Maqueta Querela

Transcrição

Maqueta Querela
QUERELA
SALAZAR ERA BURRO E NÃO TINHA AMIGOS
“O meu trabalho consiste na descodificação dessas
simbologias, que eu chamo de __________________
___ (preencher com a opção pretendida). Não se trata
de críticas, mas sim de ________________ (preencher
com o verbo) o que me levou a este trabalho. Para mim,
trata-se de _________________ e não de ___________
_______! (mostrar convicção e firmeza)”
mentira.
Trompe l´oeil
estreio
Abreviação pouco des
temida do miolo (para a escala
das coisas de agora): ou seja, suco,
recheio, as vísceras, a tripalhada
toda, vem tudo ao assunto, mas
não no mesmo saco. Mesmo que
nos queiram convencer que o
cozinhado é imenso, sobra muito
pouca coisa, e imaginação e inspiração é coisa de estroinas de
baile e sacripantas. Há que saber
duas coisas: não há volta a darlhe, vida e logro são a mesma
coisa, como podem-no ser pintura e bodyboard, ou desenho e
atendimento ao balcão. Muito
razoavelmente, não pomos ordem a estas coisas, nem atribuímos lugares, nem pódios, nem
desistências. Sabemos apenas, e
pomos sim assentos nisso, que há
comunicações impossíveis. Uma
coisa é passo-ante-passo - não
fazemos resistência à comunicação de internet, mas desprezamos
poetas “pop-up”. Ou seja, outra
coisa, é encetar uma comunicação com guelras em brasa.
Toda a história, sendo
uma velha senhora, corre o seu
caminho; mas há distinções que
nos deixa de grande utilidade: o
melhor miolo, difícil de encontrar, existe.
Tudo pode ser tudo. De
acordo. Mas pouca coisa consegue ser alguma coisa. Ainda assim, essa velha senhora não se
insurge muito contra a sua incontinência aflita. Mantém a sua
postura protocolar, mas deixa os
miúdos rebeldes a brincar no
jardim. Emagrece, maldita seja,
e sempre para o mesmo lado do
osso, esses despejos furtuitos de
toda a sua locução, mas dá-lhes
parto. Porque não há muito por
onde fugir. O esfinctêr dessa
carcaça ainda sobrevive pela lei
natural. Verte em quantidade,
porque assim mantém-se viva.
E nesse jogo de infelicidades,
é difícil de comunicar sem ser
normalmente um infeliz.
Dizer alguma coisa em
sangue, manter-lhe o peito firme.
“Querela acusa-vos a todos de
querer viver um bocadinho nessa
pestilência.” Guardem e refugiem
a vossa melhor comunicação,
desmedida, até ao melhor momento.
A seguir à estreia costuma dizer-se:
# A Querela não se propõe a agradar qualquer público (determinado
ou indeterminado), porque não edita para grupos de leitores especializados, nem deseja disputar outro alvo que não seja a consciência
alheia.
# A Querela não se coibe de tentar alcançar aquele a quem a sociedade
atribui mais perigo, o indivíduo de pensamento livre;
# A Querela não é periódica, não tem corpo editorial, é inconstante.
Da sua persistência apenas se retira a imprevisibilidade.
# A Querela não existe para ostentar qualquer ideologia, mas para
garantir a consumação da sua decadência.
“O problema do surrealismo foi ter entrado na política.”, História Desenvolta do Surrealismo
UMA BOA QUERELA GOSTA DE DESPORTO
Penetração
Aos quereleiros de todo o mundo, mais um esforço!
A origem do mundo agora é outra. Sobram palavras por usar. Quando se quer
construir um romance, escolhem-se algumas referências - de preferências nossas
- e mete-se tudo num saco para tirar tudo aos salpicos. O tédio dessas coisas obriga
a que se passe a chamar Romance Despasmos. Já é assim há décadas. Mudaramse as fontes, secaram as antigas. Reviraram-se um, dois, três Courbets, doze
Lautréamonts, sete Jarry’s, algumas metades de Vaché e Rigaut’s. E aí continuam
mais um, dois, três mil flagelos escancarados, fustigados em litros de sangue de
desperdício. (Ainda poucas origens conseguiram vencer as vitórias da samotrácia).
Não há nada melhor do que fazer lembrar os gáudios dos Césares. Várias mesinhas
ordenadinhas, tudo em lascivez, vistas regaladas no serviço de luxo, glande em riste
para ordenhar as vaquinhas oferecidas pela Presidência, tudo em ordem muito
bem mandadinha para simplificar as coisas. Mas nem só a esmola faz o mendigo,
nem nunca é tarde para se chegar atrasado.
O tamboril não é para os pobres, só a guerra. Guerra é guerra, deixem a fome
apertar, e verão: continuam as mesas postas para os reis. O couro e cabelo saem
sempre dos mesmos. Mas a linguagem vem do fogo. A linguagem - e a respectiva
língua - apresenta-se aí para ser julgada e comentada, em exposição de sol a sol.
É a única que impede crucificar a experiência pelos movimentos acéfalos de
contracção dos comportamentos. Normalmente, são só enxertos mal semeados,
o bombástico de plástico, que é mais barato. A linguagem pertence ao estomâgo
e às vísceras. E, por isso, não a considerem intratável (ou a quem a use) ou sem
futuro. Porque é ela é, em essência, incómoda, e dona da felicidade pública, e
ensinada pela prática. Como as ruas, não são apenas um direito de passagem, são
um direito de permanência. Dificilmente quereremos um glamour teórico, ou um
descanso na sombra das palavras. Falar para leitores especializados não é instrução,
é pedantismo. O currículo que nos apresenta não chega para nos dar algum tipo
de reputação. A envolvência que nos provoca escava mais do que contrói, e não há
ócio inútil que não seja proveitoso. Não há cultura, só o que se pode fazer com ela.
A linguagem é uma das suas ferramentas: um formão de estilhaços. Lentamente,
poderemos adaptar-nos selectivamente à nossa própria cultura, rejeitando as
idiotices da Cultura-Mãe.
Historicamente, a fórmula surrealista de “Escreva depressa sem assunto prévio!” foi
humilhada por um determinismo imaginário exagerado, “a voz surrealista que fala
do alto”, que falhava no acto prático e autónomo da linguagem. A “linguagem dos
desejos” esquecia-se que era na vida, e não nos sonhos, que as palavras deveriam
fazer mais sentido. Poucas vezes a sinceridade terá feito tanto sentido como a falta
de organização dadaísta na história, sem confiscação autoritária, mas com sentido
prático criativo: não avisando o que ia fazer, mas aparecendo.
Se a linguagem vale por uma prática, e vice-versa, ela tem esse garante de renovação
constante, e bloqueará poderes exteriores de recuperação do seu velho sentido,
desviando qualquer intentona de criação dos passatempos vulgares. O modelo é a
vida imprevisível.
