compromisso com os agricultores
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Melhores ferramentas e melhores colheitas para uma vida melhor COMPROMISSO COM OS AGRICULTORES En sa io s d e c ampo d e i n ova çõ e s n a a gr i c ul t u ra R E L AT Ó R I O A N U A L 2 0 1 0 COMPROMISSO COM OS AGRICULTORES En sa io s d e c ampo d e i n ova çõ e s n a a gr i c ul t u ra R E L AT Ó R I O A N U A L 2 0 1 0 Relatório anual 2010. Compromisso com os agricultores: Ensaios de campo de inovações na Agricultura ISSN 1817-5813 © Fundação Africana para as Tecnologias Agrárias 2011. Todos os direitos reservados A editora incentiva o uso equitativo deste material, desde que a sua origem seja mencionada adequadamente Colaboradores: Hodeba J Mignouna, Nancy Muchiri, Francis Nang’ayo, Nompumelelo Obokoh, Sylvester Oikeh, Elhadj Moussa Adam, Gospel Omanya, Alhaji Tejan, Peter Musyoka, Grace Wachoro, Stella Simiyu-Wafukho, Amos Kimebur Editores: Nancy Muchiri, Peter Werehire, Liz Ng’ang’a Concepção: Nancy Muchiri Concepção gráfica e tradução: Green Ink (www.greenink.co.uk) Fotógrafos: Capa – © David Larsen/Africa Media Online; capa interna – © Mark Lewis/ Images of Africa; página 3 – © Ariadne van Zandbergen; página 11 – © Chana Weiss/Images of Africa; página 15 – © Ilan Rosen; página 19 – © Colin Walker/Africa Media Online; página 23 – © Ilan Rosen; página 27 – © Andrew Esiebo/Africa Media Online; página 31 – © Ariadne van Zandbergen/Images of Africa; página 35 – © Hein von Hörsten/Images of Africa; página 37 – © Ariadne Van Zandbergen; página 39 – © Osodi Emmanuel/Majority World; página 43 – © Ilan Rosen; todos os outros fotógrafos – © WARDA, IRRI e AATF Impressão: Majestic Printing Works, Quénia Capa. Esta mulher pertence à tribo Samburu do Quénia. Colares como o dela podem pesar vários quilogramas. Parte interna da capa da frente. Os anéis de cobre, chamados idzila, no pescoço desta mulher Ndebele indicam que ela é idosa. Ela usa um capaing na cabeça como forma de respeito pelo marido. Este adereço de cabeça particular é conhecido como amacubi, mas pode também pode tomar a forma de um chapéu tricotado ou de uma simples faixa na cabeça com contas. As mulheres casadas usam nguba, uma manta de casamento decorada com contas para marcar eventos significativos durante a vida de uma mulher.. 1 Índice 2 Quem somos 4 Destaques de 2010 6 Mensagem do Presidente do Conselho 8 Mensagem do Diretor Executivo 10 A luta dos Agricultores contra a Estriga nos campos de milho – Aumento da produção e distribuição de sementes 14 Segundo ensaio de campo confinado plantado com sucesso na Nigériaa 18 Ensaio de campo confinado plantado no Uganda 22 Ensaio de campo confinado aprovado no Quénia, no Uganda e na África do Sul 26 Projeto prepara ensaio de campo confinado para arroz transgénico em 2012 30 Confirmada a eficácia do AflaSafe™ 34 Regulamentação de Biotecnologia no Sub-Saara Africano 36 Gestão responsável da Propriedade Intelectual na Agricultura 38 Criar confiança em parcerias público-privadas 42 A OFAB reflete sobre sucesso, desafios e lições 44 Relatório Financeiro 46 Membros do Conselho da AATF em 2010 48 Colaboradores da AATF em 2010 RELATÓRIO ANUAL 2010 2 Quem somos A Fundação Africana para as Tecnologias Agrárias (African Agricultural Technology Foundation) é uma organização sem fins lucrativos que promove parcerias público-privadas para dar acesso e fazer chegar tecnologias patenteadas e apropriadas à agricultura a agricultores de pequenas propriedades e poucos recursos na África do Sub-Saara. A AATF fornece serviços de perícia na identificação, no acesso, no desenvolvimento e na utilização de tecnologias agrárias patenteadas. A Fundação também contribui para a construção de capacidade em África envolvendo instituições no continente nas diversas parcerias através das quais executa o seu mandato. A AATF é uma organização de beneficência registada sob as leis da Inglaterra e do País de Gales e foi-lhe concedida isenção de impostos nos Estados Unidos da América. Foi incorporada no Quénia e no Reino Unido e recebeu o estatuto de convidado nacional pelo Governo do Quénia, onde tem a sua sede. Visão – o que queremos para os agricultores africanos Agricultores prósperos e uma África segura em termos de alimentos através de agricultura inovadora. Missão – O que fazemos pelos agricultores africanos Ter acesso e conseguir tecnologias agrárias a preços acessíveis para serem usadas de forma sustentável por agricultores de pequenas propriedades, em particular os agricultores com poucos recursos do Sub-Saara Africano, através de parcerias inovadoras e uma tutela eficiente de tecnologias e produtos ao longo toda a cadeia alimentar. Os nossos Princípios – o que nos mantém fortes Esforçamo-nos por fazer respeitar três princípios essenciais e duradouros: Integridade, Dedicação e Acessibilidade. Estes valores guiam as nossas decisões, ações e relacionamentos, à medida que trabalhamos para completar a nossa missão. A nossa estratégia Promover parcerias público-privadas, tutela de tecnologia e gestão de informação e conhecimento são aspetos chave da nossa estratégia. Fundamentamos as nossas atividades em três bases estratégicas: • Negociação do acesso a tecnologias patenteadas que melhoram a produtividade da agricultura em África; • Gestão de parcerias para a formulação de projetos, desenvolvimento e transferência dos produtos para introduzir tecnologias agrárias inovadoras em sistemas agrárias africanos; e • Gestão de conhecimento e informação para apoiar a identificação e o desenvolvimento de tecnologia, assim como ajudar a criar políticas ambientais mais conducentes ao desenvolvimento agrário de pequenas propriedades. As nossas raízes O modelo para a Fundação Africana para as Tecnologias Agrárias resultou de dois anos de consultas pela Fundação Rockefeller e o Quem somos 3 Moçambique. O vestuário moçambicano reflete a fusão de várias culturas e também o estatuto económico de quem o usa. As mulheres que vivem em áreas rurais ainda usam principalmente o vestuário tradicional chamado a capulana, um pano à altura do tornozelo que é amarrado na cintura e que é usado com uma blusa e chapéu a condizer. A pasta branca no rosto desta mulher é conhecida como musiro, e apenas as virgens ou mulheres cujos maridos trabalham longe de casa podem usá-la. Meridian Institute com vários participantes africanos, norte-americanos e europeus. As sessões, referidas como ‘Biotechnology Dialogues’ (Diálogos de Biotecnologia), foram realizadas para determinar formas de reduzir o fosso crescente entre a ciência agrária controlada por países desenvolvidos e as necessidades dos pobres nas regiões em desenvolvimento do Sub-Saara Africano. O envolvimento dos participantes nestas deliberações foi garantido através de uma Comissão de Consultoria do Projeto ‘Design Advisory Committee (DAC)’, compreendendo representantes dos serviços nacionais africanos de investigação agrária, o Grupo de Consultoria sobre Centros Internacionais de Investigação Agrária ‘Consultative Group on International Agricultural Research (CGIAR)’, empresas africanas de sementes e biotecnologia, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económico ‘Organisation for Economic Cooperation and Development’, corporações de ciência de colheitas e organizações doadoras. O DAC serviu de arquiteto da AATF, definindo os grandes princípios subjacentes e um modelo operacional para a Fundação ao tratar de desafios como a segurança alimentar e a redução da pobreza. A comissão esclareceu ainda as razões principais para a existência da AATF e os seus princípios fundamentais, missão e modelo de negócio. funcionários da Fundação são todos nacionais de países do Sub-Saara Africano. Administração • Produtores e consumidores agrários • Instituições e agências nacionais e regionais (NARs, SROs, RECs, ECA, FARA, AU/NEPAD) • Instituições/agências internacionais (CGIAR, ARIs) • ONGs locais/internacionais • O setor de tecnologia agrária e os titulares de IP públicos (Monsanto, Arcadia Biosciences, BASF, DowAgro, Pioneer/ DuPont, Syngenta, Academia Sinica) • Organizações africanas de comércio e negócios agrários • Governos africanos A AATF é uma organização flexível concebida para responder às necessidades variáveis dos seus participantes. O Conselho de Administração estabelece a rota ao decidir quais as intervenções que têm mais possibilidades de reduzir a pobreza e aumentar a segurança alimentar. Isto cria uma separação saudável entre o estabelecimento de prioridades e a monitorização do progresso, por um lado, e a gestão e o funcionamento do dia-a-dia, por outro. Os membros do conselho da AATF são pessoas distintas do mundo inteiro, enquanto os Investidores • A Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID): A agência dos Estados Unidos responsável por proporcionar e gerir assistência económica e humanitária em todo o mundo. • Ministério para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID): O ministério do Reino Unido responsável pela promoção do desenvolvimento económico e pela redução da pobreza a nível mundial. • Fundação Bill e Melinda Gates: orientada pela convicção de que todas as vidas têm valor igual, a esta fundação trabalha para ajudar todas as pessoas a viverem de forma saudável e produtiva. Em países em desenvolvimento, concentra-se em melhorar a saúde das pessoas e em darlhes oportunidade de saírem da fome e pobreza extremas. Nos Estados Unidos, procura garantir que todas as pessoas – especialmente aquelas com menos recursos – têm acesso às oportunidades de que precisam para ter sucesso na escola e na vida. • Fundação Howard Buffet: uma fundação privada que apoia principalmente o desenvolvimento agrário e a distribuição de água potável em áreas rurais, focada na África e na América Central. Parceiros RELATÓRIO ANUAL 2010 4 Destaques ano 2010 Fevereiro • A segunda reunião de Revisão e Planeamento Anual do WEMA tem lugar em Maputo, Moçambique, de 8-11 Fevereiro. Compareceram à reunião mais de 60 representantes de todas as organizações em parceria com o WEMA. A reunião foi oficialmente aberta pelo Prof Eng.º Venâncio Massinga, Ministro para Ciência e Tecnologia de Moçambique. • O WEMA-Quénia colhe o ensaio simulado plantado em Setembro 2009 em Kiboko, Quénia. Estão presentes representantes do CIMMYT, Monsanto, AATF, Comissão Nacional de Biossegurança (NBC) e Serviço de Inspeção Fitossanitária do Quénia (KEPHIS), para garantir que são cumpridos os procedimentos para a colheita de um ensaio confinado ao terreno. Abril • Uma sessão de formação regional para construir a capacidade para praticantes de cultura de tecido para uma micropropagação em massa eficiente e eficaz de plântulas de banana na região dos Grandes Lagos da África tem lugar em KARI-Thika no Quénia, juntando praticantes do setor público e privado na cultura de tecido (TC) de banana na região dos Grandes Lagos de África – Quénia, Uganda e Tanzânia. • A décima quinta reunião do Conselho de Administradores da AATF tem lugar em Nairobi, Quénia, onde é tomada a resolução de que os dadores da AATF terão estatuto de observador durante as reuniões do Conselho da Fundação. • Uma reunião de participantes regionais do WEMA tem lugar na África do Sul, com mais de 70 participantes de diferentes grupos de participantes, incluindo líderes de associações de agricultores, chefes de associações de comerciantes de sementes, membros do parlamento, secretários permanentes em ministérios de agricultura e ciência e tecnologias, defensores de biotecnologia e representantes dos meios de comunicação, entre outros. Maio • O projeto para melhorar a resistência das bananas à doença que as ataca - murcha por Xanthomonas (BXW) - em África realiza a primeira reunião da Comissão de Consultoria do Projeto, em Kampala, Uganda, para rever o progresso do desenvolvimento do produto, o estado de preparação para ensaios de campo confinados, mobilização de recursos e gestão de componentes fundamentais do projeto. • O primeiro ensaio transgénico WEMA é colhido em Lutzville, África do Sul, na presença de representantes do Departamento de Agricultura, Florestas e Pesca para monitorizar o cumprimento das condições licenciadas. Julho • São importadas de CSIRO, Austrália, sementes de feijão-frade resistente a Maruca, de três linhas de transgénicos, para o segundo ensaio da Nigéria do feijão-frade com expressão Bt que foi plantado a 27 de Julho de 2010 no Instituto de Investigação Agrária (IAR), Samaru. De cima para baixo: Jane Otadoh, membro da equipa regulamentar WEMAQuénia, assiste à colheita do ensaio de simulação em Fevereiro 2010 em Kiboko. Membro do Conselho Kevin Natchtrab (esquerda) conversa com a funcionária Stella Simiyu-Wafukho durante o jantar da 15ª Reunião do Conselho, cujo anfitrião foi o Presidente do Conselho. Dr. Shadrack Moephuli, Diretor Executivo do Conselho de Investigação Agrária da África do Sul, ao fazer as observações de abertura durante a reunião de participantes regionais do WEMA que teve lugar em Joanesburgo em Abril de 2010. Destaques ano 2010 Agosto • Cientistas e técnicos de institutos em parceria com a AATF no projeto de feijão-frade resistente a Maruca – o Instituto de Investigação Agrária (IAR), Nigéria, o Instituto de Investigação Agrária Savanna (SARI), Gana, e o Instituto do Ambiente e de Pesquisas Agrárias (INERA), Burkina Faso, são treinados em criação em massa de Maruca vitrata. A formação visa delegar aos países que participam no projeto de feijão-frade resistente à Maruca poder para a criação de instalações de para uma fornecimento contínuo de larva de Maruca para a infestação de vários eventos em ensaios de campo confinados (CFT). O curso de formação, facilitado pela AATF, foi realizado pela Unidade de Criação de Insetos de IITA-Ibadan. • A AATF, em parceria com o IITA e o Instituto de Investigação Agrária do Quénia (KARI), inicia o processo para a avaliação da tecnologia de biocontrolo de aflatoxina no Quénia em Kampi ya Mawe, Katumani, Kiboko, e Bura, em colaboração com os Serviços de Inspeção de Fitossanidade do Quénia (KEPHIS). 