Chegou!!!
Transcrição
E Radiocídio ste deveria ser um editorial novidadeiro, destinado a saudar nossa nova diretoria, o novo piano, e o novo formato deste jornal, mas, infelizmente, nossa pauta foi atropelada pela aparição, nas dependências da TVE, em pleno ano 2000!, da velha censura, do velho mandonismo e da velha subserviência. Ao que parece, a saudável indignação de um punhado de jornalistas foi o suficiente para exorcizar a coisa. Mas até onde ela chegou? Há metástase? A ACERP (a Associação que administra a TVE e a Rádio MEC) está então sob censura? Ou é ou presta-se a ser um braço dela? A ACERP-Rádio parece confirmar a última hipótese, pois a violenta nota no JB – veja na página 10 – nada mais quer do que reprimir e censurar as atividades culturais dos Amigos Ouvintes. O leitor ocasional não é obrigado a saber que a SOARMEC existe e trabalha pela saúde do rádio educativo-cultural brasileiro; mas deve saber que nada é mais anticultural e menos educativo do que a censura. Para que esses arroubos censórios fiquem bem documentados, estamos dedicando três páginas (6,7 e 10) a comentários e transcrições de trechos de artigos publicados pela grande imprensa, os quais demonstram, de modo contundente, que a coisa não está boa para a TVE – e nem para a Rádio MEC, a emissora que nos diz respeito. Trocado em miúdos, o que emerge dos dois incidentes repressivos é que a Rádio, enquanto núcleo transmissor de cultura e saber, não tem mais a menor importância. Pode ficar entregue à sua própria sorte, pode ficar acéfala, e pode ser, como já o foi, separada do Ministério da Educação (onde estava desde 1936). Ainda não conseguimos entender por que, no enorme quebra-cabeças brasileiro, com tantos vazios por preencher, seus administradores resolveram desconectar peças que já estavam corretamente encaixadas, como é o caso da Rádio e seu Ministério de origem. O resultado é que a Rádio MEC – que deveria e poderia ser para o Brasil o que a BBC é para a Inglaterra, ou a Rádio França para os franceses – nunca, em seus 64 anos, esteve tão desprotegida. Nem quando quiseram levá-la para Brasília, e nem mesmo durante a ditadura militar – que, note-se, jamais pensou em retirá-la do Ministério da Educação. E agora, José, a quem recorrer? D. Beatriz Roquette-Pinto, que conheceu muitos ministros, costumava repetir uma frase tolerante e otimista a respeito dos eventuais desmandos radiofônicos brasileiros: “Os homens passam e a Rádio, estando no Ministério da Educação sempre vai encontrar alguém que mantenha sua parte educativa”. Mas as mulheres também passam, e a grande defensora da Rádio não há mais. No Brasil 2000 de hoje, com a Emissora fora do Ministério pelo 6º ano consecutivo, a quem recorrer? Será que os “parentes espirituais de Roquette-Pinto”, dos quais a parte mais conhecida são os 455 sócios de nossa Sociedade, podem conseguir o reconhecimento jurídico necessário para fazer valer o famoso documento de doação e, com isso, lograr que a rádio retorne ao Ministério a que tem direito? Com a palavra, os juristas. IMPRESSO Editorial Amigo Ouvinte Ano VIII • Nº 29 • JUNHO de 2000 I N F O R M AT I V O D A S O C I E D A D E D O S A M I G O S O U V I N T E S D A R Á D I O M E C Chegou!!! No ano em que se comemora o 300º aniversário da invenção do instrumento, finalmente, após exatos 9 meses (10 de setembro a 7 de junho) o piano da Rádio MEC chegou ao Estúdio Sinfônico da Emissora – páginas 2 e 3. Dez anos nota 10! 6ª Assembléia Geral elege 5ª diretoria da SOARMEC A partir da esquerda: Reinaldo Ramalho, Oscar Santiago, Érika Werd Werneck, Maria Yedda Linhares, Edino Krieger, Norma Tapajós, Renato Rocha, Carlos Acselrad e Suetônio Valença, eleitos para a gestão 2000 a 2002 – Página 5. Também neste número: Alto-falante 4 • Cartas 4 • Sem censura.com? 6 e 7 Um piano a muitas mãos 8 e 9 • Uma nota preta 10 • A rádio do meu tempo (depoimento de Giuzeppe Ghiaroni) 11 • Coluna do Conselheiro 15 Os números da Cal 15 • Programações 16 2 Chegou! (ao final a novela do piano) Resumo A novela do piano virou uma espécie de folhetim: vem rolando (ou se arrastando) pelos últimos 4 números deste pequeno porém decente jornal. A grande imprensa também noticiou e seus desdobramentos, como veremos, continuam dando notícia. Para os leitores que estão pegando o bonde andando, é preciso contar que a novela "empacou" por causa de um nó dramatúrgico-burocrático envolvendo as três instituições-personagem: um órgão do governo (a Receita Federal) taxando, em um quinto do valor, um piano comprado para uma instituição do governo (a Rádio MEC), com dinheiro de outro órgão do mesmo governo (o Ministério da Cultura). A coisa fica mais Brasil ainda, quando se lembra que, na primeira semana de janeiro, por força de outras necessidades, o governo reduziu de 18% para 5% o imposto para a importação de 300 tipos de equipamentos e máquinas. Os pianos, no entanto, não foram contemplados. (Caso o fossem, teríamos de pagar apenas seis mil reais, o que ainda é muito, mas infinitamente menos que o estratosférico percentual em vigor.) Numa nota da redação, abaixo do editorial de domingo (11/06/00) do JB, está que "em paises civilizados, em 24 horas a coisa teria se resolvido". Ou seja, “o piano da rádio MEC” virou um assunto emblemático, pelo menos na pauta do JB. Isso, sem falar do detalhado noticiário deste Amigo Ouvinte, que vem contando a coisa desde o início, com pouco estilo mas de modo detalhado. No entanto, além do quarto poder, os Amigos Ouvintes ainda apelaram para outros: foram disparadas cartas faxes telefonemas e-mails e recados em várias direções, para funcionários do 1º e 2º escalões – incluindo ministros e inclusive o próprio malan.@ 2002.com.br –, e também a deputados e senadores da república. Nada feito: o piano continuava deitado de lado no depósito e, à SOARMEC, restava, como ultimo cartucho, uma carta ao Presidente da República , implorando uma providência, e anexando as assinaturas da diretoria da SOARMEC às quase 1500 contidas nos abaixo-assinados que já recebemos – ufa! – pelo correio, preenchidos e devolvidos por nossos sócios. Capítulo XV Nascimento e Silva, consultado, traduziu o acontecido com uma frase lapidar: “É um absurdo penalizar a Sociedade dos Amigos por ela estar botando um piano dentro da Rádio”. Outro detalhe: o Depósito Alfandegário Público é da iniciativa privada, e quem lavrou a infração foi um funcionário do DAP, o qual também nos instruiu a não recorrer para obter nova prorrogação – coisa que a lei faculta e da qual abrimos mão porque seria apenas um instrumento de retardo (que iria implicar em mais despesas de armazenamento). O 3º passo, instruiu-nos o agente, “já que a intenção da RF era mesmo a de doar o instrumento à Rádio”, consistia num pedido formal do instrumento, através de carta dirigida ao executivo máximo da RF e assinada pelo executivo responsável pela Rádio MEC. Isso aconteceu no dia 10 de março, de manhã. À tarde a SOARMEC já havia avisado a Gerência da ACERP, enviando, inclusive, o modelo padrão da carta (remetido por fax pela RF). O 4º passo, a bendita doação do piano, foi dado pelo sr. Everaldo Maciel, que oficializou a coisa em 11 de abril de 2000, exatamente 7 meses e um dia após a chegada do piano ao país (o que é tempo suficiente para um bebê prematuro). Importante: a doação, segundo o mesmo documento, “caducaria” no dia 7 de junho – o dia “D”. O documento de doação, é bom lembrar, foi consignado em nome da ACERP, que solicitou e aceitou a doação em nome da Rádio (a real beneficiária da aquisição, pois assim reza o convênio com o MINC). Tudo isso quer dizer que, desde que ocorreu a doação, a Associação tornouse oficialmente responsável pelo instrumento. Como estávamos ocupados com a organização da 6ª assembléia geral, foi só após sua realização e a consequente eleição da nova diretoria (leia página 5), que a SOARMEC voltou a se dedicar ao piano. Mas isso vai no próximo capítulo. Capítulo XVI N o final de abril, já com nova diretoria, a SOARMEC se reúne com a Gerência da Rádio para uma apresentação formal e, também, um exame do problema pianístico, na tentativa de somar esforços para pagar as despesas de armazenagem, pois, finalmente, havia ficado claro, para todos, que a doação não acabava com a dívida (cerca de dezesseis mil reais). Segundo nos foi colocado, a ACERP não dispunha de tal numerário. Aventamos a hipótese de quitar a dívida a prazo, mas fomos informados de que o DAP aceitava fazer um “abatimento” de 40 %, o que dava onze mil reais, cento e noventa e poucos quebrados, pagáveis apenas à vista (um dinheiro que nos permitiria montar toda nossa tão necessária ilha de informática). Às voltas com o prazo e com alternativas pouco animadoras, e constatando, a cada contacto com possíveis patrocinadores, que a àrea cultural está mesmo à mingua – principalmente pelo fato de que a quantia , em termos empresariais, é ridículamente pequena –, resolvemos, em maio, investir na idéia de um concerto em benefício do piano da Rádio MEC e dos pianistas brasileiros. Começamos a procurar um teatro estadual ou municipal, que pudesse ser cedido gratuitamente, para poder realizar um concerto de pianistas, gravado e com ingressos pagos. E avisamos à gerência da Rádio, solicitando apoio para as chamadas e para a gravação. A sequência dos acontecimentos passou a ser avassaladora. Queríamos a sexta-feira dia 2 de junho e conseguimos a seguinte, que aconteceria dois dias após o dia “D” cravado pela Receita. Mas tudo, ou quase tudo, deu certo, porque só não conseguimos a adesão de pianistas que já estavam comprometidos com aquela data. N o dia 26 de abril de 2000, por telefone, nas palavras do Dr. Paulo Avis, Superintendente da Receita Federal no Rio de Janeiro, ficamos sabendo que a RF já havia efetuado, 15 dias antes, a doação oficial do bendito piano Bösendorfer à Rádio MEC, através da ACERP (a associação que administra a Rádio MEC e a TVE). Para que isso pudesse acontecer, a RF e o DAP utilizaram o seguinte itinerário administrativo: 1º passo – esperar transcorrer o tempo limite de permanência do piano no Depósito Alfandegário Público (12o dias); 2º passo – lavrar uma infração contra o importador (a SOARMEC), a qual permite autuação por perdimento da mercadoria – o que equivale, mais ou menos, a “sujar a ficha” da Sociedade na praça. O advogado e ex-ministro da Cultura, Luis Roberto Fotos: Clara Züñiga Epílogo D e posse da data, com contrato assinado, e elenco garantido, a SOARMEC começou a tentar vender lotes de ingressos para diversas firmas, e, em cima da hora – tam-tam-tam-tam! – a EMBRATEL respondeu à nossa carta e aos nossos anseios, comprando 100 ingressos, para seus convidados, pelo total arredondado da dívida, ou seja, 12 mil reais! E tudo aconteceu a contento, apesar do prazo exíguo e do ritmo avassalador: o contrato com a telefônica, o depósito bancário, a quitação do débito (no penúltimo dia) e a retirada do piano (no último dia e a cargo da Gerência da Rádio), enquanto paralelamente últimávamos a produção do concerto que quase lotou a Sala Cecília Meirelles – veja cobertura nas páginas centrais. IMPORTANTE: Para que o final da novela seja realmente um final feliz é preciso garantir que o precioso piano Bösendorfer, modelo 225, nº de fábrica 06634, tenha seu uso “afeto” ao estúdio sinfônico da Rádio MEC, para que, assim, não possa sair de lá, como aconteceu com o piano da rádio que foi parar em Brasília, ou o que foi parar em Friburgo. Cartas ✍ “Soube, na escola de música onde estou estudando, que talvez possamos ter novamente a oportunidade de ouvir, via Rádio MEC, a música clássica que tanto aprecio. Na época da interrupção dessas transmissões fiquei muito triste e gostaria de solicitar agora que realmente seja iniciada a retransmissão da Rádio MEC FM Rio em Brasilia. [...]" Edith Nortrut de Almeida, Brasília. ✍ ✍ "Gostaria de saber se ainda existe a programação educativa da Rádio Maluca." [email protected] Não, Milena, nem da Rádio Maluca nem da Radioteca Jovem. Zé-Zuca não trabalha mais na Rádio MEC, cujo Setor Educativo está na UTI. ✍ "Gostaria do apoio da SOARMEC no sentido de que, em Brasília, volte a ser retransmitida a Rádio MEC FM Rio. Isto ocorria até 1998, quando a retransmissão foi preterida em favor da MEC AM Rio. Entretanto, como em Brasília não há rádios especializadas em