Ainda não se chegou à conclusão que os burocratas ignoram que existe esse meio
de comunicação chamado linguagem. Eles só admitem a linguagem enquanto
instrumento de mentira, embuste periódico de massas. Mas a Querela não é
periódica, é constante. Da sua persistência, vão surgindo edições, que aqui e ali
mapeiam um discurso orientado pela imprevisibilidade. Por isso mesmo, estaremos
mais interessados às cartas que não nos forem dirigidas. Estamos bem avisados.
A ilegalidade não está naquilo que se pode fazer com ela, mas sim fora dela. Não
nos coibimos de tentar alcançar aquele a quem a sociedade atribui mais perigo, o
indivíduo de pensamento livre. A ditadura da tecnologia conseguiu revelar, para
seu próprio bem, que a linguagem deveria ser reduzida nas suas possibilidades,
preferindo o resumo à expansão, a forma sucinta à forma expressiva, a previsibilidade
à espontaneidade, abrindo campo à fácil verificação de todas as significações,
inclusive as espontâneas. A informatização é o exemplo extremo de como os signos
podem ser maneáveis segundo o seu próprio código: a aceitação passiva das suas
potencialidades, porque existem, não deve permitir nunca que a conjugação de
vários utensílios, palavras, significados e linguagens, possam apenas resultar em
fórmulas opacas, mas definir a transparência da inversão e da subversão. A sua
linguagem está, à partida, corrompida na fonte, que esgota pela previsibilidade. A
base da linguagem autónoma é a espontaneidade, e a espontaneidade é apenas e
somente um momento único, que não cabe em nenhuma organização.
A linguagem autónoma evita as categorias e a lei, ao ponto de querer ser terrorismo
poético. A história confirma-o. “A arte como crime, o crime como arte.”. Mas na
vontade furiosa de destruir, está também a vontade megalómana de construir
melhor, voltar os mitos contra os mitos, os heróis contra os heróis, a hegemonia
contra hegemonia, a propriedade contra a propriedade.
Podia-se facilmente verificar a falência da poesia e da linguagem oficial através da
falência real dos órgãos que tentam gerir as suas diplomáticas leis de propriedade
e a sua imagem na vitrina - a falência anunciada da Sociedade Portuguesa de
Autores.
Enquanto isso, a linguagem vai destruindo mais do que aquilo que constrói, assim
como a sua época. Demonstra-o a história secreta da poesia. Uma tradução real
deste facto, sendo possível racionalmente, é sempre difícil. A História já mostrou
vários exemplos, mas apenas mostrou. A negação, enquanto despojamento, terá
sempre mais realidade do que qualquer transladação realizada pela história.
“O cenário determina as atitudes”, avisavam os letristas nos recônditos anos
cinquenta.
Um amigo meu falava-me do meu génio. Morreu onde a história ainda não se
lembrava de visitar.
A poesia futura terá a sorte de cumprir desejos sem obedecer a outros destinos que
não os traçados pela sua própria autonomia. Os postulados da fatalidade foram
retirados ao homem por ele mesmo: essa acção permite-lhe agora mais, e outras
acções, enquanto força considerável. As escolhas da autonomia podem ter mais
peso do que as decisões de muitos: os desejos e as vontades são agora reconhecidos
apenas e só pelos indivíduos autónomos. Já não são necessários os “solidários”
desígnios dos deuses, mitos e poderes. Agora sabemos tratar bem de nós.
Apreensão Recorde na pj ontem
Arte Furtada
Aspecto parcial do momento em que era mostrada a apreensão
Lista Incorruptível de Furtos e Tentativas, Desvios e Métodos para tal segundo documento
encontrado junto à ocorrência:
(podem dizer o que quiserem, é tudo verdade, ou falso, como preferirem, inclusivé a lista)
- Uma Abelha Maia, modelo desconhecido, na praça
da Batalha. Método: processo simples de carregamento
em ombros, para dentro da mala de um carro, a altas
horas da madrugada. Mais tarde serviria para diversão
nocturna de estudantes sedentos de shots na Queima das fitas, e, posteriormente, num sítio chamado
Virgem Negra, espaço nocturno que também engolia
jovens sedentos, mas desta vez de Belas Artes;
- “Lipsticks Traces”, “Dicionário Incompleto de Mulheres
Rebeldes”, “Suicídio:Modo de usar”, e quase toda a colecção da Antígona, Fenda e Frenesi, primeiros números,
edições raras, no Mercado do Livro (Bertrand), desde
o ano 1998 até aos dias de hoje, que se encontravam
rejeitados para um canto pela editora mãe, talvez por
serem incómodos;
- Balão prateado de Andy Warhol, fabricado pela Fac-
tory, da Fundação de Serralves, no Porto, em 1998;
- Catálogo da galeria Graça Brandão, na Rua Miguel
Bombarda;
- “Fernando Pessoa:Correspondência”, Assírio & Alvim, Feira do Livro de Lisboa;
- Catálogo do movimento Cobra, da biblioteca da
FBAUP. Método simples de passar o livro pelo lado
dos alarmes;
- Tábuas de madeira de obras espalhadas pelo Porto,
por alturas do Porto 2001, com o intuito de construir
uma barraca para a queima das fitas. Foram posteriormente furtadas por desconhecidos no sítio onde
estavam depositadas;
- Comunicador do carro de policia, nos Guindais do
Porto, enquanto estava estacionado, aberto;
- 3 esquiços A1 do arquitecto Souto Moura, numa sala
de aulas da FBAUP, em 1999;
- Instrumentos de brincar no Mercado Ferreira Borges,
na Remar e no Emaús, durante anos consecutivos;
- Esqueleto verdadeiro da sala de figura-humana do 2º
ano da FBAUP, no ano de 2000;
- Sacos de estilista que estavam à venda no espaço
“Pessêgos prá semana”, no Porto, em 2001;
- Pratos e talheres no shopping Via Catarina, em alturas indeterminadas;
- Semáforo de rua, de dentro de um camião que se
preparava para montá-lo;
- Um “Manual de Pintura”, da livraria Leitura, no valor
de 70 euros. Ao comprar um livro de 5 euros, num saco
próprio vai metido o livro que se quer furtar, previamente escolhido no andar de cima. Ao pagar, a senhora
não se apercebe que faltava pagá-lo, e desmagnetiza-o.
TENTATIVAS
- Um barril de cerveja do café N Bar, perto do Teatro
Sá da Bandeira. O café, num 1º andar, possuia um ba-
rril no r/c, perto da saída. Tentação irresistível. Carro
comercial de mala aberta, mãos à obra. Sem efeito. Os
donos em ira, agridem as 4 pessoas que o tentavam fazer. … chamada a polícia, mas a queixa não chega a ser
feita. O café, entretanto, fechou.