5 • A revisão intercalar do projeto do WEMA, envolvendo todos os parceiros e equipas, é feita pelo Dr. Greg Edmeades e pelo Dr. James Okeno, os consultores nomeados pela Fundação Bill & Melinda Gates com o objetivo de proporcionar uma avaliação independente da contribuição e saúde geral do projeto. • O primeiro ensaio de campo confinado de sempre (CFT) de feijão-frade resistente a Maruca transgénica plantado em África é implementado na Nigéria no Instituto de Investigação Agrária (IAR) a 25 de Agosto. Isto constitui um marco importante no desenvolvimento de feijão-frade resistente a Maruca para a África. • A Rede Africana de Perícia em Biossegurança /AUNEPAD (ABNE) visitou a AATF em Agosto para debates sobre áreas de colaboração possível. A reunião foi realizada em seguimento de uma que teve lugar entre as duas organizações em Burkina Faso em Julho. A Rede é um centro de recursos em biossegurança, com base científica, abrangendo todo o continente, para informar legisladores africanos com o objetivo de fornecer serviços de biossegurança a membros de comissões nacionais de biossegurança, comissões internas de biossegurança e agências de quarentena de plantas. Setembro • A Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO) assina um memorando de entendimento (MoU) com a AATF e aceita a Fundação como uma ONG de observação internacional, o que permite à AATF oferecer contribuições construtivas e substanciais às deliberações das Assembleias da WIPO. Outubro • Um ensaio de campo confinado para avaliar plantas de bananas transgénicas no que se refere a resistência a BXW é plantado a 5 de Outubro no Instituto de Investigação Nacional em Kawanda, Uganda, depois de obter aprovação da Comissão Nacional de Biossegurança do Uganda (NBC). Novembro • A Fundação Bill & Melinda Gates aprova uma proposta da AATF procurando apoio financeiro de US$ 200.000 para o Fórum Aberto sobre Biotecnologia Agrária (OFAB) – com setores nacionais no Quénia, Uganda, Tanzânia e Nigéria – por um período de um ano. • A décima sexta reunião do Conselho de Administração da AATF tem lugar em Dar es Salaam, Tanzânia. Dezembro • O WEMA no Quénia implementa o primeiro ensaio de campo confinado (CFT) de transgénicos tolerantes a secas (drought tolerant - DT) no Quénia, em Kiboko, a 1 de dezembro 2010. Estão presentes participantes do WEMA-Quénia, CIMMYT, Monsanto, AATF, Ministério da Agricultura do Quénia e Serviço de Inspeções Fitossanitárias do Quénia (KEPHIS) para testemunharem e darem assistência à plantação. DE CIMA PARA BAIXO: A equipa do WEMA visita o campo experimental do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) durante a reunião de revisão e planeamento do WEMA, em Maputo, Moçambique, em Fevereiro 2010. Pessoas que tomaram parte na reunião regional de participantes do WEMA, realizada na África do Sul em Abril de 2010. James Karanja, cientista do Instituto de Investigação Agrária do Quénia (KARI), conta algumas sementes antes de serem plantadas. RELATÓRIO ANUAL 2010 6 Mensagem do Presidente do Conselho de Administração Nas últimas décadas, o tema da segurança alimentar no Sub-Saara de África (SSA) manteve-se central em importantes discussões mundiais. Esta atenção advém das deficiências contínuas do continente na produção alimentar e é fortemente reforçada pela inter-relação complexa entre a agricultura e outros desafios sociais, económicos e de desenvolvimento em África. As deliberações mundiais identificaram algumas estratégias chave em relação à segurança alimentar em África, tais como a necessidade de tecnologias adequadas, permitir políticas no setor agrário, mudança de modelos agrários de subsistência para modelos comerciais e parcerias entre os setores público e privado. É com prazer que comunico que na maioria destes pontos a AATF e os seus parceiros fizeram progressos notáveis em 2010. Os esforços da Fundação para adquirir e desenvolver tecnologias que lidam com os principais problemas agrários – infestações de insetos e ervas daninhas, doenças, secas e deficiências dos solos – avançaram de forma extraordinária. O projeto de feijão-frade resistente a Maruca continuou o seu segundo ensaio de campo confinado na Nigéria. As linhas transgénicas de bananas, que estão a ser desenvolvidas para resistir ao agente bacteriano devastador que faz murchar as bananas, foram testadas nos primeiros ensaios de campo confinados no Uganda. Notavelmente, o projeto de Milho com Eficiência Hídrica / Water Efficient Maize na África instalou três ensaios de campo confinados, no Quénia, no Uganda e na África do Sul. Entretanto, apesar dos muitos desafios, os parceiros do projeto conseguiram aumentar a produção de sementes para controlar a famosa erva daninha Estriga. Também encetámos discussões no Quénia para iniciar um projeto de controlo da aflatoxina. A investigação do arroz eficiente Mensagem do presidente do Conselho do Administração na utilização de nitrogénio, tolerante ao sal e com eficiência hídrica também superou vários obstáculos, colocando-o na programação de ensaios de campo confinados em 2012. Os êxitos alcançados pela AATF em 2010 são um indicativo da confiança crescente que as entidades regulamentadoras nos países onde trabalhamos atualmente depositam em ciência e tecnologia. O nosso sucesso contínuo é também expressão das boas relações que a Fundação tem fomentado com os vários governos e parceiros em toda a região e à volta do mundo. Deixo aqui um elogio à equipa de direção da Fundação e a todos os nossos colaboradores pelo seu trabalho árduo. Significativamente, reconheço que estes sucessos dependem dos funcionários da AATF, que são em pequeno número mas muito diversificados e motivados e que contribuem significativamente para a criação de um ambiente que possibilita a utilização da ciência no desenvolvimento ao providenciarem a informação necessária para se tomarem decisões a nível nacional. A AATF também oferece e gere plataformas para deliberações em assuntos chave relacionados com biotecnologia agrária. Através de visitas de campo e formação, a Fundação também contribui para consciencializar os participantes relativamente a tecnologias inovadoras. Todos estes esforços aumentaram as capacidades de maiores intervenientes no desenvolvimento agrário da África. O Conselho urge a AATF a continuar a partilhar o seu conhecimento e experiência, aumentar os seus esforços de integração regional e explorar novas oportunidades para o bem do desenvolvimento agrário. As parcerias são o núcleo do trabalho da AATF e o instrumento através do qual a organização procura conseguir executar o 7 seu mandato com sucesso. Assim, a AATF procura continuamente colaborar com outros em todos os seus esforços. O Conselho é encorajado a notar o modo contínuo das parcerias, utilizando um conhecimento vasto e um método aprofundado em todos os projetos e iniciativas da AATF. Construir e manter parcerias efetivas é um esforço complexo e eu gostaria de agradecer à Direção da Fundação a sua navegação competente, pois estas parcerias continuam a desabrochar. O Conselho tem especial prazer em reconhecer a aceitação da AATF pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (WIPO) como uma Organização não-governamental (ONG/NGO) com o estatuto de observador permanente internacional, um marco que é uma honra para a AATF. Mais importante ainda, dá à fundação oportunidade de contribuir para as deliberações nas Assembleias da WIPO. Além disso, o Conselho aprecia os esforços da organização no sentido de definir parcerias de trabalho com outras organizações como a União Africana, a Parceria com a Agência de Desenvolvimento de África (NEPAD), a Rede Africana de Perícia em Biossegurança (ABNE) e o Centro de Danforth.Também houve evolução a nível do Conselho. Em 2010, o Conselho elegeu a Prof. Ida Sithole-Niang, Professora Associada e Chefe do Departamento de Bioquímica da Universidade do Zimbabué, para nova Presidente em espera para assumir funções em Janeiro de 2011. Idah juntou-se ao Conselho em 2009 e tem sido a Presidente da Comissão de Nomeações. O Conselho também elegeu a Sra. Josephine Okot como Vice-Presidente. Gostaria de felicitar tanto Idah como Josephine e agradecer-lhes o terem aceitado estas responsabilidades importantes. O Conselho resolveu incluir um representante dos dadores da AATF como observador durante as suas reuniões. Os Administradores receberam bem esta atitude, pois é uma mais valia para as discussões sobre como fazer avançar a AATF. O Conselho deu as boas vindas aos novos membros do Conselho, incluindo o Prof. Sir Gordon Conway, a Dra. Miriam Maiga e o Dr. Peter Matlon. Os novos membros injetaram experiências, conhecimento e energia novos no Conselho, especialmente dada a sua compreensão da AATF desde a sua conceção. Os desafios fazem parte da vida e a AATF enfrentou alguns durante este ano. É bom notar que estes desafios não foram insuperáveis e portanto não tiveram um impacto negativo no trabalho da AATF, embora tenham proporcionado ensinamentos úteis. Um desafio chave é o ambiente legislativo relacionado com a investigação e gestão de transgénicos. Embora muitos países agora compreendam a função que estas tecnologias podem desempenhar na segurança alimentar, muitos ainda não emitiram legislação nem normas relacionadas com biossegurança. Isto é um motivo de ansiedade, mas fico contente por poder dizer que, juntamente com parceiros, a AATF tem conseguido trabalhar com sucesso com governos para fazer avançar os seus projetos dentro dos sistemas existentes. De facto, eu gostaria de referir que vários países do Sub-Saara Africano fizeram esforços enormes para compreender e avançar com a investigação científica e devem ser aplaudidos por isto. Um segundo desafio foi a demissão do Diretor Executivo da AATF no final de 2010. O Conselho nomeou o Dr. Hodeba J Mignouna, o Diretor de Operações Técnicas, para o desempenho das funções durante a sua procura de um novo diretor. Gostaria de agradecer ao Dr. Mignouna ter aceitado esta responsabilidade adicional que garantiu que a organização continuasse a cumprir o seu mandato. No seu geral, 2010 foi na realidade um ano atarefado para a AATF e, em nome do Conselho, eu gostaria de estender o nosso apreço a todos os nossos parceiros, investidores, colaboradores e amigos. Enquanto Presidente do Conselho, também desejo agradecer aos meus colegas membros do Conselho o seu empenho e dedicação à AATF. Neste momento em que se aproxima o fim do meu mandato como Presidente e Membro do Conselho, gostaria de pedir encarecidamente a todos que continuem a cuidar desta organização que oferece um enorme potencial aos esforços para a segurança alimentar em África. Prof. Walter S. Alhassan Presidente do Conselho RELATÓRIO ANUAL 2010 8 Mensagem do Diretor Executivo Para a AATF, 2010 foi um ano entusiasmante. No início do ano, parámos para refletir coletivamente sobre o trajeto que tínhamos percorrido até então e o que ainda tínhamos em frente com base na contribuição e feedback valiosos dos nossos diversos participantes. O feedback que recebemos abrange os nossos pontos fortes e fracos, e indica o que estamos a fazer bem e o que não estamos a fazer tão bem, o que mais poderíamos fazer e o que poderíamos melhorar. A AATF encomendou um estudo extenso de reputação para obter feedback dos participantes sobre serviços, comunicação, perícia, aconselhamento e orientação que fornecemos. O objetivo foi avaliar a forma como os nossos participantes nos veem e o seu nível de satisfação com a qualidade do serviço prestado e, com base nesse feedback, fazer os ajustes e melhorias necessários. Tenho o prazer de reportar que os resultados do estudo deram uma classificação geral boa a todos os aspetos medidos da AATF. Mas o mais importante para nós foram as sugestões feitas sobre áreas que precisam de ser melhoradas. O conhecimento e perspetivas internas adquiridos no processo são fundamentais para o sucesso da Fundação, que depende muito da nossa capacidade de gerir as nossas parcerias com os diferentes participantes. As nossas atividades em 2010 foram, portanto, motivadas em grande parte pela necessidade de dar atenção a alguns dos assuntos chave para os quais os participantes chamaram a nossa atenção, assim como pelo feedback Mensagem do Director Executivo que recebemos constantemente no decorrer do nosso trabalho, incluindo a contribuição de processos de desenvolvimento internos da organização. Consideramos os nossos colaboradores como participantes chave para garantir que a Fundação cumpre os seus compromissos perante os seus constituintes. Durante o ano, o Conselho de Administração aprovou as recomendações de um exercício de avaliação de trabalho levado a cabo por uma comissão nomeada por funcionários. A Direção começou a implementar as várias medidas recomendadas para garantir um pagamento justo e benefícios complementares, planeamento e desenvolvimento profissional, planeamento de mão de obra e ligação a recompensas. Outro marco significativo em 2010 foi o início do desenvolvimento de uma estratégia de mobilização de recursos para enfrentar as necessidades da organização a curto e longo prazo. Considerámos que a boa vontade dos diferentes dadores foi muito encorajadora. Alguns deles assumiram compromissos diretos ou expressaram um forte interesse em financiar a organização e as suas atividades no futuro. Agradecemos aos investidores atuais a sua confiança na organização e o seu apoio contínuo, que fortaleceram o nosso empenhamento em planear o nosso trabalho futuro. Em 2010, a AATF concentrou-se significativamente em alertar e fortalecer os elementos críticos que são a força motriz das parcerias público-privadas (PPPs). Durante 9 a reunião geral da FARA 2010 que teve lugar em Burkina Faso, por exemplo, a AATF orga-nizou um evento paralelo em colaboração com o Centro McLaughlinRotman para a Saúde Mundial Rede de Saúde da Universidade e na Universidade de Toronto, no Canadá, para tratar de considerações legais, éticas e comerciais que são fundamentais para construir confiança nestas parcerias. Os resultados do evento paralelo foram apresentados na sessão plenária. Além disso, a AATF e os seus parceiros empreenderam atividades de fortalecimento de capacidades através de sessões de formação, visitas de campo, envolvimento especializado em atividades e partilha de experiências em equipa, que ajudaram no planeamento e implementação de projeto. Continuamos a aumentar a nossa resistência. Para garantir que os projetos recebem o apoio técnico de que precisam, ampliámos as nossas parcerias de modo a incluir organizações tais como o Danforth Center em desenvolvimento de produtos e a Rede Africana de Perícia em Biossegurança (NEPAD) African Biosafety Network of Experts (ABNE), para apoiar o trabalho regulamentar. Também prestámos atenção ao maior ambiente operacional, especialmente em relação aos regulamentos e compreensão de tecnologia. A AATF e associados aconselharam-se para promoverem a partilha de informação e educação através de exposições, apresentações em reuniões chave, o Fórum Aberto sobre Biotecnologia Agrária (OFAB) e outras atividades. Acreditamos que o nosso maior envolvimento vai solidificar os esforços contínuos e contribuir para aumentar a compreensão de tecnologias inovadoras. A aceitação da biotecnologia agrária em África continua a ser um desafio. No entanto, é com prazer que noto que os governos reconhecem e encorajam o papel crítico da ciência e tecnologia, incluindo a bio-tecnologia, no seu programa de segurança alimentar. A AATF vai continuar a proporcionar o apoio requerido pelos governos e as suas várias entidades e instituições para a utilização segura de biotecnolgia em agricultura. Em 2010, também enfrentámos alguns desafios técnicos com alguns projetos especificamente no desenvolvimento de arroz para África com eficiência na utilização de nitrogénio, tolerância ao sal e eficiência hídrica e na produção de quantidades suficientes de sementes de milho de controlo de Estriga. No entanto, é encorajador que parceiros do projeto tenham achado soluções para ajudar a impulsionar os projetos. Em termos de futuro, o financiamento vai manter-se um assunto crucial para a AATF. À medida que os nossos projetos entram na fase crítica de ensaios e comercialização, os requisitos de financiamento vão aumentar e gostaríamos de poder garantir que os produtos não vão ser retardados por falta de fundos. Orientados pela nossa nova estratégia, prestaremos muita atenção à mobilização de recursos nos próximos anos. A AATF antecipa portanto um ano de 2011 agitado à medida que os projetos evoluem e exigem maior atenção. Gostaria de agradecer aos nossos parceiros e investidores o apoio dado ao longo do ano e especialmente ao Conselho de Administração pelo seu apoio e orientação valiosos durante este período. Uma palavra especial de apreço vai para os colaboradores competentes que provaram o seu empenho para com a organização e para com os agricultores de pequenas propriedades no Sub-Saara africano pelo seu trabalho exemplar, que continua a impulsionar o trabalho da AATF. Dr. Hodeba Jacob Mignouna Diretor Executivo em Funções RELATÓRIO ANUAL 2010 Projeto de Controlo de Estriga 10 A luta dos Agricultores contra a Estriga nos campos de milho – Aumento da produção e distribuição de sementes Em 2010, a equipa do Projeto de Controlo de Estriga aumentou os seus esforços no sentido de aumentar a produção de milho resistente a Imazapyr (milho IR), consciencializando e formando agricultores sobre tecnologia no Quénia, no Uganda, na Tanzânia e na Nigéria. O Projeto de Controlo de Estriga foi lançado em 2005 com o objetivo de aumentar a produtividade de milho no Sub-Saara Africano reduzindo significativamente a infestação e os danos causados pela erva daninha de Estriga em pequenas propriedades rurais. O projeto está na fase de implementação, concentrando-se na tutela e comercialização das variedades de milho resistente a Imazapyr (IR) certificado. Produção e distribuição de sementes Durante 2010, o Projeto de controlo de Estriga facilitou a produção de 30 toneladas de semente de milho IR no Quénia, um aumento relativamente às 20 toneladas anteriores, disponíveis em 2008. Algumas das sementes foram distribuídas a agricultores através da rede de agrodistribuição no Quénia ocidental e também usadas para demonstrações em propriedades rurais. Espera-se que a entrada no projeto de mais duas empresas – Kina Seed e Freshco Seed – para apoiar os esforços da Western Seed Company, leve a uma produção ainda maior de sementes. ESQUERDA: funcionários de extensão das ONGs locais avaliam um lote de demonstração, à beira da estrada, plantado com milho IR (WS303) em Nyanza, Quénia.. DIREITA: a Sra. Aziza Awuor, funcionária de extensão da Associação de Agricultores de