Chegou!!!

Transcrição

Chegou!!!
E
Radiocídio
ste deveria ser um editorial novidadeiro, destinado
a saudar nossa nova diretoria, o novo piano, e o
novo formato deste jornal, mas, infelizmente, nossa
pauta foi atropelada pela aparição, nas dependências
da TVE, em pleno ano 2000!, da velha censura, do
velho mandonismo e da velha subserviência.
Ao que parece, a saudável indignação de um
punhado de jornalistas foi o suficiente para exorcizar
a coisa. Mas até onde ela chegou? Há metástase? A
ACERP (a Associação que administra a TVE e a Rádio
MEC) está então sob censura? Ou é ou presta-se a ser
um braço dela?
A ACERP-Rádio parece confirmar a última hipótese, pois a violenta nota no JB – veja na página 10 –
nada mais quer do que reprimir e censurar as
atividades culturais dos Amigos Ouvintes.
O leitor ocasional não é obrigado a saber que a
SOARMEC existe e trabalha pela saúde do rádio
educativo-cultural brasileiro; mas deve saber que nada
é mais anticultural e menos educativo do que a
censura.
Para que esses arroubos censórios fiquem bem
documentados, estamos dedicando três páginas (6,7 e
10) a comentários e transcrições de trechos de artigos
publicados pela grande imprensa, os quais demonstram, de modo contundente, que a coisa não
está boa para a TVE – e nem para a Rádio MEC, a
emissora que nos diz respeito.
Trocado em miúdos, o que emerge dos dois
incidentes repressivos é que a Rádio, enquanto núcleo
transmissor de cultura e saber, não tem mais a menor
importância. Pode ficar entregue à sua própria sorte,
pode ficar acéfala, e pode ser, como já o foi, separada
do Ministério da Educação (onde estava desde 1936).
Ainda não conseguimos entender por que, no
enorme quebra-cabeças brasileiro, com tantos vazios
por preencher, seus administradores resolveram desconectar peças que já estavam corretamente encaixadas,
como é o caso da Rádio e seu Ministério de origem.
O resultado é que a Rádio MEC – que deveria e
poderia ser para o Brasil o que a BBC é para a Inglaterra, ou a Rádio França para os franceses – nunca,
em seus 64 anos, esteve tão desprotegida. Nem
quando quiseram levá-la para Brasília, e nem mesmo
durante a ditadura militar – que, note-se, jamais
pensou em retirá-la do Ministério da Educação.
E agora, José, a quem recorrer? D. Beatriz Roquette-Pinto, que conheceu muitos ministros, costumava repetir uma frase tolerante e otimista a respeito
dos eventuais desmandos radiofônicos brasileiros: “Os
homens passam e a Rádio, estando no Ministério da
Educação sempre vai encontrar alguém que mantenha
sua parte educativa”. Mas as mulheres também
passam, e a grande defensora da Rádio não há mais.
No Brasil 2000 de hoje, com a Emissora fora do
Ministério pelo 6º ano consecutivo, a quem recorrer?
Será que os “parentes espirituais de Roquette-Pinto”,
dos quais a parte mais conhecida são os 455 sócios de
nossa Sociedade, podem conseguir o reconhecimento
jurídico necessário para fazer valer o famoso documento de doação e, com isso, lograr que a rádio
retorne ao Ministério a que tem direito? Com a
palavra, os juristas.
IMPRESSO
Editorial
Amigo Ouvinte
Ano VIII • Nº 29 • JUNHO de 2000
I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C
Chegou!!!
No ano em que se
comemora o 300º
aniversário da invenção
do instrumento,
finalmente, após exatos
9 meses (10 de setembro
a 7 de junho) o piano
da Rádio MEC chegou
ao Estúdio Sinfônico da
Emissora – páginas 2 e 3.
Dez anos nota 10!
6ª Assembléia Geral elege 5ª diretoria da SOARMEC
A partir da esquerda: Reinaldo Ramalho, Oscar Santiago, Érika Werd Werneck,
Maria Yedda Linhares, Edino Krieger, Norma Tapajós, Renato Rocha, Carlos
Acselrad e Suetônio Valença, eleitos para a gestão 2000 a 2002 – Página 5.
Também neste número:
Alto-falante 4 • Cartas 4 • Sem censura.com? 6 e 7
Um piano a muitas mãos 8 e 9 • Uma nota preta 10 • A rádio do meu
tempo (depoimento de Giuzeppe Ghiaroni) 11 • Coluna do Conselheiro 15
Os números da Cal 15 • Programações 16
2
Chegou!
(ao final a novela do piano)
Resumo
A
novela do piano virou uma espécie de folhetim:
vem rolando (ou se arrastando) pelos últimos 4
números deste pequeno porém decente jornal. A
grande imprensa também noticiou e seus desdobramentos, como veremos, continuam dando notícia.
Para os leitores que estão pegando o bonde andando,
é preciso contar que a novela "empacou" por causa de um
nó dramatúrgico-burocrático envolvendo as três
instituições-personagem: um órgão do governo (a Receita
Federal) taxando, em um quinto do valor, um piano
comprado para uma instituição do governo (a Rádio
MEC), com dinheiro de outro órgão do mesmo governo (o
Ministério da Cultura).
A coisa fica mais Brasil ainda, quando se lembra
que, na primeira semana de janeiro, por força de outras
necessidades, o governo reduziu de 18% para 5% o
imposto para a importação de 300 tipos de equipamentos
e máquinas. Os pianos, no entanto, não foram
contemplados. (Caso o fossem, teríamos de pagar apenas
seis mil reais, o que ainda é muito, mas infinitamente
menos que o estratosférico percentual em vigor.)
Numa nota da redação, abaixo do editorial de
domingo (11/06/00) do JB, está que "em paises
civilizados, em 24 horas a coisa teria se resolvido".
Ou seja, “o piano da rádio MEC” virou um assunto
emblemático, pelo menos na pauta do JB. Isso, sem falar
do detalhado noticiário deste Amigo Ouvinte, que vem
contando a coisa desde o início, com pouco estilo mas de
modo detalhado.
No entanto, além do quarto poder, os Amigos
Ouvintes ainda apelaram para outros: foram disparadas
cartas faxes telefonemas e-mails e recados em várias
direções, para funcionários do 1º e 2º escalões –
incluindo ministros e inclusive o próprio malan.@
2002.com.br –, e também a deputados e senadores da
república. Nada feito: o piano continuava deitado de
lado no depósito e, à SOARMEC, restava, como ultimo
cartucho, uma carta ao Presidente da República ,
implorando uma providência, e anexando as assinaturas
da diretoria da SOARMEC às quase 1500 contidas nos
abaixo-assinados que já recebemos – ufa! – pelo correio,
preenchidos e devolvidos por nossos sócios.
Capítulo XV
Nascimento e Silva, consultado, traduziu o acontecido com uma frase lapidar: “É um absurdo penalizar
a Sociedade dos Amigos por ela estar botando um piano
dentro da Rádio”.
Outro detalhe: o Depósito Alfandegário Público
é da iniciativa privada, e quem lavrou a infração foi
um funcionário do DAP, o qual também nos instruiu
a não recorrer para obter nova prorrogação – coisa que
a lei faculta e da qual abrimos mão porque seria
apenas um instrumento de retardo (que iria implicar
em mais despesas de armazenamento).
O 3º passo, instruiu-nos o agente, “já que a
intenção da RF era mesmo a de doar o instrumento à
Rádio”, consistia num pedido formal do instrumento,
através de carta dirigida ao executivo máximo da RF e
assinada pelo executivo responsável pela Rádio MEC.
Isso aconteceu no dia 10 de março, de manhã. À
tarde a SOARMEC já havia avisado a Gerência da
ACERP, enviando, inclusive, o modelo padrão da
carta (remetido por fax pela RF).
O 4º passo, a bendita doação do piano, foi dado
pelo sr. Everaldo Maciel, que oficializou a coisa em
11 de abril de 2000, exatamente 7 meses e um dia
após a chegada do piano ao país (o que é tempo
suficiente para um bebê prematuro). Importante: a
doação, segundo o mesmo documento, “caducaria”
no dia 7 de junho – o dia “D”.
O documento de doação, é bom lembrar, foi
consignado em nome da ACERP, que solicitou e aceitou a doação em nome da Rádio (a real beneficiária da
aquisição, pois assim reza o convênio com o MINC).
Tudo isso quer dizer que, desde que ocorreu a
doação, a Associação tornouse oficialmente responsável
pelo instrumento.
Como estávamos ocupados com a organização da
6ª assembléia geral, foi só
após sua realização e a
consequente eleição da nova
diretoria (leia página 5), que
a SOARMEC voltou a se
dedicar ao piano. Mas isso
vai no próximo capítulo.
Capítulo XVI
N
o final de abril, já com nova diretoria, a
SOARMEC se reúne com a Gerência da
Rádio para uma apresentação formal e,
também, um exame do problema pianístico, na tentativa de somar esforços para pagar as despesas de
armazenagem, pois, finalmente, havia ficado claro,
para todos, que a doação não acabava com a dívida
(cerca de dezesseis mil reais).
Segundo nos foi colocado, a ACERP não dispunha
de tal numerário. Aventamos a hipótese de quitar a
dívida a prazo, mas fomos informados de que o DAP
aceitava fazer um “abatimento” de 40 %, o que dava
onze mil reais, cento e noventa e poucos quebrados,
pagáveis apenas à vista
(um dinheiro que nos
permitiria montar toda
nossa tão necessária ilha
de informática).
Às voltas com o
prazo e com alternativas
pouco animadoras, e constatando, a cada contacto
com possíveis patrocinadores, que a àrea cultural
está mesmo à mingua –
principalmente pelo fato
de que a quantia , em
termos empresariais, é
ridículamente pequena –,
resolvemos, em maio, investir na idéia de um concerto
em benefício do piano da Rádio MEC e dos pianistas
brasileiros. Começamos a procurar um teatro estadual
ou municipal, que pudesse ser cedido gratuitamente,
para poder realizar um concerto de pianistas, gravado
e com ingressos pagos. E avisamos à gerência da
Rádio, solicitando apoio para as chamadas e para a
gravação.
A sequência dos acontecimentos passou a ser
avassaladora. Queríamos a sexta-feira dia 2 de junho e
conseguimos a seguinte, que aconteceria dois dias
após o dia “D” cravado pela Receita. Mas tudo, ou
quase tudo, deu certo, porque só não conseguimos a
adesão de pianistas que já estavam comprometidos
com aquela data.
N
o dia 26 de abril de 2000, por telefone, nas
palavras do Dr. Paulo Avis, Superintendente
da Receita Federal no Rio de Janeiro,
ficamos sabendo que a RF já havia efetuado, 15 dias
antes, a doação oficial do bendito piano Bösendorfer
à Rádio MEC, através da ACERP (a associação que
administra a Rádio MEC e a TVE).
Para que isso pudesse acontecer, a RF e o DAP
utilizaram o seguinte itinerário administrativo:
1º passo – esperar transcorrer o tempo limite
de permanência do piano no Depósito Alfandegário
Público (12o dias);
2º passo – lavrar uma infração contra o
importador (a SOARMEC), a qual permite autuação
por perdimento da mercadoria – o que equivale, mais
ou menos, a “sujar a ficha” da Sociedade na praça. O
advogado e ex-ministro da Cultura, Luis Roberto
Fotos: Clara Züñiga
Epílogo
D
e posse da data, com contrato assinado, e
elenco garantido, a SOARMEC começou a
tentar vender lotes de ingressos para diversas
firmas, e, em cima da hora – tam-tam-tam-tam! – a
EMBRATEL respondeu à nossa carta e aos nossos
anseios, comprando 100 ingressos, para seus convidados, pelo total arredondado da dívida, ou seja, 12
mil reais! E tudo aconteceu a contento, apesar do
prazo exíguo e do ritmo avassalador: o contrato com
a telefônica, o depósito bancário, a quitação do débito
(no penúltimo dia) e a retirada do piano (no último
dia e a cargo da Gerência da Rádio), enquanto paralelamente últimávamos a produção do concerto que
quase lotou a Sala Cecília Meirelles – veja cobertura
nas páginas centrais.
IMPORTANTE:
Para que o final da novela seja realmente um final
feliz é preciso garantir que o precioso piano
Bösendorfer, modelo 225, nº de fábrica 06634, tenha
seu uso “afeto” ao estúdio sinfônico da Rádio MEC,
para que, assim, não possa sair de lá, como aconteceu
com o piano da rádio que foi parar em Brasília, ou o
que foi parar em Friburgo.
Cartas ✍
“Soube, na escola de música onde estou
estudando, que talvez possamos ter
novamente a oportunidade de ouvir, via
Rádio MEC, a música clássica que tanto
aprecio. Na época da interrupção dessas
transmissões fiquei muito triste e gostaria
de solicitar agora que realmente seja
iniciada a retransmissão da Rádio MEC
FM Rio em Brasilia. [...]"
Edith Nortrut de Almeida, Brasília.
✍
✍
"Gostaria de saber se ainda existe a
programação educativa da Rádio Maluca."
[email protected]
Não, Milena, nem da Rádio Maluca nem
da Radioteca Jovem. Zé-Zuca não trabalha
mais na Rádio MEC, cujo Setor Educativo
está na UTI.