música erudita, tal fato trouxe perdas aos amantes da música clássica e da rádio MEC em particular. Também, o fato da rádio MEC AM ser retransmitida atualmente veio somar apenas mais uma rádio de cunho popular em Brasília, dentre tantas outras, enquanto que a retransmissão da MEC FM representava uma diferenciação de programação que talvez proporcionasse até maior audiência [...]" Renato Lameirão, Brasília “Tenho a imensa satisfação de dirigirme à SOARMEC no intuito de parabenizála pela sua importante e fundamental atuação junto à própria emissora e, igualmente, pelo seu maravilhoso acervo musical representado pelos CDs da série "Repertório Rádio MC", um belíssimo e oportuno resgate de obras-primas da música popular e erudita, ao alcance de todos aqueles que, da mesma forma que eu, a admiram. Aproveito a oportunidade [...] quero dirigir ao elaborador do brilhante projeto "Arquivo Vivo", Henrique Cazes, a sugestão de incluir nesse trabalho primoroso um nome da MPB, há muito esquecido, e que é Luperce Miranda.” Jesse Nardel da Silva Reis, Rio Além desses, a SOARMEC recebeu mais 18 emails com o mesmo teor. Um verdadeiro “lobby” na Internet pedindo o retorno da MEC-FM à Brasília. Henrique Cazes não está mais trabalhando para a Rádio MEC, a qual, por sua vez, não possui gravações exclusivas do grande Luperce Miranda. "Peço que esta música seja mostrada porque nasceu de uma inspiração por passar e ver outras pessoas com falta de consideração e humanidade aos idosos. Como estou fazendo parte de um Grupo Educativo, senti coragem de pedir a colaboração de mostrar minha inspiração, para que outras pessoas passassem a sentir o apelo de meus sentimentos. Somos idosos mas gostamos de viver Sem preconceito de não poder aparecer Para quem nos faz discriminação Fiquem sabendo que fizemos por vocês Ganharem o pão. Temos direito de sermos respeitados Pelo que fizemos no passado. Então, tendo a idade que cada um pensar, Lhe garanto que seremos felizes até o final, Se Deus quiser.” Olinda Maria dos Santos, Rio ✍ "Como aluno da Escola de Música Villa-Lobos verifiquei o pouco conhecimento que meus companheiros têm em relação à Rádio MEC (é um absurdo, mas assim é). Como forma de tentar reverter esse quadro, me coloco à disposição para, pelo menos uma vez, distribuir aos alunos da minha turma de prática vocal o jornal da SOARMEC que, imagino, daria aos mesmos uma melhor visão em relação à emissora. " Nacib Pacha, Rio Alto-Falante JÁ SOMOS 455 SÓCIOS! Vamos ver se dessa vez conseguimos providenciar carteirinhas para todos. FORAM EMBORA, redistribuídas para órgãos da Aeronáutica e Saúde, respectivamente, as funcionárias ELIZABETH RAMIRO ALVES, que trabalhava na secretaria do Gabinete; e ROSA MARIA GOULART AVILA, veterana do projeto Minerva e do Setor Educativo, e depois na Produção AM. Que tenham sucesso em suas novas ocupações. Com essas duas defecções a Emissora passa a contar com apenas 114 profissionais. A RÁDIO FRANÇA possui, hoje, apenas em seu departamento musical, 453 funcionários, dos quais 368 são músicos profissionais. Dispõe também de um auditório com capacidade para 1000 pessoas, e dá 200 concertos por temporada, além de encomendar 70 novas criações musicais por ano. A Rádio MEC, hoje, não dispõe de nenhum músico, nem sequer um solitário Manoel Mão-de-Vaca. O AUDITÓRIO PAULO TAPAJÓS, na Rádio MEC, com capacidade para pouco mais de 50 pessoas, é, na verdade, a sala de projeção do antigo INC, que funcionou durante muito tempo, no mesmo prédio da Praça da República. A SOARMEC tem um pré-projeto, elaborado por Alfredo Brito, com a proposta detalhada e projeção de custos de uma reforma naquele espaço. Há algum captador de recursos interessado? CADÊ O RESULTADO da pesquisa de Clima Organizacional da ACERP que, de acordo com circular de 3 de fevereiro, foi respondida por 305 profissionais da TVE e da Rádio MEC? 120 MINUTOS de música podem ser armazenados nesse pequeno reprodutor de arquivos sonoros da Internet. O aparelho, produzido pela Sony, custa 370 dólares. CELSO BRANT, secretário do trabalho do governo de Minas e ex-diretor da Rádio MEC, além de todos seus afazeres, teve que ser operado duas vezes, nos últimos meses. Mas passa bem e prometeu escrever seu depoimento, logo que puder. A POLÊMICA MP3 (distribuição digitalizada de musica pela Internet) chegou ao Congresso dos EUA. Na berlinda o NAPSTER, programa que facilita a troca de arquivos MP3 e está sendo considerado, ao mesmo tempo, “o rádio do novo milênio”, “o coveiro das gravadoras”, e o “reformador das leis autorais vigentes”. Amigo Ouvinte é uma publicação da SOARMEC Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC. De Utilidade Pública Municipal (Lei nº 2464) e Estadual (Lei nº 3048) CGC 40405847/0001-70 Praça da República l4l-A Sala 201 CEP 20211-350 Tel: 221-7447 R: 2207e 2210 [email protected] EDITOR-RESPONSÁVEL: Renato Rocha PRESIDENTE DE HONRA: Beatriz Roquette-Pinto DIRETORIA: PRESIDENTE: Maria Yedda Linhares VICE-PRESIDENTE: Edino Krieger TESOUREIRO: José Oscar Santiago ATIVIDADES CULTURAIS: Suetônio Valença COMUNICAÇÃO SOCIAL: Carlos Acselrad PATRIMÔNIO: Reinaldo da Silva Ramalho SECRETÁRIO: Renato Rocha CONSELHO FISCAL: Sérgio Cabral, Norma Tapajós e Otto A. de Castro COORDENAÇÃO GRÁFICA: J.C. Mello FOTOGRAFIA: Clara Zúñiga COLABORADORES: Bárbara Távora, Fábio Prado Pimentel, Lívia Rosa, Paulo Garcia, Renata Mello, Luiza Amaral CONSULTOR JURÍDICO: Letácio Jansen CONTADOR: Manoel Mescouto IMPRESSÃO: Tipológica Comunicação Integrada Telefone (21) 509.3366 AS ONGs, que se multiplicaram pelo mundo a partir da década de 80, correm o risco de perder o N de sua sigla, e virarem chapa-branca. Leia o instigante artigo do filósofo Paulo Arantes, publicado no número de fevereiro da revista Inteligência. GRAVADO E MIXADO no Estúdio Sinfônico da Rádio MEC, pelo técnico Roberto (Betinho) Monteiro, o disco do grande sambista Délcio Carvalho já está em fase de remasterização. O CONCURSO de Contos Guimarães Rosa, organizado pela Rádio França Internacional, já está recebendo originais. Os interessados em participar deverão enviar um conto em língua portuguesa, inédito, datilografado em espaço dois, com máximo de 15 páginas, para a Radio France Internationale – Service Brésil – Concursos Guimarães Rosa/RFI. Endereço: 116, Av. du Président Kennedy 75116 Paris Cedex 16, France. As inscrições acabam em 31 de agosto, e o anúncio dos premiados (15 mil e 10 mil francos) será feito em dezembro. Dez anos nota 10! 5 6ª Assembléia Geral elege 5ª diretoria Pronunciamento de Edino Krieger Fábio Pimentel N o dia 25 de abril de 2000, de acordo com o edital publicado em O Dia, realizou-se, no Salão Nobre da Faculdade de Direito, na Praça da República, a 6ª Assembléia Geral Ordinária da SOARMEC – a primeira a não contar com a presença do saudoso padre Almeida, sócio fundador e um dos mais firmes e desinteressados amigos ouvintes da Rádio MEC. Cerca de 50 pessoas – 36, pelo livro de presenças–, compareceram ao encontro, que teve início às l7 horas, e foi presidido por Noemi Flores e secretariado por Renato Rocha. A mesa contou com a presença, também, do ex-funcionário da Rádio MEC e sempre locutor Décio Luiz, que ajudou na leitura do Pronunciamento do Conselho Fiscal à Assembléia e do Relatório de Atividades. Convém registrar que, em mais uma demonstração de transparência, foram distribuídas cópias desses dois documentos – aprovados por aclamação pelos presentes – e cópias da prestação de contas. Além disso, os próprios livros de atas do Conselho Fiscal e da Diretoria, ficaram à disposição dos sócios, o tempo todo, para serem consultados. A Assembléia também aprovou uma modificação no Estatuto da Sociedade, com a inclusão de uma alínea que torna mais claro o fato de a SOARMEC não remunerar, de forma alguma, seus Diretores, Membros do Conselho e Sócios, nem distribuir lucros, fato já conhecido por todos, mas que precisava estar mais explícito, para a obtenção do Título de Utilidade Pública. ELEIÇÃO DA NOVA DIRETORIA E leita por aclamação, a chapa-única “10 anos nota 10” conta com Maria Yedda Linhares, na Presidência, tendo, como Vice-Presidente, o próprio Edino Krieger, que depois de 4 anos de muita luta à frente da SOARMEC, passa a pasta àquela que foi sua Diretora na Rádio, em 63, quando ele também era o Assessor Musical. Mais dois nomes de peso fazem parte da nova Diretoria: um é o jornalista, pesquisador e escritor Suetônio Valença, que assume a Direção de Atividades Culturais, e já foi responsável por uma série de trabalhos ligados à história da Rádio. O outro novo Diretor é Carlos Acselrad, médico, escritor e músico, que assume a Comunicação Social. Suetônio e Carlos têm, como suplentes, as professoras e radialistas Marlene Blois e Erika Franziska. Além destes nomes, a nova Diretoria continua contando com três funcionários da Rádio MEC: o Diretor-Tesoureiro, Oscar (Cacá) Santiago, Coordenador de Programação da MEC AM, o Diretor de Patrimônio, Reinaldo Ramalho, funcionário do Acervo da Emissora, e, Em fotos de Clara Züñiga: 1. Mesa da Assembléia, com Edino Krieger, Renato Rocha (em pé) Maria Yedda Linhares, Noemi Flores. 2. Aspecto da platéia 3. Oscar Santiago, Ary Vasconcelos, Zito Baptista Fº e Hamilton Reis 4 e 5. Egeu Laus, Barbara Távora, Renato Rocha, José Carlos Mello, Roberto Lanari, Barbara Távora e Maria Yedda Linhares consultando o website da SOARMEC. finalmente, o Diretor-Secretário da Sociedade, Renato Rocha, um dos fundadores da Sociedade. Além da Diretoria, a Assembléia também reelegeu o Conselho Fiscal, que continua a contar com Norma Tapajós, Otto Alexandre de Castro e Sérgio Cabral – pai. Após a eleição, Edino Krieger proferiu um pequeno discurso exaltando em Maria Yedda Linhares as suas características de grande incentivadora da cultura, e convidou-a para tomar assento à mesa. A nova Diretora-Presidente tomou a palavra para falar de sua ligação com a Rádio e de seu carinho pelo período em que a dirigiu, apesar de todas as dificuldades, enfatizando a alegria de poder retornar à Emissora. Noemi Flores encerrou então o encontro, chamando atenção para o sorteio de CDs da série Repertório, que aconteceu em seguida. Depois desta Assembléia, com a nova Diretoria já eleita e empossada, fica a certeza de que a SOARMEC continuará em sua trajetória de apoiar a Rádio MEC em suas atividades culturais, crescendo diariamente, não só em seu nú- mero de associados, que já passam de 450, mas também em suas principais atividades: este informativo que está em suas mãos, a produção dos CDs, um livro sobre a Emissora, a recuperação do acervo fotográfico da Rádio, a manutenção do espaço físico da Emissora, e principalmente a mais nova atividade da SOARMEC, o site www.soarmec.com.br, que poderá ser a grande alavanca para todas estas outras realizações. "Em nome da Diretoria que hoje se despede, e parcialmente continua, eu quero dar as boas vindas à nova Diretoria, da qual eu também faço parte, e dizer da alegria de ter nessa Diretoria, na Presidência da Sociedade, uma pessoa iluminada, como Maria Yedda Linhares, que foi – eu tive a grande honra de trabalhar, e ser inclusive o assessor musical, na sua brilhantíssima gestão à frente da Rádio MEC – uma das melhores Diretoras que a Rádio MEC já teve, porque ela ergueu muito alto a bandeira do ideal de Roquette-Pinto, ela vestiu a camisa de Roquette-Pinto. E inclusive, já naquela época, ela foi uma força de resistência fantástica contra várias tentativas, que já estavam em curso, de diminuir a importância cultural da Rádio MEC, a importância educativa da Rádio MEC, e o seu papel dentro da Radiofonia Brasileira. Ela é uma pessoa que tem uma visão muito adequada, muito firme, do que é a Cultura do nosso país, e do que representa o Rádio, e sobretudo a Rádio MEC, como o único veículo, praticamente, de que dispõe este país, nos meios de comunicação, como instrumento a serviço da difusão da Cultura e da Educação. E, além disso, a Maria Yedda viveu um momento extremamente difícil – mas viveu com uma bravura enorme –, que foi o momento em que essa Rádio foi invadida pelas forças da chamada "Revolução", da "Ditadura Militar". Ela era a Diretora da Rádio MEC naquela ocasião e, realmente, o fato de ser ela a Diretora é que fez com que as pessoas tivessem um pouco mais de dificuldade, um pouco mais de trabalho para