Rachuonyo em Nyanza Sul, Quénia, avalia o lote de demonstração de IR. A luta dos Agricultores contra a Estriga nos campos de milho – Aumento da produção e distribuição de sementes 11 BURKINA FASO. As mulheres Fulani usam vestuário colorido, flutuante, ricamente decorado e bordado. As moedas que são presas ao vestuário constituem frequentemente heranças familiares muito antigas, passadas de geração em geração. As mulheres usam também muitas pulseiras nos braços. Na Tanzânia, a AATF facilitou a produção de cerca de 3 toneladas de semente de milho TAN 222, certificada IR, em instalações irrigadas pela Tanseed International Limited. Mas estas não puderam ser vendidas, pois o herbicida não estava formalmente registado para revestimento de sementes. Em vez disso, Tanseed usou isto para um maior aumento de sementes. O projeto aumentou os seus esforços no sentido de registar o herbicida Imazapyr como produto para controlo de pestes na Tanzânia definindo os termos de referência para contratar serviços de consultoria. O registo vai autorizar a utilização de herbicidas no tratamento de milho certificado IR para uso comercial na Tanzânia. Foram feitos ensaios de variedade, em quintas no Uganda, para recolher dados que vão apoiar os ensaios nacionais de desempenho em curso, no sentido de conseguir o lançamento e comercialização da variedade de milho IR em 2012. Na Nigéria, continuaram as atividades de colaboração com o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA)-Ibadan, com o objetivo de se multiplicar mais sementes genéticas e básicas a partir de híbridos de milho IR e portanto de se ficar um pouco mais próximo de uma possível comercialização em 2012. O escritório do CIMMYT no Zimbabué concluiu ensaios regionais, que forneceram dados para identificar as linhas melhor adaptadas para ensaios nacionais de desempenho e potencial de comercialização em países alvo da África austral. No entanto, não foram identificadas quaisquer variedades de IR adequadas nestes ensaios. Poderá ser necessário realizar outros testes para RELATÓRIO ANUAL 2010 12 confirmar entradas de milho IR com melhor desempenho do que aquelas submetidas às verificações locais sob a infestação de ervas daninhas Estriga. Informação e educação O projeto estabeleceu 239 demonstrações tecnológicas estratégicas de milho IR em 12 distritos no Quénia. Também organizou 32 dias de campo agrário para informar e promover a transferência de conhecimento sobre características agronómicas, manuseamento e uso de tecnologia. ‘Fomos inovadores na nossa abordagem. Posicionámos estrategicamente as demonstrações do nosso produto nas beiras de estrada, nos mercados locais e ao longo dos trilhos. Isto assegurou que estavam facilmente visíveis e acessíveis” diz o Dr. Gospel Omanya, da AATF, que também coordena o projeto na AATF. O Dr. Omanya diz que estas demonstrações foram fundamentais para melhorar a informação e o interesse de agricultores e empresas de sementes na tecnologia de semente de milho IR. ‘As demonstrações são também úteis para sensibilizar as autoridades governamentais locais e conseguir o seu apoio para mobilizar as comunidades no sentido de usar as tecnologias de milho IR’, nota o Dr. Omanya. ‘O desafio chave para o projeto tem sido a produção de quantidades suficientes de sementes de milho IR certificadas, que retardou a adesão dos agricultores à tecnologia’, diz o Dr. Omanya. ‘Sentimo-nos encorajados, no entanto, pelo aumento das quantidades de sementes todos os anos, mas esta quantidade ainda é inferior àquela de que os agricultores precisam. Portanto, em resposta, os parceiros do projeto estão a trabalhar em estreita colaboração com produtores de sementes para aumentarem a produção de sementes. Temos esperança de que estes maiores esforços encorajem mais empresas de sementes a aderirem à tecnologia e a produzirem resultados positivos’, diz o Dr. Omanya. ESQUERDA: Sr. Isaka Mashauri, Diretor Executivo da Tanseed International Ltd, Tanzânia, a inspecionar o milho de semente básica IR, numa quinta perto de Iringa, Tanzânia. A luta dos Agricultores contra a Estriga nos campos de milho – Aumento da produção e distribuição de sementes 13 Dr. Gospel Omanya Gestor de Sistemas de Sementes da AATF Em África, a distribuição de novas tecnologias agrícolas e a adesão a elas por agricultores de pequenas propriedades não tem sido fácil. Várias razões têm sido citadas para esta tendência, incluindo a falta de informação e dificuldades em moldar adequadamente as tecnologias para uso pelos sistemas das pequenas propriedades agrícolas. Além disso, muitos pequenos agricultores não têm os recursos adequados para adquirirem as tecnologias. As alterações climáticas, como o início altamente errático e a distribuição desigual da pluviosidade, complicam ainda mais o assunto. Defrontámo-nos com a maioria destes obstáculos em primeira mão no projeto Estriga. No entanto, não deixámos que nos detivessem na nossa disseminação da inovadora tecnologia de milho IR. Pelo contrário, as nossas experiências proporcionaram-nos um valioso conhecimento que vai informar a distribuição do produto em todos os projetos da AATF. Uma das lições fundamentais que aprendemos é que em paralelo a promover os produtos e tentar fazê-los chegar aos agricultores, é igualmente importante endereçar os aspetos da comercialização (produção e distribuição de sementes). Isto vai garantir que o conhecimento e informação dos agricultores sobre os produtos está em sincronia com a disponibilidade dos mesmos através de redes de agrodistribuição localizadas nas áreas alvo. Também observámos que as orientações de tutela abrangendo a forma como o produto é manuseado e usado são fundamentais para garantir que a ampliação da rede de provedores de serviços, agrodistribuidores e agricultores se faz adequadamente. Enquanto gestor responsável por este projeto na AATF, usei a capacidade de promover redes sólidas de parcerias e participantes. Isto inclui a definição de funções dos parceiros, a monitorização e avaliação eficazes e o enfrentar problemas de forma atempada, à medida que estes surgem ao longo do projeto. Estes objetivos não apenas exigem recursos adequados, mas uma mente clara, um coração forte e dedicação. O projeto ofereceu lições de importância crítica em termos de paciência e resistência, o que contribuiu para a produção dr. Gospel Omanya a inspecionar milho de semente básica IR numa quinta perto de Iringa, Tanzânia.. de 30 toneladas de semente de milho de IR no Quénia e na Tanzânia só em 2010. Além disso, produziram-se 3 toneladas de semente básica na Tanzânia para usar na produção de cerca de 100 toneladas de sementes em 2011. As atividades de promoção provocaram e mantiveram o interesse de cinco empresas de sementes, que estão agora ativamente envolvidas na produção de sementes de milho IR certificadas. E, mais importante ainda, podemos referir modestamente que chegámos a pelo menos 50.000 agricultores através de sessões de formação sobre campos de milho IR e vendas reais de sementes. A trajetória do milho IR está portanto no caminho certo para alcançar o objetivo almejado! RELATÓRIO ANUAL 2010 Projeto de feijão-frade Bt 14 Segundo ensaio de campo confinado plantado com sucesso na Nigéria Em 2010, a equipa da AATF do Projeto de Feijão-frade bt fez grandes progressos em todos os aspetos do seu trabalho. Um dos sucessos chave foi a plantação do segundo ensaio de campo confinado (CFT) do feijão-frade com expressão de bt no Instituto de Investigação Agrária / Institute of Agricultural Research (IAR), em Zaria, Nigéria. O CFT refletiu o avanço feito pelos nossos colaboradores na Organização de Investigação Cientifica e Industrial da Commonwealth (CSIRO), Austrália, dirigida pelo Dr. TJ Higgins, nos eventos de desenvolvimento de transgénicos de feijão-frade. ‘Das 255 linhas desenvolvidas até agora, selecionámos cuidadosamente três eventos transgénicos promissores através da análise laboratorial e de estufa. Entre outros atributos, estes três eventos apresentavam melhores fenótipos do que os que usámos no primeiro CFT, que realizámos em 2009’, diz o Dr. Nompumelelo Obokoh, gestor do projeto. O CFT, acrescenta o Dr. Obokoh, reflete a parceria eficaz entre a equipa do feijão-frade e as autoridades regulamentares nigerianas – o Serviço Nacional Agrário de Quarentena (NAQS) – e o Ministério Federal do Ambiente. Este relacionamento garantiu que todos os planos relativos à importação, distribuição de sementes e preparação dos locais CFT progrediu eficientemente e em conformidade com todos os requisitos de proteção e segurança. ACIMA: Ishaku Musa, um dos técnicos de projeto em IAR, infestando o feijão-frade Bt com Maruca. ESQUERDA: A Sra. Aderanti, do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) infestando feijão-frade Bt com Maruca no local do ensaio no Instituto de Investigação Agrária (IAR), Zaria. DIREITA: Entomologista do projeto Feijão-frade resistente a Maruca, Dr. Stephen Misari, inspecionando o CFT de feijão-frade resistente a Maruca no local do ensaio no Instituto de Investigação Agrária (IAR), Zaria. Segundo CFT plantado com sucesso na Nigéria 15 TANZÂNIA. Tradicionalmente, as mulheres da tribo Datoga usam vestidos de couro belamente curtido, ornamentos e braceletes em cobre espiralado, e algumas usam braceletes feitas de ferro. As cores mais frequentemente usadas em ornamentos são o amarelo e azul claro. ‘Recebemos as 300 sementes para o CFT da Austrália a tempo da estação de plantio. Nessa altura já tínhamos obtido um relatório a expressar satisfação com o Exame Inicial do Ambiente (IEE) a respeito dos CFT anteriores da United States Agency for International Development (USAID), e continuámos a preparar o local para o segundo ensaio’, diz o Dr. Mohammad Ishiyaku, Investigador Principal do Projeto do IAR. O segundo CFT foi concebido com um design de bloco completo aleatório. Além dos três eventos transgénicos, a experiência incluiu um tipo silvestre de feijão-frade e uma verificação comercial. Em paralelo, a equipa responsável pela reprodução rastreou os híbridos F1 derivados de cruzamentos entre progenitores, que são um tipo de feijão-frade conhecido como Kanannado, e as linhas transgénicas avaliadas na primeira CFT. Este exercício é importante nos estudos genéticos do projeto que estão a ser efetuados por um estudante de pós-graduação, Muhammad Saba, sobre a herança do transgene e a sua associação com crescimento e morfologia em diferentes feijões-frade, e para a eventual seleção do recombinante transportador Bt que tem características desejáveis. Além da aplicação da dose recomendada do fertilizante de nitrogénio, não foram feitas aplicações de inseticidas na cultura submetida ao CFT. No entanto, os parceiros tomaram medidas para evitar a infestação por tripes e asseguraram que não se dava uma libertação não intencional do material para fora do confinamento, proporcionado segurança 24 horas por dia. ‘Um dos maiores desafios que tivémos de enfrentar até agora nos ensaios no IAR foi o de conseguir infestações significativas de Maruca no campo. Esta infestação é essencial porque precisamos de desafiar os eventos em ensaio com pressão ótima dos insetos’, explica o Dr. Ishiyaku. Para resolver este assunto, em 2010 a AATF associou-se à IITA para formar entomologistas e técnicos do projeto na criação de Maruca em laboratório e depois infestar artificialmente o segundo instar de larva no local do CFT. As pessoas que receberam formação eram do IAR, do Institute de l’Environnement et de Recherches Agricoles (INERA), Burkina Faso, e do Savannah Agricultural Research Institute (SARI), Gana. O Dr. Stephen Misari, entomologista do projeto no IAR, que também otimizou os procedimentos da infestação para adequá-los às condições de campo na África, adiciona que após a formação, a equipa do IAR realizou com êxito quatro infestações de Maruca. ‘Ficámos extremamente satisfeitos quando notámos que embora a larva se alimentasse de feijão-frade, não atacou as variedades transgénicas’, diz o Dr. Misari. O Dr. Ishiyaku notou ainda que a análise agronómica da equipa revelou dois eventos transgénicos como sendo os melhores, especialmente em termos de vagem e colheita de grãos após a infestação. De acordo com a comissão de consultoria do projeto, o nível de proteína Bt em tecidos atacados pela Maruca precisa de ser quantificado. Há ainda a necessidade de aumentar a duração e intensidade da infestação para um máximo de pressão em ensaios posteriores. RELATÓRIO ANUAL 2010 16 A trabalhar com a comunidade Partilhando informação e experiência A equipa reconhece que os seus sucessos dependem de um ambiente que o permita, assim como do envolvimento dos vários participantes. Durante o ano, o projeto evoluiu no sentido de melhorar a informação aos participantes e a sua participação no projeto. Foi realizada uma sessão de formação de sensibilização para a biotecnologia na Universidade Ahmadu Bello, em Zaria, à qual compareceram representantes da Universidade IAR, líderes tradicionais e da comunidade, comerciantes do setor agrário, meios de comunicação e instituições terceirizadas. Este fórum abriu as linhas de comunicação para a interação entre o projeto e a comunidade, especialmente no que se refere a assuntos gerais de biotecnologia e aos benefícios esperados do feijão-frade resistente a Maruca. Em paralelo ao trabalho em curso para identificar o evento principal e adequado, a equipa também começou antecipadamente a projetar o percurso e a identificar os participantes chave que vão desempenhar um papel fundamental na disseminação com êxito de um produto não legislado. ‘Este método é de importância crítica para garantir que diferentes grupos (por exemplo, com poder decisivo e com poder político), produtores de sementes, comerciantes do setor agrário, serviços de extensão, organizações com base na comunidade (CBOs) e agricultores, são sensibilizados de forma atempada’, diz o Dr. Obokoh. A equipa do feijão-frade Bt participou na Quinta Conferência Mundial de Feijão-Frade em Dakar, Senegal, onde partilhou as suas experiências com participantes e através de meios de impressão e eletrónicos. Além disso, a equipa apresentou o projeto na conferência anual da Federação Mundial de Ciência (WFS), que teve lugar em Abuja, Nigéria. A equipa está também a facilitar o fortalecimento da capacidade nos países de parceria, especialmente à volta da comunicação de assuntos de biotecnologia e gestão regulamentar. Durante o ano, foram feitas várias sessões de formação para jornalistas, funcionários da comunicação e informação de institutos de investigação agrónoma selecionadas, e mesmo funcionários do projeto. Estes fóruns também foram usados para apresentar o projeto do Feijão-frade Bt a audiências mais amplas. O Dr. Obokoh nota que o progresso que está a ser feito na Nigéria vai preparar o terreno para testes de eventos transgénicos em outros países. Portanto, é importante desenvolver protocolos padronizados para a avaliação de infestações de campo e características agronómicas. Esta informação será usada para ensaios de campo em outras localizações geográficas assim que forem obtidas as respetivas aprovações. Para conseguir este objetivo, em Julho de 2010 foi organizada uma sessão de formação sobre questões de cumprimento relativamente a CFT para os funcionários do SARI envolvidos no Projeto de Feijão-frade Bt. Em Burkina Faso, o pedido de CFT foi aprovado pela Agence National de Biosécurité para o final de 2010, abrindo caminho para que o país se torne o segundo na África a testar feijão-frade com expressão de Bt. ESQUERDA: Maruca a atacar a planta do feijão-frade. DIREITA: Infestação da planta de feijão-frade com Maruca utilizando tubos de plástico. Segundo CFT plantado com sucesso na Nigéria 17 Dr. Nompumelelo H Obokoh Gestora do Projeto de Feijão-Frade bt Vim para a AATF em 2008 como gestora do Projeto de Feijão-Frade Bt. Esta nomeação é gratificante e um desafio, pois envolve a coordenação, implementação e monitorização de toda a cadeia do produto para garantir o desenvolvimento e transferência com êxito do feijão-frade Bt sujeito a legislação. Também chefio as operações da AATF na África ocidental. Em Maio de 2009, mudei-me para o escritório da AATF na Nigéria, um passo oportuno e entusiasmante que coincidiu com a aprovação e o estabelecimento do primeiro ensaio de campo confinado (CFT) de feijão-frade Bt alguma vez feito em África. Tenho gostado