejam adotados números inteiros e meios,
além do fornecimento de um
gabarito que simule o teste de
calce do carteiro e, assim,
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possibilite a solicitação do tamanho correto.
Em relação ao material do cabedal, os pesquisadores consideram o couro o mais indicado, por melhorar a permeabilidade, favorecendo a transpiração e reduzindo o aqueci-
mento. Além disso, é um material com qualidades de
modelagem aos diferentes tipos
de pés. O cabedal deve também
ser forrado, o que elimina o
contato direto com as costuras.
As palmilhas devem ser macias
e passíveis de remoção e
lavagem, além de inertes à pro-
liferação de fungos. Já a sola
deve ser flexível e possuir sulcos
e biqueira, para facilitar a função de direcionamento.
O estudo também definiu ações a partir das variáveis de
segurança, no que se refere à
sola e ao cabedal. Este último
Quando o carteiro chegou, e o meu nome gritou...
A história dos serviços postais no Brasil
Atualmente, é provável que um grande número de
pessoas prefiram a Internet e seu correio eletrônico a
receber uma carta pelas mãos de um carteiro. No entanto,
é inegável a importância desses profissionais na história
da comunicação a distância no mundo. Tambores, sinais
de fumaça e pombos-correio parecem situações muito
longe da realidade atual, exatamente porque, em algum
momento da história das civilizações, surgiram os
mensageiros, que percorriam grandes distâncias a fim de
possibilitar a comunicação entre as pessoas. No ano 10
aC, por exemplo, o imperador romano Otávio Augusto
decidiu construir estradas para que os mensageiros
desempenhassem sua tarefa. Os povos incas faziam um
revezamento: a cada cinco quilômetros, um homem esperava o outro, interceptando a mensagem
e seguindo adiante até
Entrega domiciliar
o próximo interceptor.
começa em 1844;
O percurso era feito por
transporte aéreo é
uma estrada de pedra
com cerca de oito mil
de 1927
quilômetros de extensão entre a Colômbia e
o Chile.
No Brasil, o mensageiro foi chamado pela primeira vez
de carteiro após um decreto publicado em 29 de
novembro 1842, no qual foram detalhados os deveres
do carteiro, bem como a punição para os profissionais
relapsos e a perda do direito ao serviço de entrega postal
de toda pessoa que maltratasse o seu mensageiro.
Mas, a primeira correspondência oficial brasileira é de
1.500, quando a imortalizada carta de Pero Vaz de
Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel, foi escrita,
descrevendo com riqueza de
detalhes as maravilhas da terra
recém-descoberta por Pedro
Álvares Cabral. Naquele tempo,
os problemas de ligação postal
entre Portugal e a Colônia eram
imensos, por falta de uma estrutura que possibilitasse locais
fixos de despacho e recebimento
de correspondências. Em uma
tentativa de minimização desses entraves, foi criado o
“Correio-Mor das Cartas do Mar”, em 1673. Mas as dificuldades só foram efetivamente solucionadas com a criação dos Correios Marítimos, em 1798, que estabeleceu uma
ligação postal regular entre o Rio de Janeiro e Lisboa. No
mesmo ano, foi aberta a primeira agência postal na cidade
de Campos (RJ) e, em 1801, foi instituído no país o serviço
de caixas postais. A entrega domiciliar teve início em 1844
e, em 1927, o transporte de correspondência por via aérea
foi incorporado aos correios, com entregas na América do
Sul e Europa.
O Departamento de Correios e Telégrafos (DCT) foi
instituído em 1930, no governo de Getúlio Vargas. O DCT
originou, em 20 de março de 1969, a Empresa Brasileira
de Correios e Telégrafos (ECT). Segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), a ECT conta com 82
mil funcionários, 21 mil colaboradores indiretos e 10.500
agências, além de milhares de caixas de coleta. A empresa
movimenta um volume diário de 24,9 milhões de objetos
postais, que incluem cartas, impressos e encomendas. Ao
todo, 99,4% da população brasileira é atendida pelas
agências espalhadas pelo país e 77% dos brasileiros
usufruem o benefício da entrega postal domiciliar.
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Antigo x Novo
A partir desse detalhamento,
o projeto começou uma nova
etapa, com um seminário na
cidade de São Paulo, em dezembro de 1999. O evento contou com a participação dos
profissionais já envolvidos e de
representantes da Centropé/Dr.
Sholl (empresa de calçados ortopédicos); do Laboratório de
Biomecânica de Marcha e Calçados Esportivos do Departamento de Biomecânica da Universidade de São Paulo (USP); e
do Centro de Tecnologia em
Couros, Calçados e Afins (CTCCA)
do Rio Grande do Sul, responsável pelos testes de concessão
do selo de conforto para calçados; além de empresas da
indústria calçadista.