- Na inauguração da FNAC (Santa. Catarina), vários
Cd’s sem caixa são desviados para dentro de um saco.
Na altura, não havia o sistema de alarme. Convictos do
acto, a gerência chama à parte 4 indivíduos, conscientes de estarem eles todos munidos de furtos. Apenas
um estava. Não houve represálias.
- Parquímetro na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto,
negada por polícia à paisana que apareceu entretanto.
MÉTODOS
Como furtar livros na Faculdade de Belas Artes do Porto
- Requisição de um livro da biblioteca. Ao escrever o
nome no recibo, escreve-se o nome do livro pelo qual
este livro ser substituído. Com o livro que se pretende
furtar, em casa tira-se ou copia-se o autocolante exterior com o código e com lápis de cor roxa (da cor do
carimbo) Copia-se também os carimbos que estão no
interior do livro para o livro que ser substituído. Entrega-se o livro de substituição ( já com o autocolante
e o carimbo falso). A funcionária rasga o recibo e põe
o livro no seu devido lugar. Como o livro falso não tem
alarme, no dia a seguir pode-se recolhê-lo, tirando o
autocolante, os carimbos e assinando-o como prova de
nossa pertença. Poderá não funcionar se as funcionárias não rasgam os recibos, ou se estão atentas ao nome
que se coloca lá.
Como furtar livros na FNAC
- Compra-se um livro normalmente. Depois de pago,
dá-se o recibo a um cúmplice, e ele sai com outro livro
igual e não pago. O alarme toca e o cúmplice mostra
o recibo que recebeu da 1ª pessoa. Em princípio, não
devem desconfiar.
DESVIOS
- Um coelho semi-congelado, pronto a cozinhar, in-
serido dentro do 1º Volume da “História Universal da
Expansão Portuguesa”, permanecendo lá cerca de 2 semanas, ao fim das quais foi retirado com muito esforço
por uma equipa de limpeza chamada de urgência para
o efeito. Rapidamente, como um bom e simples boato,
correu a história que alguma caloira teria feito um
aborto e o escondido para não se saber.
- Uma cuspidela em cima de um trabalho de Ângelo de
Sousa e um rasgo de ponta de mola numa exposição no
Bar Labirinto, no Porto;
Não perde a arte seu ser por fazer mal, quando faz bem
e a propósito êsse mesmo mal que professa, para outrem,
algum bem, ainda que seja ilícito. E tal é a arte de furtar,
que toda se ocupa em despir uns para despir outros. E se
é famosa a arte que, do centro da terra, desentranha-a o
oiro, que se defende com montes de dificuldades, não é
menos admirável, a do ladrão que das entranhas de um
escritório - que fechado a sete chaves, se resguarda com mil
artifícios - desencova com outros maiores o tesouro com
se melhora de fortuna. Nem perde seu ser a arte pelo mal
que causa, quando obra com ciladas segundo suas regras,
que todas se fundam em estragemas e enganos, como as da
milícia; e essa é a arte, e é o que dizia um grande mestre
desta profissão: “con arte y engano vivo la mitad del año;
y con engaño vivo la otra parte”
¶
¶
nota:
Se envolver a cabeça com a revista de modo a que o
auricular coincida com uma das orelhas, o segredo
será mais perceptível.
Future Kids
“Hipoteque os seus”
Não temos penas das crianças. Não temos pena dos próximos supermachos e
superfêmeas, crianças das luzes de retina estragada, crianças criadas dos serviços
superiores. Ordas de mandatados sem escolha, pouco mais podem fazer do que
responder aos poucos estímulos que lhes são oferecidos; reagem como bichos a
fugir do fogo, respondem sensorialmente por rejeição, não por aceitação, sem
perceberem qualquer um dos lados. Os FutureKids são preparados estupidamente
para o estúpido do trabalho. Respondem por teclas a programações tornadas
imagens em movimento, ordens de chips e botões de Play para acionarem a sua
actividade. Deste Play, pouco jogo real fazem com a vida embrionada que carregam.
Mas os seus progenitores apenas querem que eles se ocupem. Esqueceram-se do
cheiro, do sabor e do toque. E nada mais fácil do que um horário fixo a cumprir
e um visor para se especarem. Não importa o que se ensina, apenas que se encha
todos os intervalos possíveis que eles teriam normalmente para ver a vida cá
fora. É natural que
depois
assumam como um corpo
parasita
toda a riqueza cá de fora, que para eles entra como sujidade
intragável. O mais natural é mais tarde verem-se obrigados a assinarem um cupão
de militância partidária. E, normalmente, ocorre surgir em todos os meios sociais,
aqueles que são vistos como perspicazmente superiores, os que conseguem subir
mais alto a hierarquia sabida. Comummente, veríamos isto como descer menos
baixo. Porque, na sua juventude de futuro, apenas assimilaram mais rapidamente,
por alguma ocasião fortuita ou não, todos os impulsos automáticos que lhes foram
sendo enviados, que é dessa forma que devem ser, sem grande critério nem demora.
Numa ordem natural das coisas, tudo isto seria filtrado sem apelo nem agrado,
porque é de apenas mais uma ferramenta que se fala. Mas, muito pouco afoita, a
sociabilidade actual trata de transformar tudo o que é acessório em fundamental,
e o fundamental em acessório. E ela diz precisamente isto: “Não há pior Prática do
que evitar sessões de esclarecimento sobre Ela. Queremos esclarecer para evitar que
se viva”. Pois vive-se agora melhor tornando estes “criandos” em novos deficientes,
minimizando à partida as suas capacidades inatas de reacção, tal como a Idade Média
operava a sua imbecilidade com o desconhecimento da existência de uma simples
infância e uma tenra juventude; Tão tenra que foi uma tentação demasiado grande
transformá-la o mais parecido possível ou com a tropa ou com lares de 3ª idade. É
um gosto demasiado altivo querer que uma escola normal se abra de quando em
quando para receber as pulsões de pessoas que tem algo real para lhes dizer? Nem
uma única vez os progenitores destes criandos terão querido dizer que a escola é
realmente um fardo, porque lhes tiraria horas de sono saber que estavam a educar
um indivíduo livre, e que se poderia apaixonar facilmente pela selva cá de fora. Os
FutureKids e demais família não se igualam a escolas ordinárias e bolorentas. Usam
cores garridas, fazem montras parecidas com a Toys’r’Us, e colocam pedagogos
eficientes a tratar do futuro dos filhos dos imbecis. Como os últimos body artists,
os cérebros dos FutureKids conseguiram remexer no último reduto intocável – o
corpo e os sentidos, até aqui ilesos. Até se chegar à última vernissage em que se
encontram o inútil e o supérfluo, a falarem extasiados debaixo o olhar deslúcido
dos espectadores. Tanto rebuscamento à volta de um assunto que mais cedo ou
mais tarde teria que dar num ponto assente: porque não hipotecar um diamante
em bruto e transformá-lo em controlável? E assim, tudo o que era popular incutir
naquelas crianças passou a ser pouco sofisticado. Porque sofisticação não é mais do
mesmo, mas, antes de mais, algo de novo. Dentro da novidade cabem sempre todos
e mais alguns. É pouco sofisticado aprender a andar pelo seu próprio pé, e é ainda
menos sofisticado saber que podemos fazê-lo por nós próprios. Mas talvez um dia
percebam que aquilo que se faz apenas com o conhecimento de poucos pode ser
mais importante do que aquilo que é feito diariamente por milhões.