✍
"Gostaria do apoio da SOARMEC no
sentido de que, em Brasília, volte a ser
retransmitida a Rádio MEC FM Rio. Isto
ocorria até 1998, quando a retransmissão
foi preterida em favor da MEC AM Rio.
Entretanto, como em Brasília não há rádios
especializadas em música erudita, tal fato
trouxe perdas aos amantes da música
clássica e da rádio MEC em particular.
Também, o fato da rádio MEC AM ser
retransmitida atualmente veio somar
apenas mais uma rádio de cunho popular
em Brasília, dentre tantas outras, enquanto
que a retransmissão da MEC FM
representava uma diferenciação de
programação que talvez proporcionasse até
maior audiência [...]"
Renato Lameirão, Brasília
“Tenho a imensa satisfação de dirigirme à SOARMEC no intuito de parabenizála pela sua importante e fundamental
atuação junto à própria emissora e,
igualmente, pelo seu maravilhoso acervo
musical representado pelos CDs da série
"Repertório Rádio MC", um belíssimo e
oportuno resgate de obras-primas da
música popular e erudita, ao alcance de
todos aqueles que, da mesma forma que eu,
a admiram.
Aproveito a oportunidade [...] quero
dirigir ao elaborador do brilhante projeto
"Arquivo Vivo", Henrique Cazes, a
sugestão de incluir nesse trabalho
primoroso um nome da MPB, há muito
esquecido, e que é Luperce Miranda.”
Jesse Nardel da Silva Reis, Rio
Além desses, a SOARMEC recebeu mais 18
emails com o mesmo teor. Um verdadeiro
“lobby” na Internet pedindo o retorno da
MEC-FM à Brasília.
Henrique Cazes não está mais
trabalhando para a Rádio MEC, a qual, por
sua vez, não possui gravações exclusivas do
grande Luperce Miranda.
"Peço que esta música seja mostrada
porque nasceu de uma inspiração por
passar e ver outras pessoas com falta de
consideração e humanidade aos idosos.
Como estou fazendo parte de um Grupo
Educativo, senti coragem de pedir a
colaboração de mostrar minha inspiração,
para que outras pessoas passassem a sentir o
apelo de meus sentimentos.
Somos idosos mas gostamos de viver
Sem preconceito de não poder aparecer
Para quem nos faz discriminação
Fiquem sabendo que fizemos por vocês
Ganharem o pão.
Temos direito de sermos respeitados
Pelo que fizemos no passado.
Então, tendo a idade que cada um pensar,
Lhe garanto que seremos felizes até o final,
Se Deus quiser.”
Olinda Maria dos Santos, Rio
✍
"Como aluno da Escola de Música
Villa-Lobos verifiquei o pouco conhecimento que meus companheiros têm em
relação à Rádio MEC (é um absurdo, mas
assim é).
Como forma de tentar reverter esse
quadro, me coloco à disposição para, pelo
menos uma vez, distribuir aos alunos da
minha turma de prática vocal o jornal da
SOARMEC que, imagino, daria aos mesmos
uma melhor visão em relação à emissora. "
Nacib Pacha, Rio
Alto-Falante
JÁ SOMOS 455 SÓCIOS! Vamos ver se
dessa vez
conseguimos providenciar
carteirinhas para todos.
FORAM EMBORA, redistribuídas para
órgãos da Aeronáutica e Saúde, respectivamente, as funcionárias ELIZABETH
RAMIRO ALVES, que trabalhava na secretaria do Gabinete; e ROSA MARIA
GOULART AVILA, veterana do projeto
Minerva e do Setor Educativo, e depois na
Produção AM. Que tenham sucesso em suas
novas ocupações. Com essas duas defecções
a Emissora passa a contar com apenas 114
profissionais.
A RÁDIO FRANÇA possui, hoje, apenas
em seu departamento musical, 453
funcionários, dos quais 368 são músicos
profissionais. Dispõe também de um
auditório com capacidade para 1000
pessoas, e dá 200 concertos por temporada,
além de encomendar 70 novas criações
musicais por ano. A Rádio MEC, hoje, não
dispõe de nenhum músico, nem sequer um
solitário Manoel Mão-de-Vaca.
O AUDITÓRIO PAULO TAPAJÓS, na
Rádio MEC, com capacidade para pouco
mais de 50 pessoas, é, na verdade, a sala de
projeção do antigo INC, que funcionou
durante muito tempo, no mesmo prédio da
Praça da República. A SOARMEC tem um
pré-projeto, elaborado por Alfredo Brito,
com a proposta detalhada e projeção de
custos de uma reforma naquele espaço. Há
algum captador de recursos interessado?
CADÊ O RESULTADO da pesquisa de
Clima Organizacional da ACERP que, de
acordo com circular de 3 de fevereiro, foi
respondida por 305 profissionais da TVE e
da Rádio MEC?
120 MINUTOS de música podem ser
armazenados nesse pequeno reprodutor de
arquivos sonoros da Internet. O aparelho,
produzido pela Sony, custa 370 dólares.
CELSO BRANT, secretário do trabalho do
governo de Minas e ex-diretor da Rádio
MEC, além de todos seus afazeres, teve que
ser operado duas vezes, nos últimos meses.
Mas passa bem e prometeu escrever seu
depoimento, logo que puder.
A POLÊMICA MP3 (distribuição
digitalizada de musica pela Internet) chegou
ao Congresso dos EUA. Na berlinda o
NAPSTER, programa que facilita a troca de
arquivos MP3 e está sendo considerado, ao
mesmo tempo, “o rádio do novo milênio”,
“o coveiro das gravadoras”, e o “reformador
das leis autorais vigentes”.
Amigo Ouvinte
é uma publicação da SOARMEC
Sociedade dos Amigos Ouvintes
da Rádio MEC.
De Utilidade Pública Municipal
(Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048)
CGC 40405847/0001-70
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EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha
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Beatriz Roquette-Pinto
DIRETORIA:
PRESIDENTE: Maria Yedda Linhares
VICE-PRESIDENTE:
Edino Krieger
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COMUNICAÇÃO SOCIAL:
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Tapajós e Otto A. de Castro
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FOTOGRAFIA: Clara Zúñiga
COLABORADORES:
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Lívia Rosa, Paulo Garcia,
Renata Mello, Luiza Amaral
CONSULTOR JURÍDICO:
Letácio Jansen
CONTADOR: Manoel Mescouto
IMPRESSÃO:
Tipológica Comunicação Integrada
Telefone (21) 509.3366
AS ONGs, que se multiplicaram pelo
mundo a partir da década de 80, correm o
risco de perder o N de sua sigla, e virarem
chapa-branca. Leia o instigante artigo do
filósofo Paulo Arantes, publicado no
número de fevereiro da revista Inteligência.
GRAVADO E MIXADO no Estúdio Sinfônico da Rádio MEC, pelo técnico Roberto
(Betinho) Monteiro, o disco do grande sambista Délcio Carvalho já está em fase de
remasterização.
O CONCURSO de Contos Guimarães
Rosa, organizado pela Rádio França Internacional, já está recebendo originais. Os
interessados em participar deverão enviar
um conto em língua portuguesa, inédito,
datilografado em espaço dois, com máximo
de 15 páginas, para a Radio France Internationale – Service Brésil – Concursos Guimarães Rosa/RFI. Endereço: 116, Av. du
Président Kennedy 75116 Paris Cedex 16,
France. As inscrições acabam em 31 de
agosto, e o anúncio dos premiados (15 mil e
10 mil francos) será feito em dezembro.
Dez anos nota 10!
5
6ª Assembléia Geral elege 5ª diretoria
Pronunciamento de Edino Krieger
Fábio Pimentel
N
o dia 25 de abril de 2000, de acordo
com o edital publicado em O Dia, realizou-se, no Salão Nobre da Faculdade de
Direito, na Praça da República, a 6ª Assembléia
Geral Ordinária da SOARMEC – a primeira a não
contar com a presença do saudoso padre Almeida, sócio fundador e um dos mais firmes e desinteressados amigos ouvintes da Rádio MEC.
Cerca de 50 pessoas – 36, pelo livro de presenças–, compareceram ao encontro, que teve
início às l7 horas, e foi presidido por Noemi Flores e secretariado por Renato Rocha. A mesa
contou com a presença, também, do ex-funcionário da Rádio MEC e sempre locutor Décio
Luiz, que ajudou na leitura do Pronunciamento
do Conselho Fiscal à Assembléia e do Relatório
de Atividades. Convém registrar que, em mais
uma demonstração de transparência, foram
distribuídas cópias desses dois documentos –
aprovados por aclamação pelos presentes – e
cópias da prestação de contas. Além disso, os
próprios livros de atas do Conselho Fiscal e da
Diretoria, ficaram à disposição dos sócios, o
tempo todo, para serem consultados.
A Assembléia também aprovou uma modificação no Estatuto da Sociedade, com a inclusão
de uma alínea que torna mais claro o fato de a
SOARMEC não remunerar, de forma alguma, seus
Diretores, Membros do Conselho e Sócios, nem
distribuir lucros, fato já conhecido por todos,
mas que precisava estar mais explícito, para a
obtenção do Título de Utilidade Pública.
ELEIÇÃO DA NOVA DIRETORIA
E
leita por aclamação, a chapa-única “10 anos
nota 10” conta com Maria Yedda Linhares,
na Presidência, tendo, como Vice-Presidente, o
próprio Edino Krieger, que depois de 4 anos de
muita luta à frente da SOARMEC, passa a pasta
àquela que foi sua Diretora na Rádio, em 63,
quando ele também era o Assessor Musical. Mais
dois nomes de peso fazem parte da nova Diretoria: um é o jornalista, pesquisador e escritor
Suetônio Valença, que assume a Direção de Atividades Culturais, e já foi responsável por uma
série de trabalhos ligados à história da Rádio. O
outro novo Diretor é Carlos Acselrad, médico,
escritor e músico, que assume a Comunicação
Social. Suetônio e Carlos têm, como suplentes,
as professoras e radialistas Marlene Blois e Erika
Franziska. Além destes nomes, a nova Diretoria
continua contando com três funcionários da
Rádio MEC: o Diretor-Tesoureiro, Oscar (Cacá)
Santiago, Coordenador de Programação da
MEC AM, o Diretor de Patrimônio, Reinaldo
Ramalho, funcionário do Acervo da Emissora, e,
Em fotos de Clara Züñiga:
1. Mesa da Assembléia,
com Edino Krieger, Renato
Rocha (em pé) Maria
Yedda Linhares, Noemi
Flores. 2. Aspecto da
platéia 3. Oscar Santiago,
Ary Vasconcelos, Zito
Baptista Fº e Hamilton Reis
4 e 5. Egeu Laus, Barbara
Távora, Renato Rocha,
José Carlos Mello,
Roberto Lanari, Barbara Távora e Maria Yedda Linhares consultando o website da SOARMEC.
finalmente, o Diretor-Secretário da Sociedade,
Renato Rocha, um dos fundadores da Sociedade. Além da Diretoria, a Assembléia também
reelegeu o Conselho Fiscal, que continua a
contar com Norma Tapajós, Otto Alexandre de
Castro e Sérgio Cabral – pai.
Após a eleição, Edino Krieger proferiu um
pequeno discurso exaltando em Maria Yedda Linhares as suas características de grande incentivadora da cultura, e convidou-a para tomar
assento à mesa. A nova Diretora-Presidente tomou a palavra para falar de sua ligação com a
Rádio e de seu carinho pelo período em que a
dirigiu, apesar de todas as dificuldades, enfatizando a alegria de poder retornar à Emissora.
Noemi Flores encerrou então o encontro,
chamando atenção para o sorteio de CDs da
série Repertório, que aconteceu em seguida.
Depois desta Assembléia, com a nova
Diretoria já eleita e empossada, fica a certeza de
que a SOARMEC continuará em sua trajetória de
apoiar a Rádio MEC em suas atividades culturais, crescendo diariamente, não só em seu nú-
mero de associados, que já passam de 450, mas
também em suas principais atividades: este informativo que está em suas mãos, a produção dos
CDs, um livro sobre a Emissora, a recuperação
do acervo fotográfico da Rádio, a manutenção
do espaço físico da Emissora, e principalmente a
mais nova atividade da SOARMEC, o site
www.soarmec.com.br, que poderá ser a grande
alavanca para todas estas outras realizações.
"Em nome da Diretoria que hoje se despede,
e parcialmente continua, eu quero dar as boas
vindas à nova Diretoria, da qual eu também faço
parte, e dizer da alegria de ter nessa Diretoria, na
Presidência da Sociedade, uma pessoa
iluminada, como Maria Yedda Linhares, que foi
– eu tive a grande honra de trabalhar, e ser
inclusive o assessor musical, na sua
brilhantíssima gestão à frente da Rádio MEC –
uma das melhores Diretoras que a Rádio MEC
já teve, porque ela ergueu muito alto a bandeira
do ideal de Roquette-Pinto, ela vestiu a camisa
de Roquette-Pinto. E inclusive, já naquela
época, ela foi uma força de resistência fantástica
contra várias tentativas, que já estavam em curso,
de diminuir a importância cultural da Rádio
MEC, a importância educativa da Rádio MEC,
e o seu papel dentro da Radiofonia Brasileira.
