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IMPORTÂNCIA DO MERCADO DA CARNE BOVINA
Nos dias de hoje, é tendência internacional o aumento da demanda por alimentos
e outros produtos agrícolas assim como da produção dos mesmos. De acordo com as
projeções mais recentes do International Food Policy Research Institute’s (IFPRI’s)
International Model for Policy Analysis of Agricultural Commodities and Trade
(IMPACT), a produção global de cereais é estimada para aumentar 56% entre os anos de
1997 e 2050 e a produção pecuária em 90% para o mesmo período. Os países em
desenvolvimento serão responsáveis por 93% do crescimento da demanda de cereais e
85% do aumento da demanda por carnes até 2050. A elevação da renda e a rápida
urbanização são os principais fatores em direção ao incremento na demanda por
commodities de maior valor agregado, tais como carnes, frutas e vegetais. O comércio
internacional de produtos agrícolas aumentará substancialmente, sendo que as
importações de cereais dos países em desenvolvimento dobrará em 2025 e triplicará em
2050 (Rosegrant e Cline, 2003).
Tocante à carne bovina, segundo informações para o ano de 2007 obtidas junto
ao United States Department of Agriculture (USDA), dez países são responsáveis por
aproximadamente 90% da produção mundial, sendo mais da metade desta feita por
apenas cinco países, os quais, em ordem decrescente, são: Estados Unidos, Brasil,
China, Argentina e Índia. Cabe esclarecer que o bloco econômico da União Européia é o
terceiro maior produtor mundial, no entanto tomando a análise em conta por país, é a
China que ocupa a terceira posição.
Na realidade brasileira, a bovinocultura possui relevância socioeconômica, além
de movimentar a indústria e a distribuição de uma gama variada de insumos que utiliza
no segmento produtivo, a cadeia da pecuária bovina, incluindo produção, abate,
transformação, transporte e comercialização de produtos e subprodutos fornecidos pela
exploração do rebanho, movimenta um grande número de agentes e de estruturas, da
fazenda à indústria, e ao comércio, gerando renda e criando empregos em seus diversos
segmentos.
No contexto exposto, a indústria de carnes é um dos principais setores de
alimentos, sendo a maior do ramo em termos de geração de empregos e volume de
recursos e capitais empregados. A importância de tal segmento da cadeia produtiva de
carne bovina é explicada pelo seu diferenciado poder de negociação dos preços, eis que
está em maior proximidade com o consumidor de carnes em relação aos demais
integrantes da cadeia. Desta forma, toda a cadeia se organiza sob influência direta das
decisões da indústria frigorífica, e é remunerada em conformidade com a valorização do
mercado consumidor.
A cadeia da carne bovina tem importante participação na economia brasileira.
Do PIB total do agronegócio em 2006, de cerca de 539,6 bilhões, a cadeia bovina
participou em 12%, totalizando R$ 65,1 bilhões (Neves & Castro, 2007). Além disso, a
cadeia agroindustrial da carne bovina é muito diversificada, gerando empregos tanto na
produção, industrialização e comercialização, quanto em outros elos, como o plantio de
grãos, armazenamento, transporte, etc.
A carne bovina é um dos itens mais importantes da dieta alimentar da população
brasileira e apresenta um dos maiores potenciais de crescimento. Este último fato
depende, num primeiro momento, da melhora do poder de compra dos consumidores
brasileiros e da capacidade de a cadeia de produção se adequar ao aumento do consumo.
A produção dos animais e a indústria estão passando por um processo de evolução que
se tornou quase uma questão de sobrevivência para toda a cadeia produtiva. Com a
queda nas taxas de inflação, as ocilações dos preços dentro da cadeia ganharam muito
destaque, pois todos os participantes da atividade estavam acostumados com elevadas
variações de preços no decorrer do ano e, dessa forma, conseguiam obter ganhos
consideráveis, (Zen, 2004).
O consumo de carne bovina no Brasil segue as disparidades da renda existentes
no País. O grupo de pessoas de renda elevada tem taxas de consumo semelhantes às dos
maiores consumidores mundiais, mais de 50 kg/hab./ano, enquanto as camadas de baixa
renda têm consumo de terceiro mundo, com menos de 10 kg/hab./ano. A
disponibilidade interna situa-se em torno de 34 kg/hab./ ano. O crescimento do mercado
interno passa obrigatoriamente pela melhoria da renda, ou pelo fornecimento de
produtos por preços menores. O outro mercado da carne brasileira é o externo, e este
depende de qualidade e preços, (Zen, 2004).
CADEIA PRODUTIVA DA CARNE BOVINA
A cadeia produtiva de carne bovina pode ser conceituada como um conjunto de
Componentes interativos, tais como diferentes sistemas produtivos, fornecedores de
serviços e insumos, indústrias de processamento e transformação, distribuição e
comercialização de produtos e subprodutos, e seus respectivos consumidores finais
(Bliska & Gonçalves, 1998). Esta cadeia produtiva vem enfrentando constantes
dificuldades decorrentes da falta de subsídios para nortear o setor de forma sistêmica.
As limitações do sistema produtivo, em termos de sustentabilidade, de eficiência de
desempenho, da necessidade de se abordar o assunto sob o enfoque de cadeia produtiva
e de agronegócios, determinam que ações devem ser tomadas de imediato para reverter
à situação atual do setor bovino de corte, que vem ao longo dos anos perdendo mercado
para outras cadeias agroalimentares concorrentes (Malafaia, Talamini & Blume, 2005).
Problemas relacionados com limitações de natureza sanitária do rebanho, não
permitindo alcançar melhores preços no mercado internacional, centralização dos abates
em poucas plantas processadoras, concentração do varejo e a falta de coordenação na
cadeia produtiva, podem ser apontados como as principais causas da baixa remuneração
ao quilo do boi (Barcellos et al., 2004). É consenso na literatura que a cadeia da carne
bovina, no Brasil, apresenta baixos níveis de coordenação; a comercialização é um
sistema defasado e ineficiente, repleto de oportunismo, assimetria de informações e falta
de estabilidade de preços. Aliado a isso, a concorrência desleal de frigoríficos que
abatem clandestinamente contribuem para a ineficiência desse sistema (Malafaia et al., ,
2005). Na cadeia bovina o mercado pode ser dividido em três blocos. O mercado
consumidor que serão as pessoas que irão consumir a carne bovina processada pela
indústria; o mercado fornecedor que oferece matéria prima, embalagens, materiais
necessários para processar e comercializar a carne bovina e o mercado concorrente que
vende carne similar à ofertada ao consumidor. Tanto o produtor rural como o frigorífico
estão inseridos no mercado fornecedor, o primeiro como fornecedor de matéria prima e
o segundo como processador desta carne. Saber a qual mercado consumidor deve se
direcionar a agroindústria de processamento é fator determinante para o sucesso do
negócio, pois se sabe que o mercado consumidor não é compacto e é formado por partes
menores que compõe o todo, chamado segmentos de mercado com características
próprias extremamente variáveis (Grunet, 1997). Tanto para o mercado fornecedor
como para o mercado concorrente, destaca-se na cadeia da carne bovina a indústria de
processamento da carne, o frigorífico.
No frigorífico, o processo informacional é mais amplo, compreendendo várias
fontes de informações, as quais podem ser úteis, se repassadas aos produtores na forma
e momento apropriado. Por outro lado, a organização varejo-frigorífico se limita a
informar aos produtores os padrões de qualidade que os animais a serem abatidos
devem possuir. Mas isto no momento da negociação. Os produtores por sua vez,
apresentam processos informacionais deficientes, com poucas fontes, com um
agravamento pela falta de organização e pelo pouco repasse de informações tanto pelo
varejo quanto pelo frigorífico.
Caminhos alternativos de buscas de informações
poderiam ser desenvolvidos para compensar a falta de dados por parte do segmento fora
da porteira, entretanto, isso não tem ocorrido e é uma das causas do estado de
subserviência ao frigorífico e varejo.
A grande diversidade dos sistemas de produção e a descoordenação de toda a
cadeia (produtores, frigoríficos, atacadistas e varejistas)
refletem a grande
heterogeneidade de carcaças e conseqüentemente, de carne bovina produzidas, causando
problemas no momento da comercialização (Suñé, 2005). Além disso, existem etapas
em seu processo produtivo, que devido à intensa dependência de fatores ambientais e
biológicos, são de difícil superação, como ter um longo ciclo produtivo. Paralelamente a
isto, existe um consumidor cada vez mais exigente, querendo qualidade, constância e
segurança do produto. Portanto, produzir para atender as demandas de mercado, tornase o grande desafio do pecuarista brasileiro.
Entretanto, quando se busca ofertar carnes de qualidade (“descomoditizadas”),
com marca e certificação, essas formas de comercialização se alteram, passando a
existir variadas formas de governança. A predominância de relações via mercado, faz
com que a cadeia não consiga uma maior capacidade de adaptação às exigências dos
diferentes segmentos de consumidores presentes no mercado nacional e internacional. A
incapacidade de interpretar os sinais do mercado e organizar-se no sentido de atendê-lo
é um fator crucial para perda de competitividade em um mercado altamente acirrado.
Para sobreviver e manter-se competitivo nesse mercado é necessário que haja uma
estrutura eficiente que organize a produção. Baseado na visão de STORPER &
HARRISON (1991) pode-se inferir que a cadeia da carne bovina não possui uma
estrutura de governança. Uma explicação para esse fato incide na falta de uma filosofia
de cooperação vertical e horizontal entre os elos da referida cadeia, trazendo inúmeros
prejuízos para o setor. No caso específico do Estado do Rio Grande do Sul, existe uma
forte concentração da indústria frigorífica, fazendo com que o seu poder de negociação
(exigências de padrões, determinação de preço) seja imposto nas transações com os
produtores. Sendo assim, pode-se caracterizar essa cadeia como buyer-driven
commodity chain, ou seja, liderada por compradores (Gereffi, 1994).
A competitividade e até mesmo a sobrevivência da indústria da carne bovina no
mercado está intimamente associada a sua eficiência em gerenciar a produção, o que se
traduz na segurança do cliente, e contribui também, na redução de custos e perdas.
Assim, deve ser dada atenção a todas as etapas da cadeia: matéria-prima básica,
produção, processamento industrial e distribuição. Um descuido ou falta de atenção em
qualquer dessas etapas pode comprometer seriamente o produto final, o que
comprometeria a sobrevivência da empresa. Cabe ressaltar que a distribuição de carnes
é um elo importante no segmento, uma vez que é através dela que se completa o
processo de agregação de valor ao consumidor final.
CARACTERIZAÇÃO DOS DIFERENTES ELOS DA CADEIA PRODUTIVA DA
CARNE
Figura 1. A cadeia produtiva da carne bovina.
Insumos
Na base da cadeia, interagindo com os produtores primários, têm-se a indústrias
de insumos, onde estão fertilizantes, máquinas, e implementos, sementes, rações
animais, agroquímicos e fármacos, combustíveis e lubrificantes, bem como cercas
elétricas e material para cercas convencionais, balanças e troncos de contenção e
sistemas de gerenciamento informatizado (Tellechea, 2001). Zylberstajn e Neves (2000)
comentam que são empresas que além de vender produtos passam a perceber os
problemas de gerenciamento enfrentados pelos produtores e também fornece atividades
de gerência. Ainda, outras empresas vendem os produtos e fornecem a assistência
técnica para o produtor.
Produtor (Fornecedor de matéria-prima)
Quadros (2001) verificou que os produtores rurais do Rio Grande do Sul estão
buscando a adoção de novas tecnologias de produção e introduzindo o uso de pastagem
cultivada ou o sistema de semiconfinamento. Analisando os seus entrevistados, o autor
constatou a preocupação com a melhoria genética dos animais produzidos, assim como,
com as formas de manejo pré-abate, devidamente orientadas pelos frigoríficos. Também
constatou que os produtores direcionam seu foco no ganho de peso dos animais que é o
fator determinante para a valorização do seu produto. Mello (2003) também verificou a
crescente preocupação dos produtores rurais no RS com o produto que chega ao
consumidor final. Apesar dos produtores entrevistados demonstrarem uma crescente
preocupação com a adoção destas novas tecnologias, estas informações não podem ser
generalizadas, pois ainda há uma grande parcela de pecuaristas que não está inserido
neste novo contexto. Também há uma grande disparidade entre a prática e as respostas
dos entrevistados, pois muitas vezes apesar de o entrevistado apontar suas respectivas
preocupações, não se observa nenhuma medida prática que se verifique melhoras nos
sistemas de produção.
Mercado Processador de Matéria-Prima (Frigoríficos)
No ambiente processador, nos últimos anos, as margens foram extremamente
baixas. Nesse período os subprodutos, particularmente o couro minimizou o problema
de rentabilidade.
Além disso, a alta carga tributária determinou evasões fiscais e
migração de muitas plantas para a clandestinidade. O resultado foi à desorganização do
setor.
Uma vez o setor não apresentando coordenação entre seus elos, a
competitividade da cadeia fica comprometida e não está apta para aproveitar as
oportunidades de mercado e em particular nas mudanças do comportamento do
consumidor verificadas nos últimos anos. Essas mudanças são percebidas mais
facilmente pelo varejo. Contudo, essas percepções devem ser repassadas aos segmentos
a montante da cadeia. No entanto, o que se observa é que o fluxo de informações entre
os agentes da cadeia é insatisfatório, pois estes detêm informações de interesse a outros
elos da cadeia produtiva, mas, estrategicamente não repassam na sua maioria.
A
estrutura do processo informacional do setor de varejo limita-se basicamente às
informações geradas no próprio varejo.
A falta de poder de negociação dos frigoríficos em relação à rede do varejo
conduz a pressão sobre o produtor rural na hora de negociar preços e prazos (Barcellos
et al., 2004a). No entanto, o frigorífico por ser o elo mais próximo do produtor, será de
suma importância para estabelecer um relacionamento harmônico entre ambas as partes
e assim poder estar estrategicamente conectado com as demandas de mercado. Somente
a partir desta visão é que os sistemas de produção serão bioeconomicamente
sustentáveis. É importante que o setor se articule para reverter este quadro, de forma a
reduzir custos e promover um crescimento mais equilibrado entre os elos da cadeia
produtiva. Iniciativas de algumas redes de varejo e de frigoríficos demonstraram a
percepção para esta realidade e aproveitaram a oportunidade ampliando suas margens
de lucro. Porém o setor só poderá manter a força propulsora do crescimento por meio de
uma distribuição mais eqüitativa dos ganhos aos agentes da cadeia produtiva (Barcellos
et. al., 2004).
Canais de distribuição (Comercialização)
A estrutura de comercialização da carne é basicamente dividida em três tipos de
estabelecimentos: supermercados/hipermercados, açougues e boutiques de carnes. Os
supermercados/hipermercados correspondem por aproximadamente 60% das vendas de
carne (Tellechea, 2001). Além disso, o setor supermercadista possui predomínio sobre
as informações por estar mais próximo do consumidor (Souza et al., 2004). As
exigências dos consumidores têm influenciado o desenvolvimento de alguns tipos de
cortes de carne, causando revisões nos conceitos de carcaças, com o objetivo de
fornecer uma extensa seleção de peças para açougue, variando em peso, preço e
qualidade, para atender aos diferentes pontos de venda, às indústrias ou à exportação
(LEDIC et al., 2000).
Como a cadeia é desarticulada e os supermercados são os responsáveis pela
distribuição da grande maioria do produto ao consumidor (TELLECHEA, 2001), de
uma forma geral, são eles que estabelecem as regras na cadeia da carne bovina e tem um
papel muito significativo na definição dos preços praticados em todos os segmentos
dessa cadeia. Esta afirmativa está baseada no fato de que o consumidor é o regulador de
preços. A elevação do preço do produto ao consumidor final imediatamente reflete na
redução ou, até mesmo, na estagnação das vendas. O consumidor é sensível aos
aumentos de preços e, como estes mantêm uma relação muito próxima dos
supermercados, repassam os efeitos da “ponta” para os demais elos da cadeia produtiva
(RIO GRANDE DO SUL, 2003).
O Mercado Consumidor
O mercado consumidor da carne bovina se modificou nos últimos tempos, tanto
a nível externo como interno. Cada vez mais exigentes, demonstram uma grande
preocupação com os produtos que levam para casa, desde a forma de produção ao
processamento das carnes. Fatores como bem estar animal, preservação do meio
ambiente e produtos próprios para o consumo humano sem contaminações, irão
determinar a credibilidade do produto na hora da compra (Neves et al., 2003). Além
disso, o estilo de vida moderna, com um consumidor com menos tempo para seus
afazeres, o tempo gasto em compras é cada vez menor. Logo a apresentação do produto,
tempo de preparo e o tipo de embalagens tornam-se características decisivas na hora da
compra. Também nota-se a crescente substituição de cortes cárneos pelo consumo de
produtos preparados (Ferreira & Barcellos, 2001). Desse modo, o consumidor tornou-se
o agente responsável pela exigência de padrões de qualidade ou a inexistência delas
(redes informais), determinando uma nova reestruturação da cadeia como um todo.
O conhecimento do mercado consumidor pela indústria de processamento
(frigoríficos) será fator determinante para o sucesso do negócio, pois como o mercado
consumidor é formado por diferentes segmentos, com características e exigências
próprias, estes poderão determinar os rumos da produção a partir de suas demandas
(EMBRAPA, 2004). As pesquisas apontam para o final das generalizações e a
necessidade do uso das técnicas de segmentação de mercado, existindo espaço
suficiente para diversos tipos de oferta, que irão conviver num mesmo tempo e
conquistarão consumidores nas suas ocasiões de compra (Neves, 2003). Para cada
mercado consumidor existem características que devem ser atendidas, para mercados
que visam a exportação sabe-se que há a exigência de carcaças mais pesadas e para os
mercados que visam o abastecimento interno é observada a demanda por carnes
provenientes do abate de animais jovens. Portanto, é o mercado que determina e
estabelece padrões requeridos e quem produz deve atendê-los (Barcellos et al., 2004a).
ALTERNATIVAS PARA COORDENAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DA
CARNE
Há uma necessidade premente de maior profissionalização de todos os elos da
cadeia. Prioridades precisam ser claramente definidas dentro de cada segmento. Para
viabilizar isto será necessário que a cadeia produtiva oriente esforços para a qualidade
do produto final e para a sua certificação por meio da gestão por processos. A utilização
da gestão por processos em uma cadeia produtiva que visa a certificação do produto
final, além de possibilitar o conhecimento de todo o macroprocesso produtivo e de todas
as ferramentas utilizadas para agregação de valores qualitativos, oferece, ainda, a
possibilidade de se ter um claro conhecimento dos fornecedores, dos produtos e dos
clientes envolvidos na sua constituição. Isto propiciará uma visão global de toda a
cadeia, definindo como e onde agir no sentido de prevenir oferta de produtos
com qualidade inferior no mesmo segmento daqueles de alta qualidade. Neste
caminho, ainda há muito por fazer, mas com certeza o foco será na geração de
conhecimentos e de tecnologias, no treinamento e capacitação de pessoal, na
certificação da qualidade da carne, no seu rastreamento, na identificação de animais, na
alimentação, na sanidade e transporte e finalmente no processo de abate e
industrialização até a disponibilização ao consumidor final.
Somente a partir da existência de um produto diferenciado, previamente
identificado com os desejos dos consumidores, é que poderá ser negociada uma
integração com os demais segmentos da cadeia produtiva. Neste sentido, a coordenação
da cadeia da carne bovina via mercado promove a falta de rastreabilidade dos produtos,
ou seja, o consumidor não consegue identificar a relação entre o produto que adquire e o
fornecedor. Assim, a diferenciação dos produtos é limitada e fica quase que
inteiramente nas mãos do varejista. Nesta situação, o produtor que trabalha com
qualidade não obtém uma valorização real por um produto com melhores atributos.
Cabe salientar, que historicamente as relações entre os agentes da cadeia bovina sempre
foram conflituosas, o que define uma relação entre seus membros exclusivamente via
mercado. Exemplos disso são as varias tentativas frustradas de se estabelecer arranjos
produtivos neste setor (Rocha, Neves & Lobo 2001).
Marketing na Cadeia da Carne Bovina
Uma cadeia efetiva de carne vermelha deveria funcionar segundo os princípios
fundamentais de marketing, baseados na orientação de mercado e suportados pela
identificação das necessidades e preferências dos consumidores e pela satisfação total
destas necessidades (Aguiar, 2006). Neste sentido, Saab (1999) identificou que
consumidores de carne bovina em Ribeirão Preto, São Paulo, preferiam produtos com
selo de garantia de maciez da carne, o que confirma a valorização de um atributo
intrínseco do alimento. Além disso, os resultados sinalizaram que consumidores estão
dispostos a pagar mais pelos alimentos com esses certificados. Segundo Souki et al.
(2003), apesar de a literatura apontar uma série de iniciativas no Brasil relacionadas ao
marketing na cadeia da carne bovina, a escassez de informações científicas nacionais
sobre o consumidor tem limitado as decisões e ações dos agentes que compõem essa
cadeia produtiva e do governo. Para isto, o foco deverá ser na criação de uma imagem
emocional do produto e na comunicação eficaz de suas qualidades numa seqüência de
agregação de valor ao produto final que deverá cumprir quatro condições básicas para
iniciar uma campanha eficiente: segurança higiênico-sanitária, valor nutricional
garantido, características sensoriais e rastreabilidade (Figura 2).
Figura 2. Esquema de marketing na carne bovina. (Barcellos, 2004b)
Rastreabilidade
Um aspecto que teve a atenção aumentada correlato ao aumento do volume de
exportação nas definições do mercado de carne se refere à rastreabilidade dos animais, a
qual fornece maior informação sobre o produto adquirido através de um certificado de
origem, colocando-se como um importante desafio a ser enfrentado pelo setor, no
processo de melhoria da estrutura de sua produção. Esse mecanismo propicia maior
credibilidade e segurança à carne e seus derivados junto aos consumidores. No caso
específico da carne bovina, ainda são poucos os frigoríficos que têm uma preocupação
sistematizada com relação à rastreabilidade, com exceção dos estabelecimentos do
subsistema exportador, muito mais pela exigência do mercado importador, do que pelo
requerimento do mercado interno. (Neumann, 2006)
No Brasil a rastreabilidade inicialmente surgiu como a grande saída para a
cadeia produtiva da carne bovina, prometendo melhores preços, controles e facilidades.
No entanto, os frigoríficos não entenderam muito bem o processo e a regulamentação
sofreu várias modificações, sendo que o processo passou algumas vezes pelo descrédito.
Na realidade, foi criada uma expectativa ao segmento dentro da porteira que não foi
concretizada. Contudo, depois de praticamente dois anos de discussões e ajustes o
processo é uma realidade e a médio e longo prazo colocará a pecuária de corte
brasileira, agora com diferenciais de especificação capazes de alcançar outros mercados
mais exigentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As alterações no ambiente socioeconômico e institucional vêm impondo à cadeia
produtiva da carne significativas transformações. Nesse contexto, os empreendimentos
rurais precisam assumir características empresariais.
Provavelmente, a mudança mais difícil seja a da própria cultura do produtor
rural.
As
possibilidades
de
viabilização
do
empreendimento
rural
passam
necessariamente pela mudança de atitude dos produtores. Sem acreditar que essas
mudanças sejam realmente necessárias para enfrentar a intensa competição dos
mercados a chance de sucesso e bastante reduzida.
O principal problema não se encontra nas técnicas agropecuárias que, dentro da
realidade de cada produtor, estão plenamente disponíveis. Ele reside,sobretudo, na
compreensão desta nova realidade comercial, que impõe articulação com os segmentos
pré e pós porteira, novas formas de negociação e práticas de gestão do processo
produtivo. Além disso, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio entre a articulação
com os agentes da cadeia de produção e conseqüente perda de poder decisório, em troca
de maior rentabilidade e estabilidade proporcionadas.
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