de trabalhar em colaboração estreita com parceiros do projeto na Nigéria, Burkina Faso e Gana, e o apoio e empenho deles tem sido tremendo. Progredimos muitíssimo graças a respeito mútuo e dedicação ao sucesso apesar de todos os obstáculos. Também criámos parcerias internacionais, por exemplo com a Commonwealth Scientific and Industrial Research Organisation (CSIRO), Austrália, onde está a ser feita a transformação de plantas e a geração de eventos transgénicos. O projeto também beneficiou da colaboração com a Purdue University e o Donald Danforth Plant Science Centre, EUA. Acho que as competências que adquiri em cargos anteriores, tanto nacionais como internacionais, em investigação e desenvolvimento agrário têm sido muito úteis para as minhas funções atuais. Tive formação como bióloga molecular de plantas na Universidade de Cambridge, Reino Unido. Usei tecnologias inovadoras e de alta produtividade para estudar e melhorar o crescimento de plantas e o seu rendimento contra agentes de desgaste bióticos e abióticos. No processo, adquiri uma combinação de competências e conhecimento na cultura de tecidos de plantas, transformação de genes, estudos de estufa e análise molecular usando técnicas diferentes. Além disso, através de um projeto financiado ao abrigo do programa da União Europeia EU-Framework Programme 5, aprendi a trabalhar em parcerias. O projeto envolveu a Universidade de Londres, o Royal Holloway no Reino Unido, o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA) na França, o Max-Planck Institute na Alemanha, o CropDesign na Bélgica e o VBC-Genomics na Áustria. Dr Nompumelelo Obokoh inspecting the Bt cowpea CFT at Zaria, Nigeria. Tive oportunidade de pôr estas competências em prática quando comecei a trabalhar para a Divisão de Biotecnologia do Conselho de Investigação Agrária em Pretória, África do Sul, como Gestora de Programa. O objetivo do programa foi ajudar os agricultores e as comunidades rurais a terem acesso a melhores variedades de culturas com maior valor nutricional. Geri vários projetos voltados para a melhoria genética de culturas africanas negligenciadas, tais como feijão-frade e ervas tradicionais, coletivamente conhecidas por Amaranthus. Também apoiei uma equipa de investigadores sul-africanos e americanos que visava desenvolver batata Bt durante a fase de ensaios de campo confinados do projeto na África do Sul. Através de uma bolsa do então Institute of Grassland and Environmental Research (IGER), no País de Gales, com o patrocínio do Rothamstead International, Reino Unido, ampliei as minhas competências de investigação ao investigar e desenvolver marcadores moleculares para tolerância à seca em feijão-frade. Durante esse período, recebi bolsas competitivas da Fundação Nacional de Investigação (NRF) e da NRF/Royal Society (Reino Unido) para as redes científicas África do Sul–Reino Unido, para estabelecer ligações e alargar a colaboração com parceiros de projeto no Reino Unido. Também recebi ampla formação em gestão de projetos da Universidade da Cidade do Cabo, África do Sul. Chefiar o projeto do Feijão-frade Bt tem os seus desafios, mas os parceiros ofereceram de boa vontade o seu apoio e contribuíram entusiasticamente para possíveis soluções. A viagem pode parecer longa, mas acredito que brevemente realizaremos o sonho de dar aos pequenos agricultores do Sub-Saara Africano as melhores variedade de feijão-frade resistente a Maruca. Acredito que temos uma boa fundação, baseada na parceria nacional e internacional que formámos. RELATÓRIO ANUAL 2010 Projeto Banana BXW 18 Ensaio de campo confinado plantado no Uganda A 5 de Outubro de 2010, a AATF, o IITA (International Institute of Tropical Agriculture), e a National Agricultural Research Organisation (NARO), Uganda, plantaram linhas de banana transgénica desenvolvidas através do projeto banana BXW num ensaio de campo confinado (CFT) no National Research Institute em Kawanda, Uganda. O CFT, que atraiu um nível elevado de atenção por parte dos meios de comunicação, tendo sido inclusivamente noticiado no periódico Nature, foi significativo de várias maneiras. Primeiro, marcou um avanço nos objetivos científicos básicos do projeto, que incluem a transformação, caracterização molecular e avaliação de banana transgénica. Plantou-se um total de 65 linhas transgénicas no CFT, com base nos resultados promissores de resistência a BXW em condições laboratoriais e de rastreio. As linhas, que são de três cultivares de bananas – Sukali Ndiizi, Nakinyika e Mpologoma – contêm ou o gene da planta ferridoxina semelhante a proteína (pflp) ou o gene da proteína de assistência à resposta de hipersensibilidade (hrap), que é isolado do pimento. A incorporação de hrap e pflp baseia-se no trabalho pioneiro do Prof. Teng-Yung Feng da Academia Sinica, Taiwan, que demonstrou que o gene aumenta a resistência à doença dos legumes, incluindo brócolos, tomates e batatas. ‘O nosso trabalho é de vanguarda de duas formas: é a primeira vez que os genes hrap e pflp foram usados em bananas na África, sendo também a primeira vez que a tecnologia está a ser testada no campo’, diz a Dra. Leena Tripathi, uma biotecnóloga Esquerda: Prof. Teng-Yung Feng, da Academia Sinica, Taiwan, falando sobre bananas transgénicas com Nancy Muchiri, da AATF, num local de ensaio de campo confinado (CFT) em Kawanda, Uganda. Ensaio de campo confinado plantado no Uganda 19 Uganda. Esta mulher Karamajong traja um xaile tradicional (kukoi), colar de contas e brincos. O plástico dos brincos é obtido dos faróis traseiros de veículos motorizados. Tais brincos podem ser facilmente encontrados para compra no mercado local. do IITA, que é a investigadora principal do projeto. Além disso, os resultados preliminares do projeto BXW indicaram que os genes hrap e pflp também têm o potencial para oferecerem resistência à doença fúngica da banana, conhecida como Sigatoka preta. Portanto, mais testes sobre esta doença serão feitos durante o ensaio. Além disso, o CFT vai analisar se existem efeitos sobre a composição de microrganismos no solo. Estas plantas vão crescer lado a lado com outra variedade de banana geneticamente modificada (GM) desenvolvida em laboratório, que foi fortificada com vitamina A e ferro para ajudar a combater a cegueira e a anemia em áreas rurais. Partilhar experiência e informação Os sucessos científicos alcançados durante o projeto foram apresentados em vários fóruns internacionais; por exemplo, na 12ª Conferência Internacional sobre Bactérias Patogénicas de Plantas (ICPPB) 2010, que teve lugar em La Reunion em Junho de 2010. Os sucessos foram também publicados em revistas da especialidade, incluindo a Molecular Plant Pathology. Além disso, o CFT constituiu um passo fundamental para os parceiros do projeto no sentido de fazerem face a alguns dos obstáculos legais relativos à transferência de culturas GM no Uganda. A partir de 2010, a lei de biossanidade do Uganda só existia em anteprojeto, baseada numa política de biotecnologia e biossanidade adotada em 2008. No entanto, a AATF, o IITA e a NARO trabalharam em parceria com o Ugandan Institutional Biosafety Committee (IBC) para garantir o cumprimento dos requisitos normativos e a aprovação pelo Uganda National Biosafety Committee (NBC). Em conformidade, os parceiros do projeto AATF planeiam manter o NBC atualizado sobre o CFT através de relatórios periódicos de evolução. Os parceiros do projeto tencionam distribuir a banana resistente a BXW em cinco países na região dos Grandes RELATÓRIO ANUAL 2010 20 Lagos: Quénia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Burundi. No entanto, estão cientes do facto de que cada um destes países tem os seus processos específicos para revisão e aprovação de culturas transgénicas. É importante salientar que no Burundi, no Ruanda e na Tanzânia ainda não se fizeram quaisquer ensaios em culturas transgénicas. Durante o ano, portanto, a AATF redigiu uma estratégia de aprovação regulamentar para o projeto apoiar este plano. ‘A estratégia, com o título “Estratégia do Projeto da Banana em Aprovações Regulamentares”, toma em consideração o ambiente regulamentar nos cinco países, assim como as capacidades essenciais para realizar um bom ensaio de campo confinado. O documento está atualmente em fase de revisão e a sua publicação está prevista para 2011’, diz o Dr. Francis Nang’ayo, Gestor do Departamento Regulamentar da AATF. A outra tarefa para os parceiros do projeto, diz o Dr. Tripathi, é garantir que os praticantes estão bem preparados e têm competências para a micropropagação em massa de plântulas de bananas em países alvo. Para atingir este objetivo, em 2010 os parceiros organizaram uma ação regional de formação no Kenya Agricultural Research Institute em Thika, Quénia. O fórum juntou praticantes dos setores público e privado da cultura de tecido de banana da região dos Grandes Lagos de África. ‘Os participantes ficaram muito bem impressionados com os procedimentos laboratoriais melhorados para o desenvolvimento e refinamento da tecnologia da cultura do tecido de banana e com o seu potencial para cortar custos e garantir qualidade, assim como assegurar a produção eficiente e a transferência de plântulas de cultura de tecido. A sessão de formação também proporcionou uma oportunidade para estabelecer contactos e criar parcerias público-privadas no sentido de melhorar as vias de produção e disseminação’, nota Leena. Em geral, a banana transgénica de CFT no Uganda marca um passo importante no objetivo da AATF, do IITA e de parceiros de pesquisa nacional na diminuição das ameaças que a doença BXW coloca à segurança alimentar e ao rendimento. Esquerda: Bananas transgénicas num local de ensaio de campo confinado (CFT ) em Kawanda, Uganda. Ensaio de campo confinado plantado no Uganda 21 Dra. Leena Tripathi Investigadora Principal, Projeto de controlo BBX Durante os últimos 15 anos, aproximadamente, passei a maioria do meu tempo no laboratório, falando a linguagem da engenharia genética, da biologia molecular e do diagnóstico. Fiz o meu doutoramento em biologia molecular de plantas no Instituto Nacional de Investigação Botânica, Lucknow, Índia, e um pós-doutoramento na Universidade da Carolina do Norte em Greesboro, EUA. Em 2000, vim para o IITA como biotecnóloga de plantas e principal investigadora de um projeto que procura desenvolver os instrumentos biotecnológicos para controlar a murcha das bananas pelo Xanthomonas. As minhas competências e excelência nestas técnicas trouxeram-me reconhecimento como uma das principais cientistas do IITA. No entanto, o evento mais memorável da minha carreira ocorreu não no laboratório, mas num campo no Uganda, a 5 de Outubro de 2010. Foi no dia em que plantámos os ensaios de campo confinados (CFT) para bananas que são geneticamente modificadas para resistir à bactéria que causa a murcha - BXW. O plantio do CFT concretizou os esforços que a minha equipa e eu tínhamos desenvolvido no nosso objetivo de deter a BXW. A ocasião foi também motivo de orgulho porque plantámos o CFT precisamente na altura programada - exatamente conforme tínhamos programado seis anos antes. A nossa jornada começou em 2004, três anos após a doença da murcha ter sido notada pela primeira vez em dois distritos do Uganda. Nesse período de tempo, a doença tinha-se espalhado por todas as áreas de plantação de banana do país. Também se tinha espalhado gradualmente para outros países da África de Leste e Central. O efeito da doença da murcha foi especialmente devastador para os pequenos agricultores, que dependem das bananas para a sua alimentação diária e como fonte de rendimento. A maioria dos lares nos países afetados obtém entre 30% e 60% da sua ingestão calórica diária, per capita, de bananas. A destruição causada pela doença da murcha foi resumida por um agricultor, um idoso, que me disse: ‘Esta doença não apenas destruiu toda a minha cultura de bananas, mas também destruiu a minha esperança de sustentar a minha família.’ Esta sensação de total desamparo é partilhada Dra. Leena Tripathi inspeciona as bananas transgênicas no Instituto de Pesquisa Agrária de Kawanda, Uganda por agricultores em muitos países, onde as restrições agrícolas e a falta de recursos para as enfrentar fazem da escassez de alimentos e da pobreza norma. Sinto-me afortunada por as minhas competências como biotecnóloga de plantas me permitirem criar formas inovadoras de dar resposta a alguns dos apelos de agricultores, especialmente através dos projetos que chefio para a melhoria genética da resistência de bananas e tanchagem a doenças e pestes. A colaboração entre o IITA e a AATF é fundamental para se atingir este objetivo. Isto porque o gene identificado para dar resistência à BXW tem implicações em termos de propriedade intelectual. A AATF facilitou a sua aquisição e o licenciamento sem direitos de patente à Academia Sinica de Taiwan que detém a patente do mesmo. Também dedico muito do meu tempo a construir capacidade, especialmente nas minhas áreas de especialização, que incluem a transformação de plantas, cultura do tecido e diagnóstico molecular, para além da pesquisa. Tive o prazer de treinar mais de 20 estudantes e 60 funcionários NARS nos últimos 10 anos. Sou membro da comissão nacional de coordenação para controlo da BXW no Uganda. Também estou a liderar o projeto DFID/BBSRC sobre tanchagens resistentes a nematodes em colaboração com a Universidade de Leeds, Reino Unido. RELATÓRIO ANUAL 2010 Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA) 22 Ensaios de campo confinados aprovados no Quénia, no Uganda e na África do Sul Em 2010, o projeto Milho com Eficiência Hídrica para África - Water Efficient Maize for África (WEMA) - teve um bom desempenho ao conseguir atingir os seus marcos, sendo que o maior foi conseguir aprovação para ensaio de campo confinado (CFTs) de milho híbrido transgénico tolerante à seca, por parte das entidades regulamentares no Quénia, no Uganda e na África do Sul, tendo assinalado um progresso notável no sentido de conseguir fazer o produto chegar aos agricultores no Sub-Saara de África. Este progresso foi o resultado da parceria efetiva do WEMA, que junta as plataformas molecular, genómica biotecnológica, o programa de reprodução e adaptação das variedades de milho do Centro Internacional de Melhoria de Milho e Trigo / International Maize and Wheat Improvement Centre (CIMMYT), a perícia da AATF na tutela do produto, gestão de assuntos regulamentares e distribuição de tecnologia, e a capacidade das instituições nacionais para a reprodução, o ensaio, a multiplicação e a distribuição de novas variedades de milho. Em 2010, os parceiros tinham marcado 12 variedades híbridas tolerantes à seca, através do projeto para os CFTs. ‘O nosso pedido de licenças para realizar os CFTs no Quénia, no Uganda e na Tanzânia evoluíram muito mais lentamente e de forma mais complexa do que gostaríamos. No entanto, trabalhámos em colaboração Esquerda: Os membros da equipa WEMA a contarem as sementes antes de plantarem o local de CFT em Kiboko, Quénia. Ensaios de campo confinados aprovados no Quénia, no Uganda e na África do Sul 23 Quénia. Para os Maasai, o vestuário denota idade, género e local de origem, assim como estatuto. As roupas que usam (shuka) são utilizadas para cobrir o corpo; um pano é passado sobre cada ombro e um terceiro tapa ambos. A cor vermelha representa poder. Os Guerreiros – ou morani – são os únicos membros da comunidade que usam cabelo comprido. estreita com as autoridades regulamentares dos diferentes países e estávamos atentos aos seus requisitos’, explica o Dr. Sylvester Oikeh, Gestor do Projeto. Ele diz ainda que o processo foi ajudado por ensaios de simulação realizados pelos parceiros WEMA no Quénia e na Tanzânia, e pelo primeiro CFT realizado na África do Sul em 2009. ‘Fizemos a colheita da cultura em dois ensaios de simulação no primeiro trimestre de 2010, sob a supervisão de inspetores de biossanidade, baseada em procedimentos de funcionamento padronizados (SOPs) para os CFTs nos respetivos países. Os oficiais monitorizam depois a safra quinzenalmente. Ficaram convencidos de que cumprimos todos os requisitos pós-safra’, diz ele. Como resultado, os parceiros WEMA receberam uma Concessão de Licença de Investigação do Gabinete do Presidente, Uganda, para realizar um CFT no Instituto Nacional de Investigação. No Quénia, os parceiros receberam uma Concessão de Licença de Importação de