entrar na Rádio e dominar a Rádio. Enfim, a Maria Yedda Linhares é uma figura emblemática da Rádio MEC, da Cultura Brasileira, e nós vamos recebê-la aqui agora, com as nossas esperanças renovadas, para que a nossa Sociedade possa continuar a ter o seu papel, de defesa dos ideais verdadeiros da Rádio MEC, que são os ideais plantados por Roquette-Pinto.” Riu por último N a semana passada deu-se uma bela cena na Rádio MEC, no Rio. A professora Maria Yedda Linhares subiu ao 2º andar e sentou-se na sala da Sociedade dos Amigos Ouvintes da emissora, da qual tornou-se presidente. A historiadora dirigia a rádio em abril de 1964, quando ela foi invadida pelo professor Eremildo Luís Viana. Outorgando-se a condição de representante do golpe que derrubara o presidente João Goulart, ele expurgou a diretora e baniu inúmeros compositores russos. Nota publicada por ELIO GÁSPARI, no dia 30 de abril, cinco dias após a Assembléia, em sua coluna dominical (que sai no O Globo, na Folha de São Paulo; no Zero Hora, de Porto Alegre; e mais onze jornais brasileiros). Leia Relatório de Atividades na página 12 semcensura.com ou 6 ilógica e injusta transferência da Rádio MEC para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República foi o mais duro golpe até hoje perpretado contra os desígnios educativos e culturais da tradicional estação da Praça da República. Tal transferência, além de contrariar o famoso documento de doação da emissora ao Governo Federal, consuma justamente o que Roquette-Pinto tanto quis evitar quando, na também famosa correspondência com o Ministro Capanema, recusou a sugestão de que a Rádio fosse acolhida pelo Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (o antecessor do DIP), argumentando que o DPDC era de natureza política, e o que importava era a educação popular. Ora, excetuando a atividade de censura – que é inconstitucional –, as funções da Secretaria de Comunicação da Presidência da República são muito parecidas com as daqueles antigos órgãos. E a Rádio MEC foi transferida justamente para esse setor, criando um precedente único: em todo planeta, o nosso serviço de comunicação governamental é, com certeza, o único que tem uma emissora educativa à sua disposição (no caso, duas, pois a TVE está no mesmo barco que a Rádio). O recente episódio censório provocou, felizmente, uma resposta massiva da imprensa e da classe política, e provou, também, que a exigência de Roquette a Capanema estava corretíssima, pois é impossível combinar Educação com Propaganda. Nestas páginas, para que o leitor possa mensurar o acontecimento – que não provocou, ao que se saiba, nenhum desagravo ou retratação por parte dos envolvidos –, estamos transcrevendo alguns trechos do nosso clipping sobre o assunto, o qual é bastante incompleto (não consultamos as três grandes revistas nem o Globo e o Estadão, por exemplo), mas, mesmo assim, contém cerca de 40 notas. A censura à censura Planalto tira Stedile do ar Censura é um comportamento policial só encontrável nas ditaduras. Um governo pode ter medo de muitas coisas e, não obstante, ser um governo forte. Mas um governo que tem medo de idéias é um governo que se assume como fraco. O que Stedile poderia dizer na TV Cultura que ja não tenha dito por outros meios de comunicação?[...] O argumento utilizado pelo Secretário de Comunicação, Andrea Mattarazzo é de uma inconsistência que beira o ridículo. Disse ele que "indiciado" não pode ser entrevistado numa TV pública. Se a argumentação for levada ao pé da letra, o noticiário político acabará extinto por falta de "entrevistáveis". A (Mônica Bergamo, Folha de SP, 7 de maio) O ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Andrea Matarazzo, deu ordens para que a programação da TVE fosse modificada, na última sexta-feira, e impediu que uma entrevista com João Pedro Stedile, dirigente do MST, fosse ao ar em rede nacional. A orientação do ministro chegou à direção da TV estatal momentos antes de o programa “Opinião Brasil” ser exibido. O programa é produzido pela TV Cultura, de São Paulo, e retransmitido por meio da TVE, para Brasília e Rio de Janeiro.[...] Para obedecer ao ministro, a TVE se desligou da rede .[...] "Não podemos dar espaço para uma pessoa que, além de indiciada, usa termos inadequados para se referir aos outros", diz Matarazzo. Em sua opinião, "uma entrevista com o Stedile é inadequada para a programação da TVE". [...] Stedile foi indiciado pela PF, no ano passado, com base na Lei de Segurança Nacional, depois de defender manifestação de sem-terra em uma rodovia de São Paulo[...]Num telefonema, o presidente da TV Cultura, Jorge Cunha Lima, questionou o ministro sobre as ordens[...] (Mônica Bergamo, Folha de SP, 9 de maio) Num telefonema, Fernando Henrique Cardoso afirmou a Jorge Cunha Lima, da TV Cultura, que não teve nada a ver com a decisão de seu ministro. Cunha Lima pretende aprofundar a briga. Ele alega que, ao desligar a TVE da rede nacional, Matarazzo, além de censurar o programa, teria implodido um acordo feito entre as 20 emissora estatais do Brasil, de ter seis horas veda toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. (...) Na TVE, a ordem foi acatada como se acatam as ordens dos patrões. [...] Louve-se a TV Cultura, que transmitiu a entrevista vetada. O presidente da emissora, Jorge Cunha Lima, criticou a censura à TVE, dizendo que Matarazzo ignorou os princípios das TVs educativas, de "pluralismo e independência política". Censura exorbitante (Painel, Folha de SP, 10 de maio) Andrea Matarazzo passou dos limites mais de uma vez ao censurar a entrevista de Stedile na TVE. A emissora, ao contrário do que se diz, não é estatal, mas uma Organização Social administrada por contrato de gestão. Legalmente, cabe ao ministro fiscalizar o bom cumprimento do contrato, nunca interferir na programação. Gregori critica censura (Folha de SP,10 de maio) Charge de Laerte – Folha de São Paulo, 21/05/2000 de programação diária em comum. Nessas horas, governo algum interferiria na programação. Políticos como Tasso Jereissati e Antonio Carlos Magalhães não se opuseram. Veio o governo federal e acabou com a festa. Censura aberrante (Clóvis Rossi, Folha de SP, 9 de maio) Ditadura (Coluna da Danuza, JB 9 de maio) Petistas vão ao Supremo contra veto de ministro Ainda repercute em São Paulo a não exibição – na TVE do Rio – da entrevista que João Pedro Stédile deu ao programa Opinião, na última sexta-feira. Segundo funcionários da rede pública de televisão, não foi a primeira vez que o ministro Andrea Matarazzo pediu, digamos assim, que alguma matéria não fosse ao ar. Mas desta vez a TV Cultura descumpriu as ordens de Brasília. (Folha SP 10 de maio) TVE afirma ter tomado decisão Triste retorno da censura na TVE (Folha SP 9 de maio) O presidente da TV Educativa do Rio (sic), Mauro Garcia, 43, disse ontem à Folha que foi sua a decisão de não transmitir a entrevista [...] "Stedile não é uma figura democrática", disse Garcia, justificando a decisão. TV critica veto do governo A velha e a nova censura (Audálio Dantas , Diário Popular de SP, 9 de maio) (...) Um ministro de FHC, o da Secretaria de Comuncação, deixou por alguns instantes a sua tarefa de distribuidor das verbas de propaganda do governo para exercer pessoalmente as funções de censor. Matarazzo foi rápido, sem perder tempo em dar uma olhada na Constituição, que O ministro da Justiça, José Gregori, criticou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação (...) "O melhor teria sido, já que houve a programação, que ela fosse ao ar. Se houvesse excessos ou calúnias por parte de quem deu a entrevista, para isso existem os processos", afirmou o ministro. Diante da repercussão do caso, Matarazzo disse ontem à Folha que não teve a intenção de censurar a entrevista: "Eu não sou Alfredo Buzaid", comparou, citando o ministro da Justiça [...] que editou decreto estabelecendo a censura prévia. (JB, 9 de maio) O Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, responsável pela TV Cultura de São Paulo, qualificou ontem de "intervenção inoportuna e inconstitucional" o veto, pelo governo federal, de que a entrevista com o líder sem-terra João Pedro Stédile fosse ao ar.[...] Já o ministro da Educação, Paulo Renato, afirmou ontem, no Rio, ser contrário a toda e qualquer censura. O presidente do PT, José Dirceu (SP), e o deputado Milton Temer (PT-RJ) entraram no Supremo Tribunal Federal com uma notíciacrime contra o ministro Andrea Matarazzo, pela censura à transmissão de entrevista do lider sem terra na TVE. O objetivo é reunir provas de um suposto crime de responsabilidade, que, se demonstrado, envolve a perda do cargo. (Maria Helena Dutra, O Dia, 15 de maio) Só teve efeitos danosos a censura imposta ao programa Opinião Brasil, transmitido pela TV Cultura e TV-E. [...] A emissora paulista, dirigida por Jorge Cunha Lima, que trabalhou com os principais tucanos agora no Governo, se recusou a aceitar o veto. Mas a emissora carioca, sempre comandada por gente do terceiro escalão, baixou a cabeça e, sem protestar, obedeceu à proibição. Algumas lições do episódio. Um governo de ex-exilados e que se diz democrata, quando acha necessário apela para a censura. Exatamente como faziam os governos militares. Desde o fim desse regime a TVE lutava para ter credibilidade. Tanto que um de seus diretores criou um programa chamado Sem Censura. Pura balela. Igual a que afirma ser a TVE atualmente uma emissora pública independente do Governo Federal. No primeiro tranco, provou que continua tão dependente quanto antes. comcensura.sem? Os guardas de esquina Audálio Dantas, Diário Popular de SP (11 de maio) Em dezembro de 1968, quando os golpistas de 64 decidiram baixar o Ato Institucional nº 5, que daria forma definitiva à ditadura militar, o então vice-presidente Pedro Aleixo teve a coragem de discordar. [...] Aleixo chamou a atenção para o fato de que, colocado em vigor, o AI -5 liquidaria o que restava de liberdade no País. [...] Gama e Silva, ministro da Justiça, também concordava que a dose de arbítrio do Ato era excessiva, mas como sua aplicação ficaria por conta do general presidente, homem cordato e ponderado, não seria tão perigoso assim. Sábio, Pedro Aleixo contestou, citando Milton Campos: “O importante não é a letra da lei, mas a interpretação que lhe dá o guarda da esquina". [...] O pior é que além dos guardas há os subguardas da esquina. Nessa categoria se enquadra o presidente da TV Educativa do Rio de Janeiro, Mauro Garcia. Mesmo depois de Matarazzo ter assumido que dera ordens [...], Garcia saiu jurando que a decisão tinha sido sua. E por quê? Ora, porque o entrevistado "não é uma figura democrática". Quanto ao ministro, Garcia afirma que ele não interfere na TVE, apenas tem o hábito de "discutir a pauta jornalística conosco". Pode-se concluir daí que, mesmo não sendo jornalista, Andrea Matarazzo dá seus gentis palpites na pauta noticiosa e opinativa da emissora." [...] De qualquer modo não é normal que um ministro interfira na pauta da programação jornalística de uma emissora pública. Mas além de concordar com isso, o presidente da TVE acha que não houve censura no caso da entrevista de Stédile. A censura, diz ele, é abominável; o problema é que o entrevistado em questão “não representa a discussão democrática”. É ou não é uma interpretação digna de um guarda de esquina? Isto não é um cassetete (Marcelo Coelho, Folha de SP,12 de maio) "Não sou Alfredo Buzaid", disse o ministro Andrea Matarazzo [...] De fato, o sr. Andrea Matarazzo não e Alfredo Buzaid. Um é um, o outro é outro. Entre o nome de Andrea e o nome de Alfredo, há, de fato, algumas letras em comum. Mas seria impossível confundi-las por erro de digitação. Erro de digitação, entretanto, foi a justificativa para consertar a ativude governamental de querer indiciar militantes do MST na velha Lei de Segurança Nacional. "Não, não queríamos usar a LSN...foi um erro...de digitação." Ameaçara-se usar o Exército contra os protestos dos sem-terra. Bem, não foi nada disso. Ninguém aqui está disposto a tanto. Quem vocês pensam que nós somos? Gostaria de reformular a pergunta. Quem eles pensam que são? Andrea Matarazzo pode muito bem não ser Alfredo Buzaid, mas no caso da censura à TVE isso não faz nenhuma diferença. Pois o que houve foi censura. [...] Isto não é um cassetete. É um instrumento