Inscreve-te já.
Não trouxe o BI.
disciplina/
indisciplina
A tranquilidade e o sossego
das cores e das manchas, e
tudo à volta; A inquietação e
o desassossego de quem ousa
inquietar e desassossegar os
sossegadinhos da vida e mesmo
os outros graças a mostras
superlativas, e frequentemente,
inquietantes; A aristocrática e
solene modernidade. O traço
ímpar e o risco sempre a par. Os
peixes são o principal tema de
Miguel Mateus, que apresenta
aqui um vasto conjunto que
remete para contextos vernáculos.
A beleza e a estranheza das suas
obras, que muitos considerarão
excêntricas, provém do modo
como ele negoceia, sempre de
maneira diferente, o equilíbrio
entre a sua origem profilática e o
conteúdo orgânico, questionando
o
sistema
hierárquico
de
apresentação que define os seus
seres e a sua materialidade.
MIGUEL MATEUS
Expõe, regularmente,
em lado nenhum.
Havia uma placa bonita na entrada
da minha escola que dizia Faculdade de Belas Artes do Porto. Nunca
ninguém percebeu muito bem o
que aquilo significava, especialmente aqueles que por lá passavam
repetidas vezes, em anos repetidos, em sequências monótonas
de transtorno, aborrecidos como
tudo. A coisa só ia tendo algum interesse espantado para aqueles que
não sabiam ainda o que por lá se
passava. Noutras faculdades eram
chamados de caloiros. Nesta eram
os imberbes.
A placa nunca foi perdendo o lustro. Lá dentro, não havia esteticistas, era tudo de sabão e esfregona.
A coisa mudou um bocadinho
quando a Universidade do Porto
renovou a placa, pondo a placa
ainda mais brilhante, novinha em
folha, com as insígnias todas que
uma escola decente merecia. A
grande mudança foi virem muitos
mais estudantes de Design, novinhos em folha, e uns curso novos
que, ao que parece, é para justificar
um edifício novo. E alguns makeup designers, também. Deixamos
de aparecer nos telejornais como
insurrectos, e passamos a ter um
futuro promissor no mercado de
trabalho.
tabula rasa
Tirando os primeiros tempos, nem
um só dia eu deixei de pensar que
aquilo se parecia mais com um
estaleiro do que com outra coisa
qualquer. Apenas ganhei o que
fui descobrindo sozinho ou com
a ajuda de alguns companheiros.
Depois da cegueira inicial, nem
um só dia eu pensei que iria receber mais do que poderia ganhar
sozinho, ou com essas companhias.
Nunca fiquei o triste suficiente por
o arrependimento poder matar.
Gastava o mesmo que os outros,
muito mais em livros do que em
tintas, e a proveniência era igual
à dos outros: patrocínio paternal
exclusivo. Poderia ter saído mais
cedo daquilo e procurado mais
conforto moral e rendimento intelectual. Na biblioteca havia poucos
livros interessantes. Os melhores
ficaram connosco.
O ócio acabava sempre por superar a vontade de não estar parado.
O ócio vencia-me e deixava-me
ser derrotado, com um sorriso dos
lábios. Era inteligente saber que se
estava melhor parado do que apresentar projectos. Ou pensar pouco
e bem a subir 2 valores numa disciplina qualquer que nos injectavam
como sonorífero.
O que fiz foi não seguir a vergonha
de estar a fazer muito e competir
para a história. Quando se compete, não é para chegar mais além,
é só para se ficar à frente de uma
linha no chão. De todas as lapas
que encontrei, poucas perceberam
que não sabiam ler, escrevinhavam
mal, comiam o que lhes davam,
observavam o que lhes passava à
frente.
Lembro-me sempre das primeiras
aulas teóricas. Nas filas de trás atiravam-se aviões com mensagens
eróticas. Para os outros, só era
preciso que lhes dessem muitas
disciplinas teóricas. Não era difícil. Copiava-se tudo que havia
na reprografia, ou aproveitava-se
os resumos da espertalhona do
5ºano. Desfilavam orgulhosos as
fotocópias dos resumos das cadeiras, exactamente como se fazia
em Biomédicas ou Engenharia,
esperançados por se terem desenrascado mais uma vez.
Quando chegou a Estética do sr.
Lapa, toda a gente fugiu a sete
pés. Como não havia resumos
fáceis nem teste dos anos anteriores, arrepiava-se caminho como
se podia. Digeria-se a literatura a
custo. E no fundo, tudo aquilo que
se realmente devia comer. Digerir
Adorno, Schopenhauer, Hegel e
Nietzsche naquele cenário montado não era fácil. Nunca ninguém
percebeu que a melhor maneira
de dar a volta a estes monstros era
precisamente ler outras coisas, precisamente aquelas que não estavam
nem na reprografia nem na biblioteca. Coisas que se encontravam
ou nos alfarrabistas empoeirados
ou na vandoma e onde, por sugestão disfarçada do senhor professor,
se poderia desvendar os “mistérios
sombrios” daqueles nomes feios da
estética.
Ninguém se importava muito em
passar por burro, desde que se
fosse fazendo as coisas. Nunca perceberam a importância de ouvir
alguém a falar como se de uma
conversa de café se tratasse. Muita
gente hipotecou o cérebro, deixando para mais tarde o esforço todo,
atrás de uma secretária qualquer.
Bastava um esforçozinho extra
para se pôr a render infinitamente
melhor.
Aquela placa significava pouco.
Mas o lustro que lhe davam todos
os dias, por vampiros que comiam
cérebros ao pequeno-almoço, significava alguma coisa. Os mesmos
vampiros que seguiam com desconfiança a estética do Sr. Lapa e
dos seus poucos alunos, os mesmo
vampiros cantaram louvores quando o Sr. Lapa sucumbiu. A placa lá
continua com o lustro puxado,
mas sem grande importãncia.
CONSTELLATIONS BY WHICH TO steer the barque of the
soul. “If the moslem understood Islam he would become an
idol- worshipper.”--Mahmud
Shabestari Eleggua, ugly opener
of doors with a hook in his head
& cowrie shells for eyes, black
santeria cigar & glass of rum- same as Ganesh, elephant-head
fat boy of Beginnings who rides
a mouse. The organ which senses the numinous atrophies with
the senses. Those who cannot
feel baraka cannot know the
caress of the world.
