MedABC – 11 - Fundação do ABC
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MedABC – 11 - Fundação do ABC
Informativo Mensal da Faculdade de Medicina do ABC | Ano II - Nº 11 - maio DE 2016 A Revista MedABC de maio traz um alerta: cerca de 10 milhões de brasileiros têm algum tipo de disfunção renal. Apesar de ser facilmente diagnosticada, a doença renal é silenciosa, complexa e, muitas vezes, fatal. Por essa razão, a prevenção é fundamental e pode ser feita a partir de medidas como o controle da pressão arterial e do diabetes, prática regular de atividades físicas e alimentação saudável. Outro tema em destaque este mês é a incontinência urinária – problema que, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, atinge 5% da população mundial. No Brasil, a estimativa é de que 10 milhões de pacientes estejam nessa condição, sendo que as mulheres apresentam duas vezes mais o problema quando comparadas aos homens. Considerada a doença neurológica mais prevalente entre jovens na Europa e na América do Norte, a esclerose múltipla atinge milhões de pessoas em todo o mundo. Afeta o sistema nervoso central e pode ocasionar perda súbita da visão e da força muscular, tremores, dificuldade para andar, alterações de fala, de memória e de sensibilidade, entre outros sintomas. Já a fibromialgia é uma doença reumática de difícil diagnóstico, cuja principal característica são dores difusas pelo corpo, mal definidas e associadas à fadiga e aos distúrbios do sono. Por fim, aproximadamente 15% da população pode apresentar urticária pelo menos uma vez na vida. Os principais sintomas são coceira no corpo todo e lesões avermelhadas que desaparecem geralmente em 24 horas e voltam repentinamente. Boa leitura! A Revista MedABC é um informativo mensal da Fundação do ABC/Faculdade de Medicina do ABC, de distribuição gratuita e tiragem de 60.000 exemplares. Diretor da FMABC Dr. Adilson Casemiro Pires Vice-Diretor Dr. Fernando Luiz Affonso Fonseca Produção: Departamento de Comunicação da Fundação do ABC e Comunicação e Marketing Educacional da Faculdade de Medicina do ABC. Textos e Fotos: Joaquim Alessi e Eduardo Nascimento. Artes e Editoração Eletrônica: Fernando Valini. Endereço: Av. Príncipe de Gales, 821, Bairro Príncipe de Gales, Santo André - SP. CEP: 09060-650. Contatos: [email protected] / (11) 2666-5431. Endereço eletrônico: www.fmabc.br e www.fuabc.org.br. Incontinência Urinária Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a incontinência urinária atinge 5% da população mundial. No Brasil, a estimativa é de que 10 milhões de pacientes estejam nessa condição, sendo que as mulheres apresentam duas vezes mais o problema quando comparadas aos homens. Outro público bastante afetado são os idosos, que muitas vezes deixam de procurar ajuda por acreditarem que a perda de urina faz parte do envelhecimento e que não há nada a ser feito. Entretanto, é preciso ressaltar que a incontinência urinária tem tratamento e muitas vezes é possível obter a cura. Conforme definição da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a incontinência urinária é a perda de urina que o paciente não consegue controlar. Não é só um problema físico e pode afetar aspectos emocionais, psicológicos e a vida social das pessoas. Muitos que sofrem com essa condição têm medo de fazer as atividades diárias normais e expor o problema. Além disso, não podem ficar muito longe de um banheiro e evitam aglomerações de pessoas. São muitas as causas para a incontinência urinária. Muitas vezes a perda involuntária é sintoma de outras doenças, entre as principais câncer de bexiga ou de próstata, diabetes, aumento da próstata e infecções do trato urinário. Outras condições de saúde que aumentam o risco para incontinência são gravidez e partos, obesidade, esclerose múltipla, doença de Parkinson, acidente vascular cerebral (AVC) e envelhecimento, entre outras. Devido à grande variedade de possíveis causas, é fundamental que o paciente deixe a vergonha de lado e procure ajuda profissional especializada. Dessa forma, será possível obter um diagnóstico preciso sobre o problema e dar início ao tratamento mais adequado. Uma importante ferramenta terapêutica contra a incontinência urinária é o exame de urodinâmica. Trata-se de avaliação de alta complexidade e longa duração (que varia de 40 minutos a uma hora), que serve para aferir a função da bexiga, medindo a capacidade de armazenamento e como ocorre o esvaziamento. A indicação, na maioria dos casos, é para pacientes com distúrbios neurológicos, mulheres com incontinência urinária e homens com problemas na próstata. Dr. Caio César Cintra Médico urologista e presidente da Associação Brasileira pela Continência B. C. Stuart 2 Dr. Daniel Rinaldi dos Santos Professor de Nefrologia da Faculdade de Medicina do ABC Os cuidados contra a Doença Renal A doença renal é uma enfermidade complexa e fatal. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, cerca de 10% da população mundial sofre de algum tipo de doença renal e, anualmente, milhões de pessoas morrem devido a complicações decorrentes da doença renal crônica (DRC). No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas têm alguma disfunção renal. Entre as principais causas para a perda da função dos rins estão hipertensão arterial, diabetes e glomerulonefrites. É importante ressaltar que o problema pode ser facilmente diagnosticado por meio de exames de urina e da dosagem de creatinina no sangue. O tratamento adequado retarda a progressão da doença, reduz as mortes e os custos terapêuticos. Apesar da simplicidade diagnóstica, a doença renal é silenciosa. Na maioria dos casos, os pacientes procuram o especialista já no quadro terminal de insuficiência renal crônica. Trata-se de quadro grave, em que há perda progressiva da função renal. Os dois rins param de funcionar ou funcionam de maneira precária. Com isso, as impurezas permanecem na corrente sanguínea e passam a afetar outros órgãos, como o coração, cérebro, pulmões, estômago e músculos. Por isso, o melhor remédio é a prevenção. Controlar a pressão arterial e o diabetes, praticar atividades físicas regulares e manter a alimentação saudável são algumas das recomendações. O tratamento preconizado contra insuficiência renal crônica é a diálise por toda a vida ou o transplante renal. Atualmente existem dois tipos de diálise e a opção terapêutica é feita a partir da avaliação médica do paciente. Na hemodiálise, o doente passa por três sessões semanais de aproximadamente quatro horas cada. O tratamento geralmente é realizado em clínicas especializadas e consiste na filtragem do sangue por equipamento específico, que substitui a função do rim. A segunda alternativa é a diálise peritoneal, realizada diariamente através da cavidade peritoneal (na barriga) e em regime domiciliar, desde que sob supervisão familiar ou de profissional treinado. A Sociedade Brasileira de Nefrologia recomenda que a população siga o que chama de “8 regras de ouro” para a prevenção da doença renal crônica: 1 - Mantenha-se em forma e pratique atividade física regularmente. 2 - Controle o nível de açúcar no sangue (glicemia) para evitar o diabetes. 3 - Monitore sua pressão arterial. 4 - Mantenha sua alimentação saudável e evite o sobrepeso. 5 - Mantenha-se hidratado, tomando líquidos não alcoólicos. 6 - Não fume. 7 - Não tome remédios sem orientação médica. 8 - Consulte um médico regularmente para verificar a situação dos seus rins. foto: agencia.ac.gov.br 3 Dra. Margarete de Jesus Carvalho Professora de Neurologia e coordenadora do Ambulatório de Distúrbios de Movimento da Faculdade de Medicina do ABC Esclerose Múltipla Considerada a doença neurológica mais prevalente entre jovens na Europa e na América do Norte, a esclerose múltipla (EM) atinge aproximadamente 2 milhões de pessoas em todo o mundo. É mais comum em países de clima temperado e acomete com maior frequência o público feminino, na proporção de 2 mulheres para cada homem. O problema tem maior prevalência em adultos entre 20 e 40 anos, raramente atingindo crianças e idosos. A prevalência da doença é de 2 casos a cada 100.000 indivíduos nos países tropicais e de até 150 casos a cada 100.000 indivíduos nos países nórdicos. De causa desconhecida, a EM é uma doença inflamatória crônica que afeta o sistema nervoso central. Assim como lúpus e diabetes, é uma doença autoimune, caracterizada quando o sistema imunológico deixa de reconhecer o organismo e passa a combater não apenas inimigos, como bactérias e vírus, mas também tecidos e células saudáveis. Na esclerose múltipla, o sistema imunológico agride a bainha de mielina – camada que envolve estruturas dos neurônios denominadas axônios. Quando ocorre a lesão inflamatória da bainha de mielina 4 do axônio, temos o chamado surto, cujos sintomas duram pelo menos 24 horas. A doença acomete diferentes partes do cérebro e da medula espinhal. A ocorrência dos surtos é imprevisível. Entre os principais sintomas estão visão dupla (diplopia) ou perda súbita da visão, fadiga, tontura, perda total ou parcial da força muscular, tremores, falta de coordenação motora, dificuldade para andar, alterações de fala, de memória e de sensibilidade. Tendo em vista as diferentes formas de manifestação, a esclerose múltipla pode ser confundida com acidente vascular cerebral, vertigem ou fadiga crônica, entre outras doenças. Dessa forma, o diagnóstico é difícil na maioria dos casos. Exames de ressonância magnética, potencial evocado e de líquido cefalorraquiano (líquor) auxiliam na confirmação diagnóstica, bem como exames laboratoriais. Apesar de não ter cura, o tratamento medicamentoso é bastante eficaz. Os objetivos são reduzir o número e a gravidade dos surtos, assim como a quantidade e a dimensão das lesões, além de retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Além do acompanhamento com neurologista, o tratamento deve ser multidisciplinar, com apoio de áreas como fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia, além de orientação nutricional e de outras especialidades médicas como urologia, psiquiatria e fisiatria. Dra. Roberta Jardim Criado Médica alergologista