Plantas (PIPs) para permitir a importação de semente para os CFTs de WEMA. A Direção de Biossanidade na África do Sul renovou a licença para os parceiros WEMA realizarem uma segunda volta de CFT em milho transgénico tolerante à seca. Em Moçambique, os parceiros do projeto realizaram um ensaio de simulação. Sob o programa convencional de criação do WEMA, foi plantado um viveiro para formar 50 híbridos de três híbridos (uma versão convencional dos híbridos transgénicos) que foram identificados a partir dos ensaios regionais de rendimento. Os híbridos serão avaliados relativamente a adaptação e desempenho em ambientes diferentes nos cinco países participantes do WEMA em 2011. Além disso, a equipa WEMA progrediu ao aumentar a capacidade das equipas de desenvolvimento do produto, a nível nacional e internacional, para efetuar avaliações de risco e preparar dossiers de dados de segurança para submissão às autoridades regulamentares para CFTs. Este esforço incluiu a preparação de vários documentos, incluindo um Manual do Gestor do Local do Ensaio CFT, um Manual de Formação em Cumprimento, e a realização de sessões de formação no Quénia, no Uganda, na África do Sul e em Moçambique. Para apoiar a aprovação dos CFTs, os parceiros do projeto do WEMA nos vários países aumentaram a sua cooperação com vários participantes. Por exemplo, em Abril 2010 a equipa realizou uma reunião regional de participantes e uma viagem de estudo na África do Sul. O evento envolveu mais de 70 participantes, incluindo dirigentes de associações de agricultores e de sementes, membros do parlamento, secretários permanentes dos ministérios da agricultura e ciência e tecnologia, fornecedores de serviços de biotecnologia e representantes dos meios de comunicação. ‘O destaque do evento foi uma visita a uma quinta de milho Bt na África do Sul. Foi uma oportunidade importante para o grupo discutir assuntos relacionados com milho GM em primeira mão com um agricultor envolvido no cultivo do mesmo’, nota o Dr. Oikeh. RELATÓRIO ANUAL 2010 24 Os parceiros do WEMA envolveram-se com participantes através de várias plataformas tais como reuniões de agrícolas e científicas, onde partilharam informações sobre o progresso e as metas do projeto. Estas avenidas foram úteis para promover os sucessos científicos alcançados até à data através do projeto, assim como para dar mais relevo à iniciativa. ‘Assim que as variedades híbridas de milho estiverem desenvolvidas e ensaiadas, o nosso objetivo é trabalhar em parceria com um espetro amplo de participantes para fornecer a semente de milho melhorada a agricultores, isentos de direitos de patente, juntamente com as melhores práticas agrárias. Fomos portanto encorajados a fazer avanços significativos em 2010, obtendo apoio de vários grupos chave nesta fase inicial, diz o Dr. Oikeh. Ele refere, por exemplo, que os parceiros do projeto conseguiram realizar sessões de discussão com as comissões parlamentares relevantes, como a agricultura e a ciência e tecnologia, no Quénia, no Uganda e em Moçambique. A equipa também iniciou relacionamentos recíprocos com colegas científicos, incluindo especialistas de biotecnologia, especialmente aqueles que trabalham nas mudanças climatéricas. ‘Em 2010, melhorámos muito a nossa parceria com os meios de comunicação. Remediámos alguns desafios significativos, tais como a falta de informação adequada sobre o Projeto WEMA e o acesso a fontes credíveis. Estes esforços deram frutos, pois tivemos cerca de 50 referências em meios de comunicação locais e internacionais’, refere o Dr. Oikeh. O Dr. Oikeh diz que um sucesso significativo do projeto é o seu processo de auditoria externa. Como tal, o indicador chave de progresso do projeto foi o relatório de auditoria externa do Programa Ético, Social, Cultural e de Comercialização (ESCC), que foi favorável em 2010. ‘Uma vez que parcerias público-privadas como o projeto WEMA e o desenvolvimento de safras geneticamente modificadas têm problemas únicos de confiança pública, o objetivo da auditoria é criar confiança no projeto, criar um sistema de prestação de contas e garantir a transparência entre participantes’. A auditoria social deu ao projeto uma classificação geral encorajadora de ‘bom’. ‘O relatório também mostrou uma melhoria significativa em aspetos particulares da auditoria, especialmente um bom conhecimento do projeto, interações entre parceiros e comunicação com participantes’, explica o Dr. Oikeh. ‘Um dos nossos maiores desafios no momento é a pouca compreensão ou conhecimento da biotecnologia, especialmente da modificação genética em África. Por esta razão, estamos a trabalhar com agricultores e empresas de sementes durante a fase de desenvolvimento do projeto para garantir que estamos a transmitir a informação correta, assim como expectativas realistas relativas a milho transgénico tolerante à seca’, conclui o Dr. Oikeh. EM CIMA: Dra. Santie de Villiers (direita) do ILRI (BecA), Nairobi, Quénia, dirige-se a jornalistas da África de Leste durante uma visita ao laboratório para participantes de uma sessão de formação sobre a realização de relatórios científicos organizada pelo WEMA em Janeiro de 2010. EM BAIXO: O Sr. Molatsi Musi (direita), um agricultor de milho Bt, explica um ponto aos participantes da reunião regional do WEMA, que teve lugar em Abril 2010 na África do Sul durante uma visita de estudo à quinta dele em Olifantsvlei, perto de Joanesburgo, África do Sul. Ensaios de campo confinados aprovados no Quénia, no Uganda e na África do Sul 25 Dr. Sylvester Oikeh Gestora do Projeto de WEMA Recordar-me-ei sempre do ano 2010 com orgulho. Foi durante este ano que recebemos o resultado da Revisão Externa intercalar, que confirmou que o Projeto WEMA estava no caminho certo. A Revisão, que foi comissionada à Bill and Melinda Gates Foundation, declarou que: ‘o WEMA está de boa saúde e tem funcionários entusiastas e dedicados que acreditam apaixonadamente no valor dos objetivos do projeto e atividades de campo.’ Para mim, ter vindo para a AATF em Fevereiro 2009 e ter-me tornado o gestor do Projeto WEMA realizou a minha aspiração de fazer uma diferença significativa nas vidas dos pequenos agricultores em África. Eu trouxe para o projeto uma grande experiência em investigação e desenvolvimento agrário, a maior parte dela adquirida em projetos multidisciplinares. Estes incluem projetos para mitigar os efeitos de um ambiente mundial em mudança e desastres causados pelo homem, em populações baseadas no arroz e segurança alimentar no Sub-Saara africano, agronomia, gestão da fertilidade do solo e nutrição de plantas. Eu trabalhei anteriormente no Centro de Arroz de África, República do Benim, enquanto Agrónomo de Fertilidade do Solo durante 5 anos. Nesta função, trabalhei de perto com agricultores para desenvolver tecnologias agrárias para aumentar a produtividade e simultaneamente suster a base de produção. Liderei o desenvolvimento de quatro pacotes integrados de gestão de fertilidade do solo para aumentar a produtividade de arroz NERICA e ao mesmo tempo gerir de forma sustentável a fertilidade do solo. Como parte do meu pós-doutoramento na Universidade de Cornell, EUA (2001–2002), fui o primeiro a estabelecer a ligação entre melhor ferro e zinco em grão de milho com melhoria da nutrição humana usando uma técnica in vitro (modelo de sistema visceral) para reduzir as doenças humanas resultantes da deficiência em micronutrientes, particularmente a anemia causada por deficiência de ferro na África ocidental. Ao trabalhar como Membro Sénior de Pesquisa GTZ (1993–1996), contribuí para aumentar o conhecimento sobre os mecanismos envolvidos na eficiência do uso do nitrogénio Dr. Sylvester Oikeh a inspecionar milho tolerante à seca em KARI, Kakamega, Quénia.Kakamega, Kenya. em milho e sorgo, que levou ao desenvolvimento do modelo de milho para ambientes com pouco nitrogénio na África ocidental. No projeto WEMA, geri e motivei equipas de diferentes profissionais para desenvolver milho tolerante à seca para pequenos agricultores, um dos maiores projetos de parceria público-privada biotecnológica no Sub-Saara Africano. Também coordeno o desenvolvimento da segunda fase do projeto, que visa a distribuição do produto aos agricultores através de um modelo inovador de comercialização do produto/sistema de sementes. Algumas destas tarefas exigem maior esforço do que outras. O desafio mais significativo que enfrento regularmente é o de garantir que os parceiros do projeto, que se encontram em diferentes países do mundo, cumprem os prazos e atingem os marcos prometidos. Acredito que a biotecnologia agrícola adequada proporciona ferramentas úteis para melhorar a segurança alimentar em África. For exemplo, a biotecnologia agrária pode ser usada para desenvolver culturas geneticamente melhoradas que são tolerantes à seca, como os produtos WEMA, resistentes a pestes e doenças ou com maior valor nutricional. No entanto estes benefícios apenas serão totalmente realizáveis se as estruturas necessárias de biossanidade forem implementadas. RELATÓRIO ANUAL 2010 Projeto de arroz tolerante ao sal e com eficiência hídrica e na utilização do nitrogénio 26 Projeto prepara ensaio de campo confinado para arroz transgénico em 2012 Em 2010, o desenvolvimento de linhas de arroz transgénico eficiente no uso de nitrogénio (NUE) evoluiu bem e dentro do prazo previsto na Arcadia Biosciences, aumentando a possibilidade de realizar um ensaio de campo confinado (CFTs) em 2012. O objetivo é conseguir linhas T2 NUE que são homozigóticas, isentas de marcadores selecionáveis, com bons níveis de expressão NUE e sem sequências na coluna do vetor pelo final de 2011. Em Dezembro de 2009, a AATF e a Arcadia Biosciences concordaram em incorporar o componente de eficiência no uso de água (WUE) no projeto. Em resultado, em 2010 a Arcadia Biosciences começou a construção e cotransformação dos vetores binários de WUE. No entanto, durante o processo de sequenciamento, descobriu-se que os dois vetores binários (para o marcador selecionável e para o gene da tolerância ao sal) doados pela PIPRA tinham sequências extra. O vetor marcador selecionável foi reparado, enquanto a reconstrução do gene de tolerância ao sal avançou de forma notável. A equipa na Arcadia Biosciences e na PIPRA comprometeu-se a acelerar o processo, permitindo que os parceiros do projeto dessem início aos planos para realizar CFTs em 2012. Os parceiros do projeto também concordaram que em vez de continuarem com a cotransformação do duto originalmente planeado WUE-ST, a Arcadia Biosciences começaria um duto de transformação com um vetor de gene em pilha tripla mais barata, incorporando as três características num vetor (NUE-WUE-ST) apenas nas montanhas de Nerica. O objetivo é distribuir 20-30 linhas de arroz Esquerda: Um agricultor a colher arroz em Deve, Benim. Projeto prepara ensaio de campo confinado para arroz transgénico em 2012 27 Nigéria. O aso oke usado por este homem Yoruba é feito de material têxtil especialmente tecido para este fim; algodão, veludo e damasco é também usado. Estes chapéus são originários da Nigéria, mas são agora usados por homens de vários países africanos. NUE-WUE-ST (NEWEST) T2 até Setembro de 2012 para testar em África. Preparação da terra para a CFT A preparação da terra para o arroz transgénico tanto nas terras altas como baixas, no Gana, começou com a identificação de locais adequados e pontos chave para ensaios de tolerância ao sal. A terra para ensaios NUE foi adquirida em Bomfa, no Distrito de Ejisu-Juaben da região de Ashanti, com base em vários requisitos, incluindo a não-dependência de precipitação, a disponibilidade de uma fonte perene de água para além de poços, uniformidade de nível e de fertilidade do terreno e acesso ao mesmo. ‘Também considerámos a cultura do arroz, assim como o isolamento no que se refere a requisitos regulamentares’, explica o Dr. Paul Koffi Dartey, criador de arroz e Investigador Principal no Instituto de Pesquisa de Safra (CRI), em Kumasi. Ele explica ainda que para testar o desempenho dos eventos transgénicos NUE no campo, foi necessário realizar tais experiências no solo fortemente depauperado de/deficiente em nitrogénio. A equipa começou portanto por plantar várias culturas de milho que se sabe usar uma taxa elevada de nitrogénio. Encontraram-se alguns desafios no processo. Por exemplo, tinham ocorrido depressões nos campos das planícies da NUE durante o processo de nivelamento. Estes locais acumularam águas paradas na estação das chuvas, facto que afetou o crescimento do milho. Os pássaros também causaram danos na cultura. A equipa remediou a situação nivelando melhor o terreno e plantando uma segunda cultura de milho em Novembro de 2010. Foram realizadas atividades semelhantes na National Agricultural Research Organisation (NARO) no Uganda. O trabalho, que foi coordenado pelo Dr. Jimmy Lamo, cultivador de arroz e Investigador Principal no Uganda, incluiu trabalhos de construção civil para colocar os tubos de água e a instalação de um tanque de água e postes em cimento armado para vedações. O desenvolvimento do campo começou com o corte e a queda de árvores, a eliminação de formigueiros e a escavação do campo em preparação para a plantação de milho. Como parte do processo de preparação dos CFTs, os principais investigadores do Gana, do Uganda e da Nigéria visitaram o local do ensaio de arroz da NUE no International Center for Tropical Agriculture (CIAT), Colombia, dirigido pelo Dr. Joe Tohme e a RELATÓRIO ANUAL 2010 28 sua equipa, para se familiarizarem com os procedimentos e a plataforma de fenótipos usada, com o objetivo de padronizar os protocolos em África. Aprovações e acordos regulamentares O processo preparatório para os CFTs de arroz transgénico também inclui a obtenção da aprovação necessária das Comissões Institucionais de Biossanidade (IBC) e das Comissões Nacionais de Biossanidade (NBC) dos respetivos países. O projeto iniciou este processo no Gana e no Uganda. Oficiais do Ghana NBC visitaram o local selecionado para o CFT do arroz e mostraram-se satisfeitos com o mesmo, encorajando o início do pedido. Foram realizadas pela AATF em ambos os países, para as equipas do projeto, sessões de formação sobre requisitos de cumprimento que focaram requisitos de conformidade biossanitários pertinentes durante o transporte e a plantação e colheita de arroz transgénico. ‘Consideramos que esta foi uma sessão de formação de formadores que se espera se traduza em mais formação para todos os funcionários associados ao projeto’, diz o Dr. Francis Nang’ayo, Gestor de Assuntos Regulamentares da AATF. Uma atividade importante para a equipa é mostrar que o projeto é viável tanto técnica como economicamente. Por esta razão, realizou-se em Maio de 2010 um estudo de viabilidade do projeto de arroz NEWEST, que mais tarde foi revisto por forma a incorporar o componente de eficiência da utilização da água (WUE). Os resultados do estudo confirmaram o Esquerda: Agricultores de arroz nerica em Deve, Benim Projeto prepara ensaio de campo confinado para arroz transgénico em 2012 29 aumento projetado de 30 % na produção de arroz e uma expansão de 21% na subirrigação da terra do arroz NEWEST. ‘Os resultados do estudo confirmam ainda mais convictamente que este projeto é técnica e economicamente viável e que vai levar a um avanço fundamental na introdução de variedades de arroz transgénico em SSA, diz o Sr. George Marechera, o Gestor de Desenvolvimento de Negócios da AATF. O desenvolvimento futuro e a comercialização das variedades de arroz com uso de nitrogénio mais eficiente e maior tolerância ao sal exigirão mais acordos de licenciamento / sublicenciamento e acordos de transferência de material. Portanto, a AATF está em processo de negociar e redigir o conjunto necessário de acordos para apoiar a utilização da transformação da plataforma da planta para este projeto. A AATF está em fase final de negociações com a Arcadia Biosciences sobre a transferência das patentes de eficiência da utilização de água/pedidos de patente e sobre a licença de utilização humanitária /acordo de depósito entre a AATF e a UC Davis. Uma parte substancial dos termos de licença humanitária foi desenvolvida com funcionários da Public Intellectual Property Resource for Agriculture (PIPRA) e com a Universidade de California Davis (UC Davis), assim como com serviços “pro bono” de Morrison e Foerster. A AATF