de democratização. Isto não é censura, pois a censura era um atributo indissociável da pessoa do sr. Alfredo Buzaid. Estava escrito na certidão de nascimento de Alfredo Buzaid que ele era um autoritário, um censor. Vejam a minha certidão de nascimento. Meu nome é Andrea Charge de Redi e Ivan Lessa para o Pasquim, 1976 Matarazzo. Não está escrito que eu sou a favor da censura. Logo, não estou censurando. o ministro chefe da Secretaria de Comunicação, Esse auto-engano, essa má-fé, essa certeza de vetou a presença de João Pedro Stédile num ser democrata, a favor do povo, moderno, programa transmitido pela Rede Pública de esclarecido, faz do tucanato uma instituição quase Televisão, uma parceria entre a TVE e TV que completamente imune a críticas. Qualquer Cultura que inclui a grande maioria das emissoras crítica ao arrocho salarial ou ao evidente educativas e culturais do país. direitismo do governo só pode ser, para a Se o governo acusa o MST de ameaçar a dementalidade peessedebista, prova de más mocracia, não pode usar um recurso antidemointenções, tentativa de agitação política e crático para calar seu líder. Não importa o descaso conspiração contra a democracia. Pois, como do MST com o Estado de Direito. Importam os alguém pode duvidar, enquanto eu prende e nossos compromissos de defendê-lo contra todos arrebento, enquanto eu favoreço este banqueiro e os perigos. E se a decisão não partiu do governo, aquele coronel, que eu sou democrata, civilizado mas de um de seus membros, individualmente, e progressista? [...] É que quando a identidade caberia uma satisfação cabal à opinião pública. vacila, quando dentro do tucanato ninguém mais O pior dessa história é que o episódio ocorre sabe quem é nem se censura é censura e repressão justamente no momento em que começa a consoé repressão, bobagens desse tipo tendem a surgir. lidar-se o projeto de uma rede pública de TV. [...] Uma rede desse tipo deve ser norteada para atender apenas ao interesse da sociedade. Os filhos da Inquisição [...] O governador Mario Covas, com aquele (Alberto Dines, JB, 13 de maio) seu gozado senso comum, colocou a questão nos A Inquisição não foi apenas uma farsa seus devidos termos: – “Tem coisas que eu pago e não mando”. jurídica, quermesse sangrenta, que a patuléia adorava. O encarniçado combate à heresia foi, na Esse é o modelo que impera na BBC e contra o verdade, uma forma de aniquilar aqueles que qual insurgiu-se Mme. Tatcher. [...] Mandonismo desbragado, esse foi o escolhiam sua própria crença. Ou opinião. [...] legado que a Inquisição nos deixou. Os Autos da Inquisição é também sinônimo de censura. (...) Hoje comemoramos os 192 anos da au- Fé realizaram-se em Lisboa mas os linchamentos torização para o funcionamento da primeira tipo- estão sendo reinventados aqui. Um generalizado grafia no Brasil. Comparados com o México, está- “cala a boca” com toda a aparência de vamos atrasados 263 anos, mas, para evitar des- orquestração pretende substituir o debate político vios, 42 dias depois promulgavam-se as normas desqualificando como heresia qualquer tentativa para vigiar “que nada seja impresso contra a de controvérsia. [...] Não tivemos inquisidores mas proliferam os religião, o governo e os costumes”. Censura pura. Na semana passada, desatento às efemérides, comissários do Santo Ofício. Pequenos Torque- 7 madas que em nome da justiça e da verdade pisoteiam os direitos e enxovalham a tolerância. Baderna autoritária (Alcino Leite Neto, Folha S.P., 14 de maio) O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação de Governo, Andrea Matarazzo, leva ares de homem civilizado e democrata, mas de fato ele não é. Foi truculenta sua atitude de censurar uma rede pública, ou de incitá-la à auto-censura, o que dá no mesmo. [...] Para ficar num aspecto elementar da questão, é útil lembrar que Tvs educativas ou públicas não são propriedade do governo, mas da população, que as sustenta com os impostos. Elas devem, por isso, expressar o conjunto dos debates do país, e não apenas aqueles que Brasília deseja. Foi de uma subserviência desonrosa, por seu lado, a reação do presidente da TV Educativa do Rio, Mauro Garcia, ao acatar, arremedar e justificar a decisão de suspender o programa: 'A censura é abominável, uma figura que não pode ser reeditada. Não há qualquer possibilidade de se pregar isso. O que houve é que Stedile não é censura, porque ele não representa a discussão democrática'. É preciso desmontar a novilíngua do presidente Garcia e esclarecer que é da essência da democracia debater inclusive as questões que lhe são antagônicas. Censura (Glaci Zancan, presidente da SPBC – JB, 15 de maio) A diretoria da SBPC, comprometida com o aprimoramento da democracia no pais, manifesta sua preocupação com a atitude do ministro da Secretaria de Comunicação, Andrea Matarazzo, limitando a livre manisfestação de idéias na rede pública de televisão [...] Ao mesmo tempo, solidariza-se com a direção da TV Cultura pela atitude firme de não se submeter a pressões que limitam sua autonomia. A TV pública no Brasil (Jorge Cunha Lima Folha de SP, 21 de junho) A democracia é uma donzela frágil que requer cuidados permanentes. Sobretudo no Brasil, onde a censura se insinua em cada ocasião, sob os pretextos mais diversos. [...] A TV estatal é o adereço mais vistoso da corte republicana. Tem a estrutura da burocracia persa. Confunde jornalismo com propaganda de governo. Não tem independência administrativa, nem intelectual, muito menos política. Nota da redação: Da mesma forma que a ABI tentou, sem resultado, obter uma declaração do diretor de jornalismo da ACERP, Cláudio Bojunga, a respeito do incidente; O Amigo Ouvinte, tentou por várias vezes marcar entrevista com o sr. Mauro Garcia, sem resultado. Aproveitamos esta nota para reiterar o convite. Todo homem tem o direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui as liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras. Declaração Universal dos Direitos Humanos – artigo XIX Um piano a 8 Renato Rocha A s mãos foram as dezesseis mãos de oito dos maiores pianistas brasileiros, Antonio Adolfo, Clara Sverner, Maria Josephina Mignone, Maria Tereza Madeira, Osmar Milito, Ruth Serrão e Sérgio Ricardo, que se apresentaram assim, em ordem alfabética só quebrada pela decana dos artistas do piano, Carolina Cardoso de Menezes, que fechou a noite com fecho-de-ouro – tocando um apoteótico Tico-tico no fubá, após ser bisada 4 vezes –, como se fosse a mais nova de todos, ali. As mil duzentas e trinta e duas mãos que aplaudiram entusiasticamente o inédito e memorável rádioconcerto realizado naquela noite de nove de junho batiam palmas também para o trabalho de muitas outras mãos que ajudaram a carregar o piano e a produzir aquele espetáculo, naquela sala, que, falando nisso, foi gentilmente cedida pelas mãos de Bete Mendes (FUNARJ) e de Ronaldo Miranda, diretor da Sala. E isso sem falar das mãos de Luis Carlos Saroldi, que apresentou o concerto, e das catorze de nossa equipe de colaboradores – Clara Zuniga, Fábio Pimentel, Livia Rosa, Luiza Amaral, Manoel Mescouto, Paulo Garcia e Renata Melo. E muitas “mãozinhas”, também foram dadas. Uma, a inicial, pelo ministro da Cultura, Francisco Werffort, que recomendou o projeto; outra, pelo Conselho Estadual de Cultura, que defendeu a liberação. Uma grande mãozinha foi dada pelo próprio maestro Edino Krieger, cujas impressões digitais estão espalhadas por todo o processo, quando, na qualidade de Presidente da Academia Brasileirade Música, providenciou para que a ABM patrocinasse o transporte do piano, de Viena para o Rio de Janeiro. Os senadores Paulo Alberto Monteiro de Barros (Artur da Távola) e Saturnino Braga deram uma mão, assim como os deputados De cima para baixo, Luis Carlos Saroldi dando início ao concerto; apresentando Antonio Adolfo; e Maria Josephina Mignone. muitas mãos federais Miro Teixeira e Fernando Gabeira, e o deputado estadual Carlos Minc, que procuraram furar o bloqueio cartorial que impedia a liberação do instrumento. Mesmo a ACERP (a Associação que administra a Rádio MEC), que até então lavara as mãos, deu uma “maõzinha” para assinar o termo de recebimento do piano, em nome da Rádio, e outra para trazê-lo de São Cristóvão até – finalmente! – o estúdio sinfônico da Emissora. Mas a “mãozinha” providencial foi mesmo a EMBRATEL que deu, pelas mãos dos eficientes executivos do seu departamento de promoções e marketing, Marcia Maia, Wallace Greco e Eduardo Levy. Em tempo recorde, eles concederam e liberaram o patrocínio. Que aquela era uma noite propícia, todos os participantes perceberam, desde o início.A cada execução, o peso simbólico do evento aumentava. Ajudando a colocar o seu instrumento de trabalho e expressão no maior estúdio de gravação da cidade, ali estavam, reunidos, oito dos maiores pianistas brasileiros, com seus 80 dedos que se multiplicaram musicalmente, por duas horas, pelas oitenta e tantas notas do Steinway da Sala (queríamos fazer o concerto no Bösendorfer que a Cecília Meirelles também possui, mas o instrumento estava sem uma de suas cordas). No final, depois de todas as palmas, depois que todas as mãos se apertaram e se acenaram, ficou no ar aquele caloroso sentimento de comunhão artística, que nos dá a certeza de haver participado de um evento perfeito. fotos Clara Züñiga 9 A Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC agradece o patrocício da EMBRATEL que transformou um evento concebido para angariar fundos, em uma celebração, uma epifania pianística, cujo cenário foi o auditório lotado da Sala Cecília Meirelles. Osmar Milito, Sergio Ricardo e Ruth Serrão levaram cadeiras para assistir e aplaudir de perto a performance de Carolina Fecho-de-Ouro Cardoso de Menezes. Maria Josephina Mignone Clara Sverner entrando em cena Antonio Adolfo e Sérgio Ricardo durante suas apresentações; e, confraternizando-se na saída, Rosa e Carlos Costa Ribeiro, Maria Yedda Linhares. Maria Teresa Madeira e Nenem Krieger. 10 UMA NOTA PRETA Após 24 meses de realizações, que, por acaso temporal e obrigação da SOARMEC, vão relatadas em detalhe neste número (pág. 12), e para as quais os Amigos Ouvintes não receberam manifestação alguma de incentivo ou ajuda, por parte da ACERP; e após a quitação da dívida de armazenamento do piano e a realização de um concerto radiofônico (págs. centrais) – que para o público em geral só engrandeceu o nome da Rádio MEC –, recebemos, em vez de palavras de gratidão, estas, publicadas no JB, na manhã seguinte ao transcendental evento. A nota custa uma nota (Sexta-feira, 16 de junho) Ao constatar que, pelo terceiro dia consecutivo, a seção “Cartas” do JB não conseguia dar vazão à demanda dos leitores – no que já representa o maior fenômeno de clamor popular em nossa imprensa –, os Amigos Ouvintes pensaram em publicar o texto-resposta em outro espaço do jornal, e, para tanto, foram feitos contatos requisitando box de igual tamanho (14,6 cm X 15 cm), em página indeterminada, sob a mesma rubrica de “Expressão de opinião ”, e ficamos estupefactos ao receber o estupe-Fax assinado pela atendente Mariana, informando, com todos os algarismos e letras, que o preço, para dia útil, de acordo com a tabela de Junho de 2000, é de R$ 26.145,00 (vinte e seis mil, cento e quarenta e cinco reais). Tal quantia, impensável para o caminhãozinho da SOARMEC, faz lembrar aquele tipo de indagação que o colunista Arthur Xexéo transformou em um de seus refrões: Deixa ver se entendemos: quer dizer que o preço pago pela matéria paga (26 mil e quebrados) é duas vezes o que está inscrito no cheque dado pela SOARMEC (11 mil e pouco) para liberar o piano do Depósito Alfandegário? Outras indagações Tornando difícil o que não é fácil (segunda-feira, dia 12 de junho) Os Amigos Ouvintes já intuiam que, juridicamente falando, a nota acima, sem assinatura, não possuía validade maior. Mesmo assim, na segunda-feira (nosso advogado presta colaboração voluntária e só um fato de extrema gravidade levaria a diretoria a incomodá-lo durante o fim de semana), consultamos, por via das dúvidas, nosso Consultor Jurídico. Depois, graças a Graham Bell, quatro dos cinco diretores remanescentes, decidiram: 1) não incomodar nosso diretortesoureiro Oscar Santiago, e, sim, desejar-lhe muitas felicidades em seu casamento – nosso diretor casou-se