Ela é uma pessoa que tem uma visão muito
adequada, muito firme, do que é a Cultura do
nosso país, e do que representa o Rádio, e
sobretudo a Rádio MEC, como o único veículo,
praticamente, de que dispõe este país, nos meios
de comunicação, como instrumento a serviço da
difusão da Cultura e da Educação. E, além
disso, a Maria Yedda viveu um momento
extremamente difícil – mas viveu com uma
bravura enorme –, que foi o momento em que
essa Rádio foi invadida pelas forças da chamada
"Revolução", da "Ditadura Militar". Ela era a
Diretora da Rádio MEC naquela ocasião e,
realmente, o fato de ser ela a Diretora é que fez
com que as pessoas tivessem um pouco mais de
dificuldade, um pouco mais de trabalho para
entrar na Rádio e dominar a Rádio. Enfim, a
Maria Yedda Linhares é uma figura
emblemática da Rádio MEC, da Cultura
Brasileira, e nós vamos recebê-la aqui agora, com
as nossas esperanças renovadas, para que a nossa
Sociedade possa continuar a ter o seu papel, de
defesa dos ideais verdadeiros da Rádio MEC,
que são os ideais plantados por Roquette-Pinto.”
Riu por último
N
a semana passada deu-se uma bela cena na Rádio MEC, no Rio. A
professora Maria Yedda Linhares subiu ao 2º andar e sentou-se na
sala da Sociedade dos Amigos Ouvintes da emissora, da qual tornou-se
presidente. A historiadora dirigia a rádio em abril de 1964, quando ela foi
invadida pelo professor Eremildo Luís Viana. Outorgando-se a condição
de representante do golpe que derrubara o presidente João Goulart, ele
expurgou a diretora e baniu inúmeros compositores russos.
Nota publicada por ELIO GÁSPARI, no dia 30 de abril, cinco dias após a Assembléia, em sua coluna dominical
(que sai no O Globo, na Folha de São Paulo; no Zero Hora, de Porto Alegre; e mais onze jornais brasileiros).
Leia Relatório de Atividades na página 12
semcensura.com ou
6
ilógica e injusta transferência da Rádio
MEC para a Secretaria de Comunicação da
Presidência da República foi o mais duro
golpe até hoje perpretado contra os desígnios
educativos e culturais da tradicional estação da
Praça da República. Tal transferência, além de
contrariar o famoso documento de doação da
emissora ao Governo Federal, consuma justamente
o que Roquette-Pinto tanto quis evitar quando, na
também famosa correspondência com o Ministro
Capanema, recusou a sugestão de que a Rádio fosse
acolhida pelo Departamento de Propaganda e
Difusão Cultural (o antecessor do DIP),
argumentando que o DPDC era de natureza
política, e o que importava era a educação popular.
Ora, excetuando a atividade de censura – que
é inconstitucional –, as funções da Secretaria de
Comunicação da Presidência da República são
muito parecidas com as daqueles antigos órgãos. E
a Rádio MEC foi transferida justamente para esse
setor, criando um precedente único: em todo
planeta, o nosso serviço de comunicação governamental é, com certeza, o único que tem uma
emissora educativa à sua disposição (no caso, duas,
pois a TVE está no mesmo barco que a Rádio).
O recente episódio censório provocou,
felizmente, uma resposta massiva da imprensa e da
classe política, e provou, também, que a exigência
de Roquette a Capanema estava corretíssima, pois é
impossível combinar Educação com Propaganda.
Nestas páginas, para que o leitor possa mensurar o acontecimento – que não provocou, ao que
se saiba, nenhum desagravo ou retratação por parte
dos envolvidos –, estamos transcrevendo alguns trechos do nosso clipping sobre o assunto, o qual é bastante incompleto (não consultamos as três grandes
revistas nem o Globo e o Estadão, por exemplo), mas,
mesmo assim, contém cerca de 40 notas.
A censura à censura
Planalto tira Stedile do ar
Censura é um comportamento policial só
encontrável nas ditaduras. Um governo pode ter
medo de muitas coisas e, não obstante, ser um
governo forte. Mas um governo que tem medo
de idéias é um governo que se assume como fraco.
O que Stedile poderia dizer na TV Cultura que
ja não tenha dito por outros meios de
comunicação?[...] O argumento utilizado pelo
Secretário de Comunicação, Andrea Mattarazzo
é de uma inconsistência que beira o ridículo.
Disse ele que "indiciado" não pode ser
entrevistado numa TV pública.
Se a
argumentação for levada ao pé da letra, o
noticiário político acabará extinto por falta de
"entrevistáveis".
A
(Mônica Bergamo, Folha de SP, 7 de maio)
O ministro da Secretaria de Comunicação de
Governo, Andrea Matarazzo, deu ordens para que
a programação da TVE fosse modificada, na
última sexta-feira, e impediu que uma entrevista
com João Pedro Stedile, dirigente do MST, fosse
ao ar em rede nacional.
A orientação do ministro chegou à direção da
TV estatal momentos antes de o programa
“Opinião Brasil” ser exibido. O programa é
produzido pela TV Cultura, de São Paulo, e
retransmitido por meio da TVE, para Brasília e
Rio de Janeiro.[...] Para obedecer ao ministro, a
TVE se desligou da rede .[...] "Não podemos dar
espaço para uma pessoa que, além de indiciada,
usa termos inadequados para se referir aos
outros", diz Matarazzo. Em sua opinião, "uma
entrevista com o Stedile é inadequada para a
programação da TVE". [...] Stedile foi indiciado
pela PF, no ano passado, com base na Lei de
Segurança Nacional, depois de defender
manifestação de sem-terra em uma rodovia de
São Paulo[...]Num telefonema, o presidente da
TV Cultura, Jorge Cunha Lima, questionou o
ministro sobre as ordens[...]
(Mônica Bergamo, Folha de SP, 9 de maio)
Num telefonema, Fernando Henrique
Cardoso afirmou a Jorge Cunha Lima, da TV
Cultura, que não teve nada a ver com a decisão de
seu ministro. Cunha Lima pretende aprofundar a
briga. Ele alega que, ao desligar a TVE da rede
nacional, Matarazzo, além de censurar o
programa, teria implodido um acordo feito entre
as 20 emissora estatais do Brasil, de ter seis horas
veda toda e qualquer censura de natureza política,
ideológica e artística. (...)
Na TVE, a ordem foi acatada como se acatam as
ordens dos patrões. [...] Louve-se a TV Cultura,
que transmitiu a entrevista vetada. O presidente
da emissora, Jorge Cunha Lima, criticou a
censura à TVE, dizendo que Matarazzo ignorou
os princípios das TVs educativas, de "pluralismo
e independência política".
Censura exorbitante
(Painel, Folha de SP, 10 de maio)
Andrea Matarazzo passou dos limites mais de
uma vez ao censurar a entrevista de Stedile na
TVE. A emissora, ao contrário do que se diz, não
é estatal, mas uma Organização Social
administrada por contrato de gestão.
Legalmente, cabe ao ministro fiscalizar o bom
cumprimento do contrato, nunca interferir na
programação.
Gregori critica censura
(Folha de SP,10 de maio)
Charge de Laerte – Folha de São Paulo, 21/05/2000
de programação diária em comum. Nessas horas,
governo algum interferiria na programação.
Políticos como Tasso Jereissati e Antonio Carlos
Magalhães não se opuseram. Veio o governo
federal e acabou com a festa.
Censura aberrante
(Clóvis Rossi, Folha de SP, 9 de maio)
Ditadura
(Coluna da Danuza, JB 9 de maio)
Petistas vão ao Supremo
contra veto de ministro
Ainda repercute em São Paulo a não exibição –
na TVE do Rio – da entrevista que João Pedro
Stédile deu ao programa Opinião, na última
sexta-feira.
Segundo funcionários da rede pública de
televisão, não foi a primeira vez que o ministro
Andrea Matarazzo pediu, digamos assim, que
alguma matéria não fosse ao ar.
Mas desta vez a TV Cultura descumpriu as
ordens de Brasília.
(Folha SP 10 de maio)
TVE afirma ter tomado decisão
Triste retorno da censura na TVE
(Folha SP 9 de maio)
O presidente da TV Educativa do Rio (sic),
Mauro Garcia, 43, disse ontem à Folha que foi
sua a decisão de não transmitir a entrevista [...]
"Stedile não é uma figura democrática", disse
Garcia, justificando a decisão.
TV critica veto do governo
A velha e a nova censura
(Audálio Dantas , Diário Popular de SP,
9 de maio)
(...) Um ministro de FHC, o da Secretaria de
Comuncação, deixou por alguns instantes a sua
tarefa de distribuidor das verbas de propaganda
do governo para exercer pessoalmente as funções
de censor. Matarazzo foi rápido, sem perder
tempo em dar uma olhada na Constituição, que
O ministro da Justiça, José Gregori, criticou
o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação
(...) "O melhor teria sido, já que houve a
programação, que ela fosse ao ar. Se houvesse
excessos ou calúnias por parte de quem deu a
entrevista, para isso existem os processos",
afirmou o ministro.
Diante da repercussão do caso, Matarazzo
disse ontem à Folha que não teve a intenção de
censurar a entrevista: "Eu não sou Alfredo
Buzaid", comparou, citando o ministro da Justiça
[...] que editou decreto estabelecendo a censura
prévia.
(JB, 9 de maio)
O Conselho Curador da Fundação Padre
Anchieta, responsável pela TV Cultura de São
Paulo, qualificou ontem de "intervenção
inoportuna e inconstitucional" o veto, pelo
governo federal, de que a entrevista com o líder
sem-terra João Pedro Stédile fosse ao ar.[...] Já o
ministro da Educação, Paulo Renato, afirmou
ontem, no Rio, ser contrário a toda e qualquer
censura.
O presidente do PT, José Dirceu (SP), e o
deputado Milton Temer (PT-RJ) entraram no
Supremo Tribunal Federal com uma notíciacrime contra o ministro Andrea Matarazzo, pela
censura à transmissão de entrevista do lider sem
terra na TVE. O objetivo é reunir provas de um
suposto crime de responsabilidade, que, se
demonstrado, envolve a perda do cargo.
(Maria Helena Dutra, O Dia, 15 de maio)
Só teve efeitos danosos a censura imposta ao
programa Opinião Brasil, transmitido pela TV
Cultura e TV-E. [...] A emissora paulista, dirigida
por Jorge Cunha Lima, que trabalhou com os
principais tucanos agora no Governo, se recusou
a aceitar o veto. Mas a emissora carioca, sempre
comandada por gente do terceiro escalão, baixou
a cabeça e, sem protestar, obedeceu à proibição.
Algumas lições do episódio. Um governo de
ex-exilados e que se diz democrata, quando acha
necessário apela para a censura. Exatamente como
faziam os governos militares.
Desde o fim desse regime a TVE lutava para
ter credibilidade. Tanto que um de seus diretores
criou um programa chamado Sem Censura. Pura
balela. Igual a que afirma ser a TVE atualmente
uma emissora pública independente do Governo
Federal. No primeiro tranco, provou que
continua tão dependente quanto antes.
comcensura.sem?
Os guardas de esquina
Audálio Dantas, Diário Popular de SP
(11 de maio)
Em dezembro de 1968, quando os golpistas
de 64 decidiram baixar o Ato Institucional nº 5,
que daria forma definitiva à ditadura militar, o
então vice-presidente Pedro Aleixo teve a coragem
de discordar. [...] Aleixo chamou a atenção para o
fato de que, colocado em vigor, o AI -5 liquidaria
o que restava de liberdade no País. [...] Gama e
Silva, ministro da Justiça, também concordava
que a dose de arbítrio do Ato era excessiva, mas
como sua aplicação ficaria por conta do general
presidente, homem cordato e ponderado, não
seria tão perigoso assim. Sábio, Pedro Aleixo
contestou, citando Milton Campos: “O importante não é a letra da lei, mas a interpretação que
lhe dá o guarda da esquina". [...]
O pior é que além dos guardas há os
subguardas da esquina. Nessa categoria se
enquadra o presidente da TV Educativa do Rio de
Janeiro, Mauro Garcia. Mesmo depois de
Matarazzo ter assumido que dera ordens [...],
Garcia saiu jurando que a decisão tinha sido sua.
E por quê? Ora, porque o entrevistado "não é
uma figura democrática".
Quanto ao ministro, Garcia afirma que ele
não interfere na TVE, apenas tem o hábito de
"discutir a pauta jornalística conosco". Pode-se
concluir daí que, mesmo não sendo jornalista,
Andrea Matarazzo dá seus gentis palpites na pauta
noticiosa e opinativa da emissora."
[...] De qualquer modo não é normal que um
ministro interfira na pauta da programação
jornalística de uma emissora pública. Mas além
de concordar com isso, o presidente da TVE acha
que não houve censura no caso da entrevista de
Stédile. A censura, diz ele, é abominável; o problema é que o entrevistado em questão “não representa a discussão democrática”. É ou não é uma
interpretação digna de um guarda de esquina?
Isto não é um cassetete
(Marcelo Coelho, Folha de SP,12 de maio)
"Não sou Alfredo Buzaid", disse o ministro
Andrea Matarazzo [...] De fato, o sr. Andrea
Matarazzo não e Alfredo Buzaid. Um é um, o
outro é outro. Entre o nome de Andrea e o nome
de Alfredo, há, de fato, algumas letras em
comum. Mas seria impossível confundi-las por
erro de digitação.
Erro de digitação, entretanto, foi a justificativa para consertar a ativude governamental de
querer indiciar militantes do MST na velha Lei de
Segurança Nacional. "Não, não queríamos usar a
LSN...foi um erro...de digitação." Ameaçara-se
usar o Exército contra os protestos dos sem-terra.