providenciou, portanto, financiamento suplementar à PIPRA para ajudar a finalizar a licença humanitária de arroz NUE-ST entre a UC Davis e a Cornell University. RELATÓRIO ANUAL 2010 Projeto de controlo biológico de Aflatoxina 30 Confirmada a eficácia do AflaSafe™ Em 2010, a equipa do Projeto de Controlo da Aflatoxina confirmou que o AflaSafe™, a primeira tecnologia indígena de biocontrolo da aflatoxina, tem capacidade para reduzir significativamente o risco colocado por este veneno altamente tóxico, carcinogénico, mesmo em casos em que os produtos da colheita foram indevidamente armazenados. Esta conclusão fundamentou-se em estudos pós-colheita realizados pelo International Institute of Tropical Agriculture (IITA) e seus parceiros em produção de milho e amendoins nos campos dos agricultores no estado de Kaduna, Nigéria do Norte, que tinham sido tratados com AflaSafe™ em 2009. Quase três quartos do milho colhido dos campos tratados obedecia aos padrões de segurança de aflatoxina estipulados pelos Estados Unidos, pelo que era seguro para consumo humano. Em contraste, dois terços do milho colhido dos campos que não tinham sido tratados com AflaSafe™ tinha níveis de aflatoxina que o tornavam inseguro para ser consumido. Além disso, a equipa concluiu que mesmo depois de ter sido armazenado em más condições, o milho colhido dos campos que tinham sido tratados com AflaSafe™ apresentava níveis reduzidos de aflatoxina. Isto significa que as cepas do biocontrolo são levadas do campo para o armazém, onde continuam a proteger o produto contra cepas atoxigénicas de Aspergillus. EM CIMA: Dr. Ranajit Bandyopadhyay conversando com agricultores de milho. Esquerda: Agricultores a espalharem AflaSafe™ em quintas de milho. Confirmada a eficácia do AflaSafe™ 31 Gana. Este dançarino enverga o adereço tradicional de penas e conchas para o Festival Anual de Nafac no Gana Estudos efetuados em 2010 também demonstraram que o AflaSafe™ é eficaz na redução significativa de aflatoxina em amendoins, oferecendo aos agricultores melhores oportunidades de mercado. Os campos tratados com AflaSafe™ registaram uma redução geral de aflatoxina de 97%. A concentração de Aflatoxina variou de 0 a 825ng/g nos campos de controlo com uma média de 58,3ng/g relativamente aos campos tratados, nos quais a concentração de aflatoxina variou de 0 a 13ng/g com uma média de 2,9ng/g. ‘Estes resultados confirmam que o AflaSafe™ pode baixar significativamente o risco de aflatoxina para os consumidores de milho e amendoins, podendo também ajudar a melhorar capacidade de comercialização do produto, explica o Dr. Ranajit Bandyopadhyay, do IITA, que é o principal investigador do projeto. Encorajado pelos resultados, o projeto preparou um dossier rascunho contendo os dados sobre a eficácia do AflaSafe™, que foi submetido à principal autoridade regulamentar da Nigéria, a Agência Nacional para a Administração e Controlo de Alimentos e Medicamentos (NAFDAC), para comentários. O dossier está a ser revisto para abrir caminho ao registo total do AflaSafe™. Além disso, em 2010 o projeto produziu mais 1,2 toneladas de AflaSafe™, que foram distribuídas em 20 campos de pequenos agricultores no estado de Kaduna, na Nigéria do Norte. O AflaSafe™ foi ainda alargado a 14 criadores comerciais de milho no estado. Este último grupo de agricultores recebeu formação em técnicas de inoculação para poderem inocular pessoalmente as suas quintas com AflaSafe™. Dezasseis campos de amendoins no Estado de Kaduna foram também tratados com AflaSafe™. ‘Neste momento, estamos a tentar determinar com que frequência – anualmente ou ano sim, ano não – precisamos de tratar os campos de agricultores com AflaSafe™. Além de determinar os requisitos da aplicação, é também importante compreender o timing da aplicação do AflaSafe™. Para se conseguir ótimos níveis de redução, devem aplicar-se 10 quilogramas de AflaSafe™ por hectare duas a três semanas antes do florescimento da cultura’, diz o Dr. Bandyopadhyay. Controlo biológico da aflatoxina no Quénia O projeto também iniciou esforços para controlar o risco de aflatoxina no Quénia, onde, nos últimos sete anos, surtos significativos causaram elevadas taxas de fatalidades em quatro distritos. O Dr. Bandyopadhyay nota que as cepas de aflatoxina Aspergillus flavus encontradas nas áreas afetadas do Quénia são algumas das mais potentes produtoras de RELATÓRIO ANUAL 2010 32 aflatoxina jamais encontradas e exclusivas da África. Durante os últimos cinco anos, identificaram-se cepas atoxigénicas concorrentes de origem queniana no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, Serviço de Investigação Agrária (USDA-ARS), num laboratório chefiado pelo Dr. Peter Cotty. Em 2010, a AATF, em parceria com o IITA, o USDA-ARS, o Instituto de Pesquisa Agrária do Quénia (KARI) e os Serviços de Inspeção de Fitossanidade do Quénia (KEPHIS), iniciou esforços para avaliar a eficácia destas cepas em ensaios em estação no Quénia. ‘Fizemos um pedido formal à Comissão Técnica de Importações e Exportações do Quénia (KSTCIE) para repatriar cepas fúngicas para o Quénia a fim de realizar ensaios em estação, durante a estação das culturas de Outubro a Janeiro’, diz o Dr. Francis Nang’ayo, Gestor de Assuntos Regulamentares da AATF. Partilhar experiência e informação O Dr. Bandyopadhyay explica que é vital que o público em geral esteja informado sobre os efeitos da contaminação da aflatoxina e sobre as práticas de gestão, incluindo o biocontrolo, que podem reduzir a contaminação do milho e do amendoim com aflatoxina. Em conformidade, em 2010 o projeto publicitou o AflaSafe™ através de documentos impressos, meios de difusão, assim como meios digitais na Nigéria, em todo o continente e internacionalmente. Além disso, a equipa teve reuniões com grupos de agricultores para discutir melhor a utilização do AflaSafe™ e outras estratégias de gestão da aflatoxina que vão melhorar a qualidade do milho e as oportunidades de mercado para os agricultores. O projeto também promoveu o conhecimento adquirido em importantes conferências agrárias, científicas e de negócios na Nigéria. Em geral, o projeto de biocontrolo de aflatoxina tem implicações significativas para vários participantes. Numa conferência da Organização para o Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (UNIDO) organizada pelo setor privado, o projeto discutiu o potencial comercial do controlo biológico de aflatoxinas na África. A UNIDO está a ajudar a AATF e parceiros a encontrar um fabricante comercial e a divulgar a informação sobre o AflaSafe™ pelo setor privado na Nigéria. O projeto também destacou o potencial do AflaSafe™ numa reunião de participantes organizada pelo Conselho de Promoção de Exportações Nigeriano/Nigerian Export Promotion Council (NEPC), Ministério Federal do Comércio e Indústria, na Nigéria. Quase 75 participantes, incluindo agricultores de milho, agentes de extensão, oficiais de saúde, dadores e representantes de agências de desenvolvimento e regulamentares compareceram à reunião. ‘Com base nos nossos esforços, a informação sobre os efeitos da contaminação de aflatoxina está a aumentar e estamos a estabelecer redes com organizações que querem fazer parcerias connosco para o controlo da contaminação de aflatoxina na Nigéria e no Quénia’, explica o Dr. Bandyopadhyay. Até agora, os estudos efetuados pelo projeto mostram que quando combinado com boas práticas pós-colheita, o AflaSafe™ pode reduzir significativamente os níveis de contaminação com aflatoxina. ‘Recomendamos portanto que se façam mais esforços para sensibilizar e trabalhar em ligação com entidades regulamentares a fim de assegurar que os alimentos e produtos alimentares que estão a ser vendidos no mercado estão dentro dos limites regulamentares no que se refere à aflatoxina. É importante continuar a sensibilizar e formar grupos de agricultores sobre o controlo da aflatoxina’, conclui o Dr. Bandyopadhyay. Esquerda: Dr. Ranajit inspeciona o agente de inoculação antes de ser distribuído aos agricultores. Confirmada a eficácia do AflaSafe™ 33 Dr. Ranajit Bandyopadhyay Investigador Principal, Projeto de Controlo Biológico da Aflatoxina Aparte dois anos sabáticos, passei toda a minha carreira profissional no Grupo de Consultoria sobre Investigação Agrária Internacional (CGIAR). Ao longo dos anos, a minha principal área de interesse tem sido as micotoxinas, principalmente a aflatoxina, embora a minha pesquisa também tenha abordado outras doenças como os fungos do grão do sorgo, ergot e antracnose, ferrugem asiática e a murcha da banana por Xanthomonas. Tive vários destaques na minha carreira, mas o mais significativo foi sem dúvida quando a primeira mão cheia de AflaSafe™ foi lançada em solo africano, na Nigéria, em 2009. Evidentemente estava igualmente entusiasmado por fazer parte dos eventos que levaram à autorização, por parte da Kenya Standing Technical Committee on Imports and Exports (KSTCIE), para repatriar cepas atoxigénicas quenianas para o Quénia, produzir o inoculado e o enviar rapidamente, com o coração nas mãos, para Nairobi, para que os campos pudessem ser tratados a tempo. Passei a integrar o esforço para desenvolver o AflaSafe™ imediatamente após me juntar ao IITA. Pedimos um subsídio à BMZ para alargar o trabalho inicial de biocontrolo que começou com o meu predecessor, Dr. Kitty Cardwell, no Benim. Recebemos o subsídio em 2003 e continuámos com a pesquisa e o desenvolvimento que resultaram num produto que agora está quase pronto para comercialização. O sucesso inicial na Nigéria motivou-nos para começarmos a trabalhar no Senegal para identificar cepas atoxigénicas, e esse trabalho foi seguido por mais trabalho em Burkina Faso. Essa expansão tem continuado desde então para Moçambique, a Zâmbia e o Peru, e também estamos otimistas sobre uma decisão relativamente a um subsídio que aguardamos para Mali, Gana e Tanzânia. Para mim, a ciência tem pouco valor se não beneficiar as pessoas pobres. Portanto, no meu planeamento estou sempre a ver um cenário maior, visando a integração das diversas disciplinas, ciência pura e aplicada, para que eventualmente possamos fazer chegar os produtos de investigação às mãos dos agricultores. Este é um dos pontos fortes do IITA e eu também tive a sorte de receber um apoio extraordinário deste Instituto. Considero que os assuntos mais abrangentes em termos de desenvolvimento, construção de parcerias, formação, comunicação, sensibilização e defesa de interesses são fundamentais no meu esforço para que o que faço no laboratório se Dr. Ranajit Bandyopadhyay mostra aflasafe e debate como funciona para reduzir aflatoxinas com agricultores num campo de milho, perto de Zaria, Nigéria traduza em saúde e benefícios de rendimento para os pequenos agricultores em África. Um aspeto entusiasmante mas desafiante do meu trabalho tem sido a necessidade de lidar com uma grande variedade de atividades desde a ciência, por um lado, até à defesa de interesses e ao desenvolvimento comercial, por outro. Neste esforço, obtive o apoio de vários dadores (mais recentemente a Bill and Melinda Gates Foundation) e indivíduos. Um bom exemplo de tal parceria é o nosso trabalho com o inventor da tecnologia de biocontrolo da aflatoxina, Dr. Peter Cotty, do USDA-ARS, Universidade do Arizona. Peter agraciou-nos com a sua autorização para usarmos a patente dele em “exclusão competitiva”, para fins humanitários em África. As cepas que usámos no Quénia foram identificadas no seu laboratório e ele deu-nos acesso livre a estas. Peter continua a trabalhar connosco apoiando os esforços de biocontrolo da aflatoxina em África. Lembro-me ainda de formar uma equipa com Peter e Margaret McDaniel, do USDAFAS, passando de um dador para o seguinte em Washington DC, a procurar apoio para o controlo da aflatoxina. Os nossos esforços culminaram na formulação da plataforma de parcerias CAADP, apoiando a Parceria para o Controlo da Aflatoxina em África. Tenho de reconhecer o apoio da AATF, que tem sido fundamental não apenas no aspeto de financiar em 2008 e 2009 o trabalho que manteve a investigação viva quando outras fontes de financiamento foram reduzidas, mas ainda no seu apoio à gestão e defesa dos interesses da parceria. A tarefa que temos pela frente é um desafio, dada a expansão rápida das atividades de biocontrolo de aflatoxina em África. No entanto, o objetivo é inspirador. Aguardo ansiosamente o dia em que pelo menos um milhão de agricultores no Sub-Saara Africano terão acesso a tecnologias de gestão e biocontrolo de aflatoxina, permitindo-lhes melhorar a própria saúde - e a dos seus consumidores, muitos dos quais crianças e mulheres – e o seu rendimento. RELATÓRIO ANUAL 2010 Regulamentação da biotecnologia 34 Regulamentação da Biotecnologia no Sub-Saara Africano O ano de 2010 marcou o décimo quinto aniversário da comercialização das culturas biotecnológicas. Nessa altura, a área mundial total com culturas biotecnológicas estava calculada como excedendo um bilião de hectares, abrangendo propriedades agrárias grandes e pequenas. Parceiros do WEMA a inspecionarem milho transgénico em KARI, Kiboko, Quénia. Regulamentação da Biotecnologia no Sub-Saara Africano O aumento da adesão a soluções modernas de biotecnologia como a tecnologia de modificação genética (GM) tem sido impulsionada por vários obstáculos agrários como, por exemplo, o baixo rendimento das culturas devido a pestes, doenças e secas. No entanto, o interesse crescente na tecnologia GM tem sido acompanhado por preocupações relativas aos aspetos relacionados com sanidade, ética e comércio dos organismos modificados geneticamente, e apela à regulamentação rigorosa dos produtos GM, tendo na frente os consumidores e a vigilância ambiental. As diversas considerações de cariz ideológico, político e comercial no desenvolvimento de tecnologia GMO têm influenciado a natureza e o âmbito das estratégias de regulamentação que estão a ser adotadas por países ou blocos económicos. Em África, alguns dos fatores que influenciaram posições políticas sobre a tecnologia GM incluem preocupações relativamente às ameaças potenciais para a biodiversidade, perdas possíveis de mercados, segurança alimentar e epidemias de doença assim como a apreensão sobre a a competência de países específicos para explorar a tecnologia GM. Em conformidade, muitos países africanos assinaram e ratificaram os dois maiores instrumentos que procuram facilitar a exploração dos benefícios potenciais da biotecnologia moderna, simultaneamente salvaguardando contra riscos potenciais, que incluem as diretrizes e padrões estipulados pela Convenção Internacional de Proteção de Plantas (IPPC), a Codex Alimentarius Commission e o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança na Convenção sobre Diversidade Biológica. Estes instrumentos obrigam os signatários a tomarem medidas adequadas legais, administrativas e outras para garantir que 35 África do Sul. Tradicionalmente, as mulheres Xhosa aderem rigorosamente aos códigos de vestuário. As mulheres casadas cobrem a cabeça, e os tecidos na cabeça servem para denotar o estatuto da mulher na comunidade. o desenvolvimento, o manuseamento, o movimento transfronteiriço e a utilização de organismos vivos modificados (LMOs) é feita de forma a reduzir os riscos para a diversidade biológica e a saúde humana. Há dois processos regulamentares chave para biossanidade. O primeiro é a ‘Avaliação de Risco’, que procura determinar tanto a probabilidade de certos riscos como as consequências quando esse risco acontece. O segundo, a ‘Gestão de Risco’, procura formas de gerir esse risco, para reduzir a probabilidade de ocorrência das consequências ou a sua magnitude. A nível do país, o cumprimento regulamentar em sanidade de tecnologia GM é imposto por enquadramentos nacionais de biossanidade (NBFs). Estes precisam portanto de ser tão completos quanto possível para garantir que as atividades relacionadas com a tecnologia GM continuam de forma segura e muito responsável. Em geral, os países africanos enquadram-se em quatro categorias em termos de existência de NBFs operacionais, variando de enquadramentos com funcionalidade total, enquadramentos temporários de biossanidade, NBFs que são ‘trabalho em curso’ até uma categoria de países sem NBFs. No entanto, mesmo na presença de diretrizes e enquadramentos, muitos países ainda têm uma capacidade limitada para lidarem com os vários assuntos relacionados com a biotecnologia