justamente no dia em que a nota foi publicada (belo presente!), e está em lua-demel até julho; 2) não incomodar, por sua vez, Edino Krieger, nosso diretor vice-presidente, que, desde 7 de junho, está na Alemanha, dando palestras e participando de audições de peças de sua autoria, devendo voltar só no final do mês, para a reestréia de sua Terra Brasilis, no Teatro Municipal, dia 30 de junho (não percam!); 3) afixar no jornal mural externo da SOARMEC (no 2º andar da Rádio) e no tamanho em que foi publicada, a nota atribuída à ACERP, e, junto dela, um “Esclarecimento ao Público Interno da Rádio MEC” (veja abaixo); e, 4) publicar resposta (veja a última coluna), destinada ao mesmo público-leitor do JB. No entanto, tal resposta chegou à seção de cartas do JB só na de 3ª feira, justo o fatídico dia 13 do incidente com dois mortos, no ônibus 174. ESCLARECIMENTO AO PÚBLICO INTERNO DA RÁDIO MEC A nota acima, dever-se-ia intitular, mais apropriadamente, “esclarecimento ao público leitor do JB”, posto que, ao que saibamos, só apareceu neste jornal, justamente o jornal que mais publicou notas, notícias, críticas e apreciações a respeito das realizações da SOARMEC, em prol da Rádio MEC. E foi também o diário que mais cobriu o imbroglio do piano, tendo inclusive dedicado um editorial incisivo, a favor de nossa Sociedade.Tais notícias, que estão devidamente organizadas em nosso clipping, são suficientes para exorcizar, em qualquer instância, as injúrias latentes dessa declaração apócrifa. Assinado: Diretor Secretário • A matéria paga foi paga? Neste caso, entrou na contabilidade do JB, e só pode ter sido paga pela própria ACERP, pois sua Gerência de Rádio não tem autonomia para liberar tal montante. O que significa, então, que é a própria ACERP que, mesmo sem assinatura de seu Diretor-presidente, está se pronunciando. Ou não foi paga? • A nota de esclarecimento passou pelo Conselho de Administração da ACERP, a instância democrática da Associação? Foi discutida e aprovada pelos ilustres conselheiros Alexandre Machado, Alex Periscinoto, Antônio de Pádua Jr., Artur da Távola, Aspásia Camargo, Dulce Maria Pereira, José Gregori, Marcio Fortes, Roberto Muylaert, Roziska Darci de Oliveira, Rui Martins Altenfelder, e outros, incluindo o representante do Ministério da Cultura e o próprio conselheiro eleito pela Rádio e TVE? Se assim é, se tão expressiva representatividade achou por bem emitir a nota censória – pois ela nada mais pretende que censurar as atividades culturais de nossa Sociedade e, com isso, sua própria existência –, então a coisa tem, realmente, importância, transcende as fulanizações e deixa de ser uma questão de ordem, para tornar-se uma questão de justiça. A ela, caberá decidir se a SOARMEC, que apenas tem razão, poderá exercer suas intenções estatutárias, sem enfrentar resistências obscurantistas. AMIGOS OUVINTES RESPONDEM F ace à publicação (JB 10/6/2000, p.19) de uma Nota assinada pela Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto, mantenedora da Rádio MEC, mediante a qual a Sociedade dos Amigos Ouvintes da Rádio MEC (SOARMEC) estaria sendo desautorizada a firmar, responder, contratar, negociar e promover qualquer ato que seja em nome da Rádio MEC, além de outras supostas interdições que teriam o pretenso fim de preservar a idoneidade dessa emissora, vimos expressar de público a nossa repulsa à forma abusiva e desleal dessa manifestação de desagrado, vasada em termos que traduzem o estado de exacerbação emocional do redator do referido texto. Desejamos lembrar aos interessados que tal manifestação de desagrado deu-se exatamente nas 72 horas que se seguiram à entrega de um piano Bösendorfer, de 130 mil reais, à Rádio MEC, adquirido com recursos do Ministério da Cultura, em Viena, e que percorreu um longo e sinuoso caminho, já amplamente divulgado na imprensa, até sua liberação final e instalação no estúdio sinfônico da Praça da República, 141-A. Á tal entrega sucedeu-se um concerto, realizado na Sala Cecília Meirelles, por pianistas de renome, com significativa presença de público e extraordinário brilho artístico. Ora, se a Rádio MEC e sua mantenedora nada fizeram ao longo desses últimos dois anos no sentido de idealizar e realizar a aquisição do piano, seu transporte, sua liberação da Receita Federal e sua armazenagem e seguro, não terá sido por impedimento da SOARMEC, mas por inércia, na melhor das hipóteses, das entidades que deveriam ter tomado a iniciativa de fato tão auspicioso para um órgão de tradição cultural como a Rádio de Roquette-Pinto. O mesmo podemos afirmar com respeito à realização do belo concerto de 9 de junho, concerto esse, no entanto, renegado pela entidade, conforme a Nota em apreço confirma. Acreditando ser de essencial importância zelar pela formação dos cidadãos de nossa terra, dirigimo-nos aos admiradores da Rádio MEC, assim como às autoridades públicas, e o fazemos como profissionais de reconhecida competência, com ampla passagem pela vida cultural deste País, solicitando que nosso protesto em defesa da dignidade do exercício da função pública seja por este jornal publicado e sensibilize os que ainda podem preservar a qualidade e a herança cultural da Rádio mais antiga do país. Rio de Janeiro, 13 de junho de 2000 Maria Yedda Leite Linhares, diretorapresidente da SOARMEC, professora emérita da UFRJ, ex-secretária de Educação do RJ, ex-diretora da Rádio MEC. Edino Krieger, diretor-vice-presidente da SOARMEC, compositor, ex-diretor da FUNARTE, presidente da Academia Brasileira de Música, membro do Conselho Estadual de Cultura, ex-funcionário de Rádio MEC. Suetônio Valença, diretor de atividades culturais da SOARMEC, escritor premiado, pesquisador, produtor cultural, um dos responsáveis pela recuperação do Paço Imperial e pelo resgate do antigo museu da Rádio MEC. Carlos Acselrad, diretor de comunicação da SOARMEC, músico, escritor e médico. Renato Rocha, dir.-secretário da SOARMEC, editor-responsável pelo jornar O Amigo Ouvinte, compositor e funcionário da Rádio MEC. A Rádio do meu Tempo depoimento por escrito de Giuseppe Ghiarone Maria Muniz, CDA, Ghiaroni, Jayme Marchevsky, Nestor de Hollanda e Alfredo S. de Almeida, durante almoço na década de 60. “Devo começar dizendo que tenho menos vocação para memorialista do que para desmemoriado. Mesmo assim, posso acrescentar que minha lembrança é de saudade e respeito para com os anos que trabalhei na Rádio MEC, presidida pelo espírito venerável do grande Roquette-Pinto. Prefiro não citar nomes para não pecar por omissões injustas. As quais seriam realmente muito injustas, já que lá só encontrei pessoas amáveis e amigas, todas sinceramente dedicadas à sua casa de trabalho que, comprometida com o bom-gosto, era austera, sem que a austeridade a impedisse de ser alegre também. Minha participação começou já nos longínquos anos 60, em plena vigência do regime militarautoritário pelo qual não tinha eu a mais vaga simpatia e ao qual muito menos poderia ser persona-grata. Não obstante, não sofri qualquer restrição, impedimento ou discriminação. Ao contrário, tive a mais ampla liberdade para realizar programas como Diálogo com a Bíblia, O Lado Claro da Vida, A História da Música e tantos outros em que podia manifestar o meu pensamento e minhas opiniões, sem sofrer qualquer tipo de censura. Uma das muitas lições que então e lá aprendi foi a de ser chefiado por mulheres. Talvez você, um tanto maldosamente, diga que eu já tinha algum treino para isso, pelo fato de ser um homem casado. Mas não! Foi uma experiência rigorosamente profissional. Todas as senhoras que me chefiaram foram pessoas altamente competentes, muitas voltadas para os pressupostos da dignidade da casa a que serviam, com uma impecável eficiência que, por sua vez, dava lugar a um clima de boa convivência e saudável camaradagem. Daí a impressão que me ficou de que as mulheres, tendo conquistado o seu espaço de trabalho e liberdade, depois de séculos de repressão, têm uma bandeira. Elas têm que provar que podem fazer tão bem quanto os seus atuais colegas e antigos repressores. Isto, segundo o que aprendi na Rádio MEC, está mais do que provado. Digo-lhe mais. Se eu fosse cidadão norte-americano votaria mais gostosamente na Hillary do Clinton do que no Clinton da Hillary. Mas, pelo amor de Deus, não pensem que estou de olho na Dona Ruth! Dias difíceis na Rádio foram os do governo Janio Quadros. Na sua obsessão pelo uso da autoridade, sem saber muito bem com que utilidade, ele impôs severissimamente que todos cumpríssemos nossos horários. Foi o que fizemos, não dispondo de espaço, mesas ou máquinas para trabalhar. Resultado: ficávamos horas esbarrando uns nos outros, conversando, pedindo desculplas e aguardando a hora de marcar o ponto e irmos para casa fazer o trabalho da Rádio que, na Rádio, não tínhamos meio instrumental ou físico para fazer. Mas claro que, bem cedo, o bom senso prevaleceu como sempre prevalece na nossa querida Rádio MEC que aí está defendendo o bom-gosto e a cultura, nesta época em que a guerra do Ibope eletronicamente apurado propaga uma febre de baixaria nos grandes meios de comunicação. A verdade é que tudo passa como todos nós passamos, mas com o espírito de Roquette-Pinto, a Rádio MEC continua pela elevação cultural da nossa gente e pelo progresso do Brasil.” COLEÇÃO “O AMIGO OUVINTE” Contendo, entre outros textos e reportagens, 28 depoimentos como o de Giuseppe Ghiarone. O novo formato de nosso jornal, que exigiu um novo tratamento gráfico, realizado por Egeu Laus, foi provocado por um motivo de força maior: as fábricas, para economizar papel, reduziram o tamanho das bobinas e alteraram o formato tablóide. Por isso, o O Amigo Ouvinte, o único jornal de assuntos radiofônicos do país, que já era pequeno porém decente, ficou ainda menor. Ficou com este tamanho. Acontecimentos como esse, fecham um ciclo editorial e motivam as coleções que pretendemos produzir, encadernando os primeiros 28 número do jornal, em sua primeira fase – assim denominada, entendase, não por que vá haver alguma mudança substancial em sua pauta, mas, puramente, em função do novo formato. Por capricho da sorte, a coleção completa baliza também um ciclo na existência da Sociedade, pois o 28º exemplar coincide com o encerramento do 4º biênio administrativo. Dos 28 números editados até agora, infelizmente, possuímos pouquíssimas duplicatas dos exemplares mais antigos. Com elas, poderemos produzir entre 10 e 20 coleções e completar as que foram doadas a Bibliotecas, como as do acervo da Rádio e a da Biblioteca Nacional. Os leitores que quiserem completar suas coleções, ou que quiserem se desfazer de números atrazados ou, ainda, quiserem adquirir as 204 páginas que constituem os poucos volumes encadernados que vamos colocar à venda, devem entrar em contato com a SOARMEC e registrar suas encomendas. 