Na ocasião, foi lançada a proposta de construção de um novo
calçado que respeitasse as especificações identificadas pela
pesquisa. “A estratégia adotada
foi repassar as características desejáveis de conforto e segurança
para os fornecedores, deixandoos livres para apresentarem seus
próprios modelos”, conta Menegon. Lançado o desafio, três
empresas apresentaram modelos para a avaliação, dividida em
duas etapas.
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Fôrma: números inteiros e
meios e gabarito que simule
o teste de calce, para facilitar
a escolha.
Cabedal: de couro, com forro
e contraforte.
Palmilhas: macias, removíveis e inertes à proliferação
de fungos.
Sola: flexível, com sulcos e
biqueira, além de prevenir
deslizamentos.
Comparação entre os modelos antigos (esquerda) e os que seguem
as recomendações de conforto e segurança
A primeira fase, eliminatória,
teve quatro modalidades de
testes. Um deles, realizado por
meio de um aparelho pneumático de impacto mecânico,
mediu a proporção entre a capacidade de carga e a deformação
ocorrida, através das variáveis de
elasticidade e densidade da sola
e de flexibilidade do antepé. A
avaliação biomecânica identificou a relação entre o calçado
e o movimento humano, através
de indicadores de impacto, pressão plantar e estabilidade médio-lateral do calçado. O professor da Universidade Estadual
de Santa Catarina (Udesc) e
membro do CTCCA Aluízio Otávio V. Ávila conta que, para medir
a pressão plantar, por exemplo,
são colocadas palmilhas sen-
sorizadas nos modelos em teste.
“Essa malha de sensores ligada
a um computador é capaz de
medir, durante a marcha, a distribuição da força utilizada por
toda a área do pé ao caminhar,
respeitando o limite de 290 kg/
Pascal, medida padrão adotada
para os calçados destinados aos
carteiros”, explica Ávila.
Na seqüência, foram realizados testes de percepção do
carteiro, com a aplicação de
perguntas sobre funcionalidade
do calçado e eventual incidência
de lesões e, também, testes
ortopédicos, nos quais são avaliadas as medidas de comprimento, largura e circunferência
do calçado e características
antropométricas dos pés relacionadas à fôrma.
Arquivo ECT
deve ser provido de contraforte.
A sola deve ser de um material
que previna deslizamento em
pisos molhados, além de possuir
proteção adequada na região
dos dedos.
Sociedade
equipe considerou o modelo
apresentado e repassou o
problema para o fabricante.
Protótipos
Um dos três modelos apresentados foi eliminado na primeira etapa. O segundo modelo apresentou adequações
às variáveis de segurança, mas
não seguiu as especificações
de conforto necessárias. Mesmo assim, esses calçados foram
para teste de campo, sendo
rejeitados a partir do segundo
dia de uso.
O terceiro modelo, aprovado
nas avaliações preliminares, foi
a campo com a realização de
testes com dois pares, um em
São Carlos e outro em Florianópolis. Eles obtiveram avaliações
superiores às dos calçados tradicionalmente utilizados;
porém, apresentaram problemas de resistência mecânica na junção da sola com o
cabedal (ou seja, os calçados
furaram durante os testes). A
O protótipo passou por
reformulações e novos testes, até a definição do modelo que foi a campo em
maior escala, com a distribuição de 50 pares em
sete capitais do país e
uma cidade do interior
de São Paulo (Brasília,
Belo Horizonte, Curitiba, Manaus,
Rio de Janeiro, Fortaleza, Belém
e Bauru). Os carteiros do Ceará
Francisco Eduardo L. Cavalcante
e Antônio Matos de Sousa, que
participaram dos testes, realizados no segundo semestre de
2001, reforçam as avaliações
preliminares de que o novo
calçado é bem mais confortável
do que o anterior.“O tênis é mais
macio, não permite a entrada de
chuva, mas ao mesmo tempo
possibilita uma melhor transpiração e uma temperatura interna amena”, comenta Sousa,
que percorre cerca de 17 quilômetros por dia.
Depois das muitas etapas
vencidas, em 2003, a Associação
Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) concedeu o
selo conforto ao novo modelo,
após submetê-lo aos testes do
CTCCA. Segundo a coordenadora do Departamento de
Saúde dos Correios, Simotea
Hoffmeister, já foram adquiridos
sete mil pares do tênis, para
serem distribuídos no primeiro
semestre deste ano.
Assim como o sapato, outros
produtos passaram por um minucioso processo de especificação e aguardam aprovação.
O uniforme deve receber versões para o verão, com bermuda
para os homens e saia-calça para
mulheres, acompanhadas de camisetas. Outros produtos – como protetor solar, óculos de sol,
patinetes, carrinho de mão e
bicicleta – também estão sendo
avaliados.