agrária, incluindo assuntos de propriedade intelectual, inspeção e monitorização do cumprimento. Um assunto pertinente que o desenvolvimento da biotecnologia enfrenta é o da responsabilidade objetiva, especificamente as responsabilidades potenciais relativas às culturas transgénicas. Isto refere-se à responsabilidade, sem erro voluntário, do produtor ou utilizador de culturas de transgénicos, no caso de se verificar que estas causam danos as pessoas ou propriedades. Para os oponentes da tecnologia GM, existe a probabilidade de as culturas transgénicas serem nocivas para a saúde ou o ambiente, a longo prazo, quando o pólen passa das culturas transgénicas para as não transgénicas, arruinando o estatuto “orgânico” de culturas não transgénicas ou a pureza do material genético de sementes não transgénicas. Embora ainda não tenham sido encontradas bases científicas para tal eventualidade, algumas legislações de Biossanidade em certos países dão àqueles que acreditam que as suas terras ou culturas foram danificadas pelas culturas transgénicas do vizinho o direito legal de pedirem obrigações rigorosas ou responsabilidade. Embora tais provisões encorajem aqueles que desenvolvem culturas transgénicas a adotarem as devidas salvaguardas científicas e procedimentos de tutela de tecnologia eficazes, a responsabilidade objetiva e a nova análise de provisões levou a um hábito crescente de provisões para indemnizações e declinação de responsabilidade pelos dadores de tecnologia agrária. Tais provisões de responsabilidade objetiva podem agir como dissuasores para quem desenvolve tecnologia, incluindo potenciais dadores de tecnologia e mesmo de finanças para a pesquisa agrária em África. Isto é uma preocupação especial em África, onde o seguro de responsabilidade para culturas transgénicas não está amplamente disponível e os custos de tal seguro ou fundo de compensações pode aumentos os custos de funcionamento e do produto. Para a preparação total para o acesso e o uso dos benefícios da biotecnologia, muitos países precisarão de investir em recursos humanos e instalações para trabalharem com tecnologias inovadoras e implementarem a defesa pró-ativa e a educação quem elabora políticas e toma decisões. Embora os desafios regulamentares tenham uma miríade de perspetivas, incluindo as de quem desenvolve o produto e dos legisladores, a necessidade urgente é de promulgação de políticas que regulamentem eficazmente, mas não impeçam, o acesso a tecnologias apropriadas e úteis por parte dos agricultores africanos. As parcerias entre quem desenvolve tecnologias, reguladores e público serão fundamentais para se conseguir a gestão responsável e ética de produtos biotecnológicos desde o seu desenvolvimento até à sua utilização. RELATÓRIO ANUAL 2010 Propriedade Intelectual 36 Gestão responsável da Propriedade Intelectual na Agricultura Um motor efetivo para a transferência de tecnologia agrária Há alguns anos atrás, a investigação agrária era realizada principalmente por instituições e universidades do setor público, que eram os líderes no desenvolvimento de variedades melhoradas de culturas. Estes produtos eram depois transferidos para as propriedades agrárias através de serviços de extensão cooperativa, como um bem público. A Sra Irene Kitsara (esquerda), o Coordenador do Projeto, Serviço de Informações de Patentes em WIPO, visitou AAFT para consultas com os funcionários após a assinatura do memorandum de entendimento AATF/WIPO Gestão responsável da Propriedade Intelectual na Agricultura No entanto, durante as últimas décadas, os produtos desenvolvidos através de investigação agrária têm sido tratados cada vez mais como bens privados e protegidos através de várias formas de propriedade intelectual (IP). Como o desenvolvimento de tais produtos exige, em geral, muito tempo e investimento financeiro, o criador geralmente procura um retorno do seu esforço ao adquirir os direitos de IP. Os direitos também permitem ao criador restringir a utilização da sua propriedade intelectual. Em agricultura, o conceito de propriedade intelectual está bem estabelecido, por exemplo através de patentes em equipamento agrícola. Uma patente é um direito exclusivo dado a um inventor que proíbe todos os outros de fazerem, usarem e/ou venderem uma determinada invenção. Assim que é emitida, uma patente dá ao inventor o direito legal de criar um monopólio limitado, proibindo outros de criarem, produzirem, venderem ou importarem a invenção. Este direito é válido por um período de 20 anos a partir da data de apresentação do pedido de patente. Em troca do direito de exclusão, o inventor tem de divulgar todos os pormenores que descrevem a invenção, para que quando expirar o direito da patente, depois de 20 anos, o público possa ter a oportunidade de desenvolver e beneficiar da utilização da invenção. Em relação a plantas, o sistema de proteção de variedades de plantas (PVP), que também é referido como direitos do cultivador da planta, permite que os cultivadores de plantas protejam as novas variedades de plantas por períodos 37 Tanzânia. Quase todos os aspetos da cultura Suaíli foram grandemente influenciados pela cultura árabe, incluindo o vestuário. Um exemplo é o buibui, o vestido comprido preto usado por estas duas mulheres; as cabeças estão tapadas com hibajus. específicos. O PVP e as patentes são as formas mais usadas e também mais controversas de proteção de biotecnologia agrária. Os PVPs são menos caros do que as patentes e, para os requerentes tal como para os administradores, o seu processo é menos complicado. Também conseguem isenções mais liberais (semente poupada pelo agricultor) do que as patentes. Portanto, os PVPs tendem a ser a forma preferida de IP, especialmente em países em desenvolvimento. O Acordo relativo a Aspetos dos Direitos da Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio (TRIPS) da Organização Mundial do Comércio é o acordo mais completo sobre direitos de propriedade intelectual e tem inspirado a África a emitir legislação nacional de propriedade intelectual sobre novas variedades de plantas, patentes, marcas registadas e direitos de autor. O acordo TRIPS exige que as “patentes estejam disponíveis para quaisquer invenções, sejam produtos ou processos, em todos os campos da tecnologia”. No entanto, este acordo permite que os países excluam da proteção “plantas e animais que não microrganismos”. Alguns países africanos são apologistas do TRIPS, mas muitos deles não tem a perícia para redigirem legislação adequada (PVPs ou patentes) e começarem a administrar tais sistemas. Os países africanos estão preocupados com a possibilidade de a nova tecnologia ser detida apenas por empresas multinacionais e portanto inacessível ou muito cara para eles. Também questionam a ética de proteger, ou “ser proprietário de”, organismos vivos. Por outro lado, com sistemas de propriedade intelectual adequados, os países em desenvolvimento beneficiam da proteção dos seus recursos genéticos e poderão conseguir encorajar o investimento na indústria de cultivo de plantas e atrair colaboradores internacionais. Uma das questões perenes, especialmente em África, é se os direitos de propriedade intelectual, que são detidos predominantemente pelo setor privado, levam à monopolização de sementes, instrumentos de investigação e mesmo de conhecimento. Além disso, os sistemas agrários em muitos países em desenvolvimento querem muito determinar se os direitos de propriedade intelectual vão promover a investigação e o desenvolvimento ao proporcionarem incentivo ao investimento e encorajarem o acesso a invenções criadas em outros locais. O surgimento de legislação de propriedade intelectual moderna em África serve de estímulo para a transferência de tecnologia agrária, porque sob as provisões de tal legislação qualquer utilização não autorizada de um direito de propriedade intelectual durante o período de proteção iria constituir uma infração. Há agora uma maior necessidade de as instituições agrárias em África formularem políticas de propriedade intelectual que estipulem objetivos e princípios de conduta claros para obter acesso e uso de propriedade intelectual. As políticas de propriedade intelectual deveriam estabelecer diretrizes quanto a como e quando se deve procurar e exercer a proteção de propriedade intelectual. As políticas também tratariam da questão da detenção do rendimento de propriedade intelectual de um projeto de investigação agrária em colaboração. As instituições de investigação financiadas publicamente deveriam aumentar a sua capacidade para gerir a propriedade intelectual que procuram ou geram. O conhecimento dos direitos de propriedade intelectual vai ajudar os cientistas de países em desenvolvimento a determinarem se a informação sobre uma determinada tecnologia já é do domínio público e portanto está disponível gratuitamente. Além disso, as propriedades intelectuais geradas pelo setor público podem ser consideradas como ativos que podem ser trocados por propriedades intelectuais detidas pelo setor privado ou usadas para conseguir melhor preço em negociações de transferência de tecnologia. A parceria entre os setores público e privado no desenvolvimento de tecnologia através da partilha de conhecimento e propriedade intelectual podem acelerar a transferência de tecnologia e a aquisição em ambos os lados. Uma gestão responsável de propriedade intelectual pode ser um motor efetivo para a transferência de tecnologia agrária. RELATÓRIO ANUAL 2010 Parcerias público-privadas 38 Criar confiança em parcerias público-privadas Melhorando o desempenho e a eficácia Dr. Stephen Misari (em camisa vermelha), entomologista do projeto feijão-frade, conversando sobre o feijão-frade Bt com técnicos durante a infestação. Criar confiança em parcerias público-privadas Os agricultores, especialmente aqueles em países em desenvolvimento, enfrentam cada vez mais ameaças à sua capacidade de se alimentarem e às suas famílias. Isto sublinha a necessidade de construir parcerias mais amplas, mais profundas e mais eficazes que melhorem a eficácia da cadeia alimentar mundial e ofereçam aos agricultores oportunidade de produzirem e ganharem mais. O ónus de criar regulamentação eficaz tanto ambiental como agrária, construir a confiança do investidor, dar prioridade ao investimento público e construir a infraestrutura que liga os agricultores a uma economia mais ampla reside totalmente com os governos. No entanto, apesar de a agricultura estar no centro de muitas economias africanas, o investimento público na agricultura tem sido frequentemente relegado para o planeamento económico. Em contraste, o setor privado possui o conhecimento e a tecnologia para apoiar agricultores como seus clientes e parceiros, ajudando-os portanto a melhor beneficiarem da investigação. Reconheceu-se portanto que o setor público e privado precisam de tirar proveito dos pontos positivos mútuos para acelerar o processo de desenvolvimento e a distribuição de tecnologias no campo, para benefício de agricultores com poucos recursos. As parcerias entre o setor privado, que tem capacidade comprovada para trazer tecnologias aos agricultores (na forma de sementes e outras contribuições agrárias), e o setor público, que tem capacidade para a investigação agrária e perícia e conhecimento 39 Nigéria. A camisa larga usada por este músico de rua de Shinkafi, uma cidade no estado de Zamfara na Nigéria do Norte, é chamada buba. A fila é um capucho tradicional usado pelos homens nigerianos. locais, são portanto fulcrais para se atingirem os objetivos agrícolas de suficiência alimentar e melhores meios de subsistência para a África. Embora estas parcerias tenham o potencial de responderem a uma gama ampla de desafios globais ao combinar recursos e perícia, a experiência mostrou que o sucesso depende do tratamento meticuloso de elementos subtis e potencialmente frágeis legais, confidenciais, éticos e socioculturais. Na verdade, a falta de confiança entre os participantes dos setores privado e público sobre as motivações e a capacidade de realizar projetos humanitários de cada um deles é um grande obstáculo às parcerias de sucesso entre os dois setores. Tem havido tentativas, em anos recentes, para quebrar o gelo, e as parcerias públicoprivadas (PPPs) estão a tornar-se cada vez mais um meio eficaz para esse fim. A ideia é capturar a sinergia das organizações do setor público e do setor privado que trabalham em conjunto para alcançar metas comuns. das PPPs1, a qual resulta frequentemente de perceções erróneas do público acerca do envolvimento do setor privado2 e do conflito entre as culturas pública e privada dentro da parceria. A incapacidade de conseguir confiança entre parceiros de uma PPP e entre o projeto e o público pode colocar em grande risco o sucesso de uma PPP e por fim pode resultar na falha da iniciativa de desenvolvimento3. De acordo com um estudo de informadores chave de PPPs envolvendo os centros do Grupo de Consultoria sobre Investigação Agrária Internacional (CGIAR) e empresas multinacionais de investigação agrária, 40% dos inquiridos acredita que a falta de confiança e a suspeita foi um grande impedimento à formação de maiores parcerias4. Há assuntos contenciosos relativos à saúde humana e animal, à preservação de biodiversidade e culturas indígenas, à regulamentação de novas tecnologias e às relações de poder entre as corporações multinacionais e os pequenos agricultores. Falta de confiança nas PPPs 1 Edelenbos J and Klijn EH. 2007. Trust in complex decision-making networks: A theoretical and empirical exploration. Administration and Society 39 (1): 25–50. As PPPs para a agro-biotecnologia enfrentam os seus próprios desafios e complexidades, criadas na sua maioria por controvérsia à volta de culturas geneticamente modificadas (GM) e o ceticismo generalizado sobre o envolvimento do setor privado. A falta de confiança foi identificada como um dos principais desafios para o sucesso 2 De Costa A, Johansson E, Diwan VK. 2008. Barriers of mistrust: public and private health sectors’ perceptions of each other in Madhya Pradesh, India. Qual Health Res (Disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/18503017). Junho de 2008, 18 (6): 756–66.. 3 Ezezika Obidimma C, Thomas Fiona, Lavery James V, Daar Abdallah S, Singer Peter A. 2009. A Social audit model for agro-biotechnology initiatives in developing countries: Accounting for ethical, social, cultural, and commercialization issues. Journal of Technology Management & Innovation, 4 (3): 24–33. 