12 Relatório de Atividades da Lido e aprovado pela 6ª Assembléia Geral Ordinária, em 25 de abril de 2000 M uito do que será enumerado neste relatório deve-se ao fato de que a diretoria que se despede, com a certeza de ter cumprido sua missão, conseguiu manter as mesmas diretrizes das gestões anteriores, fato que possibilitou uma continuidade administrativa que está completando 8 anos. Tal continuidade é coisa rara, hoje em dia – basta dizer que, neste mesmo período de tempo, a SOARMEC conviveu, na Rádio, com 4 diretores e dois gerentes; e na FRP, com 5 presidentes e várias medidas administrativas de amplo alcance, como a ida da Emissora para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a extinção da Fundação Roquette-Pinto e o advento das Organizações Sociais, das quais a primeira é a ACERP, Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto. No caso da nossa SOARMEC, tal continuidade de propósitos foi mantida graças à coerência e clareza de nossos objetivos estatutários, quase todos calcados nas idéias do profeta da mídia eletrônica, Edgard Roquette-Pinto. Por ser matriz e condição para todas as outras realizações, a citada continuidade administrativa é, sem dúvida, o mais importante de todos os nossos feitos. • Nesta gestão, em que a contribuição estatutária permaneceu fixada em R$ 6,00 (seis reais), nosso quadro social, cresceu de 268 para 428 sócios cadastrados. Para termos ideia do que este total significa, basta lembrar que a mais bem sucedida de todas as Sociedades de Amigos, a do Jardim Botânico – com 18 anos de existência – possui cerca de 3000 nomes em seu quadro social. • Além de colher o que foi plantado pelas administrações passadas, esta gestão também conseguiu ampliar suas atividades, como prova o nosso recém-inaugurado endereço na Internet, que, por si só, já poderia servir como relatório de atividades. Nesta gestão encadernamos 15 coleções do jornal, que foram vendidas ou doadas a personalidades e instituições culturais. A última delas, englobando 27 números, e totalizando 192 páginas, foi doada à Biblioteca Nacional. Agora, com as 12 páginas do 28º número, a coleção ultrapassou as 200 páginas. Como os leitores que têm nos acompanhado sabem, O AMIGO OUVINTE, após o falecimento de Jorge Luis de Souza e Silva, seu fundador e editor-responsável pelos dois primeiros números, passou a ser editado sob a responsabilidade de Renato Rocha, e tem se mantido fiel aos propósitos que o criaram. Nos últimos dois anos, porém, o informativo ganhou uma função que não fora pensada inicialmente e que valoriza ainda mais a publicação – a função de documentar as peripécias administrativas pelas quais a Rádio MEC vem passando, desde a transferência da Emissora do Ministério da Educação para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. Assim, acompanhar jornalisticamente o devir da Rádio MEC passou a ser um dos principais méritos do nosso informativo. E este é um compromisso que a próxima diretoria deve continuar a manter, pois o que está em causa é o patrimônio cultural e a sobrevivência do rádio educativo brasileiro. • Outro tipo de relatório é a história administrativa da SOARMEC, nestes dois anos, que – sem falar nos documentos contábeis — soma 172 documentos de correspondência, assim classificados: 110 cartas recebidas, e 62 enviadas, com média de 3,6 cartas por semana. • Detentora do Título de Utilidade Pública Municipal, desde 1996 (Lei 2464), a SOARMEC foi distinguida, em setembro de 1998, com o tão almejado Título de Utilidade Pública Estadual (Lei 3048). Queremos deixar registrado, aqui, o agradecimento da Sociedade ao deputado Carlos Minc, e a sua equipe de colaboradores, pela obtenção do referido título. • Outra espécie de relatório é o nosso clipping, com mais de 60 notícias veiculadas na grande imprensa, a respeito da atuação permanente da Sociedade, sempre em plano de apoio, e sempre destacando o nome e a missão da Emissora. Esta colagem de notícias é uma prova da visibilidade que as realizações da Sociedade alcançaram, neste último biênio, e também está à disposição dos presentes para ser consultada. • Com relação ao Título de Utilidade Federal, a SOARMEC já fez o primeiro movimento, mas Brasília apresentou uma exigência que nos obriga a acrescentar um parágrafo ao nosso Estatuto. Tal modificação será submetida à Assembleia, daqui a pouco. • Outra espécie de relatório é o nosso informativo oficial, O Amigo Ouvinte, que entrou em seu 8º ano editorial, e está em seu 28º número, oito deles editados durante esta gestão. Gratuito, com tiragem atual de 5.000 exemplares e com 1.080 leitores cadastrados, sendo distribuído também em escolas, livrarias e outros pontos culturais, este jornal é o único dedicado a assuntos radiofônicos, em todo o pais. Quem colecionou desde o 1º número, possui, sem dúvida, um raro documento da história – antiga e recente – da Rádio MEC e, por extensão, do rádio brasileiro. • Nesta gestão continuamos a contar com um quadro de colaboradores informais: Renata Mello, secretária; Murillo Saroldi, produtor-executivo, Paulo Garcia, coordenador de vendas; Clara Zuniga, fotógrafa; Lívia Rosa, divulgação e projetos; e, mais recentemente, Luiza Amaral. Fabio Pimentel, nosso superintendente, já está com sua situação trabalhista regularizada. A esta gente jovem, que ainda pode suportar parcos honorários em troca de muita dedicação, a Sociedade registra, aqui, seu agradecimento por tudo que produziram e ajudaram a produzir. • Outro colaborador regular, que merece esta referência à parte, é o artista gráfico e programador visual José Carlos Mello, responsável principal pelo acabamento de nossos CDs, cartazes, convites e jornais. • A SOARMEC tem contado, desde a gestão passada, com o apoio jurídico de um consultor. Primeiro na pessoa de Mario Lacerda, advogado que, por mais de três anos, prestou-nos inestimável colaboração. Melômano e fã incondicional da Rádio MEC, Mario precisou, por razões profissionais, ausentar-se da cidade e do seu cargo na SOARMEC. A ele devemos muito, e deixamos registrado, aqui, nosso agradecimento, no mínimo pela partipação nas várias reuniões com o setor jurídico da ACERP. A ele também devemos o aperfeiçoamento de nosso Estatuto, através de pequenas mas necessárias mudanças que foram aprovadas em Assembléia Extraordinária anterior. Felizmente encontramos, pelo mesmo salário, ou seja, colaboração gratuita, um substituto à altura, na pessoa do ex-procurador do Estado, Letácio Jansen, que nos vem assessorando desde agosto de 1999. • Nesta gestão, a SOARMEC deu continuidade ao projeto de transformar em discos o acervo musical da emissora, concluindo a prensagem dos cinco CDs que compõem a segunda caixa-rádio, os quais já estavam remasterizados e arte-finalizados, e dependiam apenas de recursos para a fabricação. Além desses discos, a SOARMEC com apoio da prefeitura do Rio de Janeiro, produziu mais uma caixa, a terceira, com 5 CDs: Guerra-Peixe, Vieira Brandão, Ernesto Nazareth e dois de Lorenzo Fernandez, o que totaliza, 15 CDs. • No que diz respeito à divulgação e distribuição dos CDs já fabricados, precisamos referir que: 1) A SOARMEC participou, em São Paulo, da Terceira EXPO-CD e concorreu ao prêmio Sharp, de 1999. 2) nossos discos foram resenhados por quase todos os principais críticos do país, e estão sendo distribuídos nos centros culturais e nas principais livrarias da cidade e, fora do Estado, em livrarias das cidades de São Paulo, Campinas, Recife e Belo Horizonte. Fora do país, os discos podem ser encontrados em Paris, e, desde dezembro passado, em todas as lojas clientes da Empire Music, uma das três maiores distribuidoras de discos dos EUA. E já começamos, também, a tentar o mercado japonês. • Ainda na área dos CDS, a SOARMEC concluiu, nesta gestão, uma etapa do projeto IBI – Instrumental Brasileiro Inédito, com a produção e o show de lançamento do CD do Trio Botelho-Freitas-Fagerlande. Dando continuidade ao projeto, elaborado em 1997, que tem o objetivo de realimentar o Acervo da Emissora com gravações regulares da nossa música instrumental, erudita ou popular, a SOARMEC gravou, no Estudio Sinfônio da Rádio, 25 composições e solos do violonista Gibran Helayel. Este deverá ser o 2º disco da série, estando já remasterizado, arte-finalizado, e prestes a ser prensado. • Com o objetivo de dotar o Estúdio Sinfônico de um piano de qualidade a SOARMEC encaminhou em 1997, projeto ao FNC, que recebeu o nº 01400001628, foi deferido em 98, e permitiunos comprar, no início de 1999, e colocar no país um piano Bösendorfer, modelo 225, que chegou no dia 10 de setembro e, conforme, amplamente noticiado na grande imprensa – mereceu inclusive editorial do JB –, ficou retido no Terminal de Carga do Galeão, depois no Depósito Alfandegário de São Cristóvão, e, finalmente, hoje, 220 dias depois, está para ser liberado. • Em 96, a SOARMEC elaborou o projeto Visão da Literatura – que visa produzir uma série de programas literários voltados para o ouvinte cego e para a revitalização da arte da leitura, e conseguiu produzir, em parceria com a Rádio MEC, o primeiro produto do projeto: a leitura completa do Memorial de Ayres, na voz de Luis Carlos Saroldi. Em 98, o projeto foi enviado ao RIOARTE, para patrocínio, e recebeu o diploma que garante ao patrocinador deduzir de seus impostos o valor do patrocínio cultural. Infelizmente não conseguimos captar recursos para dar continuação à série. Mas este é sem dúvida um dos nossos mais importantes projetos, e não deve ser abandonado pela próxima diretoria. Como o nome diz, este projeto é voltado para os deficientes visuais – seis milhões de brasileiros, aproximadamente – um número expressivo de ouvintes, que dá corpo a um argumento final e irrespondível contra a extinção do rádio educativo, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo. • O projeto de dotar a Emissora de uma biblioteca especializada em assuntos radiofônicos virou realidade em junho de 1997. A biblioteca, que recebeu o nome de Fernando Tude de Souza, continua funcionando numa das salas da Sociedade, e está à disposição dos estudantes de comunicação e demais interessados. Ficamos sabendo, com surpresa, que seu acervo – agora com 222 títulos, alguns raros –, já é maior e mais abrangente que o da Biblioteca Nacional. E aqui deixamos uma interrogação a respeito da oportunidade de, em caso de dissolução da SOARMEC, um dia, doarmos o acervo da biblioteca Tude de Souza para a própria Biblioteca Nacional. REALIZAÇÕES RADIOFÔNICAS PROPRIAMENTE DITAS: • Iniciada em 1992, a Série Ao Vivo entre Amigos, coordenada por Renato Rocha e apresentada por Luiz Carlos Saroldi, atingiu, nesta gestão, a marca de 57 programas inteiramente produzidos pela Sociedade. SOARMEC à Assembléia Geral Considerado, na época (1998), pela Coordenação da MEC AM como sendo um dos três melhores programas musicais da Emissora, o AO VIVO ENTRE AMIGOS, a partir de abril daquele ano, entrou em nova fase, passando a ser transmitido, toda quarta-feira, às 22 horas, diretamente do auditório da Rádio, com produção a cargo da MEC AM, e sempre focalizando um talento da nossa MPB. Como sabemos, a série foi criada com a intenção de revitalizar a prática das apresentações gravadas ao vivo – que tradicionalmente eram realizadas no Estúdio Sinfônico – e divulgar o auditório da Rádio como mais um espaço cultural da cidade. A nova fase do AO VIVO ENTRE AMIGOS, com periodicidade semanal, prova que o primeiro objetivo foi plenamente alcançado. Além disso, a própria trajetória da série – nascida e criada pela Sociedade e depois repassada para a Emissora – é mais um exemplo do desapego que a SOARMEC tem por suas realizações, sempre que a Rádio MEC demonstra precisar delas. Ao ceder o nome e o programa, e sem poder contar com seu principal apresentador, Luis Carlos Saroldi, a Sociedade interrompeu sua produção radiofônica, propriamente dita, que se reduziu à recuperação e transcrição do que restou da série Eles escolheram a música –11 programas –, e uma audição e copiagem das gravações de Os Boêmios, conjunto popular que mantinha um programa na Emissora, nas décadas de 60 e 70. Retomar a produção radiofônica, conquistando um novo horário na programação regular da Rádio, é um feito que a nova gestão deve tentar realizar. • Nesta gestão extinguimos o Bazar dos Poetas Mortos, criado por Gizelia Fernandes, em 1994, e batizado por Saroldi. Pelo motivo muito simples de que recebíamos mais doações de discos e livros, do que vendíamos. Houve um momento, durante o último ano, em que decidimos parar de receber doações, por falta de espaço. Recentemente, para ali instalarmos nosso setor de informática, resolvemos esvaziar a sala, extinguindo, ao mesmo tempo, o Bazar. Destinamos alguns livros para escolas e para bibliotecas de bairro, e doamos centenas de discos 78 rotações e LPs antigos, alguns a colecionadores. BENFEITORIAS Deixamos para o final uma das atividades que a SOARMEC vem desenvolvendo desde sua criação e que, nesta gestão, foi mantida. Estamos nos referindo à conservação e melhoria do espaço físico da Emissora. Para tanto, vamos fazer uma pequena rememoração. A SOARMEC está instalada em duas salas contíguas, no 2º andar do prédio da Rádio, e dispõe de um outro cômodo – uma espécie de depósito, no vão da escada do 2º andar. Tal espaço foi gentilmente cedido por Paulo Henrique Cardoso, quando diretor. Durante a gestão de Paulo Ribeiro, presidente da então FRP, chegamos a assinar um contrato de utilização daquele espaço, mas descobriu-se, depois, que tal procedimento fora proibido por decreto, desde o governo de Collor. Em consequência, tal contrato foi anulado. Com o advento da ACERP, tentou-se um outro contrato, mas não ouve acordo de termos, e, hoje, continuamos a ocupar aquele espaço como “hóspedes tolerados” da Emissora. Além de