Hermes Poimandres taught
the animation of eidolons, the
magic in-dwelling of icons by
spirits--but those who cannot
perform this rite on themselves
& on the whole palpable fabric
of material being will inherit
only blues, rubbish, decay.
The pagan body becomes a
Court of Angels who all perceive
this place--this very grove--as
paradise (“If there is a paradise,
surely it is here!”--inscription
on a Mughal garden gate)..
But ontological anarchism is
too paleolithic for eschatology-things are real, sorcery works,
bush-spirits one with the Imagination, death an unpleasant
vagueness--the plot of Ovid’s
Metamorphoses--an epic of
mutability. The personal mythscape.
Paganism has not yet invented
laws--only virtues. No priestcraft, no theology or metaphysics or morality--but a universal
IMEDIATISM,
shamanism in which no one
attains real humanity without a
vision.
Food money sex sleep sun sand
& sinsemilla--love truth peace freedom & justice. Beauty.
Dionysus the drunk boy on a
panther--rank adolescent sweat-Pan goatman slogs through the
solid earth up to his waist as if
it were the sea, his skin crusted with moss & lichen--Eros
multiplies himself into a dozen
pastoral naked Iowa farm boys
with muddy feet & pond-scum
on their thighs.
Raven, the potlatch trickster,
sometimes a boy, old woman,
bird who stole the Moon, pine
needles floating on a pond,
Heckle/Jeckle totempole-head,
chorus-line of crows with silver
eyes dancing on the woodpile-same as Semar the hunchback
albino hermaphrodite shadowpuppet patron of the Javanese
revolution.
HAKIM BEY
Yemaya, bluestar sea-goddess
& patroness of queers--same
as Tara, bluegrey aspect of Kali,
necklace of skulls, dancing on
Shiva’s stiff lingam, licking
monsoon clouds with her yardlong tongue--same as Loro
Kidul, jasper-green Javanese
sea-goddess who bestows the
power of invulnerability on
sultans by tantrik intercourse
in magic towers & caves.
From one point of view ontological anarchism is extremely
bare, stripped of all qualities
& possessions, poor as CHAOS
itself--but from another point of view it pullulates with
baroqueness like the FuckingTemples of Kathmandu or an
alchemical emblem book--it
sprawls on its divan eating loukoum & entertaining heretical
notions, one hand inside its baggy trousers.
The hulls of its pirate ships are
lacquered black, the lateen sails
are red, black banners with the
device of a winged hourglass.
A South China Sea of the mind,
off a jungle-flat coast of palms,
rotten gold temples to unknown
bestiary gods, island after island,
the breeze like wet yellow silk
on naked skin, navigating by
pantheistic stars, hierophany
on hierophany, light upon light
against the luminous & chaotic
dark.
The tourism consumes difference.
Je suis presentement a Lhassa et je quitte sous peu le Snowland Hotel pour me diriger vers le nord et tenter de rejoindre
Golmud ou je pourrai prolonger mon visa chinois. Depuis mon dernier e-mail a tous j’ai fait le tour des annapurnas avec
un français, un guide nepalais et un sac de 12 kilos, j’ai manger du yak et du buffle, beaucoup de riz et d ail, je suis monter
a 5400 m d’altitude, j’ai franchis le col le plus large du monde (?), je suis aller au Tilicho Lake, le lac le plus haut du monde
(selon les nepalis), j’ai longer les gorges les plus profondes du monde (sur les bords de la Kali Gandaki(toujours selon les
nepalis)), j’ai vu un livre de plus de 700 ans, beaucoup de montagne, des moutons bleus, des porteurs qui portaient plus
de 80 kg en petite babouche, ai vu des enfants courrir vers nous les mains noirs de hash pour se faire quelques sous et
quoi encore. Nous sommes arrives a Pokhara, y sommes restes quelques jours, suis descendus a Chitwan ou j ai marcher
dans la jungle, me suis balade a dos d elephant, n ai vu que peu d animaux sauvage, suis aller dans une ferme d elephant,
ai caresser un bebe rhinoceros, ai fait du canot, ai chiller sur la plage, ai rencontrer un americain et une chinoise avec qui
je suis aller a Lumbini, ville ou est ne Lord Buddha, sur le toit des autobus et en tracteur, puis a Kapila Vastu, encore en
tracteur, ruines du palais ou il aurait grandit. Y avons dormi dans le shittiest guest house ever, avec rats, grenouilles et
bibittes grosses comme une balle de golf. Sommes remonter sur Tansen sur le toit d un bus, super cool ride avec gorges
et montagnes. Quelques jours, balades et shopping, upgrade de deux poches laterales sur ma ceinture lombaire pour
porter mon eau et mon fuel. Dix minutes avant ma derniere nuit, le ciel s est enfin decouvert pour nous laisser voir une
grande partie des himalayas. Top top. Puis tres trop longue bus ride vers Katmandu via Pokhara. Suis parti a 7 heures du
matin en bus et suis arrive a minuit a Ktm pour un total d environ 500 km. Ai passer deux jours ultra speed chez Rahda
et Sher pour finaliser mes preparatifs pour le Tibet puis ai join un groupe de 22 personnes et avons busser 5 jours jusqu
a Lhassa sur la Frienship Highway. Je ne fais pas grand choses depuis deja 6 jours. J ai visiter le Potala et plusieurs monasteres, je me suis acheter des vetements d hiver, un trench coat de pelerin tibetain double en peluche (que j avais d abord
pris pour de la laine) et des gants de l armee chinoise doubles en fourrure. Il me manque encore des bottes, j espere les
trouves bientot. J ai visiter des monasteres. J ai fait sensation dans les discos tibetaines. J ai vomi toute une nuit grace a
deux oeufs que je nai pas assez cuit (je voulais un jaune pas cuit, je vous jure que jen mangerai plus). Comme cette sorte
de jell-o de riz dans la sauce soya, j ai mal au coeur rien que d y penser. Ya les nouilles froides a 2 yuans, (20 centimes d
euros), qui sont vraiment bien avec des peanuts et de la sauce soya. Aussi les brochettes de yak qui sont cuites sur des
petits fours dans la rue et qui comportent des morceaux que de gras qui sont je doit l avouer succulents. Ce matin je vais
mieux je me suis claquer un yak burger pour dejeuner. Ya aussi le the au beurre de yak qu un moine ma fait boire. Ouf.