4 Spielman D J and von Grebmer K. 2006. Public–private partnerships in international agricultural research. Journal of Technology Transfer 31 (1): 291–300. RELATÓRIO ANUAL 2010 40 Estas complexidades são agravadas pelo número elevado de grupos de participantes, a quantidade de governos nacionais envolvidos, as múltiplas instituições de investigação, a partilha de recursos e questões de direitos de propriedade intelectual. Modelo para criar confiança O McLaughlin-Rotman Centre for Global Health, da University Health Network, e a Universidade de Toronto, Canadá, desenvolveram um modelo para criar confiança para lidar com os riscos para as PPP de agro-biotecnologia associados com a falta de confiança do público. No modelo, uma equipa de auditoria recolhe, analisa e interpreta informação descritiva, quantitativa e qualitativa. A informação é recolhida para produzir um relato do desempenho e impacto do projeto nas vertentes ética, social, cultural e comercial. A meta final é ajudar a promover melhores práticas de gestão, responsabilização e transparência, que por sua vez ajudarão a criar confiança entre os parceiros do projeto e o público. O Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA) é o primeiro projeto a realizar uma auditoria deste tipo no Sul. Para implementá-lo, grupos de participantes foram identificados para inclusão e foram envolvidos na elaboração dos questionários e nos ensaios piloto de ferramentas que seriam usadas na auditoria social. A auditoria social do projeto é realizada através de entrevistas de participantes, e as conclusões, juntamente com as dos grupos de foco e os relatórios de reuniões do projeto, são analisadas e relatadas num relatório de auditoria social. O relatório é apresentado e discutido com os gestores do projeto, o governo e financiadores, e partilhado publicamente com os participantes do projeto. Na fase final do modelo, testemunhamos o impacto de comunicar a informação da auditoria através de práticas de gestão melhoradas, responsabilização dos gestores do projeto relativamente aos financiadores do projeto e garantia de transparência do projeto a todos os participantes.Acomunicação e a responsabilização são consideradas fulcrais a todos os níveis do modelo. Criar confiança e melhorar o desempenho A aplicação do modelo ao projeto WEMA foi considerada pelas equipas, pela gestão e Criar confiança em parcerias público-privadas 41 pelos financiadores do projeto WEMA eficaz em termos de construção de confiança entre os parceiros do projeto e entre o projeto e o público. Isto deve-se à criação de um clima de responsabilização e transparência em assuntos éticos, sociais e culturais. A aplicação do modelo permitiu que o projeto tomasse em linha de conta as ideias e preocupações de todas as partes envolvidas na PPP de agro-biotecnologia, e garantir que estes grupos eram todos informados sobre as questões que surgiam e como deviam ser tratadas no projeto. A combinação de tomar em consideração os pontos de vista de todas as partes e divulgar os principais achados desta informação a todas as partes envolvidas no projeto dá transparência e responsabilização, e por fim ajuda a alinhar os objetivos e interesses das várias partes – que de outra forma não teriam sido abertamente comunicados e negociados. através da construção de confiança, que é um esforço complexo, carregado de desafios éticos, sociais e culturais. O modelo ajuda a enfrentar estes desafios em PPPs para construir e manter a confiança, e pode ser aplicado a várias PPPs de desenvolvimento mundial devido à flexibilidade da configuração do seu modelo e ao potencial para moldar as suas ferramentas a diferentes necessidades do projeto. Perspetivas de participantes Num estudo online realizado durante o ano sobre a eficácia do modelo para criar confiança no projeto WEMA, os participantes indicaram que as conclusões da auditoria social refletem as questões expressas pelos participantes do WEMA. As auditorias sociais foram relatadas como tendo sucesso em proporcionar oportunidades aos participantes do WEMA para expressarem abertamente as suas opiniões sobre o projeto. A maioria dos inquiridos classificou as auditorias sociais como “muito boas” ou “excelentes” a este respeito. A provisão de transparência sobre o projeto WEMA através das conclusões da auditoria social foi considerada muito elevada. Um participante mencionou: ‘A auditoria social transformou a forma de pensar dos implementadores do projeto no que respeita à sua perceção do papel importante dos participantes para a implementação com sucesso do projeto WEMA.’ Criar um futuro de PPPs eficazes e responsabilizáveis À medida que as PPPs se tornam uma via comum para trazer inovações de vanguarda para o público, é imperativo que sejam efetivas e sustentáveis. Um ingrediente chave para conseguir esta eficácia e sustentabilidade consegue-se RELATÓRIO ANUAL 2010 Fórum aberto sobre Biotecnologia Agrária em África 42 OFAB reflete sobre sucesso, desafios e lições Definindo o rumo futuro O Fórum aberto sobre Biotecnologia Agrária em África (OFAB) continua a desempenhar uma função crucial como plataforma para deliberações sobre biotecnologia agrária no continente. Em novembro de 2010, o OFAB deteve a sua primeira reunião continental de consultoria que juntou os seus cinco capítulos. A reunião constituiu uma oportunidade de aprendizagem, planeamento e partilha de experiências para os parceiros do Fórum. O OFAB foi iniciado pela AATF em 2006 para melhorar a sensibilização, a partilha de conhecimento e o nível de compreensão sobre biotecnologia em geral e o seu componente agrário em particular. O objetivo mais importante do OFAB, que reúne intervenientes chave incluindo cientistas, jornalistas, legisladores, civis e agricultores, é contribuir para um ambiente conducente à tomada de decisões sobre biotecnologia agrária. O OFAB está atualmente em funcionamento no Quénia, no Uganda, na Tanzânia, na Nigéria e no Egito. As atividades do Fórum são geridas por diferentes agências governamentais e instituições públicas nos países respetivos em parceria com a AATF. No Quénia, a AATF estabeleceu parceria com o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agro-biotecnologia (ISAAA- Africenter). O capítulo Uganda é administrado em colaboração com o Conselho Nacional do Uganda para a Ciência e Tecnologi (UNCST). A Agência Nacional Nigeriana de Desenvolvimento em Biotecnologia Agrária (NABDA) e a Comissão Tanzaniana para Ciência e Tecnologia (COSTECH) ajudam no funcionamento dos EM CIMA: Participantes da reunião de consultoria dos capítulos OFAB que teve lugar em Novembro 2010 em Nairobi, Quénia Em BAIXO: Participantes do capítulo OFAB Nigéria seguem atentamente os procedimentos. OFAB reflete sobre sucesso, desafios e lições 43 Tanzânia. Pelos brincos usados por esta mulher Samburu, pode ver-se que tem um filho circuncisado. A cor vermelha é de importância particular e está associada a transições sociais, sangue e sensualidade. capítulos nos seus países. O Programa de Sistemas de Biossanidade (PBS) continua a apoiar o trabalho do OFAB no Quénia, no Uganda e na Nigéria enquanto o Conselho da Nigéria para Investigação Agrária (ARCN) apoia a NABDA na Nigéria. A definição do rumo a seguir Em novembro de 2011, 20 representantes reuniram-se em Nairobi para a primeira reunião consultiva de sempre dos capítulos OFAB. O principal objetivo da reunião de três dias, organizada pela AATF e o ISAAA, foi avaliar o desempenho do OFAB desde o seu início. Os participantes apresentaram a evolução feita nos países respetivos, destacando os sucessos, desafios, lições que aprenderam e métodos inovadores aplicados durante o ano. Estas discussões confirmaram a relevância contínua do OFAB e, ainda mais importante, informaram sobre o rumo futuro do OFAB. A reunião concluiu que todos os indicadores apontam para a necessidade de melhorar a eficácia do OFAB reforçando-o e expandindo as suas atividades dentro dos países onde está a funcionar atualmente e também em toda a África. Os participantes sentiram que estes objetivos podiam ser atingidos melhorando-se os sistemas de governação dos capítulos dos países e introduzindo reuniões e atividades adicionais fora das principais cidades. Como forma de melhorar a comunicação em biotecnologia, os participantes sugeriram fortalecer as competências dos cientistas para comunicarem com o público em geral. Propuseram ainda que os jornalistas pedissem apoio, para lhes permitir reportarem sobre assuntos de biotecnologia de forma precisa e equilibrada. A reunião também assinalou a necessidade de promover a participação de mulheres em discussões de biotecnologia a nível de cada país, assim como as suas capacidades de liderança dentro do OFAB. Mobilização de recursos O mais forte apoio que o OFAB teve em 2010 foi um subsídio de US$ 2.000.000 concedido pela Bill and Melinda Gatess Foundation para cobrir as atividades do Fórum em 2011. Este apoio aumentou a confiança dos parceiros OFAB no Fórum e garantiu que a força ganha durante quatro anos seria mantida. Atualizações nacionais As reuniões mensais do OFAB continuaram nos capítulos, em conformidade com os objetivos gerais do OFAB, com base nas necessidades e nos interesses respetivos dos países. As opiniões partilhadas durante estes fóruns, que atraíram a participação de oficiais governamentais de alto nível, contribuíram para as agendas nacionais em biotecnologia. O capítulo do OFAB na Nigéria organizou um evento especial para os meios de comunicação onde jornalistas e cientistas discutiram a biotecnologia agrária e a sua função no desenvolvimento agrícola do país. A sessão também deliberou sobre os benefícios potenciais da biotecnologia moderna para o desenvolvimento nacional, assim como sobre assuntos relacionados com a regulamentação da biotecnologia. No Quénia, o OFAB focou vários tópicos, incluindo a evolução feita em projetos de biotecnologia, tais como a pesquisa sobre o algodão Bt. O Fórum também discutiu a função da biotecnologia, os desafios relativos à sua comercialização e o papel dos meios de comunicação no processo. No Uganda, a principal área de interesse foi o âmbito da biossanidade e biossegurança em laboratórios médicos e outros de caráter científico que tratam de agentes infecciosos no país. O capítulo também discutiu a aplicação de instrumentos de biotecnologia para combater a epidemia do listrado castanho da mandioca que voltou a surgir no país. O capítulo da OFAB na Tanzânia discutiu preocupações relativas ao acesso a sementes de biotecnologia e à capacidade dos cientistas locais para usarem biotecnologia. Também estudaram a forma como a sensibilização do público e a educação sobre biotecnologia poderiam ser melhoradas. Durante o curto período de tempo durante o qual o OFAB tem estado a funcionar, tem continuado a registar progresso e crescimento nos países, mantendo-se concentrado na sua função chave de ser uma plataforma para que os participantes discutam questões de biotecnologia de forma aberta, com base nas necessidades e nos interesses do seu país. RELATÓRIO ANUAL 2010 44 Relatório Financeiro Esta demonstração financeira auditada abrange o período de Janeiro de 2010 até Dezembro de 2010 e proporciona dados comparativos para o exercício de 2009. Panorama de financiamentos Em 2010 os principais investidores financeiros da AATF incluíram: • Bill & Melinda Gates Foundation • Department for International Development (DFID), Reino Unido • Howard G. Buffett Foundation • United States Agency for International Development (USAID) A Fundação agradece-lhes o apoio contínuo e consistente. Saúde Financeira A saúde financeira da Fundação melhorou relativamente ao ano anterior, como o demonstram os números elucidativos. A Fundação recebeu um relatório de auditoria sem reservas e a opinião dos auditores independentes sobre as contas da Fundação em 2010 foi a seguinte: ‘Na nossa opinião, a demonstração financeira anexa reflete fielmente a situação financeira a 31 de dezembro de 2010 e o seu excedente e fluxo de capital mostraram-se em conformidade com os Padrões Internacionais de Relatório Financeiro (IFRS)… Na nossa opinião, a Fundação manteve os devidos registos contabilísticos, tanto quanto podemos ver pelo exame que fizemos aos mesmos …’ Relatório Financeiro 45 Demonstração financeira a 31 de dezembro de 2010 (US$) 2010 2009 111,500 1,693 157,634 1,359 113,193 158,993 280,360 287,431 2,010,259 2,306,114 232,627 261,388 4,000,000 2,176,994 4,884,164 6,671,009 4,997,357 6,830,002 2,705,628 324,669 5,109,739 304,874 3,030,297 5,414,613 37,811 1,929,249 0 1,415,389 4,997,357 6,830,002 Ativos Ativos não correntes Equipamento e veículos motorizados Ativos incorpóreos Ativos correntes Subsídios a receber Outras quantias a receber Depósitos bancários Saldos bancários e de caixa Total de ativos Passivos e saldos do fundo Passivos correntes Subsídio remanescentes a pagar Quantias a pagar e adicionais Rendimento deferido Saldos do fundo Passivo total e saldo total do fundo Declaração extensa de rendimentos (versão abreviada em US$) para o ano findo a 31 de dezembro de 2010 2010 2009 12,165,298 96,001 9,514,286 2,802 12,261,299 9,517,088 10,166,966 1,580,474 8,977,526 1,553,286 Rendimento Rendimento de subsídios * Outros rendimentos Total de rendimentos Despesas Despesas relacionadas com o projeto Administração e despesas gerais Total de despesas ** Excedente/(deficit) para o período Percentagem de despesas de administração e gerais relativamente às despesas totais de funcionamento Percentagem de despesas do projeto relativamente às despesas totais de funcionamento 11,747,439 10,530,811 513,860 (1,013,723) 13.45% 14.75% 86.55% 85.25% 100% 100% * O total do rendimento de subsídios elevou-se para $12,2 milhões relativamente a $9,5 milhões no ano de 2009. Este aumento deve-se principalmente a um subsídio adicional de £2.500.000 do DFID para apoiar as atividades principais que eram anteriormente abrangidas pelo subsídio da Fundação Rockefeller. O aumento deve-se ainda ao reconhecimento de um subsídio não gasto, no valor aproximado de $5.000.000, que foi deferido de 2009. No entanto, durante o ano houve uma redução do subsídio da Fundação Bill & Melinda Gates de $4.691.171 para o projeto de Milho com Eficiência Hídrica para África (WEMA). ** Durante o ano, as atividades do projeto AATF aumentaram, levando a um aumento das despesas relacionadas com o projeto para $10.2 milhões quando comparadas com $9 milhões em 2009. No entanto, as despesas de administração e gerais mantiveram-se relativamente constantes quando comparadas com o ano anterior, resultando num melhor rácio de “despesas de administração e gerais”, sendo a percentagem da “despesa total” de 13,45% relativamente a 14,75% em 2009. O rácio de “despesa de projeto” enquanto percentagem da “despesa total” ficou em 86,55% e 85,25% em 2010 e 2009 respetivamente. RELATÓRIO ANUAL 2010 46 Membros do Conselho da AATF em 2010 Membros do Conselho da AATF em 2010 1. Walter Alhassan (Presidente do Conselho). Coordenador do Projeto II de Apoio à Biotecnologia Agrária (ABSPII); Coordenador Sub-regional da África Ocidental e Central, Programa de Sistemas de Biossanidade /Programme for Biosafety Systems (PBS) Accra, Gana 2. Idah Sithole-Niang (Vice-Presidente do Conselho). Professor, Departamento de Bioquímica, Universidade do Zimbabué 3. Kevin Nachtrab. Consultor Jurídico Sénior, Patentes, Johnson & Johnson, Bélgica 4. Michio Oishi. Diretor, Instituto de Investigação de ADN Kazusa, Kazusa-Kamatari, Kisarazu, Chiba, Japão 5. Gordon Conway. Professor de Desenvolvimento Internacional, Centro de Política Ambiental, Imperial College, Londres, Reino Unido 6. Peter Matlon. Professor Adjunto, Departamento de Economia e Gestão Aplicadas, Cornell University, Itaca, Nova Iorque, Estados Unidos 7. Robert Harness (falecido). Consultor Independente, Política de Biotecnologia 8. Josephine Okot. Diretora Executiva, Victoria Seeds Ltd, Kampala, Uganda 9. Mariame Maiga. Socióloga de Desenvolvimento Rural, Política de Desenvolvimento e Analista de Projeto, Especialista em Género 10. Wilson Songa. Secretário da Agricultura, Ministério da Agricultura, Nairobi, Quénia 11. Daniel Mataruka. Diretor Executivo, African Agricultural Technology Foundation, Nairobi, Quénia 12. Adrianne Massey. Directora, A Massey & Associates, Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA 13. Alhaji Bamanga Tukur. Presidente do Grupo, BHI Holdings Limited (Grupo de Empresas Daddo), Lagos, Nigéria 47 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 RELATÓRIO ANUAL 2010 48 Colaboradores da AATF em 2010 Daniel Fungai Mataruka. Diretor Executivo* 2. Hodeba Jacob D Mignouna. Gestor de Operações Técnicas / Diretor Executivo em exercício 3. Moussa Elhadj Adam. Gestor de Administração e Finanças 4. Alhaji Tejan-Cole. Conselheiro Jurídico 5. Francis Nang’ayo. Gestor de Assuntos Regulamentares 6. Gospel Omanya. Gestor de Sistemas de Sementes 7. Nancy Muchiri. Gestora de Comunicações e Parcerias 8. Nompumelelo H Obokoh. Gestora de Projeto, Feijão-frade 9. George Marechera. Gestor de Desenvolvimento de Negócios 10. Sylvester Oikeh. Gestor de Projeto, WEMA 11. Peter Werehire. Responsável por Publicações e sites de Internet 12. Grace Wachoro. Responsável por Comunicações do projeto, WEMA 1 1. 9 2 3 4 5 6 7 8 10 11 12 Colaboradores da AATF em 2010 49 13. Umaru Abu. Responsável Administrativa / Comunicações, África do Sul 14. Jacquine Kinyua. Assistente Executiva do Diretor Executivo 15. Stella Simiyu-Wafukho. Responsável do Programa, Regulamentar 16. David Tarus. Assistente do Programa 17. Martin Mutua. Funcionário de Contabilidade * 18. Amos Kimebur. Funcionário de Contabilidade 19. Maurice Ojow. Contabilista do Projeto 20. Caroline Thande. Assistente Administrativa, WEMA 22. Fatuma Wario. Assistente Administrativa / Coordenadora de Eventos 23. Gordon Ogutu. Assistente de Protocolo e Relações Externas 24. George Njogu. Motorista *Saiu em 2010 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 RELATÓRIO ANUAL 2010 African Agricultural Technology Foundation Caixa Postal 30709 - 00100 Nairobi, Quénia email: [email protected] • website: www.aatf-africa.org Telefone e Fax: Direto Central: +254 (0)20 422 3700 Fax: +254 (0)20 422 3701 Via EUA Telefone: +1 650 833 6660 3700 Fax: +1 650 833 6661 3701