Bem, não foi nada disso. Ninguém aqui está disposto a tanto. Quem vocês pensam que nós somos?
Gostaria
de
reformular a pergunta.
Quem eles pensam que
são? Andrea Matarazzo
pode muito bem não ser
Alfredo Buzaid, mas no
caso da censura à TVE
isso não faz nenhuma
diferença. Pois o que
houve foi censura. [...]
Isto não é um
cassetete.
É um
instrumento
de
democratização. Isto não
é censura, pois a censura
era
um
atributo
indissociável da pessoa do
sr. Alfredo Buzaid. Estava
escrito na certidão de
nascimento de Alfredo
Buzaid que ele era um
autoritário, um censor.
Vejam a minha certidão
de nascimento. Meu
nome
é
Andrea
Charge de Redi e Ivan Lessa para o Pasquim, 1976
Matarazzo. Não está
escrito que eu sou a favor
da censura. Logo, não estou censurando.
o ministro chefe da Secretaria de Comunicação,
Esse auto-engano, essa má-fé, essa certeza de vetou a presença de João Pedro Stédile num
ser democrata, a favor do povo, moderno, programa transmitido pela Rede Pública de
esclarecido, faz do tucanato uma instituição quase Televisão, uma parceria entre a TVE e TV
que completamente imune a críticas. Qualquer Cultura que inclui a grande maioria das emissoras
crítica ao arrocho salarial ou ao evidente educativas e culturais do país.
direitismo do governo só pode ser, para a
Se o governo acusa o MST de ameaçar a dementalidade peessedebista, prova de más
mocracia, não pode usar um recurso antidemointenções, tentativa de agitação política e
crático para calar seu líder. Não importa o descaso
conspiração contra a democracia. Pois, como
do MST com o Estado de Direito. Importam os
alguém pode duvidar, enquanto eu prende e
nossos compromissos de defendê-lo contra todos
arrebento, enquanto eu favoreço este banqueiro e
os perigos. E se a decisão não partiu do governo,
aquele coronel, que eu sou democrata, civilizado
mas de um de seus membros, individualmente,
e progressista? [...] É que quando a identidade
caberia uma satisfação cabal à opinião pública.
vacila, quando dentro do tucanato ninguém mais
O pior dessa história é que o episódio ocorre
sabe quem é nem se censura é censura e repressão
justamente no momento em que começa a consoé repressão, bobagens desse tipo tendem a surgir.
lidar-se o projeto de uma rede pública de TV.
[...] Uma rede desse tipo deve ser norteada
para atender apenas ao interesse da sociedade.
Os filhos da Inquisição
[...] O governador Mario Covas, com aquele
(Alberto Dines, JB, 13 de maio)
seu gozado senso comum, colocou a questão nos
A Inquisição não foi apenas uma farsa seus devidos termos:
– “Tem coisas que eu pago e não mando”.
jurídica, quermesse sangrenta, que a patuléia
adorava. O encarniçado combate à heresia foi, na Esse é o modelo que impera na BBC e contra o
verdade, uma forma de aniquilar aqueles que qual insurgiu-se Mme. Tatcher.
[...] Mandonismo desbragado, esse foi o
escolhiam sua própria crença. Ou opinião. [...]
legado que a Inquisição nos deixou. Os Autos da
Inquisição é também sinônimo de censura.
(...) Hoje comemoramos os 192 anos da au- Fé realizaram-se em Lisboa mas os linchamentos
torização para o funcionamento da primeira tipo- estão sendo reinventados aqui. Um generalizado
grafia no Brasil. Comparados com o México, está- “cala a boca” com toda a aparência de
vamos atrasados 263 anos, mas, para evitar des- orquestração pretende substituir o debate político
vios, 42 dias depois promulgavam-se as normas desqualificando como heresia qualquer tentativa
para vigiar “que nada seja impresso contra a de controvérsia. [...]
Não tivemos inquisidores mas proliferam os
religião, o governo e os costumes”. Censura pura.
Na semana passada, desatento às efemérides, comissários do Santo Ofício. Pequenos Torque-
7
madas que em nome da justiça e da verdade
pisoteiam os direitos e enxovalham a tolerância.
Baderna autoritária
(Alcino Leite Neto, Folha S.P., 14 de maio)
O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Andrea Matarazzo, leva ares
de homem civilizado e democrata, mas de fato ele
não é. Foi truculenta sua atitude de censurar uma
rede pública, ou de incitá-la à auto-censura, o que
dá no mesmo. [...] Para ficar num aspecto elementar da questão, é útil lembrar que Tvs educativas
ou públicas não são propriedade do governo, mas
da população, que as sustenta com os impostos. Elas
devem, por isso, expressar o conjunto dos debates
do país, e não apenas aqueles que Brasília deseja.
Foi de uma subserviência desonrosa, por seu
lado, a reação do presidente da TV Educativa do
Rio, Mauro Garcia, ao acatar, arremedar e justificar a decisão de suspender o programa: 'A censura
é abominável, uma figura que não pode ser reeditada. Não há qualquer possibilidade de se pregar
isso. O que houve é que Stedile não é censura, porque ele não representa a discussão democrática'.
É preciso desmontar a novilíngua do presidente Garcia e esclarecer que é da essência da
democracia debater inclusive as questões que lhe
são antagônicas.
Censura
(Glaci Zancan, presidente da SPBC –
JB, 15 de maio)
A diretoria da SBPC, comprometida com o
aprimoramento da democracia no pais, manifesta
sua preocupação com a atitude do ministro da
Secretaria de Comunicação, Andrea Matarazzo,
limitando a livre manisfestação de idéias na rede
pública de televisão [...] Ao mesmo tempo,
solidariza-se com a direção da TV Cultura pela
atitude firme de não se submeter a pressões que
limitam sua autonomia.
A TV pública no Brasil
(Jorge Cunha Lima
Folha de SP, 21 de junho)
A democracia é uma donzela frágil que requer
cuidados permanentes. Sobretudo no Brasil, onde
a censura se insinua em cada ocasião, sob os
pretextos mais diversos. [...] A TV estatal é o
adereço mais vistoso da corte republicana. Tem a
estrutura da burocracia persa. Confunde jornalismo com propaganda de governo. Não tem independência administrativa, nem intelectual, muito
menos política.
Nota da redação: Da mesma forma que a ABI tentou, sem
resultado, obter uma declaração do diretor de jornalismo da
ACERP, Cláudio Bojunga, a respeito do incidente; O Amigo
Ouvinte, tentou por várias vezes marcar entrevista com o sr.
Mauro Garcia, sem resultado. Aproveitamos esta nota para
reiterar o convite.
Todo homem tem o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui as liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de
procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
Declaração Universal dos Direitos Humanos – artigo XIX
Um piano a
8
Renato Rocha
A
s mãos foram as dezesseis
mãos de oito dos maiores
pianistas brasileiros, Antonio
Adolfo, Clara Sverner, Maria
Josephina Mignone, Maria Tereza
Madeira, Osmar Milito, Ruth
Serrão e Sérgio Ricardo, que se
apresentaram assim, em ordem
alfabética só quebrada pela decana
dos artistas do piano, Carolina
Cardoso de Menezes, que fechou a
noite com fecho-de-ouro – tocando
um apoteótico Tico-tico no fubá,
após ser bisada 4 vezes –, como se
fosse a mais nova de todos, ali.
As mil duzentas e trinta e duas
mãos que aplaudiram entusiasticamente o inédito e memorável rádioconcerto realizado naquela noite de
nove de junho batiam palmas
também para o trabalho de muitas
outras mãos que ajudaram a carregar
o piano e a produzir aquele
espetáculo, naquela sala, que,
falando nisso, foi gentilmente cedida
pelas mãos de Bete Mendes
(FUNARJ) e de Ronaldo Miranda,
diretor da Sala.
E isso sem falar das mãos de Luis
Carlos Saroldi, que apresentou o
concerto, e das catorze de nossa
equipe de colaboradores – Clara
Zuniga, Fábio Pimentel, Livia Rosa,
Luiza Amaral, Manoel Mescouto,
Paulo Garcia e Renata Melo.
E muitas “mãozinhas”, também
foram dadas. Uma, a inicial, pelo
ministro da Cultura, Francisco
Werffort, que recomendou o
projeto; outra, pelo Conselho
Estadual de Cultura, que defendeu a
liberação. Uma grande mãozinha
foi dada pelo próprio maestro Edino
Krieger, cujas impressões digitais
estão espalhadas por todo o processo,
quando, na qualidade de Presidente
da Academia Brasileirade Música,
providenciou para que a ABM
patrocinasse o transporte do piano,
de Viena para o Rio de Janeiro.
Os senadores Paulo Alberto
Monteiro de Barros (Artur da
Távola) e Saturnino Braga deram
uma mão, assim como os deputados
De cima para baixo, Luis Carlos Saroldi dando início ao concerto; apresentando Antonio Adolfo; e Maria Josephina Mignone.
muitas mãos
federais Miro Teixeira e Fernando
Gabeira, e o deputado estadual
Carlos Minc, que procuraram furar
o bloqueio cartorial que impedia a
liberação do instrumento.
Mesmo a ACERP (a Associação
que administra a Rádio MEC), que
até então lavara as mãos, deu uma
“maõzinha” para assinar o termo de
recebimento do piano, em nome da
Rádio, e outra para trazê-lo de São
Cristóvão até – finalmente! – o
estúdio sinfônico da Emissora.
Mas a “mãozinha” providencial
foi mesmo a EMBRATEL que deu,
pelas mãos dos eficientes executivos
do seu departamento de promoções
e marketing, Marcia Maia, Wallace
Greco e Eduardo Levy. Em tempo
recorde, eles concederam e liberaram o patrocínio.
Que aquela era uma noite propícia, todos os participantes perceberam, desde o início.A cada execução, o peso simbólico do evento
aumentava. Ajudando a colocar o
seu instrumento de trabalho e expressão no maior estúdio de gravação da cidade, ali estavam, reunidos, oito dos maiores pianistas brasileiros, com seus 80 dedos que se
multiplicaram musicalmente, por
duas horas, pelas oitenta e tantas
notas do Steinway da Sala (queríamos fazer o concerto no Bösendorfer que a Cecília Meirelles também
possui, mas o instrumento estava sem
uma de suas cordas).
No final, depois de todas as
palmas, depois que todas as mãos se
apertaram e se acenaram, ficou no ar
aquele caloroso sentimento de comunhão artística, que nos dá a certeza de haver participado de um
evento perfeito.
fotos Clara Züñiga
9
A Sociedade dos Amigos
Ouvintes da Rádio MEC
agradece o patrocício da
EMBRATEL que
transformou um evento
concebido para angariar
fundos, em uma celebração,
uma epifania pianística,
cujo cenário foi o
auditório lotado da
Sala Cecília Meirelles.
Osmar Milito, Sergio Ricardo e Ruth Serrão levaram cadeiras para assistir e aplaudir
de perto a performance de Carolina Fecho-de-Ouro Cardoso de Menezes.
Maria Josephina Mignone
Clara Sverner entrando em cena
Antonio Adolfo e Sérgio Ricardo durante suas apresentações; e, confraternizando-se na saída, Rosa e Carlos Costa Ribeiro, Maria Yedda Linhares. Maria Teresa Madeira e Nenem Krieger.
10
UMA NOTA PRETA
Após 24 meses de realizações, que, por acaso temporal e obrigação da SOARMEC,
vão relatadas em detalhe neste número (pág. 12), e para as quais os Amigos
Ouvintes não receberam manifestação alguma de incentivo ou ajuda, por parte da
ACERP; e após a quitação da dívida de armazenamento do piano e a realização de
um concerto radiofônico (págs. centrais) – que para o público em geral só
engrandeceu o nome da Rádio MEC –, recebemos, em vez de palavras de gratidão,
estas, publicadas no JB, na manhã seguinte ao transcendental evento.
A nota custa uma nota
(Sexta-feira, 16 de junho)
Ao constatar que, pelo terceiro dia
consecutivo, a seção “Cartas” do JB não
conseguia dar vazão à demanda dos leitores –
no que já representa o maior fenômeno de
clamor popular em nossa imprensa –, os Amigos
Ouvintes pensaram em publicar o texto-resposta
em outro espaço do jornal, e, para tanto, foram
feitos contatos requisitando box de igual
tamanho (14,6 cm X 15 cm), em página indeterminada, sob a mesma rubrica de “Expressão
de opinião ”, e ficamos estupefactos ao receber o
estupe-Fax assinado pela atendente Mariana,
informando, com todos os algarismos e letras,
que o preço, para dia útil, de acordo com a tabela
de Junho de 2000, é de R$ 26.145,00 (vinte e
seis mil, cento e quarenta e cinco reais).
Tal quantia, impensável para o
caminhãozinho da SOARMEC, faz lembrar
aquele tipo de indagação que o colunista Arthur
Xexéo transformou em um de seus refrões:
Deixa ver se entendemos: quer dizer que o preço pago pela matéria paga
(26 mil e quebrados) é duas vezes o que
está inscrito no cheque dado pela
SOARMEC (11 mil e pouco) para liberar
o piano do Depósito Alfandegário?