C est franchement pas bon. C est sale. Pis quand jen ai eu bu la moitie (j avoue que j etait fier), l autre moine viens me
le remplir, non non non que jy fait poliment, oui oui oui, qui me repond encore plus poliment, apres trois cups quand j
ai finalement reussi a partir j avais comme une nouvelle sensation de vite vouloir d autre chose a boire mais d etre plein
et graisseux (!?). Well. Les tibetaines jouent au aki avec des amoncellements d elastiques. Puis j ai jouer au freecell avec
une chinoise, faute d etre capable de se parler, et, pour les connaisseurs, ils ne jouent qu avec trois espaces de libre mais
p euvent deplacer n importe quoi, sans se soucier des espaces de libre... anyway. J ai aussi jouer au Rummy nepalais dans
les montagnes et quand ce vieux francais nous a montrer le rummy francais, j avoue que jai trouver ca beaucoup mieux.
Le rummy francais cest comme notre rummy. Le rummy nepalais, cest sa plus simple expression. Aujourd hui je me suis
acheter le guide du routard chinois apres avoir longuement explique a la serveuse du restaurant qu elle possedait le 2001
et le 2002, donc qu elle pouvait men vendre un, car il ny a pas de librairies qui vendent de livres en anglais a Lhassa et les
Lonely Planets sont interdits (!?), et je me suis rendu compte apres que le fucking guide du routard ne parle que dune
dizaine de villes chinoises, ce quils font chier. Incroyable. Bon. Mon plan est de tranquillement sortir du Tibet par le
nord-est car j ai ete vivement decourager d essayer de prendre la route du mont Kailash, 18000 yuans, 1800 euros, fuck,
donc je me dirige vers Golmud et je vais ensuite aller visiter le nord-ouest chinois, puis p-e le nord de la chine ou la
mongolie. Lets see la temperature et le cetera. Bon, j imagine que j en oublie pas mal. C est un peu triste, mais c est la vie.
En conclusion, le Nepal rules, ca bouge, ca pullule, ca l abonde, de la jungle a la montagne, plein de bonnes bouffes, des
gens cools et relaxs, des paysages, la folie des villes, les vaches partout, l armee partout, la pauvrete, beaucoup de drogues
et d alcool, Hare Hare Shiva, beaucoup de temple, une grande tolerance religieuse,
un pays super, si la revolution peu finir ou donner quelques choses ... et le Tibet
c´est super beau, froid, desertique, des lacs et des montagnes et un vide culturel
a faire pleurer, des batailles de rues a chaque jours, des pelerins habilles super
cool, des sourrires sans arret, des oeufs pas assez cuits, pleins de chapeaux, des
moines partout, pleins de temple ytoo, pis la technologie, amene par les chinois,
internet, neons, beton, building, la vieille Lhassa est plus bien grande et cernee
well, j en dirai pas trop parait-il que les mails sont lu. Anyway. Louis
alchool junkie
Podia ser simplesmente como tu. Não
tenho um emprego estável, que me paga
extremamente bem, mas podia tê-lo. O
suficiente para me tornar rico, se assim
o quisesse. Tenho um bom apartamento,
uma namorada bonita, que tenta arranjar
trabalho a toda a força. E tenho também
um saudável hábito pelo alcoól. Não estou
sozinho, somos alguns, e todos desrespeitosos. Não escondemos a identidade,
mas sabemos de muitos outros com os
mesmos apetites que o tentam fazer. Alguns outros, que pertencem a uma classe
misteriosa, perderam já a vergonha toda,
e não renegam a nada a não ser perder o
próximo corpo. É comum achar-se pela
noite passados gloriosos, que o uso regular do alcóol enxovalha. O alcoól não tem
possibilitado uma convivência saudável
com um emprego, pelo menos por um
longo prazo.
As pessoas normais parecem não ter mais
medo do alcoól, nem da droga. Tomamna por acessos de ordem variada. Normalmente, mundanas, ou de preguiça, ou da
felicidada ébria. Sentir passar o tempo,
simplesmente. O alcóol espera pacientemente, em qualquer lado onde haja
bebida. Deixa-nos escorrer o seu tempo
precioso. A droga ataca, incansável, esse
tempo. Convive com o penitente isolamento.
O alcóol, em ingestão massiva, acaba sempre por ser um fruto pouco apetecido para
heroína1
Posso considerar a Literatura como
minha iniciadora na primeira fase do
consumo de heroína. Em ambos os
campos vou oferecendo os braços, em
conjunto. Nos dias em que a heroína nos
é mostrada, tornando-se ameaçador tudo
aquilo que se vê, o corpo organiza-se por
quartos vazios, parámos na textura do
chão e paredes simultaneamente juntas
pela cor da poeira, qual boiada mansa
que se acostumou a seguir o caminho
certo atrás do som do chocalho. Com as
portas fechadas como câmaras escuras,
cada um dos parceiros conhece bem o
outro par. É preciso, o heroinómano
deve sempre trabalhar a heroína com
três mãos. A maior parte das cabeças
que eu vejo reunidas para o caldo estão
consternadas, cansadas pela frustração da
realidade física e mental, num exercício
de partilha de soluções camufladas
e desconhecidas, desastradamente
misturadas entre si. Trepaceia a
intimidade do metal fino com a pele,
o seu fascínio mitológico internado
quem frequenta algum tipo de mainstream. Assemelha-se a um banquete tasqueiro, orgulhosamente escondido na sua
pobreza, sem grande brilho. É nos sítios
mais pobres que normalmente se pode
sentir mais a sua riqueza honesta. Em
cima de mesas de mármore não fica bem
uma garrafa ordinária de cerveja, mas sim
uns lindos riscos de coca. Não funciona
bem com uma roupa de última estação, a
menos que tenha as mesmas cores da saia
ou do baton.
A tentação moderna puxa sempre pelos
seus requesitos mais fúteis. Toda a gente
de todo o lado procura a heroína, a cocaína ou o ecstasy, sem tentar conhecêlas primeiro. É pela embalagem que fala
melhor. A sua expressão mais profunda
coroa-se na solidão, que é aí que elas trabalham melhor o extâse.
Os progressistas “clean” rejubilam por
achar que nada neste mundo é secreto,
e podem confiar naqueles que, secretamente, levam uma vida dupla. Toda esta
gente perde os sentidos na sua orientação:
alguma droga moderna estanca os desejos,
mesmo que se seja um fantástico empresário de sucesso, ou um designer “cool”.
Viver um dia de cada vez, e esperar pelo
abastecimento. O alcoól tem a amabilidade de nos refazer o futuro, diariamente, se
for o caso, sem grandes surpresas. Calculamos que bebemos mais para viver mais,
o que nem sempre acontece com os outros
refrescos para o espírito.
Sem turismos intelectuais, o alcoól também não nos faz exemplos de nada para
na habituação dos dedos plásticos e
secos para o corredor do sangue. Com
a posição e direcção das veias bem
definidas, conseguimos estabilizar o
suor frio e pesado do corpo. Preparamos
o caldo recalcando a orientação dos
sentidos e da atenção – aqui, lembro-me
sempre de alguém da família. O prazer
e a diversão na movimentação das mãos
em conjunto. Cabeças a baixar como
olhos que se reduzem, membros quase a
tremer como exemplos vivos.