utilizarmos estes cômodos, o que não é pouco e motiva o agradecido reconhecimento da SOARMEC, utilizamos, também, dois ramais telefônicos e alguns móveis. Em contrapartida, a listagem que se segue, demonstra que a SOARMEC continua sendo um hóspede generoso. • A SOARMEC promoveu uma total reforma no espaço ocupado pelo Bazar dos Poetas Mortos, incluindo pintura, instalação elétrica para 110 volts, aquisição de aparelho de ar refrigerado e colocação de bancadas e estantes, feitas sob medida, bem como 2 cadeiras e, também, película “insufilm” nos vidros da janela, para evitar sensação de alumbramento na tela do computador. Tudo isso para receber um ilha de informática e se tranformar em nosso espaço de produção gráfica e de inserção na Internet. E aqui é bom lembrar que, de acordo com o estatuto, em caso de dissolução da Sociedade, os seus bens passam automaticamente para a Emissora. Assim, estão neste caso todos os bens arrolados na “Relação dos Bens Patrimoniais da SOARMEC”, que está a disposição dos presentes, para ser consultada. • Além das benfeitorias realizadas em sua sede, a Sociedade, apesar de seus poucos recursos, tem continuado a patrocinar pequenas reformas e melhoramentos no espaço físico da Emissora. Para muitos dos que trabalham na Rádio, ela é uma espécie de “prefeiturinha” da Emissora. Eis a relação, andar por andar, das benfeitorias realizadas nesta gestão: ENTRADA, PORTARIA e TÉRREO • placa com número de rua • 3 vasos com plantas ornamentais ao longo da entrada até a portaria, incluindo um pinheiro de Natal. • gratificação mensal (pró labore) a um dos faxineiros para regar e cuidar das plantas (incluindo os outros vasos colocados na gestão anterior) • telhas novas, na casinhola do gerador, que foram depois destruídas com a substituição do antigo gerador. • uma foto de Mignone regendo a OSN, ampliada e legendada • material de pintura e de construção para conserto de paredes e pintura da parte interna do térreo. PRIMEIRO ANDAR • ampliação, legenda e moldura para foto de monumento radiofônico à Resistência Francesa. • material para reforma e pintura das paredes da escadaria e vãos, do térreo ao terceiro andar. SEGUNDO ANDAR • ampliação, legenda e moldura de fotos de Roquette-Pinto, adquirida no Acervo de O Globo; e professor ginástica Oswaldo Diniz Magalhães) • revestimento, com película insufilm, das duas janelas do Acervo, para evitar alumbramento na tela do computador. • sinalização em corte-laser, indicando banheiro masculino e feminino. TERCEIRO ANDAR • 9 gravuras com rostos de compositores antigos, ao longo da metade do corredor que vai dar na discoteca. • gravuras menores, enquadradas, para as salas de audição. QUARTO ANDAR • grande ampliação emoldurada e legendada, em vidro anti-refratário, de foto de ensaio de Geny Marcondes. • Idem do maestro Nelson Nilo Hack. SEXTO ANDAR • um poster do filme “O poder da informação”, para o setor de jornalismo. • duas gravuras de compositores emolduradas para a MEC FM RESISTÊNCIA CULTURAL 13 organização do mesmo tipo, para desfilar no espaço ocupado pela Sociedade Civil. No caso da recém-criada ACERP, que é tutelada pelo Estado – pelo menos até agora – o resultado é um híbrido que não tem sido nem uma coisa nem outra. Assim, nos últimos dois anos, a Rádio MEC e a TVE vêm sendo administrados por uma Associação que não possui sócios; que se diz de Comunicação Educativa, mas acaba de dar o golpe de misericórdia no setor educativo da Rádio – sem emitir nenhum comunicado a respeito – e que ostenta o nome de Roquette-Pinto, aparentemente apenas pró-forma, pois não tem demonstrado a menor generosidade cultural. Neste campo, a ACERP reflete mais uma vez o viés oficial, pois ecoa uma tendência dominante nos altos escalões do atual governo: a tendência a encarar a Cultura como negócio comercial, ou, nas palavras de Francisco Wefort , “com a dimensão comercial embutida”. Tal opção permitiu que os dirigentes da ACERP tenham sido, até agora, escolhidos não pelos seus dotes culturais, mas por suas qualidades de administradores. Além disso, acrescente-se que, durante todo o processo de extinção da FRP e constituição da ACERP, nunca foi feita , ao que se pode deduzir, qualquer referência à existência da SOARMEC, e, assim, a Medida Provisória que criou as Organizações Sociais acabou sendo editada sem levar em conta a nossa quixotesca Sociedade. Com isso, de repente, passaram a existir duas associações sem fins lucrativos, voltadas para a mesma Rádio – a ACERP e a SOARMEC – com intenções e competências muitas vezes comuns. Tal fato, em vez de suscitar uma tentativa de soma e sinergia, parece ter provocado um grande incômodo na primeira e atual diretoria da ACERP. Não poderíamos encerrar nosso relatório sem fazer menção à atividade de resistência cultural que os Amigos Ouvintes precisaram e passaram a exercer em relação à ACERP, quase que desde o seu advento. Sabemos que questões importantes, como as que envolvem a sobrevivência da Rádio MEC, parecem menos importantes, frente aos macros problemas brasileiros. Com efeito, que importância tem a semi-privatização da Rádio MEC – é mais ou menos isso, tentativamente, que está acontecendo com a Emissora –, perto da total privatização de uma Vale do Rio Doce? Mas é de sobrevivência do rádio educativo que estamos falando aqui. Pedimos, portanto, um pouco de paciência aos membros da Assembléia, para situar brevemente a questão. A consequência desse estado de coisas é que, a SOARMEC, que, nos 6 anos de funcionamento, anteriores à ACERP, conviveu com vários diretores da Rádio e presidentes da FRP, sendo apoiada e, algumas vezes, até ignorada por eles, passou a ser, nos últimos dois anos, explicitamente rejeitada e desconsiderada em sua própria razão de ser. Uma das quase 3 mil medidas provisórias do governo Fernando Henrique – a de nº 1591– extinguiu oficialmente a FRP e instituiu a figura da organização social. A ACERP – Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto, criada pelos mesmos executivos encarregados da extinção da FRP, foi a primeira sociedade sem fins lucrativos a ser credenciada como Organização Social. Com isso, a TVE e a RÁDIO MEC tornaram-se as primeiras cobaias dessa nova experiência administrativa. Já tivemos que defender o nome da Rádio, e o conseguimos – durante a gestão de Paulo Ribeiro, ex-presidente da extinta FRP. Com a ACERP, no entanto, tivemos que defender não uma situação entre tantas outras, mas a própria idéia, a própria substância da Sociedade. Pela primeira vez, a SOARMEC precisou fazer valer seus estatutos e seus direitos, no sentido de defender a continuidade de projetos que estavam a meio caminho, como as duas últimas caixas de CDs, que foram produzidos a despeito da atuação contrária da ACERP. Que experiência é esta? Ao que parece, uma Organização Social é uma espécie de ONG paradoxal. É como se o governo tivesse percebido que as Organizações não governamentais também podem dar samba, e resolvesse criar uma Tornando mais difícil uma coisa que não é fácil – estamos falando de produção cultural no Brasil –, a ACERP, literalmente, entrou em competição com nossa Sociedade. (continua na página seguinte...) 14 Relatório de atividades (continuação...) Tal competição teve seu lado positivo, pois a ACERP lançou um selo próprio e produziu um belo disco de Hermeto Paschoal – que muitos pensam que é o segundo CD da série IBI e, que, daqui a 10 anos, serão compilados, por um Lauro Gomes do futuro, na mesma coleção. O lado negativo pode ser representado pela absurda e tardia tentativa de produção de um CD de Alceo Bocchino, com o mesmo repertório do CD que estávamos em vias de mandar para a fábrica (para a 2ª caixa ). Foi solicitado, inclusive, pelos responsáveis pela espantosa empreitada, que o veterano maestro e compositor assinasse às pressas uma segunda autorização, mesmo argumentando que já havia assinado com a SOARMEC. Nunca vimos esta autorização que, com certeza, deveria estar pré datada – do contrário, não teria valor legal –, o que demonstraria concretamente o grau de irracionalidade atingida, em certas ocasiões. Para não cansar a Assembléia com um pormenorizado relato das ações da ACERP – que muitas vezes foram de aberto boicote, puro e simples, até a tentativa de limitar o direito de nossos colaboradores irem e virem pelas dependências da Emissora –, citamos três evidências: A primeira é o fato de a SOARMEC não ter sido, até hoje, convidada a tomar assento no Conselho de Administração da ACERP. Outra é a supressão, em meados de 98, sem aviso ou justificativa, por parte da atual direção da MEC FM, das chamadas da Sociedade que iam tradicionalmente ao ar. A terceira é a sequência de minutas dos contratos de utilização do espaço da sala e de produção de CDs, os quais, trocados em miúdos, propunham simplesmente que a Sociedade pagasse para poder fazer o seu trabalho voluntário. Após reuniões e reuniões e idas e vindas, não se chegou a um acordo e a situação permanece sem definição. Para a maioria de nosso sócios, estas palavras soam como novidade. Isto porque nosso informativo tem evitado noticiar essas desavenças estruturais. Conseguir transformar este estado de ânimo em colaboração produtiva é um dos desafios da nova diretoria. Nosso informativo também procura nunca levantar suspeitas infundadas, por isso o leitor não encontra, ali, referências a fatos ainda pouco transparentes como, por exemplo, o processo de extinção da Fundação Roquette-Pinto, açodado e pouco transparente, sem pronunciamento da Curadoria de Fundações, sem apresentação dos resultados da auditoria efetuada, e sem maiores explicações quanto ao destino dos bens e Acervo da Emissora. O fato é que, até hoje, não sabemos o nome do órgão responsável pela guarda e conservação do patrimônio da Rádio MEC acumulado antes do advento da ACERP. Essa é uma questão preocupante e já motivou duas cartas à Secretária de Comunicação da Presidência da República. E essa questão, ainda sem resposta, é mais um desafio para a próxima diretoria. A linha editorial do nosso informativo também procura não comentar as decisões administrativas tomadas pela Rádio, e tenta, na medida do possível, transferir para a Associação dos Funcionários ou para o Sindicato, esse tipo de informação, bem mais de acordo com a pauta de seus respectivos jornais. Por isso, nossos leitores não estão a par da abrupta verticalização de comando imposta pela ACERP, nem do assédio moral que passou a ser exercido dentro da Rádio, sobre os funcionários – pelo fato de serem funcionários –, sobre os prestadores de serviço – pelo fato de que podem ser demitidos – , e, durante algum tempo, sobre os colaboradores da Sociedade. Essa atitude, que arrefeceu mas permanece latente, provocou o desaparecimento do jornal interno “Rádio Corredor”, e um verdadeiro êxodo de funcionários, para outros órgãos do Governo, o que desestruturou bastante o sentido de “equipe”, que uma Emissora deve ter E mais: este esvaziamento é extremamente perigoso porque o que permitia que a Rádio MEC, durante todos esses anos, atravessasse administrações e diretores pouco preparados ou desinteressados, era o fato de que o corpo de profissionais que nela atuava, praticamente prescindia das consecutivas direções, que apenas precisavam cuidar da parte administrativa. Agora, com a saída de pessoas como Ary André, técnico experimentadíssimo; Regina Sales, e outros mais, a coisa muda de figura. Quem os substituirá? Ou a intenção é mesmo a de esvaziar a Emissora? Apoio Cultural Além disso, parafraseando Francelino Pereira, que espécie de ambiente de trabalho educativocultural está sendo fermentado? É com mandonistas que se pretende tocar uma rádio voltada para cidadania? Cidania da antena para fora? É por essas e outras que a SOARMEC tem insistido em cobrar, em seu jornal, a existência de um ombudsman para a Rádio MEC. Para não nos prolongarmos mais nesse assunto, e, à guisa de conclusão, vamos registrar, aqui, outro agradecimento, dessa vez ao senador Artur da Távola que, por ser sócio fundador da Sociedade dos Amigos Ouvintes e, ao mesmo tempo, membro do Conselho de Administração da ACERP, vem procurando pacificar as relações e tem conseguido reduzir a pressão oficial sobre a nossa Sociedade. ENTRE PARA A SOARMEC receba este Jornal esteja em nossos eventos freqüente nossa Biblioteca