Outras indagações
Tornando difícil o que não é fácil
(segunda-feira, dia 12 de junho)
Os Amigos Ouvintes já intuiam que,
juridicamente falando, a nota acima, sem
assinatura, não possuía validade maior. Mesmo
assim, na segunda-feira (nosso advogado presta
colaboração voluntária e só um fato de extrema
gravidade levaria a diretoria a incomodá-lo
durante o fim de semana), consultamos, por via
das dúvidas, nosso Consultor Jurídico. Depois,
graças a Graham Bell, quatro dos cinco diretores
remanescentes, decidiram:
1) não incomodar nosso diretortesoureiro Oscar Santiago, e, sim, desejar-lhe
muitas felicidades em seu casamento – nosso
diretor casou-se justamente no dia em que a nota
foi publicada (belo presente!), e está em lua-demel até julho;
2) não incomodar, por sua vez, Edino
Krieger, nosso diretor vice-presidente, que, desde
7 de junho, está na Alemanha, dando palestras e
participando de audições de peças de sua autoria,
devendo voltar só no final do mês, para a reestréia de sua Terra Brasilis, no Teatro
Municipal, dia 30 de junho (não percam!);
3) afixar no jornal mural externo da
SOARMEC (no 2º andar da Rádio) e no tamanho
em que foi publicada, a nota atribuída à ACERP,
e, junto dela, um “Esclarecimento ao Público
Interno da Rádio MEC” (veja abaixo); e,
4) publicar resposta (veja a última coluna), destinada ao mesmo público-leitor do JB.
No entanto, tal resposta chegou à seção de cartas
do JB só na de 3ª feira, justo o fatídico dia 13 do
incidente com dois mortos, no ônibus 174.
ESCLARECIMENTO AO PÚBLICO
INTERNO DA RÁDIO MEC
A nota acima, dever-se-ia intitular, mais
apropriadamente, “esclarecimento ao público
leitor do JB”, posto que, ao que saibamos, só
apareceu neste jornal, justamente o jornal que
mais publicou notas, notícias, críticas e
apreciações a respeito das realizações da
SOARMEC, em prol da Rádio MEC. E foi
também o diário que mais cobriu o imbroglio do
piano, tendo inclusive dedicado um editorial
incisivo, a favor de nossa Sociedade.Tais notícias,
que estão devidamente organizadas em nosso
clipping, são suficientes para exorcizar, em
qualquer instância, as injúrias latentes dessa
declaração apócrifa.
Assinado: Diretor Secretário
• A matéria paga foi paga? Neste caso, entrou na
contabilidade do JB, e só pode ter sido paga pela
própria ACERP, pois sua Gerência de Rádio não
tem autonomia para liberar tal montante. O que
significa, então, que é a própria ACERP que,
mesmo sem assinatura de seu Diretor-presidente, está se pronunciando. Ou não foi paga?
• A nota de esclarecimento passou pelo Conselho de Administração da ACERP, a instância
democrática da Associação? Foi discutida e
aprovada pelos ilustres conselheiros Alexandre
Machado, Alex Periscinoto, Antônio de Pádua
Jr., Artur da Távola, Aspásia Camargo, Dulce
Maria Pereira, José Gregori, Marcio Fortes,
Roberto Muylaert, Roziska Darci de Oliveira,
Rui Martins Altenfelder, e outros, incluindo o
representante do Ministério da Cultura e o
próprio conselheiro eleito pela Rádio e TVE?
Se assim é, se tão expressiva representatividade achou por bem emitir a nota censória
– pois ela nada mais pretende que censurar as
atividades culturais de nossa Sociedade e, com
isso, sua própria existência –, então a coisa tem,
realmente, importância, transcende as fulanizações e deixa de ser uma questão de ordem, para
tornar-se uma questão de justiça. A ela, caberá
decidir se a SOARMEC, que apenas tem razão,
poderá exercer suas intenções estatutárias, sem
enfrentar resistências obscurantistas.
AMIGOS OUVINTES RESPONDEM
F
ace à publicação (JB 10/6/2000, p.19) de uma Nota
assinada pela Associação de Comunicação
Educativa Roquette-Pinto, mantenedora da Rádio
MEC, mediante a qual a Sociedade dos Amigos
Ouvintes da Rádio MEC (SOARMEC) estaria sendo
desautorizada a firmar, responder, contratar,
negociar e promover qualquer ato que seja em nome
da Rádio MEC, além de outras supostas interdições
que teriam o pretenso fim de preservar a idoneidade
dessa emissora, vimos expressar de público a nossa
repulsa à forma abusiva e desleal dessa
manifestação de desagrado, vasada em termos que
traduzem o estado de exacerbação emocional do
redator do referido texto.
Desejamos lembrar aos interessados que
tal manifestação de desagrado deu-se exatamente
nas 72 horas que se seguiram à entrega de um piano
Bösendorfer, de 130 mil reais, à Rádio MEC,
adquirido com recursos do Ministério da Cultura, em
Viena, e que percorreu um longo e sinuoso caminho,
já amplamente divulgado na imprensa, até sua
liberação final e instalação no estúdio sinfônico da
Praça da República, 141-A. Á tal entrega sucedeu-se
um concerto, realizado na Sala Cecília Meirelles, por
pianistas de renome, com significativa presença de
público e extraordinário brilho artístico.
Ora, se a Rádio MEC e sua mantenedora
nada fizeram ao longo desses últimos dois anos no
sentido de idealizar e realizar a aquisição do piano,
seu transporte, sua liberação da Receita Federal e
sua armazenagem e seguro, não terá sido por
impedimento da SOARMEC, mas por inércia, na
melhor das hipóteses, das entidades que deveriam
ter tomado a iniciativa de fato tão auspicioso para
um órgão de tradição cultural como a Rádio de
Roquette-Pinto. O mesmo podemos afirmar com
respeito à realização do belo concerto de 9 de junho,
concerto esse, no entanto, renegado pela entidade,
conforme a Nota em apreço confirma.
Acreditando ser de essencial importância
zelar pela formação dos cidadãos de nossa terra,
dirigimo-nos aos admiradores da Rádio MEC, assim
como às autoridades públicas, e o fazemos como
profissionais de reconhecida competência, com
ampla passagem pela vida cultural deste País,
solicitando que nosso protesto em defesa da
dignidade do exercício da função pública seja por
este jornal publicado e sensibilize os que ainda
podem preservar a qualidade e a herança cultural
da Rádio mais antiga do país.
Rio de Janeiro, 13 de junho de 2000
Maria Yedda Leite Linhares, diretorapresidente da SOARMEC, professora emérita da
UFRJ, ex-secretária de Educação do RJ, ex-diretora da
Rádio MEC.
Edino Krieger, diretor-vice-presidente da
SOARMEC, compositor, ex-diretor da FUNARTE,
presidente da Academia Brasileira de Música, membro
do Conselho Estadual de Cultura, ex-funcionário de
Rádio MEC.
Suetônio Valença, diretor de atividades
culturais da SOARMEC, escritor premiado, pesquisador, produtor cultural, um dos responsáveis pela
recuperação do Paço Imperial e pelo resgate do antigo
museu da Rádio MEC.
Carlos Acselrad, diretor de comunicação da
SOARMEC, músico, escritor e médico.
Renato Rocha, dir.-secretário da SOARMEC,
editor-responsável pelo jornar O Amigo Ouvinte,
compositor e funcionário da Rádio MEC.
A Rádio do meu Tempo
depoimento por escrito de
Giuseppe Ghiarone
Maria Muniz, CDA, Ghiaroni, Jayme Marchevsky, Nestor de Hollanda e Alfredo S. de Almeida, durante almoço na década de 60.
“Devo começar dizendo que tenho menos
vocação para memorialista do que para desmemoriado.
Mesmo assim, posso acrescentar que minha lembrança
é de saudade e respeito para com os anos que trabalhei
na Rádio MEC, presidida pelo espírito venerável do
grande Roquette-Pinto.
Prefiro não citar nomes para não pecar por
omissões injustas. As quais seriam realmente muito
injustas, já que lá só encontrei pessoas amáveis e
amigas, todas sinceramente dedicadas à sua casa de
trabalho que, comprometida com o bom-gosto, era
austera, sem que a austeridade a impedisse de ser alegre
também.
Minha participação começou já nos longínquos
anos 60, em plena vigência do regime militarautoritário pelo qual não tinha eu a mais vaga simpatia
e ao qual muito menos poderia ser persona-grata.
Não obstante, não sofri qualquer restrição,
impedimento ou discriminação. Ao contrário, tive a
mais ampla liberdade para realizar programas como
Diálogo com a Bíblia, O Lado Claro da Vida, A
História da Música e tantos outros em que podia
manifestar o meu pensamento e minhas opiniões, sem
sofrer qualquer tipo de censura.
Uma das muitas lições que então e lá aprendi foi
a de ser chefiado por mulheres. Talvez você, um tanto
maldosamente, diga que eu já tinha algum treino para
isso, pelo fato de ser um homem casado. Mas não! Foi
uma experiência rigorosamente profissional. Todas as
senhoras que me chefiaram foram pessoas altamente
competentes, muitas voltadas para os pressupostos da
dignidade da casa a que serviam, com uma impecável
eficiência que, por sua vez, dava lugar a um clima de
boa convivência e saudável camaradagem.
Daí a impressão que me ficou de que as mulheres,
tendo conquistado o seu espaço de trabalho e
liberdade, depois de séculos de repressão, têm uma
bandeira. Elas têm que provar que podem fazer tão
bem quanto os seus atuais colegas e antigos repressores.
Isto, segundo o que aprendi na Rádio MEC, está mais
do que provado. Digo-lhe mais. Se eu fosse cidadão
norte-americano votaria mais gostosamente na Hillary
do Clinton do que no Clinton da Hillary. Mas, pelo
amor de Deus, não pensem que estou de olho na Dona
Ruth!
Dias difíceis na Rádio foram os do governo Janio
Quadros. Na sua obsessão pelo uso da autoridade, sem
saber muito bem com que utilidade, ele impôs
severissimamente que todos cumpríssemos nossos
horários. Foi o que fizemos, não dispondo de espaço,
mesas ou máquinas para trabalhar. Resultado:
ficávamos horas esbarrando uns nos outros,
conversando, pedindo desculplas e aguardando a hora
de marcar o ponto e irmos para casa fazer o trabalho
da Rádio que, na Rádio, não tínhamos meio
instrumental ou físico para fazer.
Mas claro que, bem cedo, o bom senso prevaleceu
como sempre prevalece na nossa querida Rádio MEC
que aí está defendendo o bom-gosto e a cultura, nesta
época em que a guerra do Ibope eletronicamente
apurado propaga uma febre de baixaria nos grandes
meios de comunicação.
A verdade é que tudo passa como todos nós
passamos, mas com o espírito de Roquette-Pinto, a
Rádio MEC continua pela elevação cultural da nossa
gente e pelo progresso do Brasil.”
COLEÇÃO “O AMIGO OUVINTE”
Contendo, entre outros textos e reportagens,
28 depoimentos como o de Giuseppe Ghiarone.
O novo formato de nosso jornal, que exigiu um novo tratamento
gráfico, realizado por Egeu Laus, foi provocado por um motivo de
força maior: as fábricas, para economizar papel, reduziram o tamanho
das bobinas e alteraram o formato tablóide. Por isso, o O Amigo
Ouvinte, o único jornal de assuntos radiofônicos do país, que já era
pequeno porém decente, ficou ainda menor. Ficou com este tamanho.
Acontecimentos como esse, fecham um ciclo editorial e motivam as
coleções que pretendemos produzir, encadernando os primeiros 28
número do jornal, em sua primeira fase – assim denominada, entendase, não por que vá haver alguma mudança substancial em sua pauta,
mas, puramente, em função do novo formato. Por capricho da sorte,
a coleção completa baliza também um ciclo na existência da
Sociedade, pois o 28º exemplar coincide com o encerramento do 4º
biênio administrativo.
Dos 28 números editados até agora, infelizmente, possuímos
pouquíssimas duplicatas dos exemplares mais antigos. Com elas,
poderemos produzir entre 10 e 20 coleções e completar as que foram
doadas a Bibliotecas, como as do acervo da Rádio e a da Biblioteca
Nacional.
Os leitores que quiserem completar suas coleções, ou que
quiserem se desfazer de números atrazados ou, ainda, quiserem
adquirir as 204 páginas que constituem os poucos volumes encadernados que vamos colocar à venda, devem entrar em contato com a
SOARMEC e registrar suas encomendas.
12
Relatório de Atividades da
Lido e aprovado pela 6ª Assembléia Geral Ordinária, em 25 de abril de 2000
M
uito do que será enumerado neste
relatório deve-se ao fato de que a
diretoria que se despede, com a certeza
de ter cumprido sua missão, conseguiu manter as
mesmas diretrizes das gestões anteriores, fato que
possibilitou uma continuidade administrativa
que está completando 8 anos. Tal continuidade é
coisa rara, hoje em dia – basta dizer que, neste
mesmo período de tempo, a SOARMEC
conviveu, na Rádio, com 4 diretores e dois
gerentes; e na FRP, com 5 presidentes e várias
medidas administrativas de amplo alcance, como
a ida da Emissora para a Secretaria de
Comunicação da Presidência da República, a
extinção da Fundação Roquette-Pinto e o
advento das Organizações Sociais, das quais a
primeira é a ACERP, Associação de
Comunicação Educativa Roquette-Pinto.