São
diálogos
em
limites
desconhecidos aquilo que a territorialidade
do crime nos relaciona intimamente.
Somos todos filhos e irmãos de alguém
pela rapidez do tempo, manipulando-o
de forma recorrente, reunindo a educação
da dependência dantesca. Darmo-nos
em consulta é nisso que tudo passará,
aguçando arestas côncavas. Os pontos de
apoio estão habitualmente ao lado, pelo
outro heroinómano em repouso e seu
rigor. Há uma diferença no entusiasmo
no decorrer do tempo, uma incapacidade
em se agir para o lado contrário do círculo
polar, em todo o seu trajecto. É preciso
não amealhar sem demora, percorrer
os graus da aproximação histórica.
Chamam-se soldados para o relatório.
Apercebemo-nos da sombra do corpo e
de todas as coisas, os desenhos macabros
que vão mudando de forma, moldando a
muita gente. Mas faz-nos exemplos de
nós próprios, sem perdas monstruosas
inesperadas.
Sabe-se que, por exemplo, o ópio cria as
aventuras por nós, mantendo o extâse
constante e por muito mais tempo. Mas,
gostando de dor, o que é preferível a um
disparo senão uma morte lenta e dolorosa?
O alcoól remistura a nossa vida, e dá-lhe
um impulso especial. A heroína e a cocaína parece corresponder a um tempo
apressado de fusos horários de gabinete.
Exige métodos clínicos, e cumprimentos
militares. Ou o showbizz de mostrar comportamento.
O alcóol raramente tem parasitismo,
porque tem um tempo próprio. Nos dois
casos, a expressão “tempo perdido” tem
significados contrários.
Um tempo perdido por angústia e um
tempo perdido por gosto. Faz-se da droga
o que não se faz com o alcóol: torná-la um
objecto para sacrifício. E jogar este jogo
não está nos planos de uma passividade
que o alcoól provoca, e pela qual se pode
optar.
Viver com alcoól no corpo pode, claro, ser
uma opção terrível. Ainda assim, é infinitamente mais controlável. No alcóol, nunca
se desespera por nada, nem por ninguém.
Não há grandes reacções imprevisíveis,
nem suspeitas acerca de nada... O alcóol
fabrica o hábito do organismo. A droga
fabrica o hábito em tabelas e horários.
intensidade dos olhos impondo euforia,
onde menos se espera. Há uma relação
de amor entre a inauguração fálica das
mãos e a rigidez cadavérica do egoísmo
provisório, de acordo com a necessidade
do fenómeno.
(Footnotes)
1
Bayer. S. l., 1897.
A heroína é mítica: tem um corpo de
prazer, mas um prazer sem corpo. Como
um manequim velho, coloca as melhores
peças para não obter resultados. O alcóol
é ancestral, a heroína e a cocaína foram
criadas pela Bayer.
Mas quanto melhor se podem conhecer
companheiros de um vida pelo alcóol e
pelas tavernas do que pelo consumo dependente... E quanto falta ainda viver as
cidades antes que elas dêm o último suspiro, primeiro do que tentar fugir delas...e
a essência da boa droga é quase sempre
uma saudável reclusão, como acabam por
confessar quase todos os opiómanos.
O alcoól cria a leve sensação de que estamos a manter apenas e só a fluência do
organismo. Faz parte uma boa mesa uma
boa dose de alcóol. Sem grandes custos,
pode-se conseguir uma boa bebedeira
por 10 euros, à base de cerveja ou vinho,
sem que uma noite de 7 ou 8 horas fique
descontrolada. Querer estar dopado não é
o mesmo que querer estar bebâdo. Normalmente, nunca se quer estar bêbado.
Está-se por consequência natural. Mas
quase sempre é preciso estar-se dopado
por variadas exigências exteriores onde
pouco importa alguma coisa.
Enquanto embriagado, os sentidos fervilham e são pouco selectivos. Disparam em
todas as direcções, a coragem é inflacionada, todos os orgãos trabalham. Nessas
soletrias de droga injectada, os devedores
que o digam, há sempre um compromisso
Este espaço em bran
tido na paginação, p
diferença com o outr
quanto se vai lendo
já acabou há muito.
posterior de retirar alguns demónios do
corpo.
Muitas pessoas ficariam chocadas pela
quantidade de viciados que vivem ao lado
delas. Por outro lado, quando se bebe, não
se precisa de estar e conhecer com uma
classe diferente.
A heroína é perfeita para outras dependências: o trabalho monótono, a vida
repetitiva. Cria um estado abjecto de normalidade e perfeito funcionamento.
O circuito da compra e da venda da droga
cria um outro circuito: onde consumi-la.
O alcoól está normalmente associado,
para além dos locais habituais de consumo, a uma certa divagação urbana sem
grandes pré-requesitos ou instruções de
utilização, nem palcos especiais para o
efeito.
O consumo de heroína é metódico, tomado sempre em espaços específicos, ou
no próprio sítio onde se compra, ou em
situações particulares. No alcóol há uma
certo culto por espaços, normalmente
noctívagos, onde se podem encontrar os
seres mais incríveis deste planeta, com a
vantagem de os podermos disfrutar.
A heroína raramente vem pura, porque
se tornou num negócio tremendo, e é
cortada e racionada. Tal qual como as
lindas garrafas de vinho que já só são
fabricadas industrialmente, que querem
fazer esquecer a qualidade do líquido que
traz. Mas mesmo assim, continuamos a
poder confiar mais nessas embalagens de
cores variadas do que nos sacos plásticos
transparentes com pós brancos.
RAPAZIADA
Partir de um ponto tangível sem direcção aparente, com o
intuito de desviar o olhar daquele que parece ter-se esquecido
que a estatuária de gesso está a apodrecer num canto cheia de
pó. Elogiar a ferida em deterimento da maquilhagem, usando
ferramentas meticulosas de representação, como armas surpresa para abanar com a consciência apática de quem se embriagou pela imagem. Oferecer um prato de rojões marinados em
vinho verde tinto a quem se habituou a viver com sandwiches
de estação de serviço. Retratar lixo como kits hi-tec e rapazes
como princesas de revista, fazer dos modelos a história, ou
melhor, fazer história nenhuma. A pergunta persiste, será que
devemos promover as imagens ou elas é que nos devem levar
às costas? Os mais comodistas aranjam um Sansão para as
transportar de porta em porta, os mais frenéticos esforçam-se
por distribuí-las em fracções de segundo para todo e qualquer espaço que não ocupe lugar. As facções puxam as pontas
aguerridamente tentando chegar à margem. Esquecem-se que
para tanta força tanta mais valia saltar à corda. Felizmente não
me cabe a ingrata tarefa de transportar a resposta, mas de repetir a pergunta vezes sem conta até que ela se torne absurda
e saia de cena. Sobra pouco para ver nos dias que correm. Ou
se armazena na dispensa dos costumes ou se espera que passe
silenciosamente ao nosso lado.