mantenha-se informado a respeito do Rádio Educativo alimente nosso Website: www.soarmec.com.br Tel. 221.7447 R-2207 e 2210 Rosinha Vamos torcer para que a atual ou a próxima diretoria da ACERP, compreenda que , do ponto de vista moral e até político e econômico, a existência da SOARMEC representa mais para a ACERP do que qualquer taxa eventualmente cobrada à nossa Sociedade; e compreenda que não aceitar a SOARMEC significa ir na contra-mão dos anseios da Sociedade Civil e ir na contra-mão dos que desejam a continuidade da própria Rádio MEC. Vamos torcer, também para que a ACERP dê mais ouvidos a seu Conselho Administrativo, pois, como já noticiamos em nosso jornal, o referido Conselho não tem tido oportunidade de aconselhar, pois só tem sido convocado para convalidar decisões já decididas e até mesmo postas em prática. A diretoria que se despede acredita que toda esta problemática foi provocada pela transferência da Emissora para a Secretária de Comunicação da Presidência da República. Nos três últimos editoriais do nosso jornal, temos apresentado os argumentos cabíveis para justificar o retorno da Rádio ao Ministério da Educação, que, a nosso ver, deve arcar com a responsabilidade assumida em 1936. É possível fazer valer os termos da doação original de Roquette-Pinto? Conseguir, pelo menos, que o Ministério da Educação se pronuncie a respeito, é uma das principais tarefas da nova Diretoria. Rio de Janeiro, 25 de abril de 2000 A DIRETORIA H á sete anos, aquela que foi a melhor violonista popular brasileira sofreu duas paradas cardíacas, sobreviveu, mas parou de tocar, de falar, de ouvir, de andar ou de fazer qualquer movimento coordenado. Após meses de internação, foi levada de volta para a cidade cujo nome está colado ao seu. E lá, numa casinha de fundos, ela vem sendo cuidada por sua diligente irmã, Maria Geracina. A família não tem recursos. Quem quiser ajudar com dinheiro, pode fazer depósito na conta nº 36676-5, da Agência 04049 do Banco do Brasil, em nome de Maria Rosa Canelas – nome de batismo da artista. Quem quiser ajudar com fraldas ou medicamentos, telefone para 0-xx-24-4522659 e combine com a própria irmã de Rosinha. CURSO DE MÚSICA POPULAR BRASILEIRA Toque um instrumento! Participe de conjuntos! Crie sua música! Cante! Os melhores professores de música popular brasileira estão no CBM Informações e inscrições:Tel/fax (021)240 6131 / 2405481 /240 5431 e-mail: [email protected] – www.cbm-musica.org.br Novos Desafios O problema da televisão na competição com a TV de alta definição e a Internet é igual ao da radiodifusão, que enfrenta mudanças tecnológicas semelhantes. Há 40 anos, o rádio foi transformado pela capacidade da televisão de atrair público e receita. Contudo, ele continua sendo uma força poderosa. De acordo com uma pesquisa de 1998, feita pela Mediamark Research, 83% dos americanos escutam rádio regularmente, uma audiência que nenhum outro meio de comunicação pode igualar. A média de escuta de rádio por pessoa alcança 3 horas e 45 minutos diários. Há dois motivos para a força contínua do rádio. Uma é a popularidade das novas estações FM, com seu som musical de qualidade superior. Pesquisas indicam que os ouvintes das estações FM representam 80% da audiência do rádio. A segunda é a mudança das rádios da audiência de massa para a programação especializada. Hoje, mais de 12.000 estações de rádio usam dezenas de formatos diferentes, do hard rock à música clássica. A sensação nos anos 90 foi o rádio falado: o número de estações que dedicavam grande parte do dia a talk shows triplicou de 405, em 1990, para 1.130 em 1995. Nessa época, o programa de Rush Limbaugh atraía 20 milhões de ouvintes a cada semana e gerava US$ 30 milhões em receitas anuais de propaganda. Em sua busca pelos dólares da publicidade, os executivos do rádio dão atenção especial a dois grupos de ouvintes: adolescentes e motoristas na direção. Seus hábitos de audiência e de compra têm sido estudados com apurada minúcia pelo indústria do rádio. Os adolescentes são ouvintes compulsivos de rádio, representando também um mercado de consumo de US$ 100 bilhões. Uma pesquisa concluiu que 94% de todos os adolescentes entre 12 e 19 anos ouvem rádio regularmente. No final dos anos 90, uma forte tendência nas transmissões de rádio era a corrida das corporações e outros investidores para comprar estações. Esse interesse foi incentivado pela lei de telecomunicações de 1996, que abolia regras que limitavam a propriedade, por parte das companhias e indivíduos, a no máximo 20 estações AM e 20 estações FM. O resultado foi uma onda de compras e fusões nessa área. Os preços pedidos por uma estação foram às alturas. Uma estação de rock novaiorquina, a WAKQ-FM, foi vendida por US$90 milhões. No total, cerca de 4.000 das 10.000 estações de rádio do país mudaram de mãos em 1998, em acordos que totalizaram algo estimado em US$32 bilhões. A mais agressiva firma nessas operações foi a Chancellor Media Corp., cujo presidente, Tom Hicks, é um antigo DJ. Em 1999, a firma tinha participação em 463 estações, formando o maior grupo de rádio do país. no Rádio Nesse meio tempo, as estações de rádio enfrentam uma mudança tecnológica que poderia tornar suas operações em AM e FM cada vez mais obsoletas. É a radiodifusão digital (DAB), envolvendo a mesma mudança para a transmissão digital que as emissoras de televisão estão encarando. Em 1992, a FCC alocou freqüências que permitem que programas DAB sejam transmitidos de satélites ou de transmissores terrestres. A tecnologia da DAB está bem avançada, mas sua aplicação integral talvez se atrase por várias razões. Uma delas é a violenta discordância dentro da indústria do rádio sobre como e quando ela deve ser introduzida. Compreensivelmente, a indústria não está muito entusiasmada com a idéia de gastar bilhões de dólares para substituir suas instalações de AM e FM. Além disso, há dúvidas sobre o desejo dos ouvintes de rádio em mudar para o DAB. A tecnologia requer a substituição dos atuais receptores por outros mais caros. Por último, a DAB tem a concorrência de outras formas, ainda em desenvolvimento, de serviços de áudio digital para o consumidor: cabo, microondas, CDs e fitas áudio-digitais. Alguns observadores da indústria acreditam que talvez demore ainda uma década, ou mais, até que a DAB se torne uma força importante na radiodifusão americana. Seu crescimento talvez dependa da sua capacidade de permitir Coluna do Conselheiro Paulo M.Borges A ACERP é hoje uma empresa de televisão e rádio viável do ponto de vista econômico? Até que ponto o governo tem interêsse em mantê-la? Seremos capazes de caminhar sózinhos sem o braço amparador do Planalto? É importante ressaltar que o Governo estabeleceu regras para o cumprimento do Contrato de Gestão que hoje rege a ACERP. Este contrato foi renovado até 2003. Infelizmente, tivemos atrasos no envio das dotações das primeiras parcelas devidas pelo Governo, o que influenciou no orçamento da Empresa, a ponto de atrasarmos os pagamentos dos colaboradores e das empresas prestadoras de serviço. Infelizmente estamos em meio a uma crise que grassa pelo país e, por isso, estamos, hoje, produzindo pouco, acumulando energias para lutar por um mercado que vê na TV Pública um espaço ainda restrito ao anúncio de preços e a certos tipos de mercadorias. Acredito na viabilidade econômica da ACERP. Temos um potencial enorme, um acervo fantástico de Rádio e TV, e um parque eletrônico que possibilita a sustentação de uma rede de emissoras. Falta-nos acreditar mais. Falta hoje à ACERP garra e profissionais que busquem nas empresas o patrocínio de nossa programação. Alcançamos com muito trabalho a qualidade requerida de imagem no ar, falta alcançar a mídia das empresas a se promoverem nas ondas do nosso rádio e TV. O Governo criou a Organização Social e agora tem que mantê-la até se ver livre deste encargo. Ocorre, porém, que ele é o primeiro a dificultar este “aprender a andar sozinho”: são muitos os braços do Estado e a ACERP é apenas uma ramificação que precisa receber água para sobreviver. Acredito que não estamos entre as ramificação importantes do Governo. É possível caminhar sem o braço do Governo. A administração não deve ser centralizada; é preciso inovar para crescer; é preciso apostar no talento que está na Casa, abrir espaços para que o colaborador interessado possa trazer a ideia ideal, a mais propícia, para a situação que urge resposta. Os líderes dos Núcleos da ACERP deverão, antes de tudo, compreender que a figura do chefe deve deixar de ser solitária, para integrar-se à Equipe, como um todo. 15 ao ouvinte fazer gravações de som em alta qualidade, puras como as do CD, em minidiscos ou em fitas cassetes digitais. Segundo o assessor de mídia Michael Tyler, o resultado poderia ser uma “loja de discos caseira”, com milhares de títulos disponíveis, a pedido, para gravação doméstica. Apesar da hesitação das emissoras de rádio em adotar as novas tecnologias digitais, os acontecimentos as estão forçando a se mexerem mais rapidamente. Um fator é a perspectiva da difusão digital via satélite. Em 1995, o FCC deu autorização inicial para uma nova companhia, a Satellite CD Radio, construir um sistema de satélite duplo que pode transmitir trinta estações de rádio nacionais para assinantes, com antenas não muito maiores do que uma moeda de US $1,00. Além disso, algumas emissoras começaram a compreender que partir para o rádio digital poderia lhes proporcionar significativas economias operacionais, por permitir-lhes ingressar mais facilmente no fornecimento de programas nacionais digitais. Também lhes permite operar uma estação completa, 24 horas por dia, com apenas alguns vendedores e um ou dois técnicos. Duas firmas da área de Washington, CD Radio e American Mobile Radio, planejam ter redes de rádio nacionais baseadas em satélites operando no ano 2000.” Extraído do livro "A Nova Mídia", de Wilson Dizard Jr., tradução de Antônio Queiroga e Edmond Jorge, Jorge Zahar Editor. NÚMEROS DA CAO Tabulação feita por Luiza Amaral com base nos relatórios semanais da Central de Atendimento ao Ouvinte, de 01/04/00 a 09/06/00 Ligações: 1950 em 70 dias, o que dá a média de 27,8 ligações diárias MEC AM Total de ligações • Para o programa Cia. do Samba • Para o Defesa do Consumidor • Para o Manhã Viva • Elogios à programação • Reclamaram da programação • Informações e sugestões 90 • Para Atendendo aos Ouvintes • Reserva p/ Ao Vivo entre Amigos • Participaram de promoções • Reclamaram da sintonização • Reservas p/prog. Parede 800 AM 1517 70 93 624 57 12 167 166 124 01 113 MEC FM Total de ligações 433 • Participaram das promoções • Pedidos para o Conexão Direta • Elogios à programação • Reclamaram da programação • Informações e sugestões • Pedido de grade de programação • Reservas para Sala de Concerto • Reserva para Roda de Choro 86 53 15 36 90 05 138 10 Central de Atendimento ao Ouvinte - CAO ☎ 252 8413 SCHNITTKE: “Vida com um Idiota” MOZART: “Cosi Fan Tutte” OFFENBACH: “Contos de Hofmann” ROSSINI: “A Viagem a Reims” TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM BORODIN: “O Príncipe Igor” BELLINI: “Os Puritanos” PUCCINI: “Tosca” VERDI: “La Traviata” WEBER: “Der Freischutz” 20/08 - “A pele do lobo” - Arthur Azevedo 27/08 - “Um episódio” - Arthur Schnitzler 03 10 17 24 31 - 06/08 - “Um presente” - Arthur Schnitzler 13/08 - “Eduardo e Agripina” - René de Obaldia CATALANI: “La Wally” BERLIOZ: “Beatriz e Benedito” ENESCO: “Édipo” WAGNER: “Lohengrin” ÓPERA NA MADRUGADA – 5ª Feira, 3 h – MEC FM 06 13 20 27 - ÓPERA COMPLETA – Domingo, 17 h – MEC FM AGOSTO DE 2000 A M 8 0 0 K h z – GRADES DE PROGRAMAÇÃO – F M 9 8 , 9 M h z 06 13 20 27 - ÓPERA NA MADRUGADA – 5ª Feira, 3 h – MEC FM 16/07 – “Viajantes para o mar” – J. M. Synge 23/07 - “Henrique VIII” - Shakespeare 30/07 - “A casa fechada” - Roberto Gomes TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM JULHO DE 2000 TEATRO SÉRGIO VIOTTI – Domingo, 19h – MEC AM 02/07 - “A escola das viúvas” - Jean Cocteau 09/07 - “Quem pergunta o que quer, ouve o que não quer...” – Arthur Schnitzler RICHARD STRAUSS: "Elektra" CARLOS GOMES: "Fosca" ROSSINI: "La Cenerêntola" ( A Cinderela ) WAGNER: "Tristão e Isolda" MSCAGNI: "Iris" ÓPERA COMPLETA – Domingo, 17 h – MEC FM 02 09 16 23 30 -
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