No caso da nossa SOARMEC,
tal
continuidade de propósitos foi mantida graças à
coerência e clareza de nossos objetivos estatutários,
quase todos calcados nas idéias do profeta da mídia
eletrônica, Edgard Roquette-Pinto. Por ser matriz e
condição para todas as outras realizações, a citada
continuidade administrativa é, sem dúvida, o mais
importante de todos os nossos feitos.
• Nesta gestão, em que a contribuição
estatutária permaneceu fixada em R$ 6,00 (seis
reais), nosso quadro social, cresceu de 268 para
428 sócios cadastrados. Para termos ideia do que
este total significa, basta lembrar que a mais bem
sucedida de todas as Sociedades de Amigos, a do
Jardim Botânico – com 18 anos de existência –
possui cerca de 3000 nomes em seu quadro
social.
• Além de colher o que foi plantado pelas
administrações passadas, esta gestão também conseguiu ampliar suas atividades, como prova o nosso
recém-inaugurado endereço na Internet, que, por si
só, já poderia servir como relatório de atividades.
Nesta gestão encadernamos 15 coleções do
jornal, que foram vendidas ou doadas a
personalidades e instituições culturais. A última
delas, englobando 27 números, e totalizando
192 páginas, foi doada à Biblioteca Nacional.
Agora, com as 12 páginas do 28º número, a
coleção ultrapassou as 200 páginas.
Como os leitores que têm nos acompanhado
sabem, O AMIGO OUVINTE, após o falecimento
de Jorge Luis de Souza e Silva, seu fundador e
editor-responsável pelos dois primeiros números,
passou a ser editado sob a responsabilidade de
Renato Rocha, e tem se mantido fiel aos propósitos
que o criaram. Nos últimos dois anos, porém, o
informativo ganhou uma função que não fora
pensada inicialmente e que valoriza ainda mais a
publicação – a função de documentar as peripécias
administrativas pelas quais a Rádio MEC vem
passando, desde a transferência da Emissora do
Ministério da Educação para a Secretaria de
Comunicação Social da Presidência da República.
Assim, acompanhar jornalisticamente o devir
da Rádio MEC passou a ser um dos principais
méritos do nosso informativo. E este é um
compromisso que a próxima diretoria deve
continuar a manter, pois o que está em causa é o
patrimônio cultural e a sobrevivência do rádio
educativo brasileiro.
• Outro tipo de relatório é a história
administrativa da SOARMEC, nestes dois anos,
que – sem falar nos documentos contábeis —
soma 172 documentos de correspondência,
assim classificados: 110 cartas recebidas, e 62
enviadas, com média de 3,6 cartas por semana.
• Detentora do Título de Utilidade Pública
Municipal, desde 1996 (Lei 2464), a SOARMEC
foi distinguida, em setembro de 1998, com o tão
almejado Título de Utilidade Pública Estadual
(Lei 3048). Queremos deixar registrado, aqui, o
agradecimento da Sociedade ao deputado Carlos
Minc, e a sua equipe de colaboradores, pela
obtenção do referido título.
• Outra espécie de relatório é o nosso
clipping, com mais de 60 notícias veiculadas na
grande imprensa, a respeito da atuação permanente da Sociedade, sempre em plano de apoio,
e sempre destacando o nome e a missão da
Emissora. Esta colagem de notícias é uma prova
da visibilidade que as realizações da Sociedade
alcançaram, neste último biênio, e também está
à disposição dos presentes para ser consultada.
• Com relação ao Título de Utilidade
Federal, a SOARMEC já fez o primeiro movimento, mas Brasília apresentou uma exigência
que nos obriga a acrescentar um parágrafo ao
nosso Estatuto. Tal modificação será submetida à
Assembleia, daqui a pouco.
• Outra espécie de relatório é o nosso
informativo oficial, O Amigo Ouvinte, que entrou
em seu 8º ano editorial, e está em seu 28º número,
oito deles editados durante esta gestão.
Gratuito, com tiragem atual de 5.000
exemplares e com 1.080 leitores cadastrados, sendo
distribuído também em escolas, livrarias e outros
pontos culturais, este jornal é o único dedicado a
assuntos radiofônicos, em todo o pais.
Quem colecionou desde o 1º número, possui,
sem dúvida, um raro documento da história –
antiga e recente – da Rádio MEC e, por extensão,
do rádio brasileiro.
• Nesta gestão continuamos a contar com um
quadro de colaboradores informais: Renata Mello,
secretária; Murillo Saroldi, produtor-executivo,
Paulo Garcia, coordenador de vendas; Clara
Zuniga, fotógrafa; Lívia Rosa, divulgação e
projetos; e, mais recentemente, Luiza Amaral.
Fabio Pimentel, nosso superintendente, já está com
sua situação trabalhista regularizada. A esta gente
jovem, que ainda pode suportar parcos honorários
em troca de muita dedicação, a Sociedade registra,
aqui, seu agradecimento por tudo que produziram
e ajudaram a produzir.
• Outro colaborador regular, que merece
esta referência à parte, é o artista gráfico e programador visual José Carlos Mello, responsável
principal pelo acabamento de nossos CDs,
cartazes, convites e jornais.
• A SOARMEC tem contado, desde a gestão
passada, com o apoio jurídico de um consultor.
Primeiro na pessoa de Mario Lacerda, advogado
que, por mais de três anos, prestou-nos inestimável
colaboração. Melômano e fã incondicional da
Rádio MEC, Mario precisou, por razões profissionais, ausentar-se da cidade e do seu cargo na
SOARMEC. A ele devemos muito, e deixamos registrado, aqui, nosso agradecimento, no mínimo pela
partipação nas várias reuniões com o setor jurídico
da ACERP. A ele também devemos o aperfeiçoamento de nosso Estatuto, através de pequenas
mas necessárias mudanças que foram aprovadas em
Assembléia Extraordinária anterior. Felizmente
encontramos, pelo mesmo salário, ou seja,
colaboração gratuita, um substituto à altura, na
pessoa do ex-procurador do Estado, Letácio Jansen,
que nos vem assessorando desde agosto de 1999.
• Nesta gestão, a SOARMEC deu continuidade ao projeto de transformar em discos o
acervo musical da emissora, concluindo a
prensagem dos cinco CDs que compõem a
segunda caixa-rádio, os quais já estavam
remasterizados e arte-finalizados, e dependiam
apenas de recursos para a fabricação.
Além desses discos, a SOARMEC com apoio
da prefeitura do Rio de Janeiro, produziu mais
uma caixa, a terceira, com 5 CDs: Guerra-Peixe,
Vieira Brandão, Ernesto Nazareth e dois de
Lorenzo Fernandez, o que totaliza, 15 CDs.
• No que diz respeito à divulgação e
distribuição dos CDs já fabricados, precisamos
referir que:
1) A SOARMEC participou, em São Paulo, da
Terceira EXPO-CD e concorreu ao prêmio Sharp,
de 1999.
2) nossos discos foram resenhados por quase
todos os principais críticos do país, e estão sendo
distribuídos nos centros culturais e nas principais
livrarias da cidade e, fora do Estado, em livrarias
das cidades de São Paulo, Campinas, Recife e Belo
Horizonte.
Fora do país, os discos podem ser encontrados
em Paris, e, desde dezembro passado, em todas as
lojas clientes da Empire Music, uma das três
maiores distribuidoras de discos dos EUA.
E já começamos, também, a tentar o mercado
japonês.
• Ainda na área dos CDS, a SOARMEC
concluiu, nesta gestão, uma etapa do projeto IBI
– Instrumental Brasileiro Inédito, com a
produção e o show de lançamento do CD do
Trio Botelho-Freitas-Fagerlande.
Dando continuidade ao projeto, elaborado
em 1997, que tem o objetivo de realimentar o
Acervo da Emissora com gravações regulares da
nossa música instrumental, erudita ou popular, a
SOARMEC gravou, no Estudio Sinfônio da
Rádio, 25 composições e solos do violonista
Gibran Helayel. Este deverá ser o 2º disco da
série, estando já remasterizado, arte-finalizado, e
prestes a ser prensado.
• Com o objetivo de dotar o Estúdio Sinfônico
de um piano de qualidade a SOARMEC encaminhou em 1997, projeto ao FNC, que recebeu o
nº 01400001628, foi deferido em 98, e permitiunos comprar, no início de 1999, e colocar no país
um piano Bösendorfer, modelo 225, que chegou no
dia 10 de setembro e, conforme, amplamente
noticiado na grande imprensa – mereceu inclusive
editorial do JB –, ficou retido no Terminal de
Carga do Galeão, depois no Depósito Alfandegário
de São Cristóvão, e, finalmente, hoje, 220 dias
depois, está para ser liberado.
• Em 96, a SOARMEC elaborou o projeto
Visão da Literatura – que visa produzir uma série
de programas literários voltados para o ouvinte
cego e para a revitalização da arte da leitura, e
conseguiu produzir, em parceria com a Rádio
MEC, o primeiro produto do projeto: a leitura
completa do Memorial de Ayres, na voz de Luis
Carlos Saroldi. Em 98, o projeto foi enviado ao
RIOARTE, para patrocínio, e recebeu o diploma
que garante ao patrocinador deduzir de seus
impostos o valor do patrocínio cultural.
Infelizmente não conseguimos captar recursos
para dar continuação à série. Mas este é sem
dúvida um dos nossos mais importantes
projetos, e não deve ser abandonado pela
próxima diretoria. Como o nome diz, este
projeto é voltado para os deficientes visuais – seis
milhões de brasileiros, aproximadamente – um
número expressivo de ouvintes, que dá corpo a
um argumento final e irrespondível contra a
extinção do rádio educativo, no Brasil ou em
qualquer lugar do mundo.
• O projeto de dotar a Emissora de uma
biblioteca especializada em assuntos radiofônicos
virou realidade em junho de 1997. A biblioteca,
que recebeu o nome de Fernando Tude de Souza,
continua funcionando numa das salas da
Sociedade, e está à disposição dos estudantes de
comunicação e demais interessados.
Ficamos sabendo, com surpresa, que seu
acervo – agora com 222 títulos, alguns raros –, já
é maior e mais abrangente que o da Biblioteca
Nacional. E aqui deixamos uma interrogação a
respeito da oportunidade de, em caso de dissolução
da SOARMEC, um dia, doarmos o acervo da
biblioteca Tude de Souza para a própria Biblioteca
Nacional.
REALIZAÇÕES RADIOFÔNICAS
PROPRIAMENTE DITAS:
• Iniciada em 1992, a Série Ao Vivo entre
Amigos, coordenada por Renato Rocha e
apresentada por Luiz Carlos Saroldi, atingiu,
nesta gestão, a marca de 57 programas
inteiramente produzidos pela Sociedade.
SOARMEC à Assembléia Geral
Considerado, na época (1998), pela
Coordenação da MEC AM como sendo um dos
três melhores programas musicais da Emissora, o
AO VIVO ENTRE AMIGOS, a partir de abril
daquele ano, entrou em nova fase, passando a ser
transmitido, toda quarta-feira, às 22 horas,
diretamente do auditório da Rádio, com
produção a cargo da MEC AM, e sempre
focalizando um talento da nossa MPB.
Como sabemos, a série foi criada com a
intenção de revitalizar a prática das apresentações
gravadas ao vivo – que tradicionalmente eram
realizadas no Estúdio Sinfônico – e divulgar o
auditório da Rádio como mais um espaço cultural
da cidade. A nova fase do AO VIVO ENTRE
AMIGOS, com periodicidade semanal, prova que
o primeiro objetivo foi plenamente alcançado.
Além disso, a própria trajetória da série – nascida
e criada pela Sociedade e depois repassada para a
Emissora – é mais um exemplo do desapego que a
SOARMEC tem por suas realizações, sempre que a
Rádio MEC demonstra precisar delas.
Ao ceder o nome e o programa, e sem
poder contar com seu principal apresentador,
Luis Carlos Saroldi, a Sociedade interrompeu
sua produção radiofônica, propriamente dita,
que se reduziu à recuperação e transcrição do
que restou da série Eles escolheram a música –11
programas –, e uma audição e copiagem das
gravações de Os Boêmios, conjunto popular que
mantinha um programa na Emissora, nas
décadas de 60 e 70.
Retomar a produção radiofônica, conquistando um novo horário na programação regular da
Rádio, é um feito que a nova gestão deve tentar
realizar.
• Nesta gestão extinguimos o Bazar dos
Poetas Mortos, criado por Gizelia Fernandes, em
1994, e batizado por Saroldi. Pelo motivo muito
simples de que recebíamos mais doações de
discos e livros, do que vendíamos. Houve um
momento, durante o último ano, em que
decidimos parar de receber doações, por falta de
espaço. Recentemente, para ali instalarmos
nosso setor de informática, resolvemos esvaziar a
sala, extinguindo, ao mesmo tempo, o Bazar.
Destinamos alguns livros para escolas e para
bibliotecas de bairro, e doamos centenas de
discos 78 rotações e LPs antigos, alguns a
colecionadores.
BENFEITORIAS
Deixamos para o final uma das atividades
que a SOARMEC vem desenvolvendo desde sua
criação e que, nesta gestão, foi mantida. Estamos
nos referindo à conservação e melhoria do espaço
físico da Emissora. Para tanto, vamos fazer uma
pequena rememoração.