ESTA PUBLICAÇÃO NÃO TEVE O AMÁVEL PATROCINIO DESTAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
AULA TEORICA
2 (DUAS) HISTÓRIAS PARA CRIANÇAS
(EMANCIPADAS) ONDE SE PRETENDE
DEMONSTRAR QUE A = ARTE ACADÉMICA = E A = ARTE MODERNA EMBORA TENDO NASCIDO DE MOTIVAÇÕES
DIFERENTES ACABAM POR SERVIR OS
MESMOS FINS
Dar aulas para ensinar o quê a quem?
O PINTA-MONOS
Era uma vez um macaquinho que tinha muita habilidade para pintar. Todos os
macacos importantes desejavam que ele lhes pintasse o retrato. O macaquinho
tinha um jeito especial para apresentar os modelos sob os ângulos mais favoráveis,
de modo que todos os retratados ficavam muito satisfeitos. Desta forma começou a
ganhar muito dinheiro e fama. Apaixonou-se por uma linda macaquinha que fazia
versos e resolveu casar. Mas a macaquinha disse que não casava com um imbecil
que só pintava para imbecis. O macaquinho começou então a pintar paisagens,
mas os figurões da macacada continuavam a comprar-lhe os quadros para depois
exibirem aos amigos como se fossem as suas terras. A macaquinha não gostou e
continuou a chamar imbecil ao macaquinho. Este desesperado, passou a pintar
naturezas mortas: amendoins, bananas, ameixas, cocos. Mas os macacões continuavam sempre a comprar os quadros. Desta vez punham-nos nas suas salas de
jantar e mostravam aos amigos os frutos esplêndidos das suas quintas e herdades.
A macaquinha que fazia versos não suportou mais e disse ao pobre macaquinho
apaixonado: ”Não consegues passar de um imbecil pinta-monos, desampara-me
a loja de vez.”. O macaquinho, ao ver-se assim repelido, não resistiu ao desgosto
e matou-se. Com a morte do macaquinho acabou-se a “arte académica” naquele
reino da macacada.
UMA ESTÁTUA PARA PACO PAREDES
Num “pueblo” Andaluz existia um burrico que dava pelo nome de Paco. O pobre
burrinho, que passava o dia em carrego, só se sentia verdadeiramente satisfeito
quando, ao chegar ao estábulo, abancava à manjedoura agitando alegremente
o rabo. Um dia, uns pintores que andavam a pintar as casas do dono do Paco
deixaram algumas latas de tinta no estábulo. Quando o Paclo acabou o seu dia
de trabalho e abancou à manjedoura, agitando alegremente o rabo, como sempre
fazia, o apêndice caudal, devido às dimensões exíguas do estábulo, ora se molhava
numa oura noutra lata de tinta e, em pouco tempo, a parede que estava por trás
dele converteu-se num lindo quadro de parede abstracto. Na manhã seguinte, os
filhos do dono de Paco ao verem o que tinha acontecido chamaram o pai: “Olha,
paizinho, já viste o bonito quadro que o Paco fez?” Se o pusesses no nosso quarto
ele fazia o mesmo e o nosso quarto ficava muito mais bonito.” O dono do Paco
achou praticável a ideia de transformar o quarto dos filhos num estábulo, mas
aproveitou a ideia de outra maneira: colocava telas por detrás de Paco, que as ia
pintando alegremente enquanto comia. Os quadros passaram a decorar o quadro
dos filhos do dono do Paco. E os amigos dos filhos do dono do Paco, quando viram
os bonitos quadros, também pediram aos pais para que lhes arranjassem quadros
idênticos para decorar os seus quartinhos. A ideia espalhou-se e o Paco não tinha
mãos a medir, que é como quem diz, não tinha rabo a medir. A partir daí, Paco,
que por causa da sua vocação passou a ser designado por Paco Paredes, deixou
de ser empregado nos carregos e começou a estar o dia inteiro a comer e a pintar
alegremente. Ora isto de passar a vida a comer não convém a ninguém, mesmo a
um burro tão prendado como era Paco Paredes. E um dia, zás, esticou o pernil com
uma indigestão. O dono do Paco, que tinha enriquecido com os quadros que ele
tinha pintado em sinal de reconhecimento mandou erigir-lhe uma estátua.
Como
Como deitar
fazer um abaixo o
Minete Governo
CORRECTO
Uma vez que o soldado de baioneta
deixou de pairar nos campos de batalha actuais, qualquer governo actual
pode ser remexido por meios mais
limpos e eficazes. Reconhecer o inimigo,
cobri-lo e controlá-lo é mais simples e
mais directo. Estudá-lo implica apenas ler o que está facilmente acessível,
cobri-lo precisa apenas de conhecimentos electrónicos básicos, e controlá-lo é
convencer as massas sedentas de novos
mitos: a Dica da Semana poderia ser o
melhor meio, desde que bem utilizado.
Seria fácil de pagar a qualquer arrumador de carros o equivalente ao que
ele ganha no seu dia de trabalho para
distribuir as boas novas. A rotatividade
frequente com que caem governos não é
um sinal das suas fraquezas, mas antes
uma característica nova da sua impunidade. Não há depressão moral nem
vencidos nos governos actuais. Quem
cai de um poleiro tem sempre um outro
à espera. Mas os galos de todos os poleiros nunca esperam pelas técnicas mais
simples, como por exemplo, alguns
exemplares desta revista servirem,
por mero acaso ou não, para serem
arremessados violentamente contra as
piores mentes dos governos.
inCORRECTO
Propõe-se uma angariação voluntária
de uma personagem feminina onde esteja explícito uma vontade inequívoca
de ser lambuzada na sua parte interior
íntima. Claro está que isto poderá não
ser verificado nas primeiras abordagens de parte a parte, mas normalmente faz-se um percurso de conhecimento
mútuo de poucas horas até se chegar
ao efectivo processo de voluntariado. Poderão ser necessárias técnicas
antigas, tais como a visualização de
um filme propício, ou breves leituras
de literatura importante que esteja à
mão, ou pura simplesmente três dedos
de conversa. Esta é a melhor das três,
pois incita confiança. Não esfrascada
e rotulada, comprada por um par de
escudos, mas adquirida por meio de
costumes simples e sãos, pela bondade
natural e, acima de tudo, pela pureza
da alma. Então, a beleza do momento
chegará, incólume. As alcatifas peludas
e usadas por muita gente são os locais
menos aconselhados, visto do ponto vista higiénico poderem provocar
alguns problemas. Qualquer superfície
esponjosa e de materiais rasos e pouco
absorventes serão o palco ideal para o
efeito.

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