Uniformes para o verão
e produtos como
protetores solares,
carrinho de mão e
bicicleta estão em fase
de especificação
Arquivo ECT
ECT
Arquivo
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Ergonomia cria tensão com o modelo de
racionalidade produtiva vigente
Na Embraer, mais de 50 instrumentos e dispositivos foram alterados desde 2001
É a partir desses conceitos que o grupo
desenvolve novas estratégias de funcionamento que equacionam, em patamares superiores, critérios de eficácia
produtiva e de bem estar humano. Em
trabalho com a Embraer (Empresa Brasileira
de Aeronáutica), o grupo implementou
alterações em cerca de 50 instrumentos e
dispositivos utilizados na montagem das
aeronaves, desde junho de 2001 até o
momento.
Uma dessas alterações aconteceu na luva
de absorção de impacto dos marteletes
pneumáticos utilizados pelos operadores na
montagem estrutural das aeronaves.
Menegon conta que o equipamento anterior limitava os movimentos da mão,
devido à inflexibilidade do material utilizado. “Usando como modelo uma luva de
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ciclista e com a colaboração de um fabricante nacional, adaptamos o produto de
forma a garantir o conforto sem alterar a
segurança do funcionário e, principalmente,
permitindo maior liberdade de movimentos
na execução dos trabalhos. O resultado tem
sido muito bom.”
Cadeira
Outro exemplo de ação ergonômica na
linha de montagem da Embraer é o da
cadeira do chapeador (funcionário responsável pela montagem estrutural da
aeronave). A função exige posições de
trabalho extremas; por isso, os trabalhadores
improvisam cadeiras e outros dispositivos
para melhorar o equilíbrio. A cadeira utilizada a princípio possuía regulagem por
meio da inclinação do encosto. Segundo o
coordenador do Ergo&Ação, o principal
problema encontrado era a sustentação da
postura por meio da musculatura da região
do pescoço.
presa de São Carlos. A cadeira possui um
ângulo fixo entre o assento, o encosto e o
apoio para cabeça. A regulagem da altura
dá-se pelo giro do conjunto em até 45
graus em relação ao eixo horizontal e pela
translação em até 30 centímetros na
direção vertical. A solução foi transferida
para um fornecedor da Embraer, que
aprimorou o conceito e irá fornecer em
breve o primeiro lote com 30 unidades.
Variações estão sendo desenvolvidas para
outras aplicações, em situações de trabalho na parte inferior das aeronaves.
Embraer
Com mais de 30 anos de experiência, a
Embraer é a quarta maior fabricante de
aeronaves comerciais do mundo (atuando
em projeto, fabricação, comercialização e
pós-venda). Em 2002, foi a segunda maior
empresa exportadora do Brasil. Atualmente, emprega cerca de 12 mil funcionários e gera mais de três mil empregos
indiretos.
Detectado o problema, foram pesquisadas soluções que mantivessem fixo o
ângulo entre o assento e o encosto, como
em modelo disponível no mercado americano.“Além de cara, a solução inicialmente
encontrada possuía mais um
inconveniente: o ângulo de 90 graus
entre o encosto e o assento era inaInstrumentos e dispositivos desenvolvidos
dequado para a atividade dos chaa partir das recomendações do grupo
peadores”, revela Menegon. A partir
Ergo&Ação, para a ECT e a Embraer
das considerações biomecânicas e
das características da atividade
desses funcionários, buscou- -se
uma outra alternativa. O primeiro
protótipo foi construído com componentes padrão do mobiliário para
escritório.
Flávio Sganzerla
Nos dicionários, ergonomia é “um
conjunto de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função
do fim proposto e das relações entre o
homem e a máquina”. Para o grupo
Ergo&Ação, a ergonomia é muito mais do
que isto. É uma técnica social que visa
recuperar as relações intrínsecas entre os
produtos consumidos e as atividades de
trabalho necessárias para sua materialização. Em síntese, a carta pressupõe o
carteiro, assim como o avião pressupõe o
chapeador de montagem estrutural, e
vice-versa. Segundo o coordenador do
grupo, ao recuperar tais relações, a ergonomia cria uma tensão com o modelo de
racionalidade produtiva vigente, questionando as representações sociais acerca
do que é a técnica, o trabalho e o próprio
homem no interior de uma situação
produtiva.“Obviamente essa tensão não se
resolve de forma unilateral. É necessário
criar um processo de negociação e de
construção de novas representações
sociais em relação ao trabalho numa situação específica”, afirma Menegon.
O conceito final, testado e aprovado pelos operadores, foi confeccionado pelo grupo do DEP/
UFSCar em parceria com a metalúrgica Benetto, uma pequena em-