A SOARMEC está instalada em duas salas
contíguas, no 2º andar do prédio da Rádio, e
dispõe de um outro cômodo – uma espécie de
depósito, no vão da escada do 2º andar. Tal
espaço foi gentilmente cedido por Paulo
Henrique Cardoso, quando diretor. Durante a
gestão de Paulo Ribeiro, presidente da então
FRP, chegamos a assinar um contrato de
utilização daquele espaço, mas descobriu-se,
depois, que tal procedimento fora proibido por
decreto, desde o governo de Collor. Em
consequência, tal contrato foi anulado. Com o
advento da ACERP, tentou-se um outro
contrato, mas não ouve acordo de termos, e,
hoje, continuamos a ocupar aquele espaço como
“hóspedes tolerados” da Emissora.
Além de utilizarmos estes cômodos, o que não
é pouco e motiva o agradecido reconhecimento da
SOARMEC, utilizamos, também, dois ramais
telefônicos e alguns móveis. Em contrapartida, a
listagem que se segue, demonstra que a SOARMEC
continua sendo um hóspede generoso.
• A SOARMEC promoveu uma total
reforma no espaço ocupado pelo Bazar dos
Poetas Mortos, incluindo pintura, instalação
elétrica para 110 volts, aquisição de aparelho de
ar refrigerado e colocação de bancadas e estantes,
feitas sob medida, bem como 2 cadeiras e,
também, película “insufilm” nos vidros da
janela, para evitar sensação de alumbramento na
tela do computador. Tudo isso para receber um
ilha de informática e se tranformar em nosso
espaço de produção gráfica e de inserção na
Internet. E aqui é bom lembrar que, de acordo
com o estatuto, em caso de dissolução da
Sociedade, os seus bens passam automaticamente para a Emissora. Assim, estão neste
caso todos os bens arrolados na “Relação dos
Bens Patrimoniais da SOARMEC”, que está a
disposição dos presentes, para ser consultada.
• Além das benfeitorias realizadas em sua
sede, a Sociedade, apesar de seus poucos recursos,
tem continuado a patrocinar pequenas reformas e
melhoramentos no espaço físico da Emissora. Para
muitos dos que trabalham na Rádio, ela é uma
espécie de “prefeiturinha” da Emissora. Eis a relação, andar por andar, das benfeitorias realizadas
nesta gestão:
ENTRADA, PORTARIA e TÉRREO
• placa com número de rua
• 3 vasos com plantas ornamentais ao longo da
entrada até a portaria, incluindo um pinheiro de
Natal.
• gratificação mensal (pró labore) a um dos
faxineiros para regar e cuidar das plantas (incluindo os outros vasos colocados na gestão
anterior)
• telhas novas, na casinhola do gerador, que foram
depois destruídas com a substituição do antigo
gerador.
• uma foto de Mignone regendo a OSN,
ampliada e legendada
• material de pintura e de construção para conserto
de paredes e pintura da parte interna do térreo.
PRIMEIRO ANDAR
• ampliação, legenda e moldura para foto de
monumento radiofônico à Resistência Francesa.
• material para reforma e pintura das paredes da
escadaria e vãos, do térreo ao terceiro andar.
SEGUNDO ANDAR
• ampliação, legenda e moldura de fotos de
Roquette-Pinto, adquirida no Acervo de O
Globo; e professor ginástica Oswaldo Diniz
Magalhães)
• revestimento, com película insufilm, das duas
janelas do Acervo, para evitar alumbramento na
tela do computador.
• sinalização em corte-laser, indicando banheiro
masculino e feminino.
TERCEIRO ANDAR
• 9 gravuras com rostos de compositores antigos, ao
longo da metade do corredor que vai dar na
discoteca.
• gravuras menores, enquadradas, para as salas de
audição.
QUARTO ANDAR
• grande ampliação emoldurada e legendada, em
vidro anti-refratário, de foto de ensaio de Geny
Marcondes.
• Idem do maestro Nelson Nilo Hack.
SEXTO ANDAR
• um poster do filme “O poder da informação”,
para o setor de jornalismo.
• duas gravuras de compositores emolduradas
para a MEC FM
RESISTÊNCIA CULTURAL
13
organização do mesmo tipo, para desfilar no
espaço ocupado pela Sociedade Civil. No caso da
recém-criada ACERP, que é tutelada pelo Estado
– pelo menos até agora – o resultado é um híbrido que não tem sido nem uma coisa nem outra.
Assim, nos últimos dois anos, a Rádio MEC e
a TVE vêm sendo administrados por uma
Associação que não possui sócios; que se diz de
Comunicação Educativa, mas acaba de dar o golpe
de misericórdia no setor educativo da Rádio – sem
emitir nenhum comunicado a respeito – e que
ostenta o nome de Roquette-Pinto, aparentemente
apenas pró-forma, pois não tem demonstrado a
menor generosidade cultural. Neste campo, a
ACERP reflete mais uma vez o viés oficial, pois ecoa
uma tendência dominante nos altos escalões do
atual governo: a tendência a encarar a Cultura como
negócio comercial, ou, nas palavras de Francisco
Wefort , “com a dimensão comercial embutida”.
Tal opção permitiu que os dirigentes da
ACERP tenham sido, até agora, escolhidos não
pelos seus dotes culturais, mas por suas
qualidades de administradores.
Além disso, acrescente-se que, durante
todo o processo de extinção da FRP e constituição
da ACERP, nunca foi feita , ao que se pode deduzir,
qualquer referência à existência da SOARMEC, e,
assim, a Medida Provisória que criou as
Organizações Sociais acabou sendo editada sem
levar em conta a nossa quixotesca Sociedade. Com
isso, de repente, passaram a existir duas associações
sem fins lucrativos, voltadas para a mesma Rádio –
a ACERP e a SOARMEC – com intenções e
competências muitas vezes comuns. Tal fato, em
vez de suscitar uma tentativa de soma e sinergia,
parece ter provocado um grande incômodo na
primeira e atual diretoria da ACERP.
Não poderíamos encerrar nosso relatório sem
fazer menção à atividade de resistência cultural
que os Amigos Ouvintes precisaram e passaram a
exercer em relação à ACERP, quase que desde o seu
advento.
Sabemos que questões importantes, como
as que envolvem a sobrevivência da Rádio MEC,
parecem menos importantes, frente aos macros
problemas brasileiros. Com efeito, que importância tem a semi-privatização da Rádio MEC –
é mais ou menos isso, tentativamente, que está
acontecendo com a Emissora –, perto da total
privatização de uma Vale do Rio Doce? Mas é
de sobrevivência do rádio educativo que estamos
falando aqui. Pedimos, portanto, um pouco de
paciência aos membros da Assembléia, para
situar brevemente a questão.
A consequência desse estado de coisas é
que, a SOARMEC, que, nos 6 anos de funcionamento, anteriores à ACERP, conviveu com
vários diretores da Rádio e presidentes da FRP,
sendo apoiada e, algumas vezes, até ignorada por
eles, passou a ser, nos últimos dois anos, explicitamente rejeitada e desconsiderada em sua própria razão de ser.
Uma das quase 3 mil medidas provisórias do
governo Fernando Henrique – a de nº 1591–
extinguiu oficialmente a FRP e instituiu a figura
da organização social. A ACERP – Associação de
Comunicação Educativa Roquette-Pinto, criada
pelos mesmos executivos encarregados da extinção
da FRP, foi a primeira sociedade sem fins lucrativos
a ser credenciada como Organização Social. Com
isso, a TVE e a RÁDIO MEC tornaram-se as
primeiras cobaias dessa nova experiência
administrativa.
Já tivemos que defender o nome da Rádio, e o
conseguimos – durante a gestão de Paulo Ribeiro,
ex-presidente da extinta FRP. Com a ACERP, no
entanto, tivemos que defender não uma situação
entre tantas outras, mas a própria idéia, a própria
substância da Sociedade. Pela primeira vez, a
SOARMEC precisou fazer valer seus estatutos e seus
direitos, no sentido de defender a continuidade de
projetos que estavam a meio caminho, como as duas
últimas caixas de CDs, que foram produzidos a
despeito da atuação contrária da ACERP.
Que experiência é esta? Ao que parece, uma
Organização Social é uma espécie de ONG paradoxal. É como se o governo tivesse percebido
que as Organizações não governamentais também podem dar samba, e resolvesse criar uma
Tornando mais difícil uma coisa que não é
fácil – estamos falando de produção cultural no
Brasil –, a ACERP, literalmente, entrou em
competição com nossa Sociedade.
(continua na página seguinte...)
14
Relatório de atividades (continuação...)
Tal competição teve seu lado positivo, pois
a ACERP lançou um selo próprio e produziu um
belo disco de Hermeto Paschoal – que muitos
pensam que é o segundo CD da série IBI e, que,
daqui a 10 anos, serão compilados, por um
Lauro Gomes do futuro, na mesma coleção.
O lado negativo pode ser representado pela
absurda e tardia tentativa de produção de um CD
de Alceo Bocchino, com o mesmo repertório do CD
que estávamos em vias de mandar para a fábrica
(para a 2ª caixa ). Foi solicitado, inclusive, pelos
responsáveis pela espantosa empreitada, que o
veterano maestro e compositor assinasse às pressas
uma segunda autorização, mesmo argumentando
que já havia assinado com a SOARMEC. Nunca
vimos esta autorização que, com certeza, deveria
estar pré datada – do contrário, não teria valor
legal –, o que demonstraria concretamente o grau
de irracionalidade atingida, em certas ocasiões.
Para não cansar a Assembléia com um pormenorizado relato das ações da ACERP – que
muitas vezes foram de aberto boicote, puro e
simples, até a tentativa de limitar o direito de
nossos colaboradores irem e virem pelas dependências da Emissora –, citamos três evidências:
A primeira é o fato de a SOARMEC não ter
sido, até hoje, convidada a tomar assento no Conselho de Administração da ACERP.
Outra é a supressão, em meados de 98, sem
aviso ou justificativa, por parte da atual direção
da MEC FM, das chamadas da Sociedade que
iam tradicionalmente ao ar.
A terceira é a sequência de minutas dos
contratos de utilização do espaço da sala e de
produção de CDs, os quais, trocados em miúdos,
propunham simplesmente que a Sociedade pagasse
para poder fazer o seu trabalho voluntário. Após
reuniões e reuniões e idas e vindas, não se chegou a
um acordo e a situação permanece sem definição.
Para a maioria de nosso sócios, estas
palavras soam como novidade. Isto porque
nosso informativo tem evitado noticiar essas
desavenças estruturais. Conseguir transformar
este estado de ânimo em colaboração produtiva
é um dos desafios da nova diretoria.
Nosso informativo também procura nunca
levantar suspeitas infundadas, por isso o leitor não
encontra, ali, referências a fatos ainda pouco
transparentes como, por exemplo, o processo de
extinção da Fundação Roquette-Pinto, açodado e
pouco transparente, sem pronunciamento da
Curadoria de Fundações, sem apresentação dos
resultados da auditoria efetuada, e sem maiores
explicações quanto ao destino dos bens e Acervo da
Emissora. O fato é que, até hoje, não sabemos o
nome do órgão responsável pela guarda e
conservação do patrimônio da Rádio MEC
acumulado antes do advento da ACERP. Essa é
uma questão preocupante e já motivou duas cartas
à Secretária de Comunicação da Presidência da
República. E essa questão, ainda sem resposta, é
mais um desafio para a próxima diretoria.
A linha editorial do nosso informativo
também procura não comentar as decisões
administrativas tomadas pela Rádio, e tenta, na
medida do possível, transferir para a Associação
dos Funcionários ou para o Sindicato, esse tipo
de informação, bem mais de acordo com a pauta
de seus respectivos jornais.
Por isso, nossos leitores não estão a par da
abrupta verticalização de comando imposta pela
ACERP, nem do assédio moral que passou a ser
exercido dentro da Rádio, sobre os funcionários –
pelo fato de serem funcionários –, sobre os
prestadores de serviço – pelo fato de que podem ser
demitidos – , e, durante algum tempo, sobre os
colaboradores da Sociedade. Essa atitude, que arrefeceu mas permanece latente, provocou o desaparecimento do jornal interno “Rádio Corredor”, e
um verdadeiro êxodo de funcionários, para outros
órgãos do Governo, o que desestruturou bastante o
sentido de “equipe”, que uma Emissora deve ter
E mais: este esvaziamento é extremamente
perigoso porque o que permitia que a Rádio
MEC, durante todos esses anos, atravessasse
administrações e diretores pouco preparados ou
desinteressados, era o fato de que o corpo de
profissionais que nela atuava, praticamente
prescindia das consecutivas direções, que apenas
precisavam cuidar da parte administrativa.
Agora, com a saída de pessoas como Ary André,
técnico experimentadíssimo; Regina Sales, e
outros mais, a coisa muda de figura. Quem os
substituirá? Ou a intenção é mesmo a de
esvaziar a Emissora?
Apoio Cultural
Além disso, parafraseando Francelino Pereira,
que espécie de ambiente de trabalho educativocultural está sendo fermentado? É com mandonistas
que se pretende tocar uma rádio voltada para
cidadania? Cidania da antena para fora? É por
essas e outras que a SOARMEC tem insistido em
cobrar, em seu jornal, a existência de um
ombudsman para a Rádio MEC.
Para não nos prolongarmos mais nesse
assunto, e, à guisa de conclusão, vamos registrar,
aqui, outro agradecimento, dessa vez ao senador
Artur da Távola que, por ser sócio fundador da
Sociedade dos Amigos Ouvintes e, ao mesmo
tempo, membro do Conselho de Administração
da ACERP, vem procurando pacificar as relações
e tem conseguido reduzir a pressão oficial sobre
a nossa Sociedade.
