Esparta

Transcrição

Esparta
Esparta
Frente aos ideais atenienses de liberdade e democracia, a cidade de Esparta
representou, na Grécia antiga, os valores da austeridade, do espírito cívico e militar,
da igualdade social e da submissão total do indivíduo ao estado. Curiosamente, esse
modelo de sociedade, consolidado pelas reformas legislativas de Licurgo por volta do
ano 700 a.C., inspirou a teoria do contrato social de Rousseau, documento básico da
democracia moderna.
Esparta, Spárti em grego moderno, está situada no sudeste da península do
Peloponeso, às margens do rio Eurotas. A cidade atual, ao norte das ruínas antigas, é
capital do departamento da Lacônia.
Fundação. Primitivamente habitada por povos pré-helênicos, a Lacônia foi invadida
pelos aqueus, que aí teriam fundado a cidade de Lacedemônia (a tradição aponta,
como fundador, Lacedemônio, filho de Zeus e Taígeta). Por volta do século XII a.C., os
dórios, em ondas sucessivas, ocuparam a região e, no local da antiga Lacedemônia,
ergueram Esparta no século IX a.C., como resultado da fusão de quatro povos dóricos
com o povoado aqueu de Amiclas. A cidade logo se impôs sobre as vizinhas graças a
seu poderoso exército.
Após a unificação, todo o território ficou sob o comando de Esparta e suas terras foram
repartidas entre os guerreiros. A população foi dividida em três classes: a dos
espartanos, ou cidadãos, com todos os direitos civis e políticos; a dos periecos,
homens livres, antigos habitantes da região, possuidores de terras, sem direitos
políticos mas obrigados ao serviço militar e responsáveis pelo comércio e indústria,
atividade vedada aos espartanos, proibidos de acumular riquezas; e os hilotas,
escravos do estado, que cultivavam as terras dos espartanos.
Numericamente inferiores, os espartanos se impuseram uma severíssima disciplina
militar, sobre a qual se assentava sua organização político-social. Isentos de tarefas
agrícolas, dedicavam-se ao governo, à caça e ao treinamento militar e desportivo,
entendidas essas atividades como necessárias para a disciplina pessoal e social. Dos
sete aos vinte anos o jovem era submetido a treinamento militar intensivo, por conta
do estado. Dos vinte aos sessenta o cidadão estava ligado ao serviço militar, devendo
tomar com os companheiros a refeição da noite. Aos vinte anos já podia casar-se, mas
só aos trinta era desobrigado de dormir no acampamento. As moças recebiam
treinamento análogo e privilegiavam o dever patriótico em relação ao amor à família.
À frente do governo estavam dois reis de sucessão hereditária, descendentes, segundo
a tradição, dos gêmeos Eurístenes e Procles, cujos filhos, Ágis e Eurípone, teriam dado
nome às dinastias reinantes: ágidas e euripôntidas. Tinham igual autoridade como
chefes religiosos e militares e contavam com o assessoramento de uma espécie de
senado, a gerúsia, composta de 28 membros vitalícios, maiores de sessenta anos,
eleitos por aclamação pela assembléia do povo, denominada apela. Aos integrantes da
gerúsia, os gerontes, cabia preparar as leis a serem votadas pela apela e constituir um
tribunal que julgava os processos de interesse do estado, especialmente os que
afetassem os soberanos. A apela, integrada por todos os cidadãos com plenos direitos,
aprovava ou rejeitava os projetos apresentados, elegia os gerontes e os éforos
(principais magistrados de Esparta) e votava a paz e a guerra.
Em meados do século VI a.C., Esparta tornou-se uma das principais potências da
Grécia. Desprezando os avanços culturais, filosóficos e artísticos de Atenas, concentrou
sua força na atividade militar. A educação dos jovens era sempre voltada para os
interesses do estado e sobretudo para as guerras. Ao chegar à idade adulta, os
homens se convertiam nas "muralhas de Esparta", já que a cidade carecia de
fortificações. A mulher espartana desfrutou de mais liberdade em comparação com
outras gregas. Sua função principal era dar ao estado filhos fortes e sadios.
A força militar de Esparta foi decisiva na luta que uniu todos os gregos para repelir a
invasão persa entre 481 e 480 a.C. e derrotar completamente os agressores, um ano
depois. Coube aos espartanos, liderados por Leônidas, protagonizar a heróica defesa
do estreito das Termópilas. Livres da pressão persa, os gregos passaram a guerrear
entre si. As guerras do Peloponeso (431-404) entre Esparta e Atenas teve origem na
rivalidade econômica e política entre as duas potências. Atenas, dona de uma
importante frota capaz de controlar os povos das ilhas, ameaçava a tradicional
superioridade espartana na península. Depois de anos de combates terrestres e navais,
os espartanos conseguiram submeter Atenas e seus aliados. Entretanto, o triunfo
obrigou Esparta a administrar um extenso território que excedia sua capacidade de
controle. Em breve, as cidades gregas começaram a mostrar seu descontentamento
com o duro regime espartano. Atenas, Corinto, Tebas e Argos coligaram-se e, com a
ajuda dos persas, derrotaram Esparta, em 387 a.C.
A cidade vivia uma grave crise social, motivada pela desigualdade entre a oligarquia e
o restante da população, submetida a condições de miséria. Esparta foi então obrigada
a firmar com os persas uma paz pela qual perdeu o domínio sobre as colônias jônicas
da Anatólia, embora mantivesse certo poder na Grécia continental. Por fim, a vitória do
tebano Epaminondas em Leuctras, em 371 a.C., acabou com a soberania espartana no
Peloponeso e na Grécia, na primeira batalha em campo aberto perdida pelos
espartanos. Poucos anos depois, o poder da Macedônia, estado helenizado do norte, se
impôs sobre toda a Grécia.
Esparta vegetou nas épocas helenística e romana e, no ano 396 d.C., foi destruída
pelos visigodos. Os bizantinos a repovoaram e, em 1460, a região caiu em poder dos
turcos otomanos. A cidade moderna foi edificada a partir de 1834, junto às ruínas
antigas. É um pequeno núcleo comercial e industrial, que vive da produção de cítricos
e azeite de oliva.