e coordenadora do Ambulatório de Urticária e Alergia a Drogas da disciplina de Dermatologia da Faculdade de Medicina do ABC Coceira pelo corpo e lesões avermelhadas: conheça a Urticária Aproximadamente 10% a 15% da população pode apresentar urticária pelo menos uma vez na vida. Trata-se de doença de pele extremamente comum, que forma vergões ou urticas (como uma mordida de inseto), que podem ocorrer em conjunto com inchaço nos olhos, lábios e, em alguns casos, na região da garganta (edema de glote). Os principais sintomas são coceira no corpo todo e lesões avermelhadas que desaparecem geralmente em 24 horas e voltam repentinamente, podendo sumir em poucas semanas ou levar anos para desaparecer. A doença é mais frequente em adultos, mas também pode aparecer em crianças. Responsável por muitos aborrecimentos e pela perda de qualidade de vida, a urticária também prejudica o sono e, muitas vezes, faz com que o paciente não consiga desenvolver atividades de rotina – como trabalhar ou frequentar a escola – devido ao grande incômodo. Entre as principais causas da urticária aguda, que dura menos de 6 semanas, estão a alergia a medicamentos, as infecções virais e a associação entre medicamentos e infeções virais. Já as urticárias crônicas, que duram mais de 6 semanas, não têm causa específica e, na maioria das vezes, são espontâneas. Também existem as urticárias físicas, relacionadas ao frio, calor ou exercícios físicos, por exemplo. Os alimentos, ao contrário do que muitos imaginam, estão entre as causas mais raras para o aparecimento da doença. Para determinar o tratamento, inicialmente é feita avaliação clínica, seguida de exames complementares. Raramente há necessidade de testes de alergia. Com o diagnóstico, a terapia é à base de antialérgicos e outros medicamentos, de acordo com a necessidade de cada paciente. Apesar de estarmos no outono, as altas temperaturas registradas no mês de abril, não habituais nessa época do ano, favorecem a piora de algumas alergias de pele, em especial um tipo de urticária chamada de colinérgica. Nesse tipo de doença, as lesões de pele ocorrem quando há aumento da temperatura corporal, como nos banhos quentes, na prática de exercícios físicos, pela sensação climática mais acentuada ou até mesmo quando o paciente fica nervoso, por exemplo. O diagnóstico preciso da urticária e o tratamento adequado contribuem muito para a melhora dos sintomas. Dessa forma, recomenda-se procurar um especialista logo nos primeiros sinais da doença. 5 Dr. José Carlos Mansur Szajubok Professor de Reumatologia da Faculdade de Medicina do ABC Fibromialgia A fibromialgia é uma doença reumática em que não se observa inflamação das articulações. Distingue-se por dores difusas pelo corpo, mal definidas e associadas à fadiga e distúrbios do sono. Caracteristicamente, não apresenta alterações nos exames laboratoriais. Dessa forma, se ocorrerem tais alterações, o diagnóstico de fibromialgia será pouco provável. Não se conhece o número preciso de pessoas acometidas pela afecção, tendo em vista que a definição dessa doença é relativamente recente e controversa. Mas sabe-se que a fibromialgia é mais frequente em mulheres adultas. O motivo exato também é desconhecido, mas parece estar relacionado com a modulação da dor influenciada por diversos fatores. A fibromialgia está relacionada ao controle e à percepção da dor. Falar que a doença é psicológica significa simplifi- car muito uma situação. Nessas circunstâncias, abrem-se brechas para diagnósticos superestimados, muitas vezes incorretos e estigmatizantes. O diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica do paciente, que avalia as características próprias do indivíduo, associada ao exame físico e à realização de exames complementares para o diagnóstico diferencial. Nesse processo, pode ser feita a avaliação dos chamados “18 pontos”, que são regiões do corpo em que o paciente tem maior sensibilidade dolorosa. São pontos anatomicamente mapeados, com objetivo de observar o desencadeamento do sintoma doloroso quando adequadamente pressionados. Os tratamentos medicamentosos contra a fibromialgia são úteis, mas devem ocorrer em conjunto com a prática de exercícios físicos. Do contrário, a terapia Foto: Sociedade Paulista de Reumatologia não terá sucesso. Pode-se usar analgésicos, anti-inflamatórios (pelo efeito analgésico) e antidepressivos para modular a resposta à dor. Se o paciente necessitar de doses altas de antidepressivos, devese revisar o diagnóstico. É preciso extrema cautela ao se dizer que uma pessoa tem determinada doença associada à fibromialgia, pelo fato dessa última ser um diagnóstico de exclusão. Existem muitas doenças que podem levar à sintomas semelhantes, como depressão, hipotireoidismo, artrites, outras doenças autoimunes e ansiedade. Recentemente tornaram-se disponíveis novos fármacos, que podem contribuir no manejo de pacientes com fibromialgia. É importante ressaltar que essa enfermidade tem características próprias e que deve receber abordagem adequada por todos os profissionais da saúde. 7