ENTRE PARA A
SOARMEC
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mantenha-se informado a respeito
do Rádio Educativo
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Rosinha
Vamos torcer para que a atual ou a próxima
diretoria da ACERP, compreenda que , do ponto de
vista moral e até político e econômico, a existência
da SOARMEC representa mais para a ACERP do
que qualquer taxa eventualmente cobrada à nossa
Sociedade; e compreenda que não aceitar a
SOARMEC significa ir na contra-mão dos anseios
da Sociedade Civil e ir na contra-mão dos que
desejam a continuidade da própria Rádio MEC.
Vamos torcer, também para que a ACERP dê mais
ouvidos a seu Conselho Administrativo, pois, como
já noticiamos em nosso jornal, o referido Conselho
não tem tido oportunidade de aconselhar, pois só
tem sido convocado para convalidar decisões já
decididas e até mesmo postas em prática.
A diretoria que se despede acredita que
toda esta problemática foi provocada pela
transferência da Emissora para a Secretária de
Comunicação da Presidência da República. Nos
três últimos editoriais do nosso jornal, temos
apresentado os argumentos cabíveis para
justificar o retorno da Rádio ao Ministério da
Educação, que, a nosso ver, deve arcar com a
responsabilidade assumida em 1936. É possível
fazer valer os termos da doação original de
Roquette-Pinto? Conseguir, pelo menos, que o
Ministério da Educação se pronuncie a respeito,
é uma das principais tarefas da nova Diretoria.
Rio de Janeiro, 25 de abril de 2000
A DIRETORIA
H
á sete anos, aquela que foi a melhor
violonista popular brasileira sofreu duas
paradas cardíacas, sobreviveu, mas parou de
tocar, de falar, de ouvir, de andar ou de fazer
qualquer movimento coordenado. Após meses
de internação, foi levada de volta para a cidade
cujo nome está colado ao seu. E lá, numa
casinha de fundos, ela vem sendo cuidada por
sua diligente irmã, Maria Geracina. A família
não tem recursos.
Quem quiser ajudar com dinheiro, pode
fazer depósito na conta nº 36676-5, da Agência
04049 do Banco do Brasil, em nome de Maria
Rosa Canelas – nome de batismo da artista.
Quem quiser ajudar com fraldas ou medicamentos, telefone para 0-xx-24-4522659 e
combine com a própria irmã de Rosinha.
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Novos Desafios
O
problema da televisão na competição
com a TV de alta definição e a Internet é igual ao da radiodifusão, que
enfrenta mudanças tecnológicas semelhantes.
Há 40 anos, o rádio foi transformado pela
capacidade da televisão de atrair público e
receita. Contudo, ele continua sendo uma
força poderosa.
De acordo com uma pesquisa de 1998,
feita pela Mediamark Research, 83% dos
americanos escutam rádio regularmente, uma
audiência que nenhum outro meio de
comunicação pode igualar. A média de escuta
de rádio por pessoa alcança 3 horas e 45
minutos diários.
Há dois motivos para a força contínua do
rádio. Uma é a popularidade das novas
estações FM, com seu som musical de
qualidade superior. Pesquisas indicam que os
ouvintes das estações FM representam 80%
da audiência do rádio. A segunda é a mudança
das rádios da audiência de massa para a
programação especializada.
Hoje, mais de 12.000 estações de rádio
usam dezenas de formatos diferentes, do hard
rock à música clássica.
A sensação nos anos 90 foi o rádio falado:
o número de estações que dedicavam grande
parte do dia a talk shows triplicou de 405, em
1990, para 1.130 em 1995. Nessa época, o
programa de Rush Limbaugh atraía 20
milhões de ouvintes a cada semana e gerava
US$ 30 milhões em receitas anuais de
propaganda.
Em sua busca pelos dólares da
publicidade, os executivos do rádio
dão atenção especial a dois grupos de
ouvintes: adolescentes e motoristas na
direção. Seus hábitos de audiência e de
compra têm sido estudados com apurada
minúcia pelo indústria do rádio.
Os adolescentes são ouvintes
compulsivos de rádio, representando
também um mercado de consumo de US$
100 bilhões. Uma pesquisa concluiu que 94%
de todos os adolescentes entre 12 e 19 anos
ouvem rádio regularmente.
No final dos anos 90, uma forte tendência
nas transmissões de rádio era a corrida das
corporações e outros investidores para
comprar estações.
Esse interesse foi incentivado pela lei de
telecomunicações de 1996, que abolia regras
que limitavam a propriedade, por parte das
companhias e indivíduos, a no máximo 20
estações AM e 20 estações FM. O resultado
foi uma onda de compras e fusões nessa área.
Os preços pedidos por uma estação foram
às alturas. Uma estação de rock novaiorquina, a WAKQ-FM, foi vendida por
US$90 milhões. No total, cerca de 4.000 das
10.000 estações de rádio do país mudaram de
mãos em 1998, em acordos que totalizaram
algo estimado em US$32 bilhões. A mais
agressiva firma nessas operações foi a
Chancellor Media Corp., cujo presidente,
Tom Hicks, é um antigo DJ. Em 1999, a
firma tinha participação em 463 estações,
formando o maior grupo de rádio do país.
no Rádio
Nesse meio tempo, as
estações de rádio enfrentam
uma mudança tecnológica que
poderia tornar suas operações
em AM e FM cada vez mais
obsoletas. É a radiodifusão digital (DAB),
envolvendo a mesma
mudança para a transmissão digital que as emissoras de
televisão estão encarando. Em 1992, a
FCC alocou freqüências que permitem que
programas DAB sejam transmitidos de
satélites ou de transmissores terrestres.
A tecnologia da DAB está bem avançada,
mas sua aplicação integral talvez se atrase por
várias razões. Uma delas é a violenta discordância dentro da indústria do rádio sobre
como e quando ela deve ser introduzida. Compreensivelmente, a indústria não está muito
entusiasmada com a idéia de gastar bilhões de
dólares para substituir suas instalações de AM
e FM. Além disso, há dúvidas sobre o desejo
dos ouvintes de rádio em mudar para o DAB.
A tecnologia requer a substituição dos atuais
receptores por outros mais caros.
Por último, a DAB tem a concorrência de
outras formas, ainda em desenvolvimento, de
serviços de áudio digital para o consumidor:
cabo, microondas, CDs e fitas áudio-digitais.
Alguns observadores da indústria acreditam
que talvez demore ainda uma década, ou mais,
até que a DAB se torne uma força importante
na radiodifusão americana. Seu crescimento
talvez dependa da sua capacidade de permitir
Coluna do Conselheiro
Paulo M.Borges
A
ACERP é hoje uma empresa de
televisão e rádio viável do ponto
de vista econômico? Até que
ponto o governo tem interêsse em mantê-la? Seremos capazes de caminhar sózinhos sem o braço amparador do
Planalto?
É importante ressaltar que o
Governo estabeleceu regras para o
cumprimento do Contrato de Gestão
que hoje rege a ACERP. Este contrato
foi renovado até 2003. Infelizmente,
tivemos atrasos no envio das dotações
das primeiras parcelas devidas pelo
Governo, o que influenciou no orçamento da Empresa, a ponto de atrasarmos os pagamentos dos colaboradores e
das empresas prestadoras de serviço.
Infelizmente estamos em meio a uma
crise que grassa pelo país e, por isso,
estamos, hoje, produzindo pouco,
acumulando energias para lutar por um
mercado que vê na TV Pública um
espaço ainda restrito ao anúncio de
preços e a certos tipos de mercadorias.
Acredito na viabilidade econômica
da ACERP. Temos um potencial enorme, um acervo fantástico de Rádio e
TV, e um parque eletrônico que possibilita a sustentação de uma rede de
emissoras.
Falta-nos acreditar mais. Falta hoje à
ACERP garra e profissionais que busquem nas empresas o patrocínio de
nossa programação. Alcançamos com
muito trabalho a qualidade requerida
de imagem no ar, falta alcançar a mídia
das empresas a se promoverem nas
ondas do nosso rádio e TV.
O Governo criou a Organização
Social e agora tem que mantê-la até se
ver livre deste encargo. Ocorre, porém,
que ele é o primeiro a dificultar este
“aprender a andar sozinho”: são muitos
os braços do Estado e a ACERP é apenas
uma ramificação que precisa receber
água para sobreviver. Acredito que não
estamos entre as ramificação importantes do Governo.
É possível caminhar sem o braço do
Governo. A administração não deve ser
centralizada; é preciso inovar para
crescer; é preciso apostar no talento que
está na Casa, abrir espaços para que o
colaborador interessado possa trazer a
ideia ideal, a mais propícia, para a
situação que urge resposta.
Os líderes dos Núcleos da ACERP
deverão, antes de tudo, compreender
que a figura do chefe deve deixar de ser
solitária, para integrar-se à Equipe,
como um todo.
15
ao ouvinte fazer gravações de som em alta
qualidade, puras como as do CD, em minidiscos ou em fitas cassetes digitais. Segundo o
assessor de mídia Michael Tyler, o resultado
poderia ser uma “loja de discos caseira”, com
milhares de títulos disponíveis, a pedido, para
gravação doméstica.
Apesar da hesitação das emissoras de rádio
em adotar as novas tecnologias digitais, os
acontecimentos as estão forçando a se mexerem mais rapidamente. Um fator é a perspectiva da difusão digital via satélite. Em 1995, o
FCC deu autorização inicial para uma nova
companhia, a Satellite CD Radio, construir um
sistema de satélite duplo que pode transmitir
trinta estações de rádio nacionais para assinantes, com antenas não muito maiores do que
uma moeda de US $1,00.
Além disso, algumas emissoras começaram a compreender que partir para o rádio
digital poderia lhes proporcionar significativas
economias operacionais, por permitir-lhes
ingressar mais facilmente no fornecimento de
programas nacionais digitais. Também lhes
permite operar uma estação completa, 24 horas por dia, com apenas alguns vendedores e
um ou dois técnicos. Duas firmas da área de
Washington, CD Radio e American Mobile
Radio, planejam ter redes de rádio nacionais
baseadas em satélites operando no ano 2000.”
Extraído do livro "A Nova Mídia", de Wilson Dizard Jr., tradução de Antônio Queiroga e
Edmond Jorge, Jorge Zahar Editor.
NÚMEROS DA CAO
Tabulação feita por Luiza Amaral com base nos relatórios semanais da
Central de Atendimento ao Ouvinte, de 01/04/00 a 09/06/00
Ligações: 1950 em 70 dias,
o que dá a média de 27,8 ligações diárias
MEC AM
Total de ligações
• Para o programa Cia. do Samba
• Para o Defesa do Consumidor
• Para o Manhã Viva
• Elogios à programação
• Reclamaram da programação
• Informações e sugestões 90
• Para Atendendo aos Ouvintes
• Reserva p/ Ao Vivo entre Amigos
• Participaram de promoções
• Reclamaram da sintonização
• Reservas p/prog. Parede 800 AM
1517
70
93
624
57
12
167
166
124
01
113
MEC FM
Total de ligações
433
• Participaram das promoções
• Pedidos para o Conexão Direta
• Elogios à programação
• Reclamaram da programação
• Informações e sugestões
• Pedido de grade de programação
• Reservas para Sala de Concerto
• Reserva para Roda de Choro
86
53
15
36
90
05
138
10
Central de Atendimento
ao Ouvinte - CAO
☎ 252 8413
SCHNITTKE: “Vida com um Idiota”
MOZART: “Cosi Fan Tutte”
OFFENBACH: “Contos de Hofmann”
ROSSINI: “A Viagem a Reims”
TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM
TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM
BORODIN: “O Príncipe Igor”
BELLINI: “Os Puritanos”
PUCCINI: “Tosca”
VERDI: “La Traviata”
WEBER: “Der Freischutz”
20/08 - “A pele do lobo” - Arthur Azevedo
27/08 - “Um episódio” - Arthur Schnitzler
03 10 17 24 31 -
06/08 - “Um presente” - Arthur Schnitzler
13/08 - “Eduardo e Agripina” - René de Obaldia
CATALANI: “La Wally”
BERLIOZ: “Beatriz e Benedito”
ENESCO: “Édipo”
WAGNER: “Lohengrin”
ÓPERA NA MADRUGADA – 5ª Feira, 3 h – MEC FM
06 13 20 27 -
ÓPERA COMPLETA – Domingo, 17 h – MEC FM
AGOSTO DE 2000
A M 8 0 0 K h z – GRADES DE PROGRAMAÇÃO – F M 9 8 , 9 M h z
06 13 20 27 -
ÓPERA NA MADRUGADA – 5ª Feira, 3 h – MEC FM
16/07 – “Viajantes para o mar” – J. M. Synge
23/07 - “Henrique VIII” - Shakespeare
30/07 - “A casa fechada” - Roberto Gomes
TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM
JULHO DE 2000
TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM
02/07 - “A escola das viúvas” - Jean Cocteau
09/07 - “Quem pergunta o que quer, ouve o que
não quer...” – Arthur Schnitzler
RICHARD STRAUSS: "Elektra"
CARLOS GOMES: "Fosca"
ROSSINI: "La Cenerêntola" ( A Cinderela )
WAGNER: "Tristão e Isolda"
MSCAGNI: "Iris"
ÓPERA COMPLETA – Domingo, 17 h – MEC FM
02 09 16 23 30 -

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