Documentos relacionados

Capítulo 11 – Grécia e sua democracia

Capítulo 11 – Grécia e sua democracia gerontes, do qual faziam parte dois reis; • Propunham leis, decidiam se a cidade devia ou não participar de uma guerra e julgavam crimes.

Leia mais

Professor Cristóvão

Professor Cristóvão Inicialmente, era povoada pelos “pelasgos”, povo autóctone. Entre os séculos X e XII a.C., novos povos chegaram à região em ondas migratórias: jônios, eólios, aqueus e dórios.

Leia mais

historia antiga2

historia antiga2 Lendas do século V a.C. relatam que descendentes de Héracles – Hércules na mitologia romana – foram os responsáveis pela ocupação inicial do território espartano. Entretanto, as pesquisas arqueológ...

Leia mais

Esparta Imortal

Esparta Imortal da Grécia, seus habitantes só eram encontrados nos campos de batalha j- e em mais nenhum outro lugar. Esse isolamento era reforçado por uma rigorosa lei contra o uso de moedas de ouro ou prata que ...

Leia mais

Esparta

Esparta  Possuíam o conhecimento de armas de ferro dando a eles vantagem bélica.  Os dórios fizeram daqueles que resistiram, escravos. Aqueles que não se opuseram tornaram-se homens livres sem direitos ...

Leia mais

Antiguidade Clássica

Antiguidade Clássica Espartanos ou Esparcíatas: descendentes dos dórios e únicos detentores do poder político e das terras; Periecos: aqueus livres, sem direitos – deveriam participar do exército quando necessário; não...

Leia mais

Aulas de História

Aulas de História Atenas perdeu os navios que lhe tinham restado e as muralhas que e defendiam a cidade e, em Esparta, o imi pacto da guerra foi ainda maior. Apesar da vitória, a sociedade espartana desmoronou – as ...

Leia mais

GRÉCIA ANTIGA – 2 O PERÍODO CLÁSSICO A pólis grega Em fins

GRÉCIA ANTIGA – 2 O PERÍODO CLÁSSICO A pólis grega Em fins Por meio de uma ação militar permanente, os governantes reduziram a entrada de estrangeiros e a saída de seus cidadãos. Cada cidadão de Esparta era um membro permanente do exército. A economia espa...

Leia mais

História

História propriedade coletiva dos bens de produção e chefia para o pater-famílias), caracterizaram o Homérico, considerado por alguns historiadores como “Idade das Trevas” ou “Período Obscuro” da Grécia. Um...

Leia mais

Diferenças profundas afastavam as duas principais cidades

Diferenças profundas afastavam as duas principais cidades Encravada no Peloponeso, Esparta foi erguida pelos dórios, no século IX a.C., numa região chamada Lacônia. Ali, a dominação dória sobre os povos conquistados deu